Professional Documents
Culture Documents
Direito Ambiental
Sumário
CAPÍTULO 1 – Meio ambiente: teoria geral do meio ambiente, princípios ambientais.............05
1.4 Princípios.................................................................................................................08
Referências Bibliográficas.................................................................................................19
03
Capítulo 1
Meio ambiente: teoria geral do meio
ambiente, princípios ambientais
Posteriormente, em 1992, outro marco pode ser citado: a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como Rio 92 ou Eco 92. Essa confe-
rência, na Declaração do Rio e na Agenda 21, adotou o desenvolvimento sustentável como um
objetivo a ser buscado e respeitado pelos países (SACHS, 1986, p. 15).
É importante notar que no Princípio 4 da Declaração do Rio (1992) delimitou-se que “[...] para
alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental constituirá parte integrante do
processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste [...]”, ou seja,
preconizou-se a ideia de que há a necessidade de compatibilização do meio ambiente com
desenvolvimento, observando-se que a política ambiental não deve se caracterizar como um
obstáculo ao desenvolvimento, mas sim como um instrumento que propicia a gestão racional
dos recursos naturais.
O Direito Constitucional Ambiental pode ser classificado como um direito difuso, fundamental e
de terceira geração, cláusula pétrea e de aplicabilidade direta e imediata (art. 5º § 1º da Cons-
tituição Federal (CF)) que apresenta os seguintes atributos: irrenunciabilidade, inalienabilidade,
indisponibilidade, impenhorabilidade e imprescritibilidade.
A Constituição Federal brasileira consagrou, em seu art. 225, uma nova modalidade de bem de-
nominado “ambiental”, que não é considerado bem público ou privado, mas sim difuso e coletivo.
A Lei 8078/90, art. 81, parágrafo único, assevera o conceito legal de direitos difusos, coletivos
e individuais homogêneos:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - Interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato.
II - Interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os
transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base.
05
Direito Ambiental
Portanto, o direito difuso apresenta as características de ser transindividual, tendo um objeto in-
divisível, titularidade indeterminada e interligada por circunstâncias de fato. Os direitos coletivos
diferenciam-se dos direitos difusos em razão da determinabilidade dos titulares. Contudo, faz-se
importante esclarecer que “[...] um direito caracteriza-se como difuso [...] de acordo com o tipo
de tutela jurisdicional e a prestação levada a juízo” (NERY JUNIOR, 1994, p. 1232).
A tutela do meio ambiente encontra-se consagrada no art. 225, cuja redação assim segue: “To-
dos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Alguns pontos merecem atenção sobre a literalidade do art. 225 da CF, confira:
b) O bem ambiental apresenta como característica ser um bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida (artigos 1º, 3º, 5º e 6º da Constituição Federal que
evidenciam o denominado “mínimo existencial”).
c) O bem ambiental deve ser tutelado pelo Poder Público, assim como por toda a coletividade.
Trata-se de um dever e não apenas de uma regra de ética, cuja imposição é facultativa.
Para além disso, é necessário gizar que a responsabilidade de tutela dos bens ambientais
se refere à necessidade de proteção das presentes e futuras gerações.
A definição do meio ambiente encontra-se no art. 3º da Lei 6938/81, que estabelece o meio
ambiente como um: “[...] conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. O conceito
foi recepcionado pela Constituição Federal, que objetivou proteger os vários aspectos do meio
ambiente, utilizando a expressão “sadia qualidade de vida”, caracterizadora do objeto direto de
tutela ambiental.
a) Meio ambiente natural (também denominado físico): é aquele constituído pelo solo, subsolo
(incluindo os recursos minerais), ar, flora, atmosfera, elementos da biosfera, águas (inclusive mar
territorial). Segundo o art. 225, caput da CF, observa-se que houve a proteção ao direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado (bem difuso, humano e fundamental), estabelecendo-se o
dever genérico para o Poder Público e para a coletividade em defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
O art. 225, §2º e §3º, prescreve os deveres específicos ao Poder Político e à coletividade, consis-
tentes na obrigação de recuperar a área degradada pela mineração, bem como na imposição de
responsabilidade civil, administrativa e criminal em face de condutas lesivas ao meio ambiente.
O art. 225, § 4º, assevera o reconhecimento dos biomas da Floresta Amazônica brasileira, da
Mata Atlântica, da Serra do Mar, do Pantanal Mato-Grossense e da Zona Costeira como patri-
mônio nacional (não foram incluídos o Cerrado e a Caatinga).
O art. 225, § 5º, prescreve que as terras devolutas ou arrecadas pelos Estados por ações dis-
criminatórias são indisponíveis, porque são necessárias à proteção dos ecossistemas naturais,
com o objetivo de afetá-las, classificando-as como bens públicos dominiais na tutela ambiental
impedindo a alienação das mesmas.
O art. 225, § 6º, por fim, estabelece que as usinas que operem com reator nuclear deverão ter
sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas, ou seja, somente
a lei federal poderá indicar a localização da instalação de usina nuclear, sob pena de inconsti-
tucionalidade formal da lei (estadual, distrital ou municipal).
A tutela do meio ambiente artificial encontra-se elencada nos artigos 182 e 225, ambos da
Constituição Federal. Sobre o tema, analisa-se o denominado Estatuto da Cidade, que será
objeto de estudo em tópico destacado. O meio ambiente artificial compreende os conceitos de
espaço urbano construído (espaço urbano dito fechado) e de equipamentos públicos (espaço
urbano aberto).
Assim como os demais aspectos de meio ambiente, vê-se que o meio ambiente do trabalho
apresenta disposição constitucional expressa na Constituição Federal, conforme se depreende do
seu art. 200, inciso VIII, ao dispor que compete ao Sistema Único de Saúde (SUS) colaborar na
proteção do meio ambiente, “nele compreendido o do trabalho”.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal (STF) já assinalou a existência do meio ambiente do
trabalho no julgado da ADI/MC 3540, de 01.09.2005. Ademais, a Constituição Federal asse-
vera, como um dos fundamentos da Ordem Econômica brasileira, a valorização do trabalho
humano, tendo como um dos pilares a defesa do meio ambiente, na forma do art. 170, inciso VI.
O meio ambiente do trabalho compreende o local em que as pessoas desempenham suas ativi-
dades laborais, remuneradas ou não, relacionadas à sua saúde e à salubridade do meio.
Trata-se de conceito previsto no art. 216 da CF e concretiza a ideia de ser aquele “[...] integrado
pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico que possui valor espe-
cial” (SILVA, 2007, p. 23) e também encontra tutela no art. 225 da CF.
07
Direito Ambiental
Para os defensores da citada teoria, a posição antropocêntrica pode ser depreendida de uma
interpretação constitucional presente nos artigos 1º, inciso III (dignidade da pessoa humana),
inciso II (cidadania); 3º, inciso IV (promoção do bem-estar de todos) e 225, caput, ao impor que
todos os brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil têm direito ao meio ambiente ecologica-
mente equilibrado, conforme denota o art. 5º, caput.
A segunda vertente, denominada de biocêntrica (ou ecocêntrica), surgiu com os ideários do pre-
servacionismo no fim do século XVII e assumiu o entendimento de que o homem não é superior
aos demais seres vivos, sendo todos integrantes do ecossistema. O assunto encontra-se vincula-
do à chamada Ética ambiental (ou Ética da Responsabilidade) que tem como papel fundamental,
tanto na ciência jurídica quanto no direito positivo, o direcionamento de regras de comporta-
mento entre o homem e a natureza, fundadas no valor intrínseco dos bens naturais e no homem
como parte integrante de uma comunidade biótica.
Essa posição pode ser dessumida do art. 3º da Lei 6938/81, quando ele estabelece o meio am-
biente como um conjunto de condições, leis e influências que permitem, abrigam e regem a vida
em todas as suas formas. Assim, as formas tidas como inumanas também estão abrangidas. Ade-
mais, o próprio art. 225, §1º e seus incisos, já trazem declaradamente a preocupação expressa
na proteção não só ao ser humano, mas também aos elementos bióticos do meio ambiente,
cunhando expressões que concluem essa afirmação como “processos ecológicos essenciais”
(inciso I), “patrimônio genético” (inciso II), “espaços territoriais especialmente protegidos” (inciso
III), “degradação do meio ambiente” (inciso IV), “impactos ambientais” (inciso IV), “qualidade de
vida e o meio ambiente” (inciso V), a proteção da “fauna e da flora” (inciso VII) e sua “função
ecológica” (inciso VII), e “proibição de “crueldade contra os animais” (inciso VII). O art. 225,
§4º, também traduz a mesma ideia ao enunciar os biomas naturais e a “zona costeira”.
A corrente do antropocentrismo alargado (SENDIM, 1998, p. 101) tem como fundamento a no-
ção de que, apesar de o arcabouço constitucional ser pautado na tutela do ser humano como
unidade valorativa fundamental de todo o sistema jurídico, não se pode afastar a ideia de que
o meio que o circunda com todos os seus elementos deve também ser protegido não apenas em
razão de seu valor utilitário ao homem, mas em razão da chamada solidariedade de interesses.
1.4 Princípios
a) Princípio da Prevenção (art. 225, caput e §1º, inciso V da CF)
Trata-se do princípio fundamental ao Direito Ambiental, tendo em vista que grande parte dos
danos ambientais são irreversíveis e irreparáveis como, v.g. a caça profissional de uma espécie
em extinção, a contaminação do subsolo de um aquífero ou a supressão de uma vegetação
considerada milenar.
É importante observar, portanto, que se trata do objeto fundamental do Direito Ambiental, sendo
objeto de preocupação e amparo desde a Conferência de 1992 (princípio 15). No que tange à
inserção do princípio no ordenamento jurídico pátrio, a Constituição Federal em seu art. 225,
Dessa maneira, concretiza-se na prescrição constitucional impondo o dever a todos (Poder Públi-
co e coletividade) de tutelar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações, priorizando-
-se as medidas preventivas em face dos bens ambientais. Assim sendo, o citado princípio visa
impedir a ocorrência de danos ao meio ambiente por meio de imposição de medidas preventivas
e acautelatórias, antes da realização de atividades ou empreendimentos e atividades potencial
ou efetivamente poluidoras.
O citado princípio será instrumentalizado através da educação ambiental e têm como exemplos
de sua aplicação: o Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA)
(art. 225, §1º, IV da CF), usos de tecnologias limpas, medidas legislativas impondo multas e san-
ções gravosas, licenças, autorizações, fiscalização, manejo ecológico, tombamento e incentivos
fiscais.
b) Princípio da Precaução
Observa-se a sua consagração implícita no art. 225, §1º, incisos IV e V da CF, bem como nas
seguintes leis: Lei 6938/81, Lei 9605/98, Lei 11105/2005 e Lei 12187/2009.
O princípio da precaução preconiza que inexistindo certeza científica ou técnica quanto à possi-
bilidade de ocorrência de dano, devem ser tomadas prévias medidas e cautelas necessárias para
impedir a degradação ambiental.
O citado princípio se pauta na ideia do risco (causa humana) que deve ser abstrato (diante do
desconhecimento dos resultados da conduta/atividade) e iminente ou futuro. Com o objetivo de
impor o gerenciamento a esse risco que decorre da incerteza científica ou técnica e impedir a
ocorrência de resultado danoso, a Administração deverá impor medidas de avaliação dos im-
pactos ambientais (EIA/RIMA).
O exemplo mais citado sobre o assunto corresponde ao dos alimentos transgênicos, posto que
demandam cuidado e atenção quando da liberação e plantio de espécies, cujas consequências
sobre a ingestão são desconhecidas para a saúde humana e o equilíbrio ecológico.
c) Princípio do Poluidor-Pagador
Encontra-se elencado no art. 225, §§1º, inciso V, 2º e 3º e art. 170, inciso VI e art. 186, inciso
II, todos da CF; arts 4º, inciso VII e 14, §1º, ambos da Lei 6938/81.
Faz-se importante citar, especialmente, que o art. 4º, VII da Lei da Política Nacional do Meio Am-
biente (Lei 6938/81), impôs de forma cristalina o princípio do poluidor-pagador estabelecendo
como uma de suas finalidades “[...] a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de
recuperar e/ou indenizar os danos causados”. A Constituição Federal, em seu art. 22, §3º, ainda
ratificou a ideia acima informada, prescrevendo o que se segue: “[...] as condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causa-
dos”.
O princípio do Poluidor-Pagador estabelece que quem utilizar recurso ambiental deve suportar
os custos destinados a tornar possível a exploração do mesmo e os custos decorrentes de sua
utilização ante a prevenção, reparação e repressão do dano ambiental.
Não se trata de pagar para poluir ou de adquirir o direito de poluir por meio da internacionali-
zação dos custos, mas sim da internacionalização das externalidades (que corresponde ao que
não se encontra dentro do processo produtivo).
09
Direito Ambiental
A doutrina afirma que o mencionado princípio apresenta três aspectos, a saber: a) preventivo em
face dos custos da prevenção; b) repressivo, em relação aos custos da reparação; e c) dissuasivo,
porque impõe a obrigação de pagar a pecha de incentivo negativo.
d) Princípio do Usuário-Pagador
O princípio em comento está previsto no art. 4º, inciso VII, da Lei 6938/81 e na Lei 9433/97.
Nota-se que, portanto, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (LPNMA), instituída pela Lei
6938/81 e Lei 9433/97, determinou que se imponha ao usuário de recursos ambientais uma
contribuição pela utilização dos mesmos com finalidades econômicas, tendo em vista que os
bens ambientais são bens de uso comum da coletividade.
e) Princípio do protetor-recebedor
O citado princípio visa evitar que o “[...] ‘custo zero’ dos serviços e recursos naturais acabe por
gerar no sistema de mercado a hiperexploração do meio ambiente” e se baseia na ideia de que
“[...] não basta punir as condutas ambientalmente danosas para preservar com eficácia o meio
ambiente, sendo mais produtivo recompensar as virtuosas.” (MILARÉ, 2015, p. 271).
Portanto, o princípio em estudo visa evitar que a degradação ambiental, assim como o fenômeno
da escassez dos recursos ambientais, gerem prejuízos econômicos e inviabilizem determinados
processos produtivos. Nesse contexto, os PSA (Pagamentos por Serviços Ambientais) apresentam
papel significativo, pois aportam incentivos e recursos de origem pública e/ou privada para
aqueles que garantem a produção e a oferta do produto ou serviço oriundo de recurso ambiental.
f) Princípio da Participação
O princípio em tela encontra-se sedimentado no art. 1º, caput e parágrafo único, bem como no
art. 225, caput, ambos da CF.
Pode ser entendido como o direito da coletividade de participar das discussões, decisões, execu-
ções e fiscalizações das políticas ambientais, em atendimento ao princípio da chamada demo-
cracia participativa. Encontra-se instrumentalizado, segundo a esfera a ser analisada, a saber:
a) administrativa: audiências públicas, participação em órgãos colegiados, direito à informação,
EIA, direito de petição; b) judicial: ação popular, ação civil pública e mandados de segurança;
d) legislativa: plebiscito, iniciativa popular de projeto de lei e referendo; e e) redes sociais, orga-
nizações não governamentais, associações etc.
g) Princípio da Informação
O princípio da informação encontra-se tutelado no art. 5º, incisos XIV, XXXIII, XXXIV e LXXII, e art.
225, inciso IV, ambos da CF e nas seguintes leis: Lei 12527/2011, Lei 6938/81, Lei 9605/98,
Lei 12305/2010 e Lei 10650/2003.
O conceito pode ser traduzido como o direito conferido à coletividade para obter informações
sobre o meio ambiente.
O princípio em comento encontra-se previsto nos artigos 4º, inciso IX e 225, caput, ambos da
CF, bem como na Lei 9605/98.
Observa-se que para o deslinde dos conflitos ambientais deve-se privilegiar a atuação conjunta
entre o Estado e a sociedade através da participação de segmentos sociais. O princípio em estu-
do deita raízes no âmbito nacional (“federalismo cooperativo”) e internacional.
O princípio em tela, apesar de não estar expresso, pode ser depreendido do texto constitucional
que estabelece que cabe ao Poder Público a obrigação de preservar e restaurar os processos
ecológicos essenciais (art. 225, §1º, inciso I).
Nesse sentido, o princípio estabelece que as garantias de proteção ambiental, uma vez assegu-
radas, não podem ser diminuídas ou suprimidas, tendo em vista a noção basilar de que o meio
ambiente ecologicamente equilibrado é direito fundamental. Portanto, o administrador, assim
como o legislador, não podem impor medidas que suprimam a tutela ambiental.
j) Princípio da Ubiquidade
Apresenta como ideia central a inserção do Direito Ambiental no epicentro dos direitos funda-
mentais e humanos, tendo, portanto, a violação ao bem ambiental, reflexos negativos em todo
o planeta (caráter de transnacionalidade). Sendo assim, a defesa do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado deve nortear as diretrizes e a atuação dos Poderes Legislativo, Judi-
ciário e Executivo.
Encontra-se imposto nos artigos 170, incisos II, III, VI e VII, e 225 ambos da Constituição Federal.
O princípio em tela estabelece que compete às presentes gerações utilizarem os recursos am-
bientais sem comprometerem a capacidade de suporte das futuras gerações, buscando de um
lado o desenvolvimento econômico e de outro a tutela ao meio ambiente, assegurando a exis-
tência digna.
Este princípio visa assegurar a solidariedade entre as presentes gerações em face das futuras,
para que essas possam usufruir os recursos ambientais, respeitando-se a sustentabilidade.
O citado princípio encontra-se definido no art. 225, caput da CF, referindo-se expressamente à
solidariedade intergeracional ao impor ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e
preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.
Está previsto no art. 225, §1º, inciso VI da Constituição Federal, e nas Lei 6938/81 e Lei 9795/99.
O princípio da educação ambiental preconiza, além da noção da informação ambiental, a ne-
cessidade da conscientização por parte de toda coletividade sobre a importância da tutela am-
biental e dos direitos e deveres individuais e do Poder Público sobre a matéria.
11
Direito Ambiental
O direito a um meio ambiente sadio, reconhecido como direito humano e fundamental, foi legi-
timado pela Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, de 1972, (Princípio 1)
e ratificado pela Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (Princípio
1), bem como pela Carta da Terra de 1997 (Princípio 4). Ele vem sendo sedimentado em diversas
Constituições, como a de Portugal (1976), da Espanha (1978) e, especialmente, a brasileira de
1988 (art. 225). Assim, o citado conceito passou a “[...] nortear toda a legislação subjacente e a
dar nova conotação a todas as leis em vigor [...]” (SENISE FERREIRA, 1995, p. 9).
A matéria encontra-se definida no art. 225, §1º, IV da CF, sendo também regulamentada na Lei
6.803/80 (art. 10, §§2º e 3º) e Lei 6938/81 (art. 9º, III), Dec. 99274/90 (art. 17, §§1º, 2º e 3º)
e Resoluções Conama 1/86; 6/87 e 237/97.
A propriedade como direito fundamental tem seu uso condicionado ao bem-estar social (art. 5º,
XXII e XXIII da CF) e ao equilíbrio do meio ambiente (arts. 180, VI, e 225, caput CF). Ademais, o
art. 1128, §1º, da Lei 10406/2002 assevera que:
[...] o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido
em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
A função social da propriedade urbana vem estabelecida no art. 182, §2º, da CF que assevera
que será cumprida quando as exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no
plano diretor forem atendidas.
De outra parte, a função social da propriedade rural vem prevista no art. 186 da CF que afirma
o seu cumprimento quando a mesma atender, entre outros requisitos, a utilização adequada dos
recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente.
Nessa situação, caberá ao operador do Direito buscar a interpretação, segundo normas previstas
no ordenamento jurídico pátrio, que privilegie a proteção do meio ambiente (art. 225 da CF) de
forma harmônica em face do sistema econômico estabelecido constitucionalmente (art. 170 da
CF).
A citada lei trouxe conceitos normativos basilares ao estudo do Direito Ambiental, a saber:
13
Direito Ambiental
f) preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional
e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico
propício à vida;
Não possui personalidade jurídica, pois suas atribuições são exercidas através dos órgãos que o
compõem, os quais devem agir de forma coordenada, observando-se a regionalização de suas
medidas e o acesso da opinião pública às informações referentes às lesões ao meio ambiente e
às ações de tutela ambiental.
Os órgãos do SISNAMA, segundo o art. 6º da LPNMA, são os seguintes (PADILHA, 2010, p. 125):
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis): órgão exe-
cutor com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente.
Ministério do Meio Ambiente: órgão central com a finalidade de planejar, coordenar, supervi-
sionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais esta-
belecidas para o meio ambiente.
IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis: órgão exe-
cutor com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente.
b) Zoneamento ambiental;
15
Direito Ambiental
Nesse diapasão, o zoneamento ambiental autoriza a instituição de zonas especiais com o fim
de preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental através de processos de pla-
nejamento e de ordenamento do uso e da ocupação do território em um determinado espaço
geográfico.
Segundo o art. 3º do citado decreto, o ZEE apresenta como objetivo geral organizar, de forma
vinculada, as decisões dos agentes públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e
atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena manu-
tenção do capital e dos serviços ambientais dos ecossistemas.
É importante grifar que o art. 5º estabelece que o ZEE orientar-se-á pela Política Nacional do
Meio Ambiente e obedecerá aos princípios da função socioambiental da propriedade, da pre-
venção, da precaução, do poluidor-pagador, da participação informada, do acesso equitativo e
da integração.
A AIA constitui o gênero dos estudos ambientais que constituem meios para a avaliação do pos-
sível impacto das atividades ou empreendimentos ambientais.
O presente tema será estudado de forma mais aprofundada na Unidade 2, quando da análise
do procedimento de licenciamento ambiental.
17
Direito Ambiental
Observações importantes:
c) Permite-se que a área utilizada para a servidão ambiental seja objeto de compensação de
reserva legal florestal, o que obriga à averbação nos imóveis envolvidos (art. 9º-A, § 4º);
d) A servidão ambiental não pode ser instituída sobre as áreas de preservação permanente
e de reserva legal florestal;
e) Com a sua instituição, ao proprietário será vedado modificar a destinação da área nos
casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação
dos limites da propriedade;
f) O regime de proteção deve ser, no mínimo, igual ao da reserva legal, ou seja, não poderá
haver a supressão vegetal, exceto sob a forma de manejo sustentável.
3. Concessão florestal (Lei 11284/2009 que dispõe sobre a gestão de florestas públicas
para a produção sustentável e institui, na estrutura do Ministério do Meio Ambiente, o
Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal).
Segundo o art. 3º, VII, da Lei 284/2000, a concessão florestal consiste em uma delegação one-
rosa, realizada pelo poder concedente, do direito de praticar manejo florestal sustentável para
exploração de produtos e serviços em uma unidade de manejo, mediante licitação, à pessoa
jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e que
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado.
Dessa maneira, a exploração sustentável pode ser de produtos (insumos madeireiros, frutos e
sementes) e serviços (recreação e educação ambientais e ecoturismo).
LEME MACHADO, Paulo Affonso. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2014.
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil e legislação processual civil extravagante
em vigor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.
SACHS, Ignacy. Ecodesenvolvimento: crescer sem destruir. São Paulo: Vértice, 1986.
SENDIM, José de Sousa Cunhal. Responsabilidade civil por danos ecológicos: da reparação
do dano através de restauração natural. Coimbra: Coimbra Ed., 1998.
SENISE FERREIRA, Ivete. Tutela penal do patrimônio cultural. São Paulo: RT, 1995.
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2007.
19