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FLP 0439 – Processos e atores na política internacional contemporânea.

Professor: João Paulo Veiga

Aluno: Miguel Sette. N° USP 7164660. Curso Ciências Sociais

Resenha do Texto: “International regulation without international government:


improving IO performance through orchestration” de Kenneth Abbot e Duncan
Snidal”

O texto de Kenneth Abbot e Duncan Snidal trata-se de um artigo focado na


apresentação do conceito de orquestração e da proposição de sua utilização para a
melhoria da performance das organizações internacionais e, com isto, da governança
global de uma forma geral.

O ponto central do texto é a constatação dos autores de que novas formas de


governança global vêm emergindo, especialmente após 1985, devido à aceleração do
processo de globalização desde então. Assim, os autores apresentam dois modelos
contrastantes de governança global: em primeiro lugar, o que eles chamam de
„International Old Governance‟ (IOG), caracterizado pelo uso de ferramentas
tradicionais de governança intergovernamental, as quais requerem o consenso dos
Estados, aplicam-se a eles, e dependem da implementação e obediência (compliance)
estatais. Em segundo lugar, existe a „transnational new governance’ (TNG), que
consiste em uma “intricate global network of public, private and mixed institutions and
norms, partially orchestrated (grifo nosso) by IOs and states (...)” (p. 316). O centro de
funcionamento desse sistema é, segundo Abbot e Snidal, a implantação de padrões
regulatórios (regulatory standard setting – RSS), a qual consiste em padrões de
comportamento não compulsórios aplicáveis diretamente ao setor privado, por oposição
ao direito internacional público característico da IOG, o qual é compulsório e dirige-se
aos Estados. A grande novidade da TNG é que organizações internacionais,
originalmente voltadas ao direito internacional público, agora também trabalham com
padrões regulatórios do âmbito privado, promulgando-os elas mesmas, colaborando
com outros atores privados em sua criação e auxiliando programas de RSS de diversas
maneiras.

Aqui é possível apontar o primeiro e talvez principal deficiência do artigo: não é


possível diferenciar, de fato, o conceito de orquestração do de transnational new
governance, sendo que ambas as definições aparecem girar em torno do mesmo
fenômeno, conforme ficar patente pelas passagens a seguir: “ IOs (and states) enhance
their own performance by reaching out to private actors and institutions, collaborating
with them, and supporting and shaping their activities. These actions are helping to
develop an intricate global network (...) that we call „Transnational New Governance‟
(TNG).” (p. 316). Ora, o conceito de orquestração também se define, mais adiante, por
quase as mesmas atividades e características: “IO collaboration with, support for, and
steering of nonstate actors and RSS schemes – orchestration (...)” (p. 317). Ademais, o
conceito de orquestração é efetuado, segundo os autores, de tantas maneiras, que ele
parece perder a especificidade frente a uma ideia mais abrangente e simples de
cooperação entre organizações internacionais e o setor privado: “catalyzing voluntary
and collaborative programs;convening and facilitating private collaborations;
persuading and inducing firms and industries to self-regulate; building private
capacities; negotiating regulatory targets with firms; and providing incentives for
attaining those targets.” (p. 317).

Cabe ainda fazer uma observação sobre a opinião de Abbot e Snidal de que o
processo de orquestração, ou a TNG, poderia melhorar os problemas da multiplicidade
de padrões regulatórios privados, característica central do sistema RSS (p. 323),
ajudando a predominância de projetos regulatórios de somente um ator (p. 336).
Apontamos em nossa terceira resenha, sobre a governança global, que os padrões
regulatórios que são baseados em mecanismos de mercado (Rouger & Dauvergene), tem
por objetivo constituir barreiras de entrada em nichos de mercado, de modo a garantir
uma taxa de lucro acima da média do mercado, de modo que é de sua própria essência
que hajam diversos padrões competindo, sendo um contrassenso a unificação de um
mercado sob um único padrão, o que equivaleria à legislação pública ordinária. Assim,
não deve-se esperar que o processo de orquestração leve a uma maior homogeneidade
desse tipo de regulação privada. No caso da regulação cujos incentivos não são
baseados em mecanismos de mercado, a governança global já aparenta ser
razoavelmente uniforme, como pode-se ver através dos exemplos apresentados Büthle e
Mattli (2011), os quais apresentam uma estrutura hierarquizada no estabelecimento
global de padrões de contabilidade para os mercados financeiros, sem a necessidade da
intervenção de organizações intergovernamentais.
Büthe, T., & Mattli, W. (2011). New Global Rulers: privatization of regulation in the world
economy. Princeton: Princeton University Press.

Rouger, C., & Dauvergene, P. The rise of transnational governance as a field of study.

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