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Marisa de Fátima Correia Ferreira da Silva

Estudo das variáveis psicológicas


– esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar –
no processo de adaptação parental
à doença oncológica infantil

Um estudo realizado com três grupos:

pais de crianças com cancro,


pais de crianças sobreviventes ao cancro e
pais de crianças sem doença

Dissertação apresentada à Faculdade de Psicologia e


Ciências da Educação da Universidade do Porto, para a
obtenção do grau de Mestre em Psicologia, área de
especialização em Psicologia da Saúde, sob a orientação
do Professor Doutor José Luís Pais Ribeiro

Universidade do Porto
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação
2007
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Resumo
O objectivo fulcral desta investigação consistiu na análise e compreensão das
variáveis psicológicas – esperança e qualidade de vida – e a sua hipotética relação
com a dinâmica familiar no processo de adaptação parental à doença oncológica,
bem como a adaptação para a população portuguesa da Pediatric Oncology Quality
of Life Scale (Goodwin et al, 1994).
Apresenta-se um estudo realizado com 190 progenitores (153 mães e 37
pais), divididos por três grupos: pais de crianças com cancro (N= 65), pais de
crianças sobreviventes ao cancro (N=60) e pais de crianças sem doença (N=65). A
média de idade das crianças é de 8 anos para o grupo de doentes e sem doença e
de 12 anos para o grupo de sobreviventes. As crianças com doença oncológica e
sobreviventes foram ainda agrupadas em dois subgrupos no que concerne ao
diagnóstico e ao tratamento. Assim, a amostra é constituída por 47 pais de crianças
com tumores do sistema nervoso central; 22 com tumores líquidos e 56 com
tumores sólidos. Destas crianças, 22 encontram-se em tratamento e 103 fora de
tratamento. Avaliou-se e comparou-se a esperança, a dinâmica familiar e a
adaptação parental dos progenitores, entre os três grupos e ainda, a percepção que
os pais de crianças, com cancro e sobreviventes, têm da qualidade de vida dos
seus filhos.
Ao nível da esperança não se verificaram diferenças estatisticamente
significativas nos três grupos. A dinâmica familiar evidenciou famílias flexivelmente
separadas e embora os resultados não demonstrem diferenças entre os grupos,
observa-se que os valores da coesão são superiores ao da adaptabilidade em
famílias de crianças com cancro. Os resultados da medida de avaliação da
adaptação parental testemunham que, a percepção do estado de saúde de pais de
crianças com cancro é afectado, especialmente ao nível da saúde mental. Estes
resultados evidenciam-se ainda, em pais de crianças com tumores líquidos e em
pais de crianças em tratamento.
A versão portuguesa da Pediatric Oncology Quality of Life Scale, constituída
por 21 itens e dividida em três factores, mostrou uma fidelidade e validade
satisfatórias. Os resultados desta medida de qualidade de vida mostram, que os
pais de crianças com cancro e em tratamento têm a percepção de uma pobre
qualidade de vida dos seus filhos.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Abstract
The fulcral point of this investigation was the analysis and understanding of
the psychological variables Hope and Quality of life, and their hypothetical relation
with family dynamics, on the parental adaptation process to the oncological disease,
as well as the validation and adaptation to the Portuguese population of the Pediatric
Oncology Quality of Life Scale (Goodwin et al, 1994).
A study is presented, with 190 parents (153 mothers and 37 fathers), divided
into 3 groups: parents of children with cancer (N=65), parents of children who
survived cancer (N=60) and parents of children without cancer (N=65). Children’s
age average is 8 years old, for the group of children without cancer, and 12 years old
for the group of children who survived cancer. Children with oncological diseases
and those who survived cancer, where grouped into 2 sub-groups, regarding
diagnosis and treatment. Therefore, the sample is constituted by 47 parents of
children with central nervous system tumours, 22 with liquid tumours and 56 with
solid tumours. Of these children, 22 where on active treatment and 103 where out of
treatment. Hope, Family dynamics and parental adaptation of the parents was
evaluated and compared, among the 3 groups, and also the perception that, parents
of children with cancer and of children who survived cancer, have of their son’s
quality of life.
Regarding hope, there are no statistically significant differences, between the
3 groups. Family dynamics revealed families that are flexibly separated and although
the results do not show statistically significant differences, between groups, the
values of cohesion are higher than those of adaptability, in families of children with
cancer. The results of the parental adaptation evaluation measure show that, the
perception of parents of children with cancer, of their own health status is affected,
especially mental health. These results stand out even more in parents of children
with liquid tumours and parents of children on active treatment.
The Portuguese version of the Pediatric Oncology Quality of Life Scale,
constituted by 21 items and divided into 3 factors, showed satisfactory reliability and
validity. The results of this quality of life measure show that, parents of children with
cancer, on active treatment, perceive their children’s quality of life as poor.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Résumé
L'
objectif central de cette recherche a consisté à l'
analyse et à la
compréhension des variables psychologiques – espoir et qualité de vie – et à sa
hypothétique relation avec la dynamique familière dans le processus d'
adaptation
parentale à la maladie oncologique, ainsi que la validation et l'
adaptation pour la
population portugaise du Pediatric Oncology Quality of Life Scale (Goodwin et al,
1994).
Se présente une étude réalisée avec 190 ancêtres (153 mères et 37 pères),
divisés par trois groupes: parents d'
enfants avec cancer (N= 65), parents d'
enfants
survivants au cancer (N=60) et parents d'
enfants sans maladie (N=65). La moyenne
d'
âge des enfants est de 8 ans pour le groupe de malades et sans maladie et de 12
ans pour le groupe de survivants. Les enfants avec maladie oncologique et les
survivants ont été encore regroupés dans deux sous-groupes en ce qui concerne le
diagnostic et le traitement. Ainsi, l'
échantillon est constitué par 47 parents d'
enfants
avec des tumeurs du système nerveux central; 22 parents d'
enfants avec des
tumeurs liquides et 56 parents d'
enfants avec des tumeurs solides. De ces enfants,
22 se trouvent dans traitement et 103 hors de traitement. Il s'
est évalué et comparé
l'
espoir, la dynamique familière et l'
adaptation parentale des ancêtres entre les trois
groupes et, encore, la perception que les parents d'
enfants, avec cancer et
survivants, ont de la qualité de vie de leurs enfants.
Au niveau de l'
espoir ne se sont pas vérifiées des différences statistiquement
significatives dans les trois groupes. La dynamique familière a montré des familles
flexiblement distinctes et bien que les résultats ne démontrent pas de différences
statistiquement significatives entre les groupes, il s'
observe que les valeurs de la
cohésion sont supérieures à celles de l'
adaptabilité dans des familles d'
enfants avec
cancer. Les résultats de la mesure d'
évaluation de l'
adaptation parentale témoignent
que, la perception des parents d'
enfants avec cancer de l'
état de santé est affecté,
spécialement au niveau de la santé mentale. Ces résultats se prouvent encore dans
des parents d'
enfants avec des tumeurs liquides et dans des parents d'
enfants dans
traitement.
La version portugaise du Pediatric Oncology Quality of Life Scale, constituée
par 21 items et divisée dans trois facteurs, a montré crédibilité et validité
satisfaisantes. Les résultats de cette mesure de qualité de vie montrent que les
parents d'
enfants avec cancer et dans traitement ont la perception d'
une pauvre
qualité de vie de leurs enfants.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Ao meu avô

In memoriam

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Agradecimentos
Quero dedicar este espaço a todos aqueles que directa ou indirectamente
têm acompanhado o meu percurso académico e profissional, em especial na
concretização deste trabalho.
A todos aqueles que partilharam comigo momentos bons e outros menos
bons, porque o caminho nem sempre é fácil.
Aos que ainda existem e àqueles que já partiram.
Ao Professor Doutor José Luís Pais Ribeiro, pelo auxílio na construção deste
projecto, por me ajudar a contornar algumas dificuldades que se foram cruzando no
meu caminho e acima de tudo, pela disponibilidade e ensinamentos.
À Drª Maria João Gil da Costa pela sua incessante disponibilidade e pela
forma como tornou possível a agilização da recolha da amostra no Hospital de
S.João.
Ao Hospital de S.João, nomeadamente ao Presidente do Conselho de
Administração, à Comissão de Ética, ao Director do serviço de Hematologia e
Oncologia Pediátrica, agradeço a permissão para a realização do estudo
conducente a esta tese neste hospital.
A todos os pais e crianças que partilharam comigo pensamentos,
sentimentos, afectos e emoções… obrigada pela confiança e por tornarem possível
este estudo. Levo comigo ensinamentos difíceis de passar para o papel, lições de
vida tantas vezes traduzidas no olhar de uma criança…
À Helena e à Clara pelos momentos partilhados ao longo desta caminhada.
Aos meus pais por tudo.
A ti, Susana, irmã e amiga. Obrigada pela escuta activa e por muitas vezes
seres o continente das minhas angústias.
A ti, Paulo, por esta oportunidade na nossa vida. Por a teres transformado em
algo tão especial, tão único e tão nosso! Obrigada pelo teu constante apoio, partilha,
confiança e por fazeres dos meus os nossos sonhos!
A ti, onde quer que estejas, foste importante.
A todos, Muito Obrigada!

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Lista de abreviaturas
CDI – Chidren Depression Inventory
CHIP – Coping Health Inventory for Parents
FACES – Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scale
FAD – McMaster Family Assessment Device
GHQ-12 – General Health Questionnaire
LAL – Leucemia linfoblástica aguda
LAM – Leucemia aguda mielóide
MMQL-YF – Minneapolis-Manchester Quality of life- young form
OMS – Organização Mundial de Saúde
PedsQL – Pediatric Quality of Life Inventory
PIP – Pediatric Inventory for Parents
POQOLS – Pediatric Oncology Quality of Life Scale
QALY – Quality Adjusted Life Years
QDV – Qualidade de vida
QDVRS – Qualidade de vida relacionada com a saúde
QOLCC – Quality of life for children with cancer
QWB – Escala de Bem-Estar
RORCENTRO – Registo oncológico regional do Centro
RORENO – Registo oncológico regional do Norte
RORSUL – Registo oncológico regional do Sul
SF-12 – Short Form-12
SG – Sobrevivência global
SNC – Sistema Nervoso Central
SPSS – Statistical Package for the Social Sciences

Índice de figuras
Figura 1 Modelo Circumplexo adaptado de Olson e colaboradores (1985) _____ 52
Figura 2 Desenho de Investigação do estudo ____________________________ 83

Índice de quadros
Quadro 1 Trajectória da doença (Enelow et col. 1999) ______________________ 53
Quadro 2 Distribuição da amostra em função de quem responde ao
questionário _____________________________________________ 86
Quadro 3 Médias e desvios padrão das idades dos progenitores
expressos em anos _________________________________________________ 86
Quadro 4 Distribuição da amostra por distrito de residência__________________ 87
Quadro 5 Distribuição da amostra em função do grau de escolaridade _________ 87
Quadro 6 Distribuição da amostra em função da situação profissional__________ 88
Quadro 7 Médias das idades das crianças expressas em meses______________ 96
Quadro 8 Distribuição das crianças da amostra, nos três grupos, por sexo ______ 97
Quadro 9 Anos de escolaridade das crianças da amostra ___________________ 97
Quadro 10 Idade da criança quando foi feito o diagnóstico (em meses) ________ 98
Quadro 11 Idade da criança no momento do diagnóstico (em meses) __________ 98
Quadro 12 Tempo após o diagnóstico (em meses)_________________________ 98
Quadro 13 Caracterização do tipo de tumor ______________________________ 99
Quadro 14 Situação perante o tratamento _______________________________ 99
Quadro 15 Estado civil dos progenitores ________________________________ 100

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quadro 16 Dimensão do agregado familiar______________________________ 100


Quadro 17 Classificação da família ____________________________________ 101
Quadro 18 Número de filhos _________________________________________ 101
Quadro 19 Frequência dos vários tipos de situações stressantes
vivenciadas pelas crianças e famílias durante o último ano ________ 102
Quadro 20 Quantidade de situações vividas pelas crianças durante o
último ano ______________________________________________ 102
Quadro 21 Valores das médias e desvio padrão da componente física em
relação a situação face ao tratamento ________________________ 105
Quadro 22 Valores médios da componente mental nos três grupos___________ 107
Quadro 23 Comparação dos valores médios da componente mental com
a situação face ao tratamento_______________________________ 107
Quadro 24 Valores médios da componente mental nos diferentes
diagnósticos ____________________________________________ 108
Quadro 25 Valores médios da coesão nos diferentes diagnósticos ___________ 110
Quadro 26 Resultados da análise factorial ______________________________ 114
Quadro 27 Resultados dos coeficientes de alfa calculados para cada um
dos factores e para a escala total ____________________________ 115
Quadro 28 Valores das médias e desvios-padrão apresentados pelos
progenitores com distintos estados civis em relação aos
domínios de qualidade de vida avaliados pela POQOLS __________ 116
Quadro 29 Valores das médias e desvios-padrão apresentados pelos
progenitores com distintas situações profissionais em relação
aos domínios de qualidade de vida avaliados pela POQOLS ______ 116
Quadro 30 Estudo correlacional para os três grupos: pais de crianças com
cancro, pais de crianças sobreviventes ao cancro e pais de
crianças sem doença _____________________________________ 120
Quadro 31 Coeficientes de correlação (Pearson) entre os resultados
obtidos nos instrumentos destinados a avaliar a esperança,
dinâmica familiar, adaptação parental e qualidade de vida ________ 121

Índice de Anexos

Anexo I Pedido de autorização ao Hospital de S. João e parecer da Comissão de


Ética
Anexo II Questionário para pais de crianças com cancro e sobreviventes
Anexo III Questionário para pais de crianças sem doença

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Índice
Resumo 1
Agradecimentos 5
Lista de abreviaturas 6
Índice de figuras 6
Índice de quadros 6
Índice de Anexos 7
Introdução Geral 10
PARTE I REVISÃO TEÓRICA 12
CAPÍTULO I. Cancro: aspectos gerais 13
I.1. Definição 14
I.2. Evolução histórica 14
I.3. Desenvolvimento do cancro 15
I.4. Tipos de Cancro 17
I.5. Tratamento 18
CAPÍTULO II. Doença oncológica infantil 21
II.1. Incidência 22
II.2. Noção de doença na criança 24
II.2.1. Percepção da doença 24
II.2.2. Na doença grave 25
II.2.3. No cancro 26
II.3. A Morte 28
II.3.1. Noção de morte 28
II.3.2. Noção de morte e desenvolvimento cognitivo 29
II.3.3. Luto 30
II.3.4. Os cuidados paliativos 32
II.4. A sobrevivência 33
CAPÍTULO III. A doença oncológica infantil:
o processo de adaptação familiar 39
III.1. A família: definição 40
III.2. O processo de adaptação familiar à doença oncológica infantil 40
III.2.1. O impacto na família 40
III.2.2. Adaptação parental: a percepção de saúde como variável de
resultado 45
III.2.3. O impacto na fratria 50
III.2.4. Modelos de adaptação familiar 51

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO IV. Qualidade de vida e doença oncológica 55


IV.1. Definição de qualidade de vida 56
IV.2. Tipo de medidas 60
IV.2.1. Os instrumentos genéricos 62
IV.2.2. Os instrumentos de condição específica 62
IV.3. A qualidade de vida em oncologia pediátrica 63
CAPÍTULO V. A esperança 69
V.1. Definição 70
V.2. Esperança e saúde 75
V.2.1. A esperança na doença oncológica infantil 77

PARTE II ESTUDO EMPÍRICO 80


CAPÍTULO VI. Método 81
VI.1. Objecto e objectivos/hipóteses 82
VI.1.1. Objecto e objectivos 82
VI.1.2. Desenho de Investigação 83
VI.1.3. Questões de Investigação 84
VI.1.4. Hipóteses 84
VI.2. Metodologia 85
VI.2.1. Participantes 85
VI.2.2. Instrumentos de avaliação 88
VI.2.3. Procedimento 94

CAPÍTULO VII. Apresentação e Análise dos Resultados 95


VII.1. Análise Descritiva dos Dados 96
VII.2. Relação entre as variáveis demográficas, clínicas e psicológicas 102
VII.3. Pediatric Oncology Quality of Life Scale – POQOLS: Adaptação de um
instrumento para a população Portuguesa 111
VII.4. Estudo correlacional das variáveis psicológicas e indicadores de adaptação
parental 120
CAPÍTULO VIII. Discussão dos resultados 123
Conclusão 136
Referências 140
Anexos 149

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Introdução Geral
A Oncologia não é um campo monodisciplinar, nem a oncologia pediátrica é
uma subespecialidade da Oncologia. A oncologia diz-se pediátrica por concentrar a
competência médica e a centrar na especificidade de uma população definida – a
criança e o adolescente. Houve que integrar o contributo das diferentes
especialidades para uma resposta ajustada à especificidade etária da população
(Costa, 1996).
A doença oncológica é um grave problema de saúde pública, com custos
pesadíssimos, tanto ao nível económico, como social. A nível individual afecta todas
as dimensões da vida são afectadas.
Os padrões de cancro que se desenvolvem nas crianças são distintos dos
existentes nos adultos (Higginson et al, 1992).
O cancro embora sendo raro na infância constitui a principal causa de morte
não acidental no primeiro ano de vida e produz um grande impacto familiar e social.
Se o cancro é uma doença temida em qualquer idade, ela é encarada na
criança de forma ainda mais trágica, pelo potencial de vida naturalmente esperado,
sendo uma frequente causa de desestruturação familiar e perturbação na vida
profissional dos pais.
Foi efectuada a revisão de um conjunto alargado de material teórico e de
investigação sobre o processo de adaptação, das crianças e suas famílias, à
doença oncológica infantil.
Cancro definido como condição crónica e adaptação entendida como um
processo contínuo, activo e dialéctico entre a criança e a família (Leal & Magão,
2001). Independentemente da patologia, a vivência de uma doença oncológica na
infância coloca sempre a criança e a família perante uma série de situações não
normativas e potencialmente stressantes. Apesar de a literatura indicar que a
maioria das crianças e suas famílias conseguem lidar com sucesso com os
stressores colocados por uma doença oncológica, também tem vindo a sublinhar o
risco de desadaptação.
Um dos fios condutores desta investigação é esta compreensão para a
doença oncológica na criança, ao se propor estudar a esperança, qualidade de vida,
adaptação e família, em pais de crianças com cancro, pais de crianças
sobreviventes ao cancro e pais de crianças sem doença.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Os efeitos interactivos entre a família e a doença são elencados, em especial,


ao nível parental; depois são apresentadas várias teorias descritivas e empíricas
sobre a adaptação da família à doença oncológica infantil. São discutidas outras
variáveis neste processo, nomeadamente, a esperança e a qualidade de vida.
Pretende-se assim com este trabalho proporcionar um processo de reflexão
teórica e produção de conhecimento científico, que contribua para uma melhor
compreensão da vivência de pais e crianças face ao diagnóstico de cancro.
Acredita-se que esta compreensão pode influenciar a qualidade das interacções
familiares, em particular entre a criança e a família. Admite-se também, que nos
pode ajudar, a nós, enquanto profissionais de saúde, auxiliando no processo de
compreensão da doença oncológica na criança (e na família).
O presente trabalho encontra-se organizado em duas partes, uma de revisão
teórica e de investigação e uma outra dedicada ao estudo empírico, cada uma delas
constituída por vários capítulos.
A primeira parte inclui toda a revisão bibliográfica efectuada e resultados de
investigação empírica, que constituíram o fio condutor deste estudo.
O primeiro capítulo é dedicado ao cancro, onde são explicitados aspectos
gerais da doença, como forma de contextualização da problemática. O segundo
capítulo abarca a doença oncológica infantil, nomeadamente no que concerne à
incidência, a variáveis associadas à criança, à morte e à sobrevivência. O terceiro
capítulo apresenta a doença oncológica infantil no seio da família, incidindo no
processo e modelos de adaptação familiar. O capítulo quatro debruça-se sobre a
qualidade de vida na doença oncológica, em especial na doença oncológica infantil.
O quinto capítulo refere-se à variável esperança e o seu enquadramento no
contexto saúde-doença.
A segunda parte inclui o estudo empírico, a análise e discussão dos
resultados obtidos, bem como o processo de adaptação para a população
portuguesa da Pediatric Oncology Quality of Life Scale (Goodwin et al, 1994).
Finaliza-se o trabalho com as principais conclusões desta investigação e
algumas linhas de desenvolvimento futuro da investigação na doença oncológica
infantil.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

PARTE I
REVISÃO TEÓRICA

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO I. Cancro: aspectos gerais

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO I. CANCRO: ASPECTOS GERAIS

“Coimbra, 2 de Janeiro de 1991 – Quimioterapia. Quatro horas a ver pingar


para dentro das veias o veneno que há-de matar a morte que teima em viver
e medrar dentro de mim. O homem tem o triste vezo de, quanto mais a sente
fugir, mas se agarrar à vida. De, quando vê chegada a hora da rendição,
perder quase sempre o brio e, em vez de enfrentar de cara levantada a
fatalidade, bater implorativamente a todas as portas, da ciência, da crendice
ou da ilusão. Eu vou ainda na primeira.
Coimbra, 2 de Janeiro de 1991 – Uma simples palavra. O que eu tenho
esperado durante toda a vida da boca de muitos a quem acudi e ainda
acudo com muitas! Mas parto sem a ouvir. Ou não a mereço, ou os que ma
deviam nunca a souberam dizer.
Coimbra, 2 de Janeiro de 1991 – Sensação íntima de que estou por um fio. É
agora, é logo… e, sem dar ouvidos à voz do pressentimento, arrasto-me
todas as manhãs ao consultório, regresso à tardinha a gemer com os
safanões do autocarro, e subo penosamente a rampa da estrada da casa
esperançado numa carta que me espere, numa boa notícia redentora, que
sei que não vem, mas teimo em sonhar (…)”
Miguel Torga, 1993

I.1. Definição
Em termos etimológicos, a palavra cancro deriva do latim e significa
caranguejo; o uso da palavra remonta ao século V a.C. tendo Hipócrates aferido
que as “veias” que irradiavam dos tumores do peito se pareciam a um caranguejo.
Cancro é o termo utilizado para descrever um conjunto de doenças caracterizadas
pelo crescimento anómalo de células (Pereira & Lopes, 2005).
Assim, o cancro é definido como um crescimento incontrolável de células
anormais que formam tumores que se designam neoplasias (Ogden, 1999).

I.2. Evolução histórica


No ano 400 a.C. Hipócrates dá os primeiros passos no sentido de tentar
explicar a origem do cancro. As primeiras informações científicas aparecem em
1775 com Percivel Pott, médico inglês, que através de um estudo epidemiológico
comprova que o cancro se pode desenvolver muitos anos após a exposição do
sujeito a agentes cancerígenos. Contudo, apenas no século XIX, Virchow
(patologista), observa tumores ao microscópio e anuncia “omnis cellula es cellula”,
isto é, qualquer célula provém de outra célula, evidenciando que o cancro é uma
doença com origem celular e que todas as experiências no âmbito da investigação
da sua causa e tratamento, deveriam passar a basear-se neste conceito (Hill &
Tannock, 1992).

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Desde que o cancro foi identificado, os investigadores têm procurado


tratamentos eficazes para esta doença. Nas últimas décadas, têm-se feito
progressos encorajadores no tratamento do cancro, tendo-se reconhecido que esta
não é uma única doença, mas sim um grupo de doenças, cada uma delas
requerendo diferentes tipos de cuidados. Os avanços científicos e tecnológicos dos
últimos anos têm proporcionado novos conhecimentos sobre o cancro, o que se
traduz numa significativa melhoria no tratamento da doença.
Em 1989, os cancros eram a segunda causa de morte no Reino Unido e
foram responsáveis por 24% de todas as mortes em Inglaterra e no País de Gales
em 1984. As principais causas de mortalidade por cancro em homens e mulheres
na lnglaterra e no País de Gales, em 1984, foram as seguintes: nos homens, cancro
do pulmão (36%), cancro colorrectal (11%) e cancro da próstata (9%); nas
mulheres, cancro de mama (20%), cancro do pulmão (15%), cancro colorrectal
(14%), cancro dos ovários (6%), cancro do colo do útero (3%). Enquanto a
incidência geral das mortes por cancro não parece estar a aumentar, a incidência do
cancro do pulmão nas mulheres aumentou nos últimos anos. Em 1991, verificava-se
a existência de seis milhões de novos casos anuais de cancro no mundo e que um
décimo de todas as mortes no mundo foram causadas por cancro (Ogden, 1999).

I.3. Desenvolvimento do cancro


O nosso organismo é constituído por unidades microscópicas, designadas
por células, só visíveis através do microscópio, que se dividem periodicamente e de
forma regular com a finalidade de substituir as já envelhecidas ou mortas e manter
assim a integridade e o correcto funcionamento dos diversos órgãos.
O processo de divisão celular é regulado por uma série de mecanismos de
controlo que ordenam à célula quando se deve dividir e quando deve permanecer
estática. Todo este processo é regulado por “mensagens impressas” nos genes,
que se situam nos cromossomas. Quando estes mecanismos de controlo se alteram
numa célula, esta e as suas descendentes (células filhas) iniciam uma divisão
descontrolada que, com o tempo, dará lugar a um tumor ou nódulo. Esta situação
denomina-se neoplasia (Prusha, 1999; 2000).
A massa formada pela divisão repetida de células anormais tem o nome de
tumor. Contudo, nem todos os tumores são cancros.

15
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Existem dois tipos de tumores: tumores benignos que não se espalham


através do corpo e tumores malignos que apresentam metástases (processo de
separação de células do tumor e deslocação para outro local). Existem três tipos de
células cancerígenas: carcinomas, que constituem 90% de todas as células
cancerígenas e têm origem nas células dos tecidos, sarcomas que têm origem no
tecido conjuntivo, e leucemias, que têm origem no sangue (Ogden, 1999; Prusha,
2000).
Cancro é uma designação que permite nomear de forma genérica, o amplo
conjunto de doenças que são tumores malignos. Estes são muito diversos, com
causas, evolução e tratamento diferentes para cada tipo de tumor maligno, mas
tendo em conta uma característica comum: a divisão e o crescimento descontrolado
das células (Prusha, 2000).
Os cancros são o resultado de células que recebem mensagens “erradas”
dos seus genes. A investigação recente mostra que, por vezes, um gene que tem
estado inactivo nas células normais entra em actividade sendo responsável pelas
mensagens inadequadas. Estes genes promotores do cancro são denominados de
oncogenes (Bishop, 1994).
Quando as células recebem a “ordem” de divisão “errada” pode acontecer o
seguinte (Bishop, 1994; Straub, 2005):
• a divisão tornar-se descontrolada: a célula cancerosa e as suas
descendentes (células filhas) dividem-se mais depressa do que as células
dos tecidos circunvizinhos;
• as células “filhas” são geralmente menos especializadas do que as células
normais a que correspondem; embora muitas vezes conservem
características da célula normal, são incapazes de desempenhar as funções
desta;
• como as células cancerosas continuam a dividir-se mais depressa do que as
dos tecidos circunvizinhos, formam uma massa volumosa e, através de um
processo designado de infiltração, começam a abrir caminho por entre as
células em redor;
• ao fim de algum tempo, as células cancerosas que romperam o seu tecido
podem alcançar um vaso sanguíneo ou um canal linfático, onde pequenos
grupos de células do cancro podem desligar-se e circular, depositando-se
eventualmente noutras partes do corpo, onde formam cancros secundários
(metástases), este processo tem o nome de metastização.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

O cancro tem origem quando as células normais se transformam em


cancerígenas, isto é, adquirem a capacidade de se multiplicar e invadir os tecidos e
outros órgãos. A este processo dá-se o nome de carcinogénese e processa-se ao
longo de anos passando por diferentes fases. As substâncias responsáveis por esta
transformação designam-se de agentes carcinogéneos (Straub, 2005).
Para que se desenvolva um cancro é necessário que, de forma cumulativa e
continuada, se produzam alterações celulares durante um largo período de tempo,
geralmente anos.
Como resultado, cresce o número de células que apresentam alterações de
forma, tamanho e função e que possuem a capacidade de invadir outras partes do
organismo.
O processo que vai desde a ocorrência das primeiras mutações das células
até à etapa final da doença é designado por história natural.
A duração deste processo em adultos depende dos tipos de cancro e oscila
entre meses e décadas. No caso de crianças, todo o processo produz-se com maior
rapidez, podendo inclusive durar apenas alguns meses. Isto deve-se ao facto das
células se multiplicarem com maior rapidez comparativamente com as dos adultos.

I.4. Tipos de Cancro


De acordo com o tipo de células avaliado pela anatomia patológica existem
vários tipos de cancro. Algumas terminologias aplicadas aos tipos de cancro mais
comuns são as seguintes (Straub, 2005):
• Carcinoma: é um tumor maligno que se origina na membrana que cobre os
órgãos (células epitelilais). Aproximadamente 85% dos tumores cancerígenos
são carcinomas.
• Sarcoma: é um tumor maligno que se origina nas células de músculos,
ossos e cartilagens. É mais raro que o carcinoma e representa apenas cerca
de 2% de todos os tumores nos adultos.
• Melanoma: trata-se de um tumor maligno que tem origem nas células que
produzem a coloração da pele (melanócitos). O melanoma é quase sempre
curável quando detectado numa fase precoce. No entanto, é provável que se
propague a outras partes do corpo.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

• Leucemia: é um cancro que ataca os tecidos sanguíneos e formadores de


sangue, como a medula óssea. Conduz a uma proliferação dos glóbulos
brancos na corrente sanguínea e na medula óssea, que debilita o sistema
imunológico. Embora seja considerada uma doença da infância, a leucemia
ataca muito mais os adultos (estimativa de 25 mil casos por ano) do que
crianças (cerca de 3 mil casos por ano).
• Linfoma: tem esta designação dado se tratar do cancro no sistema linfático.
O sistema linfático é uma rede de gânglios e pequenos vasos que existem
em todo o corpo e cuja função é combater as infecções. O linfoma afecta um
grupo de células chamados linfócitos. Os dois tipos de linfomas principais são
o Linfoma de Hodgkin (uma forma rara de linfoma que se espalha a partir de
um único nódulo) e o Linfoma não Hodgkin (no qual as células malignas são
encontradas em vários locais). Aproximadamente 60 mil casos novos de
linfoma são diagnosticados a cada ano, dos quais 90% são linfomas não
Hodgkin.

I.5. Tratamento
Até há bem pouco tempo atrás, as opções de tratamento para a maioria dos
cancros eram muito limitadas e o cancro significava, muitas vezes, uma sentença de
morte. Actualmente, existem muitas opções de tratamento eficazes que reduzem as
taxas de mortalidade da maioria dos tipos de cancro, incluindo cirurgias,
quimioterapia, radioterapia e combinações como aquelas que envolvem
transplantes de medula óssea (Straub, 2005).
O tratamento de cada caso deve ser adaptado à realidade de cada doente,
individualmente, sendo decidido e realizado por uma equipa de especialistas
(multidisciplinar) trabalhando em colaboração uns com os outros.
Geralmente os tratamentos do cancro seguem protocolos. Estes são um
conjunto de normas e planos de tratamento que se estabelecem, baseando-se na
experiência científica, para o tratamento de uma doença. Estes protocolos que, de
forma geral, se aplicam em todos os hospitais, incluem indicações e limites de
tratamento em função de uma série de factores relacionados com o tumor (tipo,
localização e tamanho, afectação de outros órgãos ou de gânglios) e com o
paciente (idade, estado de saúde, outras doenças, desejo do próprio paciente).

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

I.5.1. Principais formas de tratamento do cancro


As principais formas de tratamento do cancro são as seguintes (Straub,
2005):
• Cirurgia
A cirurgia é a forma mais antiga de tratamento e oferece uma maior
probabilidade de cura para a maioria dos tipos de cancro. Procura remover do corpo
as células cancerosas, por exérse do tumor e de quaisquer tecidos envolventes que
possam conter células cancerosas. Este método é muito eficaz quando o cancro é
pequeno e ainda não se propagou, quando se situa numa parte do corpo de onde
pode ser facilmente removido e quando o cirurgião pode remover todas as células
malignas, antes de existirem metástases.
• Radioterapia
A radioterapia é a segunda forma mais comum de tratamento, embora para
alguns tipos de cancro não seja um método de tratamento adequado. Cerca de
metade de todos os doentes de cancro recebem uma forma de radioterapia, seja
isoladamente ou em combinação com outras formas de terapia.
Esta terapia usa equipamentos especiais para aplicar doses elevadas de
raios X, raios gama ou partículas alfa e beta em tumores cancerosos, matando ou
danificando para que não possam crescer mais, multiplicar-se ou espalhar-se.
Embora algumas células normais possam ser afectadas pela radiação, a maioria
delas repara-se sozinha e recupera-se totalmente dos efeitos do tratamento.
Em alguns casos pode ser utilizada antes da cirurgia, para reduzir o tamanho
do tumor, tornando-a menos complicada. Noutros casos, pode prolongar a vida, ao
controlar temporariamente o crescimento de um tumor.
Neste contexto, a radioterapia é particularmente útil quando o cancro está
confinado a uma região do corpo, mas demasiado avançado para ser totalmente
tratado através de cirurgia. A radiação pode também ser usada para aliviar a dor,
fazendo diminuir o tamanho do tumor que está a exercer pressão sobre um nervo,
por exemplo.
A terapia por radiação pode ser administrada internamente, por implantação
de fontes radioactivas no corpo. Ali, elas podem bombardear as células malignas
infligindo menos estragos nos tecidos normais.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

• Quimioterapia
A quimioterapia trata o cancro através do uso de produtos químicos
(fármacos) destinados a interferir no crescimento e divisão das células malignas.
Uma vez administrados, esses produtos químicos circulam por todo o corpo. Uma
das grandes vantagens da quimioterapia é que ela consegue tratar cancros
sistémicos (não localizados).
Os fármacos empregues neste tipo de tratamentos denominam-se de
fármacos antineoplásicos. Este tratamento é administrado em forma de ciclos. Um
ciclo consiste na administração dos fármacos durante um ou vários dias, seguido de
um tempo de descanso, que pode oscilar de 1 a 4 semanas.
Os compostos anticancerosos actuam de formas diferenciadas. Alguns
interferem com a capacidade que a célula cancerosa tem de se reproduzir. Outros
interferem com processos químicos essenciais, dentro das células. Os compostos
químicos que atacam com sucesso a divisão contínua das células malignas, atacam
também as células sãs e podem originar efeitos secundários indesejáveis.
Tal facto impõe limites – que variam de doente para doente – quanto à
dosagem e duração da quimioterapia. A administração de um só fármaco não é
eficaz, pelo que pode haver a necessidade de recurso a quimioterapia combinada –
administrando uma ou mais drogas simultaneamente ou em rápida sucessão –
intensificando o ataque às células cancerosas durante várias fases da sua
actividade.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO II. Doença oncológica infantil

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO II. DOENÇA ONCOLÓGICA INFANTIL

“O cancro não é contagioso – respondeu Linus. Não se pode


contagiar como uma constipação ou uma gripe.
- De certeza que o apanhou por ser uma menina má – disse a
Lucy.
- A Janice não apanhou cancro por ter feito alguma coisa mal feita.
Simplesmente aconteceu”
(Schulz, 1993)

II.1. Incidência
Relativamente ao cancro pediátrico verifica-se que é uma doença rara, sendo
escasso antes dos 20 anos (Foucher et al, 2004). Estima-se que a incidência global
de cancro nas crianças (0-14 anos) se situa entre os 100 a 150 doentes por milhão
de crianças/ano (Costa, 1996).
Cerca de 300 novos casos irão exigir tratamento em Portugal em cada ano.
Felizmente, são cada vez maiores os índices de sobrevivência e cura destas
crianças, situando-se estes em cerca de 70% (Acreditar, 1999).
Para uma melhor compreensão da doença é importante dispor de
informações precisas sobre a incidência, sobrevivência e mortalidade do cancro
pediátrico. Por ser doença rara e haver uma maior variedade de tumores do que na
população adulta, são necessários procedimentos de registo oncológico
especificamente concebidos, que permitam a comparação de dados entre regiões e
a realização de estudos epidemiológicos da causa (s) de cancro.
Em Portugal existem três registos oncológicos regionais: no Norte, Centro e
Sul, RORENO, RORCENTRO e RORSUL, respectivamente.
Os dados do Registo Oncológico Regional para a zona Norte (IPO, 1999-
2003) sobre a incidência de cancro em menores de quinze anos, revelaram que a
incidência global estimada foi 148/milhão/ano, com predomínio no sexo masculino.
A distribuição dos diferentes tipos de tumores pediátricos por quatro grupos
etários – menos de um ano, um a quatro, cinco a nove e dez a catorze anos –
evidencia: um predomínio de tumores embrionários no primeiro ano de vida; um
pico de incidência de leucemias entre 1 e 4 anos, sendo neste grupo
predominantes, para além destas, os tumores do Sistema Nervoso Central (SNC) e
os linfomas.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Nas crianças mais velhas, em especial nos adolescentes, os


osteossarcomas, tumores de células germinativas, linfoma de Hodgkin e tumores
epiteliais, são mais frequentes.
No geral, as três neoplasias mais frequentes em menores de quinze anos são
as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e linfomas.
Ao conjunto da leucemia e linfomas é dada a designação de tumores
líquidos. Os restantes tipos de cancro são denominados por tumores sólidos.
Nesta categoria encontram-se todos os outros tipos de cancro que se desenvolvem
nos tecidos do corpo com a excepção dos que se desenvolvem no sangue, na
medula óssea e no sistema linfático.
Os dados europeus, relativos ao período de 1993 a 1997, indicam que a
incidência global do cancro pediátrico na Região Norte de Portugal não se afasta de
forma significativa da registada na Europa (141/milhão/ano). Verifica-se, também,
um predomínio no sexo masculino e uma distribuição semelhante dos diferentes
tipos de tumor, pelos mesmos grupos etários.
Através da base de dados europeia de cancro na infância e adolescência
dentro do Projecto de Sistema Automático de Informação do Cancro Infantil,
estimaram-se os padrões e tendências de incidência e sobrevivência na Europa
(Foucher et al, 2004).
Relativamente à incidência, estes autores concluíram que:
• nos anos 90 as taxas de incidência por idade estandardizada eram de
140/milhão para crianças entre os 0-14 anos e 157/milhão para idades entre
os 0-19 anos;
• ao longo de três décadas a incidência aumentou 1% por ano nas crianças
(aumentos para a maioria dos tipos de tumor) e 1,5% nos adolescentes (15-
19 anos; foram registados aumentos significativos para carcinomas, linfomas,
e tumores de células mutantes);
• os resultados são prova evidente do aumento da incidência de cancro na
infância e na adolescência, nas últimas décadas e de aceleração desta
tendência;
• os padrões geográficos e temporais sugerem áreas para estudos posteriores
sobre as causas destas neoplasias, para além de providenciar um indicador
de progresso das políticas públicas de saúde na Europa.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

II.2. Noção de doença na criança


A doença constitui um episódio inevitável na vida do ser humano. Na criança,
esse tema encontra-se desde muito cedo enraizado nas fantasias e nas suas
actividades espontâneas, como o “brincar aos médicos”, que todos conhecem.

II.2.1. Percepção da doença


Uma das atitudes mais frequentes na criança doente é a de se culpar a si
própria e verem a doença como uma punição. Para isso contribui o hábito de os
pais admoestarem os filhos sob a forma de um desfile de consequências para os
seus actos mais “irreflectidos”. Outra ideia frequente é a do contágio como
explicação para a doença.
Os conceitos sobre a doença variam de acordo com o grau de diferenciação
entre o Eu e o Outro (Walsh, 1981 citado por Proença, 1998):
• Explicações Pré-Lógicas: entre os 2 e os 6 anos de idade as explicações
são imaturas, em termos de desenvolvimento. A maior parte dão as
chamadas explicações fenomenistas – a causa da doença é vista como um
fenómeno concreto externo, espacio e temporalmente remoto. As crianças
não conseguem explicar como estes factos causam as doenças. A
explicação mais comum é, no entanto, a do “contágio”, pela proximidade ou
magia.
• Explicações Lógicas Concretas: entre os 7 e os 10 anos de idade as
explicações já surgem num contexto de aumento da capacidade de
diferenciação entre o Eu e o Outro, pelo que existe já a capacidade de
distinguir claramente entre o Interno e o Externo. A Internalização é a forma
mais madura de entender a doença – percebida como estando dentro do
corpo, podendo a causa ser externa. No entanto, a doença é ainda vista
como algo vago e inespecífico.
• Explicações Lógicas-Formais: são considerados dois sub-estádios na
explicação da causa da doença – o fisiológico e o psicofisiológico. Ambos se
caracterizam por uma clara distinção entre o Outro e o Eu. As crianças mais
novas dão uma explicação mais fisiológica interna da causa da doença.
Crianças mais maduras apresentam explicações psicofisiológicas; ou seja,
tornam-se conscientes da possibilidade de os pensamentos ou os
sentimentos poderem afectar o funcionamento do corpo.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Segundo Ajuriaguerra e Marcelli (1984), a experiência da doença remete a


criança a movimentos psicoafectivos diversos:
• Regressão: que quase sempre acompanha a doença e que se constitui por
um retorno a uma relação de cuidados corporais e de dependência idêntica à
do lactente.
• Sofrimento: que por sua vez pode ser vinculado à vivência de punição ou de
falta; assim como da culpabilidade – reforçada pelo discurso familiar ou
originária da vida fantasmática da criança.
• Investimento conflituoso do esquema corporal ou do “sentimento de
si”: focalizado em fantasias de castração ou de uma ferida narcísica mais ou
menos profunda.
• Morte: associada à ideia de algumas doenças, apesar de pouco discutida
pela criança e família.

II.2.2. Na doença grave


Nas doenças graves, em que o prognóstico vital se encontra em jogo, surge
de forma mais ou menos visível a problemática da morte. Nas doenças graves, de
longa duração e mais ou menos invalidantes, surgem questões relacionadas com a
integridade corporal e narcísica (em conjunto com o medo do abandono).
Ajuriaguerra e Marcelli (1984) realçam o duplo problema face a uma doença
grave e crónica: o do investimento pela criança num corpo cujo funcionamento é
sentido (e está-o, na realidade) como defeituoso ou ameaçado e o do investimento
numa criança doente, pelos pais.
O período inicial da doença (geralmente correspondente ao diagnóstico)
origina alterações bruscas e intensas no equilíbrio familiar, alterações essas que
passam quase invariavelmente pelo choque, abatimento e prostração nos pais.
Depois virá a luta contra a doença – através do recurso à negação e recusa da
doença ou de colaboração com o médico. Por fim, surge uma reorganização da
economia familiar em torno da doença (Ajuriaguerra & Marcelli, 1984).
As reacções da criança diante da sua própria doença dependem da idade e
da compreensão que a criança tem da mesma (assim como, indirectamente, da sua
relação com noções como as de morte, perda, culpa, etc.). A criança submetida aos
efeitos e consequências (físicas, psicológicas, familiares, sociais) de uma doença
grave pode adquirir uma compreensão já muito madura da doença e da morte numa
idade precoce (em relação à criança saudável).

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

De acordo com Ajuriaguerra e Marcelli (1984), antes dos 3-4 anos a doença
raramente será percebida como tal. Cada episódio é vivido quase isoladamente;
sendo que a criança é bastante sensível às separações, hospitalizações e às
“agressões” do diagnóstico e tratamento.
Entre os 4-10 anos a doença dá origem, inicialmente e como qualquer
episódio agudo, a uma reacção regressiva mais ou menos durável e profunda.
Apesar de muito pequena, a criança pode pressentir a morte e manifesta-o
através de comportamentos como a recusa de cuidados até então aceites, o pedido
para regressar a casa ou mesmo através da verbalização dos seus medos e
dúvidas (Ajuriaguerra & Marcelli, 1984).
Uma coisa é certa: a criança tem, nesta fase, uma necessidade suplementar
de se sentir acompanhada. Pode sentir culpabilidade perante uma família que sente
como estando triste e se prepara para abandonar e ser abandonada. Ao pressentir
a morte e a impossibilidade de a evitar, a criança pequena teme o abandono e a
exclusão, funcionando estes sentimentos como uma antecipação da verdadeira
morte (Coimbra de Matos, 1997).
Ajuriaguerra e Marcelli (1984) propõem, quanto à questão da verdade ou do
segredo, que os técnicos de saúde se “deixem levar” pelas perguntas da criança
sem as iludir, proporcionando-lhes respostas directas e simples (mas adequadas ao
seu desenvolvimento cognitivo e afectivo).

II.2.3. No cancro
A apreciação do cancro na infância como uma doença crónica é um
desenvolvimento relativamente recente. Durante a maior parte do século XX, na
ausência de tratamentos eficazes, as crianças com cancro morriam. Com tal, as
primeiras intervenções psicossociais para crianças e famílias concentravam-se na
preparação para a morte da criança. As últimas décadas do século XX foram
completamente diferentes, dado que um grande número de crianças sobreviveu ao
cancro (Kazak, 2001).
A doença oncológica encontra-se incluída no grupo das enfermidades que
ameaçam a integridade física e psicológica do indivíduo, tendo um impacto profundo
na forma como os indivíduos se percepcionam e percepcionam o ambiente social
que os rodeia (Aapro, 1987 citado por Pereira & Lopes, 2005).
O cancro pediátrico, provavelmente, não é tão conhecido ao nível social
como o cancro na população adulta, embora seja mais dramático uma vez que se

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

trata de uma criança e, para além disso, também é possível que tenha maiores
implicações a todos os níveis da sua vida.
O cancro é uma doença que se prolonga no tempo, afectando o ambiente
familiar e o próprio desenvolvimento da criança.
Segundo Goodyer (1990) o aparecimento de uma doença crónica afecta as
crianças de uma forma directa e indirecta. De uma forma directa porque as coloca
perante situações adversas com as quais não estavam habituadas a lidar (exames,
tratamentos, hospitalizações, alterações na aparência física, dor e separações)
impedindo-as ou limitando-as de vivenciar situações facilitadoras do seu
desenvolvimento normativo (ex. brincar). De uma forma indirecta, porque este tipo
de doença provoca alterações de vária ordem nos pais que, por sua vez, irão
interferir na forma como o próprio desenvolvimento da criança se irá efectuar.
O aparecimento da doença, as experiências de dor e os tratamentos
provocam muitas vezes um elevado grau de stress potencialmente perturbador do
bem-estar e desenvolvimento da criança (Araújo, 2004).
“A criança não fica alheia à percepção da gravidade da situação,
directamente, ou através das reacções dos pais (...), nem à necessidade de se
confrontar com processos físicos estranhos, difíceis de compreender, dolorosos, e
potencialmente limitadores da actividade habitual” (Barros, 1998, pp.13).
Por tudo isto, “ o diagnóstico de cancro na criança desencadeia um processo
de fragilização do seu desenvolvimento físico e psicológico (Almeida et al, 1999, pp.
65).
Desta forma, as crianças com cancro são confrontadas com desafios físicos e
psicossociais (Chao et al, 2003).
“Não só porque a criança adoece, mas fundamentalmente porque a doença
oncológica e o seu tratamento induzem a uma rotura na sua vida normal,
impedindo-a de continuar no seu contexto afectivo, familiar e social, de continuar a
ter as suas actividades lúdicas, escolares ou desportivas” (Almeida, Reis & Norton,
1999, pp. 65,66).
Nos adolescentes com cancro, o desenvolvimento normal é ameaçado com
disrupção. Estes adolescentes necessitam de usar estratégias de coping eficazes
para negociar estes desafios do desenvolvimento (Kuperberg & Lynne, 1996).
Com o objectivo de identificarem a vivência das crianças, dos problemas
relacionados com o cancro e o efeito da doença na situação de vida da criança,
Enskär et al (1997) entrevistaram, separadamente, cinco crianças (com vários

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

diagnósticos e planos de tratamento) e cinco pais. Os resultados apontam para seis


categorias de factores que influenciam a situação de vida das crianças: tratamento
médico e efeitos secundários, isolamento, proximidade e apoio, estar no centro,
sentimentos e reacções e qualidade do tratamento.
Os profissionais de saúde ajudam as crianças com cancro a diminuir os seus
medos de procedimentos dolorosos e assustadores, criando um relacionamento
com a criança (Enskär et al, 1997).
Kazak (2001) menciona que, o cuidado global de uma criança com cancro é
complexo, mutisistémico, e dinâmico. A um nível óptimo, inclui uma estrutura ou
modelo de organização, serviços clínicos eficientes (ao nível do funcionamento e
custo) para as crianças e as suas famílias, bem como uma ligação muito próxima
entre a investigação clínica e a prática.
Esta autora servindo-se de uma perspectiva sócio-ecológica, ilustra múltiplas
oportunidades e desafios relacionados com a sustentabilidade de um programa de
cuidados compreensivos para crianças com cancro e suas famílias, ao longo do
tempo e em vários sistemas. A interacção entre a prática e a investigação clínica é
enfatizada em conjunto com exemplos de colaboração interdisciplinar centrada na
família, relacionada com a dor, sequelas psicológicas da sobrevivência ao cancro na
infância, e avaliação de risco do distress psicológico em curso.

II.3. A Morte

II.3.1. Noção de morte


O medo de morrer é universal e todos os medos que temos se relacionam, de
alguma forma, com ele. A morte é considerada sob duas concepções (Kastenbaum,
1983 citado por Kovács, 1992):
• A morte do outro: que se relaciona com o medo do abandono e envolve a
consciência da ausência e da separação.
• A própria morte: que se relaciona com a consciência da própria finitude,
fantasias sobre o fim e sobre quando ocorrerá.
Os temores da criança sobre a morte são geralmente expressos como fim de
vida, perda de movimento, sensação física ou moral desagradável, perda da
existência, aniquilamento, desaparecimento, perda da individualidade, perda do
brilho e vigor, ser esquecido.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

A representação de um tempo futuro é exclusiva do Homem e assenta em


bases anatomo-fisiológicas e psicológicas. Estas últimas, por sua vez, apoiam-se no
desenvolvimento da função simbólica – ou seja, a capacidade de representação
por símbolos – e no desenvolvimento da actividade reflexiva – a capacidade de
pensar sobre as experiências vividas (Coimbra de Matos, 1997). Essa função
simbólica, a níveis profundos, representará sempre, em última análise, os
fenómenos de nascimento, vida e morte (Segal,1991).
Quanto muito, poderemos considerar que a criança pequena terá um
conhecimento instintivo (biológico) da morte – similar ao dos animais que evitam
naturalmente o perigo, “conhecendo-a” como uma morte-agressão, morte-perigo ou
morte-inimiga (Morin, 1970). Aliás, a imobilização reflexa face ao perigo passa
transversalmente por várias espécies. Este “afastar da morte” pela imitação da
mesma pode considerar-se um "refinamento de autodefesa", sendo que traduz uma
reacção “inteligente” à morte (Morin, 1970). Encontrámo-la em animais, em
soldados, em crianças...

II.3.2. Noção de morte e desenvolvimento cognitivo


Num estudo de Koocher (1974 citado por Kovács, 1992) surge uma relação
hipotética entre o desenvolvimento cognitivo e as atitudes perante a morte:
• Nível 1: período pré-operacional – surgem raciocínios fantasiosos e
mágicos (raciocínio egocêntrico).
• Nível 2: período das operações concretas – surgem pensamentos sobre
formas de infligir a morte.
• Nível 3: período das operações formais – surgem explicações mais
abstractas, com ideias de deterioração física, nomeação de causas, o
reconhecimento da morte como fenómeno natural.
É ainda observado por este autor que crianças que tiveram contacto directo
com situações que envolveram a morte apresentam uma melhor elaboração do seu
conceito (Kovács, 1992).
Torre (1979 citado por Kovács, 1992) estudou mais profundamente a relação
entre o desenvolvimento cognitivo (Piaget) e a evolução do conceito de morte,
segundo três dimensões: extensão, duração e significado:
• Período Pré-Operacional: não é feita qualquer distinção entre seres
inanimados e animados. As crianças não negam a morte, mas é-lhes difícil
separá-la da vida. Não percebem a morte como definitiva e irreversível.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

• Período das Operações Concretas: as crianças distinguem entre seres


inanimados e animados. Não dão respostas lógico-categoriais de
causalidade da morte. Procuram aspectos preceptivos como a imobilidade
para a definir. Já é percebida como irreversível.
• Período das Operações Formais: reconhecem a morte como um processo
interno, que implica uma paragem nas actividades do corpo. Percebem-na
como universal. Podem já dar respostas lógico-categoriais de causalidade. A
morte é definida como parte da vida.

II.3.3. Luto
O luto infantil pode ser, apesar de em muitos aspectos idêntico ao de um
adulto, bastante específico. Ele é frequentemente considerado como um factor de
vulnerabilidade para distúrbios psicológicos futuros.
Apesar de a consciência da morte começar a surgir desde cedo, ela nem
sempre é fácil de detectar. Expressa-se com o recurso à linguagem própria da
criança, que inclui de forma marcada aspectos lúdicos e gráficos, ou mesmo
sintomáticos.
Bowlby faz referência às variáveis que influenciam o processo de luto da
criança e do adolescente. Mesmo que possamos identificar nessas variáveis a
forma como qualquer adulto vivencia os seus próprios estados de luto, convém
termos presente o facto de, no universo infantil, existir uma maior sensibilidade às
condições que precedem, cercam e seguem uma perda significativa.
Essas variáveis são (Bowlby, 1980): causas e circunstâncias da perda;
padrão das relações familiares após a perda; padrões de relacionamento anteriores
à perda.
Ainda segundo Bowlby (1980), podemos também identificar alguns traços de
luto patológico em crianças com:
• ansiedade persistente (com medo de outras perdas ou medo de morrer
também),
• esperança de se reunir com o morto (expressa pelo desejo de morrer ou por
comportamentos de risco),
• culpa persistente,
• hiperactividade (com passagens ao acto agressivas e destrutivas),
• cuidados zelosos e compulsivos por outras pessoas,
• sintomas de identificação (queixas de saúde semelhantes às do morto).

30
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quando nos referimos ao luto, não podemos deixar de abordar o conceito de


perda. No âmbito fenomenológico, aquilo que se perde deve entender-se como algo
significativo que o indivíduo possuía, ou seja, de que dispunha permanentemente,
como instrumento ou extensão de si próprio, para fazer face às contingências da
vida. Compreende-se que a perda vulnerabilize o sujeito às ameaças e reduza o
seu poder pessoal até à auto-consciência de aniquilação (Abreu, 1997).
De uma forma abrangente, Freud considera o luto como um “desejo de
recuperar algo que foi perdido” (Freud, 1987, citado por Rebelo, 2004, pp.142).
Pontalis (1981 citado por Fleming, 2003) acrescenta que o objecto
irremediavelmente perdido é, simultaneamente, de tal forma desejado que fica
eternamente colado no inconsciente: “onde há dor, existe o ausente, o objecto
perdido que está presente” (Pontalis 1981, citado por Fleming, 2003, pp. 91).
Seguindo de perto Freud, Ramsey (1975 citado por Abreu, 1997) descreveu
os componentes tendencialmente sequenciais da reacção de luto que se pode
seguir a uma perda: choque, negação, depressão, culpabilidade, ansiedade,
agressividade, reparação. Esta sucessão pode-se compreender: depois de um
possível susto (choque) inicial, e interacção vazia com algo que já não existe
(negação), o indivíduo pode aceitar depressivamente a perda e o auto-
empobrecimento resultante (depressão), procurando em si o motivo da perda
(culpa) e assumindo-se como vulnerável a qualquer ameaça (ansiedade). Se ele
vencer a tendência à fuga, ainda vulnerável às ameaças, dispor-se-á à luta, ao
mesmo tempo que procurará nos outros o motivo da perda (agressividade). Esta
disposição aumentará as interacções com o meio e a possibilidade de novos
ganhos, enquanto que o virar da agressividade contra o objecto perdido lhe retira a
sua omnipresença na consciência e deixa lugar à reintegração de novos ganhos
(reparação). Se assim for, a reacção é normal e leva à mudança. Mas se o processo
de luto for bloqueado, a reacção depressiva será durável e patológica, assumindo
tonalidades várias que vão desde a convicção de presença e negação ritualizada
até à culpa delirante, desde a confusão até à agressividade e irritabilidade
permanentes. Em qualquer destes casos se pode falar de reacção de luto
patológico (Abreu, 1997).
A reacção à perda pode porém revelar-se mais complexa. A vivência de
perda leva frequentemente à reacção depressiva (Brown, 1982 citado por Abreu,
1997), sobretudo se na perda se incluírem pessoas e bens significativos, partes do
corpo, capacidades e a própria auto-imagem.

31
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

O tempo de luto implica um trabalho interior de exigência e dificuldade


iniludíveis.
Na intervenção em oncologia, as indicações da personalidade pré-mórbida
dão-nos indicação da sua adaptação e dos estilos de coping adoptados. “Nas
situações de desafio o indivíduo confronta-se com situações que põem à prova a
sua competência ou imagem, obrigando à necessidade de mobilização de aptidões
de confronto para enfrentar a realidade” (Gonçalves, 2000, pp.99).

II.3.4. Os cuidados paliativos


Os cuidados paliativos são uma parte importante do tratamento do cancro.
No entanto, pouco se sabe como factores relacionados com estes cuidados afectam
as famílias enlutadas numa perspectiva de longo prazo. A dor física e o momento de
morte são dois factores importantes a ter em conta nos cuidados paliativos de
crianças com cancro, no sentido de reduzir o distress de longo prazo dos pais
enlutados (Kreicbergs et al, 2005).
Estes autores conduziram um estudo analisando esta questão, focando
potenciais factores de stress relacionados com os cuidados paliativos nos pais que
perderam uma criança para o cancro. A informação foi fornecida por 449 (80%) dos
561 pais elegíveis. Entre 196 pais de crianças cuja dor não podia ser aliviada, 111
(57%) ainda estavam afectados por esse facto 4 a 9 anos após o falecimento. Entre
138 pais que informaram que a criança teve um momento difícil de morte, 78 (57%)
ainda estavam afectados. A probabilidade de os pais informarem que a sua criança
teve um momento de morte difícil aumentava (risco relativo = 1,4; 95% intervalo de
confiança 1,0-1,8) se os profissionais de saúde não estivessem presentes no
momento da morte. 10% dos pais ( 25 de 251 pais) não estavam satisfeitos com os
cuidados prestados durante o último mês no centro de hematologia/oncologia
pediátrica; o número correspondente para os cuidados em outros hospitais foi de
20% (33 de 168 pais).
Mack et al (2005) pretenderam determinar a avaliação de pais e médicos da
qualidade dos cuidados paliativos de crianças com cancro e quais os factores
associados à percepção destes cuidados, como sendo de elevada qualidade.
Concluíram que, para os pais de crianças que morreram de cancro, a comunicação
médico/paciente era a principal determinante da elevada qualidade dos serviços
médicos. Em contraste, os resultados dos médicos dependiam de aspectos
biomédicos mais do que aspectos relacionais.

32
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

II.4. A sobrevivência
Desde meados da década de 70, a sobrevivência global de crianças com
cancro tem vindo sempre a aumentar, verificando-se que aos 5 anos é superior a 60
% e, em certas neoplasias pode atingir em alguns casos 70-90% (Costa, 1996).
A investigação clínica conduziu a tremendos melhoramentos na eficácia dos
tratamentos da maioria dos cancros na infância; a taxa de sobrevivência no período
de cinco anos é agora maior do que 75% (Patterson et al, 2004).
Nas últimas três décadas têm-se verificado progressos na sobrevivência de
crianças com cancro, com a taxa de sobrevivência dos 5 anos a atingir os 80%.
Esta situação resultou num crescimento significativo da população de crianças
sobreviventes ao cancro (Bhatia & Landier, 2005).
Nos anos 90 a taxa de sobrevivência dos cinco anos para as crianças era de
64% no Leste da Europa e 75% no Oeste da Europa, com diferenças entre regiões
para quase todos os grupos de tumor; a taxa de sobrevivência dos cinco anos era
sensivelmente a mesma nos adolescentes. A sobrevivência melhorou
dramaticamente desde os anos 70, nas crianças e adolescentes, mais no Oeste do
que no Leste (Foucher et al, 2004).
No entanto, a doença oncológica continua a afectar e invadir a vida de muitas
crianças e suas famílias, constituindo a principal causa de morte não acidental
depois do primeiro ano de vida, compreendendo globalmente cerca de 10% das
mortes neste grupo etário. Calcula-se que 1 em cada 800/1000 adultos seja
sobrevivente de cancro em criança (Costa, 1996).
Foi analisada a sobrevivência de 44129 crianças com idades inferiores a 15
anos, no período 1983 e 1994. Foi estimada a tendência de sobrevivência após 5
anos, de acordo com o sexo, idade ajustada, para os dez cancros mais comuns e
para todos os cancros combinados, para cinco regiões (Alemanha Ocidental, Reino
Unido, Europa de Leste, Países Nórdicos e Europa Ocidental e do Sul) e para a
Europa como um todo. Foi estimada a tendência de 14 cancros raros para a Europa
em geral. Para todos os cancros combinados a taxa de sobrevivência de 5 anos
aumentou de 65%, para diagnósticos entre 1983 e 1985, para 75% entre 1992 e
1994 (Gatta et al, 2005).
Estes autores concluíram que:

33
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

1. A sobrevivência melhorou para todos os cancros individuais, excepto


melanoma, osteosarcoma e carcinoma da tiróide; no entanto, os aumentos
de sobrevivência nos retinoblastoma, condrosarcoma e fibrosarcoma não
foram significativos.
2. Os aumentos mais significativos (50 a 66%) ocorreram na Europa de Leste.
3. Nos cancros comuns os melhoramentos mais significativos registaram-se na
leucemia e nos linfomas, com risco de morte a diminuir significativamente 5 a
6% por ano.
4. A sobrevivência a tumores do sistema nervoso central aumentou
significativamente de 57 para 65% com o risco a reduzir cerca de 3% por
ano. O risco reduziu 4% por ano no neuroblastoma e 3% por ano para o
tumor de Wilms e rabdomiosarcoma.
5. As diferenças da taxa de sobrevivência entre as regiões diminuiu ao longo do
período, em especial para a leucemia não linfática, tumores do sistema
nervoso central e rabdomiosarcoma.
6. Para outros tumores mais raros, as reduções são de pelo menos 10% por
ano.
7. A prevalência de adultos europeus com história de cancro na infância irá
inevitavelmente aumentar (Gatta et al, 2005).
Os dados RORENO indicam que a taxa de sobrevivência global (SG) aos 5
anos para a totalidade dos cancros pediátricos foi 78%. Para esta percentagem
contribuem taxas de sobrevivência muito diferentes nos vários tipos de tumores
pediátricos.
Assim, as neoplasias com melhores taxas de sobrevivência global foram os
linfomas (96%), embora com algumas variações conforme os seus sub-tipos e as
leucemias no seu conjunto (78%). De entre estas, a leucemia linfoblástica aguda
(LAL) é a que tem prognóstico mais favorável, com taxa de sobrevivência global de
82%, que desce na leucemia aguda mielóide (LAM) para 65%.
Nos tumores do sistema nervoso central a sobrevivência global foi de 69%,
sendo mais elevada nos astrocitomas e mais baixa nos ependinomas.
No neuroblastoma, o tumor sólido mais frequente na criança, logo após os
tumores do sistema nervoso central, obteve-se uma sobrevivência global de 73%. É
de salientar que é completamente diferente o prognóstico, conforme a doença
ocorre antes ou depois do primeiro ano de vida, sendo a SG nos lactentes próxima

34
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

dos 100% e tornando-se muito baixa nos mais velhos. Nos sarcomas das partes
moles a sobrevivência global foi de 76%.
Quando comparados os dados do RORENO com os últimos dados europeus
publicados, verifica-se que se obtiveram taxas de sobrevivência sobreponíveis em
praticamente todas as neoplasias.
Com a melhoria do prognóstico que se tem vindo a verificar na maior parte
dos tumores pediátricos, estima-se que no ano 2010 a taxa de sobrevivência global
seja de 85% e que 1/450 adultos serão sobreviventes de cancro pediátrico.
As melhorias no prognóstico das crianças com cancro coloca o foco da
atenção nos efeitos de longo prazo, sendo vários os autores que se debruçam sobre
o tema (Kazak, 2001; Patterson et al, 2004; Bhatia & Landier, 2005; Svavarsdottir,
2005; Peterson, 2006; Cantrell, 2007).
A razão para a crescente sobrevivência na oncologia pediátrica é a utilização
de técnicas mais agressivas, determinadas por testes clínicos nacionais e
aleatórios, constituídos por regimes terapêuticos que combinam quimioterapia,
radiação ou cirurgia. Estes tratamentos agressivos podem ter uma variedade de
toxicidades e frequentemente têm consequências médicas de curto e longo prazo,
que podem ter impacto em quase todos os sistemas do corpo. É no entanto
importante notar que, apesar das cada vez mais optimistas taxas de cura, cerca de
um terço das crianças com cancro morrem da doença ou do seu tratamento (Kazak,
2001).
À medida que o prognóstico de cancro infantil melhora, também as
preocupações sobre a qualidade de vida na sobrevivência aumentam (Melman et al,
1998).
Crianças e adolescentes que tenham sobrevivido ao cancro na infância são
vulneráveis a efeitos tardios da sua doença ou dos tratamentos, incluindo sequelas
físicas e psicológicas (Peterson, 2006). Perceber este processo poderá ser útil para
os profissionais de saúde no tratamento de crianças com cancro (Tarr & Pickler,
1999).
A investigação tem demonstrado que a utilização de terapias de combate à
doença poderão acarretar complicações, que se poderão manifestar, apenas, anos
mais tarde (Bhatia & Landier, 2005).
Estes autores verificaram que, aproximadamente dois terços dos
sobreviventes ao cancro infantil experienciam pelo menos um efeito tardio e cerca
de um quarto experienciam um efeito tardio que é grave ou de ameaça à vida,

35
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

embora as questões psicossociais nos sobreviventes e nos membros da família


sejam frequentemente subestimados e possam ser prevalecentes.
As complicação de longo prazo nas crianças sobreviventes ao cancro, como
complicações no crescimento e desenvolvimento, disfunções neurocognitivas,
problemas cardiopulmonares e renais, disfunção endócrina, disfunções
gastrointestinais, sequelas músculo-esqueléticas e subsequentes implicações na
sua saúde, estão relacionados não apenas com as terapias específicas utilizadas,
mas também podem ser determinadas pelas características individuais do doente
(Bhatia & Landier, 2005).
As sequelas no desenvolvimento neurológico (por exemplo, dificuldades de
atenção/concentração, memória, processamento de informação e outras funções
executivas) enfrentadas por crianças que sobreviveram a cancro do sistema
nervoso central ou tratamentos, podem ter múltiplos efeitos no ajustamento
psicológico e qualidade de vida, à medida que se reintegram na escola e outros
contextos sociais. Os sobreviventes que enfrentem estas dificuldades poderão ser
influenciados pelo seu ambiente familiar e estas lutas por seu turno, têm impacto no
fardo percebido pelos seus pais e restantes membros do sistema familiar, sugerindo
uma estrutura bidireccional para entender o impacto das sequelas do
desenvolvimento neurológico, no seio da família (Peterson, 2006).
Os efeitos a longo prazo da cura (i.e. efeitos adversos bio-psico-sociais) só
muito recentemente começaram a imergir como um foco primordial da investigação
clínica, incluindo estudos sobre a qualidade de vida relacionada com a saúde entre
os sobreviventes. No entanto, estes estudos têm negligenciado o estudo do impacto
da experiência de cancro na família e a influência que a resposta da família ao
cancro tem na qualidade de vida da criança (Patterson et al, 2004).
Almeida et al (1999) realizaram um estudo com crianças sobreviventes de
leucemia, em que foi efectuada uma avaliação psicossocial de 30 crianças
sobreviventes de leucemia, com idades entre os 8 e os 17 anos, que haviam
terminado o tratamento pelo menos há um ano. Os dados obtidos apontam para um
papel fundamental do apoio emocional, para a existência de morbilidade
psicossocial mínima entre este grupo de crianças sobreviventes de leucemia,
sugerindo que o stress associado à doença e ao tratamento será um acontecimento
transitório, modelado pelos factores sócio-afectivos, não causando a longo prazo
sequelas psicológicas ou sociais às crianças. Em termos de prossecução do

36
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

trabalho sugerem que é importante a compreensão do papel exercido pelo ambiente


familiar, no apoio às crianças com leucemia ao longo do processo de diagnóstico.
Nos últimos anos, a intensificação do tratamento de crianças com cancro
resultou num considerável aumento e número de crianças curadas. No entanto, o
tratamento intensivo levou a um certo número de problemas para as crianças e suas
famílias (Enskär et al, 1997).
Kazak et al (1997) examinaram as sequelas psicológicas em cento e trinta
sobreviventes a leucemia na infância, cento e cinquenta sujeitos num grupo de
comparação e seus pais. Sendo que, as principais variáveis dependentes são,
sintomas de ansiedade e stress pós-traumático, funcionamento familiar e apoio
social. Os resultados demonstram que:
1. Existem significativamente mais casos de sintomas de stress pós-
traumático em mães e pais de sobreviventes a leucemia na infância e não
existem diferenças entre sobreviventes.
2. A ausência de diferenças significativas para os sobreviventes poderá ser
um argumento, para que seja dada atenção adicional ao impacto do
stress pós-traumático nos sobreviventes ao cancro infantil.
3. Não há diferenças significativas no grupo para o funcionamento familiar e
apoio social, embora estivessem associados aos resultados da ansiedade
e stress pós-traumático.
4. A idade actual da criança, a idade à data do diagnóstico e número de
meses de tratamentos, não estavam significativamente correlacionados
com os resultados.
Estes resultados documentam o impacto de longo prazo nos pais, do
tratamento do cancro infantil.
Kazak et al (1994) investigaram o processo de ajustamento de longo prazo,
em sobreviventes a cancro na infância com idades compreendidas entre os 10-15
anos e seus pais, em dois momentos, com um ano de intervalo. Foram avaliados:
preocupações comportamentais, distress parental, ansiedade, falta de esperança,
apoio social e funcionamento familiar. Foram ainda examinados o sexo e a
existência de problemas de aprendizagem. Os dados indicaram níveis de
ajustamento próximos da norma. Todavia, foram encontradas diferenças entre
sexos, com os adolescentes masculinos a registarem baixos níveis de ansiedade e
ausência de esperança. Os sobreviventes com dificuldades de aprendizagem

37
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

aparentavam estar particularmente vulneráveis, no que diz respeito ao ajustamento


de longo prazo.
Por tudo isto, a investigação passa a centrar-se nas possíveis sequelas
psicológicas manifestadas pelos sobreviventes, dando ênfase a aspectos como a
facilitação do coping, a adaptação a uma doença crónica grave e às suas
consequências, quer na criança, quer na família.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO III. A doença oncológica


infantil: o processo de adaptação
familiar

39
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO III. A DOENÇA ONCOLÓGICA INFANTIL: O PROCESSO DE


ADAPTAÇÃO FAMILIAR

“Família é contexto natural para crescer.


Família é complexidade.
Família é teia de laços sanguíneos e, sobretudo, de laços afectivos.
Família gera amor, gera sofrimento.
A família vive-se. Conhece-se. Reconhece-se”.
(Relvas, 2000, pp. 9)

III.1. A família: definição


“A família é uma rede complexa de relações e emoções que não são
passíveis de ser pensadas com os instrumentos criados para o estudo dos
indivíduos isolados (...). A simples descrição de uma família não serve para
transmitir a riqueza e complexidade relacional desta estrutura” (Gameiro, 1992).
A família é então entendida na sua complexidade como um conjunto de
indivíduos que se desenvolvem entre si, de forma sistemática e organizada, com
interacções particulares que lhe conferem individualidade grupal e autonomia
(Relvas, 2000).

III.2. O processo de adaptação familiar à doença oncológica infantil

III.2.1. O impacto na família


O cancro é provavelmente a patologia mais temida do mundo moderno.
Embora não sendo apenas um factor de mortalidade, cobra uma pesada factura de
angústia e desespero, mesmo quando é potencialmente curável. Se alguns doentes
revelam uma boa adaptação, outros, manifestam um desânimo geral. Esta
problemática não se restringe somente aos doentes, estendendo-se também à
família, amigos e muitas vezes a todas as pessoas e entidades empenhadas no seu
tratamento. A doença torna-se um foco contínuo de ansiedade e stress, tal como o
seu tratamento e efeitos iatrogénicos (Pereira & Lopes, 2005).
Desde logo a concepção de “cancro” para a maioria dos indivíduos da nossa
cultura é associada a sofrimento intenso e morte, é-o ainda mais para os pais e
familiares destas crianças. Esta atitude, no caso da doença oncológica,
desencadeia um aumento brutal da ansiedade com que é vivida a doença de um
filho (Almeida et al, 1999, pp. 65,66).

40
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Várias áreas científicas têm contribuído para a compreensão desta temática.


A Medicina, a Psicologia e a Terapia Familiar têm efectuado vários estudos que nos
permitem uma compreensão mais aprofundada sobre a influência de um problema
de saúde de um elemento da família e o stress que surge na família. Também têm
possibilitado um melhor conhecimento do modo como a família responde a essa
situação de grande pressão e de dificuldades, e procura encontrar o seu equilíbrio,
isto é, o seu melhor bem-estar dentro da realidade que encara.
O cancro relembra a vulnerabilidade humana, a incapacidade para lidar com
a doença e, para evitar a ameaça, os membros da rede social tendem a afastar-se
do foco de tensão – indivíduo e família.
Quando se comunica um diagnóstico de cancro produz-se um grande
impacto emocional na família, onde são frequentes reacções de angústia, medo,
raiva e impotência. A situação é especialmente dramática quando se trata de uma
criança. Os pais costumam ter sentimentos de culpa e, em determinadas ocasiões,
conceitos errados em relação à doença que se acentuam ainda mais com estas
emoções negativas.
Em algumas famílias, a doença oncológica aproxima a família, noutras
separa-a, mas nenhuma consegue ficar indiferente à experiência de cancro. É um
acontecimento de vida que requer uma adaptação, quer do próprio doente quer da
própria família. Verifica-se, contudo, que a maioria das famílias desenvolve
respostas resilientes (Pereira & Lopes, 2005).
A experiência de cancro requer uma substancial adaptação para mudar, isto
é, mudanças interpessoais, sociais e ambientais.
Será assim de esperar que seja uma das doenças mais temidas e que
evoque emoções fortes, não só no doente, mas também na família. Desta forma,
não é de surpreender o elevado nível de morbilidade psicológica nos doentes e
famílias a necessitarem de apoio psicológico especializado. Qualquer condição
crónica é sempre vivenciada como uma crise. Não é a crise em si que torna os
elementos mais unidos, mas a forma como, em conjunto, a família lida com a crise
(Pereira & Lopes, 2005).
São vários os autores que afirmam que o impacto e adaptação à doença são
determinados não só pelas características da doença, mas também pela família,
verificando-se um impacto tão grande ou maior do que no próprio doente (Palterson
& Garwick, citado por Baider et al , 2000).

41
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Segundo Maul-Mellot e Adams (1987) qualquer doença provoca uma crise, à


família e aos restantes significativos, especialmente quando o paciente é uma
criança. O diagnóstico de uma doença crónica e, neste caso, de cancro pediátrico,
afecta não só a própria criança, mas também a sua família.
“Crise é toda a situação de mudança a nível biológico, psicológico ou social,
que exige da pessoa ou do grupo um esforço suplementar para manter o equilíbrio”
(Cordeiro, 1994).
Os momentos de crise implicam grande stress na vida familiar. Se é verdade
que coincidem com uma maior probabilidade de disfuncionamento familiar, também
se pode observar que nem sempre os acontecimentos que os assinalam têm uma
carga afectiva negativa. Com efeito, toda e qualquer mudança causa stress. Não é o
carácter agradável ou desagradável dum acontecimento que o define como crise,
mas sim o seu carácter de mudança (Relvas, 2000).
Segundo Santos (1998) ter uma criança com doença crónica constitui uma
situação desencadeadora de stress e significativo impacto na família.
Quando é diagnosticado cancro a uma criança, a família vivencia grande
stress e disrupção da vida diária (Dockerty et al, 2000; Kazak & Nachman, 1991).
A imprevisibilidade ou incerteza, a ambiguidade e a instabilidade das
condições de saúde da criança, são alguns dos factores que contribuem para o
stress na família (Cohen, 1993).
Mudanças e alterações quer nas rotinas, regras e rituais familiares, quer na
redistribuição de papéis e no acréscimo de novas responsabilidades e
competências. O padrão de vida familiar altera-se bruscamente; é interrompido
pelos longos e contínuos períodos de hospitalização.
A doença crónica da criança será tanto mais disfuncionante para a família, se
esta não encontrar o equilíbrio entre a imprevisibilidade da doença e a coerência do
sistema familiar, através da continuidade entre a estrutura familiar passada – pré-
doença – e a estrutura familiar futura, em vias de elaboração – pós doença –
negociando novas respostas para enfrentar os novos stressores do quotidiano
(Marinheiro, 2002).
Toda e qualquer família está sujeita a mudanças, ao stress, e passa
necessariamente por várias crises. Em última análise, as famílias diferenciam-se na
forma como são capazes de as elaborar, isto é, de encontrar vias que lhes permitam
a reestruturação que as faz avançar no caminho da co-evolução. Diferenciam-se na
flexibilidade, na possibilidade de encontrar o equilíbrio dinâmico na abertura-fecho

42
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

do sistema, “forçando” um ou outro aspecto conforme o momento evolutivo o exige


(Relvas, 2000).
“Devido aos aspectos emocionais associados, conflitos intrafamiliares e
encargos financeiros, a doença de um familiar é um stressor severo, que conduz
frequentemente a uma crise no sistema familiar. A crise pode ser percepcionada
pelo sistema familiar como uma ameaça ou como um desafio. Um novo ajuste é
possível se os recursos psicológicos e familiares (por exemplo, suporte social,
coping, estilo de comunicação, ajuda externa) estiverem disponíveis. Em condições
desfavoráveis, pode ocorrer uma dissolução ou um equilíbrio instável que, a
qualquer momento, pode ser abalado e causar a dissolução final” (Pereira & Lopes,
pp.76,77).
A qualidade do ambiente familiar afecta a resposta da família à doença:
famílias mais coesas com baixo conflito incluem companheiros e filhos com menos
stress e melhores estratégias de coping quando comparadas com famílias
desligadas ou com alto conflito (Arpin et col., 1990; Fritz, William & Amylam, 1988
citado por Pereira & Lopes, 2005).
Em qualquer caso, a perda da estrutura familiar é determinada pela prévia
adaptação à doença, uma vez que, se anteriormente já existiam problemas
familiares, estes vão-se acentuar neste momento, como pode ser o caso de
dificuldade de comunicação, problemas conjugais, problemas de ciúme entre
irmãos, etc.
Tudo isto, pode derivar num estado de sofrimento psicológico e de tensões
crónicas, sobretudo, quando a família não se adapta à situação, ou seja, não
aprende a viver a doença da melhor forma possível ou não dispõe de recursos para
a enfrentar.
Quando uma criança tem cancro, isto afecta toda a família por longos
períodos (Bjork, 2005).
Esta autora, pretendendo elucidar esta experiência familiar, quando foi
diagnosticado cancro a uma criança da família, servindo-se do método descritivo
indutivo, com uma abordagem hermenêutica fenomenológica, efectuou entrevistas
com 17 famílias (pais, crianças e irmãos). A experiência vivida pela família foi
descrita como um tema de duas faces essenciais, consistindo em “ um mundo de
vida quebrada” e um imediato “ lutando para sobreviver”. A vida do dia-a-dia seguro
das famílias desapareceu e foi substituída pelo medo, caos e solidão. Na luta para
que a criança e a família sobrevivam, os membros da família procuram sentir a

43
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

esperança e focar aspectos positivos para ganhar controlo, e para se sentirem


próximos de outras pessoas.
Num estudo efectuado no Taiwan foi estudado o impacto psicossocial do
cancro nas crianças com cancro e suas famílias, assim como o grau de depressão
sentido por essas crianças. Neste âmbito, 24 crianças com cancro entre os 8 e os
17 anos, completaram a versão chinesa do Children Depression Inventory (CDI). Os
resultados demonstraram que:
1. os pacientes não notaram mudanças significativas no seu ajustamento
psicossocial, enquanto que os pais indicaram diminuições significativas de humor
dos pacientes e uma pequena diminuição do número de amigos;
2. tanto os pais como os irmãos demonstraram um ajustamento positivo;
3. não houve nem mudanças significativas nos resultados do CDI entre os
doentes de cancro pediátrico e o grupo sem doença, nem relações significativas
entre os resultados dos testes CDI dos pacientes e as características demográficas
dos pacientes e dos seus progenitores, atitudes parentais, assim como as variáveis
relacionadas com a doença (Chao et al, 2003).
Hileman et al (1992) consideram as principais necessidades da família:
• Informação sobre as razões subjacentes aos sintomas;
• Informação sobre que sintomas esperar no futuro;
• Informação sobre o que esperar ao nível do prognóstico da doença;
• Informação sobre o tratamento e efeitos secundários;
• Informação sobre os recursos comunitários;
• Meios para tranquilizar o doente;
• Meios para lidar com a diminuição de energia do doente;
• Meios para lidar com a imprevisibilidade do futuro;
• Informação sobre a medicação;
• Informação sobre as necessidades psicológicas do doente;
• Actividades que farão o doente sentir-se importante;
• Formas de aprender a ser mais paciente e tolerante;
• Abordagem da morte do paciente.
Na presença do doente, os familiares tendem a esconder a tristeza. No
entanto, muitas vezes, o doente apercebe-se desta situação e para não ver a família
sofrer, acaba por se isolar, não partilhando os seus medos e as suas angústias.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Pretendendo compreender o processo através do qual famílias de crianças


com Leucemia Linfática Aguda “ se tornam” doentes com cancro, Tarr e Pickler
(1999) efectuaram um estudo teórico, através de entrevistas com quatro famílias e
três profissionais de saúde, sendo analisados os processos através dos quais, as
famílias vivenciam a doença. Os resultados sugerem que, o processo central de
“transformação” é definido como, a tentativa de viver tão normalmente quanto
possível; aceitar que a vida já não é a mesma; perceber o que se tem de fazer e
aceitar que não se pode mudar/tem que se viver com as insatisfações. Este
processo é mediado pelos contextos familiares externos, incluindo relações
matrimoniais e redes de apoio, experiências de vida (incluindo experiências
positivas e negativas durante o tratamento) e experiências de doenças anteriores,
bem como, contextos internos (estratégias de sobrevivência, visões e atitudes
pessoais).
Por tudo isto, pressupõe-se que o diagnóstico de doença oncológica é um
acontecimento de vida, que exige uma adaptação, quer do doente, quer da família.

III.2.2. Adaptação parental: a percepção de saúde como variável de resultado


Experiências clínicas têm mostrado que a dinâmica familiar é afectada após o
diagnóstico de uma criança com cancro. Alguns estudos mostram famílias que
ainda não tinham considerado o número de filhos completo, sendo que o
aparecimento de uma doença crónica em um dos filhos fez com que todo
planeamento fosse revisto.
Rutter (1989 citado por Pires, 1990) diz que o desenvolvimento equilibrado da
criança com cancro depende, em muito, do comportamento parental, ou seja, das
estratégias de coping e das respostas que os pais dão às necessidades particulares
e específicas dos filhos.
Hoekstra-Weebers et al (2000) apontam algumas variáveis que estão
associadas ao comportamento parental, nomeadamente, variáveis demográficas,
relacionadas com a doença e co-ocorrência de acontecimentos de vida stressantes,
personalidade da criança e dos pais, estilos de coping, satisfação conjugal e suporte
social.
Wong (1999) refere que as estatísticas quanto aos índices de divórcio em
famílias de crianças com deficiência, doença crónica ou terminal são diferentes das
famílias sem esses eventos. Embora alguns estudos refiram índices de divórcio
semelhantes aos da população em geral, mostram também elevados níveis de

45
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

desavenças conjugais, prevalecendo entre os cônjuges sentimentos de impotência


e auto-estima diminuída, assim como necessidades não satisfeitas. Em relação aos
casamentos desfeitos, alguns dos factores que contribuem para a dissolução
incluem, abstenção de relações sexuais, dificuldades financeiras e discrepâncias
quanto às expectativas em relação ao filho excepcional.
Gomes et al (2004) estudaram o comportamento parental na situação de
cancro infantil. Analisaram dezassete entrevistas semi-estruturadas, com base no
método Grounded Theory. Verificaram que desde o aparecimento dos primeiros
sintomas até à fase da recaída, passando pela participação do diagnóstico,
internamento e tratamentos, a principal preocupação que estes pais experimentam
é a de ocultar aspectos relacionados com a doença, nomeadamente, a confirmação
do diagnóstico, o choque do mesmo, a palavra pesada, o sofrimento, a gravidade da
doença, a dor, os efeitos secundários e a possibilidade de morte. Estes pais
desenvolvem, assim, estratégias, tais como: não proferir a palavra, mentir,
brincarem com a situação, não chorar, igualização do comportamento, não pensar,
sofrer à vez, entre outras; o que lhes permite ocultar ao mesmo tempo que
procuram adaptar-se e adaptar os seus filhos doentes da forma mais adequada
possível. Desta forma, consideram que se a criança não tomar conhecimento sobre
os aspectos da sua doença, a adaptação será bem conseguida.
Relatórios publicados nas últimas décadas apresentam resultados
contraditórios acerca do distress psicológico e mecanismos de coping dos pais de
crianças com cancro, apesar de um cada vez maior número de estudos (Yeh, 2002).
Yeh (2002) investigou as diferenças entre sexos do distress parental
vivenciado por pais e mães de Taiwan (164 casais) cujas crianças estavam a
efectuar tratamentos ao cancro. Relativamente a todas as formas de distress, as
mães apresentaram médias significativamente mais elevadas do que os pais. Pais e
mães, cujas crianças haviam sido diagnosticadas com cancro nos dois meses
anteriores, apresentaram níveis mais elevados de depressão, ansiedade e stress
global, do que pais de outros grupos. Tanto pais como mães de crianças
diagnosticadas com cancro nos dois últimos meses, apresentaram uma maior
insatisfação conjugal, do que os pais de crianças de outros grupos de tratamento.
Como parte de um estudo nacional da Nova Zelândia, foi avaliada a saúde
mental das mães e pais de crianças com cancro, comparando com pais de crianças
da população em geral, com idade compreendidas entre os 0-14 anos. Os pais de
ambos os grupos preencheram questionários contendo o General Health

46
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Questionnaire (GHQ-12) e outras medidas. A análise incluiu 218 mães e 179 pais
de crianças com cancro e 266 mães e 224 pais de crianças no grupo de
comparação. Os resultados demonstraram que:
1. Mães e pais de crianças com cancro tinham um GHQ-12 e rating de
humor mais baixos do que os do grupo de controlo.
2. Alguns subgrupos do grupo de pais de crianças com cancro tiveram
resultados de saúde emocional mais baixos do que outros, incluindo os que tinham
pior apoio social e desempregados e também os que estão de luto.
3. Foram encontradas diferenças, estatisticamente significativas, mas
pequenas, entre a saúde mental de pais de crianças com cancro e do grupo de
controlo. As pequenas diferenças sugerem que, como grupo, os pais de crianças
com cancro são relativamente resilientes (Dockerty et al, 2000).
Streisand et al (2003) avaliaram em 116 pais de crianças tratadas para o
cancro, a associação entre stress pediátrico parental (i.e. stress parental
relacionado com o cuidar de crianças doentes) e resultados do funcionamento
familiar. Os resultados indicaram que o stress pediátrico parental medido pela
Pediatric Inventory for Parents (PIP), estava significativamente correlacionado com
o funcionamento familiar usando a McMaster Family Assessment Device (FAD).
Após o controlo do estado de tratamento da criança (em tratamento vs fora de
tratamento) emergiram diversas associações independentes entre os resultados da
PIP e da FAD, indicando que um aumento no stress pediátrico parental está
associado a resultados do funcionamento familiar mais baixo.
Trask et al (2003), investigaram a relação entre o ajustamento parental e dos
adolescentes e o coping e a sua relação com o apoio social e o funcionamento
familiar, numa amostra de adolescentes (11-18 anos) com cancro e um dos seus
progenitores. Pais e adolescentes completaram medidas de distress, coping, apoio
social e adaptabilidade/coesão familiar. Os resultados evidenciam: baixos níveis de
distress tanto nas crianças, como nos pais, sendo de notar a existência de
correlações positivas entre o ajustamento parental e das crianças; os adolescentes
consideraram que os seus pais e um amigo chegado eram as maiores fontes de
apoio social e descreveram as suas famílias como tendo um elevado nível de
coesão e adaptabilidade; tanto os adolescentes como os seus pais, usaram mais
estratégias de coping adaptativas, do que não adaptativas, apesar do distress ser
associado ao uso reduzido de técnicas adaptativas de coping. Podemos então
concluir que os adolescentes são capazes de se adaptar ao cancro em contextos

47
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

familiares fortes e de apoio social. Adicionalmente, existe uma relação entre o


ajustamento parental e dos adolescentes e, entre um maior uso de estilos de coping
adaptativos e menor distress.
O tempo que antecede o diagnóstico é muito importante para os pais e pode
afectar a sua adaptação e reacção ao diagnóstico do filho. Os pais foram
inicialmente alertados para a doença dos seus filhos, por um conjunto de sinais e
sintomas e por alterações comportamentais efectivas. Estes sintomas iniciais eram
frequentemente vagos, não específicos e comuns, e algumas crianças mais velhas
mostram relutância em revelar os sintomas (Woods et al, 2001).
Num estudo efectuado, os relatórios de famílias deste período de pré-
diagnóstico mencionavam a disputa com os médicos. Desacordos entre pais e
médicos acerca da seriedade dos sintomas do seu filho e a necessidade de
investigação ocorreram ao nível dos cuidados primários e secundários. Alguns pais
sentiram que os médicos negligenciavam o conhecimento especial que tinham dos
seus filhos (Woods et al, 2001).
Os relatórios dos pais contêm visões valiosas sobre as suas experiências na
obtenção de um diagnóstico de cancro infantil e sobre as possíveis fontes de
atrasos neste processo complexo (Woods et al, 2001).
Investigações sobre o impacto do cancro na infância demonstram que o
impacto psicossocial é uma parte importante do serviço a prestar aos pacientes e
suas famílias. Pais e crianças vivenciam um conjunto grande de emoções durante a
doença. A incerteza é uma causa chave da ansiedade e o distress pode persistir,
nos pais e nas crianças, muito depois do tratamento acabar. As famílias enfrentam
muitas mudanças no seu dia-a-dia do ponto de vista prático, social e emocional
(Clarke et al, 2005).
Patistea (2004) explorou como os pais perceberam a leucemia do seu filho e
as técnicas de coping utilizadas. 41 mães e 30 pais recrutados do maior pediátrico
Helénico responderam a uma questionário fechado e a perguntas abertas e
completaram o Coping Health Inventory for Parents ( CHIP). A maioria dos
participantes perceberam a doença da criança como uma situação séria e
ameaçadora. As estratégias cujos objectivos eram manter a força da família e uma
visão optimista, foram classificadas como sendo as que mais ajudaram. Usando
critérios específicos tornou-se evidente que, globalmente, os sujeitos lidaram bem
com a situação. Nas variáveis examinadas não foram encontradas diferenças, nem
entre sexos, nem entre pais e mães

48
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Foi investigada a diferença entre sexos e o nível de bem-estar entre 26 pais


Islandeses de crianças com menos de 18 anos, com cancro, e foram comparadas
as exigências de cuidados aos filhos, entre pais e mães. Contrariamente ao
esperado, globalmente, não haviam diferenças significativas no bem-estar ou nas
exigências de cuidados, entre pais e mães. Por outro lado, o nível de bem-estar era
significativamente diferente entre os pais: 56% das mães demonstraram ter sinais
clínicos de stress, comparado com 26,3% dos pais. Estes resultados enfatizam o
impacto da doença oncológica infantil, no bem-estar e cuidados prestados pelos
pais (Svavarsdottir, 2004).
Patterson et al (2004) realizaram um estudo qualitativo com 7 grupos de 45
pais de crianças que saíram de tratamentos de cancro há um ou mais anos,
relatando os aspectos do diagnóstico, tratamento e período de recuperação de
cancro infantil, que os pais perceberam como particularmente difíceis para a família
e os recursos e mecanismos de coping que os pais perceberam como úteis para a
família, para lidar com esta experiência.
Dado que o cancro infantil afecta toda a família, é necessário insight sobre as
consequências tardias para os pais e sobre as suas estratégias de coping. Os pais
de crianças sobreviventes ao cancro foram entrevistados acerca das consequências
tardias da doença. Os resultados indicaram que os pais experimentaram mudanças
a longo prazo e definitivas, como consequência do cancro do seu filho. Apesar da
sobrevivência da criança, o sentimento de perda e os problemas mantiveram-se.
Foram identificadas estratégias características, para lidar com as sequelas tardias,
nomeadamente: a adopção pelos pais de uma perspectiva de vida ou de morte,
sobre o resultado final da doença; a extensão das formas como expressam as suas
emoções; o uso de planeamento familiar e comportamento parental. As estratégias
de coping utilizadas produziram efeitos não apenas no indivíduo, mas também nos
outros membros da família. Os pais que usaram estratégias não extremadas
aparentaram funcionar bem (Melman et al, 1998).
Nos casos de cancro infantil, as ameaças pessoais são graves tanto para a
criança como para os pais e outros membros da família. Para as crianças existe a
ameaça de integridade física, de segurança e, acima de tudo, à vida. Para os pais
existe a ameaça de perda da criança. Todavia, um número de estudos demonstrou
que raramente são encontradas perturbações psicopatológicas, em crianças com
cancro ou nos seus pais.

49
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Podemos concluir que maioria das crianças e seus pais usam estratégias de
coping que os protegem do desenvolvimento de psicopatologias. Na organização do
apoio a famílias de crianças com cancro, muito se pode aprender das reacções e
percepções das crianças e seus pais, quando surgem problemas de ajustamento. É
necessária uma análise meticulosa de como as crianças e os pais percebem esta
situação, assim como uma análise extensa dos seus esforços de coping, para
direccionar de forma eficiente as acções de suporte (Last & Grotenhuis 1998).
Os resultados de um estudo efectuado por Streisand et al (2003), sugerem
que, o stress pediátrico parental e o funcionamento familiar são constructos
importantes a avaliar, quando se trabalha com crianças que estão em tratamento
oncológico, e que se poderão justificar intervenções baseadas na família visando as
necessidades desta população.
A investigação em ciência fenomenológica humana, pode aprofundar o
conhecimento do significado de ser uma família com uma criança com cancro e
pode ajudar os profissionais de saúde de pediatria oncológica a tornar-se cada vez
mais atenciosos e, desta forma, melhor preparados para agir no sentido de diminuir
o caos que ocorre na família (Bjork, 2005).

III.2.3. O impacto na fratria


Os irmãos das crianças com doença oncológica também parecem encontrar-
se sob um risco maior de problemas, talvez porque os pais os negligenciam ou
porque desenvolvem expectativas irrealistas em relação aos filhos saudáveis
(Marinheiro, 2002).
Normalmente, os irmãos ficam ao cuidado de outras pessoas, percebendo
desta forma a situação confusa. Ficam por vezes com sentimentos de culpa pela
doença do irmão e atribuem a causa a alguma briga entre ambos. Outras vezes
sentem-se simplesmente culpados por estarem saudáveis.
Normalmente, ficam à margem da doença, motivo pelo qual também
desenvolvem ideias de ciúme típicas e alterações de comportamento, fraco
aproveitamento escolar, enurese secundárias e patologias concretas, devido a falta
de atenção.
São comuns ansiedade, ressentimento, culpa e medos despropositados
acerca do bem-estar, da causa e da natureza do problema de saúde do irmão
doente. Podem também desenvolver sentimentos de solidão, comportamentos de

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

regressão do desenvolvimento ou ainda alterações sérias de disciplina (Marinheiro,


2002).
Foram avaliados 25 irmãos em idade pré-escolar e famílias de crianças com
cancro e 25 irmãos em idade pré-escolar e famílias de crianças saudáveis, usando
medidas standard de ajustamento das crianças e coesão e adaptabilidade familiar.
Foram também medidos o comportamento pró-social e a percepção das
semelhanças/diferenças entre irmãos. O comportamento, as competências sociais e
auto-percepção dos irmãos no grupo oncológico foram consistentes e não diferiram
significativamente do grupo de controlo. Os resultados de alguns comportamentos
pró-sociais foram mais elevados. O grupo oncológico teve mais níveis extremos de
adaptabilidade e as mães descreveram com mais frequência os irmãos como “
parecidos”. Houve uma correlação negativa entre problemas comportamentais e a
adaptabilidade e coesão no grupo oncológico. Os resultados sublinharam potenciais
competências dos irmãos das crianças com cancro e formas como as famílias de
crianças com cancro se adaptam às exigências da doença e ao tratamento (Horwitz
& Kazak, 1990).

III.2.4. Modelos de adaptação familiar


Na abordagem da família há dois factores permanentemente implícitos: o
tempo e a mudança (Relvas, 2000). Quando é feito o diagnóstico de uma doença
crónica ou incapacidade, a família evolui através de uma sequência muito previsível
de estádios, mas nem todas as famílias sofrem este processo, sendo o tempo
necessário para cada membro da família progredir nesses estádios, muito variável
(Marinheiro, 2002).
O Modelo Circumplexo desenvolvido por Olson e colaboradores (1985) na
análise do comportamento de famílias integra dois conceitos: a coesão e a
adaptabilidade. A coesão familiar define-se pelas ligações afectivas existentes entre
os vários elementos da família e a adaptabilidade familiar, pela mudança que o
sistema opera na liderança, nos papéis e regras, em resposta a situações de stress
ou crise familiar.
Estudos empíricos colocam estas dimensões numa relação curvilinear com o
funcionamento saudável da família (valores extremos são mais esperados em
famílias disfuncionais, enquanto os valores médios serão indicadores de famílias
saudáveis).

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Figura 1 Modelo Circumplexo adaptado de Olson e colaboradores (1985)


Modelo Circumplexo adaptado de Olson e colaboradores (1985)

O papel desempenhado pela família na saúde e na doença de um indivíduo é


fundamental. Neste processo, cada família encontra o seu estilo próprio de
comunicação, as suas regras, as suas crenças, bem como a forma de manter a sua
estabilidade (Enelow et col., 1999).
Estes autores descreveram o processo de adaptação familiar à doença como
a Trajectória da Doença (cf. Quadro 1).
A Teoria de Stress Familiar (McCubbin & Petterson, 1982;1983 citado por
Pereira & Lopes, 2005) descreve a adaptação das famílias confrontadas com
diferentes stressores. Os stressores familiares são entendidos como eventos da
vida que afectam um dos membros da família, o que resulta em mudanças do
sistema familiar. Estas mudanças podem manifestar-se nas diversas áreas da
dinâmica familiar, ao nível das interacções, dos objectivos, papéis, regras e
fronteiras.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quadro 1 Trajectória da doença (Enelow et col. 1999)


Trajectória da doença (Enelow et col., 1999)
Fase Tarefas-chave Comportamentos Comportamentos
familiares familiares
positivos problemáticos
Início da Reconhecimento dos Discussão aberta. Negação das
doença limites (impostos pela Ofertas de apoio. alterações.
doença). Vontade de Culpabilização do
aceitar os cuidados. doente.
Impacte da Aceitação do Discussão aberta. Desestabilização da
doença diagnóstico, adaptação Partilha de tarefas. homeostasia familiar.
às capacidades físicas, Apoio na autonomia Comportamentos
planeamento do restante. abusivos.
tratamento.
Início da Reorganização das Partilha de Recusa dos filhos
terapia responsabilidades, responsabilidades. (especialmente se a
lidar com as Planeamento doente for mãe de uma
implicações financeiras realista do futuro. criança)
e outras.
Recuperação Reintegração na Flexibilidade das Reacções tardias em
precoce família e na sociedade. expectativas. Novos particular quando a
papéis no interior da doença é súbita e
família. traumática. Desejo de
ganhos secundários.
Adaptação à Redefinição da auto- Aceitação dos Má vontade em aceitar
permanência estima e significado. pacientes como ou adaptar-se às
do desfecho eles são. exigências da situação.

Cárter e McGoldrick (1995) consideram a ansiedade gerada pelo stress na


família como um sistema de fluxos: um vertical, que inclui os padrões de
relacionamento e funcionamento transmitidos para as gerações seguintes, através
do mecanismo de triangulação emocional e outro horizontal, que inclui a ansiedade
produzida pelo stress desenvolvimental da família, tanto previsíveis como
imprevisíveis, conforme ela avança no tempo, lidando com as mudanças e
transições do seu ciclo vital. Quanto maior a ansiedade gerada na família em
qualquer ponto de transição, mais difícil ou disfuncional será a transição.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

O meta-modelo de Adaptação Familiar à Doença Crónica proposto por


Bradford (1997) surgiu a partir da experiência clínica do autor, com as famílias de
crianças com doença crónica e da sua constatação sobre a falta de articulação,
entre o conhecimento gerado pelas pesquisas e a sua aplicabilidade prática. O foco
de interesse do autor é a compreensão dos fenómenos envolvidos nas condições
potencialmente incapacitantes, sejam elas físicas ou mentais. Dessa forma, os
aspectos psicossociais de uma determinada condição não são separados da sua
dimensão biológica.
Este modelo preocupa-se em investigar tanto as peculiaridades de uma
doença, quanto as similaridades com outras condições, não desprezando os
processos de desenvolvimento individuais e os do ciclo de vida da família. Este
autor critica o uso indiscriminado e superficial dos conceitos utilizados em áreas
mais amplas do conhecimento (saúde mental, desenvolvimento, personalidade),
como por exemplo, stress, coping, adaptação, etc., sem a devida articulação com os
processos familiares e o contexto de saúde.
Bradford (1997) integrando conceitos da teoria sistémica e das teorias
cognitivas, desenvolveu um meta-modelo de adaptação familiar às doenças
crónicas. Propõe assim, um modelo ancorado em quatro factores que foram
identificados nas suas pesquisas no âmbito da Psicologia da Saúde, que são:
modos de funcionamento familiar, padrões de comunicação intra e extra-familiar,
qualidade dos sistemas de saúde e crenças sobre a saúde. Ressaltou ainda, a
importância de se investigar as características individuais das crianças, os desafios
impostos pela doença, as estratégias de coping e a rede de apoio social.
Conforme menciona o autor, não se pode afirmar que a presença de uma
doença, representa um acontecimento inquestionavelmente adverso para a família.
Perante esta situação, a família é confrontada com stressores que podem levar, ou
não, ao desenvolvimento de stress ou depressão, se não forem adequadamente
conduzidos.
Enfim, a presença de uma doença em qualquer membro da família exige uma
reorganização familiar, afectando cada um dos seus componentes de diferentes
formas, ao longo do ciclo vital.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO IV. Qualidade de vida e doença


oncológica

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO IV. QUALIDADE DE VIDA E DOENÇA ONCOLÓGICA

“Todos querem viver felizes, mas não têm capacidade de ver


perfeitamente o que torna a vida feliz. Realmente não é fácil atingir
a felicidade, porque, se alguém desviado do recto caminho se
precipita para alcançá-la, fica sempre mais afastado (dela).
Correndo no sentido contrário, a nossa própria pressa torna-se a
causa de um contínuo distanciamento”
(Séneca, 2001, pp. 1)

IV.1. Definição de qualidade de vida


A revisão bibliográfica revelou que a Qualidade de Vida (QDV) é um aspecto
cada vez mais importante, mas que ainda não está claro. Estamos na presença de
um constructo novo que tem ganho importância nos últimos 10/20 anos (Ribeiro in
Dias, 2002).
A qualidade de vida é um conceito da linguagem do quotidiano com uma
história relativamente curta no campo da saúde (Ribeiro, 2004).
O conceito é complexo e Bowling (1995 citado por Ribeiro, 2005a) classifica-
a como sendo um conceito amorfo que tem um uso multidisciplinar (geografia,
literatura, filosofia, economia da saúde, direito, promoção da saúde e ciências
médicas e sociais) e como um conceito vago que incorpora, multidimensional e
teoricamente, todos os aspectos da vida de um indivíduo.
A qualidade de vida é reconhecida como uma entidade vaga e volátil, etérea,
algo de que muita gente fala, mas há cerca do que ninguém sabe muito claramente
o que fazer (Ribeiro, 2004).
Neste estudo, o autor propõe algumas definições diferentes:
• A qualidade de vida é um estado de completo bem-estar físico, mental e
social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.
• A qualidade de vida é a percepção subjectiva de satisfação ou felicidade com
a vida, em domínios importantes para o indivíduo.
• A qualidade de vida é o sentido de bem-estar de uma pessoa que é causado
por satisfação ou insatisfação, com as áreas de vida que são importantes
para ele ou ela.
• A qualidade de vida é a diferença entre as expectativas de uma pessoa e a
realidade da experiência.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

• A qualidade de vida é a percepção que um indivíduo tem da sua situação na


vida, no contexto cultural e sistema de valores em que se vive e em relação
aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações.
As inúmeras definições para qualidade de vida reflectem a juventude e
imaturidade deste conceito. Contribuindo para a falta de clareza e dificuldade na
definição, está o facto de, em muitas publicações científicas publicadas, este
conceito ser utilizado amplamente, sem que, contudo, seja definido (Rapley, 2003).
A qualidade de vida é a percepção do indivíduo da sua posição na vida, no
contexto da cultura e sistemas de valores nos quais se insere e em relação com os
seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações. É um amplo conceito de
classificação, afectado de um modo complexo pela saúde física do indivíduo, estado
psicológico, relações sociais, nível de independência e pelas suas relações com as
características mais relevantes do seu meio ambiente (WHOQOL Group, 1993).
As definições anteriormente mencionadas, incluem conceitos tais como, bem-
estar, satisfação, felicidade, expectativa ou funcionalidade. Pode-se encontrar todos
estes conceitos nas técnicas usadas para avaliar a qualidade de vida. Não há uma
única definição de qualidade de vida, apropriada quer para a pesquisa, quer para a
prática, que se tenha tornado norma padrão (Ribeiro, 2004).
Segundo Ribeiro (1994), o paradigma da qualidade de vida, tal como é
percebido pela Psicologia, possui um conjunto de características operacionais que o
tornam substancialmente diferente das variáveis tradicionalmente consideradas no
sistema de cuidados de saúde. Entre essas características, destaca-se o facto de
ser um conceito multidimensional, como anteriormente referido, de variar no tempo,
de ser uma medida de percepção pessoal e, logo, subjectiva (que a linguagem
médica tende a denominar soft em oposição às medidas hard).
A qualidade de vida envolve os factores relacionados com a saúde, tais como
o bem-estar físico, funcional, emocional e mental mas também, elementos não
relacionados, como emprego, família, amigos e outras circunstâncias da vida, ou
seja, admite-se que existem muitas influências de factores sociais, económicos e
ambientais que, não sendo modificados pelos cuidados de saúde ou estado de
saúde do indivíduo podem influenciar esse mesmo estado de saúde.
Segundo Schiper et al (citado por Ribeiro, 2004) existem algumas
características operacionais de qualidade de vida: a multifactoralidade, auto-
administração, variável tempo e subjectividade.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

A multifactoralidade significa que o parâmetro da qualidade de vida inclui


mais do que um único domínio ou aspecto. A qualidade de vida representa um largo
espectro de experiências humanas, relacionadas com o bem-estar geral de cada um
e é influenciada pela percepção que temos de várias dimensões pessoais como a
física, psicológica, social, económica e ambiente político.
A auto-administração significa que a pessoa, cuja qualidade de vida se está a
tentar avaliar, é a que a conhece melhor. Os médicos e enfermeiros tendem a
concentrar-se em medidas fisiológicas. Os psicólogos, assistentes sociais e a
família tendem a concentrar-se em medidas psicológicas. As taxas de qualidade de
vida apresentadas por clínicos, enfermeiros, pessoas que prestam cuidados e
outros, são muitas vezes divergentes e mostram estatísticas fracamente
correlacionadas. Portanto, o juízo dos próprios pacientes é assumido como sendo a
melhor avaliação de qualidade de vida.
A variável tempo significa que a qualidade de vida pode mudar ao longo do
tempo. Devido à sua natureza flutuante, o seguimento meticuloso e atenção cuidada
ao timing da avaliação durante o tratamento torna-se importante.
Subjectiva quer dizer que a avaliação da qualidade de vida deve ser baseada
no pressuposto que, o observador final, é o paciente, e que a qualidade de vida é
baseada nas suas percepções. A qualidade de vida implica valores, baseados no
funcionamento subjectivo em comparação com as expectativas pessoais e é
definida por estados de experiências e percepções. Pela sua própria natureza é
idiossincrática ao indivíduo. Uma das características é a incorporação de valores e
juízos de acordo com as preferências do indivíduo.
Face ao aumento de pessoas com doença crónica e ao desenvolvimento de
novos tratamentos e tecnologias que permitem (con)viver com estas doenças por
períodos de tempo extremamente longos e face ao reconhecimento dos direitos do
doente, em particular em relação ao consentimento informado e à sua liberdade de
escolha, afirma-se como premente a necessidade de distinguir a qualidade de vida
das pessoas em geral, da qualidade de vida das pessoas com doença ( Ribeiro,
1994).
Para alguns investigadores a saúde e qualidade de vida são a mesma coisa,
para outros não.
O conceito ou ideia de saúde varia de um extremo ao outro, da felicidade à
morte (Ribeiro, 2004).

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como um estado de


bem-estar físico, social e mental e não meramente a ausência de doença ou
enfermidade, explicando que a saúde é uma fonte para a vida no dia-a-dia, não a
razão de viver. É um conceito positivo, realçando as fontes sociais e pessoais assim
como as capacidades físicas, dizendo que a saúde é uma fonte básica para uma
vida boa ou uma boa qualidade de vida (Ribeiro, 2004).
O conceito de qualidade de vida é muito mais abrangente do que o estado de
saúde, envolvendo vários factores encarados como externos à prática dos cuidados.
A definição de qualidade de vida foi tão longe, que perdeu algum sentido de
utilidade para a medição do estado de saúde e necessidades em saúde.
Por o conceito de saúde ou qualidade de vida também depender do nível de
informação, ambiente pobre, falta de liberdade, e por estes aspectos não serem
importantes com contextos clínicos ou a avaliação da progressão da doença,
adopta-se, então, um conceito mais apertado designado por qualidade de vida
relacionada com saúde (QDVRS) que focará primeiramente os aspectos médicos
(Ribeiro, 2004).
Rapley (2003) define a qualidade de vida relacionada com a saúde, como
sendo aspectos da experiência subjectiva relacionada directa ou indirectamente
com a saúde, doenças, incapacidade e limitação, isto é, como o fosso entre as
expectativas de saúde e a experiência pessoal dela.
Ribeiro (2004) define a qualidade de vida relacionada com a saúde, como
sendo o conhecimento subjectivo do impacto da doença e do tratamento através
dos domínios físico, psicológico, social e somático de funcionamento e bem-estar. É
um reforço ou suplemento bem-vindo para as medidas tradicionais psicológicas ou
biológicas, porque apresenta e caracteriza o que o paciente viveu como resultado
do tratamento.
A qualidade de vida das pessoas em geral, estejam ou não doentes,
caracteriza-se por abranger todos os domínios de vida das pessoas, enquanto que
a qualidade de vida relacionada com a saúde se refere particularmente à qualidade
de vida das pessoas que, por qualquer razão, estão ligadas ao sistema de cuidados
de saúde, sendo o seu elemento central a saúde (Ribeiro et al, 1998).
Qualidade de vida relacionada com a saúde é um termo não especifico,
muitas vezes usado com sinónimo de estado de saúde e menos abrangente que o
conceito de qualidade de vida em geral, não incorporando impactos da alimentação,

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

habitação, padrões de viva, segurança, factores ambientais, físicos e sociais e


outros.
No contexto da saúde, o estado de saúde tem sido cada vez mais
referenciado como qualidade de vida e na sua operacionalização, crescentemente
referido como qualidade de vida relacionada com a saúde.
A maioria das conceptualizações da QDVRS incluem dimensões do
funcionamento físico, social, funções de desempenho, saúde mental e percepções
sobre saúde geral com importantes conceitos, tais como, vitalidade (energia
/fadiga), dor e funcionamento cognitivo, enquadrados por debaixo destas categorias
maiores e poucas são as que incorporam dados clínicos (medidas das funções
biológica e fisiológica, categorias de diagnóstico e sintomas auto referenciados).
O valor atribuído à duração da vida enquanto modificado por deficiências,
estados funcionais, percepções e oportunidades sociais, que são influenciadas pela
doença, lesão, tratamento ou políticas (Patrick & Erickson, 1993).
A QDVRS tenta abarcar o espírito da definição de saúde da Organização
Mundial de Saúde pela incorporação, quer do estado de saúde pessoal quer do
bem-estar social, na avaliação da saúde dos indivíduos e das populações (Guyatt et
al, 1993).
Por tudo isto, a avaliação da qualidade de vida relacionada com a saúde, visa
perceber de que forma os diferentes domínios são influenciados pelas
características da doença que afecta a pessoa e pelo tratamento desta. Neste caso,
a qualidade de vida está dependente da doença, nomeadamente das
representações dessa doença, que incluem as crenças sobre as causas e
consequências, os preconceitos, os juízos sobre os juízos que os outros fazem
sobre a doença, da auto-apreciação que a pessoa faz do eu doente, das emoções
desencadeadas, dos sintomas existentes ou supostos, e dos tratamentos (Ribeiro,
in Dias, 2002).

IV.2. Tipo de medidas


Existem, já hoje, uma variedade de instrumentos quantitativos que
operacionalizam e tentam medir aspectos da qualidade de vida, que se consideram
pertinentes no estado de saúde (Bowling, 1994 citado por Ribeiro, 2005a).
A multidimensionalidade da medição da qualidade de vida relacionada com a
saúde, considera vários domínios e vários traços. O número de domínios devia ser

60
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

determinado empiricamente e/ou teoricamente e depende da natureza da avaliação


da QDVRS, estejamos ou não, a usar instrumentos gerais de qualidade de vida ou
específicos da doença (Ribeiro, 2004).
Associado às medidas da QDVRS tem-se assistido, também, ao
desenvolvimento das chamadas medições de utilidade da qualidade de vida.
Envolvem o assinalar de valores aos estados de saúde, para criar níveis de
qualidade de vida relacionada com a saúde (Guyatt et al, 1993).
As medições de preferência ou utilidade fornecem os meios para, integrar os
valores atribuídos ao preço da vida, em determinados pontos do tempo, (estados de
saúde) com a quantidade de vida (semanas, meses, anos) gasta nos vários
estados.
Os investigadores utilizam as medidas da qualidade de vida para avaliar
resultados diferentes. Dois desses resultados são a QALY e Q-TWIST.
A combinação das duas componentes, qualidade e quantidade é,
normalmente, designada como anos de vida (ganhos) ajustados por qualidade
(QALY).
A QALY, acrónimo de qualidade de vida anual ajustada, foi proposta como
uma medida de resultado padrão para cálculo da eficácia da análise, mas também
para exprimir os benefícios dos cuidados médicos, intervenção comportamental, ou
programas de prevenção em termos de bons anos (Ribeiro, 2004).
Q-TWIST é o tempo anacrónico sem sintomas de tratamento. Foi
desenvolvido na área da oncologia e é uma cruel fórmula de benefício que se paga
caro, em vez de indicador de qualidade de vida. O objectivo é determinar a
quantidade de tempo útil, que a terapia adjuvante acrescenta a não fazer nenhum
tratamento. O tempo de sobrevivência no total é dividido entre tempo com o
experimentar de toxicidade tempo sem sintomas e toxicidade, e tempo após
reincidência sistémica. Ele representa a maior tentativa de incluir os assuntos da
qualidade de vida, no processo de tomada de decisão, nas expectativas médicas
(Ribeiro, 2004).
De acordo com uma classificação descritiva, isto é, focalizada no âmbito das
medidas, estas podem ser definidas como sendo genéricas do estado de saúde, ou
de uma condição específica (McDowel & Newell, 1996).

61
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

IV.2.1. Os instrumentos genéricos


São medidas multidimensionais, que incorporam as componentes física,
psicológica e social da saúde num único instrumento (Wilkin, 1993). Foram
desenhadas para sumariar um largo espectro do quadro de conceitos de saúde e
qualidade de vida, que se aplicam a muitas e diversificadas doenças, deficiências,
condições, doentes e populações.
Foram desenvolvidas, de modo mais frequente, para a aplicação em estudos
epidemiológicos descritivos, na investigação das ciências sociais e no planeamento
de serviços e distribuição de recursos.
Conheceram uma crescente utilização na avaliação de serviços específicos,
na investigação clínica e mais recentemente, como auxiliares na monitorização de
doentes.
As medidas genéricas do estado de saúde são um complemento das
tradicionais medidas biológicas, centradas nos sistemas ou funções do corpo
humano, já que pretendem avaliar a pessoa como um todo, inserida no seu
ambiente (McDowel, 1996).

IV.2.2. Os instrumentos de condição específica


Podem ser medidas específicas: de doença aplicadas a problemas de saúde
ou doenças específicas (artrite, doença pulmonar obstrutiva crónica, outras); de um
domínio ou condição, desenhadas para avaliar um sintoma, condição (ex: dor,
dispneia), ou domínio específico (ex: função emocional, percepções da saúde
geral); para uma determinada população, endereçadas a grupos especiais,
usualmente definidas por idade, ou combinação de idade e condições médicas.
Os fundamentos para esta abordagem de medição prendem-se com o
potencial aumento da sensibilidade à mudança. Incluem-se apenas os aspectos da
QDVRS, que são relevantes para os indivíduos ou populações, que estão a ser
estudados.
Os instrumentos específicos da doença incluem itens que são sintomas da
doença ou efeitos colaterais do tratamento. Medidas que incluem efeitos colaterais
ou sintomas conduzem à questão de saber se estamos a avaliar a qualidade de vida
ou o que a determina (Ribeiro, 2004).

62
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

IV.3. A qualidade de vida em oncologia pediátrica


A Qualidade de vida é um conceito recente, tanto na sua utilização genérica,
como no domínio da saúde, das doenças em geral e da doença oncológica em
particular (Ribeiro in Dias, 2002).
O diagnóstico de cancro representa um evento de vida importante e
catastrófico para a maioria dos indivíduos, tendo um forte impacto na qualidade de
vida, mesmo para as pessoas que lidam bem com os eventos negativos da vida
(Pereira & Lopes, 2005).
“Existem muitas dezenas de cancros. Para cada tipo de cancro existem
múltiplos estádios de desenvolvimento e para cada um deles existem variados
protocolos de tratamento. Se se acrescentar a estas variáveis as idades típicas em
que tende a ocorrer cada tipo de cancro, constatamos a complexidade de qualquer
avaliação que se proponha identificar a qualidade de vida, ou identificar os
componentes da qualidade de vida no caso da doença oncológica” (Ribeiro in Dias,
2002, pp. 84).
Ogden (1999) sublinha que os indivíduos que sofreram de cancro relatam
consequências psicológicas com implicações na qualidade de vida.
Há aproximadamente 30 anos atrás, o cancro não era encarado como uma
doença crónica, mas sim como uma doença fatal. As crianças normalmente morriam
pouco tempo depois do diagnóstico. Por isto, as preocupações das equipas médicas
em lidar de uma forma terapêutica com a criança, com o seu potencial sofrimento e
qualidade de vida, quase não existia. Na altura, centravam-se quase
exclusivamente na preparação para a morte inevitável da criança (Araújo, 2004).
Com o passar dos anos e com os progressos da medicina verificou-se um
aumento no número de crianças que passaram a sobreviver à doença oncológica.
Desta forma, foi-se sentindo uma crescente necessidade de enfatizar as
expectativas num tratamento bem sucedido, de forma a conseguir a remissão da
doença por períodos mais longos.
Esta mudança teve um impacto fundamental nos cuidados que se
começaram a ter com as crianças com doença oncológica, assumindo o seu bem-
estar psicológico e emocional uma importância destacada. Neste seguimento,
verificou-se também uma crescente preocupação na área da qualidade de vida.

63
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

A literatura dos últimos 30 anos tem vindo a demonstrar que o diagnóstico e


tratamento do cancro podem ter efeitos negativos na qualidade de vida dos doentes,
com consequências adversas a nível psicológico, físico, cognitivo, interpessoal e
laboral.
As doenças crónicas em crianças devem ter em atenção aspectos
desenvolvimentais, tanto biológicos como psicológicos, para além das
características da doença que tende a manifestar-se de formas diferentes, tal como
tem sido estudado no âmbito da qualidade de vida de crianças com doenças
crónicas (Ribeiro et al, 1998).
Existem instrumentos de avaliação da qualidade de vida para todas as fases
de tratamento, excepto para a fase terminal (Hinds et al, 2006).
Ao nível da literatura constata-se um grande número de estudos actuais
sobre qualidade de vida relacionada com as doenças, e com o cancro em particular,
sendo que constituem cerca de um quarto de todos os estudos sobre qualidade de
vida.
Os resultados dos testes de qualidade de vida de crianças e adolescentes
são cada vez mais solicitados na avaliação e investigação clínicas, durante o
tratamento e na sobrevivência, usando vários métodos, mas não são solicitados
relativamente a pacientes em fase terminal (Hinds et al, 2006).
Ocorreram avanços significativos desde meados dos anos 90, na definição,
conceptualização e medição da qualidade de vida relacionada com a pediatria
oncológica (Hinds et al, 2006).
A avaliação da qualidade de vida das crianças é um desafio especial para
clínicos e investigadores dadas as diferentes capacidades cognitivas das crianças
nas diversas idades e a variedade de níveis da doença (Chang & Yeh, 2005).
Um dos principais problemas metodológicos, relacionado com o
desenvolvimento de medidas orientadas para a criança, é desenhar um
procedimento de avaliação que tenha em conta, o nível de desenvolvimento da
criança no momento do diagnóstico e o progresso do seu desenvolvimento durante
o tratamento e recuperação. Face aos diferentes níveis de competências, ao longo
da infância e adolescência, é difícil construir uma medida única de auto-relatório. As
crianças mais novas poderão ter dificuldade em perceber certos itens e em
discriminar diferentes estados emocionais. Formas alternativas da mesma medida,
direccionadas a diferentes grupos etários, poderão não ser directamente

64
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

comparáveis. O uso de relatórios dos pais, em alternativa aos relatórios das


crianças, ajuda a aliviar estes problemas (Goodwin et al, 1999).
Dois objectivos comuns e significativos de crianças e adolescentes com
cancro são, serem saudáveis e continuarem com a sua vida, objectivos que têm
implicações na sua qualidade de vida relacionada com a saúde e na sobrevivência
(Cantrell, 2007).
A consideração de questões relacionadas com a qualidade de vida, torna-se
particularmente pertinente dado que, com os avanços na ciência médica e
tecnológicos, começaram a emergir formas alternativas de tratamento para a
mesma doença. Consequentemente, os efeitos relativos de estratégias de
intervenção diferentes, na qualidade de vida de uma criança, tornam-se numa
questão de considerável significância pessoal e social (Goodwin et al, 1999).
A investigação tem sugerido que a percepção psicossocial de bem-estar,
influencia o funcionamento físico e o resultado dos tratamentos entre as crianças e
adolescentes com cancro e que, a vivência durante o tratamento e as respostas
individuais ao mesmo, têm influência na qualidade de vida relacionada com a saúde
(Cantrell, 2007).
Dado que os profissionais de saúde têm contactos frequentes com estas
crianças e adolescentes durante o tratamento, proporcionam-se múltiplas
oportunidades para facilitar o desenvolvimento psicossocial em curso e para
proporcionar um sentimento positivo de bem-estar, que tem implicações nos
resultados globais do tratamento e na qualidade de vida dos sobreviventes.
(Cantrell, 2007).
Têm sido realizados vários estudos no sentido de avaliar a QDVRS de pais e
crianças com doenças crónicas, em particular na doença oncológica infantil (Sung et
al, 2004).
Neste âmbito, Araújo (2004) tentou compreender o impacto da doença
oncológica no bem-estar psicológico das crianças e das suas mães, cujos
resultados caracterizam as crianças com doença oncológica com uma qualidade de
vida abaixo da média e um baixo auto conceito.
Eiser e colaboradores (2003, 2005a, 2005b) têm efectuado alguns estudos
em que comparam a qualidade de vida relatada pelos pais (essencialmente as
mães) com a mencionada pelas crianças. Constatando que os pais de crianças com
cancro têm a percepção que os seus filhos têm uma diminuição da qualidade de
vida.

65
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Chang e Yeh (2005) pretenderam examinar a concordância entre o auto


relatório da criança e o relatório proxy dos pais, para avaliar a qualidade de vida
numa amostra de pacientes da pediatria oncológica. Para tal, foram completados
141 testes de instrumentos previamente testados (Quality of Life for Children with
Cancer, QOLCC), pelos pacientes (82 crianças e 59 adolescentes) e 141 pelos seus
pais. Os resultados sugeriram que, quando as crianças mais novas não são
capazes de avaliar a sua qualidade de vida, devido às suas limitações
desenvolvimentais ou à severidade da doença, os pais podem providenciar
informação válida acerca da qualidade de vida dos filhos. No entanto, os relatórios
proxy de qualidade de vida para os adolescentes, fornecem informação
significativamente diferente dos auto-relatórios, pelo que, os dados proxy de
qualidade de vida dos adolescentes deverão ser usados com cautela.
Os profissionais de saúde, que trabalham directamente com estas crianças,
podem envolver relatórios dos pacientes, pais e outros técnicos de saúde, para
estimar a qualidade de vida dos pacientes da oncologia pediátrica, usando os
resultados para guiar os cuidados (Hinds et al, 2006).
As crianças a partir dos 5 anos são capazes de relatar a sua qualidade de
vida relacionada com o cancro (Hinds et al, 2006).
Shankar et al (2005) avaliaram a QDVRS de crianças entre os 8-12 anos a
efectuar tratamento para o cancro e de crianças sobreviventes ao cancro usando o
Minneapolis-Manchester Quality of Life-Youth Form (MMQL-YF), um instrumento
auto-administrado, compreensivo e multidimensional com reconhecida fiabilidade e
validade. Verificaram que, quando comparados com grupos de controlo saudáveis,
as crianças a efectuar tratamentos para o cancro obtiveram resultados de qualidade
de vida, funcionamento físico e perspectivas de vida mais baixos. Todavia,
sobreviventes fora da terapia obtiveram resultados de qualidade de vida superiores,
quando comparados com o grupo de controlo da mesma idade. As crianças
sobreviventes ao cancro obtêm resultados de QDVRS mais favoráveis, quando
comparados com o grupo de controlo. Estes resultados são reconfortantes,
sugerindo que este grupo de sobreviventes poderá ter sido demasiado jovem para
sentir alguns dos impactos psicossociais negativos, do cancro e do seu tratamento.
Eiser et al (2005b) estudaram as diferenças nos resultados de qualidade de
vida dependendo de quem responde (mãe ou criança), as implicações para as
medidas de qualidade de vida e interpretação dos resultados, utilizando o Pediatric
Quality of Life Inventory (PedsQL). Neste contexto, embora as correlações entre os

66
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

resultados das mães e dos sobreviventes se situassem geralmente entre moderado


e bom, as análises subsequentes demonstraram que as mães obtinham resultados
de qualidade de vida piores que os sobreviventes. Concluíram então que, tanto as
mães como os sobreviventes, classificaram a saúde física como sendo pior do que
a psicológica e os sobreviventes a tumores do sistema nervoso central tinham níveis
de qualidade de vida piores, do que doentes com leucemia linfoblástica. E ainda
que, apesar de os sobreviventes de leucemia linfoblástica terem uma saúde física
razoavelmente boa, a saúde psicossocial foi afectada de forma mais adversa.
Com os actuais tratamentos, aproximadamente 75% das crianças
diagnosticadas com cancro podem esperar alcançar a sobrevivência livre da
doença. Todavia, os tratamentos são complexos e agressivos, podendo
comprometer a qualidade de vida das crianças e dos seus progenitores. Apesar de
trabalhos anteriores terem demonstrado ansiedade e depressões acrescidas nos
pais após o diagnóstico, o recente desenvolvimento de medidas de qualidade de
vida standardizadas permite-nos olhar mais directamente para o impacto do
diagnóstico, na qualidade de vida das mães e das crianças (Eiser et al, 2005a).
Eiser et al (2005a) pretenderam descrever a qualidade de vida das crianças e
suas mães, comparando os resultados com as normas da população, explorar a
relação entre as preocupações maternas acerca da doença e a sua qualidade de
vida e ainda, determinar a relação entre os resultados dos testes de qualidade de
vida das mães e seus filhos. Deste estudo, concluíram que, tanto as crianças como
as suas mães vêm a sua qualidade de vida significativamente comprometida nos
meses seguintes ao diagnóstico. As mães classificaram a sua qualidade de vida
como baixa, também classificaram a qualidade de vida dos seus filhos como baixa.
Foi investigada a utilidade de uma Escala de Bem-Estar (QWB) numa
amostra de pacientes oncológicos pediátricos. Foi administrada esta escala aos pais
de 30 crianças, com idades entre os 4-18 anos, a serem tratados para o cancro. Os
resultados da performance dos pais e médicos, resultados de toxicidade,
informação sobre os tratamentos, valores de laboratório de rotina, foram também
recolhidos. Uma análise correlacional indicou que, os resultados desta escala,
estavam significativamente relacionados com os resultados de performance e que,
as crianças com mais cirurgias e hospitalizações, foram avaliadas como estando
mais incapacitadas na QWB. A idade da criança, toxicidade dos tratamentos até à
data e os valores de laboratório, não estavam significativamente relacionados com

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

as conclusões da escala. É discutida a potencial utilidade da QWB como


componente da avaliação da qualidade de vida (Bradlyn et al, 1993).
As fundações históricas da avaliação da qualidade de vida, incluindo as da
oncologia nos adultos, são revistas no contexto da actual necessidade de uma
medida de desenvolvimento para a investigação clínica pediátrica. Medidas de
qualidade de vida que possam ser aplicadas à avaliação da qualidade de vida de
crianças com cancro ou outras doenças crónicas, potencialmente mortais, são
urgentemente necessárias. O uso de escalas de qualidade de vida válidas facilitaria
a avaliação do estado dos pacientes ao longo do tempo, permitindo também a
comparação de resultados de pacientes com diferentes diagnósticos, histórico de
tratamentos e resultados das terapias. Os atributos de uma medida de qualidade de
vida eficaz baseada em experiência clínica, num contexto de oncologia pediátrica,
incluem simplicidade e brevidade, para além das propriedades psicométricas
convencionais (Mulhern et al, 1989).
Aaronson e Beckman (1987 citado por Goodwin et al, 1999) definiram 4
domínios da qualidade de vida, consistindo de: capacidade funcional (autonomia,
mobilidade, actividades físicas, capacidade de desempenhar papéis); sintomas
físicos relacionados com a doença e com o tratamento (dores e náuseas);
funcionamento psicológico (ansiedade, depressão) e funcionamento social.
A investigação sugere que se deve ter cautela quando as mães classificam a
qualidade de vida dos seus filhos. Os esforços para melhorar a qualidade de vida
das crianças devem continuar, especialmente no período imediatamente a seguir ao
diagnóstico (Eiser et al, 2005b).
Adicionalmente, as estratégias estatísticas que avaliaram a concordância
entre a auto-análise de qualidade de vida pelas crianças e a percepção dos pais da
qualidade de vida que os filhos pensam ter, foram inconclusivas (Chang & Yeh,
2005).
Contudo, uma medida que usa um progenitor como informador e que contém
itens aplicáveis tanto a crianças como adolescentes, poderá facilitar comparações
entre crianças de várias idades, relativamente a múltiplas medidas desenhadas para
relatórios de crianças idades diferentes (Goodwin et al, 1999).

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO V. A esperança

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO V. A ESPERANÇA

Ter esperança é…
Esperar. Pelos resultados dos testes e radiografias, pelas
consultas, pelas cirurgias,
esperar que o organismo sare e o espírito reanime.
É percorrer a linha entre tolerar constantes provas e invasões
e declarar: “ mais não, agora não.”
É saber que alguém está a fazer um esforço para ajudar, que
alguém luta ao nosso lado,
que a família nunca está longe de mais.
É saber que o sistema cuida,
que aquilo que acontece é o melhor da tecnologia e o melhor da
humanidade.
É ser atendido por pessoas que compreendem que cuidar marca
uma diferença,
uma incomensurável diferença.
É saber que não há segredos,
que a verdade pode proteger.
É tentar de novo. É saber que há outras saídas. Ir além do
tradicional.
É saber que se continuará a cuidar quando os limites da ciência
forem atingidos
porque no cuidado o “ já não vale a pena”, não existe.
É reconhecer as limitações nas situações,
ao mesmo tempo acreditando que as oportunidades também
existem.
É negar ser tratado como um número,
manter aberta a possibilidade de ser a excepção.
É querer a Vida e as suas mil pequenas coisas,
ter vontade de abraçar a Vida apesar dos riscos.
É acreditar que há lufadas positivas nas adversidade,
e que é possível saber apanhar com elas na cara e não estar de
costas.
É transformar os Bojadores em Cabos da Boa Esperança.
Ter Esperança é… esperar continuar a ter esperança”
(Leal & Magão, 2001)

V.1. Definição
A esperança, nos dicionários, aparece definida de uma forma fria. Devoto
(citado por Alberoni, 2002) define-a como sendo uma “ expectativa confiante, mais
ou menos justificada, de um acontecimento agradável ou favorável”.
Elpis, é a palavra grega para esperança, tem como base a esperança de
acontecimentos, tanto positivos como negativos, que irão ocorrer no futuro (Grün,
2004).
A esperança é uma atitude, uma emoção, um valor, uma virtude, ou como lhe
quisermos chamar, das mais positivas ou necessárias para o ser humano, que
ajuda a vencer a inércia e a superar as dificuldades (Oliveira, 2004).
“Esperança significa uma expectativa quanto ao futuro, mais ou menos
justificada, atendendo um comportamento agradável ou favorável. É uma atitude
optimista, ao menos do ponto de vista subjectivo. Na verdade, o optimismo é o

70
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

parente próximo da esperança, embora esta seja mais ampla e talvez com uma
conotação mais afectivo-motivacional, enquanto no optimismo prevalece a
dimensão cognitiva” (Oliveira, 2004, pp. 119).
Stotland (1969) define a esperança enquanto expectativa de atingir objectivos
no futuro e como uma força motivacional orientada para a acção relacionada com
um sentido de possível nesse futuro.
C.R. Snyder define a esperança como sendo um pensamento conduzido por
objectivos, em que o sujeito avalia a sua capacidade para produzir caminhos que o
levem a atingir determinadas metas a que se propõe e a competência para iniciar e
terminar esse processo. A esperança é um processo cognitivo que passa pelo
pensamento do indivíduo e das suas expectativas de que é possível atingir as
metas. A teoria da Esperança deste especialista é composta por dois elementos:
(agency) a agência ou motivação, isto é, o sentimento de acção para os objectivos
(“Tenho que acreditar que”) e (pathways) os caminhos ou patamares para atingir o
propósito (Snyder, 1994; Snyder, 2000). Para este autor, a esperança é ainda
definida como uma energia cognitiva e percursos para os objectivos.
Na esperança, há uma crença, um acreditar na capacidade de acção pessoal
e uma capacidade de planeamento, isto é, escolher os "caminhos" para chegar
onde se quer – é a interacção entre a expectativa de eficácia positiva e a
expectativa de resultados (Perloiro et al, 2001).
Snyder et al (1991) definem a esperança como uma percepção global de que
é possível atingir metas. Não basta ter esperança. É preciso pensar em estratégias
que nos levem a atingir metas.
Como aspiração do que é realizável – não é um mero desejo – a esperança
implica necessariamente o empenho total do indivíduo. Intercala-se com a auto-
confiança e a auto-estima, os sentimentos de auto-eficácia e o pensamento
alternativo. A esperança tem muito a ver com o acreditar que se é capaz, que se
tem controlo sobre os acontecimentos da vida, com a capacidade de resistir perante
as dificuldades (a resiliência), de resolver problemas e encontrar caminhos
alternativos para atingir as metas.
A esperança é estudada em relação a outras dimensões como a religião
(Snyder & Lopez, 2002). A Teologia refere que a fé, a esperança e a caridade são
as três virtudes por excelência e ainda que, a esperança é um dom humano (Grün,
2004).

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

E. Fromm (1978, pp 91 citado por Oliveira, 2004) afirma que “ quando a


esperança desaparece, acaba a vida efectiva ou em potência. A esperança é um
elemento intrínseco da estrutura da vida, da dinâmica do espírito humano”.
Para se compreender a esperança é necessário partir do seu oposto, do
desespero. Entre o desespero e a esperança não existem graus intermédios, há sim
um salto abismal que vai do nada ao tudo, do aniquilamento à vida, ao riso, à
alegria, à expectativa de futuro, à capacidade de planear. A esperança não é uma
possibilidade vaga, um tímido vislumbre, um esperar incerto e temeroso. É uma luz
que rasga as trevas, é uma onda de calor que anima, que faz renascer (Alberoni,
2002).
Efectivamente, uma maior esperança traduz um elevado sentido de energia
mental e de meios para atingir os objectivos. Refere-se a uma esperança
disposicional embora o autor admita que tal disposição possa mudar ao longo do
tempo. E enfatiza a variável cognitiva, sem contudo excluir a força da dimensão
emotiva (Oliveira, 2004).
Outra teoria sobre a esperança é a de Averill, Catlin e Chon (1990 citado por
Oliveira, 2004) que investigaram como é que o povo define a esperança. É uma
teoria de base mais social ou ecológica, mas de difícil avaliação. Os autores
sugerem que a esperança, que é uma emoção governada por regras cognitivas, que
se justifica quando os objectivos são importantes, sob controlo do sujeito e
socialmente aceitáveis.
Da esperança diz-se que é a interacção entre a expectativa de eficácia
positiva (que reflecte a capacidade de acção pessoal) e a expectativa de resultados
(Perloiro et al, 2001)
As pessoas com mais esperança desistem menos perante os obstáculos. Se
o caminho escolhido não as leva a atingir os objectivos, procuram outro. Os
indivíduos sem esperança, sentem dificuldade em fazer esta multiplicidade de
alternativas e sequenciação de passos para atingir as metas.
Como característica psicológica, a esperança, explicam Snyder e
colaboradores (1991;1994;2000;2002), pode ser medida enquanto esperança
"estado" (há alturas na vida em que o meu estado é um pouco mais esperançado),
ou esperança "traço" (uma característica que está em mim, consistente ao longo do
tempo e da situação).
Estes autores conceptualizaram a esperança como uma viagem, requerendo
um destino, um mapa e meios de transporte. Ou seja, uma criança que se prepara

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

para tal viagem precisa de ter objectivos bem definidos, conhecimento de como
atingir esses objectivos e determinação e energia para agir. Estes especialistas
enfatizam que a viagem de esperança "vive e habita em primeiro lugar na nossa
cabeça" e que a falta de esperança é o resultado da sinergia entre a representação
mental de objectivos, caminhos para os objectivos e energia mental.
Todos nós alternamos entre situações de maior e menor esperança. Há
factores extremos na vida que acabam por influenciar a minha maneira de ver e ser.
Uma pessoa que sistematicamente se deixa cair em situações de desesperança,
não poderá ter bons resultados na vida. Cai numa situação de perda de controlo dos
acontecimentos, faz avaliações negativas de si mesmo e das suas acções, começa
a não ver a saída. E isto é um ciclo vicioso negativo, que faz com que a pessoa
desista. É infinitamente mais saudável ter esperança. O que pode ajudar muito as
pessoas é ter um diálogo interno positivo, contrariar o não sei fazer nada, não vou
conseguir, sou um parvo, é sempre a mesma coisa e ir à procura de diálogos
internos mais positivos. Isto também está ligado à auto-estima da pessoa. É muito
provável que uma pessoa com níveis altos de esperança e de optimismo tenha uma
boa auto-estima (Perloiro et al, 2001).
Snyder et al (1991) afirmam que a esperança não é apenas o querer traçar
metas ou objectivos, mas também a capacidade de (pré) dispor os meios para os
alcançar. Segundo estes autores, é necessário ter em conta dois aspectos: a
percepção de acções (agency) eficazes para atingir os objectivos (sentido de
determinação bem sucedida em traçar os objectivos no passado, no presente e no
futuro) e a percepção do percurso (pathways) a percorrer para atingir os objectivos
(capacidade de traçar planos bem sucedidos para chegar às metas).
Por tudo isto, a esperança é uma dimensão cognitiva baseada num sentido
derivado reciprocamente da acção bem sucedida e do percurso.
Ainda segundo estes autores, pode acontecer a situação de traçar bem os
objectivos, mas não os meios para os alcançar e vice-versa.
Contudo, parece que quem luta para atingir determinadas metas procura
implicitamente os meios para lá chegar. Desta forma, poderia-se considerar a
esperança como um constructo unidimensional (Oliveira, 2004). No entanto, Snyder
(2000) reforça a multidimensionalidade da esperança e afirma a existência de três
componentes: objectivo, meios e pensamentos de acção.
A esperança é um conceito muito semelhante ao optimismo. São duas
abordagens do mesmo tema, ou seja, ambas pertencem ao mesmo tema das

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

expectativas positivas face ao futuro. No entanto, na Psicologia, são


conceptualizados de maneira diferente. Parece que há pessoas que são bastante
mais esperançadas do que outras, que são mais pessimistas, que não acreditam
que vão conseguir atingir os seus objectivos (Perloiro et al, 2001).
Quem tem capacidade de acreditar em coisas possíveis tem esperança.
Neste sentido, a esperança está próxima do optimismo. Só que, enquanto a
segunda, é uma característica genérica de expectativas positivas, a primeira é uma
atitude que tem um objecto.
Scioli et al (1997) procuram distinguir entre a esperança e o optimismo.
Uma definição proposta pelo antropólogo Tiger (1979, pp. 18 citado por
Oliveira, 2004) refere que é “ uma disposição ou atitude associada a uma
expectativa sobre o futuro material ou social, que o avaliador olha como socialmente
desejável para o seu proveito ou prazer”.
O optimismo é definido como uma expectativa positiva de algo no futuro:
espero que algo de positivo aconteça. A esperança também tem a ver com uma
expectativa positiva, mas tem duas componentes que a diferenciam: a crença de
que tenho capacidades de acção pessoal (eu acredito que sou capaz de agir face a
um determinado destino) e o planeamento da forma de atingir esse objectivo. A
primeira conduz-me a uma activação de energia que direcciona a minha vida num
determinado sentido. A segunda permite-me ser ou não capaz de escolher os meios
para lá chegar. Estas duas vertentes têm de coexistir para que as pessoas tenham
esperança no futuro. Uma delas não chega. Estas duas componentes influenciam-
se uma à outra. São duas variáveis que estão altamente relacionadas (Perloiro et al,
2001).
O optimismo tem a ver com a maneira como se explicam os acontecimentos
da vida. O optimismo influencia os níveis de esperança, fazendo-os aumentar
consideravelmente. O mesmo se aplica ao estado de felicidade: as pessoas mais
felizes têm níveis mais altos de esperança.
Os modelos de esperança, optimismo e felicidade ajudam a desenvolver
capacidades positivas.
Mais do que aquilo que se vive, é a forma como os acontecimentos são
vividos que define a medida da esperança, do optimismo e da felicidade.

74
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

V.2. Esperança e saúde


Menninger (1959), há cerca de quarenta anos atrás, veio introduzir a
esperança como componente essencial na prática clínica. Desde então, os
profissionais de saúde tem vindo a demonstrar interesse e até a valorizar a
esperança no seu trabalho e, mutuamente os doentes têm-na identificado como
uma força valorizada de promoção de vida.
A esperança aparece enquadrada no âmbito da Psicologia Positiva, um
“novo” paradigma de investigação, análise e estudo na Psicologia, ou seja, uma
viragem no foco de abordagem: o funcionamento positivo da personalidade, o bem-
estar subjectivo, o ensino da resiliência, a “revolução” dos afectos ou a positividade,
enquanto capacidade de iniciativa para enfrentar novos desafios....
Este novo campo da Psicologia encontra-se associado a pensar e viver
positivamente, ao funcionamento positivo da personalidade, a psicologia das forças
(strengths) do ser humano, dos seus aspectos positivos, questões sobre o bem-
estar pessoal e social, comportamentos pró-sociais, em benefício do outro.
Encontrar processos que promovam ajustamentos positivos, sem stress e
adversidades ou constrangimentos, novos olhares, uma revolução ao nível do
pensamento, de explicação das coisas, não em termos de défices, mas antes, em
termos de perspectivas positivas, observar o bom, o positivo, sem ignorar o lado
mau, negativo, do(s) comportamento(s) humano(s) (Barros, 2004).
De facto, os proponentes da Psicologia Positiva recusam estudar e tratar a(s)
patologia(s) excluindo o fortalecimento das áreas fortes dos sujeitos. Há uma
inversão da tendência (negativa para positiva), dos temas psicológicos com enfoque
nos aspectos positivos do comportamento humano e no bem-estar subjectivo. A
positividade será também a capacidade de iniciativa para enfrentar novos desafios
(Barros, 2004).
Snyder & Lopez (2002) referem o funcionamento positivo da personalidade, a
Nova Psicologia, menos fixada em remediar e mais em prevenir e promover novas
forças psíquicas.
Seligman (2000) refere a importância de ensinar a resiliência, a esperança, o
optimismo, para tornar mais resistentes à depressão e capazes de levar uma vida
mais feliz e produtiva.

75
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Os constructos fundamentais da psicologia positiva são: bem-estar,


satisfação com a vida, felicidade, alegria, optimismo, esperança, sabedoria, amor e
perdão (Barros, 2004).
Nos últimos anos cresceu o interesse dos psicólogos por este tópico. Antes
de Snyder e colaboradores, outros autores estudaram a esperança do ponto de
vista psicológico, com pendor terapêutico, como é o caso de Stotland (1969)
relacionando-a com a ansiedade e com outras neuroses e psicoses.
Kaplan & Schwartz (1993 citado por Oliveira, 2004) consideram a esperança
como o melhor antídoto contra o suicídio, particularmente entre os jovens,
colocando-se também numa perspectiva religiosa.
Alberoni (2002, pp. 26) refere que “ somente quem se quer curar, quem
interiormente sente que pode fazê-lo, quem luta por viver e que nisso crê, se
acabará por curar. E se essa pessoa duvida, porque a doença enfraqueceu as suas
forças, ou pela sua própria tendência, é preciso que haja outra – a mulher, o marido,
o pai ou a mãe – a ter fé por ela e a ampará-la, a estimulá-la, a encorajá-la, a incitá-
la. É preciso ainda que essa pessoa nunca se dê por vencida, bem pelo contrário,
que se arrisque, que redobre os esforços e lhe dê confiança. O doente pressente a
confiança, a segurança de quem está ao seu lado, e agarra-se-lhe tal como
náufrago se agarra à jangada e se deixa levar para a margem”.
Gabriel Marcel (citado por Grün, 2004) opõe a esperança ao optimismo. O
optimista tem a firme convicção de que as coisas se devem “endireitar”. O optimista
olha para as coisas de um modo muito particular. Aquele que tem esperança, pelo
contrário, está emaranhado num processo de desenvolvimento.
Scioli et al (1997) procurando distinguir a esperança do optimismo,
efectuaram uma investigação, através de um estudo prospectivo de 10 semanas,
envolvendo resultados de relatórios de saúde. Gottschalk´s Hope Scale e Scheier
and Carver´s Life Orientation Test, que avaliam o optimismo foram passados aos
sujeitos, conjuntamente com um questionário de saúde. Dez semanas mais tarde foi
passado um segundo questionário de saúde aos mesmos sujeitos. Para eliminar
potenciais confusões foram incluídas medidas de neuroticismo, depressão,
extroversão e atractividade social. Após controlar os efeitos dos factores de
confusão, concluíram que, resultados mais baixos na escala de esperança (mas não
o optimismo) estavam correlacionados com diversas dimensões do estado de
saúde, incluindo a frequência e a severidade da doença (Scioli et al, 1997).

76
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Ao nível clínico, a esperança tem sido associada a outras variáveis,


indicadores positivos de saúde, tais como a qualidade de vida (Rustoen, 1995),
auto-estima e saúde mental (Nunn, 1996).
Num estudo que se propôs investigar a relação entre a esperança, optimismo
e saúde, verificou-se que baixos valores de esperança (mas não optimismo)
estavam correlacionados com diversas dimensões da saúde, incluindo a frequência
e severidade da doença (Scioli et al, 1997).
Enquanto há vida, há esperança? Parece que, segundo os especialistas, se
passa o contrário: enquanto há esperança, há vida. As pessoas esperançadas têm
níveis de recuperação muito mais rápidos, ou têm estratégias mais eficazes e
contornam melhor as situações (Perloiro et al, 2001).

V.2.1. A esperança na doença oncológica infantil


O estudo da esperança na doença oncológica infantil, nomeadamente nos
seus pais, é uma temática que se encontra em desenvolvimento.
Leal e Magão (2001) realizaram um estudo em que exploraram, com pais de
crianças com cancro, a sua percepção de interacções com profissionais de saúde
(enfermeiros e/ou médicos) que influenciaram a sua esperança. Teve como
objectivo descrever a estrutura de uma relação de esperança. Aos seis pais que se
voluntariaram para serem entrevistados, foi solicitada a descrição de situações de
interacção com influência percebida na sua esperança. Através da análise
fenomenológica, as autoras salientaram nos resultados duas categorias:
significados da esperança e importância das relações. Estas categorias permitiram
aceder a uma maior compreensão da vivência da esperança nestes pais e, desta
forma, identificar factores promotores e inibidores de esperança na sua relação com
os profissionais de saúde.
Segundo estas autoras, uma relação de esperança é uma relação em que é
promovido um sentido de possível, em que são antecipadas possibilidades através
do reconhecimento do valor dos objectos de esperança dos pais. É uma relação em
que os pais se sentem tratados como pessoas, directamente ou através dos seus
filhos, e o envolvimento emocional do profissional assim como percepção da sua
competência técnica, promovem nos pais a confiança, conforto e credibilidade
percebidas. É uma relação que promove a esperança quando o profissional de
saúde está atento e reconhece a importância das pequenas coisas da vida, com

77
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

sentido para os pais. É uma relação em que os pais, ao percepcionarem esperança


no profissional, sentem promovida a sua própria esperança.
Benzein et al (2001) debruçaram-se sobre a experiência de esperança nos
pacientes com cancro nos cuidados paliativos domiciliários. Para tal, efectuaram
entrevistas narrativas com 11 pacientes, que foram interpretadas utilizando o
método fenomenológico-hermenêutico inspirado por Ricoeur. As conclusões
revelaram uma tensão entre desejar algo, que é a esperança de ficar curado, e viver
na esperança, que é a reconciliação e conforto com a vida e a morte. Esta tensão é
destacada na visão do filósofo francês Gabriel Marcel, como um estado de
reminiscência. Estas conclusões mostram que a esperança é experiência dinâmica,
importante tanto para uma vida com sentido, como para uma morte dignificada, para
os pacientes que sofrem de cancro incurável.
Um estudo exploratório examinou o papel desempenhado pelo apoio social,
comportamentos da família, auto-estima e esperança, no coping. O desenho de
investigação envolveu um grupo de jovens submetido a um Programa de Impacto
nos Adolescentes.
Este programa utiliza técnicas cognitivas para melhoramento da auto-estima
e apoio social para ajudar os adolescentes com cancro. Os resultados do estudo
correlacional na amostra total, demonstraram que a esperança e a auto-estima
estavam negativamente correlacionadas, com estratégias de coping com enfoque
na emoção. Os comportamentos familiares estão positivamente correlacionados
com esperança e a auto-estima. Esperança e auto-estima estavam positivamente
inter correlacionados. Os resultados da amostra total sugerem que as variáveis
familiares, a esperança e a auto-estima, desempenham um papel importante para
os doentes com cancro. Os resultados da comparação dos dois grupos
demonstraram que as famílias dos elementos do programa eram menos coesas e
adaptáveis. Todavia, os elementos do programa tinham auto-estima comparável ao
grupo de comparação, sugerindo que participação no grupo teria estimulado a auto-
estima. A descoberta de que os elementos do programa usaram estratégias de
coping focadas no problema e focadas na emoção, indicia que a intervenção poderá
ter sido bem sucedida em ensinar um conjunto de estratégias de coping (Kuperberg
& Lynne 1996).
Felder (2004) efectuou um estudo descritivo correlacional para explorar a
esperança e o coping em pacientes com vários diagnósticos de cancro. Para tal,
utilizou quatro grupos de pacientes com cancro maligno gastrointestinal/genito-

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

urinário, mama, cabeça e pescoço, ou hematológico, que completaram a Herth


Hope Scale, a Jalowiec Coping Scale e um questionário demográfico. Foram
representados 15 cancros diferentes, sendo que, 71% dos 183 participantes tinham
cancro metastizado ou recorrente. Os resultados evidenciam que:
1. Não foram encontradas diferenças significativas nos níveis de
esperança, estilos de coping ou eficácia do coping por tipo de cancro.
2. O nível de esperança era relativamente elevado, mesmo nos pacientes
que sabiam que a sua doença estava num estado avançado.
3. Foi encontrada uma relação positiva entre esperança, estilo de coping
utilizado e eficácia do coping nos quatro grupos.
4. O nível de esperança era alto e que estava relacionado de forma
positiva com o coping nos pacientes com cancro, independentemente do sexo,
idade, estado civil, educação ou localização do cancro.
Contudo, a literatura aponta para um défice na investigação da esperança no
contexto do processo saúde-doença, em especial na compreensão a que se propõe
esta investigação, ou seja, a compreensão da vivência da esperança em pais de
crianças com e sobreviventes ao cancro.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

PARTE II
ESTUDO EMPÍRICO

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO VI. Método

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO VI. MÉTODO

“Se queremos fundar a nossa esperança em bases sólidas


devemos perguntar-nos: quais são as forças positivas em que
podemos ter sempre confiança”
(Alberoni, 2002, pp. 153)

VI.1. Objecto e objectivos/hipóteses

VI.1.1. Objecto e objectivos


A vivência pessoal enquanto voluntária do Serviço de Hematologia e
Oncologia Pediátrica no Hospital de S. João no Porto, as conversas informais com
pais e profissionais, tantas vezes fugas entre o leito do filho e um café bebido à
pressa, foram a motivação geral para que, da teoria sobre a adaptação à doença
crónica, surgisse a inquietação sobre o que os move, a eles (pais e crianças), nesta
luta incessante contra o tempo e por vezes, contra a Vida/Morte.
Foi esta resiliência e/ou resistência de muitas crianças e pais perante o
diagnóstico de cancro e a forma como lidam e enfrentam o sofrimento e a perda,
que conduziram a este estudo sobre o tema da Esperança, Qualidade de Vida,
Adaptação e Família, em pais de crianças com cancro, pais de crianças
sobreviventes ao cancro e pais de crianças sem doença.
Nos capítulos anteriores foram abordados conteúdos relativos à doença
oncológica, em particular a adaptação familiar à doença oncológica infantil. Esta
revisão bibliográfica permitiu concluir que o cancro na infância pode constituir um
risco em termos de adaptação psicológica, existindo várias variáveis ou processos
psicológica que parecem mediar ou moderar os efeitos desta doença, no equilíbrio e
desenvolvimento psicológicos da criança e da família.
Sendo assim, o objectivo geral desta investigação consiste na análise e
compreensão das variáveis psicológicas – esperança e qualidade de vida – e a sua
hipotética relação com a dinâmica familiar no processo de adaptação parental à
doença oncológica. Entende-se que esta adaptação se traduz na percepção e
estado de saúde dos pais. Pretendeu-se ainda, estabelecer uma possível relação
destas variáveis com a sobrevivência à doença.
Neste contexto, o trabalho que se submete a apreciação, chama a si os
seguintes objectivos:

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

1. Caracterizar a família da criança com cancro do ponto de vista do tipo de


agregado familiar, vivência de situações stressantes, coesão e
adaptabilidade, percepção do progenitor acerca da qualidade de vida da
criança.
2. Analisar as relações entre as variáveis, mais concretamente, a relação entre
as variáveis demográficas e clínicas, e as variáveis psicológicas (esperança,
dinâmica familiar, qualidade de vida e percepção de estado de saúde).
3. Comparar a relação entre as variáveis demográficas, clínicas e psicológicas
de pais de crianças com cancro, com pais de crianças sobreviventes ao
cancro e sem doença.
4. Pretende-se desta forma, avaliar e compreender o processo de adaptação
parental à doença oncológica infantil, com recurso a uma medida de estado
de saúde.
Foi ainda um objectivo importante deste estudo contribuir para a investigação
na área da Psicologia da Saúde, através da adaptação para a população
portuguesa de uma escala de avaliação da qualidade de vida em oncologia
pediátrica, a Pediatric Oncology Quality of Life Scale (Goodwin et al, 1994).

VI.1.2. Desenho de Investigação


Com base na revisão bibliográfica foi definido um conjunto de objectivos já
abordados anteriormente, que reflectem o interesse por duas perspectivas de
análise da problemática em estudo: uma mais centrada nas variáveis e uma outra
centrada nos sujeitos e na família. Tendo em conta estes aspectos foi traçado o
desenho de investigação que se encontra descrito na figura 2.

Figura 2 Desenho de Investigação do estudo


Desenho de investigação do estudo

Sobrevivência ao cancro infantil

Esperança
Adaptação
Dinâmica parental
Familiar |
Percepção de
Saúde
Qualidade de
Vida

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

VI.1.3. Questões de Investigação


Neste seguimento, as questões de investigação que se colocam são as
seguintes:
Qual a possível relação entre as variáveis demográficas, clínicas e
psicológicas em estudo?
Qual a possível relação entre a dinâmica familiar e a adaptação parental à
doença oncológica infantil?
Quais as diferenças encontradas nos três grupos em relação às variáveis em
estudo?
Qual será a possível relação entre as variáveis da criança, da família e da
doença, com os resultados das variáveis psicológicas em estudo?
Qual a possível relação das variáveis em estudo, com a sobrevivência ao
cancro infantil?

VI.1.4. Hipóteses
De acordo com Polit & Hungler (1991, pp.139) “ uma hipótese prediz as
possíveis relações entre as variáveis… serve de ligação entre a teoria e as
situações do mundo real, constitui um mecanismo eficaz para ampliar os
conhecimentos e oferece directivas para a investigação”.
Tal como ilustra o desenho de investigação, parte-se do pressuposto de que
não existe uma causalidade linear entre as variáveis, entende-se que existe uma
relação que é recíproca, activa e dinâmica.
Desta forma e com base na revisão bibliográfica efectuada, enunciam-se de
seguida algumas relações entre as variáveis que serão as hipóteses deste estudo:
• Relação entre esperança e adaptação parental: pais com valores mais
elevados na escala de esperança, apresentam indicadores de uma melhor
adaptação parental à doença oncológica.
• Dinâmica familiar e adaptação parental: resultados de funcionamento familiar
mais baixos estão associados a maior stress parental.
• A dinâmica familiar: esperam-se resultados de coesão superiores aos da
adaptabilidade familiar, em famílias de crianças com cancro.
• Qualidade de vida: pais de crianças com cancro têm a percepção de uma
baixa qualidade de vida dos seus filhos, especialmente na dimensão física.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

• Saúde física e saúde mental dos progenitores: a saúde mental dos


progenitores é a componente mais afectada em pais de crianças com cancro.
• Esperam-se diferenças entre os resultados obtidos entre pais de crianças em
tratamento e fora de tratamento, nas variáveis em estudo.
• Esperam-se diferenças na adaptação parental entre pais e mães.

VI.2. Metodologia
Este estudo será do tipo observacional1 analítico transversal2, uma vez que
se propõe explicar os resultados através da análise das relações estatísticas entre
as variáveis num único momento.
Para uma análise centrada nas variáveis foram utilizadas dois tipos de
metodologia: uma do tipo descritivo e outra do tipo inferencial.
Na análise do tipo descritivo procurou-se caracterizar as crianças envolvidas
no estudo e suas famílias.
Na análise do tipo inferencial procurou-se estudar as relações entre as
variáveis envolvidas, no processo de adaptação parental à doença oncológica
infantil. Para além disso, estudou-se a existência de associações significativas entre
as variáveis relativas à criança, à família, à doença, e às variáveis psicológicas em
estudo.
Procurou-se ainda, verificar se os pais de crianças com cancro apresentam
resultados significativamente diferentes, dos de pais de crianças sobreviventes ao
cancro e sem doença.

VI.2.1. Participantes
Neste estudo a amostragem é não probabilística3, intencional, heterogénea4.
Neste estudo participaram 190 pais, distribuídos por três grupos: 65 pais de
crianças com cancro, 60 pais de crianças sobreviventes ao cancro e 65 pais de
crianças sem doença.

1
Num estudo com desenho experimental observacional o investigador não intervém. Este
desenvolve procedimentos para descrever os acontecimentos que ocorrem, naturalmente, sem sua
intervenção e quais os efeitos nos sujeitos em estudo. Estes podem ser descritivos ou analíticos
(Ribeiro, 1999).
2
Os estudos analítico-transversais procuram explicar os resultados através das relações estatísticas
entre as variáveis num único momento (Ribeiro, 1999).
3
Numa amostra não probabilística, também chamada intencional, a probabilidade relativa de um
qualquer elemento ser incluído na amostra é desconhecida (Ribeiro, 1999).
4
Diz-se que as amostras são intencionais heterogéneas, quando um conjunto de elementos da
variável são intencionalmente escolhidos para garantirem a amplitude da representação da variável,
são também designadas amostras representativas (Ribeiro, 1999).

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

VI.2.1.1. Caracterização da amostra

Preenchimento do questionário

Relativamente ao preenchimento do questionário, verifica-se que 80,5% (N=


153) dos questionários são preenchidos pelas mães, como ilustra o quadro 2.

Quadro 2 Distribuição da amostra em função de quem responde ao questionário


Distribuição da amostra em função de quem responde ao questionário
Quem preenche os questionários
Grupo Pai Mãe Total
Doentes 12 53 65
Sobreviventes 9 51 60
Sem Doença 16 49 65
Total 37 153 190

Idade
A idade dos progenitores incluídos neste estudo está compreendida entre os
22 e os 58 anos de idade. As médias das idades dos progenitores e os desvios
padrão, nos três grupos, encontram-se representadas no quadro 3.

Quadro 3 Médias e desvios padrão das idades dos progenitores expressos em anos
Médias e desvios padrão das idades dos progenitores expressos em anos
Grupo M DP
Doentes 36,45 6,44
Sobreviventes 40,62 6,56
Sem doença 37,34 6,12

Residência
Da análise da amostra inquirida, segundo o local de residência, verifica-se
que a amostra nos três grupos, reside predominantemente no distrito do Porto (N=
143), seguindo-se Braga (N= 29), Aveiro (N= 6), Bragança (N=4), Viana do Castelo
(N=3), Vila Real e Viseu (N=2) e Guarda (N=1).

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quadro 4 Distribuição da amostra por distrito de residência


Distribuição da amostra por distrito de residência
Grupo Percen-
Distrito Doentes Sobreviventes Sem doença Total tagem
Aveiro 2 4 0 6 3,2
Braga 12 16 1 29 15,3
Bragança 3 1 0 4 2,1
Guarda 1 0 0 1 0,5
Porto 43 36 64 143 75,3
Viana do Castelo 1 2 0 3 1,6
Vila Real 2 1 0 2 1,1
Viseu 2 0 0 2 1,1
Total 65 60 65 190 100,0

Escolaridade
A escolaridade dos progenitores encontra-se descrita no quadro 5, variando
entre “sem escolaridade” e “pós-graduação/mestrado”, verificando-se que uma
grande parte dos progenitores possui o ensino básico (5º/ 9º ano de escolaridade,
N= 68) e apenas uma pequena percentagem possui estudos superiores
(bacharelato/licenciatura/pós-graduação/mestrado, N= 41)

Quadro 5 Distribuição da amostra em função do grau de escolaridade


Distribuição da amostra em função do grau de escolaridade
Escolaridade Frequência Percentagem
Sem escolaridade 1 0,5
2º ano 2 1,1
4º ano 37 19,5
5º ano 2 1,1
6º ano 36 18,9
7º ano 5 2,6
9º ano 25 13,2
10º ano 2 1,1
11º ano 10 5,3
12º ano 29 15,3
Bacharelato 4 2,1
Licenciatura 32 16,8
Pós-graduação/Mestrado 5 2,6
Total 190 100,0

Situação profissional
Em relação à situação profissional, 63,7% dos progenitores encontram-se
empregados e no activo. Contudo, verifica-se também, nos três grupos, um número
significativo de progenitores no desemprego (N= 45), enquanto que a percentagem
de empregados com baixa, aumenta no grupo dos doentes (cf. quadro 6).

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quadro 6 Distribuição da amostra em função da situação profissional


Distribuição da amostra em função da situação profissional
Situação Grupo Percen-
perante o emprego Doentes Sobrevi- Sem Total tagem
ventes Doença
Empregado(a) /activo 29 40 52 121 63,7
Empregado(a) /com baixa 17 2 1 20 10,5
Desempregado(a) 17 16 12 45 23,7
Reformado 2 2 0 4 2,1
Total 65 60 65 190 100,0

VI.2.2. Instrumentos de avaliação


A escolha dos instrumentos de avaliação teve em conta as principais
variáveis a estudar. Assim, após revisão dos instrumentos publicados que
permitissem o estudo destas variáveis, foi seleccionado um conjunto de
instrumentos de avaliação que melhor se adaptavam ao contexto e sujeitos do
estudo. Foram seguidas as sugestões de Peat (2002) quanto à selecção dos
instrumentos, tendo em conta a sua especificidade, validade e fidelidade,
privilegiando os que se encontravam traduzidos para a língua portuguesa.
No entanto, dada a escassez de instrumentos para avaliação da qualidade de
vida em oncologia pediátrica, foi objectivo deste estudo a adaptação da Pediatric
Oncology Quality of Life Scale, para a população portuguesa.
Este subcapítulo descreve os instrumentos utilizados e as suas
características psicométricas. Os instrumentos de medida utilizados para a recolha
de dados são, por ordem de aplicação:
1º: Dados Clínicos: idade e sexo da criança, diagnóstico, tratamento (em
tratamento ou fora de tratamento), tempo após diagnóstico.
2º: Questionário à família (pais) da criança através de contacto directo:
Questionário demográfico: idade, sexo, escolaridade, estado civil, anos de
casamento, número e idade dos filhos, profissão, acontecimentos
stressantes.
Escala de Futuro (versão original “Hope Scale”,Snyder et al, 1991; versão
portuguesa, Ribeiro et al, 2006)
SF-12 (Ribeiro, 2005b)
FACES III (versão portuguesa, Curral et al, 1999)

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Pediatric Oncology Quality of Life Scale (Goodwin et al, 1994): versão


para pais de crianças com cancro e sobreviventes ao cancro e versão
para pais de crianças sem doença.

1. Dados Clínicos das Crianças


Os dados clínicos das crianças foram recolhidos juntos dos médicos
assistentes.

2. Dados sócio-demográficos
Foi elaborado um questionário, especificamente para este estudo, a ser
preenchido pelo progenitor, visando obter os seguintes dados:
• Identificação e caracterização sócio-demográfica individual e familiar da
criança: idade, sexo, ano de escolaridade, profissão dos pais, dimensões do
agregado familiar;
• Identificação e caracterização sócio-demográfica individual do progenitor:
idade, sexo, ano de escolaridade, situação perante o emprego, número de
filhos;
• Tipo de agregado familiar.

3. Situações stressantes vividas pela família


Pretendendo-se avaliar as situações stressantes vivenciadas pela família no
ano anterior, foi efectuada uma questão que enumerou algumas situações,
nomeadamente:
• Mudança de zona de residência;
• Divórcio ou separação;
• Morte;
• Doença grave de um parente próximo.
Foram incluídos nesta variável “acontecimentos de vida” potencialmente
geradores de stress, indirectamente relacionados com a doença oncológica, que
tivessem sido vividos pela criança e pela família no ano anterior ao estudo. A
selecção das situações mencionadas, foi efectuada tendo em consideração a
probabilidade de ocorrência no grupo etário em questão e o seu provável impacto,
em crianças sem doença da mesma idade (Sanderg, 2000 citado por Lima, 2005).
Pretendeu-se desta forma, avaliar se a família foi sujeita a outros
acontecimentos stressantes, para além da doença oncológica na criança.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

4. Esperança
A esperança foi avaliada através da adaptação portuguesa da Hope Scale
(Snyder et al, 1991) efectuada por Ribeiro et al (2006).
Esta escala, denominada “ Escala de Futuro”, contém 12 itens (apresentados
como uma afirmação), oito dos quais avaliam a esperança, mais quatro distractores.
Dos oito itens que avaliam a esperança, quatro avaliam a “iniciativa”, passada,
presente e futura, e os restantes quatro itens avaliam os “caminhos”.
Aos sujeitos é pedido que leiam cada afirmação e que respondam de que
modo consideram que ela se lhes aplica, numa escala ordinal, ou de quatro (Snyder
et al, 1991) ou de oito pontos (Snyder & Lopez, 2002) entre totalmente falso (=1) e
totalmente verdadeiro (=8).
A escala fornece três resultados: um de esperança global resultante da soma
de todos os itens, e um por cada dimensão da esperança resultante da soma do
grupo de quatro itens que compõe cada uma delas.
O estudo de validação mencionado refere que as propriedades métricas em
geral, são suficientemente boas para que o questionário possa ser utilizado como
instrumento de medida (Ribeiro et al, 2006).

5. Adaptação Parental: Questionário de Estado de Saúde – SF12


O SF12 foi desenvolvido a partir do SF36, dado este ser ainda muito longo
para ser utilizado em entrevistas por telefone ou de outra forma em sondagens
sobre a saúde. Por esta razão, foram estudadas formas mais reduzidas do SF36
capazes de reproduzir os componentes físicos e mentais do SF36 (Ribeiro, 2005b).
O SF12 constitui um instrumento de avaliação genérico do estado de saúde,
não sendo específico de qualquer nível etário, doença ou tratamento.
A sua versão final contém 12 itens, que abarcam oito domínios básicos de
estado de saúde, que detectam quer estado positivos, quer estados negativos de
saúde, e que são descritos de seguida:
• Funcionamento físico: subescala que procura avaliar a extensão com que a
saúde física limita as actividades físicas;
• Desempenho físico: domínio que pretende avaliar a extensão com que a
saúde física interfere no tipo e quantidade de trabalho ou actividades do
quotidiano;

90
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

• Desempenho emocional: subescala que pretende avaliar a extensão com que


os problemas emocionais interferem com o trabalho ou outras actividades
diárias;
• Dor corporal: subescala que pretende avaliara a intensidade da dor e efeito
que esta tem nas actividades do dia a dia;
• Saúde geral: subescala que tem como objectivo a avaliação da percepção
holística da saúde, incluindo a saúde actual, a resistência à doença e a
aparência saudável;
• Vitalidade: subescala que inclui os níveis de energia e de fadiga;
• Funcionamento social: pretende avaliar a extensão com que a saúde física
ou os problemas emocionais, interferem com a quantidade e com a forma
como o trabalho ou outras actividades do dia a dia, são realizadas;
• Saúde mental: subescala que pretende avaliar a saúde mental geral,
incluindo depressão, ansiedade, controlo comportamental e emocional, e
afecto positivo geral.
As subescalas podem ser agrupadas em dois componentes: componente
física (que engloba o funcionamento físico, desempenho físico, dor e saúde em
geral) e componente mental (que inclui a saúde mental, desempenho emocional,
funcionamento social e vitalidade).
A componente física do SF12 resulta da soma dos itens 1, 2a e 2b, 3a e 3b, e
5. A componente mental do SF12 resulta da soma dos itens 4a e 4b, 6a, 6b, 6c, e 7.
Esta medida fornece uma nota de 0 (zero) a 100 (cem).
A consistência interna (Alfa de Cronbach) para a componente física é de 0,79
com correlações itens escala, corrigidas para sobreposição, a variar entre 0,58 e
0,65. Para a componente mental o valor é de 0,81, com correlações itens escala
corrigidas para sobreposição, a variar entre 0,56 e 0,71.

6. Dinâmica Familiar: coesão e adaptabilidade


Olson e colaboradores (1985) desenvolveram o Modelo Circumplexo para
avaliação do funcionamento familiar. Incluem duas dimensões: a coesão e a
adaptabilidade familiar.
A coesão descreve dois aspectos fundamentais do funcionamento da família:
a ligação emocional entre os seus membros e o grau de autonomia individual dos
mesmos.

91
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quando se avalia o grau de coesão familiar deve ter-se em consideração as


seguintes variáveis: a independência dos seus membros, as ligações emocionais,
as alianças, as coligações, a partilha do tempo e do espaço, os amigos, quem toma
as decisões, como passam os tempos livres e os interesses de cada um.
Estas variáveis permitirão posicionar as famílias, relativamente à coesão,
entre “extremamente alta” e “extremamente baixa”, sendo as primeiras famílias
muito ligadas e com limitada autonomia individual – famílias aglutinadas ou
enredadas – e as segundas, famílias com baixo grau de ligação e alto grau de
autonomia individual – famílias desligadas ou desagregadas. Entre estes dois
extremos situam-se as famílias separadas e as famílias ligadas.
A adaptabilidade traduz a capacidade do sistema familiar, quando enfrenta
qualquer situação de stress, para poder mudar a estrutura do poder, as regras
relacionais, o desempenho de papéis, o tipo de negociação e o sistema de
feedback.
Esta dimensão varia entre duas situações extremas, que correspondem a um
muito elevado grau de adaptabilidade – famílias caóticas – ou a muito baixo grau de
adaptabilidade – famílias rígidas – encontrando-se em posição intermédia as
famílias flexíveis e as famílias estruturadas.
Para avaliação destas dimensões funcionais da família Olson et al (1985)
desenvolveram a Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scale – FACES que
é uma escala de auto preenchimento.
O FACES III é a terceira versão deste instrumento, sendo adaptado e
validado para a população portuguesa por Curral et al (1999).
O somatório dos itens ímpares indica os valores da coesão (Factor I),
enquanto que a soma dos itens pares indicam a adaptabilidade. Esta última
dimensão é repartida por quatro factores: factor II (itens 8, 10, 14,16) com os itens
relacionados com as regras, a responsabilidade e os castigos; o factor III (itens 2, 4)
com os itens referentes à participação dos filhos nas decisões familiares; o factor IV
(6, 12) com dois itens relacionados com o clima de maior permissividade ou
controlabilidade; e o factor V (16,18, 20) com os itens de estruturação ou
desorganização familiar.
O factor I evidencia uma melhor interligação dos seus itens, à excepção do
item 3, que se vai isolar num factor (factor IV).
A dispersão dos itens da adaptabilidade pelos quatro factores, parece reflectir
a especificidades dos conteúdos ou situações dos itens em presença (regras,

92
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

papéis e disciplina; participação dos filhos nas decisões familiares; fenómenos de


liderança ou permissividade).
A escala apresenta uma boa consistência interna, quer na subescala de
coesão, quer na subescala de adaptabilidade, muito embora o coeficiente alpha seja
mais baixo nesta última subescala.
A análise da estrutura factorial desta versão traduzida do FACES III sugere
que, na amostra portuguesa, os itens da escala se organizam em torno de uma
estrutura psicológica de seis factores, em vez dos dois factores propostos pelos
autores do teste.

7. Qualidade de Vida das Crianças: Adaptação de um questionário –


Pediatric Oncology Quality of Life Scale (POQOLS)
Goodwin e colaboradores (1994) desenvolveram uma medida com 21 itens, a
Pediatric Oncology Quality of Life Scale (POQOLS), para determinar a Qualidade de
vida das crianças com cancro. A Pediatric Oncology Quality of Life Scale, devolve
um resultado total e resultados de 3 factores, que avaliam a função física e limitação
no desempenho de papéis, distress emocional e reacção ao tratamento médico.
A POQOLS foi desenhada para ser usada com pais de crianças desde a pré-
primária, até à adolescência.
A POQOLS marca uma tentativa inicial na introdução da avaliação do
constructo de qualidade de vida de crianças com cancro. Os resultados da
fiabilidade e validade das avaliações providenciam apoio preliminar para a
adequação psicométrica da medida e sugerem que, os resultados do POQOLS,
demonstram relações adequadas, convergentes e descriminantes, quando
contrastadas com resultados de medidas apropriadas.
A consistência interna e a fidelidade inter-item foram usadas como índices de
fidelidade.
O coeficiente alpha da escala total (r = 0,85) sugere grandes correlações
entre os itens individuais e o resultado total. O coeficiente alpha elevado, neste
caso, indica que a natureza multidimensional do constructo não necessita de
comprometer a consistência interna.
Relativamente à relação entre itens dentro de cada factor e o resultado global
para esse factor, o factor 1 (restrição ao funcionamento físico e capacidade de
manter a rotina normal) tem a consistência interna mais elevada, enquanto que, o
factor 3 (resposta ao tratamento médico activo), tem a consistência interna mais

93
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

baixa. A consistência interna mais baixa do factor 3 poderá, em parte, ser atribuída
ao menor número de itens que contribuem para o resultado global deste factor.
O resultado da fidelidade inter-item também foi elevado (r = 0,89) para uma
amostra de 15 casais avaliando a sua criança, cada um independente do outro. Esta
estatística é promissora dado que a escala usa a avaliação dos pais para avaliar a
qualidade de vida das suas crianças.
A consistência interna da escala total é elevada, assim como a concordância
interparental.

VI.2.3. Procedimento
A investigação decorreu entre Março de 2006 e Março de 2007. Num primeiro
momento foi solicitada a Aprovação da Comissão de Ética das Instituições
participantes (cf. Anexo I). Em seguida, foi privilegiada a pesquisa bibliográfica a fim
de, teoricamente, se proceder ao enquadramento do tema em investigação.
Após esta fase e na posse dos dados fornecidos por este processo de
recolha bibliográfica, passou-se à aplicação dos instrumentos seleccionados para a
investigação (cf. Anexos II e III), no período de Outubro de 2006 a Abril de 2007.
Relativamente à utilização dos instrumentos foi obtida a autorização aos autores.
As informações clínicas foram recolhidas junto dos médicos assistentes dos
doentes. O médico assistente da criança informou os pais da investigação,
solicitando o seu consentimento para fornecer as informações clínicas e para a
participação na investigação. Seguidamente, fez o encaminhamento dos pais para a
psicóloga/investigadora. No contacto com os pais, para além da apresentação
pessoal da investigadora, cada pai foi informado do tema do estudo e objectivo e
ainda, da necessidade de autorização por escrito. Em seguida, foi-lhes também
assegurado que as informações recolhidas e utilizadas no estudo eram totalmente
confidenciais, preservando assim a sua privacidade. Foram, assim, responder aos
questionários no contexto de uma entrevista pessoal.
Alguns progenitores não sentiram autonomia suficiente para preencheram
individualmente os questionários que lhes foram entregues. Desta forma, para os
progenitores que o solicitaram, os itens de cada instrumento foram-lhes lidos em
voz alta, sendo o posterior preenchimento da resposta por eles efectuado. De
salientar que a adesão e colaboração dos pais foi boa, o que se tornou
determinante para a realização deste estudo.

94
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO VII. Apresentação e Análise


dos Resultados

95
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO VII. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

“Qualquer doença causa uma crise (…), à família e aos outros


significativos, especialmente, quando o paciente é uma criança”
(Maul-Mellot & Adams, 1987, pp.5)

Ao longo desta parte serão apresentados os principais resultados do estudo


empírico, de acordo com os objectivos que foram definidos anteriormente.
Primeiramente serão apresentados os resultados de uma análise descritiva dos
dados. De seguida, uma análise das relações entre os diferentes aspectos
avaliados.
O tratamento estatístico foi realizado com o apoio um programa estatístico
específico para Ciências Sociais: SPSS – Statistical Package for the Social
Sciences.

VII.1. Análise Descritiva dos Dados


Neste espaço serão abordados os dados relativamente às variáveis incluídas
no estudo, referentes à criança e à família da criança.

1. Em relação à criança
1.1. Idade
Esta variável, só por si, não tem expressão, mas assume um valor
significativo quando relacionada com outras variáveis, como sejam a idade da
criança no momento do diagnóstico, o tempo de convivência com a doença e com
as limitações que a mesma impõe na vida da criança e da sua família.
A média das idades das crianças encontram-se representadas no quadro 7,
verificando-se que, nas crianças doentes é de 8 anos, nas sobreviventes é de 12
anos e no grupo sem doença é de aproximadamente 8 anos.

Quadro 7 Médias das idades das crianças expressas em meses


Médias e desvios padrão das idades das crianças expressas em meses
Grupo M DP
Doentes 96,04 56,13
Sobreviventes 146,20 47,72
Sem doença 95,18 64,93

96
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

1.2. Sexo
A distribuição das crianças da amostra por sexo indica que 50,5% (N= 96)
são raparigas e que 49,5% (N= 94) são rapazes (cf. quadro 8).

Quadro 8 Distribuição das crianças da amostra, nos três grupos, por sexo
Distribuição das crianças da amostra, nos três grupos, por sexo
Sexo da criança
Diagnóstico Feminino Masculino Total
Doentes 27 38 65
Sobreviventes 32 28 60
Sem doença 37 28 65
Total 96 94 190
Percentagem 50,5 49,5 100,0

1.3. Escolaridade
A escolaridade das crianças dos três grupos varia entre os 0 anos e os 13
anos, conforme ilustra o quadro 9, com média de 3,95, verificando-se uma grande
percentagem de crianças sem escolaridade (N= 76).

Quadro 9 Anos de escolaridade das crianças da amostra


Anos de escolaridade das crianças da amostra
Anos de escolaridade Frequência Percentagem
0 72 37,9
1 6 3,2
2 11 5,8
3 9 4,7
4 9 4,7
5 6 3,2
6 16 8,4
7 19 10,0
8 16 8,4
9 7 3,7
10 8 4,2
11 4 2,1
12 6 3,2
13 1 0,5
Total 190 100,0

97
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

1.4. Tempo após o diagnóstico/ Idade da Criança no momento do


Diagnóstico
A média da idade da criança no momento do diagnóstico é de 57,75 meses,
isto é, aproximadamente 5 anos, conforme indica o quadro 10.

Quadro 10 Idade da criança quando foi feito o diagnóstico (em meses)


Idade da criança quando foi feito o diagnóstico (em meses)
Idade no momento do diagnóstico
M 57,75
DP 49,66

O quadro 11 aponta a média da idade da criança no momento do diagnóstico,


nos dois grupos (doentes e sobreviventes), verificando-se que é de 64,72 meses (5
anos e 5 meses) no grupo de doentes e 50,20 meses (4 anos e 2 meses), no grupo
de sobreviventes.

Quadro 11 Idade da criança no momento do diagnóstico (em meses)


Idade da criança no momento do diagnóstico (em meses)
Grupo M DP
Doentes 64,72 50,70
Sobreviventes 50,20 47,78

Relativamente ao tempo após o diagnóstico, verifica-se que varia entre os 0 e


os 204 meses, com média de 62,37 meses, sendo nos doentes de 31,32 meses e
nos sobreviventes de 96,00 meses, conforme ilustra o quadro 12.

Quadro 12 Tempo após o diagnóstico (em meses)


Tempo após o diagnóstico (em meses)
Grupo M DP
Doentes 31,32 27,59
Sobreviventes 96,00 42,81

1.5. Tipo de cancro: sólido, líquido, SNC


De seguida descreve-se a distribuição das crianças em função do seu
diagnóstico. De salientar que os tumores foram agrupados em três grupos: sólidos,
líquidos e sistema nervoso central (SNC).
Analisando os dados, constata-se que 44,8 % das crianças (N= 56) foram
diagnosticadas com tumores sólidos, enquanto que os tumores do sistema nervoso

98
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

central representam 37,6 % (N= 47) da amostra. O menor número de casos


encontra-se nos tumores líquidos (N=22) representando 17,6% da amostra (cf.
quadro 13).

Quadro 13 Caracterização do tipo de tumor


Caracterização do tipo de tumor
Diagnóstico Frequência Percentagem
Tumor SNC 47 37,6
Tumor Líquido 22 17,6
Tumor Sólido 56 44,8
Total 125 100,0

1.6. Tratamento
O Quadro 14 apresenta a distribuição das amostras (doentes e
sobreviventes) em função do tratamento: em tratamento ou fora de tratamento.
Verificando-se que 82,4% (N=103) das crianças não se encontram em tratamento,
das quais 60 são sobreviventes. Desta forma, das 65 crianças com doença, 43
estão fora de tratamento e 22 encontram-se em tratamento (17,6%).

Quadro 14 Situação perante o tratamento


Situação perante o tratamento
Tratamento Frequência Percentagem
Sim 22 17,6
Não 103 82,4
Total 125 100,0

2. Em relação à família
2.1. Estado civil do progenitor
Relativamente a esta variável, não foi encontrada variabilidade significativa,
uma vez que apenas 17 dos progenitores constituíam uma família monoparental. A
grande percentagem dos elementos da amostra, eram casados, em todos os
grupos, representando 91,1% (N=173), conforme indica a análise do quadro 15.

99
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quadro 15 Estado civil dos progenitores


Estado civil dos progenitores
Estado civil Grupos Total Percen-
Doentes Sobrevi- Sem tagem
ventes Doença
Solteiro(a) 1 0 1 2 1,1
Casado(a) / Junto(a) 58 55 60 173 91,1
Divorciado(a) / 5 3 3 11 5,8
Separado(a)
Viúvo(a) 1 2 1 4 2,1
Total 65 60 65 190 100,0

2.2. Dimensão do agregado familiar


A maior percentagem das famílias tinha um agregado familiar de três
elementos (43,2%). Com dois elementos, foram encontrados 32,1% da amostra;
com quatro elementos, 12,1 %; e apenas 0,5% com um agregado familiar de nove
elementos (cf. Quadro 16). A média foi de 3,06 elementos por família, com um
desvio padrão de 1,17 elementos.
Da amostra seleccionada (N=190), 83,7% das crianças e progenitores (N=
159) vive com a família restrita, enquanto que 16,3% (N= 31) habita com a família
alargada (cf. Quadro 17).

Quadro 16 Dimensão do agregado familiar


Dimensão do agregado familiar
Nº elementos Grupo Total Percen-
agregado do Doentes Sobrevi- Sem doença tagem
familiar ventes
1 2 1 0 3 1,6
2 18 18 25 61 32,1
3 31 24 27 82 43,2
4 8 7 8 23 12,1
5 5 7 1 13 6,8
6 0 2 3 5 2,6
7 0 1 1 2 1,1
9 1 0 0 1 0,5
Total 65 60 65 190 100,0

100
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quadro 17 Classificação da família


Classificação da família
Com quem vive Grupo Total Percen-
Doentes Sobrevi- Sem tagem
ventes doença
Com o cônjuge 1 0 0 0 0,0
Com a família restrita 54 48 57 159 83,7
Com a família alargada 11 12 8 31 16,3
Sozinho(a) 0 0 0 0 0,0
Total 65 60 65 190 100,0

2.3. Número de filhos


Relativamente ao número de filhos, verifica-se que varia entre 1 e 9 filhos,
contudo a grande percentagem situa-se entre 1 (31,6%) e 3 filhos (13,2%),
constituindo assim, 91,6% da amostra (N= 174) (cf. Quadro 18).

Quadro 18 Número de filhos


Número de filhos
Número de filhos Frequência Percentagem
1 60 31,6
2 89 46,8
3 25 13,2
4 6 3,2
5 5 2,6
6 3 1,6
7 1 0,5
9 1 0,5
Total 190 100,0

2.4. Situações stressantes vivenciadas pela família no último ano


No quadro 19 são apresentados os valores da frequência dos vários tipos de
situações stressantes vivenciadas pelas crianças e famílias da amostra durante o
último ano. Pode-se verificar que as situações mais frequentes são a morte (17,9%),
seguindo-se a doença grave de um parente próximo (12,1%), mudança de zona de
residência (11,6%) e, por fim, a situação de divórcio ou separação (4,7%).

101
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quadro 19 Frequência dos vários tipos de situações stressantes vivenciadas pelas crianças e famílias durante o último ano
Frequência dos vários tipos de situações stressantes vivenciadas pelas crianças e
famílias durante o último ano
Experiências Frequência Percentagem
Mudança de zona de residência 22 11,6
Divórcio ou separação 9 4,7
Morte 34 17,9
Doença grave de um parente próximo 23 12,1
Total 190 100,0

Esta variável é seguidamente tratada, no quadro 20, considerando o número


de situações stressantes vividas por cada família no último ano. Verificou-se que
61,6% das famílias não vivenciaram situações stressantes, enquanto que 31,1%
vivenciou apenas uma situação. Os restantes 7,3% representam a amostra que
viveu duas ou três situações stressantes.

Quadro 20 Quantidade de situações vividas pelas crianças durante o último ano


Quantidade de situações vividas pelas crianças durante o último ano
Número Frequência Percentagem
experiências
0 117 61,6
1 59 31,1
2 13 6,8
3 1 0,5
Total 190 100,0

VII.2. Relação entre as variáveis demográficas, clínicas e psicológicas

VII.2.1. A esperança
1. Relação entre as variáveis demográficas e a esperança
Procedeu-se ao estudo da esperança entre os progenitores, utilizando-se o
teste t de Student, concluindo que não existem diferenças estatisticamente
significativas nos valores da esperança entre pais e mães.
O cálculo do teste One Way Anova a um factor nominal revelou que não existem
diferenças estatisticamente significativas entre os distintos estados civis em relação
à esperança.

102
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Não se encontram diferenças estatisticamente significativas entre as diferentes


situações profissionais e a esperança.
A idade, o nível de escolaridade, número de filhos, as dimensões do agregado
familiar e o número de experiências stressantes vividas pela família, não se
encontram correlacionados de forma estatisticamente significativa com a esperança
dos progenitores.

2. Relação entre as variáveis clínicas e a esperança


2.1. Situação perante a doença: doente, sobrevivente, sem doença
Os resultados obtidos através do teste One-Way ANOVA, sugerem que não
existem diferenças estatisticamente significativas entre pais de crianças com
cancro, pais de crianças sobreviventes e pais de crianças sem doença, em relação
à esperança.
2.2. Tratamento
Os resultados do teste t indicam que não existem diferenças estatisticamente
significativas, entre pais de crianças em tratamento e fora de tratamento.
2.3. Diagnóstico
Os resultados do teste One-Way Anova apontam para a inexistência de
diferenças estatisticamente significativas, entre os distintos diagnósticos (tumores
sólidos, SNC, líquidos) e os valores da esperança.
2.4. Idade da criança no momento do diagnóstico
Os resultados do teste r de Pearson indicam que, a idade da criança no
momento do diagnóstico, não se correlaciona de forma estatisticamente
significativa, com os valores da esperança dos progenitores.

VII.2.2. A Adaptação parental: resultados de uma medida de estado de


saúde (SF12)
Iniciar-se-á a apresentação com os dados obtidos através do questionário de
percepção do estado de saúde, SF12. A ordem de apresentação será a seguintes:
dados relativos à Componente Física (somatório dos itens 1, 2a, 2b, 3a, 3b e 5)
seguida da Componente Mental (somatório dos itens 4a, 4b, 6a, 6b, 6c e 7).

103
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

1. Componente Física
1.1. Relação entre as variáveis demográficas e a componente física
Foi utilizado um teste para amostras independentes (Teste t de Student) para
comparar os resultados da componente física, não se verificando diferenças
estatisticamente significativas entre os pais e as mães.
A análise das diferenças na percepção de estado de saúde física em pais
com distintos estados civis, estudada através do teste One-Way Anova a um factor
nominal, não revela diferenças estatisticamente significativas.
A análise das diferenças na percepção de estado de saúde física em pais
com diferentes situações profissionais, estudada através do teste One-Way Anova a
um factor nominal, aponta para a existência de diferenças estatisticamente
significativas [F (3,186) = 7,49, p = 0,001].
Esta dimensão é superior no grupo de pais empregados e no activo (M=
69,75, DP=17,62), seguindo-se o grupo de pais desempregados (M= 61,13, DP=
18,61), o grupo de pais com baixa (M= 53,53, DP= 20,50) e pais reformados (M=
45,00, DP= 27,95), por ordem decrescente da percepção de estado de saúde neste
domínio.
A idade dos progenitores e a vivência de situações stressantes pela família
no ano anterior, não se encontram correlacionadas de forma estatisticamente
significativa, com a percepção do estado de saúde física.
A escolaridade, o número de filhos e as dimensões do agregado familiar
encontram-se correlacionadas de forma estatisticamente significativa, com a
percepção do estado de saúde física.
Os resultados do teste r de Pearson sugerem que o grau escolaridade está
positivamente correlacionado com esta dimensão (r = 0,36; n = 190; p <0, 01)
O número de filhos demonstrou estar negativamente correlacionado com a
percepção do estado de saúde ao nível físico (r = - 0,16; n = 190; p <0, 05).
Em relação ao agregado familiar, constata-se que se encontra negativamente
correlacionado, com a percepção do estado de saúde a este nível (r = - 0,16; n =
190; p <0, 05).

104
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

1.2. Relação entre as variáveis clínicas e a componente física


1.2.1. Situação perante a doença: doente, sobrevivente, sem doença
Os resultados obtidos através do teste One-Way ANOVA, sugerem que não
existem diferenças estatisticamente significativas entre pais de crianças com
cancro, pais de crianças sobreviventes e pais de crianças sem doença, em relação
à percepção do estado de saúde física.
1.2.2. Tratamento
A análise dos resultados obtidos com o teste t, para duas amostras
independentes, permitiu a verificação de diferenças estatisticamente significativas
entre pais de crianças em tratamento e pais de crianças fora de tratamento [t (123)
= - 4,33, p = 0,001], com valores de percepção do estado de saúde física mais
positiva neste último grupo.

Quadro 21 Valores das médias e desvio padrão da componente física em relação a situação face ao tratamento
Valores das médias e desvio padrão da componente física em relação a situação
face ao tratamento
Tratamento N M DP
Sim 22 48,97 15,04
Não 103 67,55 18,86

1.2.3. Diagnóstico
Os resultados do teste One-Way Anova apontam para a inexistência de
diferenças estatisticamente significativas entre os distintos diagnósticos (tumores
sólidos, SNC, líquidos) e os valores da percepção do estado de saúde física.
1.2.4. Idade da criança no momento do diagnóstico
Os resultados do teste r de Pearson indicam que, a idade da criança no
momento do diagnóstico, se correlaciona de forma estatisticamente significativa
com a percepção do estado de saúde física dos progenitores.
Estes resultados apontam para uma correlação negativa entre a idade da
criança no momento do diagnóstico e a percepção do estado de saúde ao nível
físico dos progenitores (r = - 0,26; n = 125; p <0, 01).

105
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

2. Componente Mental
2.1. Relação entre as variáveis demográficas e a componente mental
Foi utilizado um teste para amostras independentes (Teste t de Student) para
comparar os resultados da componente mental, não se verificando diferenças
estatisticamente significativas entre os pais e as mães.
A análise das diferenças na percepção do estado de saúde mental em pais
com distintos estados civis, estudada através do teste One-Way Anova a um factor
nominal, não revela diferenças estatisticamente significativas.
A análise das diferenças na percepção do estado de saúde mental em pais
com diferentes situações profissionais, estudada através do teste One-Way Anova a
um factor nominal, aponta para a existência de diferenças estatisticamente
significativas [F (3,186) = 8,07, p = 0,001].
Esta dimensão é superior no grupo de pais empregados e no activo (M=
68,87, DP=19,80), seguindo-se o grupo de pais desempregados (M= 56,61, DP=
25,00), do grupo de pais reformados (M= 50,00, DP= 34,45) e pais com baixa (M=
47,14, DP= 24,91), por ordem decrescente da percepção do estado de saúde neste
domínio.
A idade dos progenitores, o número de filhos e a dimensão do agregado
familiar, não se encontram correlacionadas de forma estatisticamente significativa
com esta componente de percepção do estado de saúde.
A escolaridade e a vivência de situações stressantes vividas pela família no
ano anterior, encontram-se correlacionadas de forma estatisticamente significativa
com a percepção do estado de saúde mental.
Os resultados do teste r de Pearson sugerem que o grau escolaridade está
positivamente correlacionado com esta dimensão (r = 0,20; n = 190;) p <0, 01).
A vivência de situações stressantes pela família no ano anterior demonstrou
estar negativamente correlacionado, com a percepção do estado de saúde ao nível
mental (r = - 0,16; n = 190; p <0, 05).

106
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

2.2. Relação entre as variáveis clínicas e a componente mental


2.2.1. Situação perante a doença: doente, sobrevivente, sem doença
Para comparar os valores da componente mental entre os três grupos,
utilizou-se a One-Way ANOVA, verificando-se diferenças estatisticamente
significativas nos valores da componente mental nos três grupos [F (2,187) = 8, 60,
p = 0,001].
Testes post-hoc (Bonferroni) indicam que, a média do grupo de pais de
crianças com doença, é significativamente diferente do grupo de pais de crianças
sobreviventes ao cancro e do grupo de pais de crianças sem doença, indicando que
os pais de crianças com doença apresentam valores mais baixos na percepção do
estado de saúde mental.
Não existem diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de pais
de crianças sobreviventes e sem doença.

Quadro 22 Valores médios da componente mental nos três grupos


Valores médios da componente mental nos três grupos
Grupo N M DP
Doentes 65 53,99 25,11
Sobreviventes 60 67,62 21,53
Sem doença 65 68,57 19,88

2.2.2. Tratamento
Foi utilizado um teste para amostras independentes (Teste t de Student) para
comparar os resultados da componente mental e a situação da criança face ao
tratamento, verificando-se diferenças estatisticamente significativas entre pais de
crianças em tratamento e pais de crianças fora de tratamento [t (123) = - 5,31, p =
0,001), com valores de percepção do estado de saúde mental mais positiva no
último grupo.

Quadro 23 Comparação dos valores médios da componente mental com a situação face ao tratamento
Comparação dos valores médios da componente mental com a situação face ao
tratamento
Tratamento N M DP
Sim 22 37,88 21,01
Não 103 65,37 22,26

107
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

2.2.3. Diagnóstico
Para comparar os valores da componente mental entre os diferentes
diagnósticos (SNC, líquido, sólido), utilizou-se a One-Way ANOVA verificando-se
diferenças estatisticamente significativas nos valores da componente mental nos
três grupos [F (2, 122) = 7,99, p = 0,01].
Testes post-hoc (Bonferroni) indicam que, a média do grupo de pais de
crianças com tumores sólidos, é significativamente diferente do grupo de pais de
crianças com tumores líquidos e do grupo de pais de crianças com tumores do
SNC, indicando que os pais de crianças com tumores líquidos apresentam valores
mais baixos na percepção do estado de saúde mental.
Não existem diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de pais
de crianças com tumores líquidos e do SNC.

Quadro 24 Valores médios da componente mental nos diferentes diagnósticos


Valores médios da componente mental nos diferentes diagnósticos
Diagnóstico N M DP
SNC 47 54,51 23,74
Líquido 22 50,43 23,50
Sólido 56 69,56 22,35

2.2.4. Idade da criança no momento do diagnóstico


A idade da criança quando foi feito o diagnóstico demonstrou estar
correlacionada, de forma estatisticamente significativa, com a percepção do estado
de saúde física e mental dos progenitores.
Os resultados do teste r de Pearson sugerem que a idade está
negativamente correlacionada com a componente mental (r = -0,25; n=125; p<0,01).

VII.2.3. Análise do FACES III: coesão e adaptabilidade


Apresenta-se, de seguida, os resultados obtidos através do questionário
FACES III. A ordem será a seguinte: dados relativos à coesão (somatório dos itens
ímpares), seguida da adaptabilidade familiar (somatório itens pares).

108
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

1. Coesão
1.1. Relação entre as variáveis demográficas e a coesão
Os resultados do teste t sugerem que não existem diferenças
estatisticamente significativas entre os pais e as mães, em relação à coesão
familiar.
A análise da coesão em pais com distintos estados civis, estudada através do
teste One-Way Anova a um factor nominal, não revela diferenças estatisticamente
significativas.
A análise das diferenças na coesão familiar em pais com diferentes situações
profissionais, estudada através do teste One-Way Anova a um factor nominal, não
aponta diferenças estatisticamente significativas.
A idade dos progenitores, o número de filhos, a dimensão do agregado
familiar e a vivência de situações stressantes pela família, não se encontram
correlacionadas de forma estatisticamente significativa, com a coesão familiar.
A escolaridade dos progenitores encontra-se correlacionada de forma
estatisticamente significativa com a coesão familiar.
Os resultados do teste r de Pearson sugerem que o grau escolaridade está
positivamente correlacionado com esta dimensão (r = 0,23; n = 190; p <0, 01).

1.2. Relação entre as variáveis clínicas e a coesão


1.2.1. Situação perante a doença: doente, sobrevivente, sem doença
Foi efectuada uma análise de variância, através do teste One Way Anova,
entre os três grupos para explorar os valores da coesão familiar, não sendo
encontradas diferenças estatisticamente significativas nos três grupos (doentes,
sobreviventes e sem doença).
1.2.2. Tratamento
Utilizou-se o teste t de Student para comparar a coesão com a situação da
criança face ao tratamento, não se observando diferenças estatisticamente
significativas entre a coesão familiar e o facto da criança se encontrar em
tratamento ou fora de tratamento.
1.2.3. Diagnóstico
Para comparar os valores da coesão entre os três grupos, utilizou-se a One-
Way ANOVA a um factor nominal. Os resultados indicam diferenças

109
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

estatisticamente significativas nos valores da coesão nos três grupos [F (2, 122) =
6,66, p = 0,001].
Testes post-hoc (Bonferroni) indicam que, a média do grupo de pais de
crianças com tumores do SNC, é significativamente diferente do grupo de pais de
crianças com tumores líquidos e do grupo de pais de crianças com tumores sólidos,
indicando que os pais de crianças com tumores do SNC apresentam valores mais
elevados na coesão familiar.
Não existem diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de pais
de crianças com tumores líquidos e sólidos.

Quadro 25 Valores médios da coesão nos diferentes diagnósticos


Valores médios da coesão nos diferentes diagnósticos
Diagnóstico N Média Desvio padrão
SNC 47 41,57 4,55
Líquido 22 36,68 6,92
Sólido 56 38,55 5,93

1.2.4. Idade da criança no momento do diagnóstico


Os resultados do teste r de Pearson sugerem que a idade da criança no
momento do diagnóstico, não se encontra correlacionada de forma estatisticamente
significativa com os valores da coesão familiar.

2. Adaptabilidade Familiar
2.1. Relação entre as variáveis demográficas e a adaptabilidade familiar
Os resultados do teste t sugerem que não existem diferenças
estatisticamente significativas entre os pais e as mães, em relação à adaptabilidade
familiar.
A análise da adaptabilidade familiar em pais com distintos estados civis,
estudada através do teste One-Way Anova a um factor nominal, não revela
diferenças estatisticamente significativas.
A análise das diferenças na adaptabilidade familiar em pais com diferentes
situações profissionais, estudada através do teste One-Way Anova a um factor
nominal, não aponta diferenças estatisticamente significativas.
A idade dos progenitores, o número de filhos, a dimensão do agregado e a
vivência de situações stressantes pela família familiar não se encontram

110
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

correlacionadas de forma estatisticamente significativa com a adaptabilidade


familiar.
A escolaridade dos progenitores encontra-se correlacionada de forma
estatisticamente significativa com a adaptabilidade familiar.
Os resultados do teste r de Pearson sugerem que o grau escolaridade está
positivamente correlacionado com esta dimensão (r = 0,18; n = 190; p <0, 05).

2.2. Relação entre as variáveis clínicas e a adaptabilidade familiar


2.2.1. Situação perante a doença: doente, sobrevivente, sem doença
Os resultados do teste One Way Anova a um factor nominal sugerem que
não existem diferenças estatisticamente significativas nos três grupos (doentes,
sobreviventes e sem doença) em relação à adaptabilidade familiar.
2.2.2. Tratamento
Os resultados obtidos através do teste t de Student indicam que não existem
diferenças estatisticamente significativas entre a adaptabilidade familiar e a situação
da criança, face ao tratamento.
2.2.3. Diagnóstico
Foi realizada uma análise de variância entre os três grupos para explorar os
valores da adaptabilidade, avaliada pelo FACES III. Não foram encontradas
diferenças estatisticamente significativas nos distintos diagnósticos, em relação à
adaptabilidade familiar.
2.2.4. Idade da criança no momento do diagnóstico
Os resultados do teste r de Pearson sugerem que a idade da criança no
momento do diagnóstico não se encontra correlacionada de forma estatisticamente
significativa, com os valores da adaptabilidade familiar.

VII.3. Pediatric Oncology Quality of Life Scale – POQOLS: Adaptação de um


instrumento para a população Portuguesa

VII.3.1. Elaboração da versão Portuguesa


A escala foi traduzida da língua original – Inglês Americano - para Português
através do método de retro-tradução, após ter sida obtida autorização dos autores
para a sua adaptação. Foi posteriormente analisada, em termos de equivalência
conceptual e linguística, utilizando a metodologia da reflexão falada, tendo
participado vários técnicos da área da Psicologia. A elaboração da versão final dos
itens foi realizada considerando todas as informações provenientes dos técnicos

111
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

anteriormente referidos, bem como possíveis questões de dificuldade de


compreensão e de interpretação.
Após a introdução das alterações sugeridas, pelos procedimentos
anteriormente descritos, procedeu-se à aplicação do instrumento no sentido de se
estudar as suas características psicométricas.

VII.3.2. Estudo das características psicométricas da POQOLS

Participantes
A amostra foi constituída por 125 pais, sendo 65 pais de crianças com cancro
e 60 pais de crianças sobreviventes ao cancro, residentes maioritariamente no
distrito do Porto e que se encontravam a acompanhar os seus filhos à consulta
externa de Pediatria, no Hospital de S. João.

Análise dos Dados


Para este estudo foram realizadas análises descritivas (médias, desvios
padrão), a análise da validade de constructo (mais especificamente, a validade
factorial) e a análise da consistência interna (através do cálculo do coeficiente alfa
de Cronbach).
Para estudar a validade de constructo da escala foi efectuada uma análise
factorial exploratória, utilizando o método da Análise de Componentes Principais
com rotação oblíqua, do SPSS.
Uma vez que no estudo original das qualidades psicométricas do
instrumento, a análise factorial revelou a presença de três factores (Goddwin et al,
1994), foi verificado se uma estrutura com três dimensões se ajustava à versão
portuguesa.
Assim sendo, o factor 1 inclui os itens 4, 5, 7, 10, 14, 15, 16, 19 e 21. Estes
itens aparentam ser uma medida de funcionamento físico e de restrição de
actividades normais; o factor 2 inclui os itens 1, 2, 3, 9, 13, 17 e 18 sendo
interpretado como um indicador de problemas emocionais; o factor 3 aparenta ser a
medida da resposta ao tratamento médico activo e é representado pelos itens 6, 8,
11, 12 e 20.

112
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Refira-se ainda que, resultados elevados na escala, indicam uma baixa


qualidade de vida. Assim, alguns dos itens têm cotação invertida, nomeadamente,
4, 7, 10, 14, 15 e 16.

Análise de constructo
Os resultados da análise factorial foram semelhantes aos encontrados no
estudo original, com excepção de cinco itens: [O(a) meu filho(a) foi incomodado(a)
por pessoas que o tratavam de forma diferente; O(a) meu filho(a) tem podido
frequentar a escola; O(a) meu filho(a) tem exigido mais ajuda do que necessita, com
as tarefas diárias; O(a) meu filho(a) tem dispendido tempo, durante o dia, a
descansar; O(a) meu filho(a) tem necessitado de ajuda extra com aspectos básicos
do dia-a-dia (lavar-se, vestir-se, etc)].
Assim, os itens 16, 19 e 21, no estudo original apareciam no factor 1,
enquanto que, na versão portuguesa fazem parte do factor 3. O que poderá ser
facilmente compreendido, uma vez que, todos eles se encontram, também,
associados à resposta ao tratamento médico (absentismo escolar, cansaço, ajuda
nos cuidados básicos).
Os itens 13 e 17 na versão original são contidos no factor 2 e na portuguesa
são incluídos no factor 3 e 1, respectivamente. Pela mesma razão mencionada no
ponto anterior, compreende-se que o item 13 seja incluído no factor 3 (resposta ao
tratamento médico activo). O item 17 [O(a) meu filho(a) tem exigido mais ajuda do
que necessita, com as tarefas diárias] parece enquadrar-se no factor 1
(funcionamento físico e restrição das actividades diárias).
Tendo em atenção as diferenças encontradas, optou-se por utilizar a
estrutura da versão original.

113
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quadro 26 Resultados da análise factorial


Resultados da análise factorial
Itens Factor
1 2 3
1 O(a) meu filho(a) tem ataques de fúria 0,60 (0,72*)
2 O(a) meu filho(a) tem demonstrado medo da doença 0,48 (0,53*)
e do tratamento
3 O(a) meu filho(a) tem estado triste 0,38 0,59 (0,68*)
4 O(a) meu filho(a) tem sido capaz de participar em 0,86 (0,77*)
actividades recreativas (desportos, jogos, etc.)
5 O(a) meu filho(a) tem tido menos energia e cansa-se 0,41 (0,51*) 0,50 (0,30*)
facilmente
6 O(a) meu filho(a) tem necessitado de tratamento 0,68 (0,45*)
médico activo
7 O(a) meu filho(a) tem sido capaz de interagir/brincar 0,56 (0,78*)
de forma completamente normal
8 O(a) meu filho(a) tem-se queixado de dores 0,61 (0,64*)
derivadas dos tratamentos médicos
9 O(a) meu filho(a) sente-se envergonhado(a) com as (0,27) (0,36*)
mudanças físicas (perda de cabelo, alterações de
peso, etc.)
10 O(a) meu filho(a) tem sido capaz de realizar 0,84 (0,81*)
actividades físicas, como habitualmente
11 O(a) meu filho(a) tem tido dificuldades em dormir 0,46 (0,25*) (0,30*)
12 O(a) meu filho(a) tem-se queixado de dores 0,52 (0,58*)
derivadas do cancro
13 O(a) meu filho(a) foi incomodado(a) por pessoas que (0,40*) -0,35 (0,25*)
o tratavam de forma diferente
14 O(a) meu filho(a) sente-se satisfeito(a) com a sua 0,72 (0,55*) 0,39
actividade física recente
15 O(a) meu filho(a) tem brincado com os amigos 0,46 (0,80*) 0,61 (0,02*)
16 O(a) meu filho(a) tem podido frequentar a escola (0,59*) 0,77 (0,41*)
17 O(a) meu filho(a) tem exigido mais ajuda do que 0,47 (0,06*) (0,55*)
necessita, com as tarefas diárias
18 O(a) meu filho(a) tem sido hostil 0,72 (0,81*)
19 O(a) meu filho(a) tem dispendido tempo, durante o (0,39*) 0,54 (0,21*)
dia, a descansar
20 O(a) meu filho(a) tem tido náuseas ou vómitos 0,75 (0,50*)
derivados do tratamento
21 O(a) meu filho(a) tem necessitado de ajuda extra (0,47*) 0,53 (0,07*
com aspectos básicos do dia-a-dia (lavar-se, vestir-
se, etc)
Notas:
Método de extracção: Análise de componentes principais / Método de rotação: Varimax com
normalização de Kaiser / Rotação converge em 7 iterações
* Valor correspondente à análise factorial da escala original

114
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Fidelidade
Foi ainda calculada a consistência interna de cada uma das dimensões
(factores), assim como para a escala total (totalidade dos itens), conforme indica o
quadro 27.

Quadro 27 Resultados dos coeficientes de alfa calculados para cada um dos factores e para a escala total
Resultados dos coeficientes de alfa calculados para cada um dos factores e para a
escala total
Alpha de Cronbach
Factor 1 0,68
Factor 2 0,86
Factor 3 0,57
Escala total 0,71

A consistência interna do factor 2 é claramente satisfatória, enquanto que a


dos restantes factores não é significativa. Já o valor de alfa obtido para a escala
total é satisfatório, confirmando a sua precisão.

VII.3.3. Estudo da qualidade de vida

1. Relação entre as variáveis demográficas e a qualidade de vida


Procedeu-se ao estudo da percepção de qualidade de vida das crianças com
cancro e sobreviventes entre os progenitores, utilizando-se o teste t de Student,
concluindo que não existem diferenças estatisticamente significativas, entre pais e
mães em relação à qualidade de vida dos seus filhos.
O cálculo do teste One Way Anova a um factor nominal revelou que existem
diferenças estatisticamente significativas, entre os distintos estados civis em relação
à qualidade de vida total (F (3, 121) = 3,34; p = 0,02), factor 1 (F (3, 121) = 3,82; p =
0,01) e factor 2 (F (3, 121) =3,11; p = 0,03).
Os resultados indicam que os pais divorciados e viúvos são os que possuem
uma inferior percepção de qualidade de vida dos seus filhos.

115
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quadro 28 Valores das médias e desvios-padrão apresentados pelos progenitores com distintos estados civis em relação aos domínios de qualidade de vida avaliados pela POQOLS
Valores das médias e desvios-padrão apresentados pelos progenitores com
distintos estados civis em relação aos domínios de qualidade de vida avaliados pela
POQOLS
Estado civil Factor 1 Factor 2 Factor 3 POQOLS
Total
N M DP M DP M DP M DP
Solteiro(a) 1 2,11 1,00 1,00 31,00
Casado(a) /Junto(a) 113 2,32 1,39 2,03 0,84 1,69 0,95 43,53 19,24
Divorciado(a) 8 4,03 1,31 2,54 0,60 2,23 1,16 65,13 18,41
Viúvo(a) 3 2,22 1,28 3,14 1,17 1,00 0,00 47,00 19,52

A análise das diferenças na percepção de qualidade de vida dos filhos em


pais com distintas situações profissionais, estudada através do teste One Way
Anova a um factor nominal, aponta para a existência de diferenças estatisticamente
significativas em todos os factores.
Para uma leitura mais simplificada das diferenças ao nível das várias
dimensões da qualidade de vida, entre progenitores com distintas profissões, optou-
se por apresentar os resultados, agrupando-os nas seguintes categorias:
empregado(a) activo; empregado(a) com baixa; desempregado(a) e reformado(a).
Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre estes grupos, em
relação a todas as dimensões da qualidade de vida: funcionamento físico e de
restrição de actividades normais (F (3, 121) = 9,36; p = 0,0001); problemas
emocionais (F (3, 121) = 4,94; p = 0, 003) e resposta ao tratamento médico activo (F
(3, 121) = 12,67; p = 0, 0001).

Quadro 29 Valores das médias e desvios-padrão apresentados pelos progenitores com distintas situações profissionais em relação aos domínios de qualidade de vida avaliados pela POQOLS

Valores das médias e desvios-padrão apresentados pelos progenitores com


distintas situações profissionais em relação aos domínios de qualidade de vida
avaliados pela POQOLS
Situação Factor 1 Factor 2 Factor 3 POQOLS
profissional Total
N M DP M DP M DP M DP
Empregado(a) 69 1,98 1,07 1,86 0,75 1,47 0,73 38,23 14,55
Activo
Empregado(a) 19 3,75 1,80 2,63 1,06 2,80 1,28 66,21 23,31
com baixa
Desempregado(a) 33 2,58 1,38 2,18 0,75 1,53 0,71 46,12 17,35
Reformado(a) 4 2,53 1,78 2,43 1,23 1,75 1,37 48,50 29,82

116
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

De uma forma geral, pode constatar-se que, os pais que apresentam uma
percepção de qualidade de vida dos filhos mais positiva, são os que se encontram
empregados e no activo, seguindo-se os pais em situação de reforma, os
desempregados e finalmente, os pais com baixa médica.
A idade, o nível de escolaridade, número de filhos e a dimensão do agregado
familiar, não se encontram correlacionados de forma estatisticamente significativa
com a percepção que os progenitores têm da qualidade de vida dos seus filhos.
Relativamente às experiências stressantes vivenciadas pela família no último
ano, os resultados do teste r de Pearson sugerem a existência de uma correlação
estatisticamente significativa com o factor 2 (r= 0,18; n=125; p <0,05).

2. Resultados das variáveis clínicas e a qualidade de vida


2.1. Situação perante a doença: doente, sobrevivente
Os resultados obtidos através do teste One-Way ANOVA, sugerem que
existem diferenças estatisticamente significativas, entre pais de crianças com
cancro e pais de crianças sobreviventes, em relação às seguintes dimensões da
qualidade de vida: funcionamento físico e restrição de actividades normais (factor 1)
e resposta ao tratamento médico activo (factor 3).
Em relação à dimensão referente ao funcionamento físico e restrição das
actividades normais, observam-se diferenças estatisticamente significativas entre as
respostas fornecidas por pais com crianças doentes (M= 3,07, DP= 1,57) e
sobreviventes [M= 1,73, DP= 0,82, t (98,31) =6,04, p = 0,001], verificando-se que os
pais de crianças com doença apresentam valores mais baixos relativamente à
qualidade de vida dos seus filhos, no que respeita a este domínio da qualidade de
vida.
Relativamente ao factor 3, os resultados indicam diferenças estatisticamente
significativas entre as respostas fornecidas por pais com crianças doentes (M= 2,07,
DP= 1,14) e sobreviventes [M= 1,29, DP= 0,49, t (88,17) = 5,04, p = 0,001],
verificando-se que os pais de crianças com cancro possuem valores mais baixos
relativamente à qualidade de vida dos seus filhos, ao nível da resposta ao
tratamento médico activo.

117
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

2.2. Tratamento
Os resultados do teste t indicam que existem diferenças estatisticamente
significativas, entre pais de crianças em tratamento e fora de tratamento, em relação
a todos os factores desta medida de qualidade de vida.
Observam-se diferenças estatisticamente significativas entre as respostas
fornecidas por pais com crianças em tratamento (M= 4,41, DP= 1,51) e pais de
crianças que se encontram fora de tratamento [M= 2,00, DP= 0,99, t (25,03) = 7,18,
p = 0,001], verificando-se que, os pais de crianças que se encontram em tratamento
possuem a percepção de uma pobre qualidade de vida dos seus filhos, no que
concerne ao funcionamento físico e restrição das actividades normais.
Na dimensão avaliada pelo factor 2 (problemas emocionais), também se
encontram diferenças estatisticamente significativas entre as respostas fornecidas
por pais com crianças em tratamento (M= 2,49, DP= 0,95) e fora de tratamento [M=
1,99, DP= 0,81, t (123) = 2,55, p = 0,01], verificando-se que os pais do primeiro
grupo apresentam valores mais baixos da percepção da qualidade de vida dos seus
filhos.
Em relação à resposta ao tratamento médico activo, os resultados indicam
diferenças estatisticamente significativas entre as respostas fornecidas por pais com
crianças em tratamento (M= 3,16, DP= 1,19) e fora de tratamento [M= 1,38, DP=
0,53, t (22,78) = 6,86, p = 0,001], verificando-se valores de percepção de qualidade
de vida mais positivos no segundo grupo.
2.3. Diagnóstico
Os resultados do teste One-Way Anova apontam para a existência de
diferenças estatisticamente significativas entre os distintos diagnósticos (tumores
sólidos, SNC, líquidos) e os valores da dimensão da qualidade de vida de
funcionamento físico e restrição das actividades normais (factor 1).
Para comparar os valores do factor 1 entre os três grupos (SNC, líquido,
sólido), utilizou-se a One-Way ANOVA a um factor nominal. Foram encontradas
diferenças estatisticamente significativas nos valores deste factor nos três grupos [F
(2,122) = 3,65, p = 0,03].
Testes post-hoc (Tukey) indicam que a média do grupo de pais de crianças
com tumores sólidos (M= 2,05, DP=1,11) é significativamente diferente do grupo de
pais de crianças com tumores do SNC (M= 2,71, DP= 1,49), indicando que os pais

118
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

de crianças com tumores sólidos apresentam uma percepção da qualidade de vida


dos seus filhos, superior à dos pais de crianças com tumores do SNC.
Não existem diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de pais
de crianças com tumores líquidos, em relação aos tumores do SNC e tumores
sólidos.
2.4. Idade da criança no momento do diagnóstico
Os resultados do teste r de Pearson indicam que a idade da criança no
momento do diagnóstico, se correlaciona de forma estatisticamente significativa
com os valores da dimensão da qualidade de vida do factor 1 (r = 0, 24; n = 125; p
<0,01) e os valores da qualidade de vida total (r= 0, 23; n = 125; p <0,01).

VII.3.4. Apreciação crítica da versão portuguesa da POQOLS


Os resultados do estudo da versão portuguesa da POQOLS permitem afirmar
que se trata de um instrumento com qualidade metrológicas satisfatórias, tanto ao
nível geral, como em relação aos factores.
A versão portuguesa do instrumento integra o mesmo número de itens (21)
da POQOLS original e o mesmo número de factores (3).
A análise factorial da versão final da adaptação da POQOLS revelou algumas
diferenças em relação à análise factorial da versão original.
As correlações entre os factores são consideradas moderadas, o que vem
comprovar que, apesar da qualidade de vida ser um constructo multidimensional,
existe uma relação entre essas dimensões, que o constructo é integrado e que faz
sentido o cálculo do total da escala, enquanto indicador do grau da qualidade de
vida genérica da criança.
Em relação à fidelidade da escala, a análise da consistência interna da
escala total e dos seus factores, permite considerar este instrumento preciso.
Foi realizado também o estudo da influência de algumas variáveis, nos
resultados obtidos nos diferentes factores.
Este instrumento evidenciou a influência que as variáveis demográficas,
clínicas e psicológicas têm na percepção que pais e mães de crianças com cancro
possuem da qualidade de vida dos seus filhos.
Estas diferenças chamam a atenção para os profissionais de saúde,
relativamente aos grupos de pais e crianças com um risco acrescido, e ainda
poderá permitir a estes profissionais providenciar estratégias para a promoção da
qualidade de vida das crianças e, consequentemente, dos seus pais.

119
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

VII.4. Estudo correlacional das variáveis psicológicas e indicadores de


adaptação parental
Com o objectivo de analisar as relações entre as variáveis psicológicas em
estudo e os indicadores de adaptação parental, foi efectuada uma análise de
correlações. Numa primeira fase, entre os três grupos e excluindo a variável da
qualidade de vida, uma vez que, só foi analisada no grupo de doentes e
sobreviventes. Assim, na segunda fase será efectuada a análise de correlações
entre o grupo de doentes e sobreviventes.
Quanto à importância da relação entre as variáveis, dada pela interpretação
do coeficiente de correlação de Pearson (r), será tido como referência os valores
convencionados por Bryman e Cramer (2003), segundo os quais valores de r
menores que 0,20 são indicadores de associações muito baixas, entre 0,20 e 0,39
baixas, entre 0,40 e 0,69 moderadas, entre 0,70 e 0,89 altas e acima dos 0,90,
associações muito elevadas. O valor do coeficiente de Pearson pode variar entre -1
e 1. Este valor indica a força da relação entre duas variáveis. Uma correlação de 0
indica uma ausência de relação entre as variáveis, uma correlação de -1 indica uma
correlação negativa perfeita.
No que respeita à interpretação do significado estatístico das associações,
serão utilizados como referência três níveis de significância: 5%,1% e 0% (inferior a
0,05, 0,01 e 0,00 respectivamente) sendo este último valor considerado como
expressão de associações altamente significativas.

Quadro 30 Estudo correlacional para os três grupos: pais de crianças com cancro, pais de crianças sobreviventes ao cancro e pais de crianças sem doença
Estudo correlacional para os três grupos: pais de crianças com cancro, pais de
crianças sobreviventes ao cancro e pais de crianças sem doença
Componente Adaptabilidade Componente
física Coesão familiar Esperança mental
Componente física 0,19** ns 0,19** 0,62**
Coesão 0,32** 0,22** ns
Adaptabilidade familiar ns ns
Esperança 0,30**
Componente mental
** p < 0,01 / ns – não significativo

120
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Da análise do quadro 30 pode-se constatar que as correlações entre as


variáveis são baixas e positivas, excepto entre a componente física e mental, em
que a correlação é moderada.
As análises de correlação apresentadas em seguida, cujos valores dos
coeficientes obtidos se encontram no quadro 31, pretendem explorar a existência de
relações entre as variáveis envolvidas no estudo, para o grupo de pais de crianças
com cancro e pais de crianças sobreviventes ao cancro.

Quadro 31 Coeficientes de correlação (Pearson) entre os resultados obtidos nos instrumentos destinados a avaliar a esperança, dinâmica familiar, adaptação parental e qualidade de vida

Coeficientes de correlação (Pearson) entre os resultados obtidos nos instrumentos


destinados a avaliar a esperança, dinâmica familiar, adaptação parental e qualidade
de vida

Adaptabilidade

POQOLS total
Componente

Componente
Esperança

Factor 1

Factor 2

Factor 3
Coesão

familiar
Mental

física

Esperança 0,36** 0,24** ns -0,21* ns ns ns -0,20*


Componente
0,66** ns ns -0,38** -0,34** -0,314** -0,43**
mental
Componente
ns ns -0,29** -0,38** -0,28** -0,37**
física
Coesão 0,31** ns ns ns ns
Adaptabilidade
ns ns ns ns
familiar
Factor 1 0,44** 0,64** 0,94**
Factor 2 0,29** 0,66**
Factor 3 0,75**
POQOLS total
* p <0,05; ** p <0,01; ns – não significativo

121
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Da observação do quadro 31 pode-se constatar que:


• A esperança encontra-se positivamente correlacionada com a percepção de
saúde (mental e física) e negativamente correlacionada com a adaptabilidade
familiar.
• A correlação entre as duas componentes de percepção de saúde é positiva e
moderada. Contudo, encontram-se negativamente correlacionadas com a
qualidade de vida.
• A coesão e adaptabilidade familiar encontram-se positivamente
correlacionadas.
• Existem correlações baixas-moderadas entre os vários factores qualidade de
vida e uma relação moderada entre o factor 1 e 3. A escala total apresenta
uma correlação alta com o factor 3, moderada com o factor 2 e muito elevada
com o factor 1. Isto poderá significar que apesar de se ter encontrado
dimensões empiricamente diferentes, existe alguma relação entre a
qualidade de vida e as dimensões avaliadas.

122
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO VIII. Discussão dos resultados

123
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CAPÍTULO VIII. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

…“Naquele dia, quando regressei a casa depois do transplante,


comecei a compreender o que significava a leucemia. Percebi que
a leucemia não podia ser uma desculpa para não estudar, nem ser
a responsável pelos meus problemas. Era apenas um movimento
num jogo de xadrez. Era apenas um dia mau. Por isso, comecei a
compreender que só significava uma mudança na minha vida e não
o fim”…
(José Manuel, 17 anos, passados cinco anos após ter recebido
transplante de medula óssea citado por Acreditar, 1999)

No ponto anterior houve o ensejo de destacar os resultados mais pertinentes,


de forma a dar relevo aos aspectos merecedores de maior atenção. Nesta rubrica
pretende-se efectuar a integração dos resultados mais significativos com a teoria
relevante e fazer a sua comparação com outros estudos empíricos semelhantes.
Desta forma, após a apresentação e análise dos dados obtidos, assim como
dos resultados mais relevantes desta investigação, será efectuada a sua apreciação
à luz dos conhecimentos actuais e dos referenciais teóricos.
Por tudo isto, a discussão dos resultados será orientada com base nos
objectivos traçados para este estudo.

VIII.1. Esperança
Os estudos acerca da esperança em contexto de saúde/doença são
escassos. Contudo, verifica-se que tem vindo a aumentar o interesse dos
profissionais de saúde mental neste campo da Psicologia Positiva.
No âmbito da doença oncológica infantil a esperança situa-se na primeira
infância.
A esperança enquanto variável psicológica é estudada e desenvolvida por
vários autores, entre eles Snyder. Este autor desenvolveu várias escalas para
avaliação da esperança, nomeadamente, a utilizada neste estudo.
Snyder e colaboradores (1991; 1994; 2000) definem a esperança como um
pensamento conduzido por objectivos, em que o indivíduo faz uma avaliação da sua
capacidade para produzir caminhos que o levem a atingir determinados objectivos,
bem como a competência para dar início e finalizar este processo.
A presente investigação propôs-se avaliar e comparar a esperança entre pais
de crianças com cancro, pais de crianças sobreviventes ao cancro e pais de
crianças sem doença, relacionando-a com outras variáveis (psicológicas,
demográficas e clínicas).

124
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Os resultados encontrados, através da análise estatística, não evidenciam


diferenças estatisticamente significativas entre os três grupos em estudo. Contudo,
mostram que, os pais de crianças com cancro e sobreviventes, apresentam mais
esperança do que os pais de crianças sem doença e que, esta dimensão está
correlacionada de forma estatisticamente significativa com a percepção de estado
de saúde (medida de adaptação parental) e a adaptabilidade familiar. Para além
disso, a esperança em pais de crianças com cancro é inferior quando os seus filhos
estão em tratamento, bem como em crianças com tumores líquidos.
Tendo em conta a definição de esperança proposta por Snyder, pode-se
tentar compreender esta dimensão em pais de crianças com doença oncológica. A
luta e investimento destes pais pressupõem que exista energia para actuar e
capacidade para gerar meios para ultrapassar os obstáculos inerentes à doença,
como forma de atingir os objectivos.
Ter esperança é valorizado por estes pais como importante para si próprios,
mas também como uma percepção da sua universal necessidade, não só no
contexto de incerteza da doença dos filhos, mas também no de incerteza inerentes
ao futuro (Leal & Magão, 2000).
Outros autores têm associado a esperança a outras variáveis,
nomeadamente o coping (Kuperberg & Lynne, 1996; Felder, 2004).
Kuperberg e Lynne (1996) sugerem que os comportamentos familiares estão
positivamente correlacionados com a esperança e a auto-estima, indicando que as
variáveis familiares, a esperança e a auto-estima representam uma função
importante para os pacientes com cancro.
Tal como foi mencionado anteriormente, a esperança correlaciona-se de
modo estatisticamente significativo com a adaptação parental e a adaptabilidade
familiar, de forma positiva e negativa, respectivamente. Por tudo isto, pode-se
concluir que a esperança é uma variável que interfere no processo de adaptação
parental à doença oncológica infantil, podendo afirmar-se que a esperança poderá
funcionar como mobilizadora para a acção e como provável variável intermediária,
entre a preocupação com o futuro da criança e o investimento na sua reabilitação.
Para além disso, o contacto pessoal com estes pais permitiu ir um pouco
mais além dos resultados empíricos. E, embora seja uma constatação puramente
subjectiva, a esperança, a fé e o acto de acreditar, estão presentes em cada um dos
pais entrevistados.

125
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Estes resultados vêm ainda confirmar que a esperança parece ser valorizada
no processo de coping com a doença do filho, em particular o confronto com a
probabilidade prognóstica (Leal & Magão, 2000).
Bjork (2005) num estudo efectuado com 17 famílias, menciona que o dia-a-
dia seguro das famílias desaparece e é substituído pelo medo, caos e solidão. Na
luta para que a criança e a família sobrevivam, os membros da família procuram
sentir a esperança e focar aspectos positivos para ganhar controlo, e para se
sentirem próximos de outras pessoas.
Por tudo isto, considera-se importante olhar para a esperança destes pais,
observando também o seu desespero e simultaneamente o desejo de cura dos seus
filhos. A esperança surge, neste contexto, como uma luz que rasga as trevas
(Alberoni, 2002), que lhes permite enfrentar a doença e lutar incessantemente para
obtenção do seu maior anseio: a sobrevivência da criança e da família.
Na vivência da esperança destes pais, parece existir um sentido do possível,
que está de alguma forma presente na pessoa ou na situação. Esse sentido do
possível é um componente de orientação para o futuro (Magão, 2000).
A esperança irá permitir a mobilização dos pais para a acção, para a luta
contra o cancro e a reabilitação da criança e da família.

VIII.2. Adaptação parental: resultado de uma medida de estado de saúde


Esta investigação propôs-se estudar a adaptação parental na doença
oncológica infantil, avaliando a percepção do estado de saúde dos progenitores, em
termos físicos e mentais.
A literatura tem vindo a debruçar-se sobre o processo de adaptação
psicológica dos pais à doença oncológica infantil, evidenciando que este processo
pode depender da capacidade que eles manifestam para lidar com ansiedades e
distress psicológico, causado pela experiência traumática (Chang, 1991).
Perante a doença oncológica de uma criança a reacção parental passa por
diferentes fases, segundo o modelo proposto por Kübler-Ross (1969). Isto é, são
várias as fases pelas quais as famílias vão passar ao longo do processo de
adaptação. A fase inicial é de choque, sendo normalmente descrita como um
mecanismo de protecção e que permanece por um período curto de tempo. Esta
fase é seguida pela negação, que pode ser mais prolongada no tempo e tem como
objectivo proteger o sujeito e a família das implicações da doença. O sentimento de

126
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

fúria/ira pode surgir de forma paralela ou posteriormente à negação. Pode ser


dirigida directamente para a família, para os profissionais de saúde ou a Deus e
responde essencialmente à injustiça da situação e ao facto de sentirem
necessidade de efectuar mudanças no seu estilo de vida. O autor refere ainda que,
em qualquer destas fases, a depressão pode marcar presença.
Alguns estudos têm apontado algumas variáveis associadas ao
comportamento parental, tais como, variáveis demográficas, relacionadas com a
doença e co-ocorrência de acontecimentos de vida stressantes, a personalidade da
criança e dos pais, estilos de coping, satisfação conjugal e suporte social (Hoekstra-
Weebers et al, 2000).
Os resultados obtidos neste estudo sugerem correlações estatisticamente
significativas, nas seguintes variáveis sócio demográficas em relação à percepção
de estado de saúde: grau de escolaridade, situação profissional, número de filhos,
dimensão do agregado familiar e a vivência de situações stressantes pela família no
ano anterior.
A percepção de estado de saúde nas duas dimensões, encontra-se
positivamente correlacionada com o grau de escolaridade dos progenitores. O
número de filhos e a dimensão do agregado familiar estão correlacionados
negativamente com a percepção de estado de saúde física.
Segundo Wong (1999), o tamanho da família influencia as práticas paternas,
havendo maior pressão para superar expectativas e maior participação democrática
das crianças numa família pequena. Esta paternidade intensiva, centrada no
desenvolvimento individual da criança, quando esta é portadora de uma doença
crónica, pode produzir disfunção em todo o sistema familiar, devido à
descontinuidade de função gerada pelo conflito de expectativas dos pais em relação
à criança com incapacidades.
Contrariamente, nas famílias numerosas, há maior ênfase sobre o grupo e
menor pressão sobre o indivíduo, pelo que as crianças são capazes de se
ajustarem mais facilmente a variadas modificações e crises. A partilha de um
mesmo espaço por muitas pessoas requer maior grau de organização e controlo
pelo membro dominante da família, podendo cada criança assumir funções
especializadas para ganhar o reconhecimento dos outros membros e adquirir um
sentimento de segurança, estimulado pelo apoio e cooperação dos irmão mais
velhos.

127
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Embora esta investigação não identifique diferenças estatisticamente


significativas entre os diferentes estados civis, a literatura indica que a família
nuclear, composta por marido, esposa e filhos, vivendo num domicílio comum,
constitui a unidade familiar mais frequente em todas as culturas. Em termos de
suporte e de controlo parental, para lidar com as situações stressantes decorrentes
da doença oncológica da criança, este tipo de estrutura familiar parece melhor
dotada do que a família monoparental, quer em termos de recursos financeiros,
temporais ou energéticos.
A família de mãe/pai solteiro não representa um facto recente e cada vez
mais mulheres escolhem ter um filho, mas não um marido (Wong, 1999), devido em
especial à independência psicológica e económica da mulher e à crescente
aceitação e protecção social da mãe solteira. Os avós têm, nestas famílias, um
espaço e um papel fundamental, tanto para aliviar o cansaço parental, como para
permitirem à mãe/pai solteiro contrabalançar o trabalho com os deveres e os
cuidados à criança doente, não abdicando em absoluto das suas actividades
pessoais e profissionais (Strett, 1989 citado por Wong,1999).
Para a percepção de saúde mental, verifica-se uma correlação negativa com
o grau de escolaridade e a vivência de situações stressantes.
Relativamente à situação profissional verifica-se que os progenitores que se
encontram empregados e no activo, apresentam valores mais positivos de
percepção de estado de saúde, do que os progenitores sem actividade profissional
(com baixa, desempregados e reformados).
No entanto, a revisão bibliográfica indica que os dados de estudos empíricos
efectuados neste campo evidenciam resultados contraditórios, relativamente à
adaptação parental.
Num estudo efectuado por Dockerty et al (2000) as diferenças encontradas
entre a saúde mental de pais de crianças com cancro e do grupo de controlo foram
pequenas, sugerindo que os pais de crianças com cancro são relativamente
resilientes.
Svavarsdottir (2004) enfatiza o impacto da doença oncológica infantil no bem-
estar e cuidados prestados pelos pais, demonstrando que uma grande percentagem
das mães apresentam ter sinais clínicos de stress comparativamente aos pais.
Indo de encontro a outros estudos efectuados, esta investigação sugere
diferenças na saúde mental e física de pais de crianças com cancro, quando
comparados com pais de crianças sobreviventes ao cancro e sem doença.

128
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Quando consideradas as duas dimensões da medida de estado de saúde,


observa-se a existência de diferenças estatisticamente significativas, quer ao nível
da componente física, quer da mental. Contudo, a componente mental é aquela que
apresenta maiores variações.
Os pais de crianças com cancro e em tratamento apresentam resultados
inferiores de percepção de saúde mental, quando comparados com pais de crianças
fora de tratamento, sobreviventes e sem doença.
Da análise dos resultados estatísticos pode-se observar que, a componente
física apresenta diferenças estatisticamente significativas entre pais de crianças que
se encontram em tratamento e pais de crianças fora de tratamento, ou seja, os
resultados da percepção de saúde física dos pais de crianças em tratamento é
inferior aos de crianças fora de tratamento.
Os resultados não apontam diferenças entre os progenitores, contudo as
mães apresentam resultados mais baixos, quer na componente física, quer na
componente mental. Sublinha-se contudo, que os valores da componente mental
são mais baixos, quer nos pais, quer nas mães, conforme era esperado.
O tipo de tumor parece também influenciar a saúde mental destes pais, uma
vez que, pais de crianças com tumores líquidos apresentam valores mais baixos
nesta dimensão.
Poderá concluir-se que existem diferenças estatisticamente significativas nas
duas componentes, quando comparadas com a variável tratamento. O tratamento
influencia a percepção de estado de saúde dos progenitores, reflectindo-se, desta
forma, na adaptação parental.
O tratamento é uma variável importante neste processo uma vez que, de
forma estatisticamente significativa ou não, parece interferir nos resultados obtidos
através dos diferentes instrumentos de avaliação.
O tratamento traz consigo a esperança e o medo, o medo da morte, da perda
de um filho e de se perderem a si próprios nesta luta incessante contra o Adamastor
que representa o cancro na criança e na família.
Em 1997, Kazak evidenciou o impacto a longo prazo nos pais, resultante do
tratamento do cancro infantil. Este estudo comprova que é na fase de tratamento
que os pais evidenciam resultados mais baixos no estado de saúde, em particular, a
saúde mental.
Tanto a componente mental, como a física, apresentam correlações
negativas com os valores da escala de qualidade de vida dos seus filhos, o que

129
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

poderá indicar que a percepção de estado de saúde dos pais, poderá influenciar a
percepção que possuem da qualidade de vida dos seus filhos.
A idade da criança, no momento do diagnóstico, apresenta uma correlação
negativa nas duas dimensões.
O ajustamento da criança e da família à situação de doença oncológica é
substancialmente influenciado pela idade da criança, quando se identifica a doença.
É mais fácil para a criança adaptar-se à sua doença, quando esta é diagnosticada
precocemente, pois as possíveis limitações impostas pela doença são incorporadas
no seu processo de desenvolvimento, enquanto que para os pais, este momento
pode ser dramático e severo, pois confrontam-se com sentimentos de perda e de
luto difíceis de gerir emocionalmente.
Embora a literatura reforce a resiliência destes pais, este estudo aponta para
défices na sua saúde, em especial, a saúde mental.
Provavelmente, porque o tratamento do cancro infantil, embora já não seja
tão severo, acarreta mudanças na criança e no seio da família. É uma fase
turbulenta a todos os níveis. Pais e mães abandonam os seus empregos para
diariamente acompanharem os seus filhos ao hospital, abandonam os seus papéis
sociais e familiares, deixam de ser um casal e vivem a tempo inteiro a profissão de
pai e mãe.
Por tudo isto, é difícil separar a adaptação parental do funcionamento
familiar. Streisand et al (2003) refere que um aumento no stress pediátrico parental
está associado a resultados do funcionamento familiar mais baixo. Seria assim de
esperar uma correlação diferente da obtida entre o funcionamento familiar e os
resultados do SF12, dado que, a correlação encontrada foi muito baixa. Isto vem de
encontro ao pensamento de Relvas (2000), ao afirmar que não é o carácter
agradável ou desagradável dum acontecimento que o define como crise, mas sim o
seu carácter de mudança.
Para além disso, estes resultados poderão ser indicadores de que os
elementos da família mais afectados são os progenitores, dado o seu investimento a
todos os níveis, na doença e no filho.

130
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

VIII.3. Dinâmica familiar: coesão e adaptabilidade


A família é, para todas as crianças, com ou sem doença, o meio social mais
importante e a sua principal fonte de experiências. Contudo, o aparecimento de uma
doença pode alterar a vida das crianças, dos seus pais e irmãos, bem como
prejudicar o desenvolvimento das relações familiares.
O aparecimento da doença oncológica na criança tem frequentemente
associado uma necessidade de adaptação quer da criança, quer da família, em
particular, a adaptação parental.
O desenvolvimento da doença, da criança com doença e da família, têm em
comum a noção de épocas marcadas pela alternância de períodos de
construção/manutenção da estrutura de vida e de períodos de mudança dessa
estrutura (Marinheiro, 2002).
Os familiares das crianças são agentes activos no processo de doença e, tal
como a criança, a família vivencia também uma situação de crise (Pereira & Lopes,
2005), daí a importância de avaliar o funcionamento familiar destas crianças. Este
aspecto constituiu um objectivo importante no presente estudo.
Embora os resultados encontrados não tenham evidenciado diferenças
estatisticamente significativas entre as variáveis em estudo, podemos constatar que
os valores da coesão são, em todas as variáveis, superiores aos da adaptabilidade
familiar. Coesão entendida como as ligações efectivas existentes entre os vários
elementos da família e a adaptabilidade familiar definida pelas alterações do
sistema ao nível da liderança, dos papéis e regras, em resposta a situações de
stress ou crise familiar. Desta forma, os resultados obtidos nas famílias de crianças
com cancro eram conjecturáveis, dadas as características da própria doença e as
consequências que impõe ao sistema familiar.
A forma como a família lida com os momentos de crise, anteriores ao cancro
na criança, o modo como se organizaram para lidar com outras situações de
doença, os sentimentos de competência ou de fracasso que emergiram dessas
experiências, influenciam o funcionamento actual da vivência com a doença
oncológica da criança.
As situações de crise implicam grande stress na vida familiar. Se é verdade
que coincidem com uma maior probabilidade de disfuncionamento na família,
também se pode observar que nem sempre os acontecimentos que os assinalam
têm uma carga afectiva negativa. Com efeito, toda e qualquer mudança causa

131
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

stress (...) O casamento ou uma reconciliação conjugal causa mais stress do que a
doença de um familiar ou a saída de um filho de casa. Não é portanto o carácter
agradável ou desagradável dum acontecimento que o define como crise, mas sim o
seu carácter de mudança (Relvas, 2000).
Poderá ajudar a compreender os resultados, a visão de Rolland (1995), ao
mencionar que outros componentes poderão também intervir no funcionamento
familiar destas crianças, como sejam o significado da doença para a família, o
planeamento médico da família na crise, a capacidade familiar de prestar cuidados
em casa, a comunicação familiar orientada para a doença, a solução de problemas,
a substituição de papéis, o envolvimento afectivo, a rede social de apoio e a
utilização e disponibilidade de recursos da comunidade.
O impacto da doença na família vai depender da fase de desenvolvimento em
que a família se encontra no momento do diagnóstico da doença, da forma como a
dinâmica familiar é afectada e do significado que é atribuído à doença em termos de
identidade familiar (Pereira & Lopes, 2002).
Estas variáveis contidas globalmente na avaliação do nível de funcionamento
familiar, têm um peso diferente em cada sistema familiar estudado, interferindo de
modo desigual nos resultados obtidos.
O autor refere ainda que, a situação de doença serve para tornar mais rígida
uma disfunção familiar já existente. Nestes casos, será indispensável considerar os
padrões de adaptação familiar já existente.
Toda e qualquer família está sujeita a mudanças, ao stress, e passa
necessariamente por várias crises. As famílias diferenciam-se na forma como são
capazes de as elaborar, isto é, de encontrar vias que lhes permitam a
reestruturação que as faz avançar no caminho da co-evolução. Diferenciam-se na
flexibilidade, na possibilidade de encontrar o equilíbrio dinâmico na abertura-fecho
do sistema, “forçando” um ou outro aspecto conforme o momento evolutivo o exige
(Relvas, 2000).
Segundo o Modelo Circumplexo proposto por Olson (1985) as famílias dos
três grupos classificam-se de flexivelmente separadas.
Tal como refere Bradford (1997), embora a doença na família seja um
stressor severo, não se pode afirmar que representa um acontecimento adverso.
Assim, o facto de termos famílias com funcionamento saudável será um bom
indicador, significando que a família foi capaz de se reorganizar e vencer a crise
despoletada pelo cancro na criança.

132
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

VIII.4. Qualidade de vida da criança: adaptação de um instrumento


O estudo da qualidade de vida na doença oncológica infantil surge associado
às mudanças que têm vindo a surgir, em especial, nos últimos 30 anos, no que
concerne ao tratamento e aumento da sobrevivência à doença. Este constructo veio
dar mais um contributo para uma abordagem holista do cancro pediátrico, embora a
literatura aponte para várias dificuldades na avaliação da qualidade de vida neste
grupo (Chang & Yeh, 2005).
Nesta investigação foi proposto a avaliação da qualidade de vida de crianças
com e sobreviventes ao cancro, através de um questionário preenchido pelos
progenitores, efectuando a sua adaptação para a população portuguesa. Este
objectivo final prende-se como o facto de se constatar a falta de instrumentos desta
índole.
Existem vários estudos que usam os pais como informadores acerca da
qualidade de vida dos seus filhos. Contudo, as opiniões divergem acerca deste
método de avaliação.
Eiser et al (2005b) sugerem que se deve ter cuidado quando as mães
avaliam a qualidade de vida dos seus filhos. Por outro lado, Goodwin et al (1999)
referem que uma medida que usa como informador um progenitor e que contém
itens que podem ser aplicados tanto a pais de crianças como a pais de
adolescentes, poderá facilitar comparações entre crianças de várias idades.
A investigação tem demonstrado que crianças mais novas não são capazes
de avaliar a sua qualidade de vida (Chang & Yeh, 2005), enquanto que crianças a
partir dos 5 anos já são capazes de fazer essa avaliação (Hinds et al, 2006). Assim,
para crianças mais novas os progenitores podem fornecer informação válida acerca
da qualidade de vida dos seus filhos.
Depois da análise dos resultados pode afirmar-se que os pais das crianças
com doença oncológica pertencentes a este estudo percepcionam a qualidade de
vida dos seus filhos como sendo baixa, sendo a componente da qualidade de vida
física (factor 1 e factor 3) a que revela melhor estes dados.
Embora não existam diferenças estatisticamente significativas entre os
resultados de pais e mães, ambos percepcionam a qualidade de vida dos seus
filhos como sendo baixa, em especial as mães.
Estes resultados vão de encontro ao que a literatura tem vindo a sugerir,
mencionando que a qualidade de vida das crianças com doença oncológica, em

133
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

termos psicossociais, é a componente menos afectada com o surgimento da doença


(factor 2). Eiser e Morse (2001) sugerem que as crianças diagnosticadas com
cancro podem, a partir de uma determinada altura (em especial após o tratamento),
começar a experienciar algumas limitações ao nível das competências físicas.
Estes resultados podem estar associados ao facto de os pais sentirem que
não podem diminuir os sintomas físicos e a sintomatologia associada ao tratamento
médico activo.
A percepção da qualidade de vida parece estar relacionada com a situação
da criança face ao tratamento, isto porque, pais de crianças em tratamento
apresentam valores de qualidade de vida mais baixos, o que vem reforçar a teoria
de Cantrell (2007) que declara que a vivência durante o tratamento e as respostas
individuais ao mesmo têm uma influência na qualidade vida.
Estes dados vêm de encontro à literatura que menciona que as crianças a
efectuar tratamento apresentam valores mais baixos de qualidade de vida, e ainda,
que os sobreviventes fora de tratamento manifestam resultados de qualidade de
vida superiores aos de crianças com cancro (Shankar et al, 2005).
A análise estatística evidencia uma correlação estatisticamente significativa
entre a idade da criança no momento do diagnóstico e a qualidade de vida (total e
factor 1).
Estas informações poderão estar relacionadas com a idade das crianças do
grupo de sobreviventes no momento do diagnóstico, aproximadamente 4 anos,
sendo muito jovem para sentir alguns dos impactos negativos, do cancro e
tratamento. E ainda, poderá estar associado ao facto que já ter passado bastante
tempo após a vivência da doença (M= 8 anos).
Torna-se importante sublinhar que os tratamentos não devem apenas
aumentar a esperança de vida da criança, mas também melhorar a sua qualidade
de vida (Eiser & Morse, 2001).
Um estudo levado a cabo por Eiser et al (2002) demonstrou que, tanto as
mães, como os sobreviventes a tumores do SNC apresentavam níveis de qualidade
de vida mais baixos do que os doentes com leucemia linfoblástica (tumores
líquidos). E ainda que, os sobreviventes de leucemia linfoblástica, apresentavam
défices ao nível da saúde psicossocial.
Na presente investigação, os resultados sugerem que os pais de crianças
com tumores sólidos apresentam uma percepção da qualidade de vida dos seus
filhos superior à dos pais de crianças com tumores do SNC e ainda que, não

134
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

existem diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de pais de crianças


com tumores líquidos, em relação aos tumores do SNC e tumores sólidos.
Os resultados da análise estatística indicam ainda que, o estado civil dos
progenitores, a sua situação profissional e a vivência de situações stressantes se
encontram correlacionados de forma estatisticamente significativa com a percepção
de qualidade de vida dos seus filhos.
Os resultados mostram que os pais divorciados e viúvos são os que
apresentam uma inferior percepção de qualidade de vida dos seus filhos.
Relativamente à situação profissional, os pais que apresentam uma
percepção de qualidade de vida dos filhos mais positiva são os que se encontram
empregados e no activo, seguindo-se os pais em situação de reforma, os
desempregados e finalmente, os pais com baixa médica.
Em relação às experiências stressantes vivenciadas pela família no último
ano, os resultados sugerem a existência de uma correlação estatisticamente
significativa com o factor 2 (problemas emocionais).
Por tudo isto, não é difícil de compreender como o cancro pode comprometer
a qualidade de vida da criança em todos os aspectos e ainda que, o tratamento
pode comprometer a qualidade de vida da criança com cancro.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Conclusão

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

CONCLUSÃO

Olhei-te nos olhos, vi a tua dor…


No teu sorriso, a esperança…
és um adulto,
no corpo de uma criança…
De ti levo a força…
E o sorriso no olhar…
A força de quem sofre…
E não pára de lutar!!!
(Marisa Silva, 2007)

No âmbito deste projecto de investigação, dada a complexidade do tema


houve muitos aspectos que acabaram por não ser salientados. Por este motivo, esta
conclusão será entendida como um conjunto de reflexões finais que não pretendem
ser interpretadas como conclusões definitivas, mas sim como um processo de
enumeração de alguns pontos mais salientes que foram surgindo ao longo do
trabalho. Procurar-se-á, conjuntamente, levantar algumas questões, sugerir
algumas indicações para investigações futuras e ainda, expor os limites do próprio
estudo.
O presente estudo procurou avaliar e, acima de tudo, compreender o
processo de adaptação parental à doença oncológica infantil, relacionando-o com
outras variáveis (demográficas, clínicas e psicológicas). Pretendeu ainda, efectuar a
adaptação de um instrumento de avaliação da qualidade de vida, a Pediatric
Oncology Quality of Life Scale, para a população portuguesa.
Numa primeira abordagem ao objecto deste estudo, foi efectuada uma
revisão teórica sobre a doença oncológica, em especial a doença oncológica infantil.
Foi esta revisão bibliográfica centrada na doença oncológica infantil que
permitiu realizar o enquadramento final da investigação e traçar os seus objectivos.
Para além de permitir alicerçar o pressuposto de que o cancro na infância constitui
um risco em termos de adaptação familiar (em especial parental), permitiu
seleccionar as variáveis a avaliar, entre os múltiplos factores envolvidos neste
processo.
“Tal como o doente, a família também vivencia uma situação de crise”
(Pereira & Lopes, 2005, pp. 72).
Considerando os resultados obtidos, pode-se extrair como conclusão que
existem algumas diferenças na adaptação parental, resultantes das múltiplas
variáveis intervenientes neste processo, existindo também algumas semelhanças,
decorrentes do têm em comum: a doença oncológica de um filho.

137
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Relativamente à adaptação do instrumento, embora a análise factorial da


versão portuguesa apresente algumas diferenças em relação à versão original, a
Pediatric Oncology Quality of Life Scale parece ser um instrumento com
características metrológicas satisfatórias e que poderá ser desenvolvido mais
profundamente em outros estudos nesta área.
Considera-se ainda importante abordar alguns aspectos subjectivos desta
investigação, mas que não se podem dissociar dela. São considerações pessoais
da investigadora, que foram emergindo na tomada de contacto com a realidade.
O momento da entrevista com os pais proporcionou-lhes um espaço para
falarem sobre as suas angústias e medos face à situação do filho. Poderia dizer-se
que, para muitos pais, este foi um espaço para a catarse. Daí que a intervenção
psicológica com estes pais seja fundamental, para eles, para a família e para a
criança doente.
Informalmente, constata-se que tanto a criança como os seus pais vivenciam
ou já vivenciaram, momentos de intenso sofrimento, que se sentiram sós e
inseguros, que experienciaram medos, angústias e dificuldades em cada dia e que
expressaram terem sentido necessidade de apoio e acompanhamento durante o
decurso da doença.
Muitos dos pais com crianças sobreviventes ao cancro vivem ainda na
actualidade a experiência passada, retratam-na como um acontecimento recente.
Imagens muito reais e ainda muito presentes, na vida e no pensamento destes pais.
O tempo parece não apagar a dor e o medo de perder um filho.
A morte… algumas destes pais que este estudo envolve, viram partir os seus
filhos, dias ou meses após a entrevista. Na memória fica a dor de ver partir uma
criança, com quem partilhamos sorrisos, olhares, dores e brinquedos. Tantas vezes,
um sorriso no rosto e a dor no olhar. É verdade, também nos dói a nós, profissionais
de saúde.
Esta conclusão ficaria incompleta se não fossem referenciados os aspectos
desta investigação, que deveriam ser considerados em futuros estudos neste
contexto.
Um aspecto que poderá enriquecer a importância deste tipo de estudo diz
respeito à amostra. Torna-se assim essencial calcular previamente o tamanho da
amostra, necessário à detecção de diferenças entre grupos de uma magnitude
específica e para um determinado grau de certeza.

138
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Relativamente ao questionário elaborado para servir de guião da entrevista,


existem alguns aspectos que mereciam ser modificados, nomeadamente, a
formulação de algumas questões, como as que dizem respeito às situações
stressantes vivenciadas pela família, no sentido de avaliar não apenas a quantidade
de situações stressantes, mas também perceber se a família as sentiu como
positivas ou negativas, isto é, a percepção sobre o impacto destas no seu
funcionamento.
Um outro aspecto será o de recorrer a múltiplos informantes na avaliação da
qualidade de vida da criança, isto porque, se reconhece que os pais, crianças,
professores, técnicos de saúde, podem todos fornecer perspectivas específicas e
complementares relativamente à qualidade de vida da criança com cancro.
Considera-se que deveria ter sido utilizado um outro informante, para que os
resultados fossem mais representativos da realidade.
Para finalizar, são tecidas algumas considerações acerca das implicações
práticas e clínicas desta investigação, em particular quanto à intervenção
psicológica junto de pais e crianças com cancro. Considera-se que a avaliação do
funcionamento familiar, do stress parental e da qualidade de vida da crianças, são
aspectos importantes a ter em consideração no acompanhamento e tratamento de
uma criança com cancro e sua família, como forma de os profissionais de saúde
ajudarem a diminuir o caos que surge na família.
Para concluir, importa ainda referir a gratificação pessoal e os conhecimentos
profissionais adquiridos, difíceis de transpor para o papel, que ficaram após o
término da investigação. Foi uma experiência muito gratificante e enriquecedora,
que apelou em todos os momentos à empatia, uma empatia com a dor, tornando-se,
por vezes, difícil separar o pessoal do profissional.
Fica o desejo de que este estudo desperte o interesse de outros
investigadores para obtenção de novos e mais concludentes resultados, sobre a
problemática da doença oncológica infantil na criança e na família.

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Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

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Social Science & Medicine; 46(12), 1569-1585.
Torga, M. (1993). Diário XVI. Coimbra: Edições do autor.
Trask, P., Paterson, A., Trask, C., Bares, C., Birt, J. & Maan, C. (2003). Parent and
adolescent adjustment to pediatric cancer: associations with coping, social support,
and family function. Journal of Pediatric Oncology Nursing, 20 (1), 36-47.
Wilkin D., Hallam, L & Doggett, M. (1993). Measures of need and outcome for
primary health care. (Rev. Ed.) (Oxford medical publications). Oxford University
Press. New York.
Wong, D. (1999). Enfermagem pediátrica, elementos essenciais à intervenção
efectiva: 5ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara.
Woods, M., Findlay, M., Young, B., Cox, H. & Heney, D. (2001). Parent´s accounts
of obtaining a diagnosis of childhood cancer. The Lancet, 357, 670-674.
Yeh, C. (2002). Gender differences of parental distress in children with cancer.
Journal Of Advanced Nursing, 38 (6), 598-606.

148
Esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar
no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil.

Anexos

149
Anexo I
Pedido de autorização ao Hospital de S. João
e parecer da Comissão de Ética
Anexo II
Questionário para pais de crianças com cancro e sobreviventes
Projecto de Investigação

Integrado no Curso de Mestrado em Psicologia da Saúde da Faculdade de Psicologia


e Ciências da Educação da Universidade do Porto

Título: Estudo das variáveis psicológicas – esperança, qualidade de vida e a


dinâmica familiar – no processo de adaptação parental à doença oncológica
infantil.

Um estudo realizado com três grupos: pais de crianças sobreviventes ao cancro,


pais de crianças com cancro e pais de crianças sem doença.

Investigadora: Dr.ª Marisa de Fátima Correia Ferreira da Silva


Orientador: Professor Doutor José Luís Pais Ribeiro

O objectivo geral desta investigação consiste na análise e compreensão das


variáveis psicológicas – esperança e qualidade de vida – e a sua hipotética relação com
a dinâmica familiar no processo de adaptação parental à doença oncológica. Entende-se
que esta adaptação se traduz na percepção e estado de saúde dos pais. Pretende-se ainda,
estabelecer uma possível relação destas variáveis com a sobrevivência à doença.
Para tal iremos utilizar três grupos: pais de crianças sobreviventes ao cancro,
pais de crianças com cancro e pais de crianças sem doença.
Vimos assim convidá-lo (a) a participar neste estudo, através da realização de
uma entrevista, que decorrerá aqui no Hospital e demorará cerca de 30 minutos.
Nesta entrevista serão recolhidos alguns dados sócio-demográficos e será pedido
que responda a alguns questionários. Ao longo dos questionários encontrará indicações
específicas ao seu preenchimento.
É importante que responda a todas as questões, pelo que lhe pedimos que reveja
se se esqueceu de alguma questão, antes de o entregar. Não existem respostas certas ou
erradas, pelo que qualquer resposta que dê é correcta, o importante é que responda com
sinceridade às questões colocadas. Solicitamos que responda de acordo com a sua
opinião/ situação concreta, pois só assim poderemos conhecer a sua realidade.
A participação dos sujeitos não resultará em qualquer tipo de dano ou
desconforto mental.
Saiba ainda que todas as informações que nos fornecer são estritamente
confidenciais e serão utilizadas apenas neste estudo.
Se concordar em participar agradecemos que preencha o formulário
consentimento informado, que junto anexamos. Se por qualquer razão não quiser
participar neste estudo, agradecemos de igual modo a sua atenção.
Agradecemos desde já a sua disponibilidade para colaborar!
Consentimento Informado

Se concordar em participar neste estudo, assine no espaço abaixo indicado, que


posteriormente será destacado dos restantes documentos, uma vez que será mantida
confidencial a identificação dos participantes.
Desde já agradecemos a sua colaboração.

Eu, abaixo assinado, ________________________________________________


(nome completo), pai/mãe de______________________________________________
(nome do(a) filho(a)) compreendi a explicação que me foi fornecida acerca da
investigação que se tenciona realizar, bem como dos objectivos do estudo em que serei
incluído. Foi-me dada oportunidade de fazer as perguntas que julguei necessárias, e de
todas obtive resposta satisfatória.
Tomei também conhecimento de que, de acordo com as recomendações da
Declaração de Helsínquia, a informação ou explicação que me foi prestada versou os
objectivos, os métodos, os benefícios previstos, os riscos potenciais e o eventual
desconforto. Além disso, foi-me afirmado que tenho o direito de recusar a todo o tempo
a minha participação no estudo, sem que isso possa ter consequências para mim e para o
meu filho(a).
Por isso, aceito participar na investigação, colaborando no preenchimento dos
questionários que me serão entregues.

Assinatura
________________________________________________________________
Data __/__/____

O investigador responsável:
Nome:
Assinatura:
Questionário
(Guião da entrevista ao pai/mãe)

Dados da criança

Número de identificação: ________


Sexo: __________________
Idade: _____
Data de Nascimento: ___/___/___
Ano de Escolaridade: ___________
Idade em que foi feito o diagnóstico_____________________________________
Profissão do Pai: _____________________________________________________
Profissão da Mãe: ____________________________________________________
Com quem vive a criança:

Pai □
Mãe □
Irmãos □
Quantos? ____________
Avôs □
Outros □
Quem? ____________
Questionário sócio-demográfico

Neste questionário deverá simplesmente colocar uma cruz (X) no quadrado que
estiver mais de acordo com a sua situação ou responder em breves palavras, nos locais
solicitados.

1. Quem preenche os questionários:

Pai □
Mãe □
2. Sexo

Feminino □
Masculino □
3. Idade________ anos

4. Estado civil

Solteiro(a) □
Casado(a)/Junto(a) □ Há quanto tempo?_______
Divorciado(a)/Separado(a) □
Viúvo(a) □
5. Anos de Escolaridade______________________________________________

6. Qual a sua situação perante o emprego

Empregado(a) □
Activo □
Com baixa □
Desempregado(a) □
Reformado(a) □
7. Número de filhos________

8. Local de residência
Concelho (especificar) _______________________________________

Distrito (especificar) ________________________________________

9. Com quem vive

Com cônjuge/companheira(o) □
Com a família restrita (esposa/marido, filhos) □
Com a família alargada (filhos, pais, sogros, etc.) □
Sozinho(a) □
10. No último ano a família vivenciou algum(a) desta (s) experiências?

Mudança de zona de residência □


Divórcio ou separação □
Morte □
Doença grave de um parente próximo □
Escala de Futuro

Leia cuidadosamente cada pergunta. Na escala que segue a pergunta assinale com um círculo o número que o descreve melhor.

Quase Quase
Totalmente totalmente Em parte Ligeiramente Ligeiramente Em parte totalmente Totalmente
Falsa Falsa falsa falsa verdadeira verdadeira verdadeira verdadeira
Consigo pensar em muitas maneiras de me livrar de
1. 1 2 3 4 5 6 7 8
enrascadas.

2. Persigo os meus objectivos com muita energia. 1 2 3 4 5 6 7 8

3. Sinto-me cansado/a a maior parte do tempo. 1 2 3 4 5 6 7 8

4. Qualquer problema tem muitas soluções. 1 2 3 4 5 6 7 8

5. Vou-me abaixo facilmente com uma discussão. 1 2 3 4 5 6 7 8

Consigo pensar em muitas maneiras para conseguir as


6. 1 2 3 4 5 6 7 8
coisas da vida que são importantes para mim.

7. Preocupo-me com a minha saúde. 1 2 3 4 5 6 7 8

Mesmo quando os/as outros/as perdem a coragem, eu sei


8. que consigo encontrar uma maneira de resolver o 1 2 3 4 5 6 7 8
problema.
A minha experiência de vida preparou-me bem para o
9. 1 2 3 4 5 6 7 8
futuro.

10. Tenho tido bastante sucesso na vida. 1 2 3 4 5 6 7 8

11. Normalmente ando preocupado/a com alguma coisa. 1 2 3 4 5 6 7 8

12. Alcanço os objectivos que defini para mim próprio/a. 1 2 3 4 5 6 7 8


Questionário do Estado de Saúde SF12

Por favor responda a cada uma das perguntas. Algumas perguntas são parecidas, mas de facto
são diferentes. Não tenha pressa em responder e responda às questões cuidadosamente,
assinalando com uma cruz (X) no quadrado à frente da pergunta a resposta que melhor
representa a sua opinião.

Por exemplo:

Isto só serve de exemplo. Não responda a esta questão. O questionário começa a seguir a esta
parte, quando lhe for indicado.

Para cada questão ser-lhe-á pedido que assinale no quadrado em cada linha:

Quanto concorda ou discorda com cada uma das seguintes afirmações:

1. Em que medida concorda ou discorda com cada uma das seguintes afirmações?
Concordo Não tenho a Discordo
Concordo Discordo
totalmente certeza totalmente

a. Gosto de ouvir música □ □ □ □ □


b. Gosto de ler revistas □ □ □ □ □
Por favor comece a responder agora:

1. Em geral, como diria que a sua Saúde é:

Óptima Muito Boa Boa Razoável Fraca

□ □ □ □ □
2. As perguntas que se seguem são sobre actividades que executa no seu dia-a-dia.
Será que a sua saúde o/a limita nestas actividades? Se sim, quanto?
Sim, muito Sim, um pouco Não, nada
limitado/a limitado/a limitado/a
a. Actividades moderadas, tais
como deslocar uma mesa ou
aspirar a casa
□ □ □
b. Andar mais de 1km □ □ □
3. Durante as últimas quatro semanas teve no seu trabalho ou actividades diárias algum
dos problemas apresentados a seguir como consequência do seu estado de saúde
física?
Sim Não
a. Sentiu-se limitado/a no tipo de trabalho ou outras
actividades. □ □
b. Teve dificuldade em executar o seu trabalho ou
outras actividades (por exemplo, foi preciso mais
esforço).
□ □
4. Durante as últimas quatro semanas, teve com o seu trabalho ou com as suas
actividades diárias, algum dos problemas apresentados a seguir devido a problemas
emocionais (tal como sentir-se deprimido/a ou ansioso/a)?
Sim Não
a. Diminui o tempo gasto a trabalhar, ou noutras
actividades. □ □
b. Fez menos do que queria. □ □
5. Durante as últimas quatro semanas, de que forma é que a dor interferiu com o seu
trabalho normal (tanto o trabalho fora de casa como o trabalho doméstico)?
Absolutamente
Um pouco Moderadamente Bastante Imenso
nada

□ □ □ □ □
6. As perguntas que se seguem pretendem avaliar a forma como se sentiu e como lhe
correram as coisas nas últimas quatro semanas. Para cada pergunta, assinale a
resposta que melhor descreve a forma como se sentiu.
Quanto tempo nas últimas quatro semanas:
A maior
Bastante Algum Pouco
Sempre parte do Nunca
tempo tempo tempo
tempo
a. Se sentiu cheio/a de
vitalidade? □ □ □ □ □ □
b. Se sentiu muito nervoso/a? □ □ □ □ □ □
a. Se sentiu tão deprimido/a,
que nada o/a animava? □ □ □ □ □ □
7. Durante as últimas quatro semanas, em que medida é que a sua Saúde física ou
problemas emocionais interferiram com o seu relacionamento com a família, amigos,
vizinhos ou outras pessoas?
A maior parte do
Sempre Algum tempo Pouco tempo Nunca
tempo

□ □ □ □ □
FACES III
Usando a escala abaixo indicada assinale por favor (com um círculo) o número que indica a
frequência com que o comportamento da sua família é descrito em cada item.

Quase Uma vez por Algumas Frequentemente Quase


nunca outra vezes sempre
1 2 3 4 5

Frequentemente
Algumas vezes

Quase sempre
Quase nunca

Uma vez por


outra
Descreva a sua família:

1. Os membros da família pedem ajuda uns aos


outros 1 2 3 4 5

2. Para resolver os problemas são seguidas as


sugestões dos filhos 1 2 3 4 5

3. Aprovamos os amigos de cada um dos


membros da família 1 2 3 4 5

4. Os filhos têm uma palavra a dizer no que diz


respeito à sua educação 1 2 3 4 5

5. Gostamos de fazer coisas com a nossa


família mais chegada 1 2 3 4 5

6. Na nossa família pessoas diferentes agem


como líderes (quem toma decisões) 1 2 3 4 5

7. Os membros da família sentem-se mais


próximos de outros membros da família do 1 2 3 4 5
que das pessoas de fora
8. A nossa família pode mudar a maneira de
executar as tarefas 1 2 3 4 5

9. Os membros da família gostam de ocupar o


tempo livre uns com os outros 1 2 3 4 5

10. Os pais e os filhos discutem os castigos


conjuntamente 1 2 3 4 5

11. Os membros da família sentem-se muito


próximos uns dos outros 1 2 3 4 5

12. Na nossa família são os filhos que tomam as


decisões 1 2 3 4 5

13. Quando a nossa família se junta para alguma


actividade toda a gente está presente 1 2 3 4 5

14. As regras podem mudar na nossa família


1 2 3 4 5

15. Podemos facilmente pensar sobre coisas que


a família possa fazer em conjunto 1 2 3 4 5

16. Podemos trocar a responsabilidade das


tarefas domésticas de uma pessoa para a 1 2 3 4 5
outra
17. Os membros da família consultam outros
membros da família sobre as suas decisões 1 2 3 4 5

18. É difícil identificar quem manda na nossa


família 1 2 3 4 5

19. A união familiar é muito importante


1 2 3 4 5

20. É difícil dizer quem faz cada uma das tarefas


domésticas 1 2 3 4 5
POQOL: Pediatric Oncology Quality of Life Scale Instrumento em estudo de validação e adaptação para a população portuguesa

Em seguida irá encontrar algumas situações que se referem a comportamentos do (a) seu filho(a). Coloque um círculo na resposta que se adequa melhor à
frequência com que essas situações têm ocorrido, nas últimas duas semanas.

Muito
Nunca Raramente Por Vezes Frequentemente Frequentemente
1 O(a) meu filho(a) tem ataques de fúria 1 2 3 4 5 6 7
2 O(a) meu filho(a) tem demonstrado medo da doença e do tratamento 1 2 3 4 5 6 7
3 O(a) meu filho(a) tem estado triste 1 2 3 4 5 6 7
O(a) meu filho(a) tem sido capaz de participar em actividades recreativas (desportos,
4 1 2 3 4 5 6 7
jogos, etc.)
5 O(a) meu filho(a) tem tido menos energia e cansa-se facilmente 1 2 3 4 5 6 7
6 O(a) meu filho(a) tem necessitado de tratamento médico activo 1 2 3 4 5 6 7
7 O(a) meu filho(a) tem sido capaz de interagir/brincar de forma completamente normal 1 2 3 4 5 6 7
8 O(a) meu filho(a) tem-se queixado de dores derivadas dos tratamentos médicos 1 2 3 4 5 6 7
O(a) meu filho(a) sente-se envergonhado(a) com as mudanças físicas (perda de cabelo,
9 1 2 3 4 5 6 7
alterações de peso, etc.)
10 O(a) meu filho(a) tem sido capaz de realizar actividades físicas, como habitualmente 1 2 3 4 5 6 7
11 O(a) meu filho(a) tem tido dificuldades em dormir 1 2 3 4 5 6 7
12 O(a) meu filho(a) tem-se queixado de dores derivadas do cancro 1 2 3 4 5 6 7
13 O(a) meu filho(a) foi incomodado(a) por pessoas que o tratavam de forma diferente 1 2 3 4 5 6 7
14 O(a) meu filho(a) sente-se satisfeito(a) com a sua actividade física recente 1 2 3 4 5 6 7
15 O(a) meu filho(a) tem brincado com os amigos 1 2 3 4 5 6 7
16 O(a) meu filho(a) tem podido frequentar a escola 1 2 3 4 5 6 7
17 O(a) meu filho(a) tem exigido mais ajuda do que necessita, com as tarefas diárias 1 2 3 4 5 6 7
18 O(a) meu filho(a) tem sido hostil 1 2 3 4 5 6 7
19 O(a) meu filho(a) tem dispendido tempo, durante o dia, a descansar 1 2 3 4 5 6 7
20 O(a) meu filho(a) tem tido náuseas ou vómitos derivados do tratamento 1 2 3 4 5 6 7
O(a) meu filho(a) tem necessitado de ajuda extra com aspectos básicos do dia-a-dia (lavar-
21 1 2 3 4 5 6 7
se, vestir-se, etc)
Anexo III
Questionário para pais de crianças sem doença
Projecto de Investigação

Integrado no Curso de Mestrado em Psicologia da Saúde da Faculdade de Psicologia


e Ciências da Educação da Universidade do Porto

Título: Estudo das variáveis psicológicas – esperança, qualidade de vida e a


dinâmica familiar – no processo de adaptação parental à doença oncológica
infantil.

Um estudo realizado com três grupos: pais de crianças sobreviventes ao cancro,


pais de crianças com cancro e pais de crianças sem doença.

Investigadora: Dr.ª Marisa de Fátima Correia Ferreira da Silva


Orientador: Professor Doutor José Luís Pais Ribeiro

O objectivo geral desta investigação consiste na análise e compreensão das


variáveis psicológicas – esperança e qualidade de vida – e a sua hipotética relação com
a dinâmica familiar no processo de adaptação parental à doença oncológica. Entende-se
que esta adaptação se traduz na percepção e estado de saúde dos pais. Pretende-se ainda,
estabelecer uma possível relação destas variáveis com a sobrevivência à doença.
Para tal iremos utilizar três grupos: pais de crianças sobreviventes ao cancro,
pais de crianças com cancro e pais de crianças sem doença.
Vimos assim convidá-lo (a) a participar neste estudo, através da realização de
uma entrevista, que demorará cerca de 30 minutos.
Nesta entrevista serão recolhidos alguns dados sócio-demográficos e será pedido
que responda a alguns questionários. Ao longo dos questionários encontrará indicações
específicas ao seu preenchimento.
É importante que responda a todas as questões, pelo que lhe pedimos que reveja
se se esqueceu de alguma questão, antes de o entregar. Não existem respostas certas ou
erradas, pelo que qualquer resposta que dê é correcta, o importante é que responda com
sinceridade às questões colocadas. Solicitamos que responda de acordo com a sua
opinião/ situação concreta, pois só assim poderemos conhecer a sua realidade.
A participação dos sujeitos não resultará em qualquer tipo de dano ou
desconforto mental.
Saiba ainda que todas as informações que nos fornecer são estritamente
confidenciais e serão utilizadas apenas neste estudo.
Se concordar em participar agradecemos que preencha o formulário
consentimento informado, que junto anexamos. Se por qualquer razão não quiser
participar neste estudo, agradecemos de igual modo a sua atenção.
Agradecemos desde já a sua disponibilidade para colaborar!
Consentimento Informado

Se concordar em participar neste estudo, assine no espaço abaixo indicado, que


posteriormente será destacado dos restantes documentos, uma vez que será mantida
confidencial a identificação dos participantes.
Desde já agradecemos a sua colaboração.

Eu, abaixo assinado, ________________________________________________


(nome completo), tomei conhecimento do objectivo do estudo e do que tenho que fazer
para nele participar. Tomei também conhecimento sobre todos os aspectos que
considero importantes e as perguntas que coloquei foram respondidas. Fui informado
(a) que tenho direito de recusar participar e que a minha recusa em fazê-lo não terá
consequências para mim.
Declaro, assim, que aceito participar na investigação, colaborando no
preenchimento dos questionários que me serão entregues.

Assinatura
________________________________________________________________
Data __/__/____
Questionário
(Guião da entrevista ao pai/mãe)

Dados da criança

Sexo: __________________
Idade: _____
Data de Nascimento: ___/___/___
Ano de Escolaridade: ___________
Profissão do Pai: _____________________________________________________
Profissão da Mãe: ____________________________________________________
Com quem vive a criança:

Pai □
Mãe □
Irmãos □
Quantos? ____________
Avôs □
Outros □
Quem? ____________
Questionário sócio-demográfico

Neste questionário deverá simplesmente colocar uma cruz (X) no quadrado que
estiver mais de acordo com a sua situação ou responder em breves palavras, nos locais
solicitados.

1. Quem preenche os questionários:

Pai □
Mãe □
2. Sexo

Feminino □
Masculino □
3. Idade________ anos

4. Estado civil

Solteiro(a) □
Casado(a)/Junto(a) □ Há quanto tempo?_______
Divorciado(a)/Separado(a) □
Viúvo(a) □
5. Anos de Escolaridade______________________________________________

6. Qual a sua situação perante o emprego

Empregado(a) □
Activo □
Com baixa □
Desempregado(a) □
Reformado(a) □
7. Número de filhos________

8. Local de residência
Concelho (especificar) _______________________________________

Distrito (especificar) ________________________________________

9. Com quem vive

Com cônjuge/companheira(o) □
Com a família restrita (esposa/marido, filhos) □
Com a família alargada (filhos, pais, sogros, etc.) □
Sozinho(a) □
10. No último ano a família vivenciou algum(a) desta (s) experiências?

Mudança de zona de residência □


Divórcio ou separação □
Morte □
Doença grave de um parente próximo □
Escala de Futuro

Leia cuidadosamente cada pergunta. Na escala que segue a pergunta assinale com um círculo o número que o descreve melhor.

Quase Quase
Totalmente totalmente Em parte Ligeiramente Ligeiramente Em parte totalmente Totalmente
Falsa Falsa falsa falsa verdadeira verdadeira verdadeira verdadeira
Consigo pensar em muitas maneiras de me livrar de
1. 1 2 3 4 5 6 7 8
enrascadas.

2. Persigo os meus objectivos com muita energia. 1 2 3 4 5 6 7 8

3. Sinto-me cansado/a a maior parte do tempo. 1 2 3 4 5 6 7 8

4. Qualquer problema tem muitas soluções. 1 2 3 4 5 6 7 8

5. Vou-me abaixo facilmente com uma discussão. 1 2 3 4 5 6 7 8

Consigo pensar em muitas maneiras para conseguir as


6. 1 2 3 4 5 6 7 8
coisas da vida que são importantes para mim.

7. Preocupo-me com a minha saúde. 1 2 3 4 5 6 7 8

Mesmo quando os/as outros/as perdem a coragem, eu sei


8. que consigo encontrar uma maneira de resolver o 1 2 3 4 5 6 7 8
problema.
A minha experiência de vida preparou-me bem para o
9. 1 2 3 4 5 6 7 8
futuro.

10. Tenho tido bastante sucesso na vida. 1 2 3 4 5 6 7 8

11. Normalmente ando preocupado/a com alguma coisa. 1 2 3 4 5 6 7 8

12. Alcanço os objectivos que defini para mim próprio/a. 1 2 3 4 5 6 7 8


Questionário do Estado de Saúde SF12

Por favor responda a cada uma das perguntas. Algumas perguntas são parecidas, mas de facto
são diferentes. Não tenha pressa em responder e responda às questões cuidadosamente,
assinalando com uma cruz (X) no quadrado à frente da pergunta a resposta que melhor
representa a sua opinião.

Por exemplo:

Isto só serve de exemplo. Não responda a esta questão. O questionário começa a seguir a esta
parte, quando lhe for indicado.

Para cada questão ser-lhe-á pedido que assinale no quadrado em cada linha:

Quanto concorda ou discorda com cada uma das seguintes afirmações:

1. Em que medida concorda ou discorda com cada uma das seguintes afirmações?
Concordo Não tenho a Discordo
Concordo Discordo
totalmente certeza totalmente

a. Gosto de ouvir música □ □ □ □ □


b. Gosto de ler revistas □ □ □ □ □
Por favor comece a responder agora:

1. Em geral, como diria que a sua Saúde é:

Óptima Muito Boa Boa Razoável Fraca

□ □ □ □ □
2. As perguntas que se seguem são sobre actividades que executa no seu dia-a-dia.
Será que a sua saúde o/a limita nestas actividades? Se sim, quanto?
Sim, muito Sim, um pouco Não, nada
limitado/a limitado/a limitado/a
a. Actividades moderadas, tais
como deslocar uma mesa ou
aspirar a casa
□ □ □
b. Andar mais de 1km □ □ □
3. Durante as últimas quatro semanas teve no seu trabalho ou actividades diárias algum
dos problemas apresentados a seguir como consequência do seu estado de saúde
física?
Sim Não
a. Sentiu-se limitado/a no tipo de trabalho ou outras
actividades. □ □
b. Teve dificuldade em executar o seu trabalho ou
outras actividades (por exemplo, foi preciso mais
esforço).
□ □
4. Durante as últimas quatro semanas, teve com o seu trabalho ou com as suas
actividades diárias, algum dos problemas apresentados a seguir devido a problemas
emocionais (tal como sentir-se deprimido/a ou ansioso/a)?
Sim Não
a. Diminui o tempo gasto a trabalhar, ou noutras
actividades. □ □
b. Fez menos do que queria. □ □
5. Durante as últimas quatro semanas, de que forma é que a dor interferiu com o seu
trabalho normal (tanto o trabalho fora de casa como o trabalho doméstico)?
Absolutamente
Um pouco Moderadamente Bastante Imenso
nada

□ □ □ □ □
6. As perguntas que se seguem pretendem avaliar a forma como se sentiu e como lhe
correram as coisas nas últimas quatro semanas. Para cada pergunta, assinale a
resposta que melhor descreve a forma como se sentiu.
Quanto tempo nas últimas quatro semanas:
A maior
Bastante Algum Pouco
Sempre parte do Nunca
tempo tempo tempo
tempo
a. Se sentiu cheio/a de
vitalidade? □ □ □ □ □ □
b. Se sentiu muito nervoso/a? □ □ □ □ □ □
a. Se sentiu tão deprimido/a,
que nada o/a animava? □ □ □ □ □ □
7. Durante as últimas quatro semanas, em que medida é que a sua Saúde física ou
problemas emocionais interferiram com o seu relacionamento com a família, amigos,
vizinhos ou outras pessoas?
A maior parte do
Sempre Algum tempo Pouco tempo Nunca
tempo

□ □ □ □ □
FACES III
Usando a escala abaixo indicada assinale por favor (com um círculo) o número que indica a
frequência com que o comportamento da sua família é descrito em cada item.

Quase Uma vez por Algumas Frequentemente Quase


nunca outra vezes sempre
1 2 3 4 5

Frequentemente
Algumas vezes

Quase sempre
Quase nunca

Uma vez por


outra
Descreva a sua família:

1. Os membros da família pedem ajuda uns aos


outros 1 2 3 4 5

2. Para resolver os problemas são seguidas as


sugestões dos filhos 1 2 3 4 5

3. Aprovamos os amigos de cada um dos


membros da família 1 2 3 4 5

4. Os filhos têm uma palavra a dizer no que diz


respeito à sua educação 1 2 3 4 5

5. Gostamos de fazer coisas com a nossa


família mais chegada 1 2 3 4 5

6. Na nossa família pessoas diferentes agem


como líderes (quem toma decisões) 1 2 3 4 5

7. Os membros da família sentem-se mais


próximos de outros membros da família do 1 2 3 4 5
que das pessoas de fora
8. A nossa família pode mudar a maneira de
executar as tarefas 1 2 3 4 5

9. Os membros da família gostam de ocupar o


tempo livre uns com os outros 1 2 3 4 5

10. Os pais e os filhos discutem os castigos


conjuntamente 1 2 3 4 5

11. Os membros da família sentem-se muito


próximos uns dos outros 1 2 3 4 5

12. Na nossa família são os filhos que tomam as


decisões 1 2 3 4 5

13. Quando a nossa família se junta para alguma


actividade toda a gente está presente 1 2 3 4 5

14. As regras podem mudar na nossa família


1 2 3 4 5

15. Podemos facilmente pensar sobre coisas que


a família possa fazer em conjunto 1 2 3 4 5

16. Podemos trocar a responsabilidade das


tarefas domésticas de uma pessoa para a 1 2 3 4 5
outra
17. Os membros da família consultam outros
membros da família sobre as suas decisões 1 2 3 4 5

18. É difícil identificar quem manda na nossa


família 1 2 3 4 5

19. A união familiar é muito importante


1 2 3 4 5

20. É difícil dizer quem faz cada uma das tarefas


domésticas 1 2 3 4 5
POQOL: Pediatric Oncology Quality of Life Scale Instrumento em estudo de validação e adaptação para a população portuguesa

Em seguida irá encontrar algumas situações que se referem a comportamentos do (a) seu filho(a). Coloque um círculo na resposta que se adequa melhor à
frequência com que essas situações têm ocorrido, nas últimas duas semanas.

Muito
Nunca Raramente Por Vezes Frequentemente Frequentemente
1 O(a) meu filho(a) tem ataques de fúria 1 2 3 4 5 6 7
2 O(a) meu filho(a) tem estado triste 1 2 3 4 5 6 7
O(a) meu filho(a) tem sido capaz de participar em actividades recreativas (desportos,
3 1 2 3 4 5 6 7
jogos, etc.)
4 O(a) meu filho(a) tem tido menos energia e cansa-se facilmente 1 2 3 4 5 6 7
5 O(a) meu filho(a) tem necessitado de tratamento médico activo 1 2 3 4 5 6 7
6 O(a) meu filho(a) tem sido capaz de interagir/brincar de forma completamente normal 1 2 3 4 5 6 7
7 O(a) meu filho(a) tem sido capaz de realizar actividades físicas, como habitualmente 1 2 3 4 5 6 7
8 O(a) meu filho(a) tem tido dificuldades em dormir 1 2 3 4 5 6 7
9 O(a) meu filho(a) foi incomodado(a) por pessoas que o tratavam de forma diferente 1 2 3 4 5 6 7
10 O(a) meu filho(a) sente-se satisfeito(a) com a sua actividade física recente 1 2 3 4 5 6 7
11 O(a) meu filho(a) tem brincado com os amigos 1 2 3 4 5 6 7
12 O(a) meu filho(a) tem podido frequentar a escola 1 2 3 4 5 6 7
13 O(a) meu filho(a) tem exigido mais ajuda do que necessita, com as tarefas diárias 1 2 3 4 5 6 7
14 O(a) meu filho(a) tem sido hostil 1 2 3 4 5 6 7
15 O(a) meu filho(a) tem dispendido tempo, durante o dia, a descansar 1 2 3 4 5 6 7
O(a) meu filho(a) tem necessitado de ajuda extra com aspectos básicos do dia-a-dia (lavar-
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se, vestir-se, etc)

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