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: UNIVERSIDADE DE EVORA ! ESCOLA DE CIENCIAS E TECNOLOGIA * PROTO-DEPARTAMENTO DE DESPORTO E SAUDE : Avaliagao do funcionamento : comportamental, social e emocional em : criangas residentes no Luxemburgo. ‘ Eva de Matos Gomes : Orientacao: Professor Doutor Jorge Manuel Gomes - de Azevedo Fernandes : Coorienta¢ao: Professora Doutora Pascale Engel de * Abreu : Mestrado em Psicomotricidade Relacional * Dissertagao * Evora, 2014 : UNIVERSIDADE DE EVORA ! ESCOLA DE CIENCIAS E TECNOLOGIA * PROTO-DEPARTAMENTO DE DESPORTO E SAUDE : Avaliagao do funcionamento : comportamental, social e emocional em : criangas residentes no Luxemburgo. * Eva de Matos Gomes : Orientacao: Professor Doutor Jorge Manuel Gomes - de Azevedo Fernandes : Coorienta¢do: Professora Doutora Pascale Engel de * Abreu : Mestrado em Psicomotricidade Relacional | Dissertacdo * Evora, 2014 Agradecimentos Gostaria de agradecer a colaboragdo de diversas pessoas ¢ entidades que permitiram realizar este trabalho. Sem o seu contributo nio teria sido possivel concretizar este estudo. Agradego ao meu orientador, Professor Doutor Jorge Manuel Gomes de Azevedo Femandes, pela ajuda, os conselhos, a sabedoria ¢ as aprendizagens que me permitiram realizar este estudo. A minha coorientadora, Professora Doutora Pascale Engel de Abreu, da Universidade de Luxemburgo (Luxemburgo) com quem tive oportunidade de trabalhar. Agradeco o interesse pelo estudo ¢ a disponibilidade para esclarecer as questdes as dividas que foram surgindo ao longo do trabalho. ‘Nao poderia deixar de agradecer também ao Comité national d’éthique de recherche, & Commission nationale pour la protection des données ¢ ao Ministére de I'Education nationale, de 'Enfance et de la Jeunesse do Luxemburgo, assim como a todos os inspetores, comunas e presidentes dos varios estabelecimentos escolares que autorizaram 0 desenvolvimento deste trabalho, Sem esquecer os coordenadores escolares, os educadores-de- inffincia e todos os pais que participaram neste estudo, pois sem a sua amével colaboragio este trabalho nao teria sido possivel. Por iiltimo, agradego aos meus pais, 4 minha irma e aos meus amigos o apoio e 0 amor incondicional, assim como o incentivo ea forga que me transmitiram ao longo do meu percurso académico. A presenga del foi essencial. indice 1. Introdugao .. 2. Revisio da Literatura, 2.1, O Funcionamento Comportamental e Socioemocional.. 2.1.1. Definigao das perturbagdes socioemocionais e da psicopatologia.. 2.1.2. A idade pré-escolar. 9 2.1.3. A persisténcia das perturbagdes comportamentais e socioemocionais........c014 2.1.4. A importincia do contexto. 2.1.4.1. O contexto de cuidados. 2.1.4.2. Os contextos de raga, ethia € CUItUTA. css 2.1.4.3. O contexto de desenvolvimento... 2.1.5. Fatores de 0 € fatores de protecao. 7 2.1.6. Avaliagdo do funcionamento comportamental e socioemocional na infancia......20 Abordagens na avaliagio, 2.2, A Salide Mental sesso Luxemburgo a satide mental... 2.3, A Psicomotricidade 2.3.1. A teoria da vinculagao. 28 2.3.2. A teoria do bonding. 30 2.3.3. As experiéncias precoc 2.3.4. Avaliagio da relago cuidador-crianga 3. Objetivos 4, Metodologia... 4.1, Participantes 34 4.1.1. Processo de selegdo da amostra, 36 4.1.2. Critérios de exclusio...... 4.2. Instrumentos..... 0 4.2.1. Questionario sociodemogritico, 41 4.2.2, Instrumentos de avaliago. ........ 4.2.2.1, Diferengas entre 0 SDQ € 0 C-TRE, wasneenennnn 42.2.2. SPQ... 42.2.3. C-TRF, 4.3. Procedimentos 52, 43.1. Autorizagoes. 52 Comité National d'Ethique de Recherche (CNER)... Ministére de I'Education nationale, de !'Enfance et de la Jeunesse (MEN). Commission nationale pour la Protection des Données (CNPD). . 4.3.2. Recolha de dados. Primeira fase de recolha de dados: Maio/Junho. .. Segunda fase de recolha de dados: Novembro. 55 Aderéncia ao projeto. 5, Resultados... 5.1, Anilises Referentes a0 SDQ.... 5.1.1. Verificagao de pressupostos para a andlise fatorial exploratoria do SDQ.... 5.1.2. Anilise fatorial exploratoria do SDQ. 59 5.1.2.1, Anilise fatorial exploratéria do SDQ com cinco fatores. sos cerreeser 60 5.1.2.2. Anilise fatorial exploratéria do SDQ com trés fatores 5.1.3, Estudo da fiabilidade/consisténcia interna do SDQ. svsrsenss 5.2, Anilises Referentes ao C-TRF.. 5.2.1. Verificagao de pressupostos para a andlise fatorial exploratéria do C-TRF. 67 5.2.2. Anilise fatorial exploratoria do C-TRF 67 5.3. Comparages entre Participantes 70 5.3.1. Lingua matema... 5.3.2. Comuna de residéncia 73 6. Discussio .... 7. Limitages e Dificuldades Encontrada 8, Conclusées... 9, Referencias Bibliograticas Anexos. x Apéndici XXIV Vv Indice das Tabelas Tabela 1 - Idades médias ¢ desvios-padrdes por idade ¢ por sexo... Tabela 2 - Posigio ocupada pela crianga na fata... Tabela 3 - Representago das nacionalidades e linguas matemas por idade € por S€X0 35 Tabela 4 - Estratificacao por distrito e sexo. 38 Tabela 5 - n dos estabelecimentos pré-escolares selecionados..... Tabela 6 - Pré- colas por regitio e cantao. Tabela 7 - Teste KMO ¢ teste de Bartlett para o SDQ... Tabela 8 - Comunalidades dos itens do SDQ apés extragdo Tabela 9 - Variancia total explicada por item e por fator do SDQ 62 Tabela 10 - Matriz das cargas fatoriais com rotagdo Varimax ¢ com cinco fatores para o questionario SDQ. 63 Tabela 11 - Matriz das cargas fatoriais com rotagdo Varimax ¢ com trés fatores para o questionatio SDQ...cnnnnnnn 5 Tabela 12 - Consisténcia interna do SDQ e dos trés dominios. 66 Tabela 13 - Teste KMO e teste de Bartlett para o C-TRF 67 Tabela 14 - Médias ¢ desvios-padrdes dos dominios SDQ por sexo e por idade... Tl Tabela 15 - Médias ¢ desvios-padrdes dos dominios SDQ por idade € sexo ... 71 Tabela 16 - Médias e desvios-padrdes para as variéveis Lingua materna luxemburguesa ¢ Lingua matema ndo-luxemburguesa por sexo ¢ idade.. .B Tabela 17 - Médias ¢ desvios-padrdes da variével Comuna de residéncia por sexo e idade...74 Vv indice das Figuras Figura 1. Flowchart da recolha da amostra, Figura 2, Diagrama de declividade do SDQ. Figura 3. Diagrama de declividade do VI Abreviaturas SDQ Strengths and Difficulties Questionnaire (Questionario de Capacidades e Dificuldades) C-TRF Caregiver-Teacher Report Form (Questiondrio de Comportamentos da Crianga para Educadores) cBcL Child Behavior Checklist (Questionitio de Comportamentos da Crianga para Pais) ASEBA Achenbach System of Empirically Based Assessment (Sistema de avaliagio Empiricamente Validado) AFE Anilise fatorial exploratéria LML Lingua materna luxemburguesa LMaL Lingua materna nao-luxemburguesa VIL Resumo Objetivo: Avaliar o funcionamento comportamental e socicemocional em criangas residentes no Luxemburgo; Validar 0 Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ). Metodologia: Aplicago do SDQ e Caregiver-Teacher Report Form (C-TRF) numa amostra composta por 127 criangas com 4 ¢ 5 anos (M = 60,16 meses; DP = 6,59) em 20 estabelecimentos pré- escolares. Resultados: Uma andlise fatorial explorat6ria do SDQ nao forneceu evidéncia para um modelo com 5 fatores. Apés expurgagio dos dominios externalizantes foi possivel obter ‘uma solugao trifatorial satisfatéria. O a de Cronbach do SDQ revelou ser inferior a a = 0,80. A extragio de um modelo fatorial vilido para 0 C-TRF nao foi possivel e no foram evidenciadas diferengas significativas no funcionamento comportamental e socioemocional identes em entre participantes com linguas maternas diferentes ¢ entre participantes 1 comunas urbanas vs. rurais, Conelusio: Devido a solugo fatorial insatisfatéria, a validagdo do SDQ foi realizada. Estudos adicionais com amostras maiores so necessirios, Palavras-chave: Funcionamento comportamental e socicemocional; infincia; pré-escola; SDQ; Luxemburgo. vill Abstract Assessment of behavioral, social and emotional functioning in children living in Luxembourg. Objectives: Assess the behavioral, social and emotional functioning in children living in Luxemburg; Validate de Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ). Method: Administration of the SDQ and Caregiver-Teacher Report Form (C-TRE) in a sample of 127 children with 4 and 5 years (M = 60,16 months; SD = 6,59) in 20 preschools of the 3 districts. Results: An exploratory factor analysis did not provide evidence for a five-factor model. After the exclusion of the externalization scales, a satisfactory three-factor solution was extracted. A low Cronbach's @ was obtained (a = 0,80) and no valid factor solution was extracted for the C-TRF. No significant differences in behavioral, social and emotional functioning were found between participants with different native languages and participants with residency in urban vs. rural municipalities. Conclusion: Due to the unsatisfactory factor solution, the SDQ was not validated. Additional studies with bigger samples are needed. Keywords: Behavioral, social and emotional functioning; infancy; preschool; SDQ; Luxembourg. 1x 1. Introdugao £ fundamental averiguar desde cedo as dificuldades que afetam os jovens (criangas adolescentes) com instruments adequados a fim de identificar, prevenir e intervir em eventuais problemas no ambito da saiide mental que possam interferir com o bem-estar e um, desenvolvimento socioemocional propicio das criangas e dos adolescentes (Santos, 2013) ‘Um niimero considerével de autores tem sublinhado que a proporgdo de jovens com perturbacdes comportamentais ¢ socioemocionais persistentes & notvel. Portanto, é essencial encaminhar desde cedo os jovens para servigos de intervengio adequados, a fim de moderar 0 impacto negative que as suas dificuldades possam ter sobre o seu funcionamento comportamental ¢ socioemocional e a sua adaptagao ao longo da vida. Um elevado mimero de publicagdes tem apresentado estudos onde foram aplicados dois grupos de instrumentos que tém demonstrado robustez considerdvel na identificagio de perturbacdes no funcionamento comportamental, social ¢ emocional infantil ¢ adolescente (Achenbach et al., 2008). Trata-se do Strengths and Difficulties Questionnaire (Questionério de Capacidades ¢ Dificuldades; SDQ) e dos formulirios do Achenbach System of Empirically Based Assessment (ASEBA; Sistema de avaliago Empiricamente Validado) desenvolvidos por Goodman (1997) ¢ Achenbach (1966) respetivamente. Ambas as medidas de avaliagao podem ser aplicadas a varias faixas etdrias e preenchidas por diferentes informadores (pais, cuidadores ¢ educadores-de-infiincia/professores). © SDQ averigua os atributos positivos ¢ negativos no funcionamento da crianga e do adolescente, enquanto os formularios ASEBA avaliam os problemas ¢ as competéncias do jovem. A fiabilidade a validade de ambos instrumentos esto na origem de miltiplas tradugdes © aplicagdes em todo o mundo, permitindo a investigadores ¢ profissionais da satide a realizagdo de estudos em grandes escalas e de comparagdes multiculturais. scolares dos trés distritos A presente investigagao foi realizada nos estabelecimentos p do Grio-Ducado do Luxemburgo. A escolaridade obrigatoria é iniciada aos quatros anos de idade com a entrada de criangas na pré-escola (Ministére de "Education nationale, de V'Enfance et de la Jeunesse, 2013). A literatura tem abordado de maneira extensiva o funcionamento comportamental ¢ socioemocional desde 0 ensino primério até ao ensino secundirio e superior. No entanto, existe pouca literatura referente A idade pré-escolar (Downs, Strand, Heinrichs, & Cerna, 2012; McDonnell & Glod, 2003). © Luxemburgo é um pais com uma situago cultural ¢ linguistica muito particular, Contudo, possui muito poucos instrumentos psicométricos validados para a sua populagio infantil ¢ adulta que possam investigar o seu funcionamento. Perante esta escassez de testes de avaliagdo e de literatura referente 4 saiide mental nesta populagao, impde-se a necessidade de claborar e validar instrumentos capazes de investigar o funcionamento comportamental, social e emocional nas varias faixas etérias. Como sublinham Carter, Briggs-Gowan ¢ Ornstein Davis (2004), 6 provavel que a auséncia de dados normativos suficientes contribua a ‘uma identificagdo reduzida das perturbagdes comportamentais ¢ socicemocionais em criangas, adolescentes ¢ adultos. No entanto, o desenvolvimento de novos instrumentos de avaliagdo proporciona aos investigadores meios para realizar estudos epidemiol6gicos a fim de recolher dados referentes a comportamentos individuais, conjuntos de sintomas ¢ perturbagées. Portanto, ¢ fundamental realizar estudos normativos com amostras abrangendo diferentes faixas etarias (Downs et al., 2012). A necessidade de existirem valores normativos adequados para os varios periodos desenvolvimentais justifica-se pela necessidade de os profissionais de satide deterem meios para determinar se e de que modo o funcionamento infantil desvia do funcionamento dos pares (Achenbach, 2005). Assim, o presente estudo pretende averiguar 0 funcionamento comportamental ¢ socioemocional e validar um instrumento psicométrico, 0 SDQ, a fim de criar valores normativos para a populacdo infantil com idades compreendidas entre os quatro ¢ cinco anos, residente no Luxemburgo. ‘Apés a apresentagio do estado do conhecimento referente ao funcionamento comportamental, social ¢ emocional na infincia ¢ adolescéncia no primeiro ponto, ser apresentada a metodologia utilizada no segundo capitulo, De seguida serio definidos os objetivos e serdo apresentados no quarto capitulo, os resultados mais relevantes obtidos apés andlise dos questiondrios recolhidos nas escolas participantes. Além de expormos os resultados provenientes das anilises fatoriais, serdo apresentados os resultados das andlises comparativas correlacionais entre determinadas variaveis. No quinto ponto serdo examinados os principais resultados obtidos, tendo em conta a literatura publicada que aborda as mesmas tematicas ¢ os objetivos do estudo. Antes de concluir o presente trabalho, serio apresentadas as limitagdes ¢ serdo feitas sugestdes para investigagdes futuras, 2, Revisio da Literatura 2.1. O Funcionamento Comportamental e Socioemocional desenvolvimento infantil ¢ um processo dindmico e complexo que inclui a motricidade global ¢ fina, a linguagem, a cogni¢do ¢ © comportamento adaptative (Committee on Children with Disabilities, 2001). A aquisigao das diversas competéncias varia de crianga para crianga ¢ a expressio inicial de uma nova competéncia é inconstante até a crianga aprender a controla-la. Avaliar as aquisigBes da crianga de maneira pontual ndo permite averiguar o processo dinimico que ¢ 0 desenvolvimento, Importa entio avalia-to periodicamente para facilitar a detecdo de perturbagdes emergentes durante o crescimento da crianga, De acordo com 0 comité, o reconhecimento da pertinéncia da detegdo precoce dos atrasos de desenvolvimento e dos problemas comportamentais e/ou socioemocionais tem vindo a aumentar ao longo dos tltimos anos, preconizando exames de rotina na drea da pediatria a fim de melhorar a detegdo e identificagdo de dificuldades socioemocionais precoces. Deste modo, 0 acesso a servigos de intervengdo ¢ 0 tratamento das dificuldades cto sobre 0 observadas € facilitado, 0 que por sua vez permite atenuar o seu imp: funcionamento da crianga e da familia Com o fim de clarificar ¢ melhor compreender o enquadramento tebrico desta area do conhecimento passamos a definir alguns conceitos. O termo “avaliagio” refere-se 4 identificagdo das diferentes caracteristicas de um determinado problema, perturbagdo ou caso (Achenbach, 2005). O conceito “problemas comportamentais” refere-se a comportamentos externalizantes, tais como atividade clevada, agressio, birras, desafio ¢ dificuldades nas interagdes com pares (Briggs-Gowan, 1996). Por sua vez, o termo “problemas socioemocionais” refere-se a problemas de natureza intemalizante, alguns dos quais podem interferir com as interagdes sociais (depressao, retraimento social, inibigdo/timidez, extrema, niveis baixos de atividade angistia). A “competéncia socicemocional” corresponde a comportamentos que refletem o cumprimento de metas adequadas a idade no desenvolvimento socioemocional © que promovem interagies sociais saudéveis, Esses comportamentos incluem empatia, interagdes pré-sociais entre pares, motivago, consciéncia emocional, complacéncia comportamental positividade emocional. Na dea da satide mental realiza-se geralmente a diferenciagao entre grupos de sindromes s mentais: Internalizacao e que refletem, a um nivel mais amplo, a estrutura das perturbag Extemalizagio (Achenbach & Rescorla, 2000). Trata-se de uma distingdo realizada por Achenbach (1966) numa tentativa de elaborar um sistema de classificagao da psicopatologia, fundamentado em principios tedricos, que fornece categorias definidas operacionalmente com © propésito de identificar grupos de perturbagdes ¢ de implementar intervengdes diferenciadas. Assim, a distingio Internalizagdo-Extemalizago representa conjuntos globais de problemas onde o grupo Intemalizagao reflete problemas, maioritariamente, com o Eu (nomeadamente reatividade emocional, ansiedade, depressio, queixas somiticas sem causa médica aparente ¢ retraimento nos contactos sociais) ¢ 0 grupo Extemalizagao retrata principalmente conflitos com o meio/outros individuos e com as expetativas acerea do comportamento da crianga (Achenbach, 1966; Achenbach & Rescorla, 2000). Estes agrupamentos globais podem auxiliar 0 planeamento da intervengdo em criangas com problemas maioritariamente de um grupo ou do outro (Achenbach & Rescorla, 2000). Porém, muitas criangas manifestam perturbagdes tanto do grupo intemalizante, como do grupo externalizante, Carter et al. (2004) enumeraram trés etapas no processo de detegdo e identificagio de criangas com risco elevado de desenvolver um problema: Primeiro, tal processo implica 0 recurso a instrumentos de avaliagio curtos ¢ relativamente baratos. Durante este processo inicial, as preocupagdes parentais assim como contexto no qual a crianga se desenvolve deve ser levadas em considerago (Committee on Children with Disabilities, 2001; Carter et al., 2004). A primeira avaliagdo pode ocorrer no consultério pediatrico (Carter et al., 2004) ou na escola (Dwyer, Nicholson, Battistutta, & Oldenburg, 2005). Uma vez que uma erianga foi identificada, esta pode ser encaminhada para uma segunda avaliagdo mais aprofundada (Carter et al., 2004). A segunda fase consiste na claboragio de um relatério parental mais exaustivo, acompanhado por perguntas sobre o grau de preocupagao e de stress parental, Para além disso, deve ser investigada a presenga de dificuldades ou de interferéncias causadas lades pelos problemas da crianga nas ativi drias, pois & essencial explorar 0 impacto da psicopatologia infantil no sistema familiar ¢ investigar o stress parental. A terceira fase depende muito das fontes de informagio disponiveis ¢ implica observagGes, informantes colaterais e/ou encaminhamento para avaliagdes mais intensivas. Achenbach (2005) ¢ Achenbach e Rescorla (2006) recomendam 0 envolvimento dos pais, dos educadores ¢ dos cuidadores secundarios a fim de fomnecer um quadro exaustivo que permita documentar as caracteristicas dos mesmos. O objetivo ¢ entender ¢ ajudar a crianga da melhor forma possivel através da utilizagdo de instrumentos de autoavaliagdo ¢ de instrumentos paralelos 4 colaterais onde um cuidador averigua os outros cuidadores envolvidos (Achenbach, 2005). O objetivo & a planificagao mais efetiva de intervengdes que incluem informagdes acerca das diferengas e semelhangas dos padrdes de funcionamento das criangas e dos seus cuidadores. Os contextos pedistricos e as consultas de rotina adequam-se bem a detego de dificuldades comportamentais e socioemocionais devido a frequéncia das consultas durante a infancia (Committee on Children with Disabilities, 2001; Carter et al., 2004), No seu estudo de 2000, Briggs-Gowan, Horwitz, Schwab-Stone, Leventhal e Leaf (citados por Carter et al., 2004) afirmaram que os pais que conversam sobre os problemas de natureza comportamental € socicemocional com o pediatra so trés vezes mais propensos a obter servigos de auxilio mental para os seus fillos, Glascoe (2003) observou numa amostra composta por 472 pais americanos ¢ os seus filhos que a preocupagdo parental é um bom indicador das perturbagdes socicemocionais exibidas pelas criangas, particularmente em criangas com idades superiores a quatro anos. No seu artigo, o autor explorou 0 contetido das preocupagdes parentais ¢ a preciso das mesmas na identificagdo das perturbagdes mentais, através da administrago do questionario Parents’ Evaluation of Development Status (PEDS). Os resultados indicaram que em todas as idades averiguadas, as preocupagdes dos pais acerca do comportamento e/ou das competéncias socais possibilitaram a identificagdo de 76% de criangas com elevadas pontuagdes nessas , pois existe uma relagdo significativa entre preocupa com © comportamento e as competéncias sociais e o estado da saiide mental nas criangas, 2.1.1, Definigao das perturbagées socioemocionais e da psicopatologia. ‘A definigo © a avaliagio das perturbagdes comportamentais e socioemocionais que surgem na infancia apresentam desafios con: jeraveis, uma vez que existem diversos fatores que complicam a tarefa (Del Carmen-Wiggins & Carter, 2001; Zeanah, Boris, & Larrieu, 1997) imento neste Primeiro, a rapidez das transigdes a nivel do desenvolvimento ¢ do cr periodo constitui um verdadeiro problema, pois certos comportamentos clinicamente significativos em idades mais avangadas podem representar manifestagdes de um desenvolvimento normal na primeira infancia (Zeanah, Boris, & Larrieu, 1997). Certos problemas comportamentais e socioemocionais assim como determinadas condigdes psicopatologicas so caracterizados pela presenga de comportamentos que aparecem durante 5 © desenvolvimento normal, mas que so exibidos com uma frequéncia, intensidade e/ou duragdo elevada ou reduzida (Carter et al., 2004). Alternativamente, outros problemas de nature caracterizam- comportamental ¢ socioemocional e outras psicopatologia por um desenvolvimento desviante ou pela presenga de comportamentos incomuns, atipicos em qualquer idade ou que so expressos de uma maneira que & qualitativamente distinta da que ocorre normalmente entre criangas de desenvolvimento normal. Dada a rapidez, das mudangas no desenvolvimento nos primeiros anos de vida, é fundamental assegurar que os comportamentos avaliados so adequad em termos de desenvolvimento. Por outro lado, é igualmente essencial testar se os conjuntos de comportamentos demonstram invariabilidade ao longo dos anos ou se esto associados de forma similar no periodo etirio de interesse. Num estudo longitudinal, Briggs-Gowan ¢ Carter (2008) inv igam © impacto dos problemas comportamentais e socioemocionais na primeira infancia sobre o desempenho nos resultados do Brief Infant-Toddler Social and Emotional Assessment (BITSEA) e no grau de preocupagao parental em relagdo a crianga. A escolar no ensino basico, baseando- amostra composta por criangas com idades compreendidas entre os 12 ¢ os 36 meses foi avaliada em dois tempos: No primeiro no através do preenchimento do BITSEA pelos pais e parcialmente pelos educadores-de-infancia ¢ de seguida apés a entrada no ensino bisico, pelo preenchimento do Child Behavior Checklist for Ages 6-18 (Questiondrio de Comportamentos da Crianga, CBCL/6-18) ¢ do Caregiver-Teacher Report Form for Ages 6-18 (Questionirio de Comportamentos da Crianga para Educadores, C-TRF/6-18). Para completar a avaliagdo, foram administrados questiondrios que investigam os sintomas relativos 4 depressio ¢ ansiedade dos pais ¢ os pais foram solicitados a responder a questdes sobre as suas preocupagdes acerca do desenvolvimento comportamental e socioemocional da crianga sobre eventuais sintomas depressivos. Os resultados sugerem que mais de metade das criangas identificadas pelos pais e pelos educadores como apresentando problemas no ambito da satide mental no ensino bsico jé tinham pontuagdes elevadas nos vérios dominios do BITSEA com 12 a 36 meses. Além disso, as autoras demonstraram a existéncia de uma estabilidade homotipica substancial nas perturbagdes identificadas na idade escolar. Esta descoberta comprova que diferenciago nos comportamentos psicopatoldgicos ocorre desde muito cedo, As autoras concluem que existe uma relagio entre a preocupagdo parental na primeira infaincia e o facto de os pais abordarem problemas manifestados pelas eriangas ¢ que os problemas comportamentais ¢ socioemocionais nao so transitérios, mas persistem ao longo do tempo. Esta concluso sustenta a ideia de que avaliagdes precoces regulares necessirias para prevenir dificuldades no desenvolvimento infantil. Identificar criangas com base nas dificuldades © competéncias socioemocionais parece ser eficaz. na previsio dos resultados e do desenvolvimento da crianga no ensino bisico, comparativamente a fatores de risco sociodemogriticos tais como a pobreza. Um outro estudo realizado por Kerr, Lunkenheimer e Olson (2007) explorou a estabilidade das diferengas individuais em avaliagdes de problemas intemalizantes ¢ extemnalizantes da crianga em situagde € contextos relacionais diferentes ¢ em periodos desenvolvimentais distintos (pré-escola ¢ ensino basico). Versdes para a idade pré-escolar ¢ escolar do CBCL e do C-TRF foram aplicadas aos pais e mies e aos educadores investigadores, Os autores constataram em ambas as fases de investigagdo que a validade preditiva das avaliagdes dos problemas intemnalizantes ¢ extemalizantes dos pais foi consideravel (comparativamente as avaliagdes dos educadores ¢ investigadores). Por outro lado, as correl es entre pais ¢ mies relativamente aos problemas intemalizantes aparentaram ser moderadas. Além disso, os resultados destacaram estabilidade situacional e temporal significativa relativamente as diferengas individuais nos dominios de Intenalizagéo € de Extemalizagdo: Moderada a forte para as avaliagdes dos pais e das mies, moderada a fraca para os educadores ¢ fraca para os investigadores. O estudo permitiu comprovar o valor das avaliagdes de informantes miiltiplos ¢ salientou a importancia da incluso dos pais na investigagdo sobre o desenvolvimento e a psicopatologia. O estudo de Berg-Nielsen, Solheim, Belsky e Wichstrom (2012) também inquiriu sobre a concordéncia entre avaliagdes de pais e educadores acerca da psicopatologia infantil pré- escolar numa amostra norueguesa de 734 criangas com quatro anos de idade, Mais especificamente, os autores averiguaram quais os fatores envolvidos no (des)acordo entre pais ¢ educadores. Varios fatores especificos crianga, aos pais e aos educadores-de-infancia foram analisados através do CBCL e do C-TRF. A anilise revelou que os pais referiram em, geral mais perturbagdes do que os educadores ¢ 0 desacordo entre pais e educadores foi maior em criangas com perturbagdes severas ¢ em criangas do sexo feminino com problemas extemnalizantes. Em contrapartida, 0 acordo entre ambos foi elevado para os problemas externalizantes do sexo masculino, O estudo ainda indicou que a percegio por parte do educador de um conflito na relagdo educador-crianga aumentou o niimero dos problemas referidos © que o stress parental também gerou desacordo, aumentando o mimero das perturbagGes referidas pelos pais Segundo Briggs-Gowan Carter, Bosson-Heenan, Guyer e Horwitz (2006), & imperative detetar e identificar precocemente a psicopatologia infantil, a fim de estabelecer servigos de intervengdo para o tratamento de eventuais atrasos cognitivos, da linguagem ou de desenvolvimento. De facto, a fim de assegurar 0 sucesso escolar dos alunos, & imperativo considerar a importancia das competéncias socioemocionais dos jovens, uma vez que estio relacionadas com o funcionamento académico (Heathfield & Clark, 2004). Os autores consideram essencial fornecer um ambiente de apoio e de cuidados de modo a facilitar um desenvolvimento socioemocional saudavel, uma vez. que as criangas ¢ os adolescentes vivem. num mundo onde so continuamente expostos a diversos agentes causadores de stress (situagdo econémica, abusos negligéncias, violéncia, ete.). Consequentemente, o nimero de jovens que necessita de auxilio profissional tem vindo a aumentar consideravelmente. Neste sentido, a escola pode desempenhar um papel fundamental na_prevencdo, promovendo estratégias de enfrentamento no ensino, para prevenir o insucesso escolar ou a manifestago da psicopatologia (Dwyer et al., 2005), Nesta abordagem, o funcionamento social © emocional & considerado critico no desenvolvimento infantil ¢ no desempenho escolar. Os autores apontam para a importancia de existir um bom relacionamento ¢ uma comunicagio eficaz entre os professores ¢ os pais dos seus alunos (e/ou outros informadores/cuidadores) para que seja possivel a identificagdo de eventuais fatores de risco aos quais os jovens possam estar expostos. Existindo um conhecimento suficiente sobre 0 contexto familiar, os professores podem encaminhar com mais efetividade os alunos com necessidades terapéuticas. © segundo fator que complica a definigdo e a avaliagdo das perturbagdes comportamentais ¢ socioemocionais que surgem na infancia refere-se 4 escassez de guias possibilitando a integragdo dos dados recolhidos (Carter et al., 2004). De facto, um dos desafios com que se deparam os clinicos e os investigadores consiste na determinagio de procedimentos apropriados para a integragio de dados provenientes de diversos métodos ¢ fontes, O terceiro fator diz respeito a insuficiéncia de informagdes que permitem determinar ¢ quantificar, numa perspetiva desenvolvimental ¢ contextual, as limitagdes da crianga e da fan lia. Quanto as limitagdes da crianga, estas tém de ser avaliadas tendo em conta as relagdes com os principais cuidadores, assim como as limitagdes da crianga e da familia que so secundarias aos sintomas da crianga. Como referem Carter ¢ as suas colaboradoras (2004), é possivel constituir uma lista com as atividades e os contextos que documentam as dificuldades da crianga. As autoras enumeram quatro aspetos do funcionamento da crianga que devem ser abordados: (a) A adaptagdo a exigéncias e/ou contextos especificos adequados a0 desenvolvimento infantil; (b) a aquisigio de novas capacidades e competéncias desenvolvimentais; (c) 0s relacionamentos eo funcionamento interpessoal; ou (d) a satide. Ultimo fator apresentado por Carter et al. alude & dificuldade de avaliar o funcionamento da crianga num contexto relacional e cultural relevante. 2.1.2, A idade pré-escolar. © funcionamento comportamental ¢ socioemocional na idade pré-escolar e as perturbagdes associadas constituem teméticas pouco abordadas na literatura cientifica (Downs et al., 2012; McDonnell & Glod, 2003). De facto, a extensa literatura referente 4 infancia e a adolescéncia exclui em geral a idade pré-escolar, A falta de evidéncia sobre 0 funcionamento nesta faixa etiria dificulta a determinagio de um diagnéstico ¢ de um| tratamento apropriado. Assim, os profissionais de satide so forgados a apoiar-se na sua experiéncia clinica e na sua opinido profissional para identificarem as dificuldades da erianga (McDonnell & Glod, 2003), Porém, o interesse pela idade pré-escolar tem vindo a aumentar consideravelmente (Bufferd, Dougherty, Carlson, & Klein, 2011). f imprescindivel desenvolver os conhecimentos de base nesta rea por diversos motivos. Primeiro, miltiplos estudos sugerem que as perturbagdes comportamentais ¢ emocionais em criangas em idade pré-escolar io relativamente comuns, com prevaléncias compardveis & idade escolar, como sugerem Egger e Angold (2006). Segundo, de acordo com alguns autores, nomeadamente Campbell (1995), os sintomas na idade pré-escolar sio relativamente estiveis e fendmenos ndo transitérios. Terceiro, as perturbagdes que surgem nesta faixa etiria podem ter implicagdes negativas no desenvolvimento infantil, uma vez que 0 periodo pré-escolar esti associado a diversos desafios, tais como o estabelecimento de relagdes com pares © a entrada em programas escolares obrigatorios, Consequentemente, problemas a nivel comportamental e emocional nesta idade podem ter um impacto significativo no desenvolvimento infantil subsequente (Bufferd ct al., 2011). Portanto, a identificagdo das perturbagdes que aparecem precocemente € fundamental na minimizagdo dos seus efeitos potenciais a longo prazo (Carter et al., 2004) Quarto, Butferd et al. (2011) citam Luby et al. (2002) e Mesmam e Koot (2001), que referem que a documentagio de perturbagdes diagnosticaveis pode encorajar o desenvolvimento de programas de prevengdo e identificagdo precoce de maior qualidade. 9 Alguns investigadores e profissionais da saide sugerem classificar as perturbacdes psiquiatricas na idade pré-escolar. Todavia, Egger © Angold (2006) enumeram alguns inconvenientes dessas classificagdes. Primeiro, 0 periodo pré-escolar apresenta desafios Linicos na avaliagdo, uma vez que est associado a mudaneas extensas € ripidas a nivel fisico € neurolégico, a nivel da linguagem, da cognigGo, da emogdo ¢ do comportamento social. Estas mudangas podem influenciar as manifestagdes sintomaticas de diversas formas, de maneira a que no seja possivel identificar fiavelmente ¢ avaliar validamente sintomas ou conjuntos de sintomas. As im, por exemplo, a avaliago dos intomas de oposi¢io ¢ dificultada com a aparigao de comportamentos auténomos aos dois anos uma vez que estes sdo acompanhados por um acréscimo normativo de birras e comportamentos de oposicao, que podem ser significativos a nivel clinico quando exibidos com muita frequéncia ¢ intensidade (Carter et al., 2004), Segundo, as diferencas individuais no desenvolvimento podem ser inadequadamente identificadas como sintomas ou perturbagdes psiquidtricas (Egger & Angold, 2006). Terceiro, nem © DSM (Manual de Diagnéstico e Estatistica das Perturbagdes Mentais da American Psychiatrie Association, APA) nem a ICD-10 (Classificagao Intemacional de Doengas da Organizag3o Mundial de Saide, OMS), as taxonomias psiquiatricas dominantes, levam em consideragio as variagdes do desenvolvi ento. Quarto, pequenas criangas so inapropriadamente rotuladas com “doengas” que vaio modelar de forma negativa a percecdo que constroem sobre si proprias, assim como a percego dos pais e/ou outros cuidadores sobre elas. Por iiltimo, comportamentos problemdticos em criangas pequenas resultam das relagdes entre pais e crianca e do contexto no qual esta interage. Uma temitica muito abordada na idade pré-escolar conceme ao temperamento. Este & considerado por muitos autores como consti Jndo um fator de riseo para o desenvolvimento de perturbagdes psiquidtricas na inffncia e na idade adulta (Egger & Angold, 2006). Segundo Egger ¢ Angold (2006), investigagdes ao longo das tlltimas décadas estio na origem de descobertas relevantes que contribuiram para o esclarecimento da psicopatologia infantil pré- escolar. Embora as caracteristicas temperamentais tenham sido conceptualizadas como sendo fatores de risco para uma variedade de perturbagdes, os autores sugerem que é possivel que caracteristicas temperamentais averiguadas precocemente revelem a presenga precoce das perturbagdes. Os autores alertam para ao facto de que existe uma falta de clareza a nivel conceptual relativamente distingdo entre temperamento ¢ psicopatologia. Essa falta de clareza reflete-se na quantidade de itens nos instrumentos de avaliago que se sobrepée. Tais 10 sobreposigdes representam um problema metodolégico e conceptual sério na compreen: relagdo que existe entre temperamento ¢ o inicio precoce da psicopatologia infantil. O desenvolvimento de instruments para averiguar dominios de sintomas em criangas pequenas providenciou a fundagdo para 0 campo em crescimento da psicopatologia pré- escolar (Bufferd et al, 2011). Através dos formulirios de avaliagdo para pais educadores/professores utilizados em estudos transversais ¢ longitudinais, os investigadores detém informagées importantes acerca dos niveis, dos correlatos e da estabilidade dos sintomas expressos por criangas em idade pré-escolar. Apesar da escassa literatura referente & idade pré-escolar, varios autores realizaram estudos com instrumentos cujo objetivo & a detegdo © a avaliagdo de perturbagdes no funcionamento nesta faixa etdria. Bufferd e colaboradores (2011) realizaram um estudo com uma amostra comunitéria americana de 541 criangas com trés anos de idade, com 0 objetivo de examinar as perturbagdes comportamentais e emocionais referenciadas pelos pais através do Preschool Age Psychiatric Assessment (PAPA). Além do mais, os autores propuseram-se a verificar qual a proporgdo de criangas que preenchiam os critérios para um diagnéstico do DSM-IV. Um mimero substancial de criangas foi diagnosticado com pelo menos uma. perturbagdo abrangida pelo PAPA, a perturbagdo de oposigio e de desafio, as fobias especificas e a perturbagdo de ansiedade de separagdo sendo estas as mais prevalentes ¢ a depressio, 0 mutismo seletivo ¢ a perturbagdo de pinico as menos prevalentes. Bufferd et al. ainda confirmaram a existéncia de comorbilidade entre determinadas perturbagdes, particularmente entre depressao, ansiedade e perturbagdo de oposigdo e de desafio e entre a perturbacdo de oposi¢ao e de desafio e a perturbagdo de hiperatividade e verificaram uma sobreposigtio consideravel entre perturbagdes comportamentais ¢ emocionais, Por Gltimo, os autores destacaram uma associagdo entre sintomas e um funcionamento empobrecido, tal como ja foi verificado em estudos sobre criangas mais velhas ¢ adolescentes, nomeadamente por Ravens-Sieberer et al. (2008). ‘Numa revisio da literatura, McDonnell ¢ Glod (2003) compararam os resultados obtidos em sete investigagées realizadas entre os anos 1986 ¢ 1998 com amostras entre os 104 ¢ os 3.860 participantes com idades entre um e nove anos. O instrumento de avaliagio mais utilizado correspondeu ao CBCL ¢ a determinagao dos diagndsticos foi efetuada recorrendo aos critérios do DSM. As investigagdes abrangidas evidenciaram que um nimero substancial de criangas em idade pré-escolar experienciou dificuldades ¢ taxas de prevaléncia elevadas ul foram apresentadas para as perturbagdes de ansiedade, do humor, do comportamento, de oposigdo e de desatio e de hiperatividade, Além do mais, os estudos abrangidos referiram que a comorbilidade associada a estas perturbagdes é elevada. McDonnell e Glod concluiram 0 estudo, ressaltando o papel fundamental que a identificagdo e 0 tratamento precoce na idade pré-escolar desempenham na prevengio do desenvolvimento de dificuldades severas no funcionamento comportamental e socioemocional das criangas. Downs et al. (2012) foram os primeiros a realizar um estudo que examina as diferencas entre as avaliages de educadores-de-infaincia acerea do funcionamento de criangas provenientes de diversos contextos culturais ¢ linguistics. Recorrendo 4 versio para educadores do SDQ, os autores investigaram as suas propriedades psicométricas numa. amostra composta por 477 criangas com idades compreendidas entre os trés ¢ os cinco anos residentes na Alemanha e nos EUA. A amostra dos EUA abrangeu criangas com lingua panhola. complemento a0 SDQ. As anélises comparativas entre linguas e culturas.sustentaram , Woemer et al. (2004), segundo os quais o SDQ é um instrumento robusto que pode ser utilizado em avaliagdes em materna inglesa ¢ Na Alemanha, os educadores preencheram o C-TRF em conclusdes jé estabelecidas por outros autores, nomeadament contextos distintos de um ponto de vista cultural ¢ linguistico, Efeitos da idade, sexo cultura/lingua foram evidenciados pelas andlises, nomeadamente efeitos da idade nos dominios hiperatividade, pontuagdo total de dificuldades © comportamentos pré-sociais. dos educadores-d Relativamente ao sexo, segundo as avaliagé inffincia, criangas do sexo masculino apresentaram mais comportamentos de hiperatividade © pontuagdes totais de dificuldades mais elevadas, comparativamente ao sexo feminino. Por outro lado, 0 sexo feminino apresentou mais comportamentos pré-sociais do que 0 sexo masculino, Quanto ao contexto cultural ¢ linguistico, Downs e colaboradores (2012) ressaltaram a coeréncia entre as pontuagdes dos trés grupos. Contudo, destacaram algumas diferengas: As criangas alemas apresentaram pontuagdes mais elevadas nos dominios sintomas emocionais e problemas de comportamento, comparativamente aos dois grupos dos EUA. Além do mais, uma interagdo significativa entre cultura/linguagem ¢ idade foi detetada para os dominios problemas de relacionamento com os pares ¢ as dificuldades totais. Neste grupo, as_pontuagdes mantiveram-se estiveis ao longo do tempo para as criangas alemas, enquanto as pontuagdes das criangas com lingua inglesa ¢ espanhola baixaram com o aumento da idade. Por iltimo, 0s resultados revelaram correlagdes elevadas entre 0 SDQ e C-TRF, sugerindo que o SDQ eo C-TRF medem constructos semelhantes na idade pré-escolar. Porém, os autores alertaram 12 Jo apropriados para a para 0 facto de que os cut-offs sugeridos por Goodman (1997) nao s idade pré-escolar e devem, portanto, ser ajustados, No seu estudo longitudinal acerca dos comportamentos sociais infantis, da linguagem e da alfabetizagaio em criangas entre os trés ¢ os sete anos, Hartas (2012) examinou trés aspetos: As variagdes nos relatos dos pais e dos educadores/professores sobre as dificuldades comportamentais, sociais e emocionais em criangas, o (des)acordo entre os informadores € as num estudo relagdes entre 0 comportamento ¢ a linguagem e alfabetizagio aos sete an longitudinal que compreendeu 8.765 criangas na Gri-Bretanha. Avaliagdes foram efetuadas aos trés (pré-escola), aos cinco (inicio do ensino primirio) ¢ aos sete anos através do SDQ e de questionérios complementares de avaliagdo da fala, audigao, leitura e escrita, De acordo com as respostas parentais no SDQ, as dificuldades comportamentais ¢ sociais diminuiram, enquanto os comportamentos pré-sociais aumentaram entre os trés ¢ os sete anos ¢, particularmente, apés a entrada no ensino priméio. Em contrapartida, verificou-se a presenga de estabilidade nas avaliagdes dos sintomas emocionais durante o periodo em questo, A andlise das relagdes entre os dominios do SDQ (dos pais ¢ educadores/professores) e a fala, audigao, leitura e escrita aos sete anos revelou a existéncia de miltiplos efeitos significativos: Comparativamente aos pares com competéncias na fala, audigdo, leitura e a escrita acima da média, criangas com competéncias abaixo da média apresentaram, segundo os pais ¢ os professores, pontuagdes mais elevadas nos dominios problemas de comportamento, hiperatividade, problema com os pares e dificuldades totais aos sete anos. No que concerne ao acordo entre informadores, este foi elevado para as dificuldades sociais emocionais, particularmente para a hiperatividade, comparativamente aos comportamentos pro-sociais ¢ aos sintomas emocionais. Hartas concluiu que as dificuldades de comportamento exibidas pela crianga afetam ¢ sio afetadas pelos niveis de linguagem e de alfabetizagdo. Hartas acrescentou que o comportamento infantil muda substancialmente durante a idade pré-escolar € A entrada no ensino basico e que essas mudangas so suscetiveis de terem efeitos a longo prazo. A evolugo nas exigéncias sociais e académicas no ensino basico tem o potencial de promover ou de impedir o progresso da linguagem, da alfabetizagio ¢ do comportamento social. Consequentemente, Hartas apontou para a necessidade de existir ago que visa os problemas a nivel da linguagem, da alfabetizagio e do comportamento. Tendo em conta a relagdo bidirecional que existe entre linguagem, alfabetizagdo ¢ comportamento, as priticas educacionais deveriam nfo s6 apoiar a linguagem ¢ a alfabetizagio, mas também o comportamento. 13 Ezpeleta, Granero, de la Osa, Penelo e Doménech (2013) realizaram um estudo de validagio do SDQ na Espanha com uma amostra de 1.341 participantes incluindo pais ¢ educadores-de-infincia de criangas com trés anos de idade. Os autores detetaram uma associagao entre as pontuagdes do SDQ para pais educadores e o recurso a servigos de satide mental por um lado ¢ as dificuldades experienciadas pelas criangas por outro lado. De acordo com os resultados, 0 sexo da crianga agiu como moderador da interagdo entre as pontuagdes do dominio de Internalizagiio do SDQ e 0 uso de servigos e as dificuldades. Para além disso, os autores certificaram que a capacidade discriminatéria $DQ é clevada, pois distinguiu entre a presenga e a auséneia de perturbagdes repertoriadas no DSM-IV. Efeitos significativos relacionados com o sexo da crianga foram evidenciados em ambas as versdes do SDQ para os subdominios de hiperatividade, de comportamento pré-social, para o dominio de Externalizagdo e para o perfil de Problemas totais (apenas na versio para pais). Ezpeleta © colaboradores salientaram as boas propriedades psicométricas do SDQ © reconheceram-no como um instrumento valido para avaliar criangas com perturbagdes a nivel comportamental e emocional. 2.1.3. A persisténcia das perturbagdes comportamentais e socioemocionais, Devido as mudangas desenvolvimentais que ocorrem durante a primeira infaincia (nascenga ao trés anos), muitos pais ¢ profissionais da sade defendem que os problemas comportamentais e socioemocionais precoces, que surgem nese periodo, nio sdo transitérios (Briggs-Gowan et al., 2006; Briggs-Gowan & Carter, 2008). Briggs-Gowan e colaboradores (2006) estudaram os padrées de persisténcia de problemas internalizantes, exteralizantes € de desregulacdo relatados pelos pais € os fatores relacionados com a persisténcia, numa amostra composta por criangas sem dificuldades diagnosticadas com idades compreendidas entre os 12 ¢ 40 meses (na primeira avaliagdo) e 23 e 48 meses (na segunda avaliagio). Os resultados do Infant-Toddler Social and Emotional Assessment (ITSEA) permitiram evidenciar que 49,9% das criangas com pontuagdes elevadas na primeira avaliagdo apresentaram pontuagdes elevadas na segunda avaliagdo, Estes resultados indicam que a psicopatologia infantil no é transitéria, mas que os problemas de natureza comportamental € socioemocional so persistentes e que continuam a ser alvo de preocupago um ano apés a sua detegio, Numerosos estudos realizados nas décadas passadas tém vindo a atestar que existe continuidade ¢ semelhanga nos padres sintométicos da psicopatologia infantil ¢ adulta 14 (Achenbach, 1966; Rutter, Kim-Cohen, & Maughan, 2006). Segundo a perspetiva de Rutter et al, (2006), o desenvolvimento inclui inevitavelmente continuidade e mudanga e ambos os aspetos implicam coeréncia, legitimidade e organizagio. Existe uma interagiio constante entre 0 individuo e 0 meio e os primeiros anos de vida sio determinantes através dos efeitos em cadeia que podem ser postos em movimento. Para os autores, a agdo pessoal, i.e, a resposta aos desafios que enfrentam, assim como a regulago comportamental e emocional sio determinantes, uma vez que ambas s4o suscetiveis de influenciar a continuidade ou a mudanca da psicopatologia, O decorrer ¢ a expresso de uma perturbagao ¢ afetada por uma multitude de fatores, tais como a aparigdo precoce de um problema, os fatores genéticos e a interagdo entre genética e ambiente, as experiéncias-chave, a exposigdo de risco aumentado na psicopatologia antissocial, as experiéncias infantis adversas © as suas sequelas, as estratégias de coping e os mecanismos cognitivos envolvidos no processamento da psicopatologia, so alguns fatores que alteram a expresso psicopatolégica. 2.1.4. A importancia do contexto. J4 Winnicott referia em 1965 que sozinho 0 bebé nfo existe: O bebé existe na relagdo. (Carter et al., 2004; Sameroff & Emde, 1989). De facto, a crianga pequena nao pode ser pensada e considerada sem o seu cuidador principal e sem o contexto no qual vive. Existe um forte consenso de que as avaliagdes das dificuldades comportamentais ¢ socioemocionais na infincia devem integrar os conhecimentos sobre © funcionamento socicemocional ¢ os sintomas psicopatologicos dentro de varios contextos, nomeadamente o contexto de cuidados, assim como também as influéncias a nivel infantil, os fatores relativos 4 familia alargada, as contribuigdes culturais e os fatores sociais (Carter et al., 2004), 2.1.4.1. O contexto de cuidados, Segundo Sameroff ¢ Emde (1989), 0 contexto de cuidados desempenha um papel fundamental nas trajetérias desenvolvimentais da crianga, pois as (0 altamente \gas s dependentes de suportes reguladores extemos ¢, por isso, sio grandemente influenciadas pelos contextos de cuidados. Assim, nfo € raro que © aparecimento de um problema comportamental seja especifico a um determinado contexto ou cuidador. Os comportamentos-problema podem refletir uma incompatibilidade entre o nivel de desenvolvimento da crianga ¢ as exigéncias situacionais e os apoios disponiveis (Carter et al., 2004). Por outro lado, certas criangas com comportamentos-problema significativos em 15 varios contextos podem parecer bem reguladas em contacto com o determinado cuidador, devido as acomodagies © qualidades situacionais tnicas promovidas pelo cuidador. Comportamentos-problema que ocorrem através de varios contextos relacionais sio alvo de grande preocupagao, uma vez. que sugerem que a crianga intemalizou ou aprendeu um estilo de resposta que se generalizou para além de um contexto ou cuidador especifico. ‘A definigio do contexto de cuidados passa pela identificagio dos cuidadores primérios da crianga, dos padrdes das relagdes de cuidado atuais (transigdes entre cuidadores, etc.) ¢ da historia dessas relagdes de cuidado (transiges multiplas, perdas stibitas, ete.) [Carter et al 2004]. Outro fator a ter em conta acerca do contexto de cuidados conceme a maneira como os pais definem a familia e as pessoas que nela so incluidas. Essa definigdo & essencial na identificagdo dos meios de apoio e da origem de stress dentro do sistema familiar. A pertenga a familia pode ser definida, por um lado, baseando-se nas relagdes bioldgicas e, por outro lado, pela percegio de relagdes psicolégicas. Assim, o sistema familiar pode incluir a familia nuclear, redes de parentesco alargadas ou a comunidade (Bengtson, 2001). 2.1.4.2. Os contextos de raga, etnia e cultura, Fundamental na avaliagdo do contexto de cuidados é a distingdo entre cultura, raga e etnia, pois cada vez mais, as familias sio multiétnicas, multiculturais e multirraciais, declaram Carter et al, (2004), Investigadores que estudam as influéncias culturais sobre 0 desenvolvimento defendem a ideia de que as crengas, os valores e as priticas culturais devem desempenhar um papel primério nas avaliagdes de criangas (Betancourt & Lopez, 1993 Achenbach, 2005). De facto, a cultura deve ser apreendida como uma entidade dindmica e responsiva ao meio e as condigdes as quais a familia tem de se adaptar, tais como a imigragdo, a situagdo econémica e a exposi Emde, & Fleming, 2004). Achenbach (2005) sublinha a importancia e a necessidade dos (0 a grupos culturais diferentes (Christensen, instrumentos de avaliagdo, dos critérios diagndsticos ¢ dos constructos taxonémicos serem validados nas diversas culturas. Este passo é fundamental para responder & questo de saber se os instrumentos, os critérios ¢ os constructos podem ser generalizados ou validos para ume determinada cultura. Além do mais, é essencial ter em conta a cultura no desenvolvimento de um instrumento de avaliago, referem Carter © colaboradoras (2004). De facto, nao é suficiente traduzir um. instrumento psicométrico para a populagdo alvo ou para a lingua matena do individuo, pois 16 as tradugdes podem nao adequar-se 4 populagdo que esté a ser estudada ou a familia em questio. Logo, a consisténcia interna ou a estrutura fatorial obtida numa cultura dominante nao implica que mesmas serao validas numa menoridade étnica ou racial, uma vez que o valor atribuido a determinados comportamentos pode variar de cultura em cultura, de forma a que certas condutas sejam percecionadas como problemticas para uns, mas néo para outros. Portanto, é importante iniciar um diélogo com a familia a fim de entender o valor cultural atribuido aos comportamentos manifestados. A abertura relativamente & diversidade ¢ a consciéncia da diversidade das priticas culturais so qualidades fundamentais nas avaliagie (Betancourt & Lépez, 1993). A formagdo pessoal e, mais especificamente, o processo de autoconhecimento permitem evitar patologizagdes excessivas ou reduzidas da crianga ou das priticas familiares. 2.1.4.3. 0 contexto de desenvolvimento. desenvolvimento socioemocional ¢ a psicopatologia infantil devem ser avaliados tendo em conta o desenvolvimento cognitivo linguistico ¢ as condigdes fisicas © de satide da crianga (Carter, Marakovitz, & Sparrow, 2006). As autoras do artigo citam Anna Freud que sublinhou em 1966 a importincia de entender como as diversas linhas de desenvolvimento afetam a evolugio de outros dominios desenvolvimentais, nomeadamente, cognicdo, linguagem, fungdes motoras finas e globais, competéncias sensoriais). 2.1.5. Fatores de risco e fatores de protesio. Para além de ser necessério examinar o contexto de desenvolvimento ¢ de cuidados, importa averiguar outros parametros suscetiveis de auxiliar ou prejudicar o desenvolvimento adaptativo da crianga (Carter et al., 2004; Wille, Bettge, Ravens-Sieberer ¢ 0 BELLA study group, 2008). A acumulagao de fatores de risco ambientais internos ¢ externos ao sistema familiar tem um efeito adverso no desenvolvimento da crianga. Além do mais, para Scheithauer e Peterman (1999), a vulnerabilidade aos fatores de risco aumenta com a idade, varia consoante o sexo e depende da duragdo do impacto do risco e da ocorréncia sequencial ou simultanea dos fatores Wille, Bettge, Ravens-Sieberer et al. (2008) recorreram ao SDQ para examinar a frequéncia ea distribuigdo de fatores de risco ¢ fatores de protegio e as suas consequéncias a nivel da satide mental infantil. Para os autores, os fatores de risco néo constituem fendmenos ifluenciarem o isolados, mas tendem a agrupar-se. Varios fatores de risco suscetiveis de ii 7 decorrer de um determinado problema foram destacados: Fatores ambientais, psicossociais ¢ biolégicos. Relativamente aos fatores de protegdo na infancia, Wille, Bettge, Ravens-Sieberer et al, (2008) afirmaram que estes podem contribuir para o desenvolvimento resiliente da crianga, Trata-se de fatores especificos a crianga (recursos pessoais, tais como caracteristicas da personalidade), especificos 4 familia (recursos familiais, nomeadamente apoio familial, educagio, ete.) ¢ especificos ao contexto social alargado da crianga (recursos socais, a saber apoio social disponivel). Os resultados revelaram que a prevaléneia dos fatores de riseo foi mais clevada em populagdes caraterizadas por determinados contexts (doenga, estatuto socioeconémico), afetando mais adolescentes do que criangas mais novas e que a acumulagéo de fatores de risco aumentou a probabilidade de sofrer de doengas mentais. Os autores concluiram que um elevado némero de recursos pode exercer um efeito protetor em jovens ndo expostos a contextos altamente estressantes € propuseram uma abordagem preventiva centralizada na promogio da satide, Essa abordagem passa pela identificagdo de fatores suscetiveis de alterar o impacto de outros fatores de risco existentes. Os autores realgaram. que diferentes tipos de estratégias e intervengdes devem ser elaborados a fim de responder as necessidades dos jovens. Essas estratégias e intervengdes devem ter em conta o nivel de exposigdo aos fatores de risco. No artigo de Dwyer et al. (2005), os autores exploraram a importéncia da comunicagao entre familia ¢ educadores-de-infancia acerca dos fatores de risco a nivel familiar aos quais as criangas esto expostas, Neste estudo longitudinal de trés anos, os autores aplicaram as verses para pais ¢ educadores do Family Risk Factor Checklist a uma amostra australiana de 756 criangas. Este inventirio avalia a exposigio da crianga a fatores de risco no meio familiar € explora o conhecimento dos educadores-de-inffincia sobre esses riscos. Os resultados indicaram que existe um maior conhecimento sobre os fatores de risco por parte dos educadores quando a comunicagao com os pais é maior. Além do mais, os autores referiram que existe uma grande concordincia entre os educadores-de-inffincia € os pais nos itens referentes aos fatores de risco. Dwyer et al. apontaram para o papel determinante das relagdes pais-professores fortes no desempenho académico das criangas, particularmente em familias desfavorecidas ou criangas com doengas mentais, pois o estudo revelou que a comunicagdo entre ambos aumentou 0 conhecimento dos educadores-de-infincia sobre a exposigdo a fatores de risco. Esse conhecimento pode influenciar o encaminhamento para servigos de intervengao especializados. Portanto, é fundamental otimizar a comunicagdo entre ambas as 18, partes, para os educadores-de-infancia terem conhecimentos suficientes sobre a situagdo familiar da crianga quando a sua intervengdo é solicitada, Existe, na comunidade cientifica, pouco consenso no que diz respeito ao meio de residéncia e 4 prevaléncia de perturbages a nivel comportamental e socioemocional (Marsella, 1998; Verheij, 1996). Contudo, como referem os Marsella (1998) e Verheij (1996), parece que os meios urbanos constituem um fator de risco, pois estudos que comparam a saiide mental entre residentes de meios urban sv rurais indicam que, em geral, os habitantes de zonas urbanas exibem mais problemas. Verheij (1996) examinou as variagdes existentes na saiide mental nos meios urbanos ¢ rurais e avangou alguns elementos explicativos, nomeadamente a exposigao a fatores ambientais (poluigdo, trafego, stress, ete.) ¢ sociais (apoio social, atividades sociais, etc.) e © comportamento (abuso de substancias, exercicio fisico, ete), Poucos estudos relacionam a satide mental infantil as varidveis meio de residéncia, recorrendo ao SDQ. A literatura existente investiga a prevaléncia das_perturbagdes psiquidtricas em zonas urbanas/rurais ¢ em favelas de paises em desenvolvimento. A investigagio de Mullick © Goodman (2005) averiguou a prevaléncia das perturbagdes psiquidtricas numa amostra comunitéria e clinica de criangas com idades compreendidas entre os cinco e os 10 anos em areas urbanas/rurais e em favelas em Bangladesh através da administragdo do SDQ e do Development and Well-Being Assessment (DAWBA). De acordo com os resultados, as perturbagdes comportamentais ¢ a perturbacdo de stress pos-traumitico sio mais prevalentes em favelas, comparativamente aos meios urbanos ¢ rurais, Relativamente perturbagdo obse: ivo-compulsiva, esta aparenta ser altamente prevalente nas trés areas. Os resultados do DAWBA revelaram que a proporgio de criangas entre os cinco e os 10 anos a softer de pelo menos uma perturbagiio psiquidtrica do ICD-10 é de 15% em zonas rurais, 10% em zonas urbanas prosperas ¢ 20% em favelas. Os autores detetaram, um nimero de perturbagdes mentais significativamente mais elevado om favelas, comparativamente a zonas rurais € urbanas, sugerindo que a pobreza das favelas reflete-se na saiide mental dos seus residente Um outro estudo epidemiolégico realizado em zonas urbanasirurais e favelas de Bangalore na India estudou a prevaléncia das perturbagdes psiquidtricas em criangas adolescentes (Srinath et al., 2005). Apesar da clevada prevaléncia das perturbagdes mentais 19 na populagdo jovem (até aos 16 anos), ndo foram evidenciadas efeitos do meio sobre o funcionamento comportamental e socioemocional da crianga, 2.1.6, Avaliagio do funcionamento comportamental e socioemocional na infan Provas empiricas documentam que as criangas sofrem de perturbagdes mentais sérias ¢ persistentes que prejudicam as suas atividades diérias e que comprometem a sua adaptagio a nivel do desenvolvimento, assim como 0 seu funcionamento social ¢ 0 seu desempenho escolar (Briggs-Gowan et al., 2006; Briggs-Gowan & Carter, 2008; Carter et al., 2004; Kessler et al., 2009; Wille, Bettge, Ravens-Sieberer et al., 2008). Os progressos realizados no Ambito da conceptualizagio e na medigdo dos problemas e das competéncias socioemocionais na infincia, assim como na drea da psicopatologia infantil, foram essenciais nestes iltimos anos (Zeanah, Boris, Heller et al., 1997, 1998). Esses progressos permitiram atestar que um niimero significative de criangas presenta perturbagdes psicopatolégicas e que, frequentemente, os problemas que surgem neste periodo de desenvolvimento persistem ao longo da vida. Logo, a fim de facilitar a detegdo de dificuldades de natureza socioemocional, diversos instrumentos, tais como questionirios e entrevistas, foram desenvolvidos nos ‘iltimos anos com o objetivo de avaliar 0 funcionamento das criangas e de permitir 0 encaminhamento para servigos de interven Importa incluir nas avaliagdes, informagdes de varias fontes, incluindo observagdes ¢ relatos de todos os individuos que interagem diariamente com a crianga (Carter et al., 2004), Os relatos dos pais podem ser sujeitos a uma variedade de vieses de informagio, incluindo possiveis distorgées associadas a sintomas afetivos dos pais, distorgdes negativas cujo objetivo é a obtengao de servigos ou a omissio de problemas para evitar estigmatizagdes ou a intervengdo de servigos extemos, tais como servigos sociais, etc. Assim, enquanto métodos capazes de integrar diferentes tipos de informagdo nao forem desenvolvidos, a interpretagao de dados provenientes de varios métodos ¢ informadores deve ser informada pelo conhecimento das vantagens ¢ limitagdes de cada abordagem. Rescorla (2005) acrescenta que a fim de obter um relatério exaustivo sobre o funcionamento da crianga, as avaliagSes devem, evar em consideragao 0 informador, assim como as variagdes relacionadas com a etnicidade, as constelagdes familiares, o nivel socioeconémico ¢ as linguas faladas em casa, 20 Abordagens na avaliagio. © proceso de avaliago de criangas e de adolescentes com dificuldade: comportamentais, sociais e/ou emocionais mudou nas iltimas duas décadas como consequéncia de uma expansio da proeminéncia ¢ da aceitagdo de métodos de avaliagao, tais como as entrevistas comportamentais estruturadas, os inventirios de comportamentos, as escalas de avaliagio (autoavaliagdes € relatos de informantes) ¢ a observagio sistemética (Shapiro & Heick, 2004). De acordo com os resultados do inquérito realizado por Shapiro e Heick (2004), verifica-se um aumento significativo na utilizagdo, pelos psicélogos escolares, de entrevistas, de escalas de avaliagdo e de observagdes em contextos de avaliagio comportamental, social e emocional de alunos suspeitos de apresentarem dificuldades em pelo menos um desses dominios. Os instruments de avaliagdo variam consoante o individuo que fornece respostas (i.e., 0 proprio individuo examinado, os pais/cuidadores, educadores/professores, etc.), 0 método de avaliagdo, 0 periodo de tempo abrangido, assim como o tipo de informagao (sintomas individuais ou comportamentos socioemocionais) [Carter et al., 2004]. Informagies especificas referentes ao inicio, ao decorrer, a frequéncia, a intensidade, & qualidade © ao contexto de ocorréncia so necessérias para a atribuigdo de um diagnéstico. Segundo os autores, questionarios que apenas investigam a frequéncia de um comportamento permitem identificar uma crianga com riscos elevados de psicopatologia. Porém, nao permitem reter informages suficientes para a realizagao de um diagnéstico, Para além disso, inventérios de comportamento excluem frequentemente os comportamentos que ocorrem com pouca frequéncia, pois a incluso dos mesmos reduz.a consisténcia intema do inventitio, Existem diferentes abordagens ¢ taxonomias para avaliar perturbagdes mentais e comportamentais: Os métodos baseados em diagnésticos, i.e., avaliagdes baseadas em categorias ou nosologias (DSM ¢ 0 ICD-10) ~ que no serio abordados — ¢ os métodos empiricos que recorrem a instrumentos imensionais para investigar a frequéncia e a (Achenbach et al., 2008; Carter et al., 2004; Egger & Angold, 2006). Resumidamente, na abordagem categérica representatividade de um determinado comportamento na criant verificado se o individuo preenche ou ndo um niimero definido de critérios de uma determinada perturbagdo (Egger & Angold, 2006). Uma discussdo de longa data na area da psicopatologia infantil debate se as perturbagdes nessa faixa ctéria devem ser conecbidas como sendo dimensionais ou categéricas. Contudo, os autores propdem que a maneira mais 21 frutuosa de identificar criangas com sintomas significativos a nivel clinico, ¢ combinar ambas as abordagens, Os métodos de avaliagéo dimensionais averiguam a psicopatologia em termos dimensionais ou quantitativos, apoiando-se numa abordagem “bottom-up” que comega nos niveis i iferiores até atingir os niveis superiores (Achenbach et al., 2008): Depois da obtencao de pontuagdes dos descritores especificos, as pontuagdes so analisadas estatisticamente para identificar sindromes de problemas que tendem a coocorrer (Achenbach & Rescorla, 2006) ¢ agrupadas em escalas cujo objetivo & a medigio da psicopatologia e de aspetos do fumcionamento. De seguida, cada pontuagdo de uma escala pode ser comparada & pontuagdo de amostras normativas a fim de avaliar o grau de desvio indicado pelos resultados do individuo. A descrigio cuidadosa dos comportamentos ¢ das suas frequéncias ¢ de outras qualidades em cada faixa etéria numa populago comunitaria (ndo-clinica) & fundamental (Egger & Angold, 2006). Este trabalho descritivo possibilita a designagdo de pontos de corte (cut-points) determinados empiricamente ¢ a identificago de conjuntos de sintomas ndo- normativos. ‘As medidas dimensionais tém varias vantagens quando dados normativos esto disponiveis (Carter et al., 2004): Primeiro, permitem comparar 0 comportamento individual de uma crianga relativamente a um grupo de referéncia normativo. Segundo, facultam um meio para quantificar alteragdes do comportamento ao longo do tempo e/ou antes ¢ apés a intervengo, Terceiro, fornecem uma maneira eficiente e barata para recolher informacdes de varios dominios de funcionamento socioemocional. Por iltimo, permitem tragar o perfil dos pontos fortes ¢ fracos da crianga nos varios dominios de problemas comportamentais socioemocionais ¢ de competéncias. Geralmente, os criadores de instrumentos dimensionais de avaliagdo tentam identificar conjuntos coerentes de comportamentos que manifestam problemas e/ou competéncias ¢ que refletem um constructo comum (Carter et al., 2004). Para além disso, os criadores baseiam-se em dados normativos e clinicos para estabelecer pontos de corte referentes as diversas faixas etarias, com o objetivo de facilitar a atribuigdo de um estatuto clinico, Idealmente, dadas as mudancas desenvolvimentais que ocorrem na primeira infincia, as medidas destinadas para a avaliagao de criangas baseiam-se em faixas etdrias reduzidas para permitir comparagdes: Um més de intervalo para a primeira infiincia, dois meses depois dos 22 dois anos, trés meses a partir dos seis anos e quatro meses para criangas mais velhas (Carter et al., 2004), A necessidade de grupos de comparagio estreitos é particularmente relevante para comportamentos socioemocionais, tais como competéncias, visto que evoluem a um ritmo mais dramético durante a infancia, comparativamente aos comportamentos-problema (Carter, Briggs-Gowan, Jones, & Little, 2003). Os instrumentos de avaliagio utilizados para a detegiio de problemas comportamentais c/ou socioemocionais em grandes escalas devem ser curtos, faceis de administrar, pontuar e interpretar. Além disso, devem apresentar indices de fiabilidade ¢ validade adequados (Jellinek & Murphy, 1988, como citados por Carter et al., 2004). Além do mai é necessario os testes fornecerem informagdes no s6 apropriadas a nivel do desenvolvimento (Glascoe, 2000; Rescorla & Achenbach, 2002), mas também tteis a nivel clinico (Carter, 2002, como citado por Carter et al., 2004), Outra propriedade conceme a sensibilidade e especificidade do teste, ie., a capacidade do teste manter um equilibrio entre uma proporgdo suficiente de criangas com dificuldades e uma proporgdo aceitavel de falsos positivos. Instrumentos de avaliagdo de qualidade devem ter uma sensibilidade relativamente a problemas psicossociais € uma especificidade referente ao desenvolvimento normal de 70% a 80%, Embora a taxa de encaminhamentos excessivos atinja os 20% a 30%, a identificagio de falsos positivos reflete na maioria criangas com competéncias intelectuais, linguisticas ou académicas abaixo da média (Glascoe, 2000). Por outro lado, a percentagem (20% a 30%) de criangas no identificadas so, em muitos casos, detetadas subsequentemente. Varios instrumentos psicométricos correspondem a essas caracteristicas. O CBCL e 0 C- TRE, 0 SDQ, 0 ITSEA e 0 BITSEA sio alguns dos testes, aqui abordados, em forma de questionario que permitem averiguar o funcionamento ¢ as competéncias socioemocionais em criangas e em adolescentes. 23 2.2, A Satide Mental De acordo com Wittchen et al. (2011), existe pouca consciéneia sobre a diversidade das perturbagdes mentais e pouco conhecimento sobre o impacto destas doencas na sociedade Esta realidade constitui um obsticulo na realizagio de investigagao de maior qualidade no que conceme as causas e aos tratamentos das perturbagdes, a melhoria na alocagdo de recursos para os tratamentos da saiide mental e ao aperfeigoamento na prestagdo de cuidados. Existe uma grande diversidade de doengas e um nimero ainda maior de diagnésticos que requerem intervengdes preventivas, terapéuticas ¢ reabilitativas de diferentes tipos e intensidades nas varias faixas etdrias. A disponibilidade atual de tratamentos eficazes, a auséneia atual de cura absoluta e a escassez de intervengdes preventivas na area das perturbagdes mentais ¢ outras doengas cerebrais exigem agdes concertadas a todos os niveis. Tendo em conta que a carga de doenca e © peso a nivel da sociedade das perturbagies cerebrais vio continuar a progredir devido ao aumento da esperanga de vida, impos ea necessidade de ago imediata, colocando a satide mental no topo das prioridades politicas. De acordo com Wittchen et al. (2011) 0 inicio e decurso das perturbagdes mentais deve ser percecionados segundo uma perspetiva mais ampla, i.c., a0 longo da vida, desde a inffincia até & terceira idade. Tal perspetiva possibilita a implementago de uma agdo ajustada e de prestagdes de cuidados e estratégias de intervengiio mais eficazes. Kessler et al. (2009) € Kessler et al. (2011) ret © primeiro surto na infancia ou na adolescéncia ¢ a remisséo raramente ocorre erem que a maioria das pessoas com perturba 's mentais experiencia espontaneamente, Esses individuos tém um risco aumentado de perturbagdes secundarias temporarias. Logo, a detegdo ¢ 0 tratamento precoce das doengas mentais permitem evitar uma manifestago mais severa © avangada do problema, tormando as estratégias de intervengo mais eficientes (Wittchen et al., 2011). Wittchen et al. (2011) apresentaram as estimativas da prevaléncia de 27 distirbios mentais ¢ perturbagées neurolégicas ¢ a carga de incapacidade associada em 30 paises da Europa em 2010 numa publi jo sobre a dimensio ¢ o peso das doengas mentais ¢ cerebrais, abrangendo a infiincia ¢ adolescéncia (dois a 17 anos), a idade adulta (18 a 65 anos) ¢ a populago idosa (+65 anos). O estudo revelou que 38,2% da populagdo total europeia (aproximadamente 164,7 milhdes de pessoas) sofre anualmente de pelo menos uma das 27 doengas mentais abarcadas no relat6rio. 24 Num estudo que investiga a prevaléncia das perturbagdes mentais, Ravens-Sieberer et al (2008) referem que a qualidade de vida relacionada a saiide ¢ substancialmente reduzida nas populagdes afetadas por doengas mentais, comparativamente a populagdes nao afetadas. Os autores exploraram através da administragio do SDQ e outros instrumentos, como ¢ a que pontos os jovens alemdes (sete a 17 anos) com perturbagdes mentais estavam limitados no seu funcionamento didrio e quais as consequéncias em termos de qualidade de vida. Os resultados revelaram que a prevaléncia de jovens manifestando doengas mentais atingiu os 5,6% (6,3% entre os sete ¢ 10 anos; 3,7% entre os 11 ¢ 17 anos), Os resultados também. revelaram que apenas uma minoria de jovens beneficiou de tratamento, apontando para a falta de consciencializagio a nivel das necessidades terapéuticas. De facto, menos do que metade dos jovens com problemas detetados so identificados ou reconhecidos como necessitando apoio ou tratamento. Mais uma vez & salientada a importincia nfo s6 da realizagio de diagnésticos por profissionais a fim de atribuir tratamentos adequados aos jovens, como também da disponibilidade de instrumentos de avaliagao eficientes, sensiveis e validos. De acordo com Heathfield e Clark (2004), 40% a 60% das familias que procuram ajuda desiste dos tratamentos prematuramente. Segundo os autores, as familias queixaram-se do acesso aos servigos de saiide mental, considerado demasiado dificil, estigmatizante, dispendioso e frustrante devido aos servigos muitas vezes pouco interligados e coordenados entre eles. Os autores postularam que ¢ fundamental estabelecer relagdes de cooperagdo entre a escola, os servigos de satide mental ¢ as familias por um lado ¢ desenvolver estratégias proactivas, nomeadamente executar avaliagdes regulares © tomar acessivel uma grande variedade de servigos de prevengao primairios, secundarios ¢ terciérios, por outro lado. Kovess-Masféty, Shojaci, Pitrou c Gilbert (2009) confirmam a conclusto de Heathfield ¢ Clark (2004) relativamente as desisténcias do tratamento num artigo que analisou as, necessidades na rea da saiide mental e em pedopsiquiatria em Franga. Para além da repartigdo desigual das diversas instituigdes nacionais observada, a prestagio de cuidados também apresentou disparidades, pois menos de metade das criangas com necessidades pedopsiquiatricas foram seguidas, enquanto 0 ntimero de encaminhamento de eriangas com necessidades menos especificas foi mais elevado. Segundo, DeRigne (2010) e DeRigne, Porterfield e Metz (2009) o seguro ¢ os planos de salide americanos representam barreiras significativas no acesso a tratamentos na area de satide mental. De facto, 24,2% dos participantes referiram 0 elevado custo dos tratamentos € 25 20,1% relataram problemas a nivel do plano de satide como explicagdo para a auséncia de tratamento necessério (DeRigne, 2010). Outro aspeto importante conceme o tipo de seguro de satide, pois a probabilidade de recorrer a servigos de saiide mental diminui quando se trata de seguros privados, comparativamente a seguros publicos (DeRigne et al., 2009). As autoras também identificaram uma variedade de fatores que interferiram com o acesso aos servigos de saide mental, Assim, jovens mais velhos do género masculino e jovens de origem caucasiana revelaram ter, em geral, necessidades de tratamento nfo satisfeitas, O nivel socioeconémico ¢ de educagdo da mae também revelaram ser determinante: Quanto mais baixo 0 nivel socioeconémico, maior a percentagem de criangas mio encaminhadas e, inversamente, quanto maior o nivel de educagdo, maior as necessidades de tratamento. O Luxemburgo e a satide mental. Como referiram anteriormente Carter et al. (2004), as familias sio cada vez mais multiétnicas, multiculturais e multirraciais. Esta realidade descreve bem a situagio do Luxemburgo. Segundo os dados estatisticos do centro nacional estatistico Institut national de la statistique et des études économiques du Grand-Duché du Luxembourg (STATEC) referentes a0 ano 2013, 0 Luxemburgo tem uma populagio de 530,000 habitantes, com aproximadamente 45% de habitantes com nacionalidade estrangeira (Etat luxembourgeois, 2013b). Atualmente contabilizam-se acima de 150 nacionalidades diferentes no territério do Grdo-Ducado (Etat luxembourgeois, 2013c). A maioria dos emigrantes so cidadios provenientes da Unido Europeia, Aos residentes estrangeiros, juntam-se mais de 155.000 trabalhadores aleméi , belgas e franceses que passam a fronteira diariamente para trabalhar no Luxemburgo. Relativamente a situagdo linguistica, esta caracteriza-se desde 1984 pela pritica e 0 reconhecimento de trés linguas: O luxemburgués, o francés © o aleméo, 0 luxemburgués sendo a lingua nacional (Etat luxembourgeois, 2011; 2013c). Todavia, o francés representa a lingua da legislago eo luxemburgués, 0 francés ¢ o alemao as linguas administrativas ¢ judiciais. A importincia da coexisténcia destas linguas entre si constitui parte integrante da identidade nacional, Em todo 0 territério © nos diversos dominios da vida privada, profissional, social, cultural e politica praticam-se estas trés linguas. Este multilinguismo, que € partilhado por aproximadamente 285.000 habitantes, facilita a integrago dos scus habitantes no pais. 26 Luxemburgo caracteriza-se pela escassez de estudos epidemiolégicos na area da sade mental (Bisdorff, Sobocki, Cloos, Andrée, & Graziano, 2006). Bisdorff et al, (2006) realizaram um estudo em colaboragdo com o grupo de estudo Cost of Disorders of the Brain in Europe, cujo objetivo & a apresentago da melhor estimativa possivel dos custos acarretados pelas perturbagdes _cerebrais, i.e., wricas/mentais, neurolégicas ¢ neurocirirgicas. Uma selegdo de nove perturbacdes cerebrais ¢ trés doengas meniais (abuso de substincias, perturbagdes afetivas e de ansiedade) foi realizada previamente pelo grupo Europeu em 2005. Devido & escassez de documentago acerca da psiquiatria nacional, os autores extrapolaram muitos dos resultados apresentados a partir de estudos europeus realizados anteriormente. Os autores constataram que aproximadamente 123.000 individuos sofriam de doengas cerebrais — mais de um quarto da populago total nacional — com custos atingindo uma média de 1.100€ por habitante (500€ milhdes no total) em 2004. Mais especificamente, 0 mimero de individuos afetados por perturbagdes afetivas foi estimado a 22.600 individuos ¢ a 42.000 no que toca as perturbagdes de ansiedade. Quanto aos custos das doengas mentais, estas constituiram 62% do custo total, As despesas incluiram os gastos médicos diretos (atendimento ambulatério, hospitalizagdes, medicago), extramédicos (servigos sociais, cuidados informai adaptagdo, transporte) e indiretos (licenga por doenga, pensio precoce, morte prematura). Bisdorff et al. alertaram para a importancia de existir mais investigagdo e dados epidemiolégicos fidveis e consistentes na rea das perturbagdes cerebrais no Luxemburgo. Sem informagdes sobre a dimensio do problema, ¢ dificil fazer recomendagdes referentes A investigago, educagdo e consciencializagao publica. Numa publicago sobre o custo das perturbagdes cerebrais na Europa em 2010, Gustavsson et al. (2011) apresentaram valores sobre a prevaléncia ¢ os custos associados as doengas mentais ¢ neurologicas no Luxemburgo. Segundo este estudo, 0 niimero de perturbagdes cerebrais (tais como as perturbacdes do espectro do autismo, a perturbagio de hiperatividade © défice de ateng%o ¢ as perturbagdes de comportamento) na infncia ¢ adolescéncia (dois a 17 anos) atinge os 6.604, acarretando custos elevados de aproximadamente 9.388€ por pessoa ¢ 62€ milhées no total. Referentemente as perturbagSes de ansiedade e as perturbagdes do humor, estas contabilizam 66.696 ¢ 31.877 de individuos respetivamente. Os problemas relacionados com © abuso de substincias atingiram 15.397 pessoas, enquanto as perturbagdes psicéticas afetaram 4,738 individuos. Os resultados sugeriram que os custos totais por perturbacdo variaram entre 115€ milhécs (toxicodependéncia) e 179€ milhdes (perturbagdes do humor) em 2010, 27 2.3. A Psicomotricidade ‘A psicomotricidade & um conceito do desenvolvimento psicolégico que alude 4 construgio somatopsiquica do ser humano em relagdo com o mundo externo (Aucouturier, 2011). Trata-se, portanto, de uma disciplina que testemunha da complexidade do desenvolvimento humano, De acordo com o autor, a psicomotricidade focaliza-se na construgdo somatopsiquica da crianga, pois as experiéncias corporais “interagidas” com 0 mundo extemo sio fundadoras do psiquismo e das representagdes inconscientes. A psicomotricidade permite nio s6 entender 0 que a crianga exprime por intermédio da sua motticidade, como também permite aceder ao sentido dos comportamentos por ela manifestados. O psicomotricista acompanha a crianga num trabalho de conhecimento do seu corpo, do espago ¢ do objeto, construindo com ela um espago corporal (Latour, 2009). Este espago do Eu psicomotor é fundamental no desenvolvi nto das capacidades de comunicagdo ¢ de crescimento psiquico. Ao mesmo tempo, suporta as competéncias E cognitivas numa ligagdo & experiéncia do proprio corpo. a ligagio a0 corpo é constantemente renovada. As perturbagdes que se inscrevem no corpo infantil articulam-se em volta da historia real, consciente ¢ inconsciente da crianga, mas também dos seus pais, da sua familia e das geragdes anteriores (Sarda, 2002). f através do didlogo tonicoemocional que a crianga vai tomar es de ns ator € sujeito da sua motricidade. A manifestagiio de sentimentos, de estados ¢ de movimentos tonicos permite-Ihe realizar a distingdo entre o interior-exterior do corpo € entre o proprio corpo 0 corpo do outro. Para que © corpo, o “eu meu corpo” po: exis ir, & necessério liga-lo, através do emocional e do pensamento, a0 corpo do outro que no Ihe pertence. Numerosas investigagdes salientam a influéncia da vinculago, do bonding e das experiéneias precoces no desenvolvimento das criangas ¢ na organizago da estrutura psiquica de criangas ¢ adultos, podendo ser, em certos casos, a via de muitas perturbagdes 2.3.1. A teoria da vinculagio. A teoria da vinculago est baseada nos trabalhos de John Bowlby ¢ de Mary Ainsworth inic iados a partir de 1930 (Grossmann & Grossmann, 1998). Segundo Bowlby, a vinculagdo & ‘uma caracteristica herdada da historia evolutiva transmitida de geragdo em gerago e cada ser 28 humano nasce com a predisposigio para criar uma relagdo de vinculagdo. De acordo com esta teoria, cada individuo tem a necessidade de criar relagdes afetivas de proximidade estaveis ¢ de confianca ao longo da sua vida. Essas relagdes possibilitam a exploragio do mundo, de si proprio e dos outros. Bowlby defende a ideia de que as experiéncias afetivas bem-sucedidas durante a infancia parecem ser fundamentais no desenvolvimento posterior da organizagio adaptativa psicoemocional (Grossmann & Grossmann, 1998). As relagdes de vinculagdo refletem as estratégias comportamentais diferenciadas que a crianga desenvolveu no contacto com o seu meio (Grossmann & Grossmann, 1998), através das experiéncias e das interagdes que estabelece no seu dia-edia (Tereno, Soares, Martins, Sampaio, & Carlson, 2007). Progressivamente, a crianga é capaz de organizar 0 scu comportamento em tomo de uma figura de referéncia que funciona como uma base de seguranga, uma fonte de conforto e de protegdo e como uma base de seguranga para a exploracao, Grossmann ¢ Grossmann (1998) salientam o facto de que os sistemas de vinculagio ¢ de exploragdo so as duas vertentes do mesmo processo, pois a capacidade de abertura ao mundo € aos outros depende da qualidade da vinculagio assim como dos modelos internos de si proprio e dos outros que resultam dessa vinculagdo. A disponibilidade, a apropriabilidade, a sensibilidade e consisténcia emocional da resposta parental aos sinais da crianga determina 6 tipo ¢ a qualidade da vinculagdo que se desenvolve: Pais disponiveis emocionalmente que respondem de forma ripida, sensivel ¢ adequada facilitam o estabelecimento de uma vinculago segura, enquanto pais emocionalmente indisponiveis, impercetiveis que respondem de forma inconsistente, insensivel, rara, intrusiva ou inadaptada fomentam um tipo de vinculago insegura (Creighton, 2011). Num estudo com adolescentes italianos, Tambelli, Laghi, Odorisio e Notari (2012) exploraram a associagdo entre as relagdes de vinculagdo aos pais e aos pares ¢ os problemas intenalizantes e extemalizantes. Os resultados indicaram que um padrao seguro nas relagdes de vinculagdo com os pais ¢ os pares revelou ser um fator de protegdo na adaptagdo dos adolescentes. A vinculago a pares pareceu desempenhar um papel essencial no desenvolvimento de competéncias socioemocionais tnicas, tais como a empatia ¢ os comportamentos pré-sociais. Por sua vez, as relagdes de vinculagdo seguras entre cuidadores © adolescentes pareceram estar associados a uma multitude de aspetos relacionados com 0 bem-estar (autoestima elevada e baixo softimento psicolégico). Para além disso, a confianga 29 nas relagdes de vinculagdo (com os cuidadores ou os pares) revelou ser crucial na percegao dos jovens sobre as suas competéncias. Numa publicagio que abordou as relagdes de vinculagdo, Schore (2001) explorou os efeitos de um padro de vinculagdo seguro sobre o desenvolvimento do hemisfério cerebral di emogGes constituem principios organizadores centrais do desenvolvimento ¢ da motivagio ito, a regulagdo dos afetos e a saiide mental. Schore referiu que a regulagio afetiva e as humana, portanto so fundamentais para as fungdes de adaptagdo do cérebro. O autor propés que existe uma interagio complexa entre as estruturas ¢ 0 funcionamento do cérebro ¢ 0 meio que se prolonga ao longo da vida e que aparenta ser particularmente importante durante os dois primeiros anos de vida da crianga, O hemisfério direito esté envolvido em varias atividades, tais como o tratamento de informagdes socioemocionais que facilitam as fungdes de vinculagao ¢ regulam os estados corporais ¢ afetivos (Schore, 1994, 1998a, como citados por Schore, 2001). Para Schore (2000, 2001), a matura hemisfério direito depende das experiéncias ¢ estas experiéncias esto fundamentadas nas jo das capacidades adaptativas do relagdes de vinculagdo entre cuidador ¢ crianga, Estas experiéneias podem influenciar de forma positiva ou negativa a maturagdo das estruturas cerebrais e dai o desenvolvimento psicolégico da crianga, Este modelo neuropsicobiologico sugere que existem relagdes diretas entre vinculagio segura, desenvolvimento das fungdes regulatérias eficiente do hemisfério direito ¢ saiide mental infantil adaptativa. Altemativamente, este modelo propde que existe uma relagdo entre vinculagio traumética, fungdes regulatérias insuficientes do hemisfério direito ¢ uma satide infantil mal adaptativa, 2.3.2. A teoria do bonding. © bonding, conceito introduzido por Klaus e Kennell em 1976 (Crouch & Manderson, 1995), corresponde aos lagos afetivos duraveis (Offerman-Zuckerberg, 1992, citado por Crouch © Manderson, 1995) ¢, mais especificamente, os comportamentos ¢ sentimentos afetivos dos pais para com os seus filhos. Sameroff e Emde (1989) definiram este coneeito como sendo a forte vinculagio da mae para com o seu filho que se desenvolve durante a gravidez ou depois do nascimento, O bonding caracteriza-se por um periodo sensivel para 0 estabelecimento da ligagdo entre mae e filho. A forma como os pais vio relacionar-se com os seus fills tem consequéncias a longo prazo a nivel da vinculagao, assim como a nivel do seu bem-estar emocional. 30 Schore (2001) defende a ideia de que numa relagdo saudvel, © cuidador proporciona acesso emocional a crianga ¢ responde apropriada e prontamente aos seus estados, quer estes sejam positivos ou negativos. Logo, esta atitude do cuidador sustenta a adaptago da criang: perante as fungdes de regulagdo internas que esto relacionadas com a regulagio da excitagdo, o mantimento das fungdes de alerta, a capacidade de amortecer a excitago em situagdes de demasiada estimulago, a capacidade de inibir a expresso comportamental ¢ a capacidade de desenvolver ciclos comportamentais previsiveis (Beebe & Lachmann, 1998, citados por Edwards, 2011), 2.3.3. As experiéneias precoces. Numerosos estudos realizados nas dltimas décadas abordaram a importéncia das experiéncias precoces. Numa publicagio de Zeanah (2009), é explorado a que ponto as experiéncias precoces negativas afetam de maneira adversa o desenvolvimento © até que ponto essas experiéncias precoces negativas podem ser superadas por experiéncias posteriores. Ambas as questdes so abordadas segundo perspetivas diferentes. De acordo com © ponto de vista clinico, nunca ¢ tarde para intervir, pois deve ser feito o possivel para melhorar o desenvolvimento ¢ para reduzir 0 sofrimento e as incapacidades dos individuos. Para além disso, as intervengdes devem basear-se nas relagdes do individuo a fim de maximizar o impacto, Segundo a perspetiva de investigagdo, existe evidéncia das influéncias que © meio tem sobre o funcionamento ¢ a estrutura cerebral. Trata-se de uma propriedade que € caracterizada de plasticidade cerebral, e., a capacidade de 0 cérebro se adaptar a experiéncias e inputs diferentes. Segundo esta perspetiva, existem periodos sensiveis que pertencem ao circuito neural ¢ que se refletem no comportamento (Knudsen, 2004), O conceito “periodo sensivel” é um conceito amplo que é aplicado sempre que os efeitos da experiéncia sobre os circuitos neurais sio excecionalmente fortes durante um periodo limitado do desenvolvimento (Knudsen, 2004). Trata-se de periodos do desenvolvimento neural onde determinadas capacidades so criadas ou entdo alteradas pela experiéncia. Os periodos criticos constituem uma subcategoria de periodos sensiveis e resultam em mudangas ireversiveis no funcionamento cerebral. A identificagao dos periodos criticos ¢ determinante na clinica, pois os efeitos negativos de experiéncias atipicas que ocorrem durante esse periodo ndo podem ser remediados pela restituigdo posterior de experiéncias tipicas, normais. Muitos dos aspetos das nossas competéncias percetuais, cognitivas © emocionais sio formadas por experiéncias que ocorrem durante periodos limitados da vida. 31 De um ponto de vista das politicas de saiide, Zeanah (2009) refere que a intervengao precoce tem demonstrado a sua relevancia na prevengdo das perturbagdes mentais, pois o investimento dos recursos tem demonstrado ser mais efetivo nas intervengdes dirigidas a criangas mais novas, comparativamente a criangas com mais idade. 2.3.4, Avaliagio da relagao cuidador-crianga. Como foi referido anteriormente, o cuidador pode influenciar de maneira considerdvel 0 desenvolvimento infantil, visto que a crianga depende dos seus cuidados durante os primeiros anos de vida (Zeanah, Boris, Heller et al., 1997). Portanto, a relagdo cuidador-crianga & crucial na avaliagdo e no tratamento na Area da saiide mental infantil. Estudos comprovaram que os fatores de risco ambientais e biolégicos podem ter efeitos moderados na presenga de ‘uma relago entre cuidador e crianga estavel e segura, Os autores basearam-se num modelo proposto por Stern-Brushweiler Stern (1989), onde a relagdo entre crianga ¢ cuidador & percecionada como um sistema aberto composto por comportamentos interativos ¢ representagdes internas da crianga e do cuidador. Logo, a intervengaio num dos componentes do sistema tem inevitavelmente um impacto nos outros componentes. Os autores observaram_ que a relagdo cuidador-crianga inclui as interagdes entre ambos e a experiéncia subjetiva (recordagdes e representagies do histérico das interagdes da diade) de cada um. Assim, os autores consideraram que a avaliagio da relago cuidador-crianga deve estar atenta aos comportamentos interativos observaveis (componente extema) ¢ as experiéneias subjetivas internas (componente interna), Na avaliagdo clinica ou naturalistica da relagdo, Zeanah et al. (1997) recorreram a varias dimensdes para estimar os pontos fortes e fracos © consideraram que & essencial prestar atengdo ao nivel de desenvolvimento da crianga. Além disso, propuseram que as dificuldades encontradas a nivel da relagio podem derivar da crianga, do cuidador ou de um ajuste unico que exist io & encontrar a fonte do distirbio, entre ambos. Nesse caso, o objetivo da avalia Além di 0, em todo 0 proceso de avaliagio, © didlogo com o cuidador é primordial. A integragdo de todas as informagdes recolhidas durante © proceso de avaliagdo permite a determinagao do nivel de adaptagao na relagdo ¢ quais os scus pontos fortes e fracos. 32 3. Objetivos Como foi referido anteriormente, a auséncia de instrumentos de avaliagdo adequados ¢ de valores normativos para a populagao infantil do Luxemburgo dificulta a identificagao de criangas com perturbagdes no seu funcionamento comportamental e socioemocional. Assim, propusemo-nos a avaliar o funcionamento comportamental, social emocional através da administragio do SDQ em criangas em idade pré-escolar ¢ a realizar um estudo de validagdo da versdo alema para educadores-de-infancia do SDQ, instrumento de avaliagio do funcionamento comportamental, social e emocional em eriangas entre os quatro ¢ cinco anos, residentes no Luxemburgo, Mais especificamente, propusemo-nos a (a) realizar uma anilise fatorial exploratéria (AFE) com 0 objetivo de verificar se os modelos fatoriais obtidos correspondem ao modelo tedrico do SDQ proposto por Goodman (1997) e ao modelo do C-TRF de Achenbach e Rescorla (2000); (b) investigar as diferengas no funcionamento comportamental e socioemocional entre criangas com lingua materna luxemburguesa ¢ lingua materna ndo- luxemburguesa e criangas residentes em meios urbanos e meios rurais, recorrendo ao SDQ Para tal, procedemos a dicotomizago da varidvel lingua matema, As diferengas no funcionamento comportamental ¢ socioemocional serdo analisadas relativamente ao sexo ¢ & idade da crianga. 33 4, Metodologia 4.1, Participantes ‘A amostra do estudo foi constituida por 127 criangas, 68 criangas do sexo feminino (53,5%) e 59 do sexo masculino (46,5%), cujas idades e: jo compreendidas entre os quatro ¢ os cinco anos. No total, participaram 72 criangas com quatro anos (56,7%) € 55 com cinco anos (43,3%) A idade média da amostra 60,16 meses (DP = 6,59 meses; amplitude 48-71 meses), mais especificamente a idade média das criangas com quatro anos & 55,11 meses (DP = 3,38 meses; amplitude 48-59 meses) e a idade média das criangas com cinco anos & 66,76 (DP = [Tabel meses (DP = 6,31) e a idade média do sexo masculino é 61,66 meses (DP = 6,63). A amostra 2,80 meses; amplitude 62-71 me: 1]. A idade média do sexo feminino € 58,85 inclui criangas de varias nacionalidades que frequentam as pré-escolas dos trés distritos do Luxemburgo. estudo contou com a participagdo de um numero mais levado de criangas com quatro anos com n= 72 (56,7%), do que criangas com cinco anos (n = 55; 43,3%). O nimero de criangas do sexo feminino € n = 68 (53,5%) ¢ 0 numero de criangas do sexo masculino corresponde a n = 59 (46,5%). Tabela 1 Idades médias e desvios-padrées por idade e por sexo dade em anos x0. 7m) M=DP 4 Feminino 4 G46) 348213,34 Masculino 28 (22,0%) 595,5743,46 5 Feminino 24 (19,0%) 66,2542,66 Masculino 31 (24.4%) 67,1642,88 Uma anilise da posigo ocupada pela crianga na fratria (Tabela 2), assim como das ncias em termos de nacionalidade ¢ lingua materna foi efetuada (Tabela 3). 34 Tabela 2 Posigéio ocupada pela crianga na fratria Crianga anos S anos Sexo feminine Sexomasculino ~ Sexo feminino Sexo masculino n(%), n(%) n(%) n(%), Unica (13,6) 7.25.0) 3 (12,5) 4 (12,9) ‘Mais nova 1329.5) 725.0) 11 (458) 115,5) Meio 5(114) 4143) 14.2) 2(65) Mais velha 20 (45,5) 932.1) 9(37,5) 14 (45,2) Total 44 (1000) 27, 100,0" 24 (100.0) 31,(100,0) * Falta de informagdo acerca da fratria de uma erianga do sexo masculino com quatro anos de idade. Tabela 3 Representagiio das nacionalidades e linguas maternas por idade e por sexo Fanos Sanos Sexo feminine Sexo masculino ~ Sexofeminino Sexo masculino ne), n(%) ny n(%) Nacionafidade Luxemburguesa 35 (79,5) 2225,0) 16 (66,7) 25 (80,6) Alema 12,3) (0,0) 2(8,3) 0 (0,0) Francesa 123) (0.0) (0,0) 1,2) Portuguesa 49,1) 20.) 283) 265) 3 (68) 4(143) 4(16,7) 39,7) 44 (100,0) 28 (100.0) 24 (100.0) 31 (100,0) Lingua materna Luxemburguesa 31 (70,5) 19 (67.9) 13 (54,2) 24 (77,4) Alema 00.0) (0,0) 114.2) 18,2) Francesa 245) 20.) 2083) 12) Portuguesa 6 (13,6) 3 (10,7) 4(16,7) 4(12,9) utra(s) 5(11,4) 4(143) 4(16,7) 13,2) ‘otal 44 (100.0) 28 (100.0) 24 (100.0) 31 (100.0) O estudo contou com a participagdo de 110 mies (M= 36,61 anos; DP = 5,58) ¢ 17 pais (M= 38,45 anos; DP = 5,14). A amostra recolhida inclui 49 participantes (38,6%) residentes em comunas rurais e 78 participantes (61,4%) residentes em comunas urbanas. Relativamente ao estado civil do cuidador, a categoria Solteira contabiliza 10 macs, Casado/Unido de facto abrange 105 membros (90 mies ¢ 15 pais) e 2° Matriménio conta quatro mies € dois pais. A andlise sobre a escolaridade revela que sete mies ¢ 12 pais concluiram o ensino primério, 59 mies e 63 pais completaram o ensino secundério e 61 mies © 44 pais concluiram o ensino superior. Sete questiondrios omitiram informagies acerca da escolaridade do pai. O rendimento mensal familiar bruto é inferior a 3.000€ em 14 agregados 35 familiares, situa-se entre 3.001€ e 5.000 em 40 familias e é superior a 5.001€ em 61 familias, Nove cuidadores renunciaram a responder & questio. Questionarios completos foram entregues por 112 participantes (88,2%) e questionarios parcialmente preenchidos foram entregues por 15 participantes (11,2%). © niimero maximo IRF de itens nao preenchidos corresponde a dois itens por questionario. A andlise do divulgou que a proporgao de itens preenchidos com o valor 0 = ndo verdadeiro (que voce saiba) foi elevada, Foram encontrados apenas 12 questionérios onde o valor 0 foi atribuido menos de 100 vezes por questionario, 0 minimo sendo 86 vezes. Nos restantes 115 questiondrios, a resposta 0 foi atribuida mais de 100 vezes por questiondrio. No total contabilizaram-se 13 questionérios onde a totalidade dos itens foi preenchida com 0 valor 0. ‘A pouca variabilidade em alguns itens acarretou variancias proximas ou iguais a 0. 4.1.1. Processo de selegio da amostra. ‘A populagao infantil entre quatro e cinco anos de idade que habita 0 Luxemburgo situa- se em 11.369 criangas, sendo 5.963 do sexo masculino e 5.606 do sexo feminino (Etat luxembourgeois, 2012b). O pais encontra-se dividido em trés distritos, pelos quais estio distribuidos 12 ¢: t3es € 106 comunas (Etat luxembourgeois, 2012). Das 106 comunas, 39 so consideradas comunas urbanas e 67 sio consideradas rurais (Ministére du Logement, 2011; Ministére du Logement, Ministére du Développement durable et aux Infrastructures, & Ministére de l'Intérieur et a la Grande Région, 2011) [Tabela 1 no Anexo 1] Relativamente ao distrito Diekirch, este encontra-se divido em cinco cantées (Etat luxembourgeois, 2012b) [Tabela 1 no Anexo 1]. A populagdo infantil residente neste distrito € 1.782 (915 do sexo masculino ¢ 867 sexo feminino). Para o canto Clervaux, o nimero de criangas é 328, sendo 160 criangas do sexo masculino ¢ 168 do sexo feminino. No cantio Diekirch residem 639 criangas, sendo 333 do sexo masculino ¢ 306 do sexo feminino, No canto Rédange, o numero de criangas é 376, com 197 criangas do sexo masculino e 179 do sexo feminino, A populagio do canto Vianden situa-se em 90 criangas, sendo 44 do sexo masculino ¢ 46 do sexo feminino. O numero de criangas que habita o cantao Wiltz é 349, 181 sendo do sexo masculino ¢ 168 do sexo feminino, O distrito Luxembourg esta subdividido em quatro cantdes. O mimero total de criangas referente a este distrito situa-se em 8.391 (4.343 do sexo masculino e 4,048 sexo feminino). No cantéo Luxembourg-Campagne residem 3.216 criangas, com 1.675 do sexo masculino € 36 1.541 do sexo feminino. Para o canto Mersch, este nimero & 646, sendo 353 criangas do sexo masculino ¢ 293 do sexo femninino. O nimero de criangas que habita o cantao Capellen & 922, sendo 491 do sexo masculino e 431 do sexo feminino, No cantio Esch/Alzette, 0 niimero de criangas ¢ 3.607, sendo 1.824 do sexo masculino ¢ 1.783 do sexo feminino. Por fim, nos trés cantdes do distrito Grevenmacher vivem 1.396 criangas (705 do sexo masculino ¢ 691 sexo feminino). No canto Echternach residem 391 criangas, sendo 200 do sexo masculino e 191 do sexo feminino. O nimero de criangas que habita o cantio Grevenmacher é 578, com um nimero de 291 criangas do sexo masculino ¢ 287 do sexo feminino. No cantio Remich re jem 427 criangas, sendo 214 do sexo masculino e 213 do sexo feminino. O total de criangas com quatro anos que reside em todos os cantdes é 5.856 (2.998 do sexo masculino ¢ 2.858 do sexo femninino) ¢ a populagdo infantil com cinco anos situa-se em. 5,713 (2.965 do sexo masculino ¢ 2.748 do sexo feminino). Para detetar o tamanho da amostra (n) representativo da populagdo (N) realizdmos uma amostragem probabilistica estratificada por sexo em que a amostra de cada estrato (nh) é dada pelo produto entre a populagao de cada estrato (Nh) e a razdo entre o tamanho da amostra (n) © a populagdo total (N): nh = Nh*wN. Estes célculos foram efetuados utilizando 0 programa Openkpi (Open Source Epidemiologic Statistics for Public Health, Version 2.3.1.) [Dean, Sullivan, & Soe, 2011] A amostra representativa do estudo para uma populagdo de 11.569 com um nivel de confianga de 95% e margem de erro de 5% ¢ 372 criangas. O valor encontrado para o n de criangas de sexo masculino & 192 ¢ 180 para o sexo feminino. Estes valores resultam no somatorio de n = 57 para o distrito Diekirch, n = 270 para o distrito Luxembourg e n = 45 para o distrito Grevenmacher (Tabela 4). 37 Tabela 4 Estratificagdo por distrito e sexo Distrito Populagao 7 Diekireh L782 37 Sexo masculino 905 29 Sexo feminino 867 28 Luxembourg 8.391 270 Sexo masculino 4.343 140 Sexo feminino 4.048 130 Grevenmacher 1.396 45 Sexo masculino 708 2B Sexo feminino 691 2 On amostral de cada distrito sera recolhido das pré-escolas, selecionadas de forma aleatéria utilizando o programa de extragdo de nimeros aleatérios OpenEpi [Dean et al., 2011] as eriangas serdo selecionadas desses estabelecimentos até perfazer 0 n representativo de cada idade e sexo em cada distrito. Para realizar este estudo, scleciondmos aleatoriamente 38 das 153 pré-escolas piiblicas ¢ privadas nos trés distritos do Luxemburgo (Ministére de I'ducation nationale, de I Enfance et de la Jeunesse, 20122; 2012b) [Tabela 5 ¢ Tabela 6]. Em cada estabelecimento serio selecionadas aleatoriamente cinco criangas com quatro anos ¢ cinco criangas com cinco anos. Portanto, 0 7 relativo as criangas entre quatro ¢ cinco anos corresponde an = 10*38 criangas. Tabela 5 n dos estabelecimentos pré-escolares selecionados Distrito Pré-escolas Diekirch 6 Luxembourg 2 Grevenmacher 5 Total 38 38 Tabela 6 Pré-escolas por regia e cantio to Diekirch Clervaux Diekirch Rédange Vianden Wiltz, ‘Luxembourg Capellen Esch/Alzette Luxembourg-Campagne Mersch Grevenmacher Echternach Grevenmacher Remich Sendo que 0 objetivo do presente trabalho € 0 estabelecimento de uma norma do desenvolvimento socioemocional das criangas saudiveis do Luxemburgo, serdo incluidos neste estudo todos os individuos suscetiveis de nao apresentarem problemas do desenvolvimento. Serdo excluidas todas as criangas que preenchem os seguintes critérios (Carter et al., 2003): (a) Peso baixo 4 nascenga (< 2.200 gr); (b) prematuridade (menos de 36 semanas de gestagio); (c) baixos indices de APGAR (inferiores a 5); (d) problemas de saide suscetiveis de estarem associadas a atrasos desenvolvimentais (atraso de desenvolvimento, doenga crénica, anomali Pré-cscolas ressuscitagdo necessiria); e (e) eriangas adotadas. 39 10 10 10 40 33 ul 10 153 s genéticas ou congenitais, deficiéncia, anorexia severa & nascenca, 4.2. Instrumentos A recolha de dados foi realizada através da versio alema de dois instrumentos distintos: O SDQ [Anexo 2] traduzido por Klasen et al. em 2002 (Goodman, 2000) e o C-TRF [Anexo 3] traduzido em 1993 por um grupo de investigagio alemio, o Arbeitsgruppe Deutsche Child Behavior Checklist (Ausbildungsinstitut fir Kinder- und JugendlichenPsychotherapie, 2013) Os instrumentos foram aplicados na lingua alema, uma vez que o Luxemburgo é um pais germandfono e que a lingua do ensino primario é 0 luxemburgués e 0 alemio (Etat luxembourgeois, 2013a). No presente estudo, ambos os questiondrios dirigem-se a criangas com idades entre os quatro e cinco anos ¢ so preenchidos pelos educadores-de-infiincia respetivos. O SDQ foi baixado no site http://www-sdqinfo.com, onde se encontra disponivel gratuitamente em varias linguas © nomeadamente na lingua alem, O C-TRF foi adguirido através do site http://www.testzentralede da editora alem& Hogrefe, especializada em psicologia. A aplicagdo de ambos instrumentos néo requer formagdes/treinos especificos (Achenbach & Rescorla, 2000; The California Evidence-Based Clearinghouse for Child Welfare, 2009) Devido a situagdo linguistica particular do Luxemburgo, o questiondrio sociodemografico foi aplicado nas linguas alemé, francesa e portuguesa (Apéndices Al, A2 ¢ A3 no Apéndice A). © SDQ ¢ C-TRF sio ambos considerados instrumentos dimensionais de avaliagdo (Achenbach et al., 2008), frequentemente utilizados em investigagdes epidemioldgicas, desenvolvimentais ¢ clinicas, assim como na pritica clinica e educacional (Goodman & Scott, 1999). Os dois instrumentos foram concebidos de forma similar a fim de obter pontuagdes referentes a problemas e caracteristicas positivas em criangas (Achenbach et al., 2008). Essas pontuagdes so somadas para obter um resultado escalar. Ambos podem ser utilizados na identificagao de criangas de alto risco que necessitam de uma avaliagdo mais aprofundada. O SDQ € 0 C-TRF/1.5-5 adequam-se bem a estudos extensos que investigam problemas em criangas pois so instrumentos baratos que fornecem dados quantitativos (Rescorla et al., 2011). Para além de terem a forma de questiondrio curto, podem ser autoadministrados ou administrados por entrevistadores leigos em diversos contextos. Os itens desctitivos das escalas so avaliados atribuindo categorias (escalas de tipo Likert) que se convertem em valores 0-1-2. As categorias sdo atribuidas por individuos que interagem frequentemente com 40 os jovens num determinado contexto ou pelos proprios jovens a partir dos 11 anos. As pontuagies sfio somadas de modo a produzir um resultado escalar. facto que ambos os instrumentos possam ser preenchidos por diferentes informantes, permite obter um quadro mais exaustivo e aprofundado dos comportamentos da erianga em varios contextos, facilitando a identificagdo das dificuldades e 0 encaminhamento para servigos especializados (Achenbach et al., 2008; Rescorla, 2005). Por iiltimo, o SDQ e 0 C-TRF foram traduzidos para varias linguas numerosos estudos de validagdo foram realizados na Europa, na Asia ¢ nos Estados Unidos da América (Achenbach et al., 2008; Downs et al., 2012; Ivanova et al., 2007; Ivanova et al., 2011; Rescorla, 2005; Rescorla et al., 2007). A aplicabilidade dos instrumentos ASEBA e do SDQ em varias culturas faculta a possibilidade de realizar comparagdes i emacionais 0 que permitiu comprovar que a distribuigo dos resultados & idéntica na maioria dos paises abrangidos pelos estudos de validacao. 4.2.1. Questionario sociodemografico. Um questionério sociodemogrifico parcialmente autodesenvolvido foi entregue aos pais pelos educadores-de-infiincia Apéndices Al, A2 ¢ A3 no Apéndice A). © questionario foi acompanhado por uma carta para os pais, a fim de esclarecer © propésito do estudo, ¢ um formulrio de consentimento informado. © objetivo deste questiondrio consiste na recolha de informagdes referentes as aos participantes ¢ familiares deste estudo, de modo a facilitar a caracterizagdo da amostra, 0 processo de exclusio dos participantes © 0 estudo de determinadas _varidveis sociodemograficas (nomeadamente, a nacionalidade, lingua materna, comuna de residéncia, etc.). O questiondrio sociodemografico esté subdividido em trés partes distintas: A primeira parte refere-se & crianga e solicita informagGes referentes & crianga e ao parto. Além do mais, inclui questdes que pretendem entender como a erianga passa o seu tempo fora das horas de escola, Esta tiltima parte baseia-se no trabalho de dissertagdo de Briggs-Gowan (1996) sobre a validagio do ITSEA. A segunda parte refere-se & pessoa que preenche 0 questionério (idade, nacionalidade, situagdo socioeconémica ¢ educagdo) ¢ a terceira ao parceiro da mesma (idade, nacionalidade e educagao). 41 4.2.2, Instrumentos de avaliagao. © SDQ é um questiondrio de avaliagdo ulilizado frequentemente que fornece um panorama equilibrado dos comportamentos, emogdes ¢ relagdes infantis ¢ adolescentes (Goodman, 1997). Nesta publicag4o, Goodman (1997) comparou o valor do SDQ aos questionarios para pais ¢ professores de Rutter (Rutter Questionnaire) — questionarios que serviram de base para a construgdo das verses para pais e professores do SDQ. A amostra de 403 jovens (quatro a 16 anos) foi recolhida em Londres em duas clinicas psiquiatricas infantis, © uma clinica dentéria. Os pais e os professores preencheram 0 SDQ e 0 Questionério de Rutter de forma aleatéria. As anilises permitiram atestar a boa capacidade de discriminar entre a amostra clinica ¢ a amostra comunitéria e a validade preditiva equivalente dos dois instrumentos. A clevada correlagdo entre os questiondrios de Rutter ¢ 0 SDQ permitiram ao autor comprovar a consideravel validade concorrente do SDQ. Quanto a correlagao entre pais € professores, esta foi ligeiramente superior no SDQ devido & utilizagio de itens formulados de maneira idéntica, o que nao é 0 caso no Questiondrio de Rutter, Goodman coneluiu o seu estudo destacando a utilidade do SDQ como instrumento de avaliago compacto que foca tanto as capacidades como as dificuldades dos jovens. Estudos de validago também foram realizados para o questiondrio de autoavaliagdo e da versio extensa do SDQ. O questionario de autoavaliagdo do SDQ, validado por Goodman, “Meltzer e Bailey (1998), & preenchido por jovens entre os 11 € os 16 anos. A verso extensa do SDQ foi validada por Goodman (1999) e inclui um Suplemento de Impacto especifico ao informador, cujo objetivo é averiguar o sofrimento global e a incapacidade a nivel social. Um estudo de Goodman, Ford, Simmons, Gatward e Meltzer (2000) demonstrou a utilidade do SDQ na previsio da probabilidade da ocorréncia de um distarbio psiquidtrico na populagdo infantil. A amostra comunitéria britanica abrangeu 7.984 criangas ¢ adolescentes com idades entre os cinco ¢ os 15 anos. Os questionérios foram administrados aos pais, aos professores ¢ a jovens com idades superiores a 11 anos ¢ entrevistas foram realizadas com os pais. Os resultados indicaram que a especificidade, a sensibilidade, assim como o valor preditivo negativo ¢ positivo das varias versdes do SDQ foram notaveis, permitindo identificar proporgdes consideriveis de jovens com e sem perturbagdes psiquiditricas de forma eficiente. Contudo, os autores sublinham que a capacidade preditiva do SDQ limita-se as perturbagdes abrangidas no questiondrio © que & maior quando preenchido pelos pais ¢ professores, comparativamente ao SDQ autoadministrado. Apesar do valor preditivo das 42 informagdes fomecidas pelos pais e professores aparentar ser equivalente, os autores referiram que esse valor dependeu do tipo de perturbagdo: As informagies dos pais pareceram ser mais uiteis na detegdo de perturbagSes emocionais, enquanto as informagdes dos professores pareceram ser mais iiteis na identificagdo de problemas de comportamento ¢ de hiperatividade. Quanto as autoavaliagdes, estas aparentaram ser equivalentes as informagdes dos professores na detegio de problemas emocionais. Todavia, o seu valor preditivo relativamente aos problemas de comportamento e de hiperatividade foi menos bom, comparativamente as avaliagdes dos pais ¢ dos professores. Goodman et al, concluiram, destacando a utilidade do SDQ no methoramento da detegao e do tratamento de perturbagdes mentais infantis. Peterman, Petermann ¢ Schreyer (2010) realizaram um estudo longitudinal de validagao da versio pré-escolar alema para educadores-de-infancia do SDQ. Para além de pretenderem compensar a falta de public es sobre a idade pré-escolar, os autores propuseram-se a investigar at& que ponto as pontuagdes do SDQ diferenciavam entre criangas com e sem atrasos de desenvolvimento provenientes de infantérios. No total participaram 282 criangas com idades compreendidas entre os trés ¢ os cinco anos. As correlagdes elevadas entre as escalas do SDQ © as escalas correspondentes do Verhaltensheurteilungsbogen fiir Vorschulkinder (VBV 3-6), um instrumento alemo de avaliago de perturbagdes de comportamento, atestaram da validade do SDQ. Relativamente ao poder discriminativo no que conceme aos atrasos de desenvolvimento, os autores comprovaram a capacidade da Escala de problemas de relacionamento com os colegas do SDQ distinguir entre criangas com © sem atrasos. Em geral, os estudos que investigaram as propriedades psicométricas do SDQ reproduziram a estrutura original com cinco fatores, tal como foi proposta por Goodman (1997). Tais estudos de validagio das virias versdes do SDQ foram realizados em todo 0 mundo, nomeadamente por Downs et al. (2012), Ezpeleta et al. (2013), Peterman, Peterman e Schreyer (2010), Woemer et al. (2004), entre outros, No entanto, alguns autores extrairam solugdes fatoriais alternativas com trés fatores, Dickey ¢ Blumberg (2004) estudaram as propriedades psicométricas do SDQ para pais nos EUA numa amostra composta por crianga entre os quatro ¢ os 17 anos numa tentativa de reproduzir a estrutura fatorial com cinco fatores proposta por Goodman (1997). Koskelainen, Sourander e Vauras (2001), por sua vez, estudaram as propriedades psicométricas do SDQ 43 autoadministrado numa amostra composta por adolescentes finlandeses (13 a 17 anos) Contrariamente a Dickey e Blumberg, Koskelainen et al. encontraram uma solugdo fatorial consistente com 0 modelo de Goodman (1997). Além do mais, ambas as investigagies encontraram nos seus respetivos estudos solugdes fatoriais com trés fatores, onde os itens se associaram segundo perfis de problemas internalizantes (sintomas emocionais ¢ problemas com os pares), exteralizantes (problemas de comportamento e hiperatividade) ¢ de comportamentos pré-sociais. Os estudos detetaram elevadas correlagdes entre determinados itens pertencendo a diferentes dominios, proporcionando correlagdes no s6 entre dominios mas também entre perfis. Resultados consistentes com uma solugao fatorial com trés fatores também foram encontrados por outros autores, nomeadamente Klein, Otto, Fuchs, Zenger e von Klitzing, (2013) e van Leeuwen, Meerschaert, Bosmans, De Medts e Braet (2006). Ambas as investiga estudaram as propriedades psicométricas do SDQ, i.e., Klein et al. aplicaram a ‘verso para pais numa amostra pré-escolar alema, enquanto van Leeuwen et al. recorreram a uma amostra escolar (quatro a oito anos) na comunidade flamenga belga. Ambos os grupos de investigagio encontraram modelos fatoriais em acordo com 0 modelo tedrico de Goodman (1997) © com um modelo fatorial composto por trés perfis: Intemalizagdo, Extemalizagio ¢ comportamento pré-social. A mesma constituicdo de itens foi encontrada em ambos os estudos: A totalidade dos itens das Escalas de hiperatividade e de problemas de comportamento agruparam-se num mesmo fator, formando um perfil de Extemnalizagdo; aos cinco itens da Escala de sintomas emocionais juntaram-se trés itens da Escala de problemas de relacionamento com os colegas; por itimo, o perfil de comportamento pré-social incluiu os itens da Escala de comportamento pré-social e dois itens da Escala de problemas de relacionamento com os colegas, formulados de forma positiva. ‘Numerosas investigagdes tém comparado as varias versées do SDQ aos formulirios ASEBA (nomeadamente Achenbach et al., 2008; Goodman & Scott, 1999; Janssens & Deboutte, 2009, 2010; Klasen et al., 2000). Estes formulirios pertencem a um sistema integrado de avaliago baseado em relatos de miiltiplos informantes para varias faixas etarias © que so preenchidos pelos pais (CBCL), educadores/professores (C-TRF) e pelo proprio Jovem dos 11 aos 18 anos (Youth Self Report, YSR) [Achenbach et al, 2008]. Goodman ¢ Scott (1999) realizaram um estudo de comparagio entre 0 SDQ ¢ © CBCL, dois instrumentos utilizados em numerosos estudos epidemiolégicos, desenvolvimentais e 44 clinicos. Com esta publicagdo, os autores pretenderam destacar as propriedades psicométricas de ambos questiondrios a fim de facilitar a comunicagdo entre investigadores ¢ profissionais ¢ aumentar as informagdes disponiveis sobre os instrumentos de modo a facilitar a escolha entre um € outro, A amostra comunitéria constituida por 132 eriangas ¢ a amostra clinica constituida por 71 criangas foram recolhidas em Londres. Os pais das eriangas (quatro a sete anos) das duas amostras preencheram 0 SDQ e 0 CBCL ¢ 9s pais das criangas da amostra clinica participaram numa entrevista complementar sobre os sintomas comportamentais ¢ emocionais da crianga, As anilises evidenciaram que a capacidade discriminatéria de ambos .74 no dominio de Intemalizagio e de r = 0,59 no dominio social/pares entre as escalas equivalentes instrumentos é elevada entre amostras ¢ os autores encontraram correlagdes de r do SDQ ¢ CBCL. Quanto 4 entrevista parental, as correlagées com ambos instrumentos revelaram ser mais elevadas para o SDQ, atestando a elevada validade de critério do SDQ. Segundo os autores, esta diferenga pode ser explicada pelo facto de que o CBCL subestima a comorbilidade das perturbagdes, comparativamente a0 SDQ. Goodman e Scott concluiram 0 estudo, demonstrando que ambas as medidas de avaliagao sio comparaveis, embora sirvam a propésitos um tanto diferentes: © SDQ adequa-se mais a amostras comunitérias ¢ forn uma boa estimativa quanto aos problemas de inatengio-hiperatividade, enquanto 0 CBCL. adequa-se melhor a amostras clinicas devido ao nimero clevado de perturbagdes que abrange Janssens ¢ Deboutte (2009, 2010) examinaram a adequagdo do SDQ como instrumento de avaliagdo das perturbagdes mentais em criangas ¢ adolescentes holandesas (trés a 18 anos) assistidas por servigos de assisténcia ao menor e a sua adequagdo na orientagdo desses jovens para servigos de intervengao, Além do mai , 0§ autores compararam os resultados do SDQ dos diferentes informadores aos re A Itados das versdes correspondentes dos formulitios BA. O elevado acordo entre pais, cuidadores ¢ adolescentes em ambos os instrumentos comprovaram que as duas medidas de avaliagdo so vélidas e robustas na detegao de criangas © adolescentes com perturbages a nivel do funcionamento comportamental ¢ socioemocional. Para além disso, os autores evidenciaram clevadas associagdes entre os resultados dos dominios correspondentes do SDQ e ASEBA. ‘Numa investigago de Klasen et al. (2000), os autores compararam as propriedades psicométricas da versio alemi do SDQ (quatro a 16 anos) para pais e de autoavaliagdo do SDQ (11 @ 16 anos) as propriedades do CBCL ¢ ao YSR respetivamente numa amostra 45 comunitiria e clinica, Os resultados indicaram a existéncia de associagdes elevadas entre as verses correspondentes do SDQ e do ASEBA, o que permitiu aos autores de coneluir que tanto um instrumento como o outro é robusto e pertinente na avaliagdo das perturbagdes do funcionamento. Os estudos de validagio dos instrumentos ASEBA foram publicados em diversos manuais consoante a faixa etiria abrangida. O CBCL e o C-TRE para a idade pré-escolar sio instrumentos complementares, pois permitem avaliar a mesma crianga ou adolescente segundo diversas perspetivas (Achenbach & Rescorla, 2000). A amostra comunitéria composta pelos pais e educadores de criangas entre os 18 ¢ os 71 meses foi recolhida a partir de dois inquéritos realizados nos EUA, em 1997 e 1999. As andlises estatisticas referentes ao CBCL revelaram a auséneia de diferengas significativas entre sexos, contrariamente & amostra do C-TRF onde as diferengas entre o sexo masculino e feminino levaram os autores a reteste das es estabelecerem normas diferentes. A fiabilidade test las-problema, assim como 0 acordo entre pais e maes no CBCL e pais, mes e educadores no C-TRF foram rados. A estabilidade dos resultados escalares do CBCL ¢ do C-TRF foi avaliada em d estudos longitudinais (intervalo de 12 meses para 0 CBCL e trés meses para o C-TRF). As correlagdes médias de ambos os instrumentos revelaram ser elevadas, O resultado escalar de uma escala do CBCL apresentou um declinio significativo entre a primeira ¢ a segunda avaliagdo, enquanto o resultado de cinco escalas aumentou significativamente. Quanto ao C- iva foi observada ent TRE, nenhuma alteragio signifi ‘Numa tentativa de determinar até que ponto a aplicagdo do C-TRF pode ser generalizada a paises e culturas diferentes ¢ de avaliar as semelhangas e diferengas na forma como os professores averiguam os problemas comportamentais © cmocionais dos seus alunos, Rescorla et al. (2007) compararam os resultados de avaliagGes realizadas por professores por intermédio do C-TRF, em 21 paises e averiguaram as. propriedades psicométricas do instrumento, Apés a sua tradugdo, 0 C-TRF foi aplicado em amostras representativas recolhidas em casas ¢ escolas dos paises participantes. Um total de 30.957 participantes com idades entre os seis ¢ os 15 anos foi avaliado, Apesar da multiculturalidade e das diferengas entre sistemas escolares, modelos pedagégicos © curriculos existentes, os resultados apresentaram um grande nlimero de consisténcias através dos paises. A elevada consisténcia interna das escalas do C-TRF em miltiplos paises e as semelhangas a nivel dos resultados escalares médios, das pontuagdes médias dos itens ¢ dos resultados relativamente & idade ¢ 20 46 sexo atestam da robustez multicultural do C-TRF. Segundo Rescorla et al., a possibilidade de generalizar um instrumento de avaliagdo em diferentes culturas aumenta a confianga que os avaliadores tém na sua utilizagdo e na interpretagio dos seus resultados. Resultados similares so apresentados em outras investigagdes, nomeadamente por Ivanova et al. (2007) e por Ivanova et al. (2011). Ivanova et al. (2007) realizaram uma investigagao com 0 objetivo de testar as escalas de sindromes do C-TRF em 20 comunidades. Os autores comprovaram que 0 modelo de sete sindromes e 0 modelo hierdrquico dos problemas de atengdo permite realizar avaliagdes pertinentes nas 20 sociedades abrangidas, apesar da multitude de fatores que distinguiram e poderiam afetar as amostras participantes. Os autores acrescentaram que os resultados do estudo sustentam a utilizagdo das escalas de sindromes do C-TRF como modelo para a conceptualizagao de perturbagdes psicolégicas em diversas sociedades. Recorrendo ao C-TRF em 14 comunidades, Ivanova et al. (2011) propuseram-se a analisar se a estrutura de sindromes encontrada na amostra angl6fona podia ser generalizada a outras comunidades. Os resultados indicaram que as pontuagdes dos problemas comportamentais, sociais ¢ emocionais correspondiam a0 modelo angléfono. Os autores concluiram que a generalizabilidade multicultural das escalas de sindromes do C-TRF sugere que os sindromes podem ser utilizados como constructos taxonémicos na area da psicopatologia infantil pré-escolar, 0 que por sua vez facilita a comunicago e a colaborago internacional entre profissionais, investigadores e educadores que trabalham com criangas, 4.2.2.1. Diferencas entre 0 SDQ ¢ 0 C-TRF. Apesar dos pontos comuns, 0 SDQ e o C-TRF distinguem-se em varios aspetos (Achenbach et al., 2008). Primeiro, 0 SDQ foi designado para formar dimensdes, enquanto o propésito do C-TRF ¢ a identificago de sindromes de problemas coocorrentes. Segundo, existe uma diferenga no mimero de itens: 25 para o SDQ e 100 para o C-TRF. Consequentemente, os itens-problema do C-TRF so mais diferenciados comparativamente ao SDQ. Além do mais, a enunciagio dos itens é diferente em ambos: No SDQ os itens so formulados de forma a focar os atributos positivos da crianga, enquanto no C-TRF os itens sio formulados de maneira negativa (Goodman & Scott, 1999), Também existem dissemelhangas na pontuagao, sendo que o C-TRF nao tem itens invertidos (0 = auséncia de 47 problema), ao contrario do SDQ onde o valor 0 in 11, 14, 21 e 25 (Achenbach et al., 2008). a presenga de um problema nos itens 7, Relativamente as caracteristicas positivas da crianga, 0 SDQ inquere sobre os comportamentos pré-sociais e sobre os aspetos mais positivos da crianga (Achenbach et al., 2008). Por sua vez, o C-TRF abrange uma variedade de itens que averiguem as competéncias, © funcionamento adaptativo ¢ as qualidades positivas. Outro elemento que distingue ambos os questiondrios é 0 Suplemento de Impacto incluido no SDQ. Este suplemento permite avaliar 0 softimento global, as dificuldades da crianga ¢ o impacto na familia. Por iltimo, 0 C-TRE inclui repostas abertas que permitem esclarecer os itens-problema, acrescentar e pontuar problemas nao referidos e fornecer informagdes especificas relativamente as atividades, as doengas, as incapacidades e As preocupagdes do informante acerca da crian 4.2.2.2. SDQ. O SDQ é um instrumento psicométrico de avaliagio comportamental curto que averigua os comportamentos, as emogdes, as relagdes, assim como os atributos positivos em criangas € adolescentes (Goodman, 1997, 1999) [Anexo 2]. Vinte-cinco itens subdivididos em cinco dominios de cinco itens compdem o SDQ: 10 itens avaliam os pontos fortes, 14 avaliam as dificuldades e um é neutro (Anexo 4). No total, o SDQ compreende cinco itens invertidos, a saber nos itens 7, 11, 14, 21 € 25. Os resultados do SDQ podem ser apresentados segundo um, perfil de Internalizago (Escala de sintomas emocionais ¢ de problemas de relacionamento com os colegas), um perfil de Extemalizagao (Escalas de hiperatividade e de problemas de comportamento) ¢ um perfil de comportamentos pré-sociais (Escala de comportamento pré- social) (Goodman, 2000). ° SDQ € preenchido pelo cuidador principal ou pelo educador-de-infancia/professor relativamente criangas ou jovens com os quais interagem no meio escolar (Goodman, 2000). Ambas versdes do SDQ foram desenvolvidas para duas faixas etérias distintas: Trés a quatro anos ¢ quatro a 16 anos (Goodman et al., 2000). Existe, para além do mais, uma versio para jovens entre os 11 ¢ os 16 anos que pode scr autoadministrada. As versdes para educadores, para pais ¢ a versio autoadministrada podem ser comparadas entre si, a fim de obter um perfil mais completo referente ao funcionamento do jovem em questo (Goodman, 1997). 48 © SDQ foi criado segundo uma abordagem “top-down” e “bottom-up” (Achenbach et al., 2008; Rescorla, 2005). As dimensdes do instrumento foram baseadas em andlises fatoriais de uma versio modificada de uma escala de avaliagao para pais criada em 1967 por Sir Michael Rutter — 0 que corresponde & abordagem “bottom-up”. A partir das dimensdes obtidas (problemas de comportamento, hiperatividade, sintomas emocionais, problemas com pares ¢ comportamentos pr6-sociais), Goodman (1997) elaborou cinco itens para formar domi para cada dimensdo (abordagem “top-down”). Os dominios do SDQ geram pontuagdes relativamente a problemas de comportamento, hiperatividade, sintomas emocionais, problemas com pares e comportamentos pré-sociais (Goodman, 1999). O respondente € solicitado a assinalar a resposta mais apropriada com um X numa escala de tipo Likert de 0 a 2 nos itens formulados de forma negativa, onde 0 corresponde a ndo é verdade, | a é um pouco verdade € 2 a é muito verdade, exceto nos itens formulados de forma positiva. A contabilizago das pontua s dos itens possibilita 0 célculo de uma pontuagio relativamente a cada dominio. A soma dos dominios de problemas de comportamento, hiperatividade, sintomas emocionais e problemas com pares permite obter uma pontuagio total de dificuldades (Total difficulties score) O site hitp:/Avww.sdginfo.com disponibiliza gratuitamente o instrumento em diversas linguas, informagées sobre as pontuagées do SDQ encontradas para diversas faixas etdrias, artigos outros complementos relacionados com 0 SDQ. ‘A versio utilizada para este estudo & uma versio longa para criangas e adolescentes entre os quatro e 16 anos ¢ inclui o Suplemento de Impacto que investiga a opinido do educador/cuidador relativamente a eventuais problemas do participante em questio, nomeadamente a cronicidade, angistia, dificuldades pessoas das dificuldades observadas. nivel social eo encargo para outras 4.2.2.3. C-TRF. © C-TRE é um formulétio pré-escolar que pertence ao grupo ASEBA (Anexo 3). Como referido anteriormente, trata-se de um sistema de avaliago empiricamente suportado, concebido por Achenbach em 1966, com o objetivo de detetar sindromes de problemas eoocorrentes que podem servir como constructos taxonémicos para a psicopatologia (Achenbach et al., 2008). Os formulirios do ASEBA sio avaliados em escalas de sindromes que formam conjuntos de problemas coocorrentes. Estudos demonstraram que existem 49 associagdes significativas entre os resultados escalares ASEBA e os diagnésticos DSM (Achenbach & Rescorla, 2000). Assim, os formulérios também podem ser avaliados em escalas orientadas pelo DSM. Seis subdominios de sindromes considerados muito consistentes com as categorias diagnésticas do DSM-IV foram concebidos por psiquiatras experienciados segundo uma abordagem “top-down”: _Reatividade _ emocional, ansiedade/depressio, queixas somaticas, isolamento social, problemas de atengao, comportamento agressivo. O C-TRF é um questionério estandardizado composto por 99 itens e uma questo aberta onde o respondente é solicitado a acrescentar um a trés problemas observados na crianga (Achenbach & Rescorla, 2000). O C-TRF investiga o funcionamento comportamental, social € emocional em criangas com idades compreendidas entre os 18 meses ¢ os cinco anos, baseado nas observagdes realizadas no contexto de interago. Este questiondrio esta alas de sindromes subdivididas em trés perfis (Anexo 5): O perfil de Interalizagao (composto pelos dom organizado em seis ios de reatividade emocional, de ansiedade/depressio, de queixas somiticas ¢ de retraimento), 0 perfil de Extemalizagio (constituido pelos dominios de problemas de atengo ¢ de comportamento agressive) e o perfil de Problemas Totais (somatério de todos os dominios). Os dominios foram derivados de anilises estatisticas que refletem padrdes de problemas coocorrentes obtidos em avaliagdes estandardizadas com criangas (Achenbach & Rescorla, 2000). Existe uma sétima subescala, Outros Problemas, que nao pertence aos perfis de Intemalizagdo ¢ de Extemalizagio, pois os itens ndo pertencem a nenhuma das escalas de sindromes abrangidas. Portanto, nao existem normas para este subdominio. Contudo, cada uum dos itens esté incluido no perfil Problemas Totais, uma vez que podem ter relevancia na identificagdo de perturbagdes do funcionamento da crianga. Os itens deste questionario também sdo avaliados por intermédio de uma escala de tipo Likert, onde o valor 0 corresponde a resposta nédo verdadeiro (que vocé saiba), | a um pouco ou algumas vezes verdadeiro © 2 a muito verdadeiro ou frequentemente verdadeiro (Achenbach & Rescorla, 2000). O C-TRF/1.5-5 é preenchido pelos educadores-de-infancia e baseia-se no comportamento exibido pela crianga nos dltimos dois meses num contexto de grupo com no minimo quatro criangas. Para além de fornecer dados estandardizados quantitativos, 0 C-TRF/I. 5 também faculta dados qualitativos por intermédio de diversos 50 itens descritivos que solicitam exemplificagdes dos comportamentos aos educadores. Além do mais, & pedido ao respondente de nomear qual 0 aspeto mais positive da erianga, E possivel calcular o somatério das diferentes escalas de sindromes (adicionando as respetivas pontuagdes atribuidas pelo respondente), a pontuagao total (somatério das seis escalas de sindrome e da escala Outros Problemas) e as pontuagdes dos perfis de Intemnalizagao e de Extemnalizago (somando as pontuagdes das subescalas respetivas) [Achenbach & Rescorla, 2000]. As varias pontuagdes permitem situar 0 participante relativamente aos valores normativos estabelecidos para a populagao da faixa etaria, do sexo, do grupo cultural correspondente, em fungiio do respondente. Para além das pontuagdes permitirem a geragdo de comparagdes entre informantes e a anélise do grau de acordo entre jionais ¢ entre também permitem realizar comparagdes entre avaliagdes de profi culturas/paises. Numerosos estudos de validagdo tém sido realizados ao longo dos anos ¢ a multiculturalidade dos formulérios ASEBA foi comprovada em virios estudos, entre outros por Ivanova et al. (2007), Ivanova et al. (2011) ¢ Rescorla et al. (2007). Os resultados obtidos no C-TRF podem ser comparados a0 CBCL que é preenchido pelos cuidadores principais da crianga, a fim de detetar similitudes e diferengas no funcionamento da crianga em contextos ¢ com parceiros de interagdo diferentes (Achenbach & Rescorla, 2000). Como referem os autores, trata-se de dois testes complementares, cujo objetivo ¢ fomecer um perfil mais completo da crianga ¢ identificar areas de intervengao. 51 4,3, Procedimentos 4.3.1. Autorizagbes. Para tomar possivel a realizago do presente estudo no Luxemburgo, foi necessério proceder & obtengdo de varias autorizages, nomeadamente da comissio de ética do Luxemburgo, 0 Comité National d'Ethique de Recherche (CNER) ¢ do ministério da educagio, 0 Ministére de I'Education nationale, de l'Enfance et de la Jeunesse (MEN), Comité National d'Ethique de Recherche (CNER). A fim de formular 0 pedido de autorizagao para 0 CNER, foi necessario constituir um. dossié em 13 exemplares e em formato CD-ROM, composto por: © Uma carta formulando 0 pedido de autorizagdo ¢ descrevendo os objetives do estudo; © Uma ficha sintética descrevendo 0 tipo de estudo; * Os formulérios de consentimento informado (em francés ¢ alemdo) para os pais dos participantes, assim como as cartas de informa de-i do dirigidas aos educadores nfincia (em francés e alemio); © Oprocedimento de recolha da amostra; © Um documento do seguro provindo da Universidade de Evora; © 0 Curriculum Vitae da investigadora principal; * Os questiondrios para os participantes, isto é, os educadores-de-infiincia e os pais. Apés a entrega do dossié dia 7 de Fevereiro 2013, foi necessdrio apresentar o projeto dia 6 de Margo perante os 13 membros do jiiri do CNER. Apés a deliberacdo, trés alteragdes foram impostas para a aceitagio do projeto: + Eliminagio da frase pedindo aos pais de assinalar por escrito a ndo-participagao no estudo; * Pedir apenas 0 més ¢ 0 ano de nascimento dos participantes; © Completar o documento de consentimento informado de acordo com © modelo proposto pelo CNER. Depois de uma segunda deliberagao, o projeto foi aceite dia 3 Abril 2013. 52 Ministere de 'Education nationale, de I'Enfance et de la Jeunesse (MEN). dossié para o MEN foi entregue dia 7 de Fevereiro 2013. Os documentos solicitados foram os seguintes: © Uma carta dirigida & Ministra da educagio, formulando um pedido para a realizagio do estudo ¢ explicando resumidamente 0 objetivo do mesmo; © Uma cépia da mesma carta para o inspetor-geral do ensino basico, Guy Strauss, ¢ para a representante do departamento responsavel pela entrega de projetos de investigagdo a nivel escolar, a Agence pour le Développement de la Qualité Scolaire (ADQS) do MEN, Amina Kafai; © O projeto do presente estudo; * Os questiondrios para os participantes (educadores e pais); As cartas para os participantes (educadores e pais); A autorizagao da Ministra da Educagio foi obtida dia 9 de Abril 2013. Commission nationale pour la Protection des Données (CNPD). ‘No Luxemburgo, o tratamento de informagdes de carter pessoal deve ser declarado & Commission nationale pour la Protection des Données (CNPD) antes do inicio do estudo. A CNPD € responsavel pela protecdo da populagao perante a recolha e a andlise dos dados recolhidos no ambito de estudos realizados no territério luxemburgués. Portanto, para a realizs io do presente estudo ser legitima, foi necessério notificar a CNPD por escrito, preenchendo um formulério oficial e efetuando um pagamento de 125€. A confirmagao de recegdo da notificagdo foi obtida dia 5 de Julho 2013. 4.3.2. Recolha de dados. Primeira fase de recotha de dados: Maio/Junho. Depois da obtengdo das autorizagSes acima mencionadas, foram contactados por escrito ¢, posteriormente, por telefone os 19 inspetores dos 38 estabelecimentos selecionados (Tabela BI no Apéndice B). No Luxemburgo, toda a atividade realizada nos estabelecimentos escolares deve obrigatoriamente ser autorizada pelo inspetor do departamento respetivo. Existem 21 departamentos escolares no tertitério nacional, cada um deles abrangendo varias 53 comunas e as suas escolas respetivas. Apenas foi possivel contactar um inspetor pessoalmente, os restantes tendo sido contactados por correio eletrénico ou por intermédio dos seus representantes. As autorizagdes foram obtidas maioritariamente por telefone, mas também por e-mail ou por carta. O inspetor de um dos departamentos do norte recusou a participagdo, trés ndo deram resposta apesar das varias tentativas de contacto. Uma vez as autorizagdes dos inspetores obtidas, as comunas, as escolas e os presidentes foram contactados por telefone ¢ por correio eletrénico a partir do més de Maio, Todos os presidentes receberam por e-mail © projeto, assim como a autorizago do MEN. Todos presidentes das escolas aceitaram participar com a condigdo de os coordenadores € os educadores do 1° ciclo (correspondendo pré-escola) consentirem a participagio do projeto. ‘As autorizagies foram comunicadas por telefone. Em geral, o projeto despertou interesse nos coordenadores nos educadores. Porém, devido & aproximagao do fim do ano letivo, muitas escolas recusaram participar, pois o fim do ano coincide com miiltiplas atividades escolares (passeios, festas e a realizagio dos perfis sobre os alunos). No total, das 30 escolas contactadas, 14 participaram, 11 recusaram e cinco nao deram resposta apesar dos varios convites (Tabela B1 no Apéndice B). Os educadores aceitaram participar com a condi¢o que nimero de turmas seja superior a 2, de modo a possibilitar a repartigdo da tarefa, A todos os educadores foi enviado ‘uma carta explicando os objetivos do estudo e a tarefa exigida (Apéndice A4 no Apéndice A), Posteriormente, foram agendadas reunides com todos os educadores das escolas participantes com o propésito de esclarecer pessoalmente os objetivos do estudo, dar as instrugdes, de responder a eventuais questdes e de entregar os questiondrios SDQ, C-TRF ¢ os questionétios sociodemogrificos com as cartas de informagio e os formulirios de consentimento informado (Apéndices Al, A2 e A3 no Apéndice A). Importa referir que foi atribuido um cédigo a cada questiondrio entregue, a fim de garantir a privacidade e confidencialidade dos pa tertitério, varias escolas solicitaram, posteriormente, questiondrios em portugués para os pais cipantes (criangas ¢ familias). Devido ao mimero clevado de familias portuguesas no com dificuldades com a lingua francesa, Os questionarios foram recolhidos pessoalmente nas primeiras duas semanas do més de Julho, Devido 4 impossibilidade de agendar uma reuniio com a escola de Mertert, os questiondrios foram enviados por correio. Porém, 0 servigo nacional de correio perdeu os 54 questiondrios de modo, que nao foram entregues. As escolas de Rosport ¢ Lamadelaine decidiram repartir a sua participagdo por Junho ¢ Novembro devido ao nimero insuficiente de alunos com quatro anos de idade na primeira fase de recolha de dados, No total, 100 questionérios foram recolhidos em 11 escolas no més de Julho. Apos a selegdo dos participantes de acordo com os critérios de participagao, questionarios de 30 participantes foram eliminados, maioritariamente por falta dos indices de APGAR. Numa tentativa de diminuir 0 niimero de excluidos, os educadores foram novamente contactados com 0 objetivo de solicitar os indices. No entanto, apenas trés indices foram comunicados, Portanto, na primeira fase de recolha de dados 73 participantes foram incluidos e 27 jos (Tabelas BI e B2 no Apéndice B). foram exclui Segunda fase de recotha de dados: Novembro. A fim de recolher mais participantes, as escolas que recusaram participagdo em Maio/Junho, foram novamente contactados por e-mail em Setembro e Outubro. Todavia, as escolas recusaram participago pelos mesmos motivos avancados em Maio/Junho (Tabela BI no Apéndice B). Os quatro inspetores que no participaram na primeira fase foram novamente contactados em Outubro, © inspetor do Norte nio respondeu ao convite € os outros trés inspetores autorizaram a participagdo, com a condi¢Zo que as respetivas comunas e ‘olas foram contactadas presidentes escolares consentissem & participagdo no projeto. As por e-mail ¢ telefone ¢ reunides foram agendadas, a semelhanga da primeira fase de recolha -olas aceitaram no estudo. de dados. No total, uma escola recusou o envolvimento e sete Os educadores foram informados sobre 0 decorrer do estudo durante as reunides agendadas. A distribuigdo dos questiondrios ocorreu nos meses de Outubro e inicio de Novembro. A recotha dos dados foi iniciada a partir do dia 18 de Novembro, dois meses apos © comego do ano letivo. O periodo de recolha de dados foi de um més ¢ os questiondrios de todas as escolas, a excegdo da escola Lamadelaine, foram recolhidos dias 17 ¢ 18 de Dezembro. As escolas Lamadelaine ¢ Villa Millermoaler entregaram os questiondrios a meados do més de Janeiro por correio. 55 No total, questiondrios de 63 participantes foram recolhidos na segunda fase de recolha de dados, 54 foram incluidos e nove excluidos apés a selegdo dos questiondrios (Tabelas BI ¢ B2 no Apéndice B). Aderéncia ao projeto. ‘As instincias MEN, CNER ¢ CNPD autorizaram 0 desenvolvimento do projeto no territério luxemburgués (Figura 1). A nivel dos diversos departamentos, 18 dos 19 inspetores (94,4%) consentiram ao envolvimento das suas escolas. A pedido de alguns inspetores, foi necessirio formular um requerimento para 11 comunas. Para as restantes 16 comunas, os inspetores encarregaram-se de informar o burgomestre. A aderéncia a nivel das comunas foi total (100%). A nivel das escolas, a aderéncia foi de 100% no distrito Diekirch, de 40,7% no distrito Luxembourg e de 80% no distrito Grevenmacher. No total, o projeto contou com 200 participantes potenciais: 50 no distrito Diekirch, 110 no distrito Luxembourg ¢ 40 no distrito Grevenmacher. Em geral, as rejeigées foram formuladas pelos coordenadores c/ou educadores do primeiro ciclo. Apenas um presidente do distrito Luxembourg recusou a participagao. No distrito Diekirch, 82% dos participantes (n = 41) solicitados a colaborar no estudo entregou os questiondrios, 33 foram incluidos (19 participantes [46,3%] com quatro anos, 14 com cinco anos [34,2%]) ¢ oito excluidos (um com quatro anos [2,4%], sete com cinco anos [17,19%]). No distrito Luxembourg, 86,4% dos participantes (n = 95) aderiram ao projeto, 68 foram incluidos (39 participantes [41,19] com quatro anos, 29 com cinco anos [30,5%]) ¢ 27 excluidos (12 participantes [12,6%] com quatro anos, 15 com cinco anos [15,8%]. No distrito Grevenmacher, a aderéncia foi de 90%! (n = 27), 26 participantes foram incluidos (14 com quatro anos [51,9%], 12 com cinco anos [44,4%]) ¢ um excluido (cinco anos; 3,7%) " Relembramos que neste distrto, os questiondrios da comuna Mertert foram recolhidos, devido perda dos mesmos pelo servigo nacional de correio. © niimero de questionaios sendo desconhecido, a aderéncia de 90% bascia-se no néimero total de questionatios preenchidos pelos 27 participantes nas trés escolas. 56 Rejeigies n- 16, 59,3% NER MEN Escolas distrito Luxemburgo n=l, 40,7% Participantes n=95, Ineluidos n=68, 116% Excluidos n=21, 28,4% Escolas distrito Participantes n=4l, Incluidos n= 33, 80,5% Excluidos n=8, 19,5% Figura 1. Flowchart da recolha da amostra. Rejeigdes n=l, 5.6% Escolas distrito Grevenmacher n=4, 80% Rejeigies n=l, 209 Participantes, n=21, Incluidos n=26, 96,3% Excluidos 4.3.3. Procedimentos estatisticos. Recorrendo ao programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versio 20.0, construiuese a base de dados, introduziram-se os dados provenientes dos questionérios validos dos 127 participantes e analisaram-se esses dados, O valor de significdncia considerado para todos 0s testes efetuados foi de p <0,05. O processo estatistico rrente ao presente estudo contemplou as seguintes fases: 1. Para ambos 0 SDQ e o C-TRE, verific andlise fatorial exploratoria (AFE), através dos testes de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) jo dos pressupostos para a realizagio da € de especificidade de Bartlett que permitem avaliar a existéncia de corre lineares significativas entre as varidveis (Field, 2005). O KMO permite verificar a 37 adequagdo da amostra, enquanto o teste de esfericidade de Bartlett testa a hipdtese nula de que a matriz de correlagao original é uma matriz de identidade, isto &, uma matriz cujas correlagdes entre variveis nao so nula Para ambos 0 SDQ e o C-TRF, realizagio de AFEs utilizando 0 método das componentes prineipais rotagiio Varimax, a fim de agrupar os itens de cada dominio de forma homogénea, de acordo com a disposigdo adequada de cada item, quer estatisticamente, quer conceptualmente. Para o SDQ € os trés fatores extraidos, estudo da fiabilidade/consisténcia interna através do a de Cronbach, Para o SDQ e os trés fatores extraidos, verificagdo da normalidade através do teste de Kolmogorov-Smimnov em amostras superiores a n > 30 e do teste Shapiro-Wilk em amostras inferiores a n < 30 e verificagdio da homogeneidade das variancias através do teste de Levene. Estudo das diferengas entre inguas maternas residéncia em comunas urbanas ¢ comunas rurais através do teste ¢ de Student para amostras independentes. 58 5. Resultados 5.1. Anilises Referentes ao SDQ 5.1.1. Verificagio de pressupostos para a anilise fatorial exploratéria do SDQ. valor do teste de Kaiser-Meyer-Olklin (KMO) varia entre 0 ¢ 1. Quanto mais perto de 1, tanto melhor. Kaiser (1974, como citado por Field, 2005) sugere 0,5 como um limite razoavel. 0 KMO obtido pela andlise do questionario SDQ situa-se no intervalo entre 0,70 ¢ 0,80, 0 que nesta escala indica uma razoabilidade "boa" para efeitos de adequabilidade da referida andlise fatorial. ‘Assim sendo, de acordo com Field (2005), os valores obtidos permitem aferir a qualidade das correlagdes de forma a prosseguir com a AFE, uma vez que o valor do teste de KMO superior a 0,70 para a generalidade dos dominios © que o valor do teste de Bartlett & altamente significativo (p < 0,001), permitindo rejeitar a hipétese nula segundo a qual as varidveis nfo estio correlacionadas na populago (Tabela 7). Tabela7 Teste KMO ¢ teste de Bartlett para o SDQ Medida de adequagio da ‘Teste de esfericidade de amostra de Kaiser-Meyer- Bartlett Olkin (KMO) 60 a 100, 5.1.2. Anilise fatorial exploratéria do SDQ. Foi realizada uma AFE de forma a obter-se a melhor disposigio de itens por fatores (dominios), tanto estatisticamente como conceptualmente. Optémos por utilizar o método de extragdo por componentes principais, com rotagdo Varimax. A rotagdo tem por objetivo a otimizagdo da estrutura dos fatores, o que por sua vez tem como consequéncia a equalizagio da jportincia relativa de cada um dos fatores (Field, 2005). De acordo com 0 modelo teérico proposto por Goodman (1997), o questiondrio SDQ abrange cinco fatores pelos quais esto repartidos de forma homogénea 25 itens (Anexo 4), Antes de iniciarmos as andlises estatisticas, invertemos os itens 7, 11, 14, 21 ¢ 25 do SDQ formulados de forma negativa. 59 5.1.2.1. Anilise fatorial exploratoria do SDQ com cinco fatores. Para a anilise fatorial em questo, estabeleceu-se como saturagio minima, o valor de 0,20 € os seguintes critérios foram previamente definidos: Nos casos em que o item pertencer a mais de um fator foi utilizado primeiramente 0 critério de maior valor de saturagdo ¢, secundariamente, do conteiido seméntico do item ¢ a sua pertinéneia de acordo com 0 modelo teérico previamente descrito; - Serio excluidos todos os dominios, cujos itens expurgados ultrapassem 1/3 dos itens totais desse mesmo dominio, Apés a verificagio do KMO e do teste esfericidade de Bartlett, analisimos as comunalidades antes e apés a extragdo, As comunalidades sio quantidades de variancia, ou seja, proporgdes de varidncia comum que esta presente numa varidvel (Field, 2005). Antes da extragdo, a andlise fatorial assume que toda a varidncia associada a uma varidvel é variancia comum. Apés a extragio, & possivel observar a varidneia que na realidade comum a uma varidvel (Tabela 8) 60 Tabela 8 Comunalidades dos itens do SDQ apés extragio Tem ‘Apés exiragio SDT 390 sbQ2 ‘641 SDQ3 1368 sbQ4 id SDQS 475 SDQ6 ‘350 sbQ7 333 SDQ8 1395 sere Pot SDQ9 ‘ora . spQlo “459 j SDQUL ‘361 : SbQi2 1363 spQi3 1603 “ sDQl4 1539 : sais 3B 3. SDQI6 ‘651 : sDQI7 633 : SDQIs 1542 SDQI9 275 SDQ20 1593 Tete spQ2i 15 ° maa SDQ22 9351 THIET Tirana aneavaoasaaad SDQ23 “600 congenen Number SDQ24 742 Figura 2. Diagrama de declividade do SDQ. SDQ25 sn Pelo critério de Kaiser, que sugere manter fatores com Eigenvalues (autovalores) superiores a 1, devemos conservar oito fatores, conforme apresentado no diagrama de declividade (Scree Plot; Figura 2) e na tabela que apresenta a variéncia total explicada (Tabela 9). Embora esta opgo pareca estatisticamente mais satisfatdria, optamos por extrair cinco fatores, indo assim ao encontro do modelo conceptual do SDQ. Na tabela 9 podemos observar a associagdo entre Kigenvalues e cada fator que pode ser extraido a partir das 25 variaveis iniciais antes e apés a extragdo ¢ apés a rotagdo. De acordo com modelo tedrico foram extraidos cinco fatores e cada um deles explica 54,05% da variagdo total que se verifica nas 25 variveis originais. 61 Tabela 9 Varidncia total explicada por item e por fator do SDQ Compo Eigenvalues inicias ‘Apos extragao ‘Apés rotagio nente ~ Total %de ‘Total “ede % Tol %de % varidneia varidncia cumulativ varidneia _cumulativ a a T 3,809 23,237 5,809 23,237 23,237 «4,022 —«16,088 16,088 2 2,606 10,423. 2,606 10,423 33,660 3,329 13,317 29,406, 3 2,130 8521-2130 8,521 42,180 2,351 -9,404——38,810 4 1579 6317-1579 6317 48,498.-2,280 9,120 47,930 5 1388 5,554 1388 5,554 54,052 1,530 6,122, 54,052 6 1215 4,861 7 1190 4,761 8 1045 4,178 9 849 3,395 10 s761—— 3,044 ul 717 2,867 2 OAT 2,589 13 619.2477 4 586 2,345 15 3543 2.170 16 491 1,965 7 450 1,798, 18 423 1,691 19 372 1,486 20 3381351 21 327 1,307 2 284 1,137 2B 2251 1,005 24 210839 25 2170___.680 As saturagdes de cada item nos respetivos fatores sio de seguida apresentadas, separadamente por dominios. Dentro de cada dominio, os itens encontram-se dispostos por ordem decrescente da sua carga fatorial ¢ nao pela ordem de apresentag3o do questionério original (Tabela 10) 62 Tabela 10 Matriz das cargas fatoriais com rotacao Varimax e com cinco fatores para o questionario SDQ Trem Conteado™ Fator™ 1203 64 5s 2 Fimrequieto/a, muito mexido/a, nunca para quietola 784 15. Distrai-se com facilidade, esta sempre com a cabegano 670 224 =209 ar 5 Enerva-se muito facilmente e faz muitas birras 663 10 Nao sossega. Esti sempre a mexer as pernas ou as mos 651 22 Rouba em casa, na escola ou em outros sitios 582 18 Mente frequentemente ou engana 1549 406 21° Pensa nas coisas antes de as fazer 493-442. 204 7 Obedece com facilidade, faz habitualmente oqueos 407-379 adultos Ihe mandam 9 Gosta de ajudar se alguém esta magoado, aborrecido ou ,779 208 doente 20 Sempre pronto/a a ajudar os outros (pais, professores ow 5787 foutras criangas) 17 E simpatico/a e amivel comriangas mais pequenas 267,718, ~216 4 Partitha facilmente com as outras criangas (guloseimas, 701 brinquedos, lipis, ete.) 1 Esensivel aos sentimentos dos outros -463 578 24 Tem muitos medos, assusta-se com facilidade 831 16 Emsituages novas é receoso/a, muito agarrado/a e 247 5750 pouco seguro/a 13 Anda muitas vezes triste, desanimado/a ou choroso/a 876 319 371 8 Tem muitas preocupagdes, parece sempre preocupado/a {527.204 236 11° Tem pelo menos um bom amigo/uma boa amiga S717 23 Di-se melhor com adultos do que com outras criangas 205,703 6 Tem tendéncia a isolar-se, gosta mais de brincar ~208 416.554 sozinhola 14° Em geral as outras eriangas gostam dele/a 206 451 522 12 Luta frequentemente com as outras criangas, ameaga-as 424 438358 ‘ou intimida-as 3 Queixa-se frequentemente de dores de cabega, dores de 273 246 649 bbarriga ou vomitos 25° Geralmente acaba o que comega, tem uma boa atengio ASS 221 -s2 19 As outras criangas metem-se com ele/a, ameagam-no/a xaxt (490 ou intimidam-no/a * Com o propésito de facilitar a compreenstio do contetde dos itens, optimos por utilizar aqui a tradugio yortuguesa dos itens do SDQ. Itens invertidos * Fator 1: Escala de hiperatividade; Fator 2: Escala de comportamento pro-social; Fator 3: Escala de sintomas emocionais; Fator 4: Escala de problemas de relacionamento com os colegas; Fator 5: Escala de sintomas comportamentais e socioemocionais. “Item expurgado Como é possivel verificar, a disposigao de itens por fatores nao corresponde inteiramente a0 modelo teérico proposto por Goodman (1997) [Anexo 4] 63 Para o Fator 1, a Escala de Hiperatividade, aceitam-se trés itens com maior carga fatorial. Para os restantes dois itens, ndo aceitamos a maior carga fatorial, mas aceitamos os itens de acordo com 0 modelo tedrico de Goodman. Apontamos para o facto de que o Fator 1 abrange a totalidade dos 10 itens que compéem as Escalas de hiperatividade (em negrito) e de problemas de comportamento (em itdlico), que formam o perfil de Extemalizagio. As saturagdes dos itens deste dominio sao superiores a 0,40. Para o Fator 2 (Escala de comportamento pré-social) aceitam-se os cinco itens com a maior carga fatorial. Quanto ao Fator 3, a Es ala de sintomas emocionais, aceitam-se quatro itens com maior carga fatorial ¢ um item, o item 3, de acordo com © modelo teérico. Relativamente ao Fator 4 que corresponde & Escala de problemas de relacionamento com os colegas, este contém quatro dos cinco itens, Contrariamente a0 dominio apresentado no modelo de Goodman, o item 19 ndo tem carga fatorial associada ao fator em questio, portanto optamos por expurgar o item 19. Por iiltimo, 0 Fator 5, denominado Escala de sintomas comportamentais e socioemocionais, inclui itens dos quatro dominios de problemas, de modo a que nio seja possivel distinguir a Escala de problemas de comportamento, nem de um ponto de vista estatistico, nem conceptual $.1.2.2. Andlise fatorial exploratéria do SDQ com trés fatores. Uma vez que nao foi possivel obter fatores dis intos para as Escalas de hiperatividade problemas de comportamento, optimos por excluir os respetivos itens ¢ efetuimos uma AFE com trés fatores e 15 itens. O valor do teste de KMO corresponde a 0,711 ¢ o valor do teste de Bartlett é altamente significativo (p < 0,001). Os trés fatores extraidos explicam 49, 51% da variancia total, As saturagdes de cada item nos respetivos fatores so apresentadas por ordem decrescente da sua carga fatorial, separadamente por dominios (Tabela 11). Constatémos que os trés fatores do modelo fatorial correspondem na sua totalidade aos trés dominios correspondentes do modelo teérico, quer estatisticamente, quer conceptualmente. Exceto no item 19, todas as saturagdes so superiores a 0,40. Aceitamos nos trés fatores, os itens com maior carga fatorial. Tabela 11 Matriz das cargas fatoriais com rotacdo Varimax e com trés fatores para o questionério SDQ Trem Conteado™ Fao 123 17 E-simpatico/a e amavel com eriangas mais pequenas 7193 20 Sempre pronto/a a ajudar os outros (pais, professores ou outras 750 criangas) 1 E sensivel aos sentimentos dos outros 29 4° Partilha facilmente com as outras criangas (guloseimas, brinquedos, 705 lipis, ete.) 9 Gosta de ajudar se alguém esta magoado, aborrecido ou doente 685 14° Em geral as outras eriangas gostam dele/a *514 15 24 Tem muitos medos, assusta-se com facilidade 71 16 Emsituagdes novas € receoso/a, muito agarradota e pouco seguro/a s713 13. Anda muitas vezes triste, desanimado/a ou choroso/a 2708 8 Temmuitas preocupagdes, parece sempre preocupado/a 3607 3 Queixa-se frequentemente de dores de cabega, dores de barriga ou 420 vomitos 23. Di-se melhor com adultos do que com outras eriangas sm 11° Tem pelo menos um bom amigo/uma boa amiga :78 6 —Temtendéncia a isolar-se, gosta mais de brincar sozinho/a 285 (703 19 As outras criangas metem-se com ele/a, ameagam-no /a ou intimidam- 368 ola * Com o propésito de facilitar a compreensiio do conteido dos itens, optimos por utilizar aqui a tradugio jortuguesa das itens do SDQ. Itens invertidos © Fator 1: Escala de comportamento pro-social; Fator 2: Escala de sintomas emocionais; Fator 3: Escala de problemas de relacionamento com os colegas. 5.1.3. Estudo da fiabilidade/consisténcia interna do SDQ. Com recurso ao teste de a de Cronbach, verificou-se que a totalidade do SDQ nio revela ‘uma boa consisténcia intema (a = 0,61), para que tal acontecesse o valor deveria ser igual ou superior a 0,80 (Field, 2005). Apos a expurgagio das Escala de hiperatividade ¢ de problemas de comportamento, realizdmos uma nova anilise da fiabilidade do SDQ ¢ dos itens que formam as Escalas de comportamento pré-social, de sintomas emocionais ¢ de problemas de relacionamento com os colegas (Tabela 12). 65 Tabela 12 Consisténcia interna do SDQ e dos trés dominios Dominio ‘ade Cronbach Escala de sintomas emocionais| 69 Escala de problemas de relacionamento 60 com os colegas Escala de comportamento pré-social 80 SDQ 4 66 5.2. Andlises Referentes 0 C-TRF 5.2.1, Verificagao de pressupostos para a anilise fatorial exploratéria do C-TRF. A fim de efetuar a AFE ¢ de obter os testes KMO ¢ de Bartlett, foi necessério excluir os itens com variancias proximas ou iguais a 0. Consequentemente, elimindmos os itens 31, 41, 52, 57, 74, 93, 94 € 95 © a AFE foi realizada com 92 itens. Estes itens caracterizaram-se por um clevado niimero de respostas com o valor 0, de modo a que a varidncia destes itens se aproximasse de ou fosse igual a 0. © KMO obtido pela andlise do C-TRF situa-se no intervalo entre 0,50 ¢ 0,60, valor considerado mediocre, mas aceitivel por Field (2005). O valor do teste de Bartlett é altamente significativo (p < 0,001). Portanto, podemos rejeitar a hipétese nula segundo a qual estamos perante uma matriz de identidade (Tabela 13). Tabela 13 Teste KMO teste de Bartlett para o C-TRF amostra de Kaiser-Meyer- de Bartlett Otkin (KMO) 345 000 5.2.2. Anilise fatorial exploratéria do C-TRE. De seguida, foi efetuada uma AFE a fim de aleangar a melhor disposigdo de itens por fatores, isto é, dominios, de um ponto de vista estatistico ¢ conceptual. Mais uma vez, recorremos a0 método de extragdo por componentes principais, com rotagdo Varimax. O modelo tedrico proposto por Achenbach e Rescorla (2000) abrange os dominios de Intenalizagdo e de Exteralizagao, Outros problemas e seis subdominios (Anexo 5). Para a AFE do C-TRF, estabeleceu-se novamente o valor de 0,20 como saturagio minima ¢ det imos previamente os seguintes critérios ja referidos para a AFE do SDQ, a saber: {os casos em que o item pertencer a mais de um fator foi utilizado primeiramente © critério de maior valor de saturagdo e, secundariamente, do conteiido semantico do item e a sua pertinéneia de acordo com 0 modelo teérico previamente descrito; 67 - Serdo excluidos todos os dominios, cujos itens expurgados ultrapassem 1/3 dos itens totais dese mesmo dominio. A analise das comunalidades permite identificar a variancia comum ou partithada que esta associada a cada um dos itens do C-TRF (Tabela C1 no Apéndice C). De acordo com 0 Seree Plot (Figura 3) ¢ 0 critétio de Kaiser (Tabela C2 no Apéndice C), devemos manter 24 fatores, uma vez que os seus Eigenvalues sio superiores a 1. Embora esta opeao parega estatisticamente mais satisfatéria, optimos por extrair sete fatores, respeitando assim 0 modelo conceptual de Achenbach. A Tabela C2 do Apéndice C apresenta a associagdo entre Eigenvalues ¢ cada fator que pode ser extraido a partir das 92 variaveis iniciais antes e aps a extragdo e apés a rotago. A solugdo fatorial com sete fatores explica 48,56% da variagdo total Scree Plot Component Numb Figura 3. Diagrama de declividade do C-TRF. ‘As saturagdes de cada item nos respetivos fatores so apresentadas por dominios (Tabela C3 no Apéndice C). Dentro de cada dominio, os itens encontram-se dispostos por ordem. decrescente da sua carga fatorial e ndo pela ordem de apresentago do questionério original Como é possivel verificar, o modelo fatorial extraido no corresponde ao modelo teérico do C-TRF, quer conceptualmente, quer estatisticamente. 68 Realizimos entéo uma segunda AFE com rotagdo Varimax com o propésito de extrair trés fatores que correspondessem aos dominios Internalizagdo, Externalizago ¢ Outros problemas, os trés perfis principais do modelo tedrico doa autores. As saturagies de cada item so apresentadas na Tabela C4 do Apéndice C. Mais uma vez, a solugio fatorial proposta pela AFE nfo corresponde ao modelo teérico, tanto conceptualmente como estatisticamente. Optamos entéo por eliminar o C-TRF das andlises posteriores, uma vez que os modelos fatoriais obtidos nao esto de acordo com o modelo original de Achenbach e Rescorla (2000). 69 5.3. Comparagies entre Participantes Como foi possivel verificar nas AFEs realizadas para 0 SDQ, o modelo fatorial com cinco fatores no esté de acordo com 0 modelo tedrico de Goodman (1997), uma vez que ha sobreposigio entre as Escalas de hiperatividade e de problemas de comportamento. Portanto, optimos por trabalhar neste estudo com os trés dominios extraidos, uma vez que tém uma consisténcia intema aceitivel, nao se trabalhando com 0 total do questionério por este niio ser muito fidedigno. De facto, para os subdominios so aceitaveis a acima de 0,60 (Ribeiro, 1999), o que acontece neste caso (Tabela 12). Relativamente ao C-TRF, optémos por eliminar o instrumento das andlises comparativas, uma vez que nao foi possivel extrair modelos fatoriais de acordo com o modelo tedrico proposto por Achenbach e Rescorla (2000). A fim de comparar determinadas variveis, realizamos um estudo da distribuigdo dos dados, nomeadamente, a verificago (a) da normalidade das varidveis estudadas, utilizando 0 teste de Kolmogorov-Smimov para amostras superiores a 1 > 30 ¢ o teste Shapiro-Wilk para amostras inferiores a n < 30 © (b) da homogeneidade das varidncias através do teste de da maioria das Levene. Como verificémos que nao existia normalidade na distribu variaveis, optimos por realizar técnicas estatisticas de comparacdo nao-paramétricas © recorremos ao Teste U de Mann-Whitney para duas amostras independentes a fim de comparar os valores dos dois grupos, Apenas uma varidvel (Escala de comportamento pro- social) apresentou uma distribuigdo normal em determinadas andlises. Para essa varidvel recorremos entio a técnicas estatisticas paramétricas e realizamos um teste ¢ para amostras independentes quando necessério. Para ambos os sexos e idades, calculamos as médias e os desvios-padrdes dos trés dominios do SDQ e verificémos a homogeneidade da amostra (Tabela 14 ¢ Tabela 15). 70 Tabela 14 Médias e desvios-padraes dos dominios SDQ por sexo e por idade Dominios Sexo Sexo ‘anos ‘3 anos feminino masculino MDP M+DP MsDP M=DP Escala de sintomas T16=1,87 1392187 0,206 1,4051,92 _1,0921,79 0,392 Escalade problemas de 1,1421,421,0341,47 0,491 1214151 0,9341,35 0,317 relacionamento com os colegas Escalade comportamento 7,561,96 6,8042,36 0,078 7,1042,20 7,3542,16 0,555 _pré-social * Valor de p obtido através de téenicas nflo-paraméticas Conforme podemos analisar na tabela 14, as diferengas entre sexos ¢ idades nfo so significativas. A média da Escala de sintomas emocionais & mais elevada para 0 sexo masculino, comparativamente ao sexo feminino, Além do mais, verificdmos que as criangas de sexo feminino apresentam médias mais elevadas no que conceme aos problemas de relacionamento com os pares aos comportamentos pré-sociais. Relativamente as diferengas de idade, observamos uma diminuigio das médias das Escalas de sintomas emocionais e de problemas de relacionamento com os colegas entre os quatro ¢ os cinco anos. Em contrapartida observou-se um aumento nos comportamentos pré-sociais entre os quatro ¢ os cinco anos. Tabela 15 Médias e desvios-padroes dos dominios SDQ por idade e sexo Dominios 4 anos P P Sexo Sexo Sexo feminino — masculino feminino — masculino M:DP____MiDP MIDP__MiDP. Escala de sintomas T 361,91 LA4G=197 0,744 0,7941,77 1324180 0,055 emocionais Escala de problemas 148+1,560,7941,34 0,021* 0,5140,84 1,26#1,57 0,52 de relacionamento com os colegas Escala de 7144201 7,0442,52 0,930 8,3341,63 6,5842,23 0,04 comportamento pré- social * Valor de p obtido através de téenicas néo-paramétricas * Diferenga significativa para p <,05 (bilateral) n A anilise das diferengas entre sexos aos quatro e cinco anos revelou que existem diferengas significativas entre ambos os sexos aos quatro anos relativamente aos problemas de relacionamento com os colegas, sendo que o sexo feminino apresenta significativamente mais problemas no relacionamento com os pares (Tabela 15). Também verificdmos que existem diferengas significativas entre o sexo feminino ¢ masculino aos cinco anos nos comportamentos pré-socais. Aqui a média do sexo feminino ¢ significativamente mais elevada, em comparagiio & média do sexo masculino, As diferengas de médias entre sexos para ambas as idades nio sio significativas para a Escala de sintomas emocionais. 5.3.1. Lingua materna. Propusemo-nos a investigar se existem diferengas entre criangas cuja lingua matemna 6 © luxemburgués (LML) ¢ criangas com outra lingua matema (LMnL), nomeadamente o francés, alemao portugués ou outra. Para realizar tal andlise, procedemos & dicotomizagio da varidvel Lingua matema: Lingua matera luxemburguesa (1) vs. Lingua materna nio- luxemburguesa (0). As frequéncias foram analisadas anteriormente (Tabela 3). No total, foram contabilizadas 87 criangas (68,5%) LML e 40 (31,5%) criangas LML. As médias ¢ os desvios-padrdes por grupo, sexo, idade e por dominio do SDQ sio apresentados na Tabela 16. 2 Tabela 16 Médias e desvios-padrées para as varidveis Lingua materna luxemburguesa e Lingua ‘materna néio-luxemburguesa por sexo ¢ idade Dominios Tuxemburgués _ Nao-Luxemburgués P MzDP M:DP Escala de sintomas 1,24#1,80 7,3342,00 O94" emocionais Sexo feminino 1,14£1,84 1,2141,96 0,752" Sexo masculino 1,3521,78 1,5042,13 0971" 4 anos 1,46#1,89 1,2742,03 0,558° 5 anos 0,9541,67 1,3942,03 0,393 Escala de problemas de 1,2641,59 0,7300,96 0,140” relacionamento com os colegas Sexo feminino 1,35£1,60 0,7510,94 0,201" Sexo masculino 1,16£1,60 0,694:1,01 0,358" 4 anos 1,4211,68 0,7310,88 0,190" 5 anos 1,0341,46 0.724107 ost? Escala de comportamento 7,0242,31 7,6011,84 0,249" pré-social Sexo feminino 7,3942,10 7,8841,65 0,428° Sexo masculino 6654247 7,19+2,07 0,488" 4 anos 7,04+0,48 7,2241,63, 0,985" S anos 7,002.17 8,0612,01 0,095" * Valor de p| * Teste nio paramétrico de Mann-Whitney * Teste paramétrico para amostras independentes Conforme podemos constatar, ndo existem diferengas significativas no funcionamento comportamental e socioemocional entre as criangas LML e criangas LMnL, nem entre o sexo feminino e o sexo masculino, nem entre criangas com quatro anos ¢ cinco anos de idade. A nivel da Escala de sintomas emocionais, observémos que as criangas LMnL apresentam mais sintomas emocionais, exceto aos quatro anos. Relativamente & Escala de problemas de relacionamento com os colegas, verificdmos que as criangas LML apresentam médias mais elevadas, independentemente do sexo e da idade da crianga. No tiltimo dominio, as criangas LM expressam mais comportamentos pré-sociais, comparativamente as eriangas LML. 5.3.2. Comuna de residéneia. Propusemo-nos a analisar se existem diferencas entre ambos grupos de participantes. A tabela 17 apresenta as médias ¢ os desvios-padrdes por dominio, sexo ¢ idade para os dois grupos. B Tabela 17 Médias e desvios-padraes da variavel Comuna de residéncia por sexo e idade Dominios Rural Urbano P M=DP. M#DP. Escala de sintomas T.2021,84 T3141,89 0,849 emocionais Sexo feminino 1,3842,00 1,05+1,80 0,s61° Sexo masculino 1,04+1,70 1,65+1,97 0,253" 4 anos 1,37£1,88 1,4241,96 0,995" Sanos 1,00#1,80 1,151,80 0,795" Escala de problemas de 1,1841,64 1,0341,31 0,842” relacionamento com os colegas Sexo feminino 1,2141,53 1,1041,38 Sexo masculino 1,16#1,77 0,9481,23 4 anos 1,2241,53 1,2041,52 5 anos 1.144181 0,8040,93 Escala de comportamento 6,9042,35 7,4042,06 pro-social Sexo feminino 7,0042,13 7,8611,81 Sexo masculino 6,8042,58, 6,7942,23 4 anos 6,8942,36 7,2242,12 S anos 6914239 7,641.98 ° Valor de p Teste ndo paramétrico de Mann-Whitney © Teste paramétrico para amostras independentes Verificamos que ndo existem diferengas significativas entre as criangas residentes em comunas rurais ¢ criangas que residem em meios urbanos, quer ndo entre sexos, quer entre faixas etérias, Em geral, as médias do dominio dos subdominios das Escala de sintomas emocionais ¢ comportamento pré-social so mais elevadas em criangas residentes em meios urbanos. Excegiio é 0 sexo feminino no que conceme aos sintomas emocionais ¢ 0 sexo masculino relativamente aos comportamentos pré-sociais, Na Escala de problemas de relacionamento com os colegas, criangas de meios rurais apresentam mais problemas com os pares. 14 Discussio presente trabalho foi realizado em estabelecimentos pré-escolares do Grio-Ducado do Luxemburgo com o objetivo de averiguar o funcionamento comportamental e socioemocional das criangas com idades compreendidas entre os quatro e cinco anos e de validar a versio alema para educadores do instrumento psicométrico SDQ. Com esta validagao pretendemos contribuir para 0 melhoramento da identificagdo das perturbagdes do funcionamento em criangas residentes no Luxemburgo, um pais com poucos recursos na area da avaliagiio dos problemas de satide mental infantis. A anilise dos dados dos questionérios permitiu destacar alguns resultados relevantes que determinaram o decorrer do estudo e, mais especificamente, da validagao. ‘A AFE com rotagio Varimax do SDQ nio permitiu extrair um modelo fatorial consistente com o modelo teérico de cinco dominios proposto por Goodman (1997). De facto, a andlise do resultado da rotagdo revelou que a totalidade dos itens das Escalas de problemas de comportamento ¢ de hiperatividade, que formam o perfil de Externalizacao, reuniram-se num s6 fator. Este resultado indica que as respostas fornecidas pelos educadores- de-infincia no foram sensiveis a ponto de distinguir os dois dominios. Além disso, sugere que a hiperatividade & conceptualizada e/ou interpretada pelos educadores-de- inffincia como sendo um problema de comportamento c/ou vice-versa Uma sugestio semelhante também foi avangada por Dickey © Blumberg (2004) que realizaram um estudo de validago do SDQ nos EUA. Segundo os autores, & possivel que alguns itens (e comportamentos) tenham significados diferentes para a populagdo americana ¢ que os pais americanos conceptualizem de modo diferente os constructos relatives aos problemas de comportamento ¢ de relacionamento com os pares. Contrariamente & populagao europeia, nos EUA estes problemas sto considerados sintomas ou consequéncias diretas da hiperatividade ou da emotividade, Para Dickey ¢ Blumberg, & possivel que 0 modelo trifatorial seja mais apropriado para a populago americana, Nao sendo possivel avaliar os comportamentos extemalizantes de forma dissociada, optimos entio por expurgar os dominios dos problemas de comportamento e de hiperatividade e mantivemos os dominios que formam o perfil de Internalizagao (composto pelas Escalas de sintomas emocionais ¢ de problemas de relacionamento com os colegas) ¢ a BE cala de comportamento prd-social. Uma nova AFE com trés fatores permitiu a obtengao 15 das trés escalas pretendidas. Optémos entdo por trabalhar com trés dos cinco dominios individuais propostos por Goodman (1997) e ndo com a totalidade do SDQ, permitindo-nos estudar com maior preciso os comportamentos intemalizantes e pré-socias da nossa amostra, Varios autores, tais como Dickey ¢ Blumberg (2004), Klein et al. (2013), Koskelainen et al. (2001) e van Leeuwen et al. (2006) encontraram modelos fatoriais com trés fatores semelhantes, onde os itens se associaram segundo perfis de problemas internalizantes, externalizantes e de comportamentos pré-sociais. Os estudos detetaram elevadas correlagdes entre determinados itens de diferentes dominios, proporcionando correlagdes no s6 entre dominios, mas também entre perfis, Porém, apesar das solugdes com trés fatores, existem diferengas metodoligi s importantes entre este trabalho ¢ os estudos apresentados, a maior sendo que, a excecdo de Dickey © Blumberg (2004), os estudos também extrairam modelos fatoriais com cinco consistentes com 0 modelo teérico. Para além das diferengas nas idades e nacionalidades abrangidas nos estudos, os autores utilizaram versdes distintas do SDQ em contextos diferentes ¢ recorreram a procedimentos estatisticos diferentes para alcangar os respetivos modelos fatoriais, Dickey e Blumberg (2004) e Klein et al. (2013) recorreram a uma AFE, a uma andlise fatorial confirmatéria e a uma andlise de componentes principais. Koskelainen et al, (2001) realizaram uma anilise fatorial com rotagdo Varimax e van Leeuwen et al. (2006) utilizaram uma AFE e uma andlise fatorial confirmatéria. Além da obtengio de uma solugio fatorial considerada nio satisfatéria por néo dissociar os dominios do perfil de Externalizagdo, obtivemos um indice de consisténcia interna insuficiente por ser inferior a 0,80, Geralmente estudos sobre a versio para educadores do SDQ apresentam indices de fiabilidade elevados, proximos de a = 0,80 para a mesma faixa etéria (Downs et al., 2013; Klein et al., 2013) chegando a a = 0,91 no estudo realizado por Egpeleta et al. (2013). ‘No que conceme a fiabilidade dos trés dominios individuais, verificémos que estes sio superiores a r = 0,60, limite considerado aceitivel para os subdominios, de acordo com Ribeiro (1999). Estes resultados s4o consistentes com o estudo de Downs et al. (2012), segundo o qual a consisténcia intema dos trés grupos linguisticos/culturais foi geralmente comparavel e/ou superior aos indices obtidos neste trabalho para os mesmos dominios. 16 Indices de consisténcia interna comparaveis foram citados por Janssens e Deboutte (2009, 2010) para dois dominios na versio para os cuidadores da instituigdo de assisténcia a0 ‘menor, a fiabilidade do dominio dos sintomas emocionais sendo mais elevado. Klein et al. (2013) apresentaram indices de fiabilidade semelhantes aos resultados deste trabalho para as Escalas de sintomas emocionais ¢ de problemas de relacionamento com os pares numa publicagio que abordou as propriedades psicométricas da versio pré-escolar alema para pais do SDQ. Contudo, a consisténcia interna referente ao dominio dos comportamentos pro- sociais apresentada pelos autores revelou ser menos elevada, comparativamente a este estudo. A AFE do questiondrio secundatio, o C-TRF, ndo permitiu aleangar uma solugdo fatorial satisfatoria, tanto com sete fatores (para corresponder com 0 modelo tedrico de Achenbach ¢ Rescorla, 2000), como com trés fatores (dominio de Intemalizagdo, de Extenalizagio Outros Problemas). A repartigiio dos itens nos diferentes fatores ndo permitiu alcangar 0 modelo tedrico, quer estatisticamente, quer conceptualmente. Como foi referido anteriormente, a proporgdo de itens respondidos com o valor 0 = néo verdadeiro (que vocé saiba) foi muito elevada, o que diminuiu a variabilidade das respostas no C-TRE. O pequeno tamanho da amostra e a baixa variabilidade das respostas podem estar na origem dos modelos fatoriais insatisfatorias. Consequentemente, nao foi possivel analisar a validade convergente entre os perfis, os dominios ¢ os subdominios do referido instrumento ¢ os perfis ¢ os dominios do SDQ. Porém, de acordo com a literatura publicada que avalia o grau de associagdo entre 0 SDQ para educadores ¢ 0 C-TRF, podemos afirmar que em geral as correlagdes entre ambos os questionarios e entre os subdominios correspondentes so elevadas na populagdo pré-escolar (Downs et al., 2012). Downs et al. (2012) apresentaram correlagdes significativas entre as pontuagdes totais e entre os constructos semelhantes de ambos os instrumentos na populagdo pré-escolar alema. Ezpeleta et al. (2013) registaram correlagdes moderadas a elevadas a nivel das pontuagdes totais e dos dominios correspondentes entre 0 SDQ para pais eo CBCL. Goodman ¢ Scott (1999) reproduziram resultados compardveis num estudo de comparagio entre 0 CBCL ¢ 0 SDQ para pais numa amostra composta por criangas com idades compreendidas entre os quatro e os sete anos. Resultados semelhantes também foram obtidos por Klasen et al. (2000), que comprovaram a robustez. das propriedades psicométricas do SDQ para pais ¢ de autoavaliagdo ¢ do CBCL e ao YSR. 1 Relativamente as médi s das escalas, constatamos a presenga de valores de melhores comportamentos na Escala de comportamento pré-social, Relativamente as Escalas de sintomas emocionais ¢ de problemas de relacionamento com os pares, observimos, em geral, uma proporgdo mais elevada de sintomas emocionais do que de problemas com os pares em ambos os sexos. Além disso, verificimos uma diminuigdo dos sintomas emocionais e dos problemas de relacionamento com os pares entre os quatro ¢ cinco anos, enquanto os comportamentos pré-sociais aumentaram no mesmo periodo, Também identificdmos um. efeito do sexo sobre os problemas de relacionamento com os pares ¢ sobre os comportamentos pré-sociais, sendo que o sexo feminino apresenta consideravelmente mais problemas no relacionamento com os colegas aos quatro anos e mais comportamentos pré- sociais aos cinco anos, em comparago ao sexo masculino. Estes resultados so parcialmente consistentes com a literatura. Janssens e Deboutte (2009, 2010) obtiveram o mesmo padrio de pontuagdes a nivel dos dominios do SDQ para os cuidadores, para pais e na versio de autoavaliagdo. Os valores dos comportamentos apresentados por Downs et al. (2012) a nivel dos dominios contrastam com os valores obtidos no presente trabalho, No referido estudo, 0 sexo masculino apresentou, com algumas excegdes, mais sintomas emocionais ¢ mais problemas a nivel do relacionamento com os pares, do que 0 sexo feminino. Os resultados referentes aos comportamentos pré-sociais, revelaram ser consistentes com os resultados do nosso estudo, Quanto ao padrio de comportamentos aos quatro ¢ cinco anos, Downs et al. verificaram que, em geral, os sintomas emocionais e os problemas de relacionamento com os pares diminuiram com o aumento da idade, enquanto os comportamentos pré-sociais aumentaram. Quanto 4 lingua materma © comuna de residéncia, estas nfo exereeram efeitos no funcionamento comportamental e socioemocional das criangas. Os resultados referentes 4 lingua matema so consistentes com o artigo de Downs et al. (2012) que investigou se existem diferencas no funcionamento infantil entre criangas residentes nos EUA. com lingua matema inglesa e lingua matemna espanhola e criangas com lingua materna alema que vivem na Alemanha, Os autores descobriram um efeito importante da lingua matema/cultura das, eriangas sobre 0 dominio relativo aos sintomas emocionais apenas entre criangas alemas ¢ criangas dos EUA com lingua matema inglesa e espanhola. Nenhum efeito da lingua matema foi destacado entre criangas com lingua matema inglesa ¢ lingua materna espanhola nos EUA. B Como referirmos anteriormente, existem poucos estudos que investigam a associagdo entre satide mental infantil ¢ zona urbana e rural, recorrendo a0 SDQ. A investigagio de Mullick e Goodman (2005) constatou que as criangas manifestaram um maior mimero de perturbagdes mentais em favelas, em comparagio a zonas rurais € urbanas. Todavia, Srinath et al. (2005) nio detetaram efeitos do meio urbano, rural e das favelas sobre o funcionamento comportamental e socioemocional da crianga e dos adolescentes. A auséncia de efeito da lingua matema e da comuna de residéncia sobre o funcionamento comportamental ¢ socioemocional encontrada no presente trabalho, pode estar relacionada com o pequeno tamanho da amostra e com as diversas caracteristicas da selegdo dos participantes pelos educadores-de-infancia. A selegdo de uma amostra normativa composta por criangas consideradas pelos educadores de infiincia como nao exibindo problemas no seu funcionamento comportamental e socioemocional, pode estar na origem da auséncia de efeitos. A situagdo linguistica e cultural do Luxemburgo apropria-se bem & anélise das diferengas no funcionamento entre criangas com origens distintas. A escolha de estudar a lingua materna © no a nacionalidade justifica-se pela razo que nascer no Luxemburgo no implica ter a nacionalidade luxemburguesa e aprender como primeira lingua o luxemburgués e, inversamente, ter uma nacionalidade estrangeira nao implica que a lingua materna seja ‘ionalidade estrangeira. O clevado nimero de familias mistas (um dos pais com na luxemburguesa e 0 outro com nacionalidade estrangeira) est na origem de um bilinguismo cada vez mais frequente nos lares do Luxemburgo. A confrontagdo entre lingua ¢ cultura de origem ¢ cultura escolar pode criar conflitos que se refletem no comportamento ¢ nas dificuldades exibidas pela crianga, E entio possivel que criangas com linguas matemas estrangeiras efou criangas de pais imigrantes (alguns dos quais imigrados recentemente) tenham sido excluidas pelos educadores devido ao mau conhecimento da lingua luxemburguesa e/ou a comportamentos considerados problematicos na escola Outra explicagdo para a auséneia de diferengas entre linguas matemnas pode estar relacionada com a boa integragdo de algumas familias imigrantes (segundalterceira geracao de imigrag3o) no pais de acolhimento, Embora a lingua materna dessas familias no seja 0 luxemburgués, as criangas podem ter um contacto elevado com a lingua luxemburguesa dentro e fora de casa por intermédio de familiares, amigos, cuidadores ou até da frequentagio do ensino precoce, ano escolar facultativo para criangas com trés anos que precede a entrada 79 no ensino pré-escolar obrigatério. A familiaridade da crianga com o luxemburgués é suscetivel de diminuir as dificuldades de integrag4o no ensino pré-escolar, uma vez que facilita a comunicagdo com os educadores ¢ os pare: No que respeita ao funcionamento comportamental e socioemocional entre criangas de meios considerados urbanos vs. ruais, é importante referir que a repartigdo das comunas em comunas urbanas ¢ rurais no Luxemburgo no corresponde aos critérios geralmente aceites pela definigdo que caracteriza os meios urbanos. O termo “urbano” refere-se a. grandes conglomeragdes de individuos geralmente em areas relativamente pequenas, resultando em densidades de populagdes relativamente elevadas (Marsella, 1998). Para além disso, os meios urbanos caracterizam-se por uma convergéncia entre fatores especificos relacionados com a populagio, ambiente, economia, cultura ¢ politica que podem ter consequéncias a nivel psicossocial e na satide mental do individuo. No entanto, como sugerem Peen, Schoevers, Beckman ¢ Dekker (2010), cada pais adapta a definigdo & sua situagdo especifica, de modo a que Areas caraterizadas como sendo urbanas por um pais, possam ser consideradas rurais por outros paises. No Luxemburgo, as comunas foram classificadas de acordo com um plano de prioridade para o desenvolvimento urbano (Ministére du Logement, 2011). nfo coincide com a definigio de Marsella (1998). Assim, muitas das zonas consideradas a-se de uma reparti¢Go em zonas urbanas e rurais que urbanas ni apresentam as particularidades que caracterizam geralmente zonas urbanas, tal como sao definidas por Marsella (1998). Outro aspeto a levar em consideragdo refere-se & localizagdo dos estabelecimentos pré- escolares. Muitos dos estabelecimentos escolares das diversas comunas abrangidas no estudo localizam-se nao no municipio, mas em localizagdes em redor, que tanto podem ser zonas urbanas ou rurais. Assim, é possivel que um estabelecimento de uma localizagdo urbana acolha maioritariamente criangas de meios rurais ou, alternativamente, um estabelecimento de uma comuna urbana esteja situado numa localizagao mais rural que urbana e que acolha apenas criangas de meios rurais. Esta situagdo ndo serd refletida corretamente na base de dados, uma vez que neste estudo nao inguirimos sobre a localizagio, mas a comuna de residéncia dos participantes. Por iltimo, tal como foi referido anteriormente em relagao as criangas com linguas maternas diferentes, ¢ importante ressaltar novamente que os educadores de estabelecimentos 80 pré-escolares urbanos podem ter excluido criangas de meios urbanos com dificuldades no seu funcionamento socioemocional. A decisio de excluir tais participantes pode alterar a configuragio da amostra e influenciar os resultados do estudo, A psicomotricidade é uma pritica corporal que aborda 0 individuo na sua globalidade que recorre a atividades motoras, percetivas, sensoriais para agir sobre a globalidade do ser, a percegao do Eu ¢ do outro. A interagdo entre a crianga, o meio € a relagio com 0 outro & fundamental, A psicomotricidade constitui um meio sélido para apoiar e fomentar comportamentos de vinculagio entre os pais eos seus filhos, pois fornece meios para desenvolver uma comunicago emocional que permite desenvolver interagdes interpessoais continuas, sincronas e reciprocas entre pais e filhos. Para além de promover a vinculagio através da comunicagdo emocional, a psicomotricidade também permite fortificar o bonding, reflexo do envolvimento emocional dos pais para com os seus filhos. Os pais aprendem novas competéncias, a nivel de reflexdo sobre si proprios, os seus comportamentos e consequéncias, tomando-se mais responsivos e sensiveis as necessidades dos filhos. i importante que os pais, gostem dos seus filhos, para que estes possam gostar, dos pais, de si proprios, de viver e para que se sintam seguros. Avaliar desde cedo as perturbagdes a nivel do funcionamento socioemocional ¢ comportamental em criangas com instrumentos adequados é essencial, a fim de identificar, prevenir ¢ intervir em eventuais problemas que possam interferir com o bem-estar ¢ 0 desenvolvimento socioemocional e comportamental propicio das criangas, Importa incluir os pais no processo terapéutico ¢ trabalhar a relagio entre pais e filhos para prevenir a aparigao de perturbagdes © 0 seu impacto negative sobre o desenvolvimento socioemocional comportamental da crianga, A escola pode desempenhar um papel importante na detego e na prevengo de perturbagdes e de insucesso escolar desde que exista uma boa comunicagdo entre educadores/professores © cuidadores. A inclusio de miltiplos informadores provenientes de diferentes contextos é essencial, pois facilita a obtengdo de um perfil mais aprofundado e mais completo acerca do comportamento infantil. ser humano é um ser de comunicagdo que existe na relagdo ¢ é na relagdo que o individuo se desenvolve. Sem a relagio a crianga nfo tem capacidade por si so de desenvolver funcionalidades do seu ser, a comecar pela construgao do Eu identitario, do self Tal construgdo alicerga-se desde cedo na relagdo com os cuidadores. Parece ser consensual a ideia de que a vinculagao é fator condicionante na qualidade da satide mental dos individuos, 81 das suas relagdes interpessoais e na cidadania, influenciando como tal o seu niicleo mais restrito de relagdes e a sociedade em que se insere. O tipo de ligagdo estabelecida entre pais ¢ criangas condiciona ndo sé 0 desenvolvimento do hemisfério direito responsivel pela regulagao de estados emocionais ¢ do tratamento de informagdes socioemocionais, como também as experiéncias da crianga e, posteriormente, do adolescente e do adulto ‘A vinculagdo, assim como a fungao continente da mie, o bonding que os pais estabelecem com os seus filhi , associados a comunicagiio emocional adequada sao fundamentais, pois sio os alicerces de um desenvolvimento cognitivo, social, psicolégico ¢ emocional futuro propicio. Para além do mais, afetam o estabelecimento de relagdes de proximidade ¢ de intimidade ao longo da vida do individuo. Ligagées instaveis ¢ inseguras terdo consequéncias nefastas a varios niveis no desenvolvimento da crianga. O aparecimento de perturbacdes mentais ¢ comportamentais, 0 insucesso e/ou a exclusio escolar, 0 abuso de substancias e outros comportamentos desviantes podem surgir quando as rel es entre pais € filhos no so seguras, consistentes e de confianga. Portanto, faz todo o sentido avaliar precocemente as perturbagdes que surgem na relagao €, dai no funcionamento da crianga, uma vez que uma deficiéncia ou uma patologia psiquiaitrica pode comprometer as aprendizagens escolares das criangas devido & dificuldade que tém de aceder com facilidade ¢ prazer aos conhecimentos partilhados na escola (Saint- Cast, 2005). Nesta perspetiva, a psicomotricidade pode intervir nas falhas, nas auséncias ¢ nas inadequagdes da experiéncia do corpo que podem causar perturbagdes na maturagdo das fungdes psicomotoras necessirias as aprendizagens, uma vez que 0 seu objetivo & ajudar a crianga a sentir-se bem com ela propria, o seu corpo, o outro eo mundo & sua volta. 82 7. Limitagées e Dificuldades Encontradas Apesar do modesto contributo deste trabalho para a avaliagio do funcionamento comportamental e socioemocional de criangas em idade pré-escolar residentes no Luxemburgo, & importante examinar algumas limitagdes relacionadas a aspetos teéricos ¢ metodolégicos. A amostra do estudo 6 demasiado pequena, pois a andlise fatorial requere que o tamanho da amostra seja maior (Field, 2005). O tamanho reduzido da amostra pode ser uma explicagao possivel para a no obtengdo de resultados desejaveis, pois nfo foi possivel extrait um modelo fatorial que correspondesse a0 modelo tebrico proposto por Goodman (1997) e por la SDQ boa consisténcia interna, uma vez que o a de Cronbach nao atingiu o limite requerido de 0,80. Achenbach e Rescorla (2000). Além do mais, verificdmos que a es revela uma. Estes resultados nio possibilitaram o aleance do objetivo principal deste trabalho, a saber, a validagdo da versio alema para educadores do SDQ ¢ a interpretagdo ea generalizagdo destes resultados deve ser feita com muito rigor e muita prudéncia. Ao pequeno tamanho da amostra actescenta-se 0 grande niimero de itens respondidos com o valor 0 no C-TRE, o que pode estar na origem do modelo fatorial insatisfatério. Assim, nao foi possivel incluir o questionario nas andlises estatisticas. E importante referir aqui uma questo associada a administragzio dos questiondtios. Ambos os instrumentos foram entregues aos participantes ao mesmo tempo e cada participante teve aproximadamente um més para completar ambos os questiondrios. No entanto, pareceu-nos que muitos educadores adiaram a tarefa até ao prazo limite de entrega, de modo a que a falta de tempo possa ter condicionado 0 preenchimento dos instrumentos, principalmente do C-TRF devido ao seu elevado mimero de itens ¢ & sua semelhanga com o SDQ. Outro aspeto importante a levar em consideragdo diz respeito a lingua em que foram administrados os questionarios. Neste estudo, optamos por aplicar os questiondrios em lingua alema, uma vez que © Luxemburgo ¢ considerado um pais germandfono. Contudo, o alemao ndo constitui a lingua materna dos luxemburgueses ¢ 0 contacto com o alemao varia de zona para zona, Assim, enquanto o luxemburgués ¢ o alemfo sio as linguas mais comuns no distrito Dickirch, no distrito Luxembourg ¢ parcialmente no distrito Grevenmacher ¢ mais comum falar luxemburgués ¢ francés. Além do mais, os estudos que levam a obtengao do diploma de educador-de-infincia sdo realizados em paises franc6fonos, principalmente na 83 Bélgica, e muitos diplomados tém origens estrangeiras, nomeadamente francesa, portuguesa, etc. Consequentemente, 0 contacto de muitos educadores com a lingua francesa & maior do que com a lingua alema. Portanto, & possivel que a versio alema tenha condicionado preenchimento dos questiondrios, através de diferengas de compreensio, de interpretagdo dos varios itens. O contexto cultural e/ou a nacionalidade dos educadores também pode ter condicionado os participantes na interpretacao dos itens e na atribuigdo de respostas, uma vez que podem ter conceptualizagdes diferentes do que s4o comportamentos-problema. ‘A participagao dos pais/cuidadores das criangas no presente trabalho limitou-se 4 recolha de informagdes sociodemogriticas. Contudo, a incluso dos pais na avaliago do funcionamento infantil é fundamental, uma vez que permite no sé averiguar a preocupagao parental acerca da saiide mental das criangas, mas também permite investigar 0 grau de concordancia entre pais/cuidadores e educadores-de-inffincia. O envolvimento de cada cuidador que interage com a crianga em diversos contextos permite a partilha das experigncias com a crianga e a obtengdo de um perfil mais completo sobre a satide mental da criank Além do mais, teria sido interessante inquirir sobre o tempo que as familias imigrantes residem no Luxemburgo e realizar comparacdes para verificar se existem diferengas a nivel do funcionamento socioemocional entre criangas de familias imigradas recentemente (primeira gera dio de imigrago) e de familias descendentes de imigrantes (segunda/terceira de geracdo de imigragdo). A percegdo ¢ o sentimento de integragdo das familias no pai acolhimento podem afetar de modo significative a satide mental do individuo (Tousignant, 1992; Carta, Bernal, Hardoy, Haro-Abad, & "Report on the Mental Health in working group, 2005). Foram encontrados varios obsticulos que dificultaram a realizagdo deste trabalho. Os mais relevantes concernem: (1) O processo de obtengdo das autorizagdes do CNER, MEN e dos spetores foi demorado, 0 que adiou o inicio do estudo; (2) o desinteresse pelo estudo por parte de um néimero considerével de escolas, dificultando a recolha de escolas para participarem no estudo (3) 0 desinteresse ¢ a falta de disponibilidade por parte de alguns educadores de inffncia na participagiio © dai na resposta dos questionirios; (4) 0 nao cumprimento de datas previstas para a sua entrega ¢ (5) o incumprimento das indicagdes ¢ das instrugies dadas para o preenchimento dos questionétios. Estes obstaculos refletem-se parcialmente na andlise das respostas dos questiondrios, principalmente do C-TRE. 84 8. Conclusoes Para concluir o presente trabalho, destacamos que © modelo fatorial extraido nao apresentou as qualidades do modelo teérico original de Goodman (1997). As propriedades psicométricas pouco desejaveis, devido 4 solugdo fatorial inconsistente ¢ & fraca fiabilidade do SDQ, nao permitiram comprovar a robustez do instrumento, tal como pretendido. Contudo, independentemente da diferenga existente entre os resultados obtidos neste trabalho € os resultados da literatura, investigagdes realizadas em todo 0 mundo comprovam a robustez tanto do SDQ, como também do C-TRF. Portanto, os resultados obtidos neste trabalho devem ser interpretados e generalizados com muito rigor e cuidado, uma vez que podem estar condicionados pelas caracteristicas da amostra recolhida para este trabalho, A comparagao entre linguas maternas ¢ comunas de residéncia revelou que existe um efeito do sexo aos quatro anos no que respeita aos problemas de relacionamento com os pares, pois observamos que o sexo feminino apresenta consideravelmente mais problemas, em comparago ao sexo masculino. Além do mais, encontrémos um efeito do sexo nos comportamentos pré-sociais. Os resultados revelaram que aos cinco anos, 0 sexo feminino apresenta notavelmente mais comportamentos pré-sociais, do que 0 sexo masculino, Nenhum efeito da zona de residéncia foi destacado. O presente trabalho representa apenas um modesto ¢ pequeno contributo para a area da satide mental infantil do Luxemburgo, Portanto, importa realizar mais estudos exploratorios ¢ de validagio com amostras comunitirias maiores ¢ amostras clinicas em diversos contextos, aplicando instrumentos separadamente em diferentes linguas, nomeadamente em alemdo, francés ¢ luxemburgués para analisar se existem diferengas no funcionamento infantil, Ser fundamental controlar determinadas varidveis tais como a nacionalidade, a lingua materna e a compreensdo das diversas linguas dos participantes © outras questées associadas ao preenchimento (instrugdes, disponibilidade temporal, motivagdo) que pode condicionar o preenchimento dos instrumentos, estudo que nos propusemos a realizar é um estudo preliminar, portanto é indispensavel recolher evidéncia adicional, para que os resultados obtidos possam ser gencralizados, Seré necessirio realizar outras investigagdes com o propésito de melhorar a qualidade da identificagdo, da avaliago © do tratamento das perturbagdes mentais na infincia adolescéncia, assim como também na idade adulta ¢ na terceira idade. 85 9, Referéncias Bibliograficas Achenbach, T. 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(Cantio/Comuna Sexo Total Sexo Total ‘masculino —feminino {feminine Distrito DIEKIRCH 8 8 16 6 14 20 Consthum. 4 4 8 3 4 9 Heinerscheid 10 10 20 5 10 15 Hosingen 7 4 2 13 M1 my Munshausen 4 6 10 10 4 4 Troisvierges 15 17 32 20 13 33 Weiswampach 6 8 uu 6 5 u Wincrange 21 18 39 10 32 a Subtotal 85 8B 160 B 93 168 Total Cantio Clervaux 328 Cantio Diekirch Bettendorf 4 4 18 9 13 2 Bourscheid 2 6 1B 7 6 B Diekirch* 30 32 62 2B 32 55 Ermsdorf 9 9 1B 12 8 20 ipeldange* 18, 7 25 13, 6 v :ttelbruck* 47 39 86 35 2 7 Feulen 12 1 19 10 9 v Hoscheid 5 4 9 6 3 9 ‘Medernach 4 2 26 8 u 1 Mertzig 10 "1 2 ul 8 19 Reisdort 4 8 R 12 8 20 Schieren* 5 9 “ 7 12 1 Subtotal 180 148 328 153 158 3H Total Cantio Diekirch 639 Cantio Rédange Beckerich uw 2 23 10 10 20 Préizerdaul 8 1 Is 8 7 15 Ell 7 5 R 7 6 B Rambrouch B 21 “4 25 2 47 6 6 R 10 4 4 12 18 30 19 15 34 2 4 6 1 8 9 Useldange 13 6 v ul 7 1s Viehten 5 7 R 8 3 u Wahl 4 3 7 7 8 15 Subtotal om 89 180 106 90 196 Total Canto Rédange 376 Cantio Vianden XI Tandel 12 10 2 8 5 B Putscheid 6 10 16 5 3 8 Vianden* 5 10 Is 8 8 16 Subtotal 2B 30 53 21 16 a7 Total Cantio Vianden 90 Cantio Wiltz Boulaide 4 8 R 9 5 i“ Esch-Stire 4 4 1 3 4 Eschweiler 2 2 4 1 8 1S Goesdorf 1B 9 2 5 4 9 Lac Haute Stre 9 8 7 1s 10 25 Heiderscheid 1 4 u 13, 9 22 Kiischpelt 5 4 9 4 4 8 ‘Neunhausen 1 1 2 2 2 Wiltz* 31 33 64 36 39 75 ‘Winseler 4 8 2 i 7 18 Subtotal 80 1 157 101 on 192 Total Cantio Wiltz 349 Distrito LUXEMBOURG Cantio Luxembourg-Campagne Bertrange" 36 37 73 32 40 2 Contern 24 17 4 12 7 29 Hesperange* 8 81 174 0 B 143 ‘Niederanven* 26 34 60 24 21 45 Luxembourg" 534 484 1.018 499 440 939 Sandweiler* 10 23 33 16 15 31 Schuttrange 19 18 37 20 16 36 Steinsel” 31 4 55 25 14 39 Strassen® 4B 28 7 46 53 99 Walferdange* 25 42 67 56 40 96 Weiler-la-Tour 20 15 35 14 9 23 Subtotal 861 803 1.664 814 738 1.552 Total Canto Luxembourg- 3.216 Campagne Canto Mersch Colmar-Berg* 13 1 20 8 7 15 Bissen 15 2 37 19 21 40 Boevange-Attert 14 8 2 20 8 28 Fischbach. 8 3 u 7 8 ds Heffingen 9 2 2 u 7 1B Larochette 21 13 4 17 1 28 Lintgent 12, 19 31 14 14 28 Lorentzweiler* 7 16 33 18 u 29 Mersch* 47 36 83 4s 40 85 ‘Nommem, 10 13 23 6 4 10 Tuntange 9 6 1B 13 7 20 Subtotal 175 155 330 178 138 316 Total Canto Mersch 646 Cantio Capellen Bascharage* 38 44 82 50 28 78 Clemency 13 8 2 12 Ml 23 XIL Dippach 19 18 37 14 16 30 Garnich 14 16 30 15 15 30 Hobscheid 28 19 4 19 9 28 Kehlen 2 28 a7 25 2B 48 Koerich 20 nt 31 16 14 30 Kopstal B 21 “4 22 15 37 Mamer" 3 37 90 a 57 99 Septfontaines 3 4 7 5 4 9 Steinfort* 18 17 35 23 19 a2 Subtotal 248 220 468 243 21 454 Total Cantio Capellen 922 Cantio Esch/Alzette Bettembourg" 68 60 128 67 46 13 Differdange* 147 146 293 167 154 321 Dudelange* 99 107 206 123 94 217 Esch-Alzette" 173 160 333 176 184 360 Frisange 19 16 35 2B 20 43 Kay!" 48 52 100 29 45 4 Leudelange 15 17 32 u 9 20 Mondereange* 31 27 58 10 27 37 Pétange* 103 101 204 102 92 194 Reckange 7 16 23 17 1s 32 Roeser 30 27 57 26 2B 9 Rumelange* 41 4 82 4 30 7 Sanem* 66 81 17 16 8 ISI Schifflange* 35 53 108 54 65 ug Subtotal 902 904 1.806 922 879 1.801 Total Cantio Esch/Alzette 3.607 Distrito GREVENMACHER Cantio Echternach Beaufort 14 20 34 20 13 33 Bech 4 8 2 9 i 20 Berdorf 15 u 26 13, 1B 26 Consdorf 6 1 2B 9 10 1 Echternach* 29 20 9 26 26 52 Mompach 7 4 7 1 6 B Rosport 7 4 31 8 u 1 Waldbillig, 6 7 B 10 10 20 Subtotal 98 mn 189 102 100 202 Total Cantio Echternach 391 Cantio Grevenmacher Betzdorf 20 25 4s 19 2 46 Biwer 4 7 u ul 7 18 Flaxweiler 1 19 30 14 u 25 Grevenmacher* 16 26 a2 30 28 58 Junglinster* 44 34 78 33 33 66 Mantemnach 9 10 19 7 4 u Mertert® 25 7 a2 23 20 a3 Wormeldange 9 8 7 16 1 27 Subtotal 138 146 284 153 141 294 Total Canto Grevenmacher 578 XII Cantio Remich Bous 12 9 20 8 10 18 Burmerange 7 5 2 2 3 5 Dalheim 1 13 4 u 7 1B Lenningen 14 nt 25 9 2 31 Mondorf 21 26 a 13 7 30 Schengen ML 9 20 5 4 9 Remicht 14 2 4 20 12 32 Stadtbredimus 9 6 15 10 7 17 Waldbredimus 2 4 6 6 3 9 Wellenstein 16 10 26 13 8 2 Subtotal 117 120 237 7 93 190 Total Cantio Remich a7 * Comunas urbanas Fonte: Etat luxembourgeois, 20126 XIV Anexo 2 — Strengths and Difficulties Questionnaire Fragebogen zu Stirken und Schwachen (SDQ-Deu) Bite marion Sie 2 adam Pat “Nich utffnd Toioie matt” oder “indeutsmtrtfns Beanwortn Se bite alle Fragen so gut Sic Koaen, sls Wenn Sie sich cht gar sicher sind odr linen ie Frage markwandi vorkornt. Bite bercksiigen Sie be der Amwort de Verhulen des Kinds in desom Schull Name des Kinds osturtsat Reskichsol ‘Minit Wich Telinese Bindu ‘Unig ery, Kana aah Tange a ‘bgt uti ber Kopichmeesn, Baushchmerzen oder Obst Tel game mi andocn Kinde (Saito, Spiele, Ben Tie of Walesa time inzlplinger: psi mit alcine Te allgsrcingn lavas macht it, was Erwachoone verange at ike Sorgen: enchsint Muli bec Tlsberei wenn andere verot, Kank oder bet sod at wenigstens einen gun Freund oder ene gue Freunin ‘ite sch aft wt anderen Kinder lr shania se ‘Of unabsich ode moderveslaaen: weet buthe Tn allercinen bei anderen Kinder bcd ‘Net der anklananerdlin neuen Siutionen, vert ich day Selbsvereancn Lic 2 jangeren Kinds ‘Wind von are gers dk ehikanie ‘il anderen fils (ern, Lahr oder anderen Kinder) ‘ek ach, Devore handel ‘Sicha Has, ode Scale oder andonwo a ele Ange ict ih ict Piet Aufabn Ende ote Konsniationaspanne OOOO JIC o|\00|00 0000/00) 000000 OOo DC oOo 00 000000900000 \0 OOO JC oo00 00 0000/00/70 0)0000/0 Bitte umblattern

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