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zado. Embora as baixas barreiras à entra- uma rede urbana fragilmente integrada ou
da possam resultar em crescimento no não-integrada –, constituindo-se em ver-
número de firmas e no desenvolvimento dadeiros enclaves produtivos. Apesar des-
de instituições de apoio dentro do aglo- te último tipo de aglomerado poder apre-
merado, isso não reflete, em geral, uma sentar certa integração com o mercado
dinâmica positiva, como nos casos de local ou internacional – atuando, portan-
uma progressão da capacidade de gestão; to, como base de exportação –, isso não
de investimentos em novas tecnologias é suficiente para estimular o desenvolvi-
de processo; de melhoramento da quali- mento da complementaridade setorial da
dade do produto; de diversificação de base exportadora. De fato, em muitos ca-
produtos; ou de direcionamento de parte sos, a indústria local não está ancorada lo-
da produção para exportações. As for- calmente ( foot loose), mas está sempre aber-
mas de coordenação e o estabelecimento ta a possibilidade de sua relocalização.9
de redes e ligações interfirmas são pouco Mesmo sob a forma de aglome-
evoluídas, e predomina competição pre- rações produtivas informais ou enclaves
datória, baixo nível de confiança entre os monoproduto, esses aglomerados se be-
agentes e informações pouco comparti- neficiam da dimensão “passiva” da “efi-
lhadas. A infra-estrutura do aglomerado ciência coletiva”. Vale dizer que o desem-
é precária, estando ausentes os serviços penho econômico das empresas dessas
básicos de apoio ao seu desenvolvimento aglomerações é positivamente afetado pe-
sustentado, tais como serviços financei- las economias externas às firmas e inter-
ros, centros de produtividade e treina- nas ao local, que emergem das várias in-
mento. Em alguns casos, a dificuldade terdependências (não-intencionais) entre
de integrar verticalmente e adensar a ca- os atores localizados em um espaço geo-
deia produtiva do aglomerado pode re- graficamente delimitado. Mesmo conside-
sultar em aglomerados constituídos por rando-se que tais externalidades não ve-
um conjunto de empresas monoproduto, nham a ser completamente apropriadas
com baixo nível de trocas e cooperação pelas firmas – dado o nível de sua capa-
intra-aglomeração. citação – ou que sua emergência seja
Em alguns casos, os aglomerados comprometida pela fragilidade do ambien-
podem ser desintegrados regionalmente te local, a proximidade física significa 9 A este respeito, ver Lemos,
– i. e., seu entorno é de subsistência, com que, como destacado por Marshall (1920), Santos e Crocco (2003).
“os segredos da indústria deixam de ser deve ser entendido como o primeiro pas-
segredos e, por assim dizer, ficam soltos so na análise e determinação de políticas
no ar [...]”. Em outras palavras, mesmo em para o desenvolvimento de uma aglo-
aglomerações produtivas informais, as fir- meração produtiva local.
mas tomam parte no processo de “apren-
dizado coletivo” localizado e podem ex-
plorar economias externas de escala. 2_ Índice de concentração
Como resultado, mesmo em suas para identificação de
formas mais “incompletas”, as aglome- aglomerações produtivas locais
rações produtivas possuem impactos sig-
nificativos sobre o desempenho das fir- 2.1_ Breve revisão
mas, notadamente pequenas e médias, e A literatura, tanto em economia industrial
na geração de empregos. Por isso, as aglo- quanto em economia regional, é repleta
merações produtivas têm sido considera- de estudos de caso sobre aglomerações
das uma valiosa forma de promover o produtivas locais. De fato, o entendi-
desenvolvimento econômico. Daí a im- mento desse tipo de organização indus-
portância de se desenvolver metodolo- trial/regional passou a ser importante na
gias que ajudem os gestores de políticas implementação de políticas de desenvol-
de desenvolvimento a identificar o surgi- vimento industrial, tecnológico e regional.
mento dessas aglomerações. No entanto, Conseqüentemente, parte considerável
deve-se ter claro que esse processo de dos estudos empíricos tem-se concentra-
identificação é apenas uma primeira eta- do em análises de aglomerações já ampla-
pa. A análise do real potencial de uma mente conhecidas, realizando uma avalia-
aglomeração só pode ser efetuada à me- ção ex post das características dessas e su-
dida que um estudo na própria aglomera- as contribuições para o desenvolvimento
ção é realizado. Isso porque não existem local/regional/nacional. Em contraste,
dados secundários capazes de quantificar raros são os estudos que procuram (ou
as “interdependências intencionais”, ele- são capazes de) identificar o surgimento
mentos estes essenciais para a determi- dessas aglomerações. Esse fato, sem dúvi-
nação da capacidade local em inovar, co- da, cria grandes dificuldades para o enten-
operar e competir. Assim sendo, o in- dimento da natureza e do padrão de de-
dicador que é proposto na próxima seção senvolvimento dessas aglomerações, uma
tões devem ser consideradas quando da tor para a região. De forma semelhante,
utilização desse quociente. Em primeiro o quociente também tende a subvalorizar
lugar, apesar de o QL ser um indicador a importância de certos setores em re-
extremamente útil na identificação da es- giões com uma estrutura produtiva bem
pecialização produtiva de uma região, ele diversificada, mesmo que tal setor pos-
dever ser utilizado com cautela, visto que sua peso significativo no contexto nacio-
a interpretação de seu resultado deve le- nal.12 A proposta de metodologia aqui
var em conta as características da econo- desenvolvida tenta exatamente superar
mia que está sendo considerada como re- esse problema, mediante a elaboração de
ferência. Em duas das três metodologias um índice de concentração (IC) que será
acima descritas, a economia de referência detalhado a seguir.
é o Brasil. Tendo em vista o elevado grau
de disparidade regional existente no País, 2.2_ Metodologia
é de se esperar que um número enorme Para a elaboração de critérios de identifi-
de setores em diferentes cidades vai apre- cação de aglomerações produtivas locais,
sentar QL acima de 1, sem que isso signi- é interessante elaborar um indicador que
fique a existência de especialização produ- seja capaz de captar quatro características
tiva, mas, sim, de diferenciação produtiva. de um aglomeração:
É factível supor que, dada essa
1. a especificidade de um atividade
disparidade regional, uma gama enorme
dentro de uma região;
de cidades (ou microrregiões) brasileiras
2. o seu peso em relação à estrutura
vai apresentar pelo menos um setor com
industrial da região;
QL acima de 1. Assim, seria prudente
3. a importância do setor nacional-
que o valor de corte a ser assumido pelo
QL deveria ser significativamente acima mente; 11 Alguns estudos para a
desse número.11 Em segundo lugar, a li- 4. a escala absoluta da estrutura in- economia americana, que
dustrial local. possui uma distribuição
teratura também ressalta que esse indica- espacial de sua indústria bem
dor é bastante apropriado para regiões de Para medir a primeira caracterís- mais homogênea que a nossa,
porte médio. Para regiões pequenas, com tica, decidiu-se utilizar aqui o Quocien- consideram especialização
emprego (ou estabelecimentos) industri- te Locacional (QL) da indústria. Como industrial aquela região que
apresentar um QL acima de 4.
al diminuto e estrutura produtiva pouco mostrado anteriormente, esse indicador, 12 Este aspecto também
diversificada, o quociente tende a sobre- apesar de relevante, pode provocar dis- é salientado por Suzigan
valorizar o peso de um determinado se- torções. Para mitigar esse problema, foi et al. (2003).
elaborado um segundo indicador que pro- ção linear dos três indicadores padroniza-
cura captar o real significado do peso da dos (equação 4). Como cada um dos três
atividade na estrutura produtiva local. Tal índices utilizados como insumos do ICn
índice foi denominado Hirschman-Her- pode ter distinta capacidade de represen-
findahl modificado (HHm). Ele é defini- tar as forças aglomerativas, principalmen-
do da seguinte forma: te quando se leva em conta as diversas ati-
vidades industriais da economia, faz-se
æ E ij ö æ E j ö
HHm = ç i ÷ - ç ÷ (2) necessário calcular os pesos específicos de
ç E ÷ ç E BR ÷
è ø è ø cada um dos insumos em cada um dos se-
tores produtivos.
Esse indicador possibilita compa-
rar o peso da atividade i da região j na ati- ICn ij = q 1 QLn ij + q 2 PRn ij + q 3HHn ij (4)
vidade i do país com o peso da estrutura onde os qs são os pesos de cada um dos
produtiva da região j na estrutura do país. indicadores para cada atividade produti-
Um terceiro indicador foi utiliza- va específica.
do para captar a importância da atividade Para a obtenção dos pesos (q) de ca-
da região nacionalmente, ou seja, a parti- da um dos índices definidos na equação
cipação relativa da atividade no emprego (4), lançou-se mão de um método multiva-
total do setor no país: riado: a análise de componentes principais.
E ij Pela matriz de correlação das variáveis, essa
PR = i
(3)
metodologia permite que se conheça qual
E BR
o percentual da variância da dispersão total
Esses três indicadores fornecem de uma nuvem de pontos – representativos
os parâmetros necessários para a elabo- dos atributos aglomerativos – é explicado
ração de um único indicador de concen- por cada um dos três indicadores utiliza-
tração de uma atividade industrial dentro dos. Sendo assim, obtêm-se pesos específi-
de uma região, que será chamado de Índi- cos para cada indicador que levam em con-
ce de Concentração normalizado (ICn). ta a participação deles na explicação do
Para o seu cálculo – para cada setor de potencial de formação de aglomerações produ-
atividade e unidade geográfica em estudo tivas locais que as unidades geográficas apre-
–, propõe-se aqui realizar uma combina- sentam setorialmente.
mulação) dos três componentes princi- da função módulo dos autovetores asso-
pais.13 Essas são importantes para o en- ciados a cada componente,14 de onde se
tendimento da variância de cada indi- obtém os Ci das equações 9, 10 e 11. Em
cador insumo em cada um dos compo- seguida divide-se o módulo de cada auto-
nentes na fase final do processo de cál- vetor pela soma (Ci) associada aos com-
culo dos pesos. ponentes – como pode ser visto na Ta-
Já a Tabela 2 mostra a matriz de bela 3, que apresenta os autovetores re-
coeficientes ou os autovetores da matriz calculados ou a participação relativa de
de correlação. Por meio dessa é possível cada índice nos componentes.
calcular qual a participação relativa de
a 11 + a 21 + a 31 = C 1 (9)
cada um dos indicadores em cada um
dos componentes, e dessa forma enten- a 12 + a 22 + a 32 = C 2 (10)
der a importância das variáveis nos com-
ponentes. Para tanto, efetua-se a soma a 31 + a 32 + a 33 = C 3 (11)
a 11 a 12 a 13
QL a 11’ º a 12’ º a 13’ º
C1 C2 C3
a 21 a 22 a 23
PR a ’21º a ’22 º a 23
’
º
C1 C2 C3
a 31 a 32 a 33
HHm a ’31º a ’32 º a 33
’
º
C1 C2 C3
No anexo deste trabalho estão apre- esse argumento seja mais importante para
sentadas as Tabelas 1A, 2A, 3A, 4A e 5A, atividades intensivas em conhecimento,
cujos resultados, para aquelas cinco ativi- não se pode deixar de notar que, mesmo
dades, ilustram a metodologia aqui pro- no caso da indústria de couro e calçados e
posta. Deve-se notar que os resultados da metalurgia básica, esse padrão de de-
mostram clara concentração das aglomera- senvolvimento também é observado.
ções de tais atividades nas regiões Sudeste
e Sul do Brasil. Nessas estão, respectiva-
mente, 90%, 89%, 100%, 91% e 93% das 4_ Considerações finais
aglomerações brasileiras nos setores de À guisa de conclusão, é necessário ressal-
couro e calçados, metalurgia básica, fa- tar que a metodologia aqui proposta não
bricação e montagem de veículos auto- tem por objetivo identificar todos os fa-
motores, fabricação de máquinas apare- tores que afetam o desempenho de uma
lhos e materiais elétricos, fabricação de aglomeração produtiva local. De fato, o
material eletrônico e de aparelhos e equi- Índice de Concentração aqui proposto
pamentos de comunicação. capta apenas alguns aspectos relevantes de
Sendo assim, os cálculos parecem uma aglomeração. Basicamente, os chama-
confirmar a hipótese de desenvolvimen- dos elementos passivos, que nada mais
to poligonal de Diniz (1993). Segundo são do que as economias externas de esca-
esse autor, o processo de desconcentra- la associadas à concentração espacial e se-
ção industrial, tomando-se por base São torial das firmas. Para uma real identifi-
Paulo, ocorrido a partir da década dos cação do potencial produtivo, inovativo
1970, mostrou-se incapaz de produzir e de crescimento de uma aglomeração,
um padrão de distribuição da indústria faz-se necessário conhecer também a sua
mais homogêneo. Em razão das vanta- dimensão ativa ou construída. Ou seja, de-
gens locacionais do interior de São Paulo ve-se avaliar a existência ou não de interde-
e das regiões Sudeste e Sul, Diniz argu- pendências intencionais, i. e., de arranjos
menta que esse processo de desconcen- cooperativos, a sua intensidade e densida-
tração ficaria restrito ao interior do polí- de, assim como a forma como o ambiente
gono, cujos vértices são: Belo Horizonte, local é construído. No entanto, entende-se
Uberlândia, Maringá/Londrina, Porto Ale- que tais aspectos só podem ser captados
gre, Florianópolis e São Paulo. Ainda que por meio de pesquisas de campo.
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Anexos
Tabela 3A_ APLs potenciais no setor de fabricação e montagem de veículos automotores – Brasil, 2000
(continua)
Tabela 3A_ APLs potenciais no setor de fabricação e montagem de veículos automotores – Brasil, 2000
(conclusão)