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Os Pensadores·

1
JEAN PIAGET

A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA

CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicação
SABEDORIA E ILUSÕES
Câmara Brasileira do Livro, SP
DA FILOSOFIA
Piaget, Jean, 1896-1980.
A epistemologia genética / Sabedoria e ilusões da filoso-
fia ; Problemas de psicologia genética; Jean Piaget ; traduções de PROBLEMAS DE
Nathanael C. Caixeiro, Zilda Abujarnra Daeir, Celia E. A. Di Piero.
- 2. ed. - São Paulo: Abril Cultural, 1983.
Os pensadores
PSICOLOGIA GENÉTICA
Inclui vida e obra de Piaget.
-, Bibliografia.
0
1. Cognição (Psicologia infantil) 2. Filosofia 3. Inteligência JJli# U1•••• 9 "
4. Pensamento 5. Piaget, Jean, 1896-1980 6. Psicologia genética
I. Título: A epistemologia genética. 11. Título: Sabedoria e ilusões da
filosofia, IH. Título: Problemas de psicologia genética. IV. Série.

CDD-155.413
-100
-150.92
-155 Traduções de Nathanael C. Caixeiro,
Zilda Abujamra Daeir, Celia E. A. Di Piero

Índices para catálogo sistemático:


1. Cognição : Desenvolvimento: Psicologia infantil 155.413
2. Crianças: Desenvolvimento cognitivo : Psicologia infantil 155.413
3. Desenvolvimento intelectual: Crianças: Psicologia infanti1155.413 11
4. Filosofia 100 ~
5. Inteligência: Desenvolvimento: Psicologia infantil 155.413
6. Psicologia genética 155 1983
7. Psicólogos: Biografia e obra 150.92 EDITOR: VICTOR CIVITA
___ J1___ -
III

Os estágios do desenvolvimento intelectual


da criança e do adolescente

Os estágios das operações intelectuais constituem um caso privilegiado e que


não podemos generalizar a outros domínios. Se tomamos, por exemplo, a evolu-
ção da percepção na criança ou a evolução da linguagem, observamos uma conti-
nuidade diferente da estabelecida no terreno das operações lógico-matemáticas, e
muito maior. No domínio da percepção, em particular, seria incapaz de lhes dar
um quadro de estágios como o que tenho a honra de lhes propor do ponto de
vista das operações intelectuais, porque encontramos essa continuidade do ponto
de vista orgânico, continuidade que podemos detalhar de uma maneira convencio-
nal, mas que não apresenta cortes naturais bem nítidos.
Em compensação, no domínio das operações intelectuais, assistimos a esse
duplo fenômeno que, por um lado, vemos estruturas se formarem, podemos seguir
passo a passo os primeiros lineamentos, e que, por outro lado, assistimos a seu
acabamento, quer dizer à constituição de etapas de equilíbrio. Tomem, por exem-
-t' plo, a organização dos números inteiros: podemos seguir essa estruturação a par-
tir dos números 1,2,3, etc., até o momento em que a criança descobre a sucessão
dos números e ao mesmo tempo as primeiras operações aritméticas. Num momen-
to dado, tal estrutura é pois constituída e atinge su_a etapa de equilíbrio; e esse
equilíbrio é tão estável que os números inteiros não se modificarão mais durante
toda a vida, integrando-se em sistemas mais complexos (números fracionários,
etc.). Estamos assim frente a um domínio privilegiado no seio do qual podemos
assistir à formação de estruturas e seu acabamento, onde diferentes estruturas
podem se suceder ou se integrar segundo combinações múltiplas.
Nesse domínio particular e, repito, sem colocar o problema da generalização,
chamarei estágios os cortes que obedecem às seguintes características:
1) Para que haja estágios, é necessário primeiramente que a ordem de suces-
são das aquisições seja constante. Não a cronologia, mas a ordem de sucessão.
Podemos caracterizar os estágios numa população dada por uma cronologia, mas
essa cronologia é extremamente variável; ela depende da experiência anterior dos
indivíduos, e não somente de sua maturação, e depende principalmente do meio
social que pode acelerar ou retardar o aparecimento de um estágio, ou mesmo
impedir sua manifestação. Encontramo-nos aí em .presença de uma complexidade
considerável e não saberia me pronunciar sobre o valor das idades médias de nos-
sos estágios no que concerne a algumas populações. Só considero as idades.relati-
vas às populações sobre as quais trabalhamos; elas são pois extremamente relati-
236 PIAGET

vaso Em compensação, em se tratando de estágios, a ordem de sucessão d-ªS


condutas deve ser considerada 'corno constante, quer dizer que uma característica
não aparecerá antes de outra num certo número de indivíduos, e, depois de outra
num outro grupo de indivíduos. Onde assistimos a tais alternâncias, as caracterís-
ticas em jogo não são utilizáveis do ponto de vista dos estágios.
2) O caráter integrativo, quer dizer que as estruturas construídas numa idade
dada se tornam parte integrante das estruturas da idade seguinte. Por exemplo, o
objeto permanente que se constrói no nível sensório-motor será um elemento inte-
grante das noções de conservação ulterior (quando haverá conservação de um
conjunto ou de uma coleção, ou ainda de um objeto do qual deformamos a apa-
rência espacial). Assim também as operações que chamaremos concretas, conti-
tuirão uma parte integrante das operações formais, no sentido em que essas últi-
mas constituirão uma nova estrutura mas repousando sobre as primeiras a título
de conteúdo (as segundas constituindo assim operações efetuadas sobre outras
operações ).
3) Procuramos sempre, com MIle. lnhelder, caracterizar um estágio, não pela
justaposição de propriedades estranhas umas sobre as outras, mas por uma estru-
tura de conjunto e essa noção toma um sentido preciso no domínio da inteli-
gência, e mais preciso que em outra parte. Uma estrutura será, por exemplo, no
nível das operações concretas, um agrupamento, com as características lógicas do
agrupamento que encontramos na classificação ou na seriação. Mais tarde, a
estrutura, no nível da operação formal, será o grupo das quatro transformações
que falarei em breve, ou a rede. Estruturas que podemos caracterizar por suas.leis
de totalidade, de tal forma que, uma vez atingida tal estrutura, podemos determi-
nar todas as operações que ela recobre. Sabemos assim, sendo dado que a criança
atinge tal ou qual estrutura, que ela é capaz de uma multiplicidade de operações
distintas, e às vezes sem nenhum parentesco visível entre elas na primeira aborda-
gem. Esta é a vantagem da noção de estruturas: quando elas são complexas, elas
permitem reduzir a uma unidade superior uma série de esquemas operatórios sem
elos aparentes entre eles; é então a estrutura de conjunto como tal que é caracte-
rística do estágio.
4) Um estágio comporta pois ao mesmo tempo um nível de preparação, por
um lado, e acabamento, por outro. Por exemplo, para as operações formais, o
estágio de preparação será todo o período de 11 a 13-14 anos e o acabamento será
a etapa de equilíbrio que aparece nesse momento.
5) Mas como a preparação de aquisições ulteriores por versar sobre mais de
um estágio (com imbricações diversas entre certas preparações mais curtas e ou-
tras mais longas), e como em segundo lugar, existem graus diversos de estabili-
dade nos acabamentos, é necessário distinguir, em toda a sucessão de estágios, os
processos de formação ou de gênese e as formas de equilíbrio finais (no sentido
relativo): essas últimas somente constituem as estruturas de conjunto tratadas no
item 3, enquanto os processos formadores se apresentam sob os aspectos de
diferenciações sucessivas de tais estruturas (diferenciação da estrutura anterior e
preparação da seguinte).

,
PROBLEMAS DE PSICOLOGIA GENÉTICA 237

Gostaria, por fim, de insistir sobre a noção de decalagem, sobre a qual deve-
remos voltar mais tarde porque ela tem por natureza fazer obstáculo à generali-
zação dos estágios, e introduzir considerações de prudência e de limitação. As
decalagens caracterizam a repetição ou a reprodução do mesmo processo forma-
dor em diferentes idades. Distinguiremos as decalagens horizontais e as decala-
gens verticais.
Falaremos de decalagens horizontais quando uma mesma operação se aplica
a conteúdos diferentes. No domínio das operações concretas, por exemplo, uma
criança poderá organizar aos 7-8 anos séries de quantidades de matéria, dos
comprimentos, etc.; ela saberá classificá-Ias, contá-Ias, medi-Ias, etc.; ela conse-
guirá mesmo atingir noções de conservação relativa a esses mesmos conteúdos.
Mas .será incapaz de todas essas operações no domínio do peso, enquanto dois
anos mais tarde em média, ela saberá generalizá-Ias aplicando-as a esse novo con-
teúdo. Ora, do ponto de vista formal, as operações são as mesmas nos dois casos,
mas aplicadas a domínios diferentes. Nesse caso, falaremos de decai agem hori-
zontal no interior de um mesmo período.
Uma decalagem vertical é, pelo contrário, a reconstrução de uma estrutura
por meio de outras operações. O bebê atinge, por volta do fim do período sensó-
rio-motor, ao que poderíamos chamar com H. Poincaré um "grupo de desloca-
mentos": ele saberá se orientar em seu apartamento com desvios e retornos, etc.
Mas esse "grupo" é unicamente prático e absolutamente representativo. Quando,
alguns anos mais tarde, tratar-se-á de representar (o próprio bebê) esses mesmos
deslocamentos, quer dizer imaginá-los, ou interiorizâ-los, em operação, encontra-
remos etapas análogas de formação, mas dessa vez sobre um outro plano, sobre o
da representação. Trata-se então de outras operações e, nesse caso, falaremos de
decalagem vertical.
Dito isso. dividiremos o desenvolvimento intelectual em três grandes II
períodos. 5

o período da inteligência sensório-motor /

Esse primeiro período se estende do nascimento ao aparecimento da lingua-


gem, seja aproximadamente durante os dois primeiros anos de existência. Nós o
subdividimos em seis estágios:
1) Exercícios reflexos: O a 1 mês.
2) Primeiros hábitos: começo dos condicionamentos estáveis e reações circu-
lares "primárias" (quer dizer relativas ao corpo próprio: por exemplo, chupar o
polegar). De 1 a 4 meses e meio.
3) Coordenação da visão e da preensão e começo das reações circulares
"secundárias" (quer dizer relativas aos corpos manipulados). Começo de coorde-
nação dos espaços qualitativos até então heterogêneos, mas sem busca dos objetos

5 Falaremos de "períodos" para designar grandes unidades, e "estágios" depois de "substágios" para descre-

ver suas subdivisões.


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desaparecidos; e começo de diferenciação entre fins e meios mas sem fins prelimi-
nares quando da aquisição de uma conduta nova. De 4 meses e meio a 8-9 meses
mais ou menos.
4) Coordenação dos esquemas secundários com utilização, em certos casos,
de meios conhecidos com vistas a atingir um objetivo novo (vários meios possí-
veis para um mesmo objetivo e vários objetivos possíveis para um mesmo meio).
Começo de pesquisa do objeto desaparecido mas sem coordenação dos desloca-
mentos (e localizações) sucessivos. De 8-9 a 11-12 meses mais ou menos.
5) Diferenciação dos esquemas de ação por reação circular "terciâria" (va-
riação das condições por exploração e tateamento dirigidos) e descoberta de
meios novos. Exemplos: condutas do suporte (tirar um pano para trazer para si o
objeto posto sob o pano, reação negativa se o objeto está do lado ou longe do
suporte), do barbante ou do bastão (por tateio). Busca do objeto desaparecido
com localização em função de deslocamentos sucessivos perceptíveis e começo de
organização do "grupo prático dos deslocamentos" (desvios e retornos em ações).
De 11-12 a 18 meses mais ou menos.
6) Começo da interiorização dos esquemas e solução de alguns problemas
comparada da ação e compreensão brusca. Exemplo: conduta do bastão quando
não foi adquirida por tato durante o estágio 5. Generalização do grupo prático
dos deslocamentos com incorporação, no sistema, de alguns deslocamentos não
perceptíveis. De 18 a 24 meses mais ou menos.
~,Esses seis estágios apresentam um caráter muito marcante se compararmos
aos estágios do pensamento representatízo ulterior, no sentido em ,que eles consti-
tuem como uma prefiguração deles, seguindo o termo caro a nosso presidente
Michotte (num sentido análogo à prefiguração do nocional, que ele fala freqüente-
mente a propósito da percepção). Com efeito, nesse plano prático, a,ssistimos a
uma organização dos movimentos e dos deslocamentos que, primeiramente cen-
trados no corpo próprio, se descentralizam pouco a pouco e atingem um~
no qual a criança se situa como um elemento entre outros (assim como num siste-
ma de objetos permanentes compreendendo seu corpo assim como os outros).
Vemos aí, um pouco e no plano prático, exatamente o mesmo processo de desceii-
tralização progressiva que encontraremos em seguida no nível representativo, em
termos de operações mentais e não simplesmente ações.

o período de preparação e de organização das operações


concretas de classes, relações e número

Chamaremos operações concretas as que se dirigem sobre objetos manipulá-


veis (manipulações efetivas ou imediatamente imagináveis), por oposição às ope-
rações se dirigindo sobre hipóteses ou enunciados simplesmente verbais (lógica
das proposições).
Esse período que se estende de 2 anos mais ou menos a 11-12 anos deve ser
PROBLEMAS DE PSICOLOGIA GENÉTICA 239

subdividido num subperíodo A de preparação funcional das operações, 6 mas de


estrutura pré-operatória, e num subperíodo B de estruturação propriamente
operatória.

o subperiodo das representações pré-operatórias

Esse subperíodo se subdivide ele mesmo em três estágios:


1) De 2 a 31/2 ou 4 anos: aparecimento dafunção simbólica e começo da
interiorizaçiio dos esquemas de ação em representações. - É desse estágio que
temos menos informações sobre os processos \ de pensamento, porque não é possí-
vel interrogar a criança antes de 4 anos numa conversa seguida: mas esse fato
negativo é por si só um índice característico. Os fatos positivos são: 1) O apareci-
mento da função simbólica sob suas diferentes formas: linguagem, jogo simbólico
(ou de imaginação) em oposição aos jogos de exercício somente representados até
então, imitação diferenciada e provavelmente começos da imagem mental conce-
bida como imitação interiorizada; 2) Plano da representação nascente: dificul-
dades de aplicação ao espaço não próximo e ao tempo não presente dos esquemas
de objeto, de espaço, de tempo e de casualidade já utilizados na ação efetiva.
2) De 4 a 5 anos 1/2: organizações representativasfundadas seja sobre confi-
gurações estáticas, seja sobre uma assimilação à ação própria. - O caráter das
primeiras estruturas representativas que revelam nesse nível as interrogações a
respeito de objetos a serem manipulados é a dualidade dos estados e das transfor-
mações: os primeiros são pensados como configurações (cf. o papel das configu-
rações perceptivas, das coleções figurais, etc., nesse nível de não-conservação dos
conjuntos, das quantidades, etc.) e os segundos são assimilados a ações.
3) De 5 1/2 a 7-8 anos: regulações representativas articuladas. - Fase inter-
mediária entre a não conservação e a conservação. Começo de ligação entre os
estados e as transformações, graças a regulações representativas permitindo pen-
sá-Ias sob formas semi-reversíveis. (Exemplo: articulações crescentes das classifi-
cações, das relações de ordem, etc.).

o subperiodo das operações concretas

É a etapa que se estende de 7-8 anos a 11-12 anos, e que é caracterizada por
uma série de estruturas em vias de acabamento que podemos estudar de perto e
analisar em sua forma. Elas se assemelham todas, no plano lógico, ao que chamei
"agrupamento", quer dizer que elas ainda não são "grupos" e também não são
"redes" (são sem i-redes, por falta de limites inferiores para umas ou limites supe-
riores para outras): tais são as classificações, as seriações, as correspondências
termo a termo, as correspondências simples ou seriais, as operações multiplica-

6 Se chamamos "operações" as ações interiorizadas, reversíveis e solidárias de estruturas de conjunto tais


como os "agrupamentos", "grupos", e "redes".

.:filta c)Jeves Qonçalou


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tivas (matrizes), etc. Acrescento nesse ponto, no plano aritmético, os grupos aditi-
vos e multíplicativos os números inteiros e fracionários.
Esse período das operações concretas pode ser subdividido em dois está-
gios: um, das operações simples e o outro, do acabamento de certos sistemas de
conjunto no domínio do espaço e do tempo, em particular. No domínio do espaçç;
é o período onde a criança atinge, aos 9-10 anos somente, os sistemas de coorde-
nadas ou de referências (representação das verticais e das horizontais em relação
a essas referências). É o nível da coordenação de conjunto das perspectivas igual-
mente. É o nível que marca os sistemas mais amplos sobre o plano concreto.

o período das operaçõesjormais

Enfim, vem o terceiro e último período, o das operaçõesjormais. Nele, desde


11-12 anos, por um lado (primeiro estágio) com uma etapa de equilíbrio para 13
ou 14 anos (segundo estágio), assistimos a uma numerosa transformação, relativa-
mente rápida no momento de seu aparecimento e que é extremamente diversa. São
principalmente os belos estudos de Inhelder sobre o raciocínio indutivo, sobre o
método experimental nas crianças e nos adolescentes que nos permitiram atingir
essas conclusões. Vemos com efeito, nessa idade, aparecerem operações tão dife-
rentes umas das outras como as seguintes. Primeiramente as operações combina-
tórias; até então, há somente encaixes simples dos conjuntos, e das operações
elementares, mas não há o que os matemáticos chamam "conjuntos de partes",
que são o ponto de partida dessas combinatórias. A combinação começa, pelo
contrário, aos 11-12 anos e engendra a estrutura de "rede". Nesse mesmo nível,
vemos aparecerem as proporções, a capacidade de raciocinar e de se representar,
segundo dois sistemas de referências ao mesmo tempo, as estruturas de equilíbrio
mecânico, etc. Examinemos, por exemplo, os movimentos relativos de um caracol·.
sobre uma prancheta que se deslocará em sentido inverso do caracol e o cálculo
da resultante desses movimentos, um com relação ao outro e com relação a um
sistema de referência exterior. Observamos em tal caso (e eles se encontram nos
equilíbrios mecânicos, etc.) a intervenção de quatro operações coordenadas: uma
operação direta (1) e seu inverso (N), más também a operação direta e o inverso
do outro sistema que constituem a recíproca do primeiro (R) e a negação dessa
recíproca ou correlativa (NR = C). Esse grupo das quatro transformações INRC
aparece numa série de domínios diferentes, nesses problemas lógico-matemáticos,
mas também nos problemas de proporções independentemente mesmo dos conhe-
cimentos escolares.
E principalmente, o que vemos aparecer nesse último nível, é a lógica das
proposições, a capacidade de raciocinar sobre enunciados, sobre hipóteses e não
mais somente sobre objetos postos sobre a mesa ou imediatamente representados.
Ora, a lógica das proposições supõe igualmente a rede combinatória e o grupo das
quatro transformaçõessffNkr"), quer dizer, os dois aspectos complementares de
uma nova estrutura de conjunto, abarcando a totalidade dos mecanismos operató-
rios que vemos se constiruírem nesse nível.
PROBLEMAS DE PSICOLOGIA GENÉTICA 241

Concluirei dizendo que esses três grandes períodos, com seus estágios parti-
culares, constituem processos de eqúílibração sucessivos, marchas para o equilí-
brio. Desde que o equilíbrio seja atingido num ponto, a estrutura está integrada
num novo sistema em formação, até um novo equilíbrio sempre mais estável e de
campo sempre mais extenso.
Ora, é conveniente lembrar que o equilíbrio significa que o desenvolvimento
intelectual se caracteriza por uma reversibilidade crescente. A reversibilidade é o
caráter mais aparente do ato da inteligência, que é capaz de desvios e retornos.
Essa reversibilidade aumentada pois, regularmente, etapa por etapa, durante está-
gios que acabei de escrever sumariamente. Ela se apresenta sob duas formas: uma
que podemos chamar inversão, ou negação, que aparece na lógica das classes, a
aritmética, etc., a outra que podíamos chamar a reciprocidade, que aparece nas
operações de relação. Em todo o nível das operações concretas, a inversão por um
lado e a reciprocidade pelo outro são dois processos caminhando lado a lado e
paralelamente, mas sem junção num sistema único. Com o grupo das quatro
transformações INRC, pelo contrário, temos a inversão, a recíproca, a negação
da recíproca e a transformação idêntica, quer dizer, síntese num único sistema
dessas duas formas de reversibilidades até então paralelas, mas sem conexão entre
elas.
Nesse domínio privilegiado das operações intelectuais, atingimos logo um
sistema simples e regular de estágios, mas ele é talvez particular a tal domínio da
percepção, onde seria incapaz de fornecer tais estágios.

.fiÜa c}Jeves ÇjonçatOel

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