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1.

Formação e Organização do
Estado brasileiro

Objetivos:

• Compreender a constituição do território e da nação brasileira;


• Entender os principais processos e tentativas de organização do
Estado brasileiro.

1.1 Introdução

Esta semana de estudo será dedicada ao estudo da formação


territorial do Brasil, da constituição de sua nação e da organização do
Estado. Tudo isso, promovendo um levantamento histórico dos momentos
decisivos para a consolidação do Brasil como um Estado-nação
organizado e moderno.
É um ponto do edital de história que dialoga bastante com o edital de
geografia. Espera-se que o candidato aproveite para consolidar os estudos
já feitos nas semanas anteriores, e que o que será visto nesta semana
contribua para melhor entender o Brasil atual.

1.2 A Formação do território brasileiro

1.2.1 O Mito da Ilha-Brasil

O mito da Ilha-Brasil se enquadra no período inicial da colonização


portuguesa. Mas, antes de entender o mito, é importante considerar que
Portugal já havia negociado o Tratado de Tordesilhas com a Espanha,
em 1494, o primeiro limite daquilo que viria a ser o território brasileiro.
Nesse tratado, Portugal consegue levar a linha divisória que havia sido
estabelecida, um ano antes, pelo Papa Aragonês, mais para oeste; mais
precisamente 370 léguas a oeste de Cabo Verde, permitindo que se
realizasse a “volta do mar”. O Tratado de Tordesilhas é o primeiro, na
história, firmado por soberanos de 2 Estados modernos, sem mediação
papal. Tordesilhas é, portanto, fruto do esforço do Estado português para
garantir o monopólio da navegação no Atlântico Sul.

Naquele momento, havia, entre os índios das tribos do tronco tupi, a


crença de que habitavam um território único, cercado por água (bacias do
Amazonas e do Prata). Os portugueses adaptaram o mito indígena (mito
do Pindorama) para o mito da ilha-Brasil, calcado na ideia de que as bacias
Amazônica e do Prata se comunicavam no interior do continente. O
esforço português de ocupação voltou-se para esses limites naturais.

Nesse contexto, podemos destacar alguns pontos importantes


considerados pelos portugueses:
• Doutrina de fronteiras naturais:
o Seriam permanentes e estáveis, por isso mais seguras;
o Permitem um reconhecimento territorial mais fácil
(contribui para evitar conflitos entre países vizinhos);
• A moldura hidrográfica na América do Sul:
o Bacia Amazônica ao norte e Bacia do Prata ao sul;
o Designação divina (crença do século XVI);
• A importância das bacias como via de integração:
o Questão geopolítica.

Independentemente da intencionalidade, houve um processo de


ocupação nacional que utilizou as bacias hidrográfica como eixos de
integração territorial. No entanto, as bacias não tinham conexão.

1.2.2 A importância da União Ibérica (1580-1640)

A União Ibérica representou, para a formação do território brasileiro,


o fim, na prática, do Tratado de Tordesilhas. Isso ocorreu, porque as
Coroas de Portugal e Espanha tornaram-se uma coisa só. Nesse
momento, o rei da Espanha permitiu a expansão dos colonos portugueses
rumo a territórios que ultrapassavam a linha imaginária de Tordesilhas,
rumo à Amazônia. Os tratados de limites mantiveram seu valor jurídico,
mas, na prática, os limites entre as colônias passaram a não ser
respeitados.

Naquele momento, para a Espanha, era contraproducente explorar o


território amazônico, na medida em que se encontrava ouro e prata em
suas colônias andinas e no México.
Também no momento da União Ibérica, ocorreram invasões
estrangeiras no Brasil (França e Holanda). Algumas delas, mesmo
anteriores à União, têm relação com a formação do território nacional, por
exemplo:
• França: não reconhecia a divisão do mundo entre Espanha e
Portugal.
o 1555-1565 – França Antártica: constituiu um refúgio de
huguenotes na baía de Guanabara.
▪ Os portugueses criam a fortaleza de São
Sebastião do Rio de Janeiro, para combater os
franceses.
o 1612-1615 – França Equinocial: representava uma
grande ameaça para a América espanhola, pela
proximidade com a bacia amazônica e, com isso, ao
acesso às áreas de mineração espanhola.
▪ É criado o Forte do Presépio, que se tornou Belém
em 1616, para proteger a foz do Amazonas.
▪ Ou seja, os portugueses, obedecendo ordens dos
monarcas espanhóis, avançaram para além dos
limites de Tordesilhas.
▪ É criado também o Estado do Maranhão (1621),
que durou até 1774.
• 1702-1713 – Guerra de sucessão espanhola (disputada
entre Inglaterra e França): Portugal já era satélite da
Inglaterra e a Espanha era satélite da França.
o Pelos tratados de Utrecht, de 1713, Portugal é
beneficiado. Na região da Guiana, é fixada a fronteira no
rio Japoc (atual Oiapoque).
o Já no tratado de Utrecht, de 1715, a Colônia de
Sacramento (atual Uruguai), que havia sido criada por
Portugal em 1680 em frente a Buenos Aires, e tomada
pelos espanhóis, volta para Portugal.

1.2.3 Expansão territorial em três direções

O Brasil-colônia experimentou uma expansão territorial em três


sentidos distintos: atuais Sul, Norte e Centro-Oeste. No Norte, houve claro
incentivo da coroa portuguesa (ou da União Ibérica); no Sul também houve
atuação da coroa portuguesa. Somente no Centro-Oeste a expansão seria
mais espontânea.
• Conquista do Norte-Nordeste:
o A partir de Salvador, segue-se ocupando (ou
reconquistando, conforme o CESPE já aceitou) vários
locais em que havia invasão de estrangeiros, em geral
de franceses.
o O padrão era o seguinte:
▪ Ocupação para expulsar estrangeiros;
▪ Após a reconquista, os portugueses constroem
fortalezas (que, hoje, de modo geral são as
capitais de estado);
▪ Os franceses mudam sua ocupação para outro
ponto, reiniciando-se o processo.
o A ocupação do interior, pela pecuária, não ocorreu no
início. De todo modo, foi uma ocupação associada à
lavoura de cana-de-açúcar. Seguia os rumos dos
Sertões de Dentro (os rios) e dos Sertões de Fora (o
litoral)
o Bacia Amazônica:
▪ Forte do presépio: construído para expulsar os
franceses da França Equinocial.
▪ 1621: Estado do Maranhão.
• Iniciativa da coroa da União Ibérica:
ocupação militar (fortalezas e missões
religiosas).
▪ Extrativismo de “drogas do sertão”.
• Mão-de-obra indígena.
• Sul (fronteira meridional):
o A pecuária do gado selvagem acaba levando a ocupação
além de Tordesilhas. Isso ocorreu antes de a pecuária
avançar, no nordeste.
o Em 1680, Manoel Lobo, com apoio da coroa portuguesa,
funda um enclave português na foz do Prata, a Colônia
do Santíssimo Sacramento, em frente a Buenos Aires.
o O interesse é nitidamente estratégico, muito em função
da busca da fronteira natural, baseado no mito da ilha
Brasil.

⇢ As fronteiras meridionais eram muito mais


conflagradas, durante toda a história futura
do Brasil.

• Centro-
Oeste:
o A ocupação não foi iniciativa da Coroa.
o Bandeiras vicentinas:
▪ São Vicente era uma região marginal e miserável.
▪ Buscavam apresamento de índios e prospecção
de metais (ouro só foi encontrado na década de
1690).
o Sertanismo de contrato: ex-bandeirante contratado por
senhores de escravos para caçar escravos fugidos.
o Monções: as monções cuiabanas levaram os paulistas
à região de Mato Grosso e Goiás; as monções do Norte
(séc. XVIII) acabam por levar os paulistas até a Bacia
Amazônica.

1.3 Tratados de limites na Colônia

1.3.1 Tratado de Madri (1750)

O Tratado de Madri, assinado entre Portugal e Espanha, em 1750,


tinha os seguintes princípios basilares:
• Fronteiras naturais: evita o problema de tratados não
demarcáveis.
• Uti possidetis, ita possideatis: a terra é de quem já a ocupa.
Era um princípio de direito privado romano, usado em disputa
de terras, em que o magistrado determina que a terra deve
continuar na posse de quem já a ocupa, até o julgamento
definitivo. Portugal o transformou em princípio de direito
internacional, e sem caráter provisório, mas já com caráter
definitivo.
Além da demarcação de importantes faixas de território nas
regiões Norte e Centro-Oeste, a principal definição do Tratado de Madri,
ao Sul, foi transferir a região do Santíssimo Sacramento para a Espanha
em troca da região de Sete Povos das Missões (atual Oeste do Rio
Grande do Sul). No entanto, com a morte de D. João V, Alexandre de
Gusmão (negociador luso-brasileiro) perde poder; o novo monarca, D.
José I, é representante do despotismo esclarecido em Portugal. Seu
principal assessor, o Marquês de Pombal, era contrário ao Tratado de
Madri por não aceitar a perda de Sacramento, pois isso significaria,
virtualmente, perder o acesso ao Mato Grosso (pois ficaria perdido o
controle da foz do rio da Prata).

Pombal faz de tudo para não perder Sacramento. Dentre outras,


condiciona a entrega de Sacramento à entrega das missões, pelos
espanhóis. Assim, o Tratado de Madri, por mais relevante que tenha
sido, jamais foi demarcado. Pombal, percebendo a fragilidade da
posição portuguesa, sem a sua demarcação, expande a presença militar
a oeste, criando várias fortalezas em locais situados nas fronteiras
brasileiras.

1.3.2 Tratado de El Pardo (1761)

O Tratado de El Pardo foi responsável por anular o Tratado de Madri.


No entanto, em 1762, em meio ao contexto da Guerra dos 7 anos (1756-
1763), na Europa, há uma violação do território Português. A Inglaterra,
tradicional aliada de Portugal, reage ocupando terras espanholas na
América Central. Como resposta, D. Pedro de Cevallos, a serviço da
Coroa Espanhola, lidera, em 1762-1763, a 1ª ofensiva portenha contra
Sacramento, tomando não só essa colônia como também parte do Rio
Grande do Sul.

1.3.3 Tratado de Paris (1763)

Neste Tratado, a Espanha devolve Sacramento a Portugal. Como o


Tratado nada dispôs sobre o Rio Grande do Sul, os espanhóis ficaram
nessa província entre 1763 e 1774.

Vale lembrar que, em 1763, Portugal transfere a sede da colônia


brasileira para o Rio de Janeiro, ficando mais próxima da fronteira
meridional. Além disso, o 1º Governador-Geral nomeado para o Rio de
Janeiro, já com título de Vice-Rei (não existia o Vice-Reinado) era o Conde
da Cunha, que já tinha experiência militar comprovada. Ele recebeu de
Pombal ordens para avaliar tropas e fortificações do Rio de Janeiro para o
Sul.

Como resposta, em 1772, a Espanha, mais uma vez, toma


Sacramento. Posteriormente, entre 1776 e 1777, acontece a 2ª ofensiva
de D. Pedro de Cevallos a Sacramento. Os espanhóis conquistam,
partindo de Sacramento: parte do Rio Grande do Sul, os 7 povos das
missões e a ilha de Santa Catarina (atual Florianópolis).

1.3.4 Tratado de Santo Ildefonso (1777)

No Tratado de Santo Ildefonso, a Espanha devolve a Ilha de Santa


Catarina, mas mantém os demais territórios ocupados. Esse tratado pode
ser visto de forma positiva, por Portugal, pois os Espanhóis não
questionaram as fronteiras do Centro-Oeste e do Norte, mesmo estando
em posição de vantagem.

Ocorre que o Tratado de Santo Ildefonso, feito para terminar uma


guerra, deixava expresso tratar-se de um tratado preliminar, que devia ser
confirmado posteriormente, por um tratado definitivo. Entretanto, como
não havia como lidar com todos os pontos de divergência, foram definidas
“zonas neutrais”, em que comissões demarcadoras iriam definir as
fronteiras para o tratado posterior.

1.4 Tratados de limites no Segundo Reinado


O Império Brasileiro só passou a ser plenamente coeso em finais
da década de 1840, quando as elites políticas estavam coesas e o
Imperador Dom Pedro II participava decisivamente das decisões de
política externa. É nesse período que os tratados de limites são
negociados, e de acordo com os interesses estratégicos do Império.

Antes disso, no entanto, Duarte da Ponte Ribeiro, experiente


diplomata brasileiro, é nomeado representante brasileiro junto à
confederação peruano-boliviana, em 1837. Com a divisão dessa
confederação, ele negocia limites com o governo peruano. Os peruanos
propõem que os governos não se baseassem no Tratado de Santo
Idelfonso, e tomasse como base o utis possidetis, que havia sido adotado
no Tratado de Madri. Nesse momento, a chancelaria brasileira recusava o
utis possidetis, afirmando que Duarte da Ponte Ribeiro não tinha poderes
para negociar um tratado de limites e que, se o Brasil fosse adotar um
critério, melhor seria o Tratado de Santo Idelfonso.

Já em 1849, Paulino José Soares de Souza, o futuro Visconde do


Uruguai, é colocado à frente da chancelaria brasileira, representando a
decisão do Imperador de colocar na condução da Política Externa
Brasileira um homem ligado ao intervencionismo no Prata. O futuro
Visconde do Uruguai reavalia a doutrina brasileira, reconhecendo que o
princípio que melhor reflete ao interesse brasileiro é o utis possidetis, mas
o utis possidetis da independência.

O utis possidetis era visto como favorável por evitar deslocamento de


populações. Além disso, usar esse princípio significava reconhecer o
expansionismo das duas metrópoles ibéricas durante o processo de
colonização; mas não é admissível reconhecer a violação de territórios
alheios depois da independência. Assim, o utis possidetis a ser adotado
era o do momento da independência, e não o do momento da negociação,
pois esse último poderia representar a consagração de violações das
soberanias dos estados independentes.

Os vizinhos brasileiros pretendem a utilização do uti possidetis juris,


reconhecido pelos tratados do período colonial, ao que o Brasil contrapõe
com a ideia do uti possidetis de facto. Nesse momento, foram
negociados os seguintes tratados:
• 1851 – Tratado com o Peru;
• 1852 – Tratado com a Colômbia (não foi ratificado);
• 1853 – Tratado com a Venezuela (não foi ratificado, pois a
Venezuela acabou rejeitando a referência ao utis possidetis);
• 1859 – Novo Tratado com a Venezuela, que refletia os termos
do Tratado anterior, mas retirava a menção ao utis possidetis.
Nesse caso, o Brasil adotou a estratégia de usar outros pontos
de negociação, como a navegação, o comércio, para aumentar
seu poder de barganha;
• Outros tratados (não seguiram a mesma lógica negociada
como os acima):
o 1851 – Tratado com o Uruguai (celebrado após a
intervenção brasileira na guerra civil uruguaia);
o 1867 – Tratado com a Bolívia;
o 1872 – Tratado com o Paraguai (sob ocupação militar
brasileira).

1.5 Negociações de Fronteira na Primeira República

A diplomacia do Império tratou como objetivo prioritário delinear os


limites de seu vasto território, mediante longas negociações com os países
vizinhos. Entretanto, muitos dos acordos negociados não foram ratificados
e, a despeito da competência de seus diplomatas, ao ser proclamada a
República, o Brasil tinha acordos de limites vigentes apenas com o
Uruguai, Paraguai, Venezuela, Peru e Bolívia; com os dois últimos,
perduravam grandes dificuldades em virtude do pouco conhecimento das
regiões fronteiriças. Havia questões a serem dirimidas com a Argentina,
Bolívia, Peru, Colômbia, Guianas Inglesa, Holandesa e Francesa.

Coube, portanto, aos governos republicanos a tarefa de ultimar a


definição de nossos limites, cabendo – como é sabido – ao barão do Rio
Branco a maior responsabilidade e os méritos pelo êxito dessas
negociações. Como plenipotenciário do Brasil, nos processos arbitrais
sobre o território de Palmas e sobre a fronteira com a Guiana Francesa, e
como ministro de Estado no período de 1902 a 1912, nas negociações
com a Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela e com as metrópoles dos
territórios coloniais das Guianas inglesa e holandesa, foi Rio Branco o
grande artífice dessa política, obtendo o reconhecimento internacional de
nossos direitos sobre cerca de 900 mil quilômetros quadrados de território
objeto de litígio. Em duas décadas, a diplomacia republicana traçou os
limites do Estado brasileiro, obtendo, na maior parte dos casos, o
reconhecimento dos títulos que legitimavam nossa soberania. Abaixo,
veremos as principais negociações de limites brasileiras.

1.5.1 Limites com a Argentina: a Questão de Palmas

Durante o Império, Brasil e Argentina não haviam podido chegar a um


acordo sobre a linha de limites no trecho da fronteira entre o rio Uruguai e
o Iguaçu. Em 7 de setembro de 1889, Brasil e Argentina assinaram um
acordo, pelo qual concordaram em submeter o litígio fronteiriço à
arbitragem do presidente dos Estados Unidos da América. Proclamada a
República, o ministro das Relações Exteriores, Quintino Bocaiúva, viajou
ao Prata e, movido por um impulso de solidariedade americana e sintonia
republicana, assinou em 25 de janeiro de 1890, em Montevidéu, com o
chanceler argentino Estanislao Zeballos, um acordo que dividia o
território litigioso entre os dois países signatários. O tratado foi mal
recebido pela opinião pública brasileira. Submetido à apreciação do
Congresso, foi por ele recusado a 10 de agosto de 1891. Entendeu-se que,
permanecendo válido o acordo de setembro do ano anterior, impunha-se
o recurso à arbitragem pelo presidente Grover Cleveland.

O barão do Rio Branco, que exercia até então as funções de cônsul-


geral em Liverpool, foi designado ministro plenipotenciário em missão
especial em Washington, incumbido de defender os interesses do Brasil
ante o árbitro.
Pretendia a Argentina que a fronteira corresse pelos rios Chapecó e
Chopim, sustentando o Brasil que a linha de limites deveria fazer-se pelos
rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio. Rio Branco dedicou-se a reunir toda a
documentação histórica e cartográfica sobre a região litigiosa, valendo-se
dos documentos existentes no Brasil, mas recorrendo, sobretudo, a
arquivos europeus – especialmente portugueses e espanhóis – e, fundado
no princípio do uti possidetis da época da independência, comprovou
não somente a presença brasileira na região até os rios Peperi-Guaçu e
Santo Antônio desde o século XVII, como a correta interpretação do mapa
de 1749 e das instruções especiais dadas aos comissários demarcadores
da fronteira estabelecida pelo Tratado de Madri, invocados pelo
representante argentino, o mesmo Estanislao Zeballos que assinara o
tratado com Quintino Bocaiúva.

O laudo do presidente Cleveland, tornado público a 5 de


fevereiro de 1895, deu total ganho de causa ao Brasil e foi seguido pelo
tratado firmado no Rio de Janeiro a 6 de outubro de 1898 pelos governos
dos dois países.

1.5.2 Limites com a Guiana Francesa: a Questão do Amapá

A defesa dos direitos do Brasil na Questão do Amapá foi confiada


ao barão do Rio Branco que, ainda em Paris, redigiu a primeira Memória.
Com seus anexos, inclusive a reedição da obra De l’Oyapok à l’Amazone,
de Joaquim Caetano da Silva, tinha cinco volumes, que foram entregues
ao presidente da Confederação Suíça a 5 de abril de 1899. Uma segunda
Memória, datada de 5 de dezembro do mesmo ano e composta de seis
volumes, o primeiro de exposição e os outros cinco com mapas e
documentos, contestava as razões apresentadas pela França. A defesa
de Rio Branco unia a competência do historiador à habilidade do
advogado. Constituía um trabalho notável pelo conhecimento histórico,
geográfico e jurídico, e pela abundância e pertinência da documentação
apresentada. Em 1º de dezembro de 1900, o presidente do Conselho
Federal Suíço, Walter Heuser, proclamou que “conforme o sentido preciso
do artigo 8 do Tratado de Utrecht, o rio Yapoc ou Vicente Pinsão é o
Oiapoque, que se lança no oceano imediatamente a oeste do Cabo
Orange”, reconhecendo assim o fundamento das alegações do Brasil.

1.5.3 Limites com a Bolívia: a Questão do Acre

Os limites entre o Brasil e a Bolívia foram fixados pelo tratado


firmado em La Paz a 27 de março de 1867. O desconhecimento da região,
notadamente a indeterminação das nascentes do rio Javari, provocou
numerosas dificuldades à demarcação da fronteira. O problema foi
agravado pela infiltração de seringueiros brasileiros na região do Acre e
pela concessão a uma empresa estrangeira, feita pelo governo boliviano,
dos direitos de ocupação e jurisdição sobre aquela área. O litígio, objeto
de longas e complexas negociações que envolveram o Brasil, a Bolívia e
os Estados Unidos da América, sede do Bolivian Syndicate, empresa
concessionária dos direitos cedidos pelo governo boliviano, foi
solucionado mediante o pagamento de uma indenização de 114 mil
libras esterlinas aos capitalistas investidores na concessionária e, à
Bolívia, de uma indenização monetária de dois milhões de libras esterlinas;
o compromisso da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, e a cessão
de uma parcela do território, cabendo ao Brasil a área do atual estado do
Acre, já povoado por brasileiros. O Tratado de Petrópolis, que deu
solução ao litígio, foi assinado naquela cidade fluminense a 17 de
novembro de 1903. A 25 de dezembro de 1928 foi assinado no Rio de
Janeiro, um tratado destinado a completar a definição de alguns pontos da
fronteira comum.
1.5.4 Limites com a Guiana Inglesa

Durante o século XIX, os ingleses, partindo do seu estabelecimento


da Guiana, conquistado aos holandeses, se expandiram para o sul,
procurando atingir a bacia amazônica e penetrando em regiões já
exploradas pelos brasileiros que se deslocavam na direção norte, na bacia
do rio Branco, onde haviam estabelecido destacamentos militares.
Chegaram os ingleses pela primeira vez ao alto Essequibo e ao Rupunumi
em 1811, entrando em contato com o forte de São Joaquim e com um
posto militar no rio Pirara. Em 1835/1836, Robert Schomburgk, alemão
naturalizado inglês, foi comissionado pela Royal Geographical Society
para explorar o interior da Guiana Inglesa e avançou na região do rio
Pirara, sobre a qual a Inglaterra viria a invocar direitos em virtude de uma
pretensa existência, no passado, de um posto holandês na região do
Essequibo. As expedições de Schomburgk se renovaram e deram origem
a uma missão anglicana na região, fonte de atritos com as autoridades
brasileiras. Por troca de notas, datadas do Rio de Janeiro de 29 de agosto
e 3 de setembro de 1842, Brasil e Grã-Bretanha acordaram neutralizar o
território litigioso.

A República encontrou a questão nesse estágio, havendo finalmente


acordado com o governo inglês, pelo tratado de 6 de novembro de 1901,
confiar a solução do litígio à arbitragem do rei da Itália. A defesa do Brasil
foi confiada – pelo barão do Rio Branco, já ministro das Relações
Exteriores – a Joaquim Nabuco, que produziu trabalho notável, em três
Memórias, perfazendo um conjunto de 18 volumes. Entretanto, o rei
Vitório Emanuel III, ignorando as razões aduzidas pelas partes, optou,
em seu laudo arbitral, dado a público em 6 de junho de 1904, por uma
solução de partilha da região litigiosa, concedendo ao Brasil menos
do que lhe fora oferecido pelo governo inglês nas negociações
bilaterais.
A 22 de abril de 1926 foi assinada em Londres uma convenção
especial e complementar de limites e um Tratado Geral de Limites, que
condensou as disposições dos atos anteriores.

* Na parte das negociações de fronteiras durante a República, os créditos do texto vão


para: FRANCO, Álvaro da Costa. Tratados de Fixação de Limites Territoriais. CPDOC,
FGV.

1.6 Principais pontos da Organização e Planejamento


do Território Brasileiro

Nesta última etapa, seremos o mais sintéticos possível, pois é um


tema bastante conceitual e, como já foram vistos múltiplos aspectos socio-
político-econômicos da história contemporânea brasileira, devemos ser
mais pragmáticos.

1.6.1 O Governo Vargas, a Integração e o Planejamento

A questão da integração nacional era fundamental para a


organização do Estado brasileiro após a Revolução de 1930. Faltava uma
espinha dorsal para o planejamento.
• A necessidade de institucionalização:
o A “Lei Geográfica” de 1938:
▪ Malha municipal;
▪ Estados;
▪ Macro regionalização;
o Sua elaboração se torna obrigatória.

É também neste momento que nasce o IBGE (1938), que irá contribui
para o desenvolvimento da geografia brasileira. Nesse processo de
institucionalização da regionalização brasileira, surge a primeira proposta
(apesar de não ser oficial) de regionalização do Brasil.

Essa divisão serve de base para a divisão de 1942 (oficial), que


surge com algumas alterações:
Além da institucionalização, o governo Vargas promove a “Marcha
para o Oeste”, que tinha o intuito de preencher vazios territoriais, que
seriam possíveis ameaças à soberania brasileira.
• Goiânia (criação no início da década de 1940 – cidade planejada
para ser a capital de Goiás);
• Colônias agrícolas;
o Expansão horizontal da agricultura brasileira – Mato Grosso,
Goiás – mas não para abastecimento interno (mais de
subsistência). O princípio fundamental dessas colônias é o de
fixar população no Centro-Oeste, para ocupá-lo (PRINCÍPIO
SOBERANISTA – território vazio é território em risco).
• Princípio soberanista;
• As expedições.
o Expedição Roncador-Xingu (a mais famosa – irmãos Vilas
Boas).
o Desbravamento e civilizatória.

O governo Vargas estabeleceu, em 1943, a Doutrina de Segurança


Nacional, que era considerada o alicerce do desenvolvimentismo. Há,
nesse momento, a criação dos territórios federais:

• Amapá, Rio Branco, Guaporé e Ponta-Porã são territórios


criados na faixa de fronteira.
o Preocupação com a segurança nacional em áreas de
baixa ocupação.

Na Amazônia, durante o período Vargas, houve poucas políticas


voltadas ao desenvolvimento da região. Pode-se apontar o estimulo à
produção de borracha durante o período da Segunda Guerra. No que diz
respeito a Amazônia, pode-se destacar a SPVEA – Superintendência do
Plano de Valorização Econômica da Amazônia (1953) e a integração
Amazônica.

• Criada para gerir recursos previstos na Constituição de 1946


para duas áreas:
o Polígono das Secas;
o Amazônia;
• Ela será substituída pela SUDAM (1966).
• É, nesse momento, que surge o recorte AMAZÔNIA LEGAL.
o Assegurar a ocupação da Amazônia em um sentido
brasileiro.
o Constituir na Amazônia uma sociedade economicamente
estável e progressista, capaz de, com seus próprios
recursos, prover a execução de suas tarefas sociais.
o Desenvolver a Amazônia num sentido paralelo e
complementar ao da economia brasileira.

1.6.2 O Governo JK, a superação do arquipélago

Os maiores resultados das medidas adotadas no período Vargas


serão concretizados no governo JK. Não é o início do processo de
integração regional, mas é o momento de avanços bastante significativos,
pois a infraestrutura rodoviarista contribui para a integração territorial do
Brasil.

É nesse momento que se cria a SUDENE, como a primeira


superintendência de desenvolvimento regional.
• Importante vetor de fomento ao desenvolvimento regional com
o objetivo de mitigar o desequilíbrio regional brasileiro, além de
estabelecer um modelo para futuras superintendências (1966
– SUDAM; 1967 – SUDECO e SUDESUL).
A construção de Brasília também é ponto importante para a
superação do arquipélago.
• A ocupação do oeste do território brasileiro já vinha recebendo
atenção do planejamento nacional, mas Brasília irá promover a
interiorização de fato.
• Economicamente, o peso de Brasília é considerável.
• Consolidação da urbanização (década na qual o Brasil se
consolida como majoritariamente urbano).

1.6.3 A nova dinâmica regional e a regionalização de 1969/1970

Predominava, como até hoje predomina, a dinâmica Centro-


Periferia no Brasil. Na qual o Sudeste é o centro; as regiões Centro-Oeste
e Sul periferias integradas (sua dinâmica econômica está fortemente
relacionada à economia do centro); o Nordeste uma periferia deprimida
(menor integração econômica ao centro); e o Norte correspondendo à
fronteira (sempre vista como fronteira, distante, pouco integrada, vista
como área para onde se expandir).

O que houve de mais relevante nesses anos, em termos de


organização do Estado, foi o surgimento do Sudeste, incorporando São
Paulo – que fazia parte da região Sul –, Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Espírito Santo.
É superada a configuração em forma de arquipélago, com o
território mais integrado, ainda que não seja uma integração completa.

1.6.4 A Doutrina de Segurança Nacional e o Planejamento no Período


Militar

Nesse período, predomina a influência do pensamento de Golbery do


Couto e Silva (maior nome da geopolítica brasileira). O lema era: “Integrar
para não Entregar”. No Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento, no
governo Médici – tempo do Milagre Econômico – vieram os grandes
projetos de integração nacional:
• Extensa malha de Rodovias Federais na Amazônia /
complementariedade do padrão histórico (ocupação rio-
várzea) para o padrão estrada-terra firme;
o Transamazônica (BR-230);
• Colônias agrícolas (Pará, Amazonas, Rondônia) – “homens
sem-terra para terras sem homens”;
o As colônias criadas por Vargas vão ocupando o Centro-
Oeste, enquanto as colônias do período militar visam a
Amazônia;
o Esses programas não foram muito bem-sucedidos, com
alto grau de evasão e de morte;
• Outra estrada de menor importância, mas também é exemplo
do I PND, é a Transpantaneira.

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