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CAPÍTULO I

Introdução

A ética é muitas vezes conotada como hábito de bem-fazer ao próximo. Porém muitos
confundem a ética e os costumes. Costume é algo que tem a ver com a cultura e hábitos de um
certo grupo social e a ética é algo que exige convenções, crença e aceitação de todos e tende a
orientar o que se deve ou o que não se deve fazer, diferencia o bem do mal.
No mundo actual os conflitos de interesses surgem como uma problemática muito relevante e
muito interessante. Hoje assiste-se a uma série de condutas preocupantes e típicas num conjunto
de classes profissionais que nos propomos aqui analisar.
Obviamente, que as profissões que aqui analisamos não são as únicas profissões em que se
colocam a problemática de conflitos de interesses. Ainda que os conflitos de interesses surjam
em diferentes profissões, o objecto que pretende acautelar é comum a todas elas. Neste sentido,
devemos referir que o que se visa proteger com a regulação dos conflitos de interesses é a
preservação de valores como a legalidade, lealdade, confiança e ética.
O presente trabalho enquadra-se na cadeira de Ética e Antropologia, do curso de Licenciatura em
Administração Pública e gestão” sob o tema “ Ética e Conflitos de Interesses na
Administração Pública” e está estruturado da seguinte forma: Capítulo I, que engloba para
além da Introdução, os Objectivos Geral e Específicos, e a Metodologia, Capítulo II que
apresenta o Enquadramento Conceptual e a Revisão da Literatura e por fim o Capitulo III
constituído pelas Considerações Finais e Referências Bibliográficas.

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1.2 Objectivos
1.2.1Geral
 Compreender a Ética e conflitos de interesses na administração pública.
1.2.2 Objectivos específicos:
 Descrever o papel dos Recursos Humanos na responsabilidade social
 Descrever os conflitos de interesses;
 Descrever as diferentes formas de procedimentos na tomada de decisão na AP;
 Analisar os obstáculos na tomada de decisão na Administração Pública.

1.3 Metodologia
A elaboração deste trabalho foi possível através de técnica bibliográfica, que consistiu na revisão
da literatura de obras dos autores que abordam a Ética e conflitos de interesses, consulta
documental que consistiu na leitura de alguma legislação sobre a matéria.

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CAPÍTULO II

2. 1 Enquadramento Conceptual e Revisão da Literatura

2.1.1 Enquadramento Conceptual


Ética é um conjunto de princípios e valores que guiam e orientam as relações humanas, (Sousa,
2005:3).
Ética é definida como uma capacidade humana posta pela actividade vital do ser social; a
capacidade de agir conscientemente com base em escolhas de valor, projectar finalidades de
valor e objectivá-las concretamente na vida social, isto é, ser livre. Tratada como mediação entre
as esferas e dimensões na vida social, e actividade emancipadora, a ética é situada em suas várias
formas e expressão. (Netto, 1998).
De acordo com Ferreira (1996, p. 363), conflito é um fenómeno social, multi-dimensional, parte
integrante da existência humana, essencial para o processo evolutivo da humanidade e para a
transformação social.

Para Chiavenato (1993, p. 500), Conflito significa a existência de ideias, sentimentos, atitudes
ou interesses antagónicos e colidentes que podem se chocar. Sempre que se fala em acordo,
aprovação, coordenação, resolução, unidade, consentimento, consistência, harmonia, deve-se
lembrar que essas palavras pressupõem a existência ou a iminência de seus opostos, como
desacordo, desaprovação, dissensão, desentendimento, incongruência, discordância,
inconsistência, oposição – o que significa conflito. O conflito é a condição geral do mundo
animal.

De acordo com Chiavenato (2004, p.416), “O conflito é muito mais do que um simples acordo
ou divergência: Constitui uma interferência activa ou passiva, mas deliberada para impor um
bloqueio sobre a tentativa de outra parte de alcançar os seus objectivos”.

Para Wisinski (1994, citado em Beck, 2009), o conflito é um fenómeno normal e natural. É visto
como uma dinâmica interpessoal e, quando tratado de maneira correcta, pode ser gerido, muitas
vezes resolvido e, provavelmente, terá resultados bastante criativos.

Moral é a regulação dos comportamentos considerados legítimos por uma determinada


sociedade, um povo, uma religião, uma tradição cultural, etc., (Souza, 2005: 5).
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Segundo Ribeirro et al (1964) Moral é como uma ciência que estabelece as ideias da actividade
livre do homem, às quais deve conformar as suas acções, para poder viver conforme a sua
natureza e atingir o seu último.

Segundo Chiavenato (1997: 710) a tomada de decisão “é o processo de análise e escolha entre
várias alternativas disponíveis do curso de acção que a pessoa deverá seguir ”.tem como
fundamento o guião da acção a ser praticada por exemplo: quando não analisada pode incorrer
em um erro, o processo disciplinar que não foi bem analisado e levado ao Tribunal
Administrativo pode voltar-se contra o instrutor e o dirigente que despachou-o,

Valores–são referenciais abstractos de natureza moral que orienta a conduta humana”


apresentam-se como exemplos de valores: a integridade; sinceridade; igualitarismo; decência;
honestidade; colaboração; fraternidade; liberdade; entre outros. (Manual do SIFAP, 2002:57)

O Serviço Social é visto como um meio de alcançar o objectivo de controlar os comportamentos


dos empregados, pelas habilidades que o profissional tem de dialogar, ouvir e orientar. Isso tudo
“ mediante a execução de actividades educativas que se assentam na veiculação de
informações e valores éticos normativos”. (Mota, 1998:62).

Segundo Chiavenato (2004:483) Responsabilidade Social significa a actuação responsável


socialmente de seus membros, as actividades de beneficência e os compromissos da organização
com a sociedade em geral e de forma mais intensa com aqueles grupos ou parte da sociedade
com a qual está mais em contacto.

Bem-estar Social - "É o bem comum, o bem da maioria, expresso sob todas as formas de
satisfação das necessidades colectivas. Nele se incluem as exigências naturais e espirituais dos
indivíduos colectivamente considerados; são as necessidades vitais da comunidade, dos grupos e
das classes que compõem a sociedade". (Netto, 1998).

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2.1.2 Revisão da Literatura

2.1.2.1 Ética e conflitos de interesses na tomada de decisões

Tratando-se do tema em estudo, torna-se incontornável seu desenvolvimento sem que se


discirnam os principais conceitos destes elementos.
Segundo Pereira (2011-2012:4) a Ética no sentido etimológico deriva da palavra grega ethos e
esta, por sua vez, pode adquirir outras duas formas. Uma delas surge representada como Ethos e
diz respeito ao carácter, à realidade interior da pessoa, ou seja, ao que lhe é intrínseco. A outra
forma representa-se por Éthos e indica os costumes, os hábitos, a forma habitual de agir, ou seja,
os actos concretos que dão a indicação do modo de ser implantado na pessoa, portanto, o que
tomou vindo de fora, como por exemplo, as tradições. Segundo Netto 1 citado por Pereira (2011-
2012:4 ) a moral é distinta da ética porquanto a primeira, neste caso a moral, é um sistema
mutável historicamente determinado, constituído por costumes e imperativos que vincula os
indivíduos entre si, já a segunda, a ética, constitui a análise dos fundamentos da moral, o que
pressupõe a reflexão. Por conseguinte, a Ética e a Moral são Indissociáveis, pois se a Moral é o
conjunto de regras que expressam o que se deve ou não fazer e como o fazer, a Ética, por seu
lado, tem como objectivo guiar a acção, expressa pelas regras (regras morais), que efectivamente
são importantes num determinado contexto e por isso devem ser aplicadas.

Muito se ouve falar em "conflitos de interesses", seja no âmbito relações humanas, institucionais
ou jurídicas, mas pouco se explica acerca deste termo tão amplo. De facto, penso que a expressão
carece de uma conceituação e não o faço aqui com o objectivo de esgotar o tema - longe disso -
mas apenas com o escopo de trazer breves consideração acerca dessa figura cada vez mais
comum na prática do Direito e das relações humanas, sociais, empresariais, etc., como um todo.

É comum assistirmos ao fim de relações humanas e institucionais antes que seus objectivos se
cumpram porque as partes entram em conflito. Com frequência, as desavenças se dão por
motivos facilmente superáveis, mas as pessoas envolvidas não sabem como buscar o
entendimento nem dispõem de instrumentos para tal. Em muitos casos, sequer percebem que se
envolveram em uma disputa e não entendem o fracasso da relação.

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(1)Netto, José P..2001.Ética e Crise dos projectos de transformação social. In D
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A dificuldade de identificar os conflitos decorre, principalmente, da falta de clareza com que o
problema se apresenta. É fácil perceber uma divergência se há ataques frontais, mas a maioria
das disputas assume contornos sutis. Duas pessoas que almejam o mesmo cargo, por exemplo,
não revelam suas intenções, mas fazem o que podem para desmerecer o concorrente.

Conflito, etimologicamente, traz a ideia de luta. A palavra latina conflictu quer dizer choque. O
estrategista prussiano Von Clausewitz, contemporâneo de Napoleão Bonaparte, afirmava que “o
conflito é o encontro de duas vontades irreconciliáveis”. As pessoas entram em conflito porque
percebem que têm menos poder e auto-estima do que seus interlocutores ou quando uma das
partes identifica uma invasão em seu espaço objectivo (corpo e bens) ou em seu mundo
subjectivo (sentimentos, valores, crenças e ideias).

2.3. Valores e Mudanças na Função Pública


Na óptica de Chiavenato (2003) "o comportamento do indivíduo se apoia totalmente no grupo.
Os funcionários não agem ou reagem isoladamente como indivíduos, mas como membros de
grupos. A qualquer desvio das normas administrativas, o funcionário sofre punições sociais ou
morais dos colegas, no intuito de se ajustar aos padrões do grupo. Enquanto os padrões do grupo
permanecerem imutáveis, o indivíduo resistirá a mudanças para não se afastar deles.” Isso
significa segundo este autor que, a administração não pode tratar os funcionários, um a um e de
maneira isolada como se fossem átomos isolados. Precisa sim trata-los como membros de grupos
e sujeitos às influências sociais desses grupos. Os funcionários não reagem à administração, às
suas decisões, normas, recompensas e punições como indivíduos isolados, mas como membros
de grupos sociais e cujas atitudes são influenciadas por códigos de conduta grupais. É a teoria do
controle social sobre o comportamento individual. A amizade e o agrupamento social dos
funcionários devem ser considerados aspectos relevantes para a Administração. A Teoria das
Relações Humanas contrapõe o comportamento social do empregado ao comportamento do tipo
máquina proposto pela Teoria Clássica, baseado na concepção atomística do homem."

Para que haja valores e mudanças na AP, deve se pautar por um código de conduta
nomeadamente:

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a) A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios morais que são
primados maiores que devem nortear o servidor público, seja no exercício do cargo ou
função, ou fora dele, já que reflectirá o exercício da vocação do próprio poder do Estado.
Seus actos, comportamentos e atitudes serão direccionados para a preservação da honra e
da tradição dos serviços públicos. Ex: ao receber um expediente do cidadão deve tratar
com urgência aceitável pela lei
b) O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim,
não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o
inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o
desonesto, consoante as regras. Ex: seguir as normas da AP

c) A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem e o mal,


devendo ser acrescida da ideia de que o fim é sempre o bem comum. O equilíbrio entre a
legalidade e a finalidade, na conduta do servidor público, é que poderá consolidar a
moralidade do acto administrativo. Ex: agir dentro dos padrões da AP

d) A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos pagos directa ou


indirectamente por todos, até por ele próprio, e por isso se exige, como contrapartida, que
a moralidade administrativa se integre no Direito, como elemento indissociável de sua
aplicação e de sua finalidade, erigindo-se, como consequência, em factor de legalidade.
Ex: o salário que o funcionário recebe é do povo por isso deve atender bem como o seu
patrão que paga salário

e) O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade deve ser entendido
como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que, como cidadão, integrante da sociedade,
o êxito desse trabalho pode ser considerado como seu maior património. Ex: ele também
despido do seu poder de administrativo é um cidadão comum.

f) A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, se integra na vida
particular de cada servidor público. Assim, os factos e actos verificados na conduta do
dia-a-dia em sua vida privada poderão acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida
funcional. Ex: Um funcionário fora do serviço deve si comportar bem.

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g) Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse superior do
Estado e da Administração Pública, a serem preservados em processo previamente
declarado sigiloso, nos termos da lei, a publicidade de qualquer ato administrativo
constitui requisito de eficácia e moralidade, desejando sua omissão comprometimento
ético contra o bem comum, imputável a quem a negar. Ex: Não dar informação ao
cidadão sobre a quantidade do armamento que o país usa.

h) Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou falseá-la, ainda que
contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou da Administração Pública.
Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre o poder corruptivo do hábito do erro,
da opressão ou da mentira, que sempre aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto
mais a de uma Nação. Ex: o cidadão deve ser informado sobre o andamento do seu
expediente onde se encontra.

i) A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço público caracterizam


o esforço pela disciplina. Tratar mal uma pessoa que paga seus tributos directa ou
indirectamente significa causar-lhe dano moral. Da mesma forma, causar dano a qualquer
bem pertencente ao património público, deteriorando-o, por descuido ou má vontade, não
constitui apenas uma ofensa ao equipamento e às instalações ou ao Estado, mas a todos
os homens de boa vontade que dedicaram sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e
seus esforços para construí-los.

j) Deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de solução que compete ao sector em
que exerça suas funções, permitindo a formação de longas filas, ou qualquer outra
espécie de atraso na prestação do serviço, não caracteriza apenas atitude contra a ética ou
ato de desumanidade, mas principalmente grave dano moral aos usuários dos serviços
públicos.

k) O servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de seus superiores, velando
atentamente por seu cumprimento, e, assim, evitando a conduta negligente. Os repetidos
erros, o descaso e os acúmulos de desvios tornam-se, às vezes, difíceis de corrigir e
caracterizam até mesmo imprudência no desempenho da função pública. Ex; Não cumprir

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ordens ilegais dos seus superiores, retirar bens patrimoniais do Estado para o uso pessoal
do chefe.

l) Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é factor de


desmoralização do serviço público, o que quase sempre conduz à desordem nas relações
humanas. Ex; dar falta ao serviço os colegas desejar a sua presença.

m) O servidor que trabalha em harmonia com a estrutura organizacional, respeitando seus


colegas e cada concidadão, colabora e de todos pode receber colaboração, pois sua
actividade pública é a grande oportunidade para o crescimento e o engrandecimento da
Nação. Ex: o bom cumprimento das sua funções contribui na boa governação.

Para que se alcance uma Função Pública que esteja à altura das necessidades do cidadão, é
necessário que ocorram algumas mudanças, em Moçambique, sendo implementados vários
programas com vista a tornar a Função Pública num verdadeiro servidor público, destacando o
programa de combate à corrupção e a reforma do sector público.
As normas éticas na função pública são acompanhadas pelo Universalismo; Padrões culturais e
sociais; Racional incluindo processos analíticos e cognitivos; Emoções ou com base nas
necessidades; Religiosos; Profissionalismo.
A tomada de decisões na administração pública pressupõe o seguimento de um conjunto de
deveres e obrigações estabelecidos no Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado
(EGFAE) que devem ser interiorizados e compreendidos de forma a transformar a obrigação
devoção. Esta acção implica a formulação de normas éticas e deontológicas que deverão
determinar a conduta do funcionário no desempenho da actividade profissional.

Nestes termos, a tomada da decisão ética na Administração Pública deve ter em conta os
princípios éticos plasmados no artigo 6 da Lei n.º 16/2012 de 14 de Agosto em que o servidor
público, além dos deveres gerais contidos na CRM, e sem prejuízo do que dispõe a legislação
específica, pauta a sua actuação pelos seguintes deveres e princípios éticos:

Não discriminação e igualdade; legalidade; lealdade; probidade pública; supremacia do interesse


público; eficiência; responsabilidade; objectividade; justiça; respeito pelo património público;
reserva e discrição; decoro e respeito perante o público; conhecimento das proibições e regimes
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especiais aplicáveis; escusa de participação em actos em que incorra num conflito de interesse;
declaração de património; parcimónia e, competência.

Mudança no sistema de governação, introduziu-se novas formas de comportamentos dos


dirigentes;

Mudança do sistema da administração pública, introdução de uma conduta aceitável e adequadas


novas formas de atendimento aos cidadãos, plasmado na lei, exemplo Constituição da República,
decreto 30/2001 de 15 de Outubro;

Democratização de Moçambique, mudança do comportamento do cidadão, prática de


libertinagem e abusos de confiança e corrupção em nome da democracia.

2.4. Normas éticas na função Pública

De acordo com a legislação Moçambicana, A moral administrativa é imposta ao agente público


para a sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve, e a finalidade de sua
acção o bem comum. Um código de ética é elaborado e implementado para pessoas éticas, pois
ele serve como um limite de boa conduta um referencial para a conduta ética. Portanto, tendo-se
uma boa conduta ética teremos sem sombra de dúvida uma boa governação, um declínio
acentuado em casos de corrupção, ilícitos administrativos e mau uso da coisa pública.

Para o caso da Administração Pública moçambicana, o artigo 29 da Lei n.º 16/2012 de 14 de


Agosto refere que o titular ou membro de órgão público deve exercer as funções que
correspondem ao seu cargo e sem prejuízo do que se dispõe em estatuto próprio, assim o Estatuto
Geral dos Funcionários e Agentes do Estado (EGFAE) e demais instrumentos legais aprovados
por órgãos competentes incluindo a própria Constituição, definem as normas de conduta dos
Agentes e Funcionários Públicos, artigos 38 e 39 do EGFAE.

Segundo (Mazula 2005) citando a Resolução nr. 10/97 de 29 de Julho, do Conselho de Ministros,
pode ler-se no “desempenho da sua valiosa e insubstituível função social, deve a administração
pública através dos seus funcionários, pautar a sua conduta por princípios, valores e regras
baseadas na justiça, na transparência e na ética profissional de forma a estabelecer e garantir a
necessária relação de confiança entre os cidadãos e os serviços públicos;

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Ainda o autor refere que de acordo com a Lei 7/2000 de 15 de Junho, explicita aquelas normas
de conduta aplicáveis aos titulares de cargos governativos, incidindo nas normas da ética
profissional e insistindo na transparência, no respeito e na dignidade no exercício das suas
funções; e citando o Decreto nr. 55/2000 de 27 de Dezembro, alarga aquelas normas de conduta
aos que cessaram as suas funções. Para além das normas acima mencionadas existem ainda as
seguintes:

Constituição da República de Moçambique de 2004;

Ex; A Administração pública tem obrigação de garantir o bem-estar do cidadão; ou seja todos
tem direito a educação gratuita de primeira e sétima classe.

Lei nº 14/2009, de 17 de Março (EGFAE e REGFAE);

Ex: O EGFAE é um instrumento legal, onde estão plasmados os direitos e deveres dos
funcionários públicos e as penas sancionais no caso de incumprimento dessas normas;

Lei nº 16/2012 de 14 de Agosto (Probidade Pública);

Ex: Todos os funcionários que exercem cargos de direcção e chefia tem obrigação de declarar os
seus bens anualmente, e não devem receber ofertas que influenciam na sua tomada de decisão.

ERDAP 2012/2025 (Estratégia da Reforma e Desenvolvimento da Administração Pública);

Ex: Perspectiva-se aquilo que a nossa administração pública será ate 2025, tendo em conta que
verifica-se evoluicão em relação aos tempos passados, sendo que poucas instituições usam
maquinas de dactilografar, uso de computadores, internet, scâner, scapes, o que facilita a
resolução mediata na tomada de decisão.

Lei nº 6/2004 (Anti-corrupção);

Ex: No exercício das suas funções o funcionário público não deve se menter em esquema de
cobranças ilícitas e aliciamento

Lei nº 8/2003 (LOLE); Lei nº 7/98 de 15 de Junho (Conduta dos dirigentes superiores do
Estado);

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Ex: Estabelece normas de funcionamento dos serviços na administração local, por ex: Provincia,
Distrito, Localidade e prevê limites no exercício das suas funções. O dirigente máximo não deve
exceder aquilo que é as suas atribuições na tomada de decisão.

Decreto nº 30/2001 de 15 de Outubro.

Ex: Estabelece normas, princípios e procedimentos na administração pública. Nas instituições


públicas os dirigentes máximos tem o prazo de 15 dias para dar resposta a um determinado
assunto.

2.5. Valores Éticos e normas de conduta na Função Pública

Todos nós temos uma hierarquia de valores que formam nosso sistema de valores. O sistema é
identificado em termos da relativa importância que atribuímos a valores como liberdade, prazer,
auto-respeito, honestidade, obediência e justiça, (Robbins, 2002:60).

Administração Pública como uma pessoa colectiva de direito Público, que goza de uma
personalidade jurídica, também defende alguns valores para o seu funcionamento a destacar:
Interesse público; legalidade; neutralidade; imparcialidade; integridade/honestidade;
responsabilidade; Altruísmo; justiça; Igualdade; Isenção.

De salientar que ao abordarmos a conduta ética na administração pública não podemos nos
omitir em citar os valores éticos a observar nomeadamente:

 Prestação de contas no exercício das suas funções a Administração pública deve prestar
contas de cada exercício económico;

 Imparcialidade no exercício das suas funções e no seu relacionamento com as pessoas


singulares ou colectivas, a Administração Pública deve actuar de forma imparcial;

 Justiça no exercício das suas funções e no seu relacionamento com as pessoas singulares
ou colectivas, a Administração Pública deve actuar de forma justa;

 Beneficência no desempenho da Actividade Administrativa, e em todas as suas formas e


fases, a Administração Pública e os Administrados devem actuar e relacionar-se de
acordo com as regras de beneficência;
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 Transparência o princípio da transparência significa a obrigatoriedade de dar publicidade
a actividade administrativa.

 Equidade consiste na adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se os


critérios de justiça e igualdade. Pode-se dizer, então, que a equidade adapta a regra a um
caso específico, a fim de deixá-la mais justa. Ela é uma forma de se aplicar o Direito, mas
sendo o mais próximo possível do justo para as duas partes;

 Obediência todo o funcionário Pública deve obedecer as normas do funcionamento dos


serviços da Administração Pública;

 Eficiência a Administração Pública deve ser estruturada e funcional de modo a aproximar


os serviços as populações e de forma não burocratizada, com finalidade de materializar a
celeridade, a economia no uso dos recursos disponíveis para maximizar os resultados e a
eficiência das suas decisões.

Na Administração Pública é obrigatório a adopção de um comportamento que não ofereça directa


ou indirectamente vantagens a terceiros, nem solicitar, nem prometer e aceitar-se para o
benefício próprio ou de outrem tratamento favorável sobre os serviços a prestar.

2.6. Procedimentos na tomada de decisão.

De acordo com Chiavenato (1997), tomar decisões - tarefa que estamos habituados a lidar em
nosso dia-a-dia - contudo actualmente estão desaparecendo as chamadas decisões sem ou de
pouca importância, a cada minuto decidimos coisas que irão repercutir seriamente em nosso
futuro, por isso, decidir não é simplesmente escolher entre o que se supõe ser certo ou errado. A
tomada de decisão é uma actividade complexa que envolve escolha entre alternativas, levando-se
em consideração uma série de critérios que auxiliam no processo decisório, com a finalidade
atingir metas.

O erro fundamental é presumir que, uma vez que muitas decisões deram certo elas tenham que se
repetir, ter confiança em suas decisões é fundamental - todas as decisões são passos para o
desconhecido, os tomadores de decisão de todos os níveis escolhem ou recusam um plano de

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acção. Contudo é muito fácil equivocar-se e tomar decisões erróneas. Pode haver escolhas que
não se tenha considerado – informações sobre opções podem ser imperfeitas, assim como o
conhecimento das circunstâncias presentes – a experiência do passado pode ser irrelevante – a
previsão do futuro pode ser ampla e ainda assim sujeita a grande margem de erro.

Para a teoria comportamental não é somente o administrador quem toma as decisões. Todas as
pessoas dentro de uma organização em todas as áreas de actividades, em todos os níveis
hierárquicos e em todas as situações estão continuamente tomando decisões relacionadas ou não
com seu trabalho. A organização é um complexo sistema de decisões que de forma fundamental
existe seis:

 Tomador de decisão pessoa que faz a selecção entre várias alternativas de actuação;
 Objectivos propósitos ou finalidade que o tomador de decisão alcançar com sua acção;

 Preferências critérios com juízo de valor do tomador de decisão que vai distinguir a
escolha;

 Estratégia direcção ou caminho que o tomador de decisão sugere para melhor atingir os
objectivos e que dependem dos recursos que se dispõem;

 Situação aspectos ambientais dos quais vela-se o tomador de decisão, muitos dos quais
foram de controlo, conhecimento ou compreensão e que afectam a opção;

 Resultados é a decorrência de uma dada estratégia definida pelo decisor.

2.7. Obstáculos na tomada de decisão


Importa antes referir que conforme Vasquez (2008) será inútil recorrer a ética com a esperança de
encontrar nela uma norma de acção para cada situação concreta.

Segundo Chicuecue (2007), os obstáculos na tomada de decisão são manifestados nas relações
inter-pessoais dentro das organizações, tendo como principal enfoque, os seguintes paradigmas:

 É legal e permitido - ignorando as normas previstas nos códigos de ética, alguns


“influenciam” os outros julgar individualmente a legalidade ou ilegalidade de um acto
administrativo.
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- Faz parte do trabalho - (cabrito come onde está amarrado), este dilema tem influenciado
aos funcionários a aderirem a práticas de corrupção;
- Todos fazem isso - esta acção afecta principalmente aos funcionários recém admitidos na
organização;
- Não ganho nada pessoalmente - este pensamento reflecte uma atitude materialista virada
apenas para os ganhos e não para a produção.
É em virtude desse raciocínio que no processo de tomada de decisão existem sempre obstáculos
que se cingem em obstáculos estruturais, sociais e políticas, processuais, de recursos e
individuais e de atitudes seguintes:

a) Obstáculos Estruturais

São aqueles em que se destaca a formalização, ou seja, o grau em que na organização enfatiza o
seguimento de regras e procedimentos no desempenho do papel de seus membros. A
centralização e concentração do poder constituem também uma barreira estrutural, contudo, no
contexto moçambicano esta barreira está sendo ultrapassada com a consolidação dos processos
de descentralização e desconcentração do poder.

Ex: A centralização do poder, isto é tido depende do órgão central para tomada de decisão, não
existe representação ao nível local com o poder de tomada de decisão, exemplo concreto, a
emissão do registo criminal depende do órgão central.

b) Obstáculo Social e Político

Dizem respeito às normas e influências de poder dentro das instituições. É comum na cultura
institucional vigente no serviço público onde impera o corporativismo e o desinteresse pelo
desempenho, a existência de normas e comportamentos que reforçam o conformismo, a
relutância em comunicar ideias hostilidades para com a pessoa divergente e o cultivo
generalizado da indiferença ou do medo da crítica.

Ex: O conformismo dos membros da organização, temendo expressar-se com medo de serem
conotados com qualquer filiação partidária que não seja do partido no poder.

c) Obstáculos Processuais
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São os ligados aos procedimentos e regulamentações que frequentemente inibem a inovação,
com ênfase na manutenção do status e a falta de estímulo à realização das tarefasde forma usuais.
O excesso da burocracia na Administração Pública, representa uma grande barreira processual.

Ex; Os funcionários não se empenham no máximo para o alcance dos objectivos da organização,
conformando-se simplesmente com a remuneração mensal

d) Obstáculos de Recursos

Agrupam a carência de profissionais, tempo disponível, recursos financeiros e informações.

Ex: A colocação de técnicos que não se identicam com a organização, não tem nenhum mérito
para a realização das actividades que lhes são colocadas, estando na organização só por questão
de acomodação.

e) Obstáculos Individuais e de Atitudes

Residem nos membros individuais da organização ou no seu clima. Como por exemplo, citamos
o medo de correr riscos, a intolerância à ambiguidade, o dogmatismo, a inflexibilidade, entre
outros.

De acordo com Vasquez (2008) o problema do que fazer em cada situação concreta é um
problema prático-moral e não teórico-ético. Ao contrário, definir o que é bom não é um problema
moral, cuja solução cabe ao indivíduo em cada caso particular, mas um problema geral de
carácter teórico, de competência do investigador da moral, ou seja, do ético.

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CAPITULO III

III. Considerações finais

O Estudo cumpriu os seus objectivos pois permitiu a compreensão profunda do tema ética nos
conflitos de interesses na AP. E atendendo a complexidade do tema, a autora considera que a
Administração Pública visa a prossecução do interesse público, no respeito pelos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos e pautar pela ética na implementação e tomada de
decisões baseando-se nos instrumentos legalmente aprovados e sem descurar da parte moral do
tomador da decisão.

O funcionário Publico deveria pautar pelo princípio da moralidade administrativa, a ser


observado em qualquer acto praticado por quem aconselha o dirigente e pelo dirigente que toma
a decisão.

O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade deve ser entendido como
acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que, como cidadão, integrante da sociedade, o êxito desse
trabalho pode ser considerado como seu maior património.

A Função Pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, se integra na vida
particular de cada servidor público. Assim, os factos e actos verificados na conduta do dia-a-dia
em sua vida privada poderão acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida profissional
funcional.

Referências bibliográficas
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Legislação

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Lei nº 14/2009, de 17 de Março (EGFAE e REGFAE);

Lei nº 16/2012 de 14 de Agosto (Probidade Pública);

ERDAP 2012/2025 Estratégia da Reforma e Desenvolvimento da Administração Pública; Lei nº


6/2004 (Anti-corrupção);

Lei nº 8/2003 (LOLE); Lei nº 7/98 de 15 de Junho (Conduta dos dirigentes superiores do
Estado);

Decreto nº 30/2001 de 15 de Outubro.

Resolução nr. 10/97 de 29 de Julho, do Conselho de Ministros, aprova a conduta, princípios,


valores e regras dos funcionários Público.

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