Professional Documents
Culture Documents
Informativo 893-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
Processo excluído deste informativo pelo fato de a análise do mérito ainda não ter sido concluída: ARE 996895/SE. Será
comentado assim que chegar ao fim.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 2877/RJ; ADI 1834/SC; ADI 3628/AP; RE 541737/SC; RMS 26575/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Cabe reclamação contra decisão judicial que determina retirada de matéria jornalística de site.
A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode configurar o crime de racismo.
DIREITO ELEITORAL
VACÂNCIA DE CARGOS POLÍTICOS
Constitucionalidade dos §§ 3º e 4º do art. 224 do Código Eleitoral.
O § 3º do art. 224 do Código Eleitoral aplica-se também para eleições de Prefeitos de Municípios com menos de 200
mil eleitores e para eleições de Senadores.
DIREITO PENAL
RACISMO
A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode configurar o crime de racismo.
DIREITO CONSTITUCIONAL
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Cabe reclamação contra decisão judicial que determina retirada de matéria jornalística de site
Importante!!!
O STF tem sido mais flexível na admissão de reclamação em matéria de liberdade de
expressão, em razão da persistente vulneração desse direito na cultura brasileira, inclusive
por via judicial.
(...) a exegese jurisprudencial conferida ao art. 102, I, “l”, da Magna Carta rechaça o cabimento de
reclamação fundada na tese da transcendência dos motivos determinantes. (...)
STF. 1ª Turma. Rcl 22470 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 24/11/2017.
Como explica o Min. Roberto Barroso, essa recusa em se admitir a transcendência dos motivos
determinantes representa “uma jurisprudência defensiva, destinada a conter a multiplicação de
reclamações, em número que ultrapassaria a capacidade física de julgamento dos ministros”.
Essa linha restritiva, no entanto, tem sido excepcionada em processos relacionados com a liberdade de
expressão ou liberdade de imprensa. Nesses casos, o STF tem proferido inúmeras decisões admitido
reclamações mesmo que a decisão reclamada não esteja baseada no mesmo ato declarado
inconstitucional em sede concentrada.
A justificativa para essa postura mais ampla está no fato de que “a liberdade de expressão ainda não se
tornou uma ideia suficientemente enraizada na cultura do Poder Judiciário de uma maneira geral. Não
sem sobressalto, assiste-se à rotineira providência de juízes e tribunais no sentido de proibirem ou
suspenderem a divulgação de notícias e opiniões, num “ativismo antiliberal” que precisa ser contido.”
(Min. Roberto Barroso).
Em suma, o STF possui uma posição menos rigorosa ao analisar reclamações envolvendo decisões que
violem a liberdade de expressão. Por essa razão, é cabível reclamação contra decisão judicial que
determina a retirada de matéria jornalística da página eletrônica do meio de comunicação mesmo que
esta decisão esteja supostamente baseada no art. 20 do Código Civil, e não na Lei de Imprensa.
Isso significa que é indispensável que haja uma ponderação entre a liberdade de expressão e os direitos
da personalidade.
Direitos da personalidade
Direitos da personalidade é uma expressão de uso relativamente recente no direito brasileiro, tendo sido
desenvolvida pela doutrina contemporânea até ingressar no Código Civil, que abriu para o tema um
capítulo específico, logo no Título I.
O Min. Barroso afirma que “é possível conceituar os direitos da personalidade, inerentes a toda pessoa
humana, como a versão privada dos direitos fundamentais, e sua aplicação às relações com outros
indivíduos como regra geral”.
Os direitos da personalidade costumam ser divididos pela doutrina civilista em dois grandes grupos:
a) direitos à integridade física, que englobam o direito à vida, o direito ao próprio corpo e o direito ao
cadáver; e
b) direitos à integridade moral, rubrica sob a qual se abrigam, entre outros, os já mencionados direitos à
honra, à imagem, à privacidade e o direito moral do autor.
Em um cenário ideal, a ponderação deve procurar fazer concessões recíprocas, preservando o máximo
possível dos direitos em disputa. No limite, porém, fazem-se escolhas. Todo esse processo intelectual tem
como fio condutor o princípio instrumental da proporcionalidade ou razoabilidade.
a) veracidade do fato: a notícia divulgada dever ser verdadeira. Isso porque a informação que goza de
proteção constitucional é a verdadeira. A divulgação deliberada de uma notícia falsa, em detrimento de
outrem, não constitui direito fundamental do emissor. Os veículos de comunicação têm o dever de apurar,
com boa-fé e dentro de critérios de razoabilidade, a correção do fato ao qual darão publicidade. É bem de
ver, no entanto, que não se trata de uma verdade objetiva, mas subjetiva, subordinada a um juízo de
plausibilidade e ao ponto de observação de quem a divulga. Para haver responsabilidade, é necessário
haver clara negligência na apuração do fato ou dolo na difusão da falsidade.
c) personalidade pública ou privada da pessoa objeto da notícia: a depender se a pessoa for uma
personalidade pública ou privada, o grau de exposição é maior ou menor.
d) local do fato: deve-se analisar também se os locais dos fatos narrados são reservados ou protegidos
pelo direito à intimidade.
e) natureza do fato: deve-se analisar se os fatos divulgados possuem caráter sigiloso ou se estão
relacionados com a intimidade da pessoa.
f) existência de interesse público na divulgação em tese: presume-se, como regra geral, o interesse público
na divulgação de qualquer fato verdadeiro.
g) existência de interesse público na divulgação de fatos relacionados com a atuação de órgãos públicos.
h) preferência por sanções a posteriori, que não envolvam a proibição prévia da divulgação: o uso abusivo
da liberdade de expressão pode ser reparado por mecanismos diversos, que incluem a retificação, a
retratação, o direito de resposta, a responsabilização civil ou penal e a proibição da divulgação. Somente
em hipóteses extremas se deverá utilizar a última possibilidade. Nas questões envolvendo honra e
imagem, por exemplo, como regra geral será possível obter reparação satisfatória após a divulgação, pelo
desmentido – por retificação, retratação ou direito de resposta – e por eventual reparação do dano,
quando seja o caso.
Resumindo:
O STF tem sido mais flexível na admissão de reclamação em matéria de liberdade de expressão, em
razão da persistente vulneração desse direito na cultura brasileira, inclusive por via judicial.
No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de publicações jornalísticas, bem
como tornou excepcional qualquer tipo de intervenção estatal na divulgação de notícias e de opiniões.
A retirada de matéria de circulação configura censura em qualquer hipótese, o que se admite apenas
em situações extremas.
Assim, em regra, a colisão da liberdade de expressão com os direitos da personalidade deve ser resolvida
pela retificação, pelo direito de resposta ou pela reparação civil.
Diante disso, se uma decisão judicial determina que se retire do site de uma revista determinada
matéria jornalística, esta decisão viola a orientação do STF, cabendo reclamação.
STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/3/2018 (Info 893).
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
A incitação de ódio público feita por líder religioso contra
outras religiões pode configurar o crime de racismo
Importante!!!
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não
está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em
6/3/2018 (Info 893).
Atenção. Compare com RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/11/2016 (Info 849).
DIREITO ELEITORAL
Importante!!!
A Lei nº 13.165/2015 (minirreforma eleitoral de 2015) inseriu os §§ 3º e 4º ao art. 224 do
Código Eleitoral.
O § 3º prevê que “a decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a
cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário
acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições, independentemente do
número de votos anulados.”
O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “após o trânsito em julgado” e decidiu
que basta a exigência de decisão final da Justiça Eleitoral. Assim, concluído o processo na
Justiça Eleitoral (ex: está pendente apenas recurso extraordinário), a nova eleição já pode ser
realizada mesmo sem trânsito em julgado.
O § 4º, por sua vez, determina que:
§ 4º A eleição a que se refere o § 3º correrá a expensas da Justiça Eleitoral e será:
I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final do mandato;
II - direta, nos demais casos.
O STF afirmou que esse § 4º deveria receber uma interpretação conforme a Constituição, de
modo a afastar do seu âmbito de incidência as situações de vacância nos cargos de Presidente
e Vice-Presidente da República, bem como no de Senador da República.
Vale ressaltar que a regra do § 4º aplica-se aos cargos de Governador e Prefeito.
STF. Plenário. ADI 5525/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7 e 8/3/2018 (Info 893).
Lei nº 13.165/2015
A Lei nº 13.165/2015 (conhecida como minirreforma eleitoral de 2015) alterou diversos dispositivos da
legislação eleitoral.
Dentre as mudanças promovidas, vale destacar que a Lei nº 13.165/2015 acrescentou os §§ 3º e 4º ao art.
224 do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65).
Veja os dispositivos incluídos:
Art. 224 (...)
§ 3º A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma
ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em
julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número de votos anulados.
§ 4º A eleição a que se refere o § 3º correrá a expensas da Justiça Eleitoral e será:
I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final do mandato;
II - direta, nos demais casos.
Vale ressaltar que, para o STF, o legislador federal pode estabelecer causas eleitorais, ou seja, relacionadas
a ilícitos associados ao processo eleitoral, que possam levar à vacância do cargo.
do Código Eleitoral e que o Tribunal fixasse a interpretação de que basta o encerramento da tramitação
do processo na Justiça Eleitoral.
• art. 224, § 4º do CE: prevê que se a vacância for nos últimos 6 meses, a eleição será indireta;
• art. 81, § 1º da CF/88: estabelece que se a vacância for nos dois últimos anos, a eleição será indireta.
Desse modo, o art. 224, § 4º do CE reduziu de 2 anos para 6 meses o tempo no qual se exige que a vacância
ocorra para que a eleição seja indireta.
Não se aplica porque no caso de vacância dos cargos de Presidente, Vice-Presidente e Senador, a própria
Constituição Federal já estabelece regras que deverão ser observadas para o seu preenchimento elas são
diferentes do que preconiza o § 4º.
Desse modo, esse critério de 6 meses trazido pelo § 4º do art. 225 do Código Eleitoral não pode ser
aplicado para os casos de Presidente ou Vice-Presidente da República porque há previsão expressa
diferente no art. 81, caput e § 1º da CF/88.
Logo, o § 4º do art. 225 também não pode ser aplicado para a vacância dos cargos de Senador.
E para os cargos de Prefeito e Governador, pode ser aplicado o § 4º do art. 225 do Código Eleitoral?
SIM. É compatível com a Constituição Federal a aplicação do § 4º do art. 225 do CE em relação aos cargos
de Governador e de Prefeito. Isso porque, diferentemente do que faz com o Presidente da República e
com o Senador, o texto constitucional não prevê modo específico de eleição no caso de vacância de
Governador e Prefeito. Logo, no que tange aos Governadores e Prefeitos, não há incompatibilidade do §
4º com nenhum dispositivo da CF/88.
A pergunta que surge é a seguinte: nestes casos, deverá prevalecer a previsão das Constituições
estaduais e leis orgânicas ou o § 4º do art. 225 do Código Eleitoral?
Depende:
• se a vacância tiver razões eleitorais (ex: Governador e Vice perderam o mandato por compra de votos):
aplica-se o art. 225, § 4º do Código Eleitoral.
• se a vacância estiver fundada em razão de causas não eleitorais (ex: Governador e Vice morreram
durante o mandato): aplica-se a regra prevista nas Constituições estaduais (para os Governadores) ou nas
leis orgânicas (para os Prefeitos). Isso porque como se trata de matéria político-administrativa, tais entes
possuem autonomia federativa para legislar.
Resumindo:
A Lei nº 13.165/2015 (minirreforma eleitoral de 2015) inseriu os §§ 3º e 4º ao art. 224 do Código
Eleitoral.
O § 3º prevê que “a decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do
diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em
julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número de votos anulados.”
O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “após o trânsito em julgado” e decidiu que basta a
exigência de decisão final da Justiça Eleitoral. Assim, concluído o processo na Justiça Eleitoral (ex: está
pendente apenas recurso extraordinário), a nova eleição já pode ser realizada mesmo sem trânsito em
julgado.
O § 4º, por sua vez, determina que:
§ 4º A eleição a que se refere o § 3º correrá a expensas da Justiça Eleitoral e será:
I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final do mandato;
II - direta, nos demais casos.
O STF afirmou que esse § 4º deveria receber uma interpretação conforme a Constituição, de modo a
afastar do seu âmbito de incidência as situações de vacância nos cargos de Presidente e Vice-Presidente
da República, bem como no de Senador da República.
Vale ressaltar que a regra do § 4º aplica-se aos cargos de Governador e Prefeito.
STF. Plenário. ADI 5525/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7 e 8/3/2018 (Info 893).
Importante!!!
É constitucional legislação federal que estabeleça novas eleições para os cargos majoritários
simples — isto é, Prefeitos de Municípios com menos de duzentos mil eleitores e Senadores da
República — em casos de vacância por causas eleitorais.
Nas eleições para cargos majoritários simples não se exige 2º turno de votação.
Assim, o § 3º do art. 224 do CE deve sim ser aplicado mesmo em casos de eleições para
Prefeitos de Municípios com menos de 200 mil eleitores e para Senadores, cargos para os quais
não se exige 2º turno de votação.
STF. Plenário. ADI 5619/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7 e 8/3/2018 (Info 893)
Lei nº 13.165/2015
Como vimos acima, a Lei nº 13.165/2015 (minirreforma eleitoral de 2015) acrescentou o § 3º ao art. 224
do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65), com a seguinte redação:
Art. 224 (...)
O STF concordou com a tese do autor da ADI? O § 3º do art. 224 do CE é incompatível com eleições
majoritárias simples (ou seja, eleições majoritárias nas quais não se exige 2º turno)?
NÃO.
É constitucional legislação federal que estabeleça novas eleições para os cargos majoritários simples —
isto é, Prefeitos de Municípios com menos de duzentos mil eleitores e Senadores da República — em
casos de vacância por causas eleitorais.
STF. Plenário. ADI 5619/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7 e 8/3/2018 (Info 893).
Assim, o § 3º do art. 224 do CE deve sim ser aplicado mesmo em casos de eleições para Prefeitos de
Municípios com menos de 200 mil eleitores e para Senadores.
O fato de em tais eleições não haver 2º turno não impede que o legislador imponha a realização de novas
eleições. Trata-se de uma escolha legítima e que está de acordo com o princípio da soberania popular.
Desse modo, o STF adotou uma postura de deferência ao legislador (respeito à opção legítima do legislador).
Vale ressaltar, ainda, que o argumento de que seria mais célere e menos custoso convocar o 2º colocado
não se mostra suficiente para declarar a inconstitucionalidade da previsão. Isso porque a celeridade e a
economicidade cedem espaço ao princípio democrático.
Importante!!!
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é o órgão competente para julgar os Recursos Contra
Expedição de Diploma (RCED) nas eleições presidenciais e gerais (federais e estaduais).
STF. Plenário. ADPF 167/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/3/2018 (Info 893).
Diplomação
Depois que as eleições são realizadas e que são apurados os votos e os eleitos, ocorre um ato na Justiça
Eleitoral chamado de “diplomação”.
A diplomação é o ato pelo qual a Justiça Eleitoral atesta quem são os candidatos eleitos e os respectivos
suplentes.
A diplomação constitui ato decisório do tribunal, ainda que de natureza administrativa. A expedição do
diploma ocorre apenas após a análise dos requisitos para sua concessão ao candidato, bem como ante a
verificação da lisura do pleito.
Os eleitos e suplentes recebem, efetivamente, um diploma entregue em um ato solene realizado pela
Justiça Eleitoral. Veja um exemplo:
Os diplomas são assinados pelo Juiz Eleitoral, pelo Presidente do TRE ou pelo Presidente do TSE, a
depender do caso concreto.
Prazo
O RCED deve ser proposto no prazo de 3 dias, contados a partir da data da sessão de diplomação (art. 258
do CE).
Procedimento
1) Legitimado ativo apresenta o RCED por meio de petição subscrita por advogado.
2) Recebida a petição, o Juiz Eleitoral (no caso de RCED proposto na Junta Eleitoral) ou o Relator do TRE
sorteado (no caso de RCED proposto no TRE) mandará intimar o “recorrido” para ciência do “recurso”,
dando vista dos autos a fim de, no prazo de 3 dias, possa oferecer razões, acompanhadas ou não de novos
documentos.
3) Se o recorrido juntar novos documentos, terá o recorrente vista dos autos por 48 horas para se
manifestar sobre eles.
4) O juiz eleitoral, dentro de 48 horas, fará subir os autos ao Tribunal Regional com a sua resposta e os
documentos em que se fundar.
Competência
• Se o RCED for contra a diplomação de Prefeito, Vice-Prefeito ou Vereador (eleições municipais): a
competência para julgar será do TRE.
• Se o RCED for contra a diplomação de Governador, Vice-Governador, Senador, Deputado Federal,
Deputado Estadual/Distrital (eleições gerais federais e estaduais): a competência para julgar será do TSE.
Vale aqui explicar uma peculiaridade: o RCED é sempre interposto na instância “inferior” a que irá julgá-
lo. Ex: um RCED proposto contra a diplomação de um Prefeito é ajuizado na Junta Eleitoral e, depois que
o Juiz Eleitoral dá vista dos autos para a parte recorrida, ele remete os autos ao TRE para julgamento. De
igual forma, se for proposto um RCED contra diplomação de Governador, isso é ajuizado no TRE, mas
depois será remetido para julgamento pelo TSE.
O sistema estabelecido pelo Código Eleitoral prevê que o julgamento do RCED será feito pelo órgão
jurisdicional hierarquicamente superior àquele que concedeu a diplomação. A exceção fica por conta da
diplomação para Presidente e Vice-Presidente da República. Isso porque o Presidente e o Vice são
diplomados pelo TSE e é o próprio TSE que julga eventual RCED proposto questionando esse ato.
DIREITO PENAL
RACISMO
A incitação de ódio público feita por líder religioso contra
outras religiões pode configurar o crime de racismo
Importante!!!
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não
está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
Assim, é possível, a depender do caso concreto, que um líder religioso seja condenado pelo
crime de racismo (art. 20, §2º, da Lei nº 7.716/81) por ter proferido discursos de ódio público
contra outras denominações religiosas e seus seguidores.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em
6/3/2018 (Info 893).
Atenção. Compare com RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/11/2016 (Info 849).
A defesa de Tiago interpôs uma série de recursos até que o caso chegou ao STF. No Supremo, alegou a
atipicidade da conduta. Segundo a defesa, a condenação ideológica de outras crenças é inerente à prática
religiosa, e se trataria de exercício de uma garantia constitucionalmente assegurada.
Conforme explicou o Min. Dias Toffoli, o Brasil, social e historicamente, orgulha-se de ser um país de
tolerância religiosa, valor que faz parte da construção de nosso estado democrático de direito.
De acordo com o Ministro, existem diversos trechos no discurso do condenado que alimentam o ódio e a
intolerância. Assim, se o Estado não exercer seu papel de pacificar a sociedade, vai se chegar a uma guerra
de religiões. “Ao invés de sermos instrumento de pacificação, vamos aprofundar o que acontece no
mundo”, afirmou o Ministro.
O preâmbulo da Constituição Federal fala na construção de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social. A ação do condenado atua, portanto, contra um importante
valor escolhido como fundamento da República Federativa do Brasil, que é a solidariedade.
A despeito da importância conferida à liberdade de expressão, o próprio texto constitucional determina
que sejam respeitados determinados limites. O art. 220, § 1º, da Constituição diz que nenhuma lei conterá
dispositivo que possa constituir embaraço à liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social, observados determinados incisos do art. 5º, onde estão contidas as limitações.
O direto de pensar, falar e escrever sem censuras ou restrições é o mais precioso privilégio dos cidadãos,
mas esse direito não é absoluto e sofre limitações de natureza ética e jurídica.
Os abusos, quando praticados, legitimam a atuação estatual. “Se assim não fosse, caluniar, injuriar,
difamar ou fazer apologia de fatos criminosos não seriam suscetíveis de punições”, explicou o Min. Celso
de Mello.
O abuso no exercício da liberdade de expressão não pode ser tolerado. Assim, a incitação ao ódio público
não está protegida nem amparada pela cláusula constitucional que assegura liberdade de expressão.
Caso Ellwanger
Os Ministros relembraram ainda o célebre julgamento do “caso Ellwanger” (HC 82424), em setembro de
2003, quando o STF manteve a condenação imposta ao escritor gaúcho Siegfried Ellwanger por crime de
racismo contra os judeus. Veja trechos da ementa:
(...) 1. Escrever, editar, divulgar e comerciar livros "fazendo apologia de idéias preconceituosas e
discriminatórias" contra a comunidade judaica (Lei 7716/89, artigo 20, na redação dada pela Lei 8081/90)
constitui crime de racismo sujeito às cláusulas de inafiançabilidade e imprescritibilidade (CF, artigo 5º,
XLII).
(...)
6. Adesão do Brasil a tratados e acordos multilaterais, que energicamente repudiam quaisquer
discriminações raciais, aí compreendidas as distinções entre os homens por restrições ou preferências
oriundas de raça, cor, credo, descendência ou origem nacional ou étnica, inspiradas na pretensa
superioridade de um povo sobre outro, de que são exemplos a xenofobia, "negrofobia", "islamafobia" e o
anti-semitismo.
(...) 13. Liberdade de expressão. Garantia constitucional que não se tem como absoluta. Limites morais e
jurídicos. O direito à livre expressão não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações de conteúdo
imoral que implicam ilicitude penal.
14. As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica,
observados os limites definidos na própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, § 2º, primeira parte). O
preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o "direito à incitação ao racismo", dado que
um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos
contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica. (...)
STF. Plenário. HC 82424, Relator p/ Acórdão Min. Maurício Corrêa, julgado em 17/09/2003.
Desse modo, em concursos públicos deve-se ficar atento para a redação do enunciado.
DENÚNCIA
Promotor de Justiça que passa a atuar no processo decorrente de desmembramento
oriundo do TJ está livre para alterar a denúncia anteriormente oferecida pelo PGJ
Por que para o TJDFT? Porque três dos acusados (Aylton, Benedito e Roney) eram Deputados Distritais e
eles são julgados pelo TJDFT (segundo previsão da Lei Orgânica do DF).
Chegando no TJDFT, o Desembargador relator deu vista ao Ministério Público e o Procurador-Geral de
Justiça do MPDFT ratificou a denúncia do MPF.
O TJDFT, no entanto, também optou por desmembrar o feito e manteve consigo apenas a denúncia contra
os três Deputados Distritais (Aylton, Benedito e Roney), determinando que o processo de todos os demais
(inclusive Paulo) fosse para a Justiça Estadual de 1ª instância.
Chegando na 1ª instância, foi sorteado um juízo (“vara”) na distribuição.
O juiz da vara sorteada deu vista ao Ministério Público.
O Promotor de Justiça, em vez ratificar a denúncia oferecida pela PGR lá no STJ, optou por apresentar 17
denúncias em substituição à denúncia original do MPF, além de incluir 3 novos corréus na acusação.
Desse modo, é irrelevante que outros membros do Ministério Público com atribuição para atuar em
instância superior, em virtude da análise dos mesmos fatos, tenham, anteriormente, oferecido denúncia
de diferente teor em face do réu, uma vez que, conforme ficou reconhecido pelo STJ e pelo TJDFT, a
competência para o processo criminal era da 1ª instância, de forma que o promotor natural do caso era o
Promotor de Justiça que atua na 1ª instância.
Portanto, o fato de o promotor natural — aquele com atribuição para atuar na 1ª instância — não se
encontrar tecnicamente subordinado e apresentar entendimento jurídico diverso, afasta qualquer
alegação de nulidade decorrente de alteração do teor da peça acusatória oferecida contra o réu Paulo.
Em suma:
PGR ofereceu denúncia contra o réu perante o STJ. Este Tribunal declinou a competência para o TJ. Em
virtude disso, o PGJ ratificou a denúncia. Ocorre que o TJ declinou a competência para o juízo de 1ª
instância.
O Promotor de Justiça que atua na 1ª instância decidiu não ratificar a peça acusatória, oferecendo nova
denúncia incluindo, inclusive, novos réus.
Não há qualquer nulidade neste caso.
É possível o aditamento da denúncia a qualquer tempo antes da sentença final, garantidos o devido
processo legal, a ampla defesa e o contraditório, especialmente quando a inicial ainda não tenha sido
sequer recebida originariamente pelo juízo competente, como ocorreu no caso concreto.
O membro do MP possui total liberdade na formação de seu convencimento (opinio delicti). Assim, a
sua atuação não pode ser restringida ou ficar vinculada às conclusões jurídicas que o outro membro do
MP chegou, mesmo que este atue em uma instância superior. Em outras palavras, o Promotor de Justiça
que passou a ter atribuição para atuar no caso não está vinculado às conclusões do Procurador-Geral de
Justiça que estava anteriormente funcionando no processo.
STF. 1ª Turma. HC 137637/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2018 (Info 893).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) (Cespe – Promotor de Justiça – MPE – RR/2017 – adaptada) Considerando que a liberdade de expressão
é uma importante garantia fundamental protegida pela CF em seu artigo 5.°, inciso IV, julgue o item a
seguir. A liberdade de expressão protege discursos racistas e antissemitas, desde que eles não incitem a
violência, de acordo com entendimento do STF. ( )
2) A liberdade de expressão desfruta de uma posição preferencial no Estado democrático brasileiro, por ser
uma pré-condição para o exercício esclarecido dos demais direitos e liberdades. ( )
3) Em regra, a colisão da liberdade de expressão com os direitos da personalidade deve ser resolvida pela
retificação, pelo direito de resposta ou pela retirada do conteúdo. ( )
4) De acordo com o Código Eleitoral e com a jurisprudência do STF, a decisão da Justiça Eleitoral que importe
o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito
majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições, independentemente do
número de votos anulados. ( )
5) É constitucional legislação federal que estabeleça novas eleições para os cargos majoritários simples —
isto é, Prefeitos de Municípios com menos de duzentos mil eleitores e Senadores da República — em
casos de vacância por causas eleitorais. ( )
6) O STF é o órgão competente para julgar os Recursos Contra Expedição de Diploma (RCED) nas eleições
presidenciais e gerais (federais e estaduais). ( )
7) A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está
protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão. ( )
8) O membro do MP possui total liberdade na formação de seu convencimento (opinio delicti). Assim, a sua
atuação não pode ser restringida ou ficar vinculada às conclusões jurídicas que o outro membro do MP
chegou, mesmo que este atue em uma instância superior. ( )
9) (Procurador do MP junto ao TCE-PB/2014 CESPE) Considerando as normas constitucionais relativas aos
direitos e garantias fundamentais, bem como a jurisprudência do STF, julgue o item a seguir. Apesar do
direito de não ser processado nem sentenciado senão pela autoridade competente, não se admite a
figura do promotor natural, tendo em vista a unidade do MP. ( )
10) (PGE/PA 2011) No HC 82424-2 – “Caso Ellwanger” –, o Supremo Tribunal Federal julgou pedido de
“habeas corpus” em favor de editor de obras que veiculavam ideias supostamente antissemitas. Analise
as proposições abaixo e assinale a alternativa correta:
I. A ordem de “habeas corpus” foi deferida com fundamento, entre outros, no fato de que os livros
publicados não poderiam instigar ou incitar a prática do racismo, dada a baixa repercussão de livros dessa
natureza na sociedade brasileira.
II. A ordem de “habeas corpus” foi deferida após a aplicação da regra da proporcionalidade, na qual a
liberdade de expressão prevaleceu em virtude da inconsistência científica do conceito biológico de raça.
III. A ordem de “habeas corpus” foi deferida após a aplicação da regra da proporcionalidade, na qual o
valor essencial da liberdade de expressão para a participação na vida democrática prevaleceu sobre a
tipificação penal do racismo.
IV. A ordem de “habeas corpus” foi indeferida com fundamento, entre outros, de que o direito à
liberdade de expressão não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações de conteúdo imoral que
implicam em ilicitude penal.
V. A ordem de “habeas corpus” foi indeferida com fundamento, entre outros, na prova científica de que
há diferenças biológicas que caracterizam judeus, negros e índios; e que, por isso, tais raças devem ser
protegidas contra o discurso odioso, sendo o racismo crime imprescritível:
a) Apenas as proposições I, II e III estão corretas.
b) Apenas as proposições II e III estão corretas.
c) Apenas a proposição III está correta.
d) Apenas a proposição IV está correta.
e) Apenas as proposições IV e V estão corretas.
Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. E 5. C 6. E 7. C 8. C 9. E 10. Letra D
No mérito, o Tribunal, também por maioria, julgou o pedido parcialmente procedente, para: a) declarar a
constitucionalidade dos arts. 1º, 6º a 14, 17 a 19, 23, 25, 26, 28 e 29 da LC estadual 107/2003; e do art. 105,
VI, da LC estadual 69/1990, na redação dada pelo art. 15 da LC estadual 107/2003; b) declarar a
inconstitucionalidade dos artigos 5º e parágrafo único, 6º, e 81, “caput”, da LC estadual 69/90-RJ, na redação
dada pelos artigos 2º, 3º e 5º da LC estadual 107/2003-RJ; c) declarar a inconstitucionalidade do art. 105, V
e IX, da LC estadual 69/1990, na redação dada pelo art. 15 da LC estadual 107/2003; d) dar interpretação
conforme a Constituição ao art. 105, VII e VIII, da LC estadual 69/1990, na redação dada pelo art. 15 da LC
estadual 107/2003, no sentido de tornar facultativa a participação dos representantes da OAB/RJ e do CRC/RJ
no Conselho Superior da Fiscalização Tributária; e e) declarar a inconstitucionalidade da expressão “um entre
os membros do Ministério Público e um representante da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção RJ”,
constante do art. 110 da LC estadual 69/1990, na redação dada pelo art. 19 da LC estadual 107/2003.
Vencidos, em parte, os ministros Marco Aurélio (relator), Rosa Weber e Celso de Mello.
ADI 2877/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 8.3.2018.
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe de 5 de março a 9 de março de 2018
conclusão do primeiro ciclo; (II) A redução, após a homologação do resultado das avaliações, do valor da gratificação de desempenho paga aos
inativos e pensionistas não configura ofensa ao princípio da irredutibilidade de vencimentos.
3. Essas diretrizes aplicam-se a todas as gratificações federais de desempenho que exibem perfil normativo semelhante ao da Gratificação
de Desempenho da Carreira da Previdência, da Saúde e do Trabalho (GDPST), discutida nestes autos. A título meramente exemplificativo, citam-se:
Gratificação de Desempenho de Atividade do Seguro Social - GDASS; Gratificação de Desempenho de Atividade de Apoio Técnico-Administrativo à
Polícia Rodoviária Federal – GDATPRF; Gratificação de Desempenho de Atividade Médico-Pericial - GDAMP; Gratificação de Desempenho de
Atividade de Perícia Médica Previdenciária - GDAPMP; Gratificação de Desempenho de Atividade Técnica de Fiscalização Agropecuária – GDATFA;
Gratificação de Efetivo Desempenho em Regulação - GEDR; Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo – GDPGPE;
Gratificação de Desempenho de Atividade Previdenciária - GDAP ; Gratificação de Desempenho de Atividade Técnico-Administrativa - GDATA;
Gratificação de Desempenho de Atividade Fazendária - GDAFAZ.
4. Repercussão geral da matéria reconhecida, nos termos do art. 1.035 do CPC. Jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
reafirmada, nos termos do art. 323-A do Regimento Interno.
Decisão Publicada: 1
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
5 DE MARÇO A 9 DE MARÇO DE 2018
Lei nº 13.632, de 6.3.2018 - Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional), para dispor sobre educação e aprendizagem ao longo da vida. Publicada no DOU, Seção
1, Edição nº 45, p. 1, em 7.3.2018
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br