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Informativo 893-STF
Márcio André Lopes Cavalcante

Processo excluído deste informativo pelo fato de a análise do mérito ainda não ter sido concluída: ARE 996895/SE. Será
comentado assim que chegar ao fim.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 2877/RJ; ADI 1834/SC; ADI 3628/AP; RE 541737/SC; RMS 26575/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
 Cabe reclamação contra decisão judicial que determina retirada de matéria jornalística de site.
 A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode configurar o crime de racismo.

DIREITO ELEITORAL
VACÂNCIA DE CARGOS POLÍTICOS
 Constitucionalidade dos §§ 3º e 4º do art. 224 do Código Eleitoral.
 O § 3º do art. 224 do Código Eleitoral aplica-se também para eleições de Prefeitos de Municípios com menos de 200
mil eleitores e para eleições de Senadores.

DIREITO PENAL
RACISMO
 A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode configurar o crime de racismo.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


DENÚNCIA
 Promotor de Justiça que passa a atuar no processo decorrente de desmembramento oriundo do TJ está livre para
alterar a denúncia anteriormente oferecida pelo PGJ.

DIREITO CONSTITUCIONAL

LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Cabe reclamação contra decisão judicial que determina retirada de matéria jornalística de site

Importante!!!
O STF tem sido mais flexível na admissão de reclamação em matéria de liberdade de
expressão, em razão da persistente vulneração desse direito na cultura brasileira, inclusive
por via judicial.

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


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No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de publicações


jornalísticas, bem como tornou excepcional qualquer tipo de intervenção estatal na
divulgação de notícias e de opiniões.
A liberdade de expressão desfruta de uma posição preferencial no Estado democrático
brasileiro, por ser uma pré-condição para o exercício esclarecido dos demais direitos e
liberdades.
A retirada de matéria de circulação configura censura em qualquer hipótese, o que se admite
apenas em situações extremas.
Assim, em regra, a colisão da liberdade de expressão com os direitos da personalidade deve
ser resolvida pela retificação, pelo direito de resposta ou pela reparação civil.
Diante disso, se uma decisão judicial determina que se retire do site de uma revista
determinada matéria jornalística, esta decisão viola a orientação do STF, cabendo reclamação.
STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/3/2018 (Info 893).

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte:


A revista “VEJA RIO” publicou uma reportagem na sua edição impressa e também no site.
João, mencionado na matéria, sentiu-se ofendido e ajuizou ação pedindo a retirada da reportagem do site,
além de indenização por danos morais.
O juiz da vara cível, com base no art. 20 do Código Civil, concedeu a tutela provisória de urgência
determinando que a empresa jornalística retirasse, de seu sítio eletrônico, a matéria referente ao autor.
Vale ressaltar que, na decisão, o juiz afirma expressamente que não está decidindo com base na Lei de
Imprensa.
Inconformada, a revista apresentou reclamação no STF, alegando que a decisão do juiz teria afrontado o
entendimento do Supremo Tribunal Federal firmado na ADPF 130/DF (DJE de 6.11.2009), que declarou a
não recepção da chamada “Lei de Imprensa” (Lei nº 5.250/1967) pela Constituição Federal de 1988.
Argumenta que a decisão reclamada configura censura à atividade de imprensa, restringe a liberdade de
expressão e afronta o direito de acesso à informação.
Afirma, por fim, que a imposição de censura é desarrazoada, considerando que eventuais danos sofridos
poderão ser compensados por meio de indenização.

A reclamação foi acolhida pelo STF (foi julgada procedente)?


SIM. A 1ª Turma do STF julgou procedente reclamação.

Cabimento de reclamação quando há afronta à liberdade de imprensa


Em regra, o STF é muito restritivo em aceitar reclamações propostas contra decisões que teriam
desrespeitado acórdãos da Corte.
Essa posição do STF está dentro daquilo que se chama de “jurisprudência defensiva”, ou seja, uma postura
interpretativa dos Tribunais Superiores de restringir o cabimento de recursos e de ações autônomas (como
é o caso da reclamação), com o objetivo de reduzir a quantidade de processos que chegam aos Tribunais.
Assim, os Ministros do STF e do STJ adotam um “rigor” maior na análise dos aspectos formais a fim de
limitar os casos que chegam para análise dos Tribunais.
Um exemplo de “jurisprudência defensiva” é a interpretação consolidada no STF no sentido de que não se
deve adotar a teoria da transcendência dos motivos determinantes. Pela teoria da transcendência dos
motivos determinantes (efeitos irradiantes dos motivos determinantes), a ratio decidendi, ou seja, os
fundamentos determinantes da decisão do STF também teriam efeito vinculante.
Ocorre que, como já dito, o Supremo não acolhe esta posição e entende que, em regra, as decisões
proferidas pelo STF em controle abstrato de constitucionalidade devem ter eficácia vinculante apenas
quanto à parte dispositiva do julgado. Assim, em regra, não se admite reclamação sob a alegação de que
houve violação dos fundamentos da decisão do STF. Nesse sentido:

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(...) a exegese jurisprudencial conferida ao art. 102, I, “l”, da Magna Carta rechaça o cabimento de
reclamação fundada na tese da transcendência dos motivos determinantes. (...)
STF. 1ª Turma. Rcl 22470 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 24/11/2017.

Como explica o Min. Roberto Barroso, essa recusa em se admitir a transcendência dos motivos
determinantes representa “uma jurisprudência defensiva, destinada a conter a multiplicação de
reclamações, em número que ultrapassaria a capacidade física de julgamento dos ministros”.

Essa linha restritiva, no entanto, tem sido excepcionada em processos relacionados com a liberdade de
expressão ou liberdade de imprensa. Nesses casos, o STF tem proferido inúmeras decisões admitido
reclamações mesmo que a decisão reclamada não esteja baseada no mesmo ato declarado
inconstitucional em sede concentrada.
A justificativa para essa postura mais ampla está no fato de que “a liberdade de expressão ainda não se
tornou uma ideia suficientemente enraizada na cultura do Poder Judiciário de uma maneira geral. Não
sem sobressalto, assiste-se à rotineira providência de juízes e tribunais no sentido de proibirem ou
suspenderem a divulgação de notícias e opiniões, num “ativismo antiliberal” que precisa ser contido.”
(Min. Roberto Barroso).
Em suma, o STF possui uma posição menos rigorosa ao analisar reclamações envolvendo decisões que
violem a liberdade de expressão. Por essa razão, é cabível reclamação contra decisão judicial que
determina a retirada de matéria jornalística da página eletrônica do meio de comunicação mesmo que
esta decisão esteja supostamente baseada no art. 20 do Código Civil, e não na Lei de Imprensa.

A solução de conflitos entre liberdade de imprensa e direitos da personalidade


A censura consiste na possibilidade de o Estado interferir no conteúdo da manifestação do pensamento.
A censura é proibida pela CF/88 em diversos dispositivos (art. 5º, IV, IX e XIV, bem como art. 220, §§ 1º e 2º).
Diante da existência de diversos dispositivos assegurando a liberdade de expressão, podemos dizer que a
Carta de 88 conferiu uma espécie de “prioridade” para essa garantia.
Assim, embora não haja hierarquia entre direitos fundamentais, a liberdade de expressão (aqui entendida
em sentindo amplo) possui uma posição preferencial (preferred position) em relação aos demais direitos.
Isso significa que o afastamento da liberdade de expressão é excepcional, e o ônus argumentativo é de
quem sustenta o direito oposto.
Como consequência disso, deve-se fazer uma análise muito rigorosa, criteriosa e excepcional de toda e
qualquer medida que tenha por objetivo restringir a liberdade de expressão.

Razões pelas quais a liberdade de expressão ocupa lugar privilegiado


O Min. Roberto Barroso cita 5 motivos principais pelos quais a liberdade de expressão ocupa um lugar
privilegiado tanto no ordenamento jurídico interno como nos documentos internacionais. São eles:
a) a liberdade de expressão desempenha uma função essencial para a democracia, ao assegurar um livre
fluxo de informações e a formação de um debate público robusto e irrestrito, condições essenciais para a
tomada de decisões da coletividade e para o autogoverno democrático;
b) a proteção da liberdade de expressão está relacionada com a própria dignidade humana, ao permitir
que indivíduos possam exprimir de forma desinibida suas ideias, preferências e visões de mundo, bem
como terem acesso às dos demais indivíduos, fatores essenciais ao desenvolvimento da personalidade, à
autonomia e à realização existencial;
c) este direito está diretamente ligado à busca da verdade. Isso porque as ideias só possam ser
consideradas ruins ou incorretas após o confronto com outras ideias;
d) a liberdade de expressão possui uma função instrumental indispensável ao gozo de outros direitos
fundamentais, como o de participar do debate público, o de reunir-se, de associar-se, e o de exercer
direitos políticos, dentre outros; e

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e) a liberdade de expressão é garantia essencial para a preservação da cultura e da história da sociedade,


por se tratar de condição para a criação e o avanço do conhecimento e para a formação e preservação do
patrimônio cultural de uma nação.

Liberdade de expressão não é absoluta


Vale ressaltar, contudo, que nenhum direito constitucional é absoluto e, portanto, a liberdade de
expressão também não é.
A própria Constituição impõe alguns limites ou qualificações à liberdade de expressão, como por exemplo:
a) vedação do anonimato (art. 5º, IV);
b) direito de resposta (art. 5º, V);
c) restrições à propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos e terapias (art. 220, § 4º);
d) classificação indicativa (art. 21, XVI); e
e) dever de respeitar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (art. 5º, X).

Isso significa que é indispensável que haja uma ponderação entre a liberdade de expressão e os direitos
da personalidade.

Direitos da personalidade
Direitos da personalidade é uma expressão de uso relativamente recente no direito brasileiro, tendo sido
desenvolvida pela doutrina contemporânea até ingressar no Código Civil, que abriu para o tema um
capítulo específico, logo no Título I.
O Min. Barroso afirma que “é possível conceituar os direitos da personalidade, inerentes a toda pessoa
humana, como a versão privada dos direitos fundamentais, e sua aplicação às relações com outros
indivíduos como regra geral”.
Os direitos da personalidade costumam ser divididos pela doutrina civilista em dois grandes grupos:
a) direitos à integridade física, que englobam o direito à vida, o direito ao próprio corpo e o direito ao
cadáver; e
b) direitos à integridade moral, rubrica sob a qual se abrigam, entre outros, os já mencionados direitos à
honra, à imagem, à privacidade e o direito moral do autor.

Ponderação entre liberdade de expressão e os direitos da personalidade


Tanto a liberdade de expressão como os direitos de privacidade, honra e imagem têm estatura
constitucional. Vale dizer: entre eles não há hierarquia. De modo que não é possível estabelecer, em
abstrato, qual deve prevalecer.
Em caso de conflito entre normas dessa natureza, impõe-se a necessidade de ponderação, que, como se
sabe, é uma técnica de decisão que se desenvolve em três etapas:
1) na primeira, verificam-se as normas que postulam incidência ao caso;
2) na segunda, selecionam-se os fatos relevantes;
3) e, por fim, testam-se as soluções possíveis para verificar, em concreto, qual delas melhor realiza av
vontade constitucional.

Em um cenário ideal, a ponderação deve procurar fazer concessões recíprocas, preservando o máximo
possível dos direitos em disputa. No limite, porém, fazem-se escolhas. Todo esse processo intelectual tem
como fio condutor o princípio instrumental da proporcionalidade ou razoabilidade.

Critérios para a ponderação entre a liberdade de expressão e os direitos da personalidade


O Min. Roberto Barroso defende a aplicação de 8 critérios ou elementos a serem considerados na
ponderação entre a liberdade de expressão e os direitos da personalidade. São eles:

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a) veracidade do fato: a notícia divulgada dever ser verdadeira. Isso porque a informação que goza de
proteção constitucional é a verdadeira. A divulgação deliberada de uma notícia falsa, em detrimento de
outrem, não constitui direito fundamental do emissor. Os veículos de comunicação têm o dever de apurar,
com boa-fé e dentro de critérios de razoabilidade, a correção do fato ao qual darão publicidade. É bem de
ver, no entanto, que não se trata de uma verdade objetiva, mas subjetiva, subordinada a um juízo de
plausibilidade e ao ponto de observação de quem a divulga. Para haver responsabilidade, é necessário
haver clara negligência na apuração do fato ou dolo na difusão da falsidade.

b) licitude do meio empregado na obtenção da informação: o conhecimento acerca do fato que se


pretende divulgar tem de ter sido obtido por meios admitidos pelo direito. A Constituição, da mesma
forma que veda a utilização, em juízo, de provas obtidas por meios ilícitos, também proíbe a divulgação
de notícias às quais se teve acesso mediante cometimento de um crime. Se o jornalista ou alguém
empreitado pelo veículo de comunicação realizou, por exemplo, uma interceptação telefônica clandestina,
invadiu domicílio, violou o segredo de justiça em um processo de família ou obteve uma informação
mediante tortura ou grave ameaça, sua divulgação, em princípio, não será legítima. Note-se ainda que a
circunstância de a informação estar disponível em arquivos públicos ou poder ser obtida por meios
regulares e lícitos torna-a pública e, portanto, presume-se que a divulgação desse tipo de informação não
afeta a intimidade, a vida privada, a honra ou a imagem dos envolvidos.

c) personalidade pública ou privada da pessoa objeto da notícia: a depender se a pessoa for uma
personalidade pública ou privada, o grau de exposição é maior ou menor.

d) local do fato: deve-se analisar também se os locais dos fatos narrados são reservados ou protegidos
pelo direito à intimidade.

e) natureza do fato: deve-se analisar se os fatos divulgados possuem caráter sigiloso ou se estão
relacionados com a intimidade da pessoa.

f) existência de interesse público na divulgação em tese: presume-se, como regra geral, o interesse público
na divulgação de qualquer fato verdadeiro.

g) existência de interesse público na divulgação de fatos relacionados com a atuação de órgãos públicos.

h) preferência por sanções a posteriori, que não envolvam a proibição prévia da divulgação: o uso abusivo
da liberdade de expressão pode ser reparado por mecanismos diversos, que incluem a retificação, a
retratação, o direito de resposta, a responsabilização civil ou penal e a proibição da divulgação. Somente
em hipóteses extremas se deverá utilizar a última possibilidade. Nas questões envolvendo honra e
imagem, por exemplo, como regra geral será possível obter reparação satisfatória após a divulgação, pelo
desmentido – por retificação, retratação ou direito de resposta – e por eventual reparação do dano,
quando seja o caso.

Resumindo:
O STF tem sido mais flexível na admissão de reclamação em matéria de liberdade de expressão, em
razão da persistente vulneração desse direito na cultura brasileira, inclusive por via judicial.
No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de publicações jornalísticas, bem
como tornou excepcional qualquer tipo de intervenção estatal na divulgação de notícias e de opiniões.
A retirada de matéria de circulação configura censura em qualquer hipótese, o que se admite apenas
em situações extremas.

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Assim, em regra, a colisão da liberdade de expressão com os direitos da personalidade deve ser resolvida
pela retificação, pelo direito de resposta ou pela reparação civil.
Diante disso, se uma decisão judicial determina que se retire do site de uma revista determinada
matéria jornalística, esta decisão viola a orientação do STF, cabendo reclamação.
STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/3/2018 (Info 893).

LIBERDADE DE EXPRESSÃO
A incitação de ódio público feita por líder religioso contra
outras religiões pode configurar o crime de racismo

Importante!!!
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não
está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em
6/3/2018 (Info 893).
Atenção. Compare com RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/11/2016 (Info 849).

Veja comentários em Direito Penal.

DIREITO ELEITORAL

VACÂNCIA DE CARGOS POLÍTICOS


Constitucionalidade dos §§ 3º e 4º do art. 224 do Código Eleitoral

Importante!!!
A Lei nº 13.165/2015 (minirreforma eleitoral de 2015) inseriu os §§ 3º e 4º ao art. 224 do
Código Eleitoral.
O § 3º prevê que “a decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a
cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário
acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições, independentemente do
número de votos anulados.”
O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “após o trânsito em julgado” e decidiu
que basta a exigência de decisão final da Justiça Eleitoral. Assim, concluído o processo na
Justiça Eleitoral (ex: está pendente apenas recurso extraordinário), a nova eleição já pode ser
realizada mesmo sem trânsito em julgado.
O § 4º, por sua vez, determina que:
§ 4º A eleição a que se refere o § 3º correrá a expensas da Justiça Eleitoral e será:
I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final do mandato;
II - direta, nos demais casos.

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O STF afirmou que esse § 4º deveria receber uma interpretação conforme a Constituição, de
modo a afastar do seu âmbito de incidência as situações de vacância nos cargos de Presidente
e Vice-Presidente da República, bem como no de Senador da República.
Vale ressaltar que a regra do § 4º aplica-se aos cargos de Governador e Prefeito.
STF. Plenário. ADI 5525/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7 e 8/3/2018 (Info 893).

Lei nº 13.165/2015
A Lei nº 13.165/2015 (conhecida como minirreforma eleitoral de 2015) alterou diversos dispositivos da
legislação eleitoral.
Dentre as mudanças promovidas, vale destacar que a Lei nº 13.165/2015 acrescentou os §§ 3º e 4º ao art.
224 do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65).
Veja os dispositivos incluídos:
Art. 224 (...)
§ 3º A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma
ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em
julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número de votos anulados.
§ 4º A eleição a que se refere o § 3º correrá a expensas da Justiça Eleitoral e será:
I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final do mandato;
II - direta, nos demais casos.

Desse modo, o § 3º prevê que a decisão da Justiça Eleitoral que importe:


• o indeferimento do registro,
• a cassação do diploma ou
• a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário
... acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número de
votos anulados.

Vale ressaltar que, para o STF, o legislador federal pode estabelecer causas eleitorais, ou seja, relacionadas
a ilícitos associados ao processo eleitoral, que possam levar à vacância do cargo.

Segundo o § 4º, essa eleição será:


1) INDIRETA (feita pelo parlamento): se a vacância do cargo ocorrer a menos de 6 meses do final do
mandato (está faltando menos de 6 meses, não “vale a pena” fazer eleição direta);
2) DIRETA (com voto universal de todos os eleitores): se quando ocorreu a vacância ainda havia mais de 6
meses de mandato. Então, se ainda não tiver passado mais que 3 anos e 6 meses, a eleição será direta.

ADI e § 3º do art. 224


A Procuradoria-Geral da República ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra estes dois
parágrafos incluídos pela Lei 13.165/2015.
Quanto ao § 3º, a alegação da PGR foi a de que a exigência de trânsito em julgado para a realização de
novas eleições seria uma espera “exagerada e desproporcional, em face da gravidade das condutas que
autorizam cassação de diploma e de mandato”.
O autor da ADI defendia a seguinte tese: se o TSE já tiver julgado todos os recursos sobre o tema e somente
se estiver aguardando eventual recurso extraordinário interposto contra a decisão, então, neste caso,
deve-se autorizar a realização de novas eleições. Isso porque o recurso extraordinário não tem efeito
suspensivo. Logo, não deveria impedir a realização de novas eleições. Em outras palavras, a PGR queria
que o STF julgasse inconstitucional a expressão “após o trânsito em julgado” prevista no § 3º do art. 224

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do Código Eleitoral e que o Tribunal fixasse a interpretação de que basta o encerramento da tramitação
do processo na Justiça Eleitoral.

ADI e § 4º do art. 224


A PGR alegou que a previsão do § 4º do art. 224 do Código Eleitoral viola o art. 81, caput e § 1º da CF/88:
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa
dias depois de aberta a última vaga.
§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos
os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.

• art. 224, § 4º do CE: prevê que se a vacância for nos últimos 6 meses, a eleição será indireta;
• art. 81, § 1º da CF/88: estabelece que se a vacância for nos dois últimos anos, a eleição será indireta.

Desse modo, o art. 224, § 4º do CE reduziu de 2 anos para 6 meses o tempo no qual se exige que a vacância
ocorra para que a eleição seja indireta.

O que o STF decidiu quanto ao § 3º?


O STF concordou com a PGR e declarou a inconstitucionalidade da locução “após o trânsito em julgado”,
prevista no § 3º do art. 224 do Código Eleitoral.
O STF entendeu que a exigência do trânsito em julgado para a perda do mandato contraria o princípio
democrático e o princípio da soberania popular.
Normalmente o candidato eleito que é condenado pela Justiça Eleitoral interpõe sucessivos recursos. Se
as novas eleições somente pudessem ser realizadas após o julgamento de todos esses recursos, é muito
provável que o mandato de 4 anos do Prefeito, do Governador ou do Presidente se encerrasse sem que
esse novo pleito fosse realizado.
Além disso, mesmo se o condenado é afastado cautelarmente do cargo enquanto se aguarda o trânsito
em julgado, se não há novas eleições, quem assume temporariamente é o Presidente do Poder Legislativo.
Ex: Prefeito é condenado à perda do mandato; suponhamos que a Justiça Eleitoral o afaste mesmo
havendo ainda recurso pendente; pela regra do § 3º, não seria possível a realização de nova eleição para
o cargo enquanto não houvesse o trânsito em julgado; isso significa que o Presidente da Câmara Municipal
ficaria na função de Prefeito durante meses ou até mesmo anos aguardando o trânsito em julgado sem
tenha sido eleito para isso. Tal situação representaria violação ao princípio democrático e ao princípio da
soberania popular, porque permitiria que alguém que não foi eleito exercesse o cargo majoritário por
largo período.
Dessa forma, o STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “após o trânsito em julgado” e decidiu
que basta a exigência de decisão final da Justiça Eleitoral. Assim, concluído o processo na Justiça Eleitoral
(ex: está pendente apenas recurso extraordinário), a nova eleição já pode ser realizada mesmo sem
trânsito em julgado.

O que o STF decidiu quanto ao § 4º?


O STF afirmou que esse dispositivo deveria receber uma interpretação conforme a Constituição, de modo
a afastar do seu âmbito de incidência as situações de vacância nos cargos de Presidente e Vice-Presidente
da República, bem como no de Senador da República.
Em outras palavras, o § 4º é válido, mas ele não se aplica para os cargos de:
• Presidente e Vice-Presidente da República; e
• Senador.

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Não se aplica porque no caso de vacância dos cargos de Presidente, Vice-Presidente e Senador, a própria
Constituição Federal já estabelece regras que deverão ser observadas para o seu preenchimento elas são
diferentes do que preconiza o § 4º.

Regras da CF/88 para a vacância dos cargos de Presidente e Vice-Presidente


A CF/88 prevê que, se vagarem os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, deverá ser
realizada uma nova eleição 90 dias depois.
Essa eleição será:
• direta: se a vacância ocorrer nos primeiros dois anos do mandato;
• indireta (pelo Congresso Nacional): se a vacância ocorrer nos últimos dois anos do mandato.

Desse modo, esse critério de 6 meses trazido pelo § 4º do art. 225 do Código Eleitoral não pode ser
aplicado para os casos de Presidente ou Vice-Presidente da República porque há previsão expressa
diferente no art. 81, caput e § 1º da CF/88.

Regras da CF/88 para a vacância do cargo de Senador


No caso de Senador, também há uma previsão expressa no art. 56, § 2º da CF/88:
Art. 56 (...)
§ 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem mais
de quinze meses para o término do mandato.

Logo, o § 4º do art. 225 também não pode ser aplicado para a vacância dos cargos de Senador.

E para os cargos de Prefeito e Governador, pode ser aplicado o § 4º do art. 225 do Código Eleitoral?
SIM. É compatível com a Constituição Federal a aplicação do § 4º do art. 225 do CE em relação aos cargos
de Governador e de Prefeito. Isso porque, diferentemente do que faz com o Presidente da República e
com o Senador, o texto constitucional não prevê modo específico de eleição no caso de vacância de
Governador e Prefeito. Logo, no que tange aos Governadores e Prefeitos, não há incompatibilidade do §
4º com nenhum dispositivo da CF/88.

Previsões das Constituições estaduais e leis orgânicas


Algumas Constituições estaduais e leis orgânicas de Municípios repetem, para os Governadores e Prefeitos
a mesma regra do art. 81, caput e § 1º da CF/88. Veja o exemplo da Constituição do Estado de Minas Gerais:
Art. 87. No caso de impedimento do Governador e do Vice-Governador do Estado ou no de
vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício do Governo o
Presidente da Assembleia Legislativa e o do Tribunal de Justiça.
§ 1º – Vagando os cargos de Governador e Vice-Governador do Estado, far-se-á eleição noventa
dias depois de aberta a última vaga.
§ 2º – Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do mandato governamental, a eleição para
ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pela Assembleia Legislativa, na forma
de lei complementar.
(...)

A pergunta que surge é a seguinte: nestes casos, deverá prevalecer a previsão das Constituições
estaduais e leis orgânicas ou o § 4º do art. 225 do Código Eleitoral?
Depende:
• se a vacância tiver razões eleitorais (ex: Governador e Vice perderam o mandato por compra de votos):
aplica-se o art. 225, § 4º do Código Eleitoral.

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• se a vacância estiver fundada em razão de causas não eleitorais (ex: Governador e Vice morreram
durante o mandato): aplica-se a regra prevista nas Constituições estaduais (para os Governadores) ou nas
leis orgânicas (para os Prefeitos). Isso porque como se trata de matéria político-administrativa, tais entes
possuem autonomia federativa para legislar.

Resumindo:
A Lei nº 13.165/2015 (minirreforma eleitoral de 2015) inseriu os §§ 3º e 4º ao art. 224 do Código
Eleitoral.
O § 3º prevê que “a decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do
diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em
julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número de votos anulados.”
O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “após o trânsito em julgado” e decidiu que basta a
exigência de decisão final da Justiça Eleitoral. Assim, concluído o processo na Justiça Eleitoral (ex: está
pendente apenas recurso extraordinário), a nova eleição já pode ser realizada mesmo sem trânsito em
julgado.
O § 4º, por sua vez, determina que:
§ 4º A eleição a que se refere o § 3º correrá a expensas da Justiça Eleitoral e será:
I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final do mandato;
II - direta, nos demais casos.
O STF afirmou que esse § 4º deveria receber uma interpretação conforme a Constituição, de modo a
afastar do seu âmbito de incidência as situações de vacância nos cargos de Presidente e Vice-Presidente
da República, bem como no de Senador da República.
Vale ressaltar que a regra do § 4º aplica-se aos cargos de Governador e Prefeito.
STF. Plenário. ADI 5525/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7 e 8/3/2018 (Info 893).

VACÂNCIA DE CARGOS POLÍTICOS


O § 3º do art. 224 do Código Eleitoral aplica-se também para eleições de Prefeitos
de Municípios com menos de 200 mil eleitores e para eleições de Senadores

Importante!!!
É constitucional legislação federal que estabeleça novas eleições para os cargos majoritários
simples — isto é, Prefeitos de Municípios com menos de duzentos mil eleitores e Senadores da
República — em casos de vacância por causas eleitorais.
Nas eleições para cargos majoritários simples não se exige 2º turno de votação.
Assim, o § 3º do art. 224 do CE deve sim ser aplicado mesmo em casos de eleições para
Prefeitos de Municípios com menos de 200 mil eleitores e para Senadores, cargos para os quais
não se exige 2º turno de votação.
STF. Plenário. ADI 5619/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7 e 8/3/2018 (Info 893)

Lei nº 13.165/2015
Como vimos acima, a Lei nº 13.165/2015 (minirreforma eleitoral de 2015) acrescentou o § 3º ao art. 224
do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65), com a seguinte redação:
Art. 224 (...)

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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§ 3º A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma


ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em
julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número de votos anulados.

Desse modo, o § 3º prevê que a decisão da Justiça Eleitoral que importe:


• o indeferimento do registro,
• a cassação do diploma ou
• a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário
... acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número de
votos anulados.

ADI proposta contra o § 3º do art. 224


O Partido Social Democrático (PSD) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra este § 3º do art. 224.
O autor alegou que a anulação de pleitos majoritários em decorrência de indeferimento de registro,
cassação de diploma ou perda de mandato de candidato eleito, independentemente do número de votos
anulados, apenas deveria incidir em eleições para as quais a Constituição Federal exija maioria absoluta
dos votos válidos.
Assim, seria inconstitucional aplicar este § 3º a eleições para cargos de Senador e de Prefeito de município
com menos de 200 mil eleitores. Isso porque nesses dois casos (Senador e Prefeito de cidade com menos
de 200 mil eleitores) não há segundo turno de votação e a investidura depende apenas de obtenção de
maioria simples (art. 29, II e art. 46).
O partido alegava que o indeferimento de registro, cassação de diploma ou perda de mandato de candidato
eleito em tais pleitos deveria acarretar atribuição da vaga ao próximo mais votado, não sendo necessário
fazer outra eleição. Desse modo, segundo a tese do requerente, se o Prefeito de um Município com menos
de 200 mil eleitores perdesse o mandato por compra de votos, por exemplo, a solução correta não seria
realizar novas eleições (§ 3º do art. 224), mas sim determinar que o 2º colocado assumisse a vaga.

O STF concordou com a tese do autor da ADI? O § 3º do art. 224 do CE é incompatível com eleições
majoritárias simples (ou seja, eleições majoritárias nas quais não se exige 2º turno)?
NÃO.
É constitucional legislação federal que estabeleça novas eleições para os cargos majoritários simples —
isto é, Prefeitos de Municípios com menos de duzentos mil eleitores e Senadores da República — em
casos de vacância por causas eleitorais.
STF. Plenário. ADI 5619/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7 e 8/3/2018 (Info 893).

Assim, o § 3º do art. 224 do CE deve sim ser aplicado mesmo em casos de eleições para Prefeitos de
Municípios com menos de 200 mil eleitores e para Senadores.
O fato de em tais eleições não haver 2º turno não impede que o legislador imponha a realização de novas
eleições. Trata-se de uma escolha legítima e que está de acordo com o princípio da soberania popular.
Desse modo, o STF adotou uma postura de deferência ao legislador (respeito à opção legítima do legislador).
Vale ressaltar, ainda, que o argumento de que seria mais célere e menos custoso convocar o 2º colocado
não se mostra suficiente para declarar a inconstitucionalidade da previsão. Isso porque a celeridade e a
economicidade cedem espaço ao princípio democrático.

Cuidado para não confundir


Conforme decidido na ADI 5525/DF, o § 4º do art. 224 do Código Eleitoral não se aplica para o cargo de
Senador. Assim, para Senador, incide o § 3º, mas não o § 4º do art. 224 do Código Eleitoral.

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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RECURSO CONTRA A EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA


Compete ao TSE julgar RCED envolvendo Presidente ou Vice-Presidente da República

Importante!!!
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é o órgão competente para julgar os Recursos Contra
Expedição de Diploma (RCED) nas eleições presidenciais e gerais (federais e estaduais).
STF. Plenário. ADPF 167/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/3/2018 (Info 893).

Diplomação
Depois que as eleições são realizadas e que são apurados os votos e os eleitos, ocorre um ato na Justiça
Eleitoral chamado de “diplomação”.
A diplomação é o ato pelo qual a Justiça Eleitoral atesta quem são os candidatos eleitos e os respectivos
suplentes.
A diplomação constitui ato decisório do tribunal, ainda que de natureza administrativa. A expedição do
diploma ocorre apenas após a análise dos requisitos para sua concessão ao candidato, bem como ante a
verificação da lisura do pleito.
Os eleitos e suplentes recebem, efetivamente, um diploma entregue em um ato solene realizado pela
Justiça Eleitoral. Veja um exemplo:

Assim determina o Código Eleitoral:


Art. 215. Os candidatos eleitos, assim como os suplentes, receberão diploma assinado pelo
Presidente do Tribunal Regional ou da Junta Eleitoral, conforme o caso.
Parágrafo único. Do diploma deverá constar o nome do candidato, a indicação da legenda sob a
qual concorreu, o cargo para o qual foi eleito ou a sua classificação como suplente, e,
facultativamente, outros dados a critério do juiz ou do Tribunal.

A diplomação é considerada como a última fase do processo eleitoral.

De quem é a competência para realizar o ato de diplomação?


• Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores: são diplomados pela Junta Eleitoral (Juiz Eleitoral).
• Governador, Vice-Governador, Senadores, Deputados Federais e Estaduais: diplomados pelo TRE.
• Presidente da República e Vice-Presidente da República: diplomados pelo TSE.

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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Os diplomas são assinados pelo Juiz Eleitoral, pelo Presidente do TRE ou pelo Presidente do TSE, a
depender do caso concreto.

Recurso contra a diplomação (RCED)


Mesmo depois da diplomação, é possível que esse ato seja impugnado por meio de um instrumento
processual chamado “recurso contra a expedição do diploma”, estando previsto no art. 262 do Código
Eleitoral nos seguintes termos:
Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos casos de inelegibilidade
superveniente ou de natureza constitucional e de falta de condição de elegibilidade.

Por meio do RCED, objetiva-se a cassação ou denegação do diploma em caso de:


a) inelegibilidade de cunho infraconstitucional superveniente ao requerimento de registro da candidatura;
b) inelegibilidade de natureza constitucional ou
c) ausência de condições de elegibilidade.

Natureza jurídica de “ação”


Apesar do nome, o recurso contra a expedição de diploma não tem natureza jurídica de “recurso”, sendo
uma ação autônoma. Logo, o instrumento previsto no art. 262 do Código Eleitoral consiste em uma ação
proposta contra o ato de diplomação da Justiça Eleitoral.
Esse nome existe porque o RCED foi originariamente concebido para ser um “recurso administrativo”, mas
com o passar do tempo e com a evolução jurisprudencial, entendeu-se que se trata na verdade de uma
ação autônoma, dando origem a um processo de cunho jurisdicional.

Legitimidade ativa. Quem pode propor o RCED?


Podem propor RCED:
a) os candidatos;
b) os partidos políticos;
c) as coligações;
d) o Ministério Público eleitoral.

Legitimidade passiva. Contra quem é proposto o RCED?


Contra o candidato eleito diplomado e que possui algum dos vícios previstos no art. 262 do CE.
Além disso, deverão também figurar na lide, como litisconsortes passivos necessários:
• o vice (no caso de eleições para a chefia do Poder Executivo);
• o suplente (no caso de eleições para Senador) e

O partido político não precisa figurar no polo passivo.

Prazo
O RCED deve ser proposto no prazo de 3 dias, contados a partir da data da sessão de diplomação (art. 258
do CE).

Procedimento
1) Legitimado ativo apresenta o RCED por meio de petição subscrita por advogado.
2) Recebida a petição, o Juiz Eleitoral (no caso de RCED proposto na Junta Eleitoral) ou o Relator do TRE
sorteado (no caso de RCED proposto no TRE) mandará intimar o “recorrido” para ciência do “recurso”,
dando vista dos autos a fim de, no prazo de 3 dias, possa oferecer razões, acompanhadas ou não de novos
documentos.

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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3) Se o recorrido juntar novos documentos, terá o recorrente vista dos autos por 48 horas para se
manifestar sobre eles.
4) O juiz eleitoral, dentro de 48 horas, fará subir os autos ao Tribunal Regional com a sua resposta e os
documentos em que se fundar.

Competência
• Se o RCED for contra a diplomação de Prefeito, Vice-Prefeito ou Vereador (eleições municipais): a
competência para julgar será do TRE.
• Se o RCED for contra a diplomação de Governador, Vice-Governador, Senador, Deputado Federal,
Deputado Estadual/Distrital (eleições gerais federais e estaduais): a competência para julgar será do TSE.

Vale aqui explicar uma peculiaridade: o RCED é sempre interposto na instância “inferior” a que irá julgá-
lo. Ex: um RCED proposto contra a diplomação de um Prefeito é ajuizado na Junta Eleitoral e, depois que
o Juiz Eleitoral dá vista dos autos para a parte recorrida, ele remete os autos ao TRE para julgamento. De
igual forma, se for proposto um RCED contra diplomação de Governador, isso é ajuizado no TRE, mas
depois será remetido para julgamento pelo TSE.

E no caso de RCED proposto contra diplomação de Presidente ou Vice-Presidente da República? De quem


será a competência para julgar RCED em eleições presidenciais?
TSE.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é o órgão competente para julgar os Recursos Contra Expedição de
Diploma (RCED) nas eleições presidenciais e gerais (federais e estaduais).
STF. Plenário. ADPF 167/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/3/2018 (Info 893).

O sistema estabelecido pelo Código Eleitoral prevê que o julgamento do RCED será feito pelo órgão
jurisdicional hierarquicamente superior àquele que concedeu a diplomação. A exceção fica por conta da
diplomação para Presidente e Vice-Presidente da República. Isso porque o Presidente e o Vice são
diplomados pelo TSE e é o próprio TSE que julga eventual RCED proposto questionando esse ato.

DIREITO PENAL

RACISMO
A incitação de ódio público feita por líder religioso contra
outras religiões pode configurar o crime de racismo

Importante!!!
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não
está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
Assim, é possível, a depender do caso concreto, que um líder religioso seja condenado pelo
crime de racismo (art. 20, §2º, da Lei nº 7.716/81) por ter proferido discursos de ódio público
contra outras denominações religiosas e seus seguidores.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em
6/3/2018 (Info 893).
Atenção. Compare com RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/11/2016 (Info 849).

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14


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A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte:


Tiago, pastor de uma determinada igreja evangélica, publicou, em seu blog, vídeos e posts de conteúdo
religioso nos quais ofendeu líderes e seguidores de outras crenças religiosas diversas da sua (católica,
judaica, espírita, islâmica, umbandista etc.), pregando inclusive o fim de algumas delas e imputando fatos
ofensivos aos seus devotos e sacerdotes.
O pastor afirmou, por exemplo, que os seguidores dessas outras crenças “sofrem” e “padecem”, sendo
“estuprados”, “violentados” e “destruídos” por seguirem “caminhos de podridão”.
Utilizou expressões como “religião assassina”, “líderes assassinos”, “prostituta católica”, “prostituta
espiritual” e “pilantragem”.
Tiago vinculou, ainda, de forma pejorativa, tais religiões à adoração ao diabo.
Diante disso, ele foi denunciado e condenado pela prática do crime previsto no art. 20, §2º, da Lei nº
7.716/81:
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
(...)
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de
comunicação social ou publicação de qualquer natureza:
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

A defesa de Tiago interpôs uma série de recursos até que o caso chegou ao STF. No Supremo, alegou a
atipicidade da conduta. Segundo a defesa, a condenação ideológica de outras crenças é inerente à prática
religiosa, e se trataria de exercício de uma garantia constitucionalmente assegurada.

A tese da defesa foi acolhida pelo STF?


NÃO. O STF manteve a condenação e afirmou que:
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está
protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/3/2018
(Info 893).

Conforme explicou o Min. Dias Toffoli, o Brasil, social e historicamente, orgulha-se de ser um país de
tolerância religiosa, valor que faz parte da construção de nosso estado democrático de direito.
De acordo com o Ministro, existem diversos trechos no discurso do condenado que alimentam o ódio e a
intolerância. Assim, se o Estado não exercer seu papel de pacificar a sociedade, vai se chegar a uma guerra
de religiões. “Ao invés de sermos instrumento de pacificação, vamos aprofundar o que acontece no
mundo”, afirmou o Ministro.
O preâmbulo da Constituição Federal fala na construção de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social. A ação do condenado atua, portanto, contra um importante
valor escolhido como fundamento da República Federativa do Brasil, que é a solidariedade.
A despeito da importância conferida à liberdade de expressão, o próprio texto constitucional determina
que sejam respeitados determinados limites. O art. 220, § 1º, da Constituição diz que nenhuma lei conterá
dispositivo que possa constituir embaraço à liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social, observados determinados incisos do art. 5º, onde estão contidas as limitações.
O direto de pensar, falar e escrever sem censuras ou restrições é o mais precioso privilégio dos cidadãos,
mas esse direito não é absoluto e sofre limitações de natureza ética e jurídica.

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15


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Os abusos, quando praticados, legitimam a atuação estatual. “Se assim não fosse, caluniar, injuriar,
difamar ou fazer apologia de fatos criminosos não seriam suscetíveis de punições”, explicou o Min. Celso
de Mello.
O abuso no exercício da liberdade de expressão não pode ser tolerado. Assim, a incitação ao ódio público
não está protegida nem amparada pela cláusula constitucional que assegura liberdade de expressão.

Caso Ellwanger
Os Ministros relembraram ainda o célebre julgamento do “caso Ellwanger” (HC 82424), em setembro de
2003, quando o STF manteve a condenação imposta ao escritor gaúcho Siegfried Ellwanger por crime de
racismo contra os judeus. Veja trechos da ementa:
(...) 1. Escrever, editar, divulgar e comerciar livros "fazendo apologia de idéias preconceituosas e
discriminatórias" contra a comunidade judaica (Lei 7716/89, artigo 20, na redação dada pela Lei 8081/90)
constitui crime de racismo sujeito às cláusulas de inafiançabilidade e imprescritibilidade (CF, artigo 5º,
XLII).
(...)
6. Adesão do Brasil a tratados e acordos multilaterais, que energicamente repudiam quaisquer
discriminações raciais, aí compreendidas as distinções entre os homens por restrições ou preferências
oriundas de raça, cor, credo, descendência ou origem nacional ou étnica, inspiradas na pretensa
superioridade de um povo sobre outro, de que são exemplos a xenofobia, "negrofobia", "islamafobia" e o
anti-semitismo.
(...) 13. Liberdade de expressão. Garantia constitucional que não se tem como absoluta. Limites morais e
jurídicos. O direito à livre expressão não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações de conteúdo
imoral que implicam ilicitude penal.
14. As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica,
observados os limites definidos na própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, § 2º, primeira parte). O
preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o "direito à incitação ao racismo", dado que
um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos
contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica. (...)
STF. Plenário. HC 82424, Relator p/ Acórdão Min. Maurício Corrêa, julgado em 17/09/2003.

Hate speech (discurso de ódio)


O tema acima exposto está ligado ao que a doutrina chama de hate speech (discurso de ódio).
Discurso de ódio (hate speech) são “manifestações de pensamento que ofendam, ameacem ou insultem
determinado grupo de pessoas com base na raça, cor, religião, nacionalidade, orientação sexual,
ancestralidade, deficiência ou outras características próprias.
(...)
No direito norte-americano, prevalece o entendimento de que até o discurso de ódio (hate speech) inclui-
se no âmbito de proteção da liberdade de expressão.” (BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo
Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional. Tomo II. 7ª ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 128).
No Brasil, ao contrário dos EUA, prevalece que o hate speech não é protegido pela ordem constitucional.
Isso porque o direito à liberdade de expressão não é absoluto, podendo a pessoa que proferiu o discurso
de ódio ser punida, inclusive criminalmente, em caso de abuso.
Esse tem sido, por exemplo, o entendimento das bancas examinadoras:
(PGE-RS FUNDATEC 2015) Ao tratar do alcance da liberdade de expressão em relação ao chamado
"discurso do ódio" (“hate speech”), o STF sustentou que o direito à liberdade de expressão é um direito
relativo, objeto de ponderação, à luz dos princípios da dignidade humana, proporcionalidade e
razoabilidade, não podendo acolher a incitação ao ódio racial ou religioso. (certo)

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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Situação deve ser analisada com base no caso concreto


Assim, podemos concluir que é possível a condenação de um líder religioso pelo crime de racismo (art. 20,
§2º, da Lei nº 7.716/81) em caso de discursos de ódio público contra outras denominações religiosas e
seus seguidores.
Vale ressaltar, no entanto, que essa condenação dependerá do caso concreto, ou seja, das palavras que
foram proferidas e da intenção do líder religioso de suprimir ou reduzir a dignidade daquele que é
diferente de si. Desse modo, não é qualquer crítica de um líder religioso a outras religiões que configurará
o crime de racismo.
Nesse sentido, recentemente o STF absolveu um líder religioso dessa imputação por falta de dolo.
Relembre:
Determinado padre escreveu um livro, voltado ao público da Igreja Católica, no qual ele faz críticas ao
espiritismo e a religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé.
O Ministério Público da Bahia ofereceu denúncia contra ele pela prática do art. 20, § 2º da Lei nº 7.716/89
(Lei do racismo).
No caso concreto, o STF entendeu que não houve o crime.
A CF/88 garante o direito à liberdade religiosa. Um dos aspectos da liberdade religiosa é o direito que o
indivíduo possui de não apenas escolher qual religião irá seguir, mas também o de fazer proselitismo
religioso.
Proselitismo religioso significa empreender esforços para convencer outras pessoas a também se
converterem à sua religião.
Desse modo, a prática do proselitismo, ainda que feita por meio de comparações entre as religiões
(dizendo que uma é melhor que a outra) não configura, por si só, crime de racismo.
Só haverá racismo se o discurso dessa religião supostamente superior for de dominação, opressão,
restrição de direitos ou violação da dignidade humana das pessoas integrantes dos demais grupos. Por
outro lado, se essa religião supostamente superior pregar que tem o dever de ajudar os "inferiores" para
que estes alcancem um nível mais alto de bem-estar e de salvação espiritual e, neste caso não haverá
conduta criminosa.
Na situação concreta, o STF entendeu que o réu apenas fez comparações entre as religiões, procurando
demonstrar que a sua deveria prevalecer e que não houve tentativa de subjugar os adeptos do espiritismo.
Pregar um discurso de que as religiões são desiguais e de que uma é inferior à outra não configura, por si,
o elemento típico do art. 20 da Lei nº 7.716/89. Para haver o crime, seria indispensável que tivesse ficado
demonstrado o especial fim de supressão ou redução da dignidade do diferente, elemento que confere
sentido à discriminação que atua como verbo núcleo do tipo.
STF. 1ª Turma. RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/11/2016 (Info 849).

Desse modo, em concursos públicos deve-se ficar atento para a redação do enunciado.

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17


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DIREITO PROCESSUAL PENAL

DENÚNCIA
Promotor de Justiça que passa a atuar no processo decorrente de desmembramento
oriundo do TJ está livre para alterar a denúncia anteriormente oferecida pelo PGJ

Atenção! Ministério Público


A PGR ofereceu denúncia contra Paulo e outros réus perante o STJ. Este Tribunal desmembrou
o feito e ficou com o processo apenas da autoridade com foro no STJ, declinando da
competência para que o TJ julgasse os demais. O PGJ (que atua no TJ) ratificou a denúncia.
Ocorre que o TJ também decidiu desmembrar o feito e ficou com o processo apenas da
autoridade com foro no TJ, declinando da competência para que o juízo de 1ª instância julgasse
os demais corréus. O processo de Paulo, que não tinha foro privativo, foi remetido para a 1ª
instância.
O Promotor de Justiça que atua na 1ª instância decidiu não ratificar a peça acusatória,
oferecendo nova denúncia incluindo, inclusive, novos réus.
A defesa alegou que o Promotor não poderia ter alterado a denúncia. O STF entendeu que o
membro do MP agiu corretamente e que não há qualquer nulidade neste caso.
É possível o aditamento da denúncia a qualquer tempo antes da sentença final, garantidos o
devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, especialmente quando a inicial ainda
não tenha sido sequer recebida originariamente pelo juízo competente, como ocorreu no caso
concreto.
O membro do MP possui total liberdade na formação de seu convencimento (opinio delicti).
Assim, a sua atuação não pode ser restringida ou ficar vinculada às conclusões jurídicas que o
outro membro do MP chegou, mesmo que este atue em uma instância superior. Em outras
palavras, o Promotor de Justiça que passou a ter atribuição para atuar no caso não está
vinculado às conclusões do Procurador-Geral de Justiça que estava anteriormente
funcionando no processo.
Desse modo, é irrelevante que outros membros do Ministério Público com atribuição para
atuar em instância superior, em virtude da análise dos mesmos fatos, tenham, anteriormente,
oferecido denúncia de diferente teor em face do réu, uma vez que, conforme ficou reconhecido
pelo STJ e pelo TJDFT, a competência para o processo criminal era da 1ª instância, de forma
que o promotor natural do caso era o Promotor de Justiça que atua na 1ª instância.
Portanto, o fato de o promotor natural — aquele com atribuição para atuar na 1ª instância —
não se encontrar tecnicamente subordinado e apresentar entendimento jurídico diverso,
afasta qualquer alegação de nulidade decorrente de alteração do teor da peça acusatória
oferecida contra o réu Paulo.
STF. 1ª Turma. HC 137637/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2018 (Info 893).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Paulo foi investigado na denominada “Operação Caixa de Pandora”.
Ao final das investigações, a Procuradoria-Geral da República ofereceu denúncia contra Paulo e outros 36
acusados.
Um dos acusados (Domingos) era Conselheiro do Tribunal de Contas do DF. Em virtude disso, a denúncia
contra todos os réus foi oferecida perante o Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “a”, da CF/88).
O STJ desmembrou os feitos e manteve consigo apenas a denúncia contra Domingos, determinando que
o processo de todos os demais (inclusive Paulo) fosse para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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Por que para o TJDFT? Porque três dos acusados (Aylton, Benedito e Roney) eram Deputados Distritais e
eles são julgados pelo TJDFT (segundo previsão da Lei Orgânica do DF).
Chegando no TJDFT, o Desembargador relator deu vista ao Ministério Público e o Procurador-Geral de
Justiça do MPDFT ratificou a denúncia do MPF.
O TJDFT, no entanto, também optou por desmembrar o feito e manteve consigo apenas a denúncia contra
os três Deputados Distritais (Aylton, Benedito e Roney), determinando que o processo de todos os demais
(inclusive Paulo) fosse para a Justiça Estadual de 1ª instância.
Chegando na 1ª instância, foi sorteado um juízo (“vara”) na distribuição.
O juiz da vara sorteada deu vista ao Ministério Público.
O Promotor de Justiça, em vez ratificar a denúncia oferecida pela PGR lá no STJ, optou por apresentar 17
denúncias em substituição à denúncia original do MPF, além de incluir 3 novos corréus na acusação.

Alegação de nulidade do desmembramento


A defesa de Paulo suscitou a nulidade do desmembramento da denúncia original.
Afirmou que o Promotor de Justiça não poderia ter feito a cisão de uma denúncia única, inicialmente,
oferecida pelo Ministério Público Federal e, posteriormente, ratificada pela Procuradoria-Geral de Justiça.
O chefe do Ministério Público do DF (Procurador-Geral de Justiça), ao ratificar a denúncia perante o TJDFT,
reconheceu que se tratava de denúncia válida. Assim, sustentou que a denúncia só tem uma oportunidade
para ser oferecida. Não pode ser retificada, alterada ou reelaborada em desconformidade com a lei e em
clara violação ao contraditório e ao devido processo legal, como se fosse uma peça processual disponível,
de interesse exclusivo do órgão acusatório.

O STF concordou com a defesa? Houve nulidade neste caso?


NÃO.
O STF afirmou que é possível o aditamento da denúncia a qualquer tempo antes da sentença final,
garantidos o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, especialmente quando a inicial ainda
não tenha sido sequer recebida originariamente pelo juízo competente, como ocorreu no caso concreto.
O princípio da independência funcional está diretamente atrelado à atividade finalística desenvolvida
pelos membros do Ministério Público, gravitando em torno das garantias:
a) de uma atuação livre no plano técnico-jurídico, isto é, sem qualquer subordinação a eventuais
recomendações exaradas pelos órgãos superiores da instituição; e
b) de não poderem ser responsabilizados pelos atos praticados no estrito exercício de suas funções.

Consoante o postulado do promotor natural, a definição do membro do Ministério Público competente


para oficiar em determinado caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituição para
distribuição de atribuições no foro de atuação, proibindo-se a interferência hierárquica indevida da chefia
do órgão por meio de eventuais designações especiais.
Nessa medida, a proteção efetiva e substancial ao princípio do promotor natural impede que o superior
hierárquico designe o promotor competente, bem como imponha a orientação técnica a ser observada.
Assim, o membro do Ministério Público ostenta plena liberdade funcional não apenas na avaliação inicial
que faz, ao final da fase de investigação, no intuito de aferir a existência de justa causa para o oferecimento
da peça acusatória; como, também, no exame que realiza, ao final da instrução processual, quanto à
comprovação dos indícios de autoria originariamente cogitados.
O membro do MP possui total liberdade na formação de seu convencimento (opinio delicti). Assim, a sua
atuação não pode ser restringida ou ficar vinculada às conclusões jurídicas que o outro membro do MP
chegou, mesmo que este atue em uma instância superior. Em outras palavras, o Promotor de Justiça que
passou a ter atribuição para atuar no caso não está vinculado às conclusões do Procurador-Geral de Justiça
que estava anteriormente funcionando no processo.

Informativo 893-STF (15/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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Desse modo, é irrelevante que outros membros do Ministério Público com atribuição para atuar em
instância superior, em virtude da análise dos mesmos fatos, tenham, anteriormente, oferecido denúncia
de diferente teor em face do réu, uma vez que, conforme ficou reconhecido pelo STJ e pelo TJDFT, a
competência para o processo criminal era da 1ª instância, de forma que o promotor natural do caso era o
Promotor de Justiça que atua na 1ª instância.
Portanto, o fato de o promotor natural — aquele com atribuição para atuar na 1ª instância — não se
encontrar tecnicamente subordinado e apresentar entendimento jurídico diverso, afasta qualquer
alegação de nulidade decorrente de alteração do teor da peça acusatória oferecida contra o réu Paulo.

Em suma:
PGR ofereceu denúncia contra o réu perante o STJ. Este Tribunal declinou a competência para o TJ. Em
virtude disso, o PGJ ratificou a denúncia. Ocorre que o TJ declinou a competência para o juízo de 1ª
instância.
O Promotor de Justiça que atua na 1ª instância decidiu não ratificar a peça acusatória, oferecendo nova
denúncia incluindo, inclusive, novos réus.
Não há qualquer nulidade neste caso.
É possível o aditamento da denúncia a qualquer tempo antes da sentença final, garantidos o devido
processo legal, a ampla defesa e o contraditório, especialmente quando a inicial ainda não tenha sido
sequer recebida originariamente pelo juízo competente, como ocorreu no caso concreto.
O membro do MP possui total liberdade na formação de seu convencimento (opinio delicti). Assim, a
sua atuação não pode ser restringida ou ficar vinculada às conclusões jurídicas que o outro membro do
MP chegou, mesmo que este atue em uma instância superior. Em outras palavras, o Promotor de Justiça
que passou a ter atribuição para atuar no caso não está vinculado às conclusões do Procurador-Geral de
Justiça que estava anteriormente funcionando no processo.
STF. 1ª Turma. HC 137637/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2018 (Info 893).

EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) (Cespe – Promotor de Justiça – MPE – RR/2017 – adaptada) Considerando que a liberdade de expressão
é uma importante garantia fundamental protegida pela CF em seu artigo 5.°, inciso IV, julgue o item a
seguir. A liberdade de expressão protege discursos racistas e antissemitas, desde que eles não incitem a
violência, de acordo com entendimento do STF. ( )
2) A liberdade de expressão desfruta de uma posição preferencial no Estado democrático brasileiro, por ser
uma pré-condição para o exercício esclarecido dos demais direitos e liberdades. ( )
3) Em regra, a colisão da liberdade de expressão com os direitos da personalidade deve ser resolvida pela
retificação, pelo direito de resposta ou pela retirada do conteúdo. ( )
4) De acordo com o Código Eleitoral e com a jurisprudência do STF, a decisão da Justiça Eleitoral que importe
o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito
majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições, independentemente do
número de votos anulados. ( )
5) É constitucional legislação federal que estabeleça novas eleições para os cargos majoritários simples —
isto é, Prefeitos de Municípios com menos de duzentos mil eleitores e Senadores da República — em
casos de vacância por causas eleitorais. ( )
6) O STF é o órgão competente para julgar os Recursos Contra Expedição de Diploma (RCED) nas eleições
presidenciais e gerais (federais e estaduais). ( )

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7) A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está
protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão. ( )
8) O membro do MP possui total liberdade na formação de seu convencimento (opinio delicti). Assim, a sua
atuação não pode ser restringida ou ficar vinculada às conclusões jurídicas que o outro membro do MP
chegou, mesmo que este atue em uma instância superior. ( )
9) (Procurador do MP junto ao TCE-PB/2014 CESPE) Considerando as normas constitucionais relativas aos
direitos e garantias fundamentais, bem como a jurisprudência do STF, julgue o item a seguir. Apesar do
direito de não ser processado nem sentenciado senão pela autoridade competente, não se admite a
figura do promotor natural, tendo em vista a unidade do MP. ( )
10) (PGE/PA 2011) No HC 82424-2 – “Caso Ellwanger” –, o Supremo Tribunal Federal julgou pedido de
“habeas corpus” em favor de editor de obras que veiculavam ideias supostamente antissemitas. Analise
as proposições abaixo e assinale a alternativa correta:
I. A ordem de “habeas corpus” foi deferida com fundamento, entre outros, no fato de que os livros
publicados não poderiam instigar ou incitar a prática do racismo, dada a baixa repercussão de livros dessa
natureza na sociedade brasileira.
II. A ordem de “habeas corpus” foi deferida após a aplicação da regra da proporcionalidade, na qual a
liberdade de expressão prevaleceu em virtude da inconsistência científica do conceito biológico de raça.
III. A ordem de “habeas corpus” foi deferida após a aplicação da regra da proporcionalidade, na qual o
valor essencial da liberdade de expressão para a participação na vida democrática prevaleceu sobre a
tipificação penal do racismo.
IV. A ordem de “habeas corpus” foi indeferida com fundamento, entre outros, de que o direito à
liberdade de expressão não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações de conteúdo imoral que
implicam em ilicitude penal.
V. A ordem de “habeas corpus” foi indeferida com fundamento, entre outros, na prova científica de que
há diferenças biológicas que caracterizam judeus, negros e índios; e que, por isso, tais raças devem ser
protegidas contra o discurso odioso, sendo o racismo crime imprescritível:
a) Apenas as proposições I, II e III estão corretas.
b) Apenas as proposições II e III estão corretas.
c) Apenas a proposição III está correta.
d) Apenas a proposição IV está correta.
e) Apenas as proposições IV e V estão corretas.

Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. E 5. C 6. E 7. C 8. C 9. E 10. Letra D

JULGADOS NÃO COMENTADOS

DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE
Fiscal de Rendas do Estado do Rio de Janeiro
O Plenário concluiu julgamento de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada contra o inciso VII do
parágrafo único do art. 118 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, que estabelece a adoção de lei
complementar para disciplinar a lei orgânica da carreira de fiscal de rendas, bem como a totalidade da LC
estadual 107/2003, que, alterando a LC estadual 69/1990, dispõe sobre as condições para a ocupação de
funções de chefia e assessoramento superior dos órgãos de direção de fiscalização e tributação e dá outras
providências (Informativos 328 e 350).
Preliminarmente, o Colegiado, por maioria, não conheceu da ação direta quanto ao art. 30 da LC estadual
107/2003, por falta de fundamento.

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No mérito, o Tribunal, também por maioria, julgou o pedido parcialmente procedente, para: a) declarar a
constitucionalidade dos arts. 1º, 6º a 14, 17 a 19, 23, 25, 26, 28 e 29 da LC estadual 107/2003; e do art. 105,
VI, da LC estadual 69/1990, na redação dada pelo art. 15 da LC estadual 107/2003; b) declarar a
inconstitucionalidade dos artigos 5º e parágrafo único, 6º, e 81, “caput”, da LC estadual 69/90-RJ, na redação
dada pelos artigos 2º, 3º e 5º da LC estadual 107/2003-RJ; c) declarar a inconstitucionalidade do art. 105, V
e IX, da LC estadual 69/1990, na redação dada pelo art. 15 da LC estadual 107/2003; d) dar interpretação
conforme a Constituição ao art. 105, VII e VIII, da LC estadual 69/1990, na redação dada pelo art. 15 da LC
estadual 107/2003, no sentido de tornar facultativa a participação dos representantes da OAB/RJ e do CRC/RJ
no Conselho Superior da Fiscalização Tributária; e e) declarar a inconstitucionalidade da expressão “um entre
os membros do Ministério Público e um representante da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção RJ”,
constante do art. 110 da LC estadual 69/1990, na redação dada pelo art. 19 da LC estadual 107/2003.
Vencidos, em parte, os ministros Marco Aurélio (relator), Rosa Weber e Celso de Mello.
ADI 2877/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 8.3.2018.

DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO – AGENTES POLÍTICOS


Magistratura: norma estadual e alteração no projeto original
O Plenário julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta ajuizada contra dispositivos da
LC 160/1997 do Estado de Santa Catarina, que dispõe sobre a classificação das comarcas e a compactação e
reclassificação das entrâncias na carreira da magistratura de primeiro grau e adota outras providências, em
razão de suposta incompatibilidade com o projeto original.
O Tribunal declarou a inconstitucionalidade da cláusula final do art. 4º (“bem como aos magistrados que
vierem a ser promovidos para a aludida entrância”).
No que se refere ao art. 2º, § 3º, da norma, segundo o qual “para fins de remuneração é mantida a
proporcionalidade prevista na Lei 6.741/1985”, o Colegiado assentou não haver inovação legislativa em
relação ao projeto encaminhado. Igualmente, não há falar em aumento de despesa, pois havia idêntico
preceito na proposta original.
No tocante à cláusula final do art. 4º, houve a transformação de dispositivo transitório em permanente, o
que extravasa o poder de emenda.
Relativamente ao § 3º do art. 5º, verifica-se pertinência temática entre a emenda parlamentar apresentada
e o projeto inicial, porquanto a proposta dispunha sobre a reclassificação de entrâncias na carreira da
magistratura estadual. No mais, o texto da emenda não destoou da Constituição, pois os potenciais
beneficiários da promoção estão na última entrância, portanto, podem formar clientela destinada ao
ingresso no tribunal.
Não se revela alteração substancial no parâmetro normativo de controle. A Constituição continua a assegurar
o acesso aos tribunais de segundo grau, por antiguidade e merecimento, alternadamente, aos juízes da
última entrância. A antiguidade conta-se em cada entrância, sendo vedado norma infraconstitucional
equiparar magistrados de entrâncias diversas para efeito de promoção por antiguidade.
ADI 1834/SC, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 8.3.2018. (ADI-1834)

CONSTITUCIONAL – REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL


Vício de iniciativa e fonte de custeio - 5
O Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, julgou procedente ação direta para declarar a
inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 110 da Lei 915/2005 do Estado do Amapá.
O referido dispositivo — acrescido ao art. 110 do texto original por meio de emenda parlamentar —
estabelece que a Amapá Previdência assumirá o pagamento dos benefícios de aposentadoria e pensão que
tenham sido concedidas pelos Poderes do Estado, pelo Ministério Público ou pelo Tribunal de Contas durante
o período de vigência do Decreto 87/1991 (Informativos 773 e 817).
De início, o Tribunal reputou inexistente o alegado vício de inconstitucionalidade formal. Não há ofensa à
reserva de iniciativa legislativa privativa do chefe do Poder Executivo para tratar de matéria sobre

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organização e funcionamento da administração pública. A Lei estadual 915/2005 é oriunda de proposição


legislativa formulada pelo próprio Governador do Estado do Amapá.
A inserção do parágrafo único do art. 110, ora impugnado, resultou de emenda parlamentar. Contudo, a
Constituição Federal veda ao Poder Legislativo propor emendas a projetos de iniciativa exclusiva do Poder
Executivo apenas quando delas resultar aumento de despesa pública ou se forem totalmente impertinentes
à matéria legal. No caso, não houve aumento de despesas, pois o pagamento dos benefícios de aposentadoria
e pensão já vinha sendo suportado pelo Tesouro estadual. Tampouco se verificou impertinência temática da
emenda parlamentar em relação ao projeto de lei apresentado pelo governador.
No mérito, o Plenário assentou que a transferência de responsabilidade prevista na legislação impugnada
acarreta grave ofensa à regra de equilíbrio financeiro e atuarial do sistema próprio de previdência, a qual se
destina à preservação da suficiência, presente e futura, do fundo de previdência, tendo em vista o
sopesamento entre as receitas e as despesas com benefícios, o qual restaria prejudicado com a assunção de
obrigação desprovida de qualquer contraprestação pecuniária.
Ademais, a inclusão do dispositivo via emenda parlamentar e sem qualquer indicação de fonte de custeio
total destoa por completo do regime contributivo e contábil previsto no projeto legislativo original
apresentado pelo Governador do Estado.
Desse modo, não cabe à Amapá Previdência arcar com o pagamento desses benefícios, os quais devem
permanecer sob a responsabilidade exclusiva e integral do Tesouro estadual.
Vencidos os Ministros Teori Zavascki, Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia (Presidente), que julgavam
improcedente a ação.
Por fim, o Tribunal modulou os efeitos da decisão para que somente produza efeitos a partir de seis meses
contados da data da publicação da ata de julgamento (Lei 9.868/1999, art. 27).
ADI 3628/AP, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 8.3.2018. (ADI-3628)

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio


eletrônico*
Em curso Finalizados
Pleno 7.3.2017 8.3.2017 1 7 58
1ª Turma 6.3.2017 — 1 41 120
2ª Turma 6.3.2017 — 1 28 97
* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 2 a 8 de março de 2018.

CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe de 5 de março a 9 de março de 2018

REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.052.570 – PR


RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES
Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. GRATIFICAÇÕES FEDERAIS DE DESEMPENHO.
TERMO FINAL DO PAGAMENTO EQUIPARADO ENTRE ATIVOS E INATIVOS. REDUÇÃO DO VALOR PAGO AOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS E
PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS.
1. Revelam especial relevância, na forma do art. 102, § 3º, da Constituição, duas questões concernentes às chamadas gratificações federais
de desempenho: (I) qual o exato momento em que as gratificações deixam de ter feição genérica e assumem o caráter pro labore faciendo,
legitimando o pagamento diferenciado entre servidores ativos e inativos; (II) a redução do valor pago aos aposentados e pensionistas, decorrente
da supressão, total ou parcial, da gratificação, ofende, ou não, o princípio da irredutibilidade de vencimentos.
2. Reafirma-se a jurisprudência dominante desta Corte nos termos da seguinte tese de repercussão geral: (I) O termo inicial do pagamento
diferenciado das gratificações de desempenho entre servidores ativos e inativos é o da data da homologação do resultado das avaliações, após a

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conclusão do primeiro ciclo; (II) A redução, após a homologação do resultado das avaliações, do valor da gratificação de desempenho paga aos
inativos e pensionistas não configura ofensa ao princípio da irredutibilidade de vencimentos.
3. Essas diretrizes aplicam-se a todas as gratificações federais de desempenho que exibem perfil normativo semelhante ao da Gratificação
de Desempenho da Carreira da Previdência, da Saúde e do Trabalho (GDPST), discutida nestes autos. A título meramente exemplificativo, citam-se:
Gratificação de Desempenho de Atividade do Seguro Social - GDASS; Gratificação de Desempenho de Atividade de Apoio Técnico-Administrativo à
Polícia Rodoviária Federal – GDATPRF; Gratificação de Desempenho de Atividade Médico-Pericial - GDAMP; Gratificação de Desempenho de
Atividade de Perícia Médica Previdenciária - GDAPMP; Gratificação de Desempenho de Atividade Técnica de Fiscalização Agropecuária – GDATFA;
Gratificação de Efetivo Desempenho em Regulação - GEDR; Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo – GDPGPE;
Gratificação de Desempenho de Atividade Previdenciária - GDAP ; Gratificação de Desempenho de Atividade Técnico-Administrativa - GDATA;
Gratificação de Desempenho de Atividade Fazendária - GDAFAZ.
4. Repercussão geral da matéria reconhecida, nos termos do art. 1.035 do CPC. Jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
reafirmada, nos termos do art. 323-A do Regimento Interno.
Decisão Publicada: 1

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
5 DE MARÇO A 9 DE MARÇO DE 2018

Lei nº 13.632, de 6.3.2018 - Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional), para dispor sobre educação e aprendizagem ao longo da vida. Publicada no DOU, Seção
1, Edição nº 45, p. 1, em 7.3.2018
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

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