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Os critérios adotados pelo STF foram trazidos pelo HC 84.412/SP, j. 19.10.2004 e serão
abordados em capítulo posterior. Neste capítulo será abordado o conceito formulado pela
doutrina.
Segundo o princípio da insignificância, que se revela por inteiro pela sua própria
denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai até onde seja necessário
para a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas. Assim, no sistema penal
brasileiro, por exemplo, o dano do art. 163 do Código Penal não deve ser qualquer lesão à coisa
alheia, mas sim aquela que possa representar prejuízo de alguma significação para o proprietário
da coisa; o descaminho do art. 334, § 1.°, d, não será certamente a posse de pequena quantidade
de produto estrangeiro, de valor reduzido, mas sim a de mercadoria cuja quantidade ou cujo
valor indique lesão tributária, de certa expressão, para o Fisco; o peculato do art. 312 não pode
estar dirigido para ninharias como a que vimos em um volumoso processo no qual se acusava
antigo servidor público de ter cometido peculato consistente no desvio de algumas poucas
amostras de amêndoas; a injúria, a difamação e a calúnia dos arts. 140, 139 e 138, devem
igualmente restringir-se a fatos que realmente possam afetar significativamente a dignidade, a
reputação, a honra, o que exclui ofensas tartamudeadas e sem conseqüências palpáveis; e assim
por diante1.
Com relação à insignificância (crime de bagatela), sustenta-se que o direito penal, diante
de seu caráter subsidiário, funcionando como ultima ratio, no sistema punitivo, não se deve
ocupar de bagatelas. Há várias decisões de tribunais pátrios, absolvendo réus por considerar
1
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de Direito Penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 145.
que ínfimos prejuízos a bens jurídicos não devem ser objeto de tutela penal, como ocorre nos
casos de “importação de mercadoria proibida” (contrabando), tendo por objeto material coisas
de insignificante valor, trazidas por sacoleiros do Paraguai. Outro exemplo é o furto de coisas
insignificantes, tal como o de uma azeitona, exposta à venda em uma mercearia. Ressalte-se
que, no campo dos tóxicos, há polêmica, quanto à adoção da tese da insignificância: ora a
jurisprudência a aceita; ora, rejeita-a2.
Sendo assim, tal princípio pode ser conceituado como aquele que gera a desconsideração
da tipicidade dos fatos por constituirem atos de inexpresssividade no tocante ao Direito Penal,
e que também são ausentes de reprovabilidade da sociedade, a ponto de não merecerem análise
à luz da seara penal.
O fato atípico não é ilícito penal, podendo, contudo, constituir um ilícito de outra
natureza, seja ela civil, administrativa, ou mesmo ser objeto de tutela por outros controles
formais e sociais eficazes4.
2
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10. ed. São Paulo: Forense, 2014, p. 181.
3
MANAS, Carlos Vico. O Princípio da insignificância como excludente da tipicidade no direito penal. São
Paulo: Saraiva, 1994. p. 56 apud FLORENZANO, Fernando Wesley. Princípio da Insignificância no Direito Penal
Brasileiro. Iuris in mente: revista de direito fundamentais e políticas públicas. Ano II, n. 3. Itumbiara, jul.-dez.,
2017.
4
CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2011.