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TEORIA DA ADMINISTRAÇÃO I
Resenha VI
1. REFERÊNCIAS
BEYNON, G. Trabalhando para Ford. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. Cap. 1, 4, 5.
A produção em massa, proposta pelo fordismo, exigia um tipo de indivíduo capaz de realizá-
la. Com o passar o tempo, a visão que os operários e sindicatos tinham desse processo produtivo
deixou de ser neutra e passou a ser hostil. O desgosto com o sistema fabril passou a estar presente
até mesmo nas expressões artitstíticas, como em “Tempos Modernos” de Chaplin e a distopia
“Admirável Mundo Novo” de Huxley.
Apesar de Ford tentar mascarar suas intenções egoístas, sua cobiça foi se tornando evidente
a medida que comprava ações da companhia e buscava ser onipotente nessa dimensão fabril, não
suportava dividir seus lucros. Com sua inovadora valorização do processo de gestão de pessoas,
conseguiu construir seu reinado.
Mas, apesar de ter feito seu trabalho alcançar uma proporção imensa, não era bem-visto por
seus empregados, tanto é que o emprego em suas fábricas era muito instável. Devido à exigência
doentia de eficiência, e por essa cobrança ser feita em uma atividade extremamente monótona,
muitos não suportavam muito tempo mesmo os que tinham a possibilidade de trabalhar no regime
de pagamento de 5 dólares por dia.
Porém, a alta remuneração fez com que a estabilidade de trabalhadores melhorasse. Para que
os pagamentos fossem feito somente para aqueles somente dentro do padrão desejado de empregado,
houve uma forte pressão do “Departamento Sociológico” na avaliação daqueles que se
qualificariam e daqueles que continuavam qualificados. Para trabalhar para Ford, era necessário ser
uma espécie de réplica do dono da indústria, era preciso que não bebessem, não fumassem, não
ficassem preocupados em procurar por sexo, dentre outras exigências.
Ao preparar a mudança do sistema produtivo e despedir temporariamente 60 mil homens,
Ford chegou ao ponto de ser atacado pela imprensa, sendo chamado de “um industrial fascista – o
Mussolini de Detroit”. Na situação econômica após a grande depressão econômica, o ritmo do
trabalho foi acelerado e os salários foram cortados. Os operários praticamente não tinham direitos,
eram apenas números que serviam as máquinas.
A presença dos investigadores era temida pelos operários, pois sabiam que haviam alguns
deles disfarçados e que qualquer deslize resultaria em sua exclusão do programa de alta
remuneração além de poder gerar sua futura demissão. Para poder manter algum contato social na
indústria, utilizavam técnicas não muito perceptíveis de comunicação, como por exemplo, fingir
falar do funcionamento de alguma máquina. Alguns eram mais sofisticados, um deles chegou a
aprender a falar como ventríloquo para poder se comunicar discretamente.
Devido a esse cenário, obviamente surgiram tentativas de resistência. A mais significante
delas, provavelmente, foi uma paralização, organizada pelo UAW, no trabalho na Midlan Steel, a
fornecedora das carrocerias de aço para a Chrysler e a Ford. A liderança da UAW organizou uma
distribuição de panfletos na Ford, pensando que não seria vítima de impedimento com violência
física por ter mulheres como parte da equipe, mas não foi o que aconteceu efetivamente. Foram
agredidos, em especial os líderes, pelos homens do Departamento de Serviços.
Mas, em 1941, uma greve deixou os empregados que não revoltaram contra Ford sem reação,
porque o número dos que se revoltaram foi imenso. Como medida de desespero, o “imperador
fordista” chegou a cogitar a possibilidade de armar seus homens. Como consequência, os sindicatos
foram ouvidose declararam que queriam apenas organizar direitos e ter o direito de negociar, não
tinham intenção de alterar a autoridade básica de administrar a fábrica.
Ford começou a funcionar em Liverpool em fins de 1962. O número de canditatos para
trabalhar nesssa fábrica foi imenso, os excedentes chegaram a ter que ser expulsos com mangueiras
de água. O recutamento da indústria optou por escolher, como empregados, pais de família e tinham
como preferidos aqueles tolhidos por dívidas e responsabilidades. Mas como a evasão da indústria
foi muito grande, deixaram de pode ser tão seletivos e passaram a descartar apenas os que
consideravam inteligentes, pois os consideravam possíveis militantes.
Eles não tinham uma ligação com a fábrica, não se sentiam valorizados e muitos não se
consideram “operários da indústria automotiva” de maneira fixa, haviam tido outras profissões e
pretendiam mudar novamente no futuro. Para que a repressão fosse controlada, eles tinham shop
stewards, como defensores de seus direitos e mediadores de contato com os empregados do setor
administrativo. Aqueles que tinham um posto de trabalho concetrado na área administrativa da
empresa, mesmo que vistos como meros peões dos que realmente tomavam as decisões, em dado
momento chegavam a ser considerados culpados, pelo menos moralmente, do descumprimento dos
direitos políticos dos trabalhadores.
Para trabalhar na linha de montagem era necessário se adequar ao ritmo, pois ela nunca para.
Era preferível que os funcionários não raciocionassem, era comum que eles contassem a história de
um homem que parou de trabalhar na Ford e foi para uma fábrica de doces onde ele deveria separar
os vermelhos dos azuis, mas pediu demissão por não aguentar tomar essa simples decisão.
Chegavam a desprezar a fábrica, diziam para que outras pessoas não comprassem os automóveis ali
produzidos, porém boa parte deles chegava a adquirir um para si, provavelmente por pagarem um
valor menor do que o de mercado.
De um grupo de empregados que foi entrevistado, a maioria demonstrou o desejo de um dia
poder trabalhar de uma maneira em que ficassem “fora do sistema”, em que seriam “seus própior
patrões”. Aqueles que ainda se viam na companhia, costumavam demonstrar o interesse de ir para a
área de submontagem, onde era permitido que quem ali trabalhasse controlasse seu próprio ritmo, o
trabalho para esse grupo que tinha mais liberdade era considerado menos frustrante. Quanto aos
shop stewards, apresentavam o desejo de ter um trabalho de mérito, preferenciavelmente onde
pudessem ajudar os outros.
4. CRÍTICA GERAL
A contextualização proporcionada pelos textos “Trabalhando para Ford” e “Cadernos do
cárcere” permite melhor compreensão da pressão exercida pelo setor administrativo fabril nos
operários. Aqueles que adminstravam, eram de certo modo, parte da Ford, já os trabalhadores
manuais de atividade monótona eram apenas complementos das máquinas e infelizmente eram
apenas números.
Apesar de essa descrição não ter sido feita tendo como base os processos de fabricação
atuais, no ano de 2018, servem de ótima referência para a percepção dos processos de gestão de
pessoas. É preciso que administradores tenham noção de seus deveres com relação a empresa, mas é
imprescindível que não se esqueçam que devem trabalhar para gerar prosperidade para chefes e
empregados.
Gramsci merece destaque como autor porque mesmo chegando a utilizar palavras de baixo
calão contra Ford e administradores fordistas para desmonstrar seu descontentamento com o
industrialismo, busca trazer a tona os sentimentos de operários do sistema fabril e lembra que eles
não são apenas corpos se movendo como extensão das máquinas, mas pessoas que deveriam ser
valorizadas como tal e não apenas como a base de uma hierarquia altamente egocêntrica.