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c) O adjetivo “amado” nos diz que ele fazia parte do círculo dos apóstolos mais
próximos de Jesus: Pedro, Tiago e João (cf. Mc 5,37; 9,2; 14,33). Ele com
certeza não é Tiago, visto que este foi martirizado muito cedo (cf. At 12,2) – por
volta de 44 d.C. – e o Quarto Evangelho foi escrito em um período posterior.
Também não é Pedro, pois há evidentes distinções entre os dois personagens (cf.
20,2; 21,20) e, ao que tudo indica, já estava morto quando o evangelho foi
composto (sua morte data de 67 d.C., segundo Clemente de Roma).
Com tais indícios, podemos afirmar que o autor do Quarto Evangelho é João, o
Apóstolo. Vejamos o que nos diz a Tradição sobre a questão da autoria.
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Entende-se que é o “amado” devido os diversos momentos em que se aparece o título de “discípulo
predileto” no texto, em especial no mesmo capítulo 21, versículos 7 e 20.
primeiro a declarar explicitamente João, o Apóstolo, como o autor do livro, e que se
relacionou com Policarpo, discípulo do próprio João, podemos aceitar sem dificuldades
a autoria já declarada. Contudo, existem outros testemunhos que corroboram o de Irineu
e que nos garantem o Apóstolo João como o escritor mencionado no livro.
CLEMENTE DE ALEXANDRIA († 215 d.C.) também escreveu sobre a autoria
do Quarto Evangelho. Eis o que disse: “Quanto a João, o último [apóstolo], sabendo que
o corpóreo já estava disposto nos Evangelhos, estimulado por seus discípulos e
inspirado pelo sopro divino do Espírito, compôs um Evangelho espiritual.” (Trecho
presente na obra História Eclesiástica, VI, 14,7, da autoria de Eusébio de Cesareia). É
importante dizer que São Clemente de Alexandria foi discípulo de São Panteno († 200
d.C.), sendo esse último discípulo de São João. Mais uma vez temos presente um
testemunho baseado em um Padre da Igreja que conviveu com um discípulo de João,
assim como Santo Irineu (com S. Policarpo de Esmirna).
Há também o Cânon de Muratori, escrito em Roma por volta de 180, que tem
um prólogo contra Marcião e os seus seguidores, no qual se diz: “O Evangelho de João
foi comunicado e manifestado às igrejas pelo próprio João, enquanto vivia, segundo diz
Pápias de Hierápolis”. Sobre PÁPIAS DE HIERÁPOLIS († por volta de 167 d.C.),
nasceu no ano 70 d.C. e foi bispo de Hierápolis. Assim como Policarpo e Panteno,
Pápias também foi discípulo de São João.
Há um passo de Pápias que menciona duas vezes o nome de João, dificultando
saber de que João o Bispo de Hierápolis havia declarado como autor do Quarto
Evangelho. O fragmento encontra-se na mesma obra de Eusébio, já citada: “Se vinha
alguém que tinha escutado os presbíteros, eu averiguava que era o que os presbíteros
afirmavam ter ouvido dizer a André, ou a Pedro, ou a Felipe, ou a Tomé, ou a Tiago, ou
a João, ou a Mateus, ou a qualquer outro dos discípulos do Senhor, e que dizem Aristião
e João o presbítero, discípulo do Senhor.” (III, 39,4). Ora, não se trata de dois Joões,
mas sim do mesmo João: o Apóstolo (o “primeiro” João citado), por ter vivido mais do
que os outros discípulos do Senhor, assume também a figura de Ancião (o Presbítero, o
“segundo” João), pois alcançou a velhice e – o que representa de fato seu sentido –
gozava de tamanha autoridade sobre as igrejas de seu tempo.
Magnífico também é o testemunho de ORÍGENES († por volta de 254 d.C.).
Orígenes escreveu uma obra intitulada “Comentário sobre o Evangelho de João”, em
que logo de início atesta de forma muito poética a questão da autoria joanina:
Para encerrar a questão da autoria, ficamos com o que nos disse SANTO
AGOSTINHO DE HIPONA († 430 d.C.):
Nos últimos dois séculos (XIX e XX) houve grandes críticas quanto à autoria do
livro. Hoje, mesmo com opiniões contrárias, a autoria do Quarto Evangelho fica sendo
atribuída – assim como nos garantiram os Santos Padres e o próprio escrito joanino – a
João, o discípulo predileto de Nosso Senhor Jesus Cristo. A questão da autoria não
interfere na canonicidade do Evangelho de São João. Quem quer que seja o verdadeiro
autor, o livro continuará sendo canônico, isto é, reconhecido pela Igreja como inspirado
por Deus.
Data de composição: “Por muito tempo a crítica não-católica foi inclinada a fixar a
composição do quarto evangelho pela metade do século II ou ainda mais tarde.”
(BALLARINI, Teodorico. Introdução à Bíblia, IV – Os Evangelhos, p. 302). Ora, esta
datação sugerida por tal crítica é inviável, em razão de alguns dados importantes que
nos esclarecem o período em que o Quarto Evangelho foi escrito:
b) Os papiros P66 (contém 1-5; extrato do cap. 6; 7-13; extratos dos caps. 14.15.16;
17-19; extratos dos caps. 20-21) e P75 (contém 1-12; extratos dos caps. 13; 14;
15), que datam respectivamente da metade do século II e do início do século III.
d) SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA († 107 d.C.) – que foi discípulo de São João
– quando escreveu suas cartas, fez alusão a diversos temas joaninos contidos no
Quarto Evangelho. Ora, Inácio aprendeu muito com São João e, com certeza,
difundiu em seus ensinamentos aquilo que aprendera com seu mestre.
Levando em consideração o que foi apresentado, podemos aceitar a datação entre 96-
100 d.C., ou seja, final do século I.
Lugar de composição: Segundo IRINEU DE LYON, São João teria composto seu
evangelho em Éfeso, na Ásia Menor (o testemunho desse Padre da Igreja já foi
divulgado anteriormente, na questão da autoria do livro). “JERÔNIMO e EPIFÂNIO
apresentam, porém, somente a designação genérica da Ásia Menor.” (BALLARINI,
Teodorico. Introdução à Bíblia, IV – Os Evangelhos, p. 302). A Tradição reconhece
que, tendo João saído da prisão de Patmos pelo ano de 96 d.C., após a morte do
imperador Domiciano, regressou para Éfeso, onde morava com a Santíssima Virgem.
Apesar de encontrarmos opiniões que afirmam que o lugar de composição foi Antioquia
(lugar propício para o crescimento do gnosticismo; cidade de Inácio, podendo ter sido
palco para o aprendizado do Antioqueno e da elaboração do livro), é aceitável propor
Éfeso como lugar de composição.