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Núcleo Monárquico João Lisboa – São Luís, Maranhão

AULA EM HOMENAGEM AOS 128 ANOS DO FIM DA ESCRVIDÃO NO BRASIL

1ª) A escravidão no Brasil acabou por causa da “pressão inglesa”? RESPOSTA: Não. Desde o
início do século XIX, o Reino Unido (Inglaterra) entedia que o tráfico de escravos no Atlântico (da
África para a América) era nocivo a seus interesses. Em 1807 foi proibido o comércio de escravos em
todo o império britânico, a partir de uma longa campanha humanitária. Tal fato, porém, teve
implicações nos preços do açúcar e do fumo das Antilhas britânicas, encarecendo seus preços por
causa da escassez da mão de obra. Assim, o fim da importação de escravos africanos se tornou urgente,
com o propósito de equilibrar os preços externos desses produtos. Dessa forma, a manutenção da
escravidão dentro do Brasil, para o Reino Unido, era pouco relevante.

2ª) É correto associar a escravidão ao sistema de governo monarquia? RESPOSTA: Não. Quase
todas as colônias – e depois países –das Américas admitiram a escravidão em suas fronteiras. Ocorre
que as ex-colônias, fossem as anglo-saxãs da América do Norte, fossem as espanholas do resto do
continente, ao se tornarem independentes, adotaram a forma republicana. Ou seja, muitas foram
repúblicas escravocratas. Exemplo disso são os Estados Unidos. Esse país se tornou independente em
1776, mas a escravidão lá durou até 1863, quando foi publicado o Ato de Emancipação. Em resumo,
esse país possuiu escravos, como nação independente, no mínimo, durante 87 anos, e sempre foi uma
república. No Brasil, sendo monarquia, a mesma circunstância perdurou por menos tempo: 66 anos
(1822-1888).

3ª) A escravidão acabou principalmente por “motivos econômicos”? RESPOSTA: Não. As lutas
políticas, por mais objetivas que possam ser, nunca envolvem apenas interesses econômicos. Muitas
vezes, aliás, são contrárias aos próprios interesses financeiros de seus defensores. No caso do
Abolicionismo, isso é mais evidente. Muitos abolicionistas, principalmente jovens, saíram de famílias
escravocratas, e quando passam a defender o fim da escravatura, foram rejeitados pelos próprios
parentes, caso do maranhense Francisco Antônio Brandão Júnior, que escreveu o livro “A escravatura
no Brasil, precedida d’um artigo sobre agriculta e colonização no Maranhão” (Bruxelas, Typographie
H. Thiry-van Buggenhoudt, 1865), defendendo o fim desse regime de trabalho no Brasil. Outros
muitos ainda foram perseguidos em seus empregos, demitidos e humilhados na imprensa. De forma
que os credos cívicos, religiosos e políticos, em muitas oportunidades, são mais determinantes para a
escolha política que apenas a questão financeira.

4ª) A escravidão acabou para formar um mercado consumidor para a indústria? RESPOSTA:
Não. É difícil se imaginar que ex-escravos, em uma situação de miséria, sem meios próprios de
produção e salários, principalmente vivendo no campo, se transformassem em mercado consumidor,
muito menos para os produtos ingleses (que em geral eram artigos de luxo ou utensílios para os setores
médios da sociedade), como é vulgarmente dito. Até mesmo para a indústria nacional não houve
benefício imediato significativo, pois era ainda pequena e havia surgido durante a própria escravidão
(apesar de engajar trabalho livre), e seus produtos destinavam-se a setores médios e baixos, já
consolidados como consumidores. A primeira indústria têxtil de São Luís foi fundada em 1888
(Companhia de Fiação e Tecidos Maranhense), mas já havia projetos nesse sentido desde a década de
1870. Além do mais, pesquisas recentes indicam que a força de trabalho escrava engajada na produção
era bem minoritária, ao tempo da edição da Lei Áurea, configurando, com variações regionais, entre
20% e 30% do número de trabalhadores.

5ª) A princesa D. Isabel foi quem criou a Lei Áurea? RESPOSTA: Não. Trata-se de um projeto de
apresentado pelo ministro da agricultura Rodrigo Augusto da Silva à Assembleia Geral do Império,
atual Câmara dos Deputados, em 8 de maio de 1888. O projeto de lei foi debatido, votado e aprovado
em apenas duas seções, nos dias 9 e 10 de maio de 1888. Contudo, sua elaboração teve o auxílio do
conselheiro Antônio da Silva Prado e também com a colaboração certa da Princesa, conforme se
verifica da mensagem apresentada pelo ministro Rodrigo Augusto da Silva: “Augustos e Digníssimos
Senhores Representantes da Nação – Venho, de ordem de Sua Alteza Imperial, Regente em nome de
sua Majestade o Imperador, apresentar-vos a seguinte proposta: Art. 1.º É declarada extincta a
escravidão no Brazil. Art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário. Palácio do Rio de Janeiro, 8 de
Maio de 1888. Rodrigo A. da Silva”. No dia 11 de Maio, após ter sido aprovado na Câmara Geral, o
projeto chegou ao Senado. Não foi apresentada nenhuma emenda naquela Casa. Nos dias 12 e 13 de
Maio de 1888 houve discussão e votação. No dia 12, com a presença do ministro da agricultura, foi
iniciada a sessão e aprovado. Em segunda e definitiva votação, a Lei Áurea foi aprovada, no dia 13 de
maio, e, neste mesmo dia, enviado à sanção imperial, na pessoa da Princesa Imperial Regente, D.
Isabel. Em seguida, tornou-se a Lei 3.353 de 13 de maio de 1888.

6ª) A princesa D. Isabel participou da Campanha Abolicionista? RESPOSTA: Sim. Apesar de ser
chefe de estado, tendo regido o Império por duas vezes antes do momento em que sancionou a Lei
Áurea, a princesa D. Isabel envolveu-se diretamente na Campanha, mas dentro das limitações que
tinha pelo alto cargo que ocupava, e que lhe impunha uma obrigação de equilíbrio entre os interesses
envolvidos. A Princesa protegia escravos aquilombados no entorno da cidade do Rio de Janeiro, como
o “Quilombo do Leblon”, um dos mais conhecidos da época. Ela também promovia festas
abolicionistas, que arrecadavam dinheiro para a compra de alforrias e apoio dos escravos fugidos. No
Quilombo do Leblon era cultivada a flor camélia, que terminou se tornando um dos símbolos mais
destacados do movimento abolicionista. Várias damas da Corte Imperial, inclusive a própria D. Isabel
eram vistas com camélias a adornar seus vestidos. Em 12 de fevereiro de 1888, a Princesa promoveu
na cidade de Petrópolis a primeira “batalha de flores”. As batalhas de flores eram passeatas aonde ela,
seu marido (Conde d’Eu) e seus filhos, ainda crianças, percorriam as ruas arrecadando doações em prol
da libertação dos escravos. Quando surgiu a Lei Áurea, rapidamente os escravocratas atribuíram a ela,
que governaria o Terceiro Reinado, a responsabilidade por seus prejuízos, e passaram a lutar pelo fim
da monarquia.

7ª) Houve outras leis brasileiras contrárias à escravidão antes da Lei Áurea? RESPOSTA: Sim.
Inicia-se com a Lei de 7 de novembro de 1831 (“Lei Feijó”), que proibia o tráfico de escravos para o
Brasil. Essa lei foi simplesmente ignorada, e o tráfico Atlântico inclusive aumentou, quando da
expansão das lavouras de café naquele período. Quase vinte anos depois é promulgada a Lei 581/1850
(“Lei Eusébio de Queiroz”), que definitivamente proibia a importação de escravos africanos. A lei
2.040/1871 (“Lei do Ventre Livre”), após aprovação na Assembléia Geral do Império e no Senado, foi
sancionada pela Princesa D. Isabel, e determinava: 1º: “Art. 1.º - Os filhos de mulher escrava que
nascerem no Império desde a data desta lei serão considerados de condição livre.”, mas impunha as
seguintes condições: “§ 1.º - Os ditos filhos menores ficarão em poder o sob a autoridade dos senhores
de suas mães, os quais terão a obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos.
Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe terá opção, ou de receber do Estado a
indenização de 600$000, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos completos. No
primeiro caso, o Govêrno receberá o menor e lhe dará destino,em conformidade da presente lei.”. A
Lei n.º 3.270/1885 (“Lei dos Sexagenários”/ “Lei Saraiva-Cotejipe”) foi promulgada a 28 de setembro
daquele ano, garantindo a liberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade. Os escravos nessa
condição tinham a obrigação de trabalhar por mais três anos a título de indenização ao proprietário, já
o escravo de mais de sessenta e cinco anos estava dispensado de tais obrigações. Essas leis, em que
pese possuírem grandes limitações, assim mesmo reduziram o número de escravos. Por exemplo, em
1872 havia 1.600.000 escravos registrados, enquanto no ano anterior a Lei Áurea, 720.000, o que
representa uma queda de mais de 50% em pouco mais de uma década.

8ª) As fugas dos escravos das fazendas é uma das causas do fim da escravidão? RESPOSTA: Sim.
Durante todo o período em que houve escravidão no Brasil, seja ele independente, seja no período
colonial, sempre houve fuga de indivíduos escravizados, que se reuniam em quilombos, em lugares
remotos de difícil acesso. Mas, nos anos anteriores à edição da Lei Áurea, a quantidade de fugas
aumentou consideravelmente e, em razão da Campanha Abolicionista, muitos agentes públicos,
especialmente das polícias e do Exército, passaram a recusar a obrigação de capturá-los. Isso gerou
grandes prejuízos financeiros aos proprietários rurais, que inclusive começaram a investir na mão-de-
obra imigrante, assalariada. A Lei nº 3.310 de 1886 revogou o artigo 14 do Código Criminal do
Império, que previa pena de “castigo moderado” ao escravo, e também a Lei nº 4 de 1835, que
autorizava a pena de açoite. Isso desencadeou fugas em massa das fazendas. Além disso, os capitães-
do-mato e familiares dos fazendeiros eram ameaçados nas cidades por militantes abolicionistas, que
também promoviam as fugas, davam abrigo aos fugitivos e promoviam saques e sabotagens nas casas
e fazendas de proprietários identificados como escravagistas.

9ª) É verdade que a Lei Áurea foi uma das causas do fim da monarquia no Brasil? RESPOSTA:
Sim. Apesar do número de escravos estar em franca diminuição na década de 1880, muitos fazendeiros
dependiam diretamente deles, especialmente nas províncias no Norte do Império (atuais estados do
Nordeste, mais o Pará), onde não houve imigração significativa. Além disso, os bancos da época
aceitavam a nomeação dos escravos como garantia dos empréstimos bancários que financiavam a
própria lavoura. Os fazendeiros e os agentes financeiros toleravam a Abolição desde que ela fosse
indenizada pelo governo, como nas leis anteriores. Quando a Lei Áurea foi promulgada, encerrando a
escravidão sem nenhum tipo de indenização aos ex-proprietários, esses rapidamente aderiram aos
movimentos republicanos, que nunca somaram um grande número de pessoas, mas que agora, tinham
o apoio financeiro dos fazendeiros e dos agentes financistas, que haviam sofrido grande prejuízo
econômico com o desaparecimento da figura civil do escravo.

10ª) Havia maranhenses envolvidos na Campanha Abolicionista? RESPOSTA: Sim. Os


movimentos abolicionistas eram mais fortes na capital do Império, São Paulo e Recife, e envolvia
principalmente jovens universitários, intelectuais e profissionais liberais. Não é certo dizer que os
abolicionistas eram apenas republicanos, ou que esse movimento fosse de uma classe social. Alguns
eram monarquistas e provenientes de famílias ricas, como Joaquim Nabuco, um dos fundadores da
Academia Brasileira de Letras, Eduardo Prado ou Afonso Celso (que era republicano, mas virou
monarquista após o golpe militar de 15 de novembro de 1889, que instalou a República). No
Maranhão, João Dunshee de Abranches Moura, nos seus livros de memória (“O Cativeiro” e “A
Esfinge do Grajaú”) narra que havia várias pessoas envolvidas com o fim da escravidão, desde homens
de letras e políticos, como o deputado e escritor Antônio Marques Rodrigues, fundador da Sociedade
Manumissora (que arrecadava dinheiro para alforria de escravos) e até jovens entre os 15 e 20 anos,
incluindo o próprio Dunshee de Abranches. Além disso, havia associações de homens negros nas
periferias, com o mesmo propósito, discutindo o fim da escravidão e a inclusão social dos ex-escravos.
Houve até mesmo proprietários de escravos que os alforriaram e foram reconhecidos pelo governo por
tais atos. Exemplo de José Joaquim Seguins de Oliveira, tornado Barão de Itapary pela Princesa D.
Isabel, após libertar mais de trezentos escravos que havia herdado. O senador Antônio Marcelino
Nunes Gonçalves, o Visconde de São Luís, como senador, foi um defensor da Lei do Ventre Livre,
tendo votado também contra a indenização dos proprietários de escravos sexagenários (“Lei dos
Sexagenários”), quando estes adquiriram a liberdade, por entender que o Império não instituíra por lei
a escravidão e, por isso, também não estava obrigado a indenizar quem quer que fosse. Achava, ao
contrário, que quem merecia ser indenizado era o ex-escravo.

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