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Avaliação do aprendizado - Um ato de contrição

Todos nós, professores de qualquer nível de uma Escola Médica, aprendemos um


dia que a avaliação do aluno tem como finalidade acompanhar o processo de
ensino/aprendizagem de modo a permitir que todos, docentes e alunos, possam
averiguar continuamente se ele transcorre de modo a satisfazer os objetivos
educacionais planejados. E julgamos, no final, se o aluno é capaz ou não de
acompanhar os patamares seguintes.

Turbulências do meio hodierno, no entanto, por motivos até compreensíveis mas


não justificáveis acabam por nos acomodar em uma rotina cheia de vícios que
talvez reflitam nossa cultura avaliatória. Como exemplos podemos relacionar alguns
deles:

 Considerar a avaliação como instrumento intimidatório ou de confronto entre


professor e aluno, a envolver conotação de cobrança, vingança ou castigo.

 Cometer arbritariedades e tentar utilizar a prova como mecanismo


disciplinador de condutas sociais, por exemplo o comportamento do aluno na
sala de aula.

 Utilizar a prova como meio de julgamento do valor do estudante como


pessoa.

 Avaliar a excelência do Curso pela soma de informações decoradas que os


alunos conseguem reproduzir nas provas - mais satisfatório ainda se for
redigida com as mesmas palavras proferidas durante as aulas.

 Considerar a avaliação como um simples e tedioso ato administrativo para


preenchimento de requisitos de promoção exigidos pela Instituição.

Outra prática comum, de parte do responsável pela montagem de uma prova, é


convocar colaboradores para formularem questões, com uma só recomendação:
mesclar questões fáceis, difíceis e médias. Mas geralmente ele desconsidera as
definições técnicas que classificam as questões em fáceis, difíceis e de média
complexidade. Essas definições esclarecem certos pontos. Que papel teriam essas
perguntas, por exemplo, no que diz respeito à capacidade discriminatória do
exame?

Após montagem e aplicação da prova, a tendência do professor é superestimar sua


qualidade e subjetivamente qualificá-la como ótima. Para isso, porém, a prova
deveria ser submetida ao crivo de índices técnicos tais como validade, precisão,
sensibilidade, objetividade, fidedignidade e exeqüibilidade. Ou seja, é preciso
levantar os dados referentes às respostas dos alunos. Por exemplo, a quantidade
de erros e acertos, o desvio padrão e outros.

A aplicação dessas exigências é trabalhosa.

Já fizemos, nós e os leitores, alguma vez, o levantamento de dados e a avaliação


técnica das provas realizadas? Provavelmente quase nunca!

É indubitável que a experiência acumulada em vários anos de docência constitui


fator nada desprezível. Seria, no entanto, muito mais rica se tivesse sido
respaldada em conceitos educacionais básicos.

O sistema de avaliação, quando aplicado com propriedade, permite exercer controle


permanente do processo de ensino/aprendizagem e dos seus resultados, ao

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levantar informações que vão nortear o julgamento da adequação do ensino
planejado. Tem uma função auto reguladora do sistema (mecanismo de "feed-
back") e constitui-se em um dos alicerces básicos do ensino. A avaliação, no
entanto, somente se reveste de seu legítimo papel, na plenitude, se o avaliador
tiver domínio das bases conceituais e técnicas do processo.

Não obstante sua indubitável relevância no processo educacional, a avaliação não


tem recebido da parte do docente a atenção devida.

Que aconteceria ao arqueiro se desconhecesse o resultado de cada um de seus


arremessos?

Em síntese, o domínio das bases conceituais e técnicas é o meio que legitima o


avaliação do processo de ensino/aprendizagem. Mister se torna maior
conscientização de todos os militantes do magistério quanto à relevância do método
avaliatório que se reveste, dentro do processo educacional, de importância bem
mais ampla e profunda do que se pensa comumente.

Vamos refletir com honestidade que tipo de avaliação estamos praticando e, se for
o caso: que tal fazermos humildemente um ato de contrição?

Fonte
CORDEIRO, Anói Castro; FUJIMURA, Ikurou. Avaliação do aprendizado: um ato de
contrição. Disponível em: <http://med.fm.usp.br/cedem/arrobavirgula10.asp>.
Acesso em: 07 mar. 2006.

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