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"Cristão" no Novo Testamento

Dr. David Stern


Manifesto Judeu Messiânico. Pg 28-30

Essa questão de terminologia gera espantosa exaltação, enquanto pessoas portadoras


de várias agendas ocultas insistem furiosamente que somos ou não somos.

A resposta tem duas partes. Primeira: já que a palavra "cristão" se origina no Novo
Testamento precisamos verificar de que modo ela é ali usada no contexto do primeiro
século. Mas para responder à pergunta no século vinte, precisamos da análise histórica
do capítulo seguinte. Assim, adiando o debate final para o término do capítulo III,
examinaremos o significado de "cristão" no Novo Testamento.

Segundo as Escrituras, a palavra cristão não denota crentes judeus em Yeshua, de


modo algum. O Novo Testamento os denomina seguidores "deste caminho" (Atos 9.2 e
22.4) e "nazarenos" (Atos 24.5). São ramos naturais da árvore na qual os crentes gentios
foram enxertados (Romanos 11.16-16), são os membros originais da comunidade onde
ingressaram os crentes gentios (Efésios 2.11-16). Mas o Novo Testamento não chama
"cristão" aos crentes judeus. Segundo o Novo Testamento, o uso do termo "cristão"
estava reservado aos crentes gentios no Messias judeu Yeshua.

Atos 11.19-26 narra que em Antioquia alguns crentes judeus de Chipre e Cirene não
limitaram a proclamação de Yeshua como Messias aos judeus, segundo fora a norma até
então, mas abriram terreno proclamando o Evangelho também aos gregos. Muitos desses
gentios vieram a acreditar no "Christós" (esta palavra grega é tradução de Mashiach, do
hebraico; ambas as palavras significam "ungido", sendo uma levada para o português
como "Cristo" e a outra como "Messias"). Ao que parece, os outros gentios de Antioquia
ouviram seus amigos falarem sempre deste "Christós", reconhecendo-o como seu líder,
de modo que cunharam o vocábulo christianói ("cristãos"), assim como os seguidores do
reverendo Sun Myung Moon foram apelidados "moonies". Assim o termo "cristão" foi
inventado pelos gentios para descrever gentios numa abrangência gentia. O Novo
Testamento declara explicitamente que "os discipulos foram chamados de cristãos pela
primeira vez em Antioquia".

A palavra surge apenas mais duas vezes no Novo Testamento. Em Atos26.24-29, Sha'ul
(Paulo), detido em Cesaréia para ser julgado diante do imperador em Roma, falou ao rei
Herodes Agrippa e à sua corte. Atento a apresentar uma defesa bem raciocinada do
messianismo de Yeshua numa estrutura de pensamento judaica, foi subitamente
interrompido pelo governador romano Festus, que gritou em alta voz: "Sha'ul, estás
louco! O teu muito saber tira-te o juízo!"

Sha'ul respondeu:
"Não estou louco, excelentíssimo Festo, mas digo palavras de verdade e de prudência.
Pois destas coisas tem conhecimento o rei, em cuja presença falo com franqueza. Sei que
nada disto lhe é oculto, porque nenhuma destas coisas se fez ali ocultamente. Crês, ó rei
Agrippa, nos profetas? Bem sei que crês!"

O erudito rei Agrippa reagiu à seriedade de Sha'ul (necessária aqui para rebater a
explosão de Festo), ironizando suavemente:
"Por pouco não me persuades a fazer-me cristão"
De preferência a "nazareno", ele usou o termo com que seus cortesãos gentios
estariam familiarizados, embora poucos tivessem maior compreensão do conteúdo da fé
que a media dos homens de hoje teria da religião do Reverendo Moon.

Nem confirmando, nem rebatendo o uso da palavra "cristão" pelo rei, Sha'ul replicou
com tato, dissipando a ironia sem depreciar a seriedade de sua mensagem:
"Prouvera Deus que por pouco, e por muito, não somente tú, senão também quantos
me ouvem, se fizessem hoje tais quais sou... menos estas algemas!"

A terceira vez em que a palavra "cristão" aparece é em 1 Kefa (1 Pedro) 4.14-16:


"Se fordes ultrajados pelo nome de Cristo, bem aventurados sois vós, porque o Espírito
de glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vós. Que ninguém de vós sofra como
homicida, ou ladrão, ou difamador, ou cobiçador do alheio. Se, porém, padecer como
cristão, não se envergonhe, pelo contrário, glorifique a Deus por ter este nome".

A carta é dirigida "aos exilados eleitos da Diáspora de Ponto Galácia", etc (1 Kefa 1.1),
isto é, muito explicitamente aos fieis judeus localizados na Diáspora. Pedro os exorta a
não se envergonharem quando as pessoas - no contexto, os detratores - lhes atribuírem o
termo cristão. Não deveriam discutir a respeito do nome, nem mergulhar em depressão,
e sim dar glória a Deus, talvez transformando o insulto numa ocasião de orientar o
agressor para a misericórdia de Deus em Yeshua. Não ficamos sabendo se os crentes
judeus devem se chamar cristãos, nem se os fiéis gentios devem chamar os crentes
judeus de cristãos: mas se o nome for aplicado, seja como epíteto, ou por ignorância, os
crentes judeus devem suporta-lo de boa vontade.

Sei que nem todos se convencerão com meu raciocínio acima. Contudo é minha
conclusão que o Novo Testamento deixa pouco ou nenhum espaço para que os crentes
denominem os judeus messiânicos "cristãos", e isto foi resultado dos bem sucedidos
esforços dos primeiros cristãos na evangelização pluricultural. Eles traduziram para o
grego as idéias hebraicas; e se não tivessem feito, a palavra "cristão" não existiria,
existindo apenas "messiânico". A aproximação cultural dos crentes judeus do primeiro
século não deveria obrigar os judeus messiânicos do século vinte a usar a terminologia
de raiz grega ao se auto-denominarem. Contudo, dois mil anos de história marcaram os
usos.

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