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Desde 1801 que se considerava a idéia da transferência da Corte Portuguesa para o Brasil. As
facções no governo Português, entretanto, se dividiam:
Ambas eram apoiadas pelas lojas maçónicas quer de origem inglesa, quer de origem francesa.
Considere-se ainda que as idéias iluministas francesas circulavam clandestinamente em livros,
cada vez mais abundantes.
Com a presença da Família Real Portuguesa no Brasil a partir de 1808, registrou-se o que alguns
historiadores brasileiros denominam de "inversão metropolitana", ou seja, o aparelho de Estado
Português passou a operar a partir do Brasil, que desse modo deixou de ser uma "colônia" e
assumiu efetivamente as funções de metrópole.
O passo seguinte, que conduziu à independência do Brasil, ocorreu com a eclosão da Revolução
liberal do Porto (24 de agosto de 1820), que impôs o regresso de D. João VI a seu país, visando
forçar o retorno do chamado Pacto Colonial. A notícia do movimento chegou ao Rio de Janeiro em
12 de outubro, causando intensa comoção.
[] Reflexos no Pará
O movimento liberal do Porto já havia sido acolhido com entusiasmo na Ilha da Madeira e no
arquipélago dos Açores quando a notícia chegou, a 1 de dezembro, a Belém do Pará. Como a
província estava entregue a uma Junta interina, essa circunstância facilitou um pronunciamento
de apoio entusiástico à causa constitucional. A bordo da mesma embarcação que trouxe a notícia,
a galera Nova Amazonas, veio o estudante Filipe Patroni, que desafrontado e ardente, "logo
alcançou o concurso dos chefes militares, coronéis João Pereira Vilaça e Francisco José Rodrigues
Barata". Este último, no dia 1 de janeiro de 1821, em nome do povo e da tropa proclamou a
Constituição que iria ser elaborada pelas Cortes portuguesas. Desse modo, foi eleita por
aclamação uma Junta Constitucional provisória de nove membros, dando-se comunicação ao Rio
de Janeiro. Filipe Patroni e Domingos Simões Cunha foram eleitos procuradores da província e
encarregados de representar, perante as Cortes e a Junta Suprema, os interesses da Província do
Pará.
[] Reflexos na Bahia
Incitada por Cipriano José Barata de Almeida e José Lino Coutinho, um levante registrou-se na
Bahia a 21 de fevereiro de 1821. O Governador da Província, o conde da Palma, ordenou ao
marechal Felisberto Caldeira Brant Pontes, inspetor das tropas, que reunisse as tropas fiéis. Desse
modo, enfrentou os rebeldes com apenas cento e sessenta homens, pois a maior parte da tropa o
abandonou. Não houve meio de os demover de constituir na Bahia uma Junta Constitucional
Provisória, a exemplo de Belém, pela qual se manifestasse completa obediência às Cortes de
Lisboa, jurando-se desde logo a Constituição. Palma cedeu, propondo ele mesmo os nomes das
pessoas que formaram a Junta. E a Junta foi mais longe, dirigindo-se a Lisboa como se tal
governo fosse já o único legítimo da monarquia e pedindo tropas portuguesas. Foram-lhe
enviados 1.184 homens, a chamada Legião Constitucional Lusitana. A Junta nomeou ainda o
marechal Luís Paulino de Oliveira Pinto de França para o cargo de Governador das Armas e o
coronel Inácio Luís Madeira de Melo para o de inspetor das tropas, uma vez que Caldeira Brant
acompanhara o conde da Palma ao Rio de Janeiro.
[] Reflexos em Pernambuco
O governador Luís do Rego Barreto tinha difícil situação desde a Revolução de 1817 pois a terra
ainda gemia com o "depravado e estúrdio despotismo", como refere Rocha Pombo em sua História
do Brasil. Animado com as mensagens de Lisboa e a convite da Junta da Bahia, mas temeroso de
desaforos, conservou toda a plenitude da autoridade e dirigiu um manifesto ao povo, expondo as
bases da Constituição que iria ser promulgada e convocando eleitores de todas as paróquias. Os
pernambucanos receberam suspeitosos as promessas e votaram com independência, elegendo as
pessoas que lhes pareciam mais dignas - "quase todas pertenciam mais ou menos
ostensivamente aos vencidos de 1817".
A 29 de agosto de 1821 nomeou-se por aclamação uma Junta Provisional Temporária em Goiana,
para contrabalançar outra, do partido português, em Recife. Mesmo pedindo reforços à Paraíba,
Rego Barreto foi cercado, assinando a capitulação a 5 de outubro, junto à povoação do Beberibe.
[] Reflexos na Paraíba
A vitória dos pernambucanos ecoou na vizinha Paraíba, onde a 25 de outubro foi eleita uma Junta
Governativa para administrar a província em nome da Constituição portuguesa.
[] Reflexos no Maranhão
A província do Maranhão era governada desde 1819 pelo marechal Bernardo da Silveira Pinto da
Fonseca. Este, sem poder deixar de admitir a autoridade de um Conselho Consultivo, conseguiu
transformar em farsa a eleição da Junta no dia 13 de abril, sendo ele próprio proclamado
Governador provisório. Mandou, em seguida, deportar diversos patriotas, procedendo à eleição de
dois deputados às Cortes de Lisboa. Posteriormente, no dia 15 de fevereiro de 1822 foi eleita uma
Junta Provisória e o marechal embarcou de volta para Portugal.
[] A partida do rei
Pressionado pelo triunfo da revolução constitucionalista, o soberano retornou com a família real a
Portugal, deixando como Príncipe-regente no Brasil o seu primogênito, D. Pedro de Alcântara.
[] As divergências
Não se pode compreender o processo de independência sem pensar no projeto recolonizador das
Cortes portuguesas, a verdadeira origem da definição dos diversos grupos no Brasil. Embora o
rompimento político com Portugal fosse o desejo da maioria dos brasileiros, havia muitas
divergências. No movimento emancipacionista havia grupos sociais distintos: a aristocracia rural
do sudeste partido brasileiro, as camadas populares urbanas liberais radicais e por fim, a
aristocracia rural do norte e nordeste, que defendiam o federalismo e até o separatismo.
A aristocracia rural do sudeste, a mais poderosa, era conservadora, lutando pela independência,
defendendo a unidade territorial, a escravidão e seus privilégios de classe. Os liberais radicais
queriam a independência e a democratização da sociedade, mas seus chefes, Joaquim Gonçalves
Ledo e José Clemente Pereira, permaneceram atrelados à aristocracia rural, sem revelar vocação
revolucionária. A aristocracia rural do norte e nordeste enfrentava a forte resistência dos
comerciantes e militares portugueses, Josué fortes no Pará, Maranhão e Bahia. Além disso,
desconfiavam da política centralizadora de José Bonifácio.
O partido português no Brasil chamado por vezes dos pés de chumbo, estava do lado das Cortes;
o partido brasileiro e os liberais radicais eram contra, mas divergiam quanto aos objetivos. Para
opartido brasileiro, o ideal era a criação de uma monarquia dual (Brasil e Portugal) para preservar
a autonomia administrativa e a liberdade de comércio. Mas a intransigência das Cortes
portuguesas, que nada tinham de liberais, fez o partido inclinar-se pela emancipação, sem alterar
a ordem social e os seus privilégios. Já os liberais radicais formavam agrupamento quase
revolucionário, bem perto das camadas populares urbanas, sendo alguns republicanos. No
conjunto, tratava-se do grupo mais receptivo às mudanças mais profundas e democráticas da
sociedade.
Na disputa contra os conservadores, os radicais cometeram o erro de reduzir a questão à luta pela
influência sobre o Príncipe Regente. Era inevitável que este preferisse os conservadores. Ademais,
os conservadores encontraram em José Bonifácio um líder bem preparado para dar à
independência a forma que convinha às camadas dominantes.
A arquiduquesa da Áustria e imperatriz do Brasil, Dona Maria Leopoldina Josefa Carolina, exerce a
regência, na ausência de D. Pedro I, que se encontrava em São Paulo. A imperatriz envia-lhe uma
carta, juntamente com outra de José Bonifácio, além de comentários de Portugal criticando a
atuação do marido e de dom João VI. Ela exige que D. Pedro proclame a Independência do Brasil
e, na carta, adverte: O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece.
A decisão do príncipe de desafiar as Cortes decorreu de um amplo movimento, no qual se
destacou José Bonifácio de Andrada e Silva. Membro do governo provisório de São Paulo,
escrevera em 24 de dezembro de 1821 uma carta a D. Pedro, na qual criticava a decisão das
Cortes de Lisboa e chamava a atenção para o papel reservado ao príncipe na crise. D. Pedro
divulgou a carta, publicada na Gazeta do Rio de Janeiro de 8 de janeiro de 1822 com grande
repercussão. Dez dias depois, havia chegado ao Rio uma comitiva paulista, integrada por José
Bonifácio, para entregar ao príncipe a representação paulista. No mesmo dia, D.Pedro I nomeou
José Bonifácio ministro do Reino e dos Estrangeiros, cargo de forte significado simbólico: pela
primeira vez o cargo era ocupado por um brasileiro.
D. Pedro ganhou forte apoio popular com a decisão do Fico. Para resistir às ameaças de
recolonização foi decretada, em 16 de fevereiro de 1822, a convocação de um Conselho de
Procuradores Gerais das Províncias do Brasil. Teoricamente, tinha por finalidade auxiliar o príncipe
mas na prática tratava-se de manobra dos conservadores, liderados por José Bonifácio, contra os
radicais, representados por Joaquim Gonçalves Ledo, um funcionário público para quem a
preservação da unidade político-territorial do Brasil deveria ser feita convocando-se uma
Assembléia Constituinte eleita pelo povo. O conselho foi convocado exatamente para evitar isso e
manter a unidade sob controle do poder central e dos conservadores.
Em maio, a cisão entre D. Pedro e as Cortes aprofundou-se: o regente determinou que qualquer
decreto das Cortes só poderia ser executado mediante o « Cumpra-se » assinado por ele, o que
equivalia a conferir plena soberania ao Brasil. A medida teve imediato apoio: a 13 de maio o
Senado da Câmara do Rio de Janeiro conferiu ao príncipe regente o título de Defensor Perpétuo
do Brasil.
Houve uma investida militar da Divisão Auxiliadora, estacionada no Rio sob o comando do Tenente
general Jorge de Avilez, expulso do Brasil com suas tropas.
Os liberais radicais mantinham-se ativos: por iniciativa de Gonçalves Ledo, uma representação foi
dirigida a D. Pedro para expor a conveniência de se convocar uma Assembléia Constituinte. O
príncipe decretou a convocação em 13 de junho de 1822. A pressão popular levaria a convocação
adiante, dando continuidade ao processo.
José Bonifácio resistiu à idéia de convocar a Constituinte, mas foi obrigado a aceitá-la. Procurou
descaracterizá-Ia, propondo a eleição indireta, que acabou prevalecendo contra a vontade dos
liberais radicais, que defendiam a eleição direta. Embora os conservadores tenham obtido o
controle da situação e o texto da convocação da Constituinte apresentasse declarações favoráveis
à permanência da união entre Brasil e Portugal, as Cortes insistiam: o príncipe regente deveria
retornar imediatamente.
[] A declaração de Independência
Tela a óleo sobre a Independência do Brasil, de François-René Moreaux, que hoje é conservado no
Museu Imperial de Petrópolis. Foi executado em 1844, a pedido do Senado imperial.
No final de agosto, D. Pedro viajava para a província de São Paulo para acalmar a situação depois
de uma rebelião contra José Bonifácio. Apesar de ter servido de instrumento dos interesses da
aristocracia rural, à qual convinha a solução monárquica para a independência, não se deve
desprezar seus interesses próprios. Tinha formação absolutista e por isso se opusera à revolução
do Porto, liberal. Da mesma forma, a política recolonizadora das Cortes desagradou à opinião
pública brasileira. E é nisso que se baseou a aliança entre D. Pedro e o «partido brasileiro».
Assim, se a independência do Brasil pode ser vista, objetivamente, como obra da aristocracia
rural, é preciso considerar que teve início como compromisso entre o conservadorismo da
aristocracia rural e o absolutismo do príncipe.
Ao voltar de Santos, parando às margens do riacho Ipiranga, D. Pedro de Alcântara recebeu uma
carta com ordens de seu pai, para que ele voltasse para Portugal, se submetendo ao rei e às
Cortes. Vieram juntas duas cartas, uma de José Bonifácio, que aconselhava D. Pedro a romper
com Portugal, e a outra da esposa, Maria Leopoldina, apoiando a decisão do ministro. D. Pedro I,
impelido pelas circunstâncias, pronunciou as famosas palavras Independência ou Morte!,
rompendo os laços de união política com Portugal, em 7 de Setembro de 1822. Ao chegar na
capital, Rio de Janeiro, foi aclamado Imperador, com o título de D. Pedro I.
Culminava o longo processo de emancipação, iniciado em 1808 com a vinda da família real. A 12
de outubro de 1822, D. Pedro foi aclamado imperador e coroado em 1 ° de dezembro.
[] A guerra da Independência
[] Conseqüências
À semelhança do processo de independência de outros países latino-americanos, o de
independência do Brasil preservou o "status" das elites agro-exportadoras, que conservaram e
ampliaram os seus privilégios políticos, econômicos e sociais.
Ao contrário do ideário do Iluminismo, e do que desejava, por exemplo, José Bonifácio de Andrada
e Silva, a escravidão foi mantida, assim como os latifúndios, a produção de gêneros primários
voltada para a exportação e o modelo de governo monárquico.
Para ser reconhecido oficialmente, o Brasil negociou com a Inglaterra e aceitou pagar
indenizações de 2 milhões de libras esterlinas a Portugal. Inglaterra saiu lucrando, tendo início o
endividamento externo do Brasil. Quando D. João VI retornou a Lisboa, por ordem das Cortes,
levou todo o dinheiro que podia — calcula-se que 50 milhões de cruzados, apesar de ter deixado
no Brasil sua prataria e a enorme livraria, com obras raras que compõem, hoje, o acervo básico
da Biblioteca Nacional. Em conseqüência da leva deste dinheiro para Portugal, o Banco do Brasil,
fundado por D. João VI em 1808, faliu em 1829.
[] Considerações historiográficas
Independência ou Morte!
Pedro, regente do Brasil, futuro imperador
do Brasil, 7 de Setembro de 1822
A data comemorada oficialmente é 7 de setembro de 1822, uma vez que nesse dia, às margens
do riacho Ipiranga, em São Paulo, o príncipe-regente D. Pedro, ao receber a correspondência da
Corte, teria proclamado o chamado "grito da Independência", à frente da sua escolta:
Independência ou Morte!