You are on page 1of 9

Repertório, Salvador, nº 23, p.58-66, 2014.

A NARRATIVA DE DUPLO
FOCO NA DRAMATURGIA
DO MUSICAL CLÁSSICO DE
HOLLYWOOD

Guilherme Maia1 e Lucas Ravazzano2

Resumo: Este artigo3 discute a potência da sinergia en- Palavras-chave: Canção popular. Drama sentimental
tre a canção popular e o drama sentimental cinemato- cinematográfico. Estratégias dramatúrgicas.
gráfico; reflete brevemente sobre o lugar do filme mu-
sical, no contexto dos estudos fílmicos, e põe em foco Abstract: This article discusses the power of synergy
algumas estratégias dramatúrgicas, flagradas por Rick between popular song and the sentimental drama film,
Altman (1987) no epicentro do gênero que, segundo briefly reflects on the place of film music in the con-
Thompson e Bordwell (2003), pode ser considerado o text of film studies, and spotlights some dramaturgical
mais estável da indústria de Hollywood, ao longo da strategies caught by Rick Altman (1987) at the epicenter
História. of the genre that, according to Bordwell and Thomp-
son (2003), can be considered the most stable of the
Hollywood industry throughout history.
1
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Pro-
fessor da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós- Keywords: Popular song. Sentimental drama film. Dra-
graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da maturgical strategies
Universidade Federal da Bahia.
2
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Comuni-
cação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da
Bahia.
3
Este artigo foi desenvolvido no âmbito dos estudos pre-
liminares dos projetos de pesquisa “O Cinema Musical na
América Latina: ficção, documentários e novos formatos”,
apoiado pelo edital FAPESB 11/2013 de Apoio à Formação
e Articulação de Redes de Pesquisa no Estado da Bahia, e
“Os musicais no Brasil: cinema e televisão”, apoiado pelo ed-
ital Universal MCTI/CNPq Nº 14/2013. As duas pesquisas
partem do exame de definições, tipologias e estruturas nar-
rativas dos musicais clássicos de Hollywood, pela influência
que esses filmes exerceram sobre o gênero musical no Brasil
e na América Latina.
58
Repertório, Salvador, nº 23, p.58-66, 2014.2

A canção popular e o drama sentimental simplesmente não tem aceitação.5


como fórmula de sucesso.
No âmbito da historiografia do cinema, The O que Altman afirma tem comprovação empíri-
jazz singer (O cantor de jazz. Alan Crosland, 1927)4 ca no texto que antecede a exibição de um pequeno
aparece recorrentemente citado como o primeiro filme disponível na Biblioteca do Congresso dos
filme sonoro. A rigor, contudo, já se sabe que este Estados Unidos:
filme marca apenas uma etapa de um processo que
teve início na própria gênese do cinema. Como O filme que você está prestes a ver (e ouvir!) foi filmado
pesquisas históricas mais rigorosas comprovam, em algum momento no final de 1894 ou início de 1895
um cinema essencialmente visual, a rigor, nunca no laboratório de Thomas Edison em West Orange,
houve. É útil, nesse sentido, transcrever aqui um Nova Jersey, por William Kennedy Laurie Dickson. Foi
um teste para o projeto do ‘Kinetophone’ de Edison, a
parágrafo do artigo introdutório do livro “Sound
primeira tentativa na história de gravar som e imagem em
theory, sound practice”, de Rick Altman (1992, p. movimento em sincronização. Durante muitos anos, no
36, tradução nossa): entanto, acreditou-se que o cilindro de cera contendo a tri-
lha sonora cera, havia sido perdido. De modo convidativo,
Aqui, por exemplo, vai um pop quiz que os detra- um cilindro quebrado rotulado como ‘Violin by WKL
tores do som certamente não acertariam. Em que Dickson with Kineto’ foi catalogado em 1964 em inven-
ano o seguinte editorial apareceu? – ‘Na minha tário do acervo do Edison National Historic Site. Em
opinião os filmes com diálogos e cantos tendem 1998, este cilindro foi reparado e re-gravado no Rogers
mais cedo ou mais tarde a se tornarem uma carac- and Hammerstein Archive of Recorded Sound, Lincoln
terística permanente das salas de cinema’. 1926? Center, em Nova York. O trabalho aqui apresentado é a
1927? 1928? Errado e por larga margem. Este primeira vez em que a imagem do filme original e a trilha
editorial de 1910 da [revista] Moving Picture World sonora do cilindro de cera foram sincronizados e exibidos
apareceu no auge da expansão do filme com som. desde que Thomas Edison, W.K. L Dickson e seus co-
Dispositivos como Cameraphone, Chronopho- legas testemunharam a mais de cento e cinco anos atrás.
ne, Cinephone e dúzias de outros sistemas con- (Tradução nossa)6
correntes não só foram inventados neste período;
durante o final da primeira década do século ar-
tefatos dessa natureza foram instalados em cen- 5
“Here, for example, is a pop quiz that is not likely to be passed by
tenas de teatros na Europa e nos Estados Unidos sound detractors. In what year did the following editorial appear? ‘In my
de costa a costa. A concorrência entre eles, diga- opinion the singing and talking moving picture is bound sooner or later
se de passagem, não decorre dos filmes mudos, to become a permanent feature of the moving picture theater’. 1926?
com ou sem acompanhamento musical, mas de 1927? 1928? Wrong by a wide margin. This 1910 Moving Picture
teatros itinerantes muito sofisticados e efeitos World editorial came at the height of sound film's expansion. Camera-
phone, Chronophone, Cinephone and dozens of other competing systems
cuidadosamente sincronizados (uma técnica ori-
were not only invented in this period; during the end of the century’s first
ginada por Lyman Howe), e das muitas ‘wheels’ decade they were installed in hundreds of theaters across Europe and
(companhias de vaudeville) que empregavam from coast to coast in the United States. Their competition came, by the
recursos de voz-humana-atrás-da–tela, com no- way, not from silent films, with or without musical accompaniment, but
mes expressivos como Humanovo, Actologue, from road shows with extremely sophisticated and carefully synchronized
Humanophone, Humanoscope, Natural Voice effects (a technique originated by Lyman Howe), and from the many
Talking Pictures, Ta-Mo-Pic, and Dram-o-tone. ‘wheels’ (vaudeville like companies) of human-voice-behind-the-screen
[….] De um ponto de vista puramente histórico, companies, with colorful names like Humanovo, Actologue, Humano-
a noção que o som é uma adição oportunista a phone, Humanoscope, natural Voice talking Pictures, Ta-Mo-Pic, and
um meio silencioso com trinta anos de existência Dram-o-tone. (...) From a pure historical point of view, the notion that
sounds is a Johnny-come-lately add-on to a thirty-year-old silent medium
simply will not stand.”
6
“The film you are about to see (and hear!) was shot sometime in late
1984 or early 1895 at Thomas Edison’s laboratory in West Orange,
4
Filme baseado no conto “The Day of Atonement”, escrito New Jerey, by William Kennedy Laurie Dickson. Ir was a test for Edi-
por Samson Raphaelson, que deu origem à popular peça da son’s “Kinetophone”projecto, the first attempt in history to record sound
Broadway, em 1926, do mesmo nome e foi adaptado para o and moving image in synchronization.The wax cylinder, however, was
cinema por Alfred A. Cohn believed lost for many years. Tantalizingly, a broken cylinder labelled
59
Repertório, Salvador, nº 23, p.58-66, 2014.2

Sendo inevitável, portanto, acolher a evidência Cabe observar, todavia, que a fórmula que ar-
de que o cinema sempre foi, de uma forma ou de ticulou em um mesmo tecido textual a canção po-
outra, um fenômeno de natureza audiovisual, cabe pular e o drama sentimental, em O cantor de Jazz
perguntar: por que então O cantor de jazz divide as gerou um lucro de US$ 3,5 milhões, compensando
águas no curso da História, como um marco da com folga o até então considerado arriscado inves-
chegada ao mundo do cinema sonoro? Não, de- timento de meio milhão de dólares da Warner no
certo, por motivos de natureza tecnológica, uma sistema Vitaphone. Segundo Tim Dirks,8 o gran-
vez que o filme ainda usava o sistema Vitaphone. de sucesso comercial do filme colocou a Warner,
Tampouco por ter sido o primeiro longa-metra- temporariamente, no posto de líder do mercado
gem sonorizado, o primeiro talkie ou o primeiro e marcou o declínio final do cinema “silencioso”.
musical. O cantor de jazz foi lançado em outubro A rigor, O cantor de jazz é um part-talkie, um filme
de 1927. Antes dele, a Warner havia lançado ou- híbrido de cinema mudo, com algumas performan-
tros longas, com as imagens em sincronização com ces musicais e um par de falas com som sincrôni-
discos, como Don Juan (Don Juan. Alan Crosland, co. Nos dois anos seguintes, a Warner lançaria o
1926), The Better’Ole (A Guerra é um Buraco. Char- seu primeiro all-talkie, Lights of New York (Luzes de
les Reisner, 1926), Old San Francisco (Vaidade social. Nova Iorque. Bryan Foy, 1928) e o seu primeiro all-
Alan Crosland, 1927) e The First Auto (O primeiro talking, all-singing, all-dancing, Broadway Melody (Melo-
automóvel. Roy Del Ruth, 1927). dia da Broadway. Harry Beaumont, 1929), também
Alan Williams (1992, p. 129, tradução nossa), um grande sucesso de bilheteria, que superou uma
afirmando com humor que “se O cantor de jazz não série de dificuldades técnicas ainda notáveis em Lu-
tivesse existido, historiadores de tendência cultu- zes de Nova Iorque. Como nos contam Thompson e
ralista seriam tentados a inventá-lo”,7 nos explica Bordwell (2009), na esteira do sucesso comercial
que poucos filmes cristalizaram tão claramente de O cantor de jazz e Melodia da Broadway, o musical
as forças em luta, em um determinado momento tornou-se um major genre, o gênero mais durável na
histórico, e que poucos tiveram uma influência tão história do cinema de Hollywood. Ao longo dos
expressiva no que aconteceu ao meio depois deles. anos 1930, impulsionado pelo sucesso nas bilhe-
Williams atribui a importância do filme em questão terias e pela acirrada competição entre as majors, o
ao fato de O cantor de jazz combinar no roteiro duas gênero floresceu, atraiu investimentos financeiros,
fórmulas bem-sucedidas que, até então, trilhavam técnicos e artísticos, e consagrou diretores, com-
caminhos distintos: o “musical enlatado” (canned positores, coreógrafos, atores-cantores-dançarinos,
musical), isto é, performances de cantores em palco montadores e obras. Por volta do final dos anos de
filmadas com som sincrônico e filmes narrativos 1940, todos os estúdios de Hollywood investiam
mudos, especialmente dramas sentimentais fami- de modo expressivo nesse filão.
liares, acompanhados por música e efeitos sonoros Ao longo do tempo, o musical de ficção de
gravados em disco. Hollywood sofreu transformações formais, temá-
ticas e na dimensão da receptividade por parte do
público. Qualquer pessoa com razoável grau de
cinefilia sabe, contudo, que o filme musical de fic-
ção jamais deixou de ser produzido e oferecido às
‘Violin by WKL Dickson with Kineto’ was catalogued in the 1964
plateias pela indústria de Hollywood. Prova disso
inventory at the Edison National Historic Site. In 1998, this cylinder
was repaired and re-recorded at the Rogers and Hammerstein Archive pode ser obtida por meio de uma rápida consul-
of Recorded Sound, Lincoln Center, New York. The work-in-process ta ao Internet Movie Database, regulando o filtro
presented here is the first time the original image and wax cylinder sound para musicais produzidos nos Estados Unidos no
track have been rejoinded, synchronized and exhibited since Thomas
Edison, W.K.L. Dickson and their colleagues witnesssed them over one
hundred and five years ago.” O filme está disponível em: <https://
archive.org/details/dicksonfilmtwo>. 8
The History of film: the 1920s. Disponível em: <http://
7
“If The Jazz Singer had not existed, culturally inclined historians www.filmsite.org/20sintro4.html>. Acesso em: 02 mar.
would be tempted to invente it.” 2014.
60
Repertório, Salvador, nº 23, p.58-66, 2014.2

século XXI: o banco nos responde com o impres- é uma mulher (Une femme est une femme. 1961), logo
sionante número de 351 títulos, que dialogam com após o lançamento da obra. Como hoje sabemos, o
um amplo conjunto de gêneros classificados pelo tempo não confirmou a hipótese de Godard, mas
IMDB como drama, comédia, romance, fantasia, não é difícil entender, com base nas ideologias que
aventura, horror, ficção científica, animação e wes- subjazem à Política dos Autores e aos cinemas mo-
tern. Cabe ressaltar, ainda, a vigorosa influência dernos, de um modo geral, os motivos pelos quais
que os filmes musicais exerceram e ainda exercem os filmes musicais foram desprezados pelas teo-
mundo afora, fato facilmente comprovável na lei- rias do cinema e considerados obras “menores”,
tura dos artigos do livro “International Film Mu- não meritórias de atenção acadêmica. Ao invés de
sic” (CREEKMUR; MOKDAD, 2013), no qual aprofundar o debate sobre essa questão, entretan-
autoras e autores, de diversas nacionalidades, tra- to, optamos, neste artigo, por apresentar alguns as-
çam panoramas do cinema musical em países da pectos do estudo que pode ser considerado um dos
Europa, América Latina, Ásia e Oriente Médio.9 primeiros a conferir ao musical cinematográfico
uma atenção teórica digna da importância histórica
O cinema musical no contexto da teoria ci- e estética do gênero. Falamos aqui do livro “The
nematográfica American film musical”, escrito por Rick Altman e
Se podemos afirmar, portanto, que existem su- lançado em 1987, no qual o autor examina em di-
ficientes evidências da potência dramatúrgica, ar- mensão microscópica a estrutura dramatúrgica de
tística e comercial da ficção musical cinematográ- um corpus de obras que parte do já citado Melodia
fica, muito provavelmente por conta da forte cisão da Broadway e abrange filmes produzidos até o final
entre arte e entretenimento que domina o campo dos anos de 1960. Ou seja, sua pesquisa situa-se
dos estudos sobre o cinema, os filmes musicais, no período que autores como David Bordwell e
considerados por muitos como o maior exemplo Kristin Thompson (2001) classificam como o perí-
do caráter escapista dos filmes produzidos pela odo clássico da cinematografia hollywoodiana. A
“indústria do sonho” de Hollywood, durante mui- influência do livro de Altman pode ser facilmente
to tempo foram varridos para debaixo do tapete da comprovada pela constante e reverente referência
história. a ele, flagrada em estudos posteriores realizados
Um bom indício dessa tendência é que somente por autores como Barry K. Grant (2012), Richard
em 2009 a autora Rimaglia Salys traz à luz a história Barrios (1995), Jane Feuer (1993) e praticamente
não contada sobre as comédias musicais dirigidas em todos os artigos reunidos na já citada coletânea
pelo célebre Grigori Vasilyevich Aleksandrov, um “International film music”. Independentemente de
dos pilares, junto com Eisenstein e Pudovkin, do concordar ou não com as hipóteses plantadas por
cinema construtivista russo, muito embora, como Altman, todos os autores aqui referidos as tomam
nos mostra a autora, com base em documentos dos como base para suas reflexões.
estúdios, material de imprensa e entrevistas com
membros ainda vivos das equipes de Alexandrov, A contribuição de Rick Altman para os es-
os filmes musicais do diretor tenham sido os mais tudos sobre o filme musical
populares do cinema russo dos anos de 1930-40. Os musicais, para Altman (1987), assim como
Outro exemplo importante do modo como o outros gêneros narrativos, nos geram uma expec-
cinema musical é encarado pelos estudos fílmicos tativa de certas relações entre personagens e pa-
é a referência feita por Björn Nördfjörd (2012) à drões em sua trama. O autor entende que os filmes
célebre afirmação de Godard – “O musical está musicais apresentam tramas centradas em um casal
morto” –, falando sobre o seu filme Uma mulher de protagonistas. O foco e o conflito da trama, en-
tretanto, não seria o casal se apaixonar, nem casar,
mas a resolução de suas diferenças. É possível ver
que muitas produções do período apresentavam
Os países contemplados pelo livro citado são: Inglaterra,
9

França, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália, Grécia, México, protagonistas com posturas opostas, que nem sem-
Brasil, Japão, Egito e Turquia. pre se envolviam romanticamente, como ocorre
61
Repertório, Salvador, nº 23, p.58-66, 2014.2

nos filmes estrelados por Shirley Temple, nos quais pessoais dos protagonistas, que normalmente são
a pequena sempre encontrava em um adulto sério pessoas sem muito renome em seu meio, buscando
um contraponto para sua personalidade infantil alavancar a carreira através da produção concre-
expansiva. Para o autor, estes musicais do perío- tizada durante a trama. O mundo ideal é o show
do clássico trabalham com a constante oposição propriamente dito, é o sonho dos personagens tor-
entre o masculino e o feminino, constantemente nado tangível e onde eles se realizam.
construindo o casal de protagonistas como figu- Já o musical folk, para Altman, oferece ao públi-
ras diametralmente opostas, cujas características se co uma versão mitificada do passado cultural ame-
apresentam em constante antagonismo. Devido a ricano. Diferentemente dos outros dois subgêne-
essa alternância da trama, em contrapor narrativa ros, que nos apresentam uma realidade contraposta
e tematicamente os protagonistas masculino e fe- a universos com algum viés de faz de conta e um
minino, Altman afirma que o musical americano rompimento mais claro com a realidade, o musical
possui uma narrativa de duplo foco. folk, para o autor, pinta o mundo real através do
Além disso, o autor percebe algumas subdivi- poder transformador da memória. Deste modo,
sões nessa construção da narrativa de duplo foco o subgênero não depende totalmente da história
do musical americano, identificando a existência de americana, mas também não a ignora por comple-
três “subgêneros” mais marcantes na produção dos to, se situando no espaço intermediário que se cos-
musicais: o musical conto de fada, o musical show e tuma designar por tradição ou folclore.
o musical folk. O musical conto de fada seria aquele Altman identifica dois extremos dessa represen-
mais focado na produção de um romance e um en- tação mitificada da realidade no musical folk. De
lace sexual entre os personagens. Entretanto, essa um lado, o subgênero dá ênfase ao pitoresco, quase
natureza sexual é mascarada por uma visão mais ao ponto da exclusão da realidade observada como
romantizada dos relacionamentos, disfarçada sob ocorrem em filmes tais como The Little Colonel (A
cenários exóticos e fantásticos, diluída em narrati- Mascote do Regimento. David Butler, 1935), Shipma-
vas sobre batalhas e aventuras. tes Forever (Viva a Marinha. Frank Borzage, 1935) e
O musical show compreenderia aquilo a que Rose Marie (Idem. W.S. Van Dyke, 1936). Em outro
muitos autores se referem como musical de bas- extremo desses filmes que retratam uma realidade
tidores ou backstage musical. Altman, entretanto, quase que utópica, temos obras realizadas nos anos
rejeita esta denominação, por considerá-la dema- de 1960 e 70, como Nashville (Idem. Robert Alt-
siadamente restritiva, por não englobar filmes que man, 1975), cujo realismo, para ele, chega a amea-
não se passam dentro ou ao redor de um teatro da çar a identidade do filme enquanto musical.
Broadway. Assim, esta tipificação proposta pelo Embora cada um desses subgêneros tenha suas
autor leva em conta filmes cuja trama é centrada na especificidades temáticas e dramatúrgicas, o desen-
criação de algum tipo de espetáculo ou show, seja volvimento da trama e a inserção das performances
ele uma peça da Broadway, uma revista de moda, de canto e dança são sempre guiados, no roteiro li-
um espetáculo escolar ou um filme hollywoodiano. terário, pela organização da obra em uma narrativa
Neste tipo de filme, a resolução do conflito entre de duplo foco.
os dois protagonistas está, simbólica e casualmen-
te, relacionada ao sucesso e à realização do show. A narrativa de duplo foco
Os Estados Unidos já tinham uma tradição na Podemos ver esse pressuposto exemplificado
produção teatral de musicais e, segundo o autor, no filme New Moon (Lua Nova. Robert Z. Le-
tudo que Hollywood fez foi aproveitar essa tradi- onard, 1940) da MGM. O filme abre mostrando
ção do palco, com a intenção inicial de usar essa um navio francês a caminho da cidade americana
tradição musical teatral para promover os recur- Nova Orleans, em 1789, transportando um grupo
sos sonoros recém-desenvolvidos. Aqui temos a de damas da alta sociedade, muito bem-vestidas;
oposição entre o mundo real e o mundo idealiza- depois de algum tempo, a protagonista, Marianne
do muito bem definida, a realidade são os ensaios, de Beaumanoir, começa a sua primeira canção. Aos
o desenvolvimento da produção e os problemas poucos, o canto da personagem vai sendo abafado
62
Repertório, Salvador, nº 23, p.58-66, 2014.2

por vozes masculinas, a câmera corta, então, para definido por preocupações consideradas comuns
a fonte desta segunda canção. No compartimen- aos homens do início do século, como negócios,
to de carga está um grupo de homens franceses política e riqueza. Cada cena envolvendo um deles
que serão vendidos à escravidão, assim que o navio seria invariavelmente igualada por uma cena pa-
aportar, o líder, Charles, toma a frente da canção. ralela (canção, plano, evento) envolvendo o outro
O personagem é filmado exatamente do mesmo componente do casal.
modo que a protagonista feminina: plano aberto, O autor entende que se virmos Gigi pelo ponto
nas duas primeiras falas, plano médio, na terceira, e de vista de uma trama guiada por noções de cau-
um close-up na sétima. sa e efeito, o filme seria uma obra incapaz de im-
Para Altman, essa primeira cena já demonstraria pressionar, já que considera que o filme desperdiça
paralelos claros e cuidadosamente construídos entre tempo, apresenta poucas motivações e parece mais
os dois. Ele considera que os personagens são uni- preocupado em mostrar os dias representativos da
dos por uma mesma escala de planos, mise-en-scène vida de seus personagens do que costurar tudo em
e domínio sobre a música, mas, ao mesmo tempo, uma narrativa fechada e coesa. No entanto, Altman
contrastam implicitamente de numerosas maneiras. justifica que se visto pelo viés da estrutura de duplo
O autor entende que as cenas não devem ser vistas foco, é possível perceber que desde suas primeiras
como algo que ocorra em uma sequência, uma após palavras o filme cria um todo organizado e com-
a outra, se referindo ao encadeamento de relações pacto. As palavras do autor referem-se ao cumpri-
de causa e efeito que norteiam a progressão da tra- mento do personagem Honoré, que inicia o filme
ma, que Bordwell e Thompson (2001) afirmam ser dizendo “Bonjour Monsieur, bonjour Madame” e,
a base estrutural das narrativas do cinema clássico de acordo com Altman, já divide o mundo em dois
hollywoodiano, mas que acontecem uma em contra- grupos, os mesmos dois grupos que governarão a
posição a outra. As relações de causa e efeito entre estrutura do filme. Essa divisão será marcada, ao
os dois momentos seriam elementos secundários longo do filme, através das canções que irão alter-
para Altman, pois o principal seria que nos apresen- nadamente destacar as características de cada grupo
tam os dois centros do qual o filme depende: ela ou do personagem que o representa. Para Altman,
é rica, culta, bela, facilmente ofendida; ele é pobre, esta alternância entre os números musicais serve
prático, enérgico e obstinado. Ainda assim, compar- para estabelecer a dualidade sexual, criando, então,
tilham um atributo essencial: ambos cantam. um contexto no qual cada frase seria sentida não
Deste modo, teríamos, de acordo com Altman, por si mesma, mas em função de sua contraparte
dois centros de poder, dois sexos, duas posturas, cantada pelo outro membro do casal.
duas classes, dois protagonistas. No musical, es- Do mesmo modo, quando esses filmes são es-
tes dois centros funcionam constantemente em trelados por uma dupla de adultos e que resultam
uma relação de paralelismo e não de causalidade, em um envolvimento romântico, este depende do
como se afere costumeiramente ao cinema clássico entendimento e resolução das diferenças entre o
americano. Os musicais, de acordo com Altman, casal, como vemos em The sound of music (A Noviça
alternariam entre o foco os dois protagonistas, Rebelde. Robert Wise, 1965). No filme, a personali-
operando através daquilo que ele considera como dade espontânea da noviça, interpretada por Julie
uma história de amor predeterminada, cujo princí- Andrews, tem de conviver com o rígido patriarca
pio dinâmico são as diferenças entre o homem e a dos Von Trapp, vivido por Christopher Plummer.
mulher. Ao final, ela aprende a importância da disciplina e
Este paradigma pode ser visto em muitos outros ele a ser mais descontraído. Apenas quando estas
musicais do período clássico, como Gigi (Idem. perspectivas conflitantes encontram um ponto de
Vincent Minelli, 1958), que também coloca em pa- equilíbrio é que o relacionamento pode florescer e
ralelo os dois protagonistas, Gigi e Gaston, mesmo se consolidar. Nestes exemplos, percebemos nos
antes dos dois se conhecerem. Para Altman, Gigi musicais:
seria definida por preocupações femininas (apa-
rências, roupas, boas maneiras), já Gaston seria
63
Repertório, Salvador, nº 23, p.58-66, 2014.2

[...] uma oposição secundária, mas essencial, à di- No próximo tópico, Altman nos mostra como se
visão primária dos sexos: cada sexo é identificado dá o trânsito do regime naturalista do drama para a
com uma determinada atitude, valor, desejo, lu- dimensão espetacular da performance, no contex-
gar, idade ou outro atributo característico. Essas to dos musicais por ele estudados.
oposições secundárias sempre começam como
diametralmente opostas e mutuamente exclusi-
O estilo do musical
vas.10 (ALTMAN, 1987, p. 24, tradução nossa)
Como já foi dito, os musicais utilizam os meios e
modos da linguagem cinematográfica para ressaltar
Quando a dupla de protagonistas não é adequa-
o paralelismo entre os dois protagonistas dos fil-
da a uma trama visando um enlace romântico, seja
mes. Além da dualidade dos personagens, Altman
por um deles ser jovem ou insólito demais, o autor
afere uma segunda característica ao gênero, esta de
identifica duas soluções possíveis para que o du-
natureza estilística. Para o autor, nos musicais te-
plo foco seja mantido. No primeiro, a protagonista
mos uma irrealidade sedutora que caminha lado a
mais jovem teria como par um homem mais velho,
lado com uma realidade não sedutora. Durante a
que seria um aliado, ao invés de um parceiro ro-
progressão narrativa de um musical, portanto, te-
mântico. Vemos isso em filmes como o já citado A
mos um contraponto entre a realidade vivida pe-
Mascote do Regimento ou One Hundred Men and a Girl
los personagens e a abordagem exagerada, idílica e
(100 Homens e uma Menina. Henry Koster, 1937),
fantasiosa dos números de canto e dança que per-
no qual as jovens protagonistas se aliam a homens
meiam estas obras. Performances que, conforme já
mais velhos, e com personalidades antagônicas às
tratamos, são utilizadas para ressaltar os paralelos
suas, para atingir seus objetivos. A segunda alterna-
entre o casal de protagonistas
tiva, de acordo com Altman, seria colocar um casal
Altman considera que as performances musi-
secundário apaixonado, enquanto a dupla principal
cais são tão divorciadas da realidade que sentimos
atua como catalizador desse romance, como acon-
como se fossem um sonho. Inclusive, muitos mu-
tece em Little Miss Broadway (Miss Broadway. Irving
sicais do período clássico e até mesmo obras con-
Cummings, 1938).
temporâneas, como Chicago (Idem. Rob Marshall,
Podemos ver, deste modo, como o musical clás-
2002), usam cenas envolvendo imaginação, sonhos
sico compõe sua trama a partir de dois persona-
e delírios, para transitar entre esses dois universos.
gens paralelos, com personalidades contrapostas.
Isso, entretanto, diz pouco sobre o funcionamen-
De acordo com Altman, cada parte do filme serve
to estilístico dos musicais. Para Altman, a identifi-
para relembrar a sua dualidade, trazendo um novo
cação destas quebras entre duas realidades é feita
componente da oposição entre os personagens em
através de três fenômenos que guiam as escolhas
cada cena, sendo principalmente através das can-
estilísticas dos cineastas: a dissolução do áudio,11 a
ções que as oposições e a eventual aproximação são
dissolução de vídeo12 e a dissolução de personali-
destacadas. As ocasiões em que os personagens se
dade.13 Como são estes três fenômenos que guiam
colocam em oposição mais direta ou se aproximam
a inserção das performances de canto e dança, nas
são marcadas por canções em dueto, que represen-
narrativas de duplo foco, partiremos deles para
tam momentos de máxima tensão ou exultação.
compreender como se apresentam na materialida-
As noções trabalhadas aqui nos ajudam a en-
de da obra fílmica.
tender como se estruturam os musicais e de que
modo as performances de canto e dança se rela-
Dissolução de áudio
cionam com as tramas dos filmes. Mas como essas
Em um filme, normalmente temos dois tipos
performances são inseridas no filme e na diegese?
de som, aquele que se origina dentro da diegese e o

10
“[…] a secondary but essential opposition qlongside the primary
sexual division: each sex is identified with a particular atitude, value,
11
Audio dissolve, no original em inglês.
desire, location, age, or other characteristic attribute. These secondary
12
Video dissolve, no original em inglês.
attributes always begin diametrically opposed and mutually exclusive.” 13
Personality dissolve, no original em inglês.
64
Repertório, Salvador, nº 23, p.58-66, 2014.2

que se origina fora dela. Altman considera que, no visual de um filme que liga dois lugares separados,
tocante à articulação entre essas duas fontes sono- tempos ou níveis de realidade. Especificamente,
ras, o musical se encontra em uma posição única, considera que a dissolução de vídeo diz respeito à
pois sua própria natureza depende do modo como conexão entre o espaço da realidade diegética a um
essas duas trilhas se fundem. Afinal, em muitos espaço idealizado, seja ele diegético ou não.
musicais, ouvimos a voz do protagonista cantando Como já foi dito, uma característica estilística
(som diegético) ao som de um acompanhamento do musical americano é essa fusão entre real e ir-
orquestral que muitas vezes não está sendo toca- real e a dissolução de vídeo contribui para isso, ao
do na cena (som não diegético) ou a quantidade mostrar a contraposição entre duas paisagens vi-
de instrumentos em cena, realizando a performan- suais radicalmente diferentes. Para Altman, o uso
ce, não corresponde ao que ouvimos. Do mesmo mais representativo da dissolução de vídeo envolve
modo, sons e ruídos da diegese incorporam-se ao sobrepor níveis de tempo: o presente diegético –
ritmo da música extradiegética. Assim sendo, os banal, limitado, regrado pela necessidade – desa-
dois níveis de som de um filme estão em constan- parece aos poucos, dando lugar a um passado ou
te interação, e esta relação, para Altman, está no futuro distante – excitante, ilimitado, controlado
coração das características estilísticas do cinema por uma memória romantizada ou uma tendência
musical americano. Ao quebrar a barreira que se- em direção ao sonho.
para essas duas faixas de som, o musical borra as A técnica não se limita a mudanças na realidade
fronteiras entre as duas realidades apresentadas no temporal, ela pode também dissolver para associa-
filme. A chave para essa fusão é justamente aquilo ções imagéticas quanto aos sentimentos dos per-
que Altman chama de dissolução do áudio, que so- sonagens. Como em Singing in the rain (Cantando na
brepõe sons em ordem a passar de uma dimensão Chuva. Stanley Donen, Gene Kelly 1952), quando
sonora para outra. Gene Kelly inicia seu já famoso número e o am-
A forma mais comum de dissolução de áudio biente chuvoso deixa de ser usado para transmitir
envolve a passagem do som diegético (como uma uma sensação de algo triste e sombrio para refletir
conversa) para o extradiegético (uma música or- a felicidade que o personagem experimenta naquele
questrada), através da intermediação de uma mú- momento, uma visão por demais idealizada, já que
sica diegética. Isso normalmente acontece quando dificilmente alguém pularia sobre poças de água na
um dos personagens começa a cantar e logo ou- calçada de uma grande cidade no regime realista no
vimos o som de instrumentos acompanhando a qual ocorrem as cenas não musicais do filme. Deste
sua voz, mesmo quando não há instrumentos na modo, a dissolução de vídeo reforça que o cinema
cena, já que é a voz cantante do personagem que musical opera em uma constante mediação entre a
marca a interação entre o som da diegese e aquele experiência real e a experiência idealizada. Assim
fora dela. Em outros momentos, algum persona- sendo, ao iniciar a canção, o personagem de Kelly
gem pode começar a tocar um instrumento e logo passa a agir como se estivesse em uma realidade
ouvimos vários outros instrumentos “invisíveis” romantizada e idealizada, na qual todos os proble-
acompanhando-o, demonstrando que a ligação mas e riscos reais que poderiam incidir sobre uma
entre o som que está fora e o que está dentro do pessoa que se molha na chuva não existissem.
universo fílmico foi conectado pela performance
de um personagem. Dissolução de Personalidade
Já falamos aqui como o musical americano de-
Dissolução de vídeo pende da relação ambígua entre o real e o ideal,
Na dissolução de áudio, a continuidade é cria- mas, de acordo com Altman, ao longo do filme,
da entre duas categorias distintas de som. Já aquilo essa oposição seria estreitada, reduzida e, em al-
que Altman entende como dissolução de vídeo tra- guns momentos cruciais, apagada. As dissoluções
balha para fazer imagens distintas parecerem con- anteriormente descritas constituem um correlativo
tínuas através de superposições. O autor entende estilístico a este processo, pois, por sua própria na-
que a dissolução se aplicaria a qualquer dispositivo tureza, a dissolução preserva a separação conceitu-
65
Repertório, Salvador, nº 23, p.58-66, 2014.2

al entre duas categorias (camadas sonoras, níveis de porâneos sobre o cinema musical, visando a uma
realidade) enquanto estabelece uma continuidade melhor compreensão do epicentro do fenômeno.
perceptual entre elas.
Uma noção similar ocorre com os personagens Referências
do musical. Já dissemos que os musicais possuem
uma narrativa de duplo foco, centrada em dois pro- ALTMAN, Rick. (Org.). Sound theory, sound practice.
tagonistas, normalmente de sexos opostos, com Nova Iorque: Routledge, 1992.
personalidades e visões de mundo antagônicas e ______. The American film musical. Indianapolis: In-
que o objetivo dos musicais não é promover ne- diana University Press, 1987.
cessariamente o relacionamento amoroso entre os BARRIOS, Richard. A song in the dark: the birth of
protagonistas e sim o entendimento de suas dife- the musical film. Nova Iorque: Oxford University
renças. Assim sendo, conforme o filme progride, Press, 1995.
fica claro que os valores e motivações associados Björn Nordjörd: The post-modern transnational
a cada um estão, também, presentes no outro, mas film musical. In: CREEKMUR, Corey; MOKDAD,
em um estado escondido, reprimido. Isso implica Linda. (Orgs.). The international film musical. Nova
pensar que a superfície da personalidade de cada Iorque: Oxford University Press, 2012
protagonista corresponde à personalidade reprimi- BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. Film
da do outro. Conforme a história se desenvolve, é art: an introduction. Nova Iorque: McGraw-Hill,
justamente através das performances musicais, que 2001.
vemos esses aspectos reprimidos aparecerem, per- CREEKMUR, Corey; MOKDAD, Linda. (Orgs.).
mitindo que os personagens se aproximem. The international film musical. Edimburgo: Edimbur-
Muitos outros aspectos do musical cinema- gh University Press, 2012
tográfico merecem e têm atraído cada vez mais a FEUER, Jane. The Hollywood musical. Indianapolis:
atenção de estudiosos de diversas partes do mundo. Indiana University Press, 1993.
Com o foco das discussões ainda girando em torno SALYS, Rimgalia. The musical comedy films of Grigorii
de definições, tipologias e aspectos históricos, exis- Aleksandrov: laughing matters. Chicago: The Uni-
te um campo fértil para estudos sobre a natureza versity of Chicago Press, 2009.
das canções e os modos de cantar, as estratégias THOMPSOM, Kristin; BORDWELL, David. Film
coreográficas e cenográficas, as tensões exercidas history: an introduction. Nova Iorque: McGraw-
pelo musical de Hollywood nas cinematografias de Hill, 2003.
outros países e os movimentos de resistência a essa WILLIAMS, Alan. Historical and theoretical issues
influência, a estreita relação da indústria cinemato- in the coming of recorded sound to cinema. In:
gráfica com a fonográfica, os documentários mu- ALTMAN, Rick. (Org.). Sound theory, sound practice.
sicais, as transformações sofridas pela dramaturgia Nova Iorque: Routledge, 1992. p. 126-137.
dos musicais, ao longo do tempo, e nos musicais
transnacionais contemporâneos, são alguns dos
muitos objetos e caminhos de investigação possí-
veis. Filmes que esgarçam as fronteiras do gênero
ou autorreflexivos, como Industrial Symphony No. 1:
The Dream of the Brokenhearted (David Lynch, 1990),
Romance and Cigarretes (Romance e cigarros. John Tur-
turro, 2005), Tian bian yi duo yun (O sabor da melancia.
Ming-liang Tsai, 2005) e The singing detective (Crimes
de um detetive. Keith Gordon, 2003) são também ins-
tigantes fontes de reflexão. Diante da potência do
cinema musical como objeto de estudo, este artigo
é, portanto, apenas um ponto de partida, que se
alimenta na mesma fonte que os estudos contem-
66

You might also like