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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO CAMPUS

ANGICOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS, TECNOLÓGICAS E
HUMANAS – DCETH
CURSO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

ALDI NESTOR DE SOUZA JUNIOR

AVALIAÇÃO DE BLOCOS DE ADOBE PARA CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS:


CASO DE ANGICOS/RN

ANGICOS - RN
2013
ALDI NESTOR DE SOUZA JUNIOR

AVALIAÇÃO DE BLOCOS DE ADOBE PARA CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS:


CASO DE ANGICOS/RN

Monografia apresentada à Universidade


Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) -
Campus Angicos para obtenção do título
de Bacharel em Ciência e Tecnologia.

Orientador:
Prof. M.Sc. Aerson Moreira Barreto -
UFERSA.

ANGICOS - RN
2013
ALDI NESTOR DE SOUZA JUNIOR
Agradecimento

Agradeço a Deus, pois entendo que tudo acontece mediante sua permissão; ao seu
filho amado Jesus Cristo pelo seu imenso amor demonstrado por mim na cruz e
reafirmado todos os dias de minha vida; ao Espírito Santo que, além de me consolar
nos momentos mais difíceis, me direciona todos os dias à boa, perfeita e agradável
vontade do Pai.

Às minhas irmãs Alana Tamires Fernandes de Souza e Aline Fernandes de Souza


pelos momentos prazerosos que juntos vivemos e viveremos. Vocês duas mais do
que ninguém me acompanharam e me conhecem.

Ao meu pai Aldi Nestor de Souza pela sua substancial participação, apesar da
distância, na minha formação, tanto intelectual como pessoal. À minha mãe
Risoneide Fernandes de Souza pelo seu grande amor, por sempre acreditar em
mim, mesmo quando eu não mais acreditava, obrigado por vocês existirem.

As professoras Alessandra Spinelli e Izabelle Marie, pela ajuda na parte final deste
trabalho, sem vocês eu não teria conseguido.

Aos meus avós paternos Angelina Luiza de Souza e Manoel Nestor de Souza (in
memoriam), por me mostrarem a importância da família. À minha avó materna Luiza
Fernandes de Souza, seu companheirismo e caráter foram fundamentais.

À parceira escolhida por Deus, Thais Cristina de Souza Lopes, seu amor e carinho
me renovam a cada dia.

Aos parceiros de república Luiz Felipe, Manoel Jobson, Edvanilson Jackson, Izaac
Braga e Hálison Fernandes, grandes momentos vivemos juntos e sei que essa
amizade nunca acabará. Aos amigos da república CCAA, onde tudo começou.
À todos os meus amigos, os quais não irei citar evitando assim esquecimentos
indevidos, pois aprendi que amizade é um presente de Deus.

À congregação Batista do Paratí, onde encontrei pessoas amigas e, sobretudo,


sinceras, nessa caminhada trago todos vocês em mente.
“Se a educação sozinha não pode
transformar a sociedade, tampouco sem
ela a sociedade muda”.
(Paulo Freire)
Resumo

A construção civil tem sido responsável por grandes avanços no que tange
comodidade, praticidade do homem e da sociedade como um todo. Porém em meio
a tanta modernidade um rastro notório de degradação ambiental tem preocupado
nossa sociedade. As chamadas construções em terra são uma alternativa viável,
uma vez que une a viabilidade técnica à econômica sem esquecer seu respeito ao
meio ambiente. O uso do adobe como exemplo dessa prática teve seu auge no
passado, sendo substituído pelos materiais de construção ditos convencionais,
porém estudos apresentam o adobe como método técnico e economicamente viável.
Várias qualidades são inerentes ao seu uso, como por exemplo, baixo consumo de
energia, facilidade para obtenção da matéria prima e conforto térmico e acústico.
Como desvantagem, pode-se citar a baixa resistência quando em contato com a
água. Sua aplicação enfrenta um grande entrave, que é a questão do preconceito,
uma vez que para sociedade ter uma casa construída em terra significa um baixo
nível econômico. Através de ensaios de flexão verificou-se que o adobe quando
bem confeccionado, tem suas propriedades semelhantes as dos materiais
convencionais.

Palavras–chave: Construções em terra. Adobe. Ensaios.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Muralha da China......................................................................................18


Figura 2 – Blocos de Adobe em seu estágio de moldagem.......................................24
Figura 3 – Exemplo de casa construída com blocos de adobe..................................28
Figura 4 – Localização do Município de Angicos/RN.......................................................29
Figura 5 – Localização geografia dos setores de extração........................................31
Figura 6 – Locais da amostra 1, 2, e 3, respectivamente...........................................31
Figura 7 – Ensaio de flexão em três pontos...............................................................33
Figura 8 – Materiais necessários para confecção dos blocos....................................33
Figura 9 – Forma para adobe feita com jatobá..........................................................34
Figura 10 – Processo de destorroamento do barro....................................................35
Figura 11 – Processo de peneiramento.....................................................................35
Figura 12 – Traço da mistura já homogeneizada e umidificada.................................36
Figura 13 – Espaços A, B e C destinados a secagem dos blocos de adobe
confeccionados a partir de amostras dos 1°, 2° e 3° Setores, respectivamente........37
Figura 14 – Os blocos sendo virados após dois dias de secagem............................37
Figura 15 – Ensaio de flexão em telhas.....................................................................44
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Gênero referente aos moradores de casas de taipa entrevistados da


cidade de Angicos/RN................................................................................................38
Gráfico 2 – Opinião dos moradores de casas de taipa entrevistados quanto a sua
aprovação ou rejeição no que se refere ao modelo do bloco de
adobe..........................................................................................................................39
Gráfico 3 – Moradores de casas de taipa entrevistados que trocariam ou não sua
atual moradia por uma em adobe...............................................................................40
Gráfico 4 – Determinação da massa da amostra 1 (Kg) e sua respectiva média
(Kg).............................................................................................................................40
Gráfico 5 – Determinação da massa da amostra 2 (Kg) e sua respectiva média
(Kg).............................................................................................................................41
Gráfico 6 – Determinação da massa da amostra 3 (Kg) e sua respectiva média
(Kg).............................................................................................................................41
Gráfico 7 – Densidade das amostras 1, 2 e 3............................................................42
Gráfico 8 – Resistência à flexão da amostra 1 em KN...............................................43
Gráfico 9 – Resistência à flexão da amostra 2 em KN...............................................43
Gráfico 10 – Resistência à flexão da amostra 3 em KN.............................................44
LISTA DE SIGLAS

IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente


UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
ONU – organização das Nações Unidas
UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi-Árido
SI – Sistema Internacional
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
NBR – Norma Brasileira
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11
2 OBJETIVO GERAL.................................................................................................13
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................................14
3.1 SUSTENTABILIDADE..........................................................................................14
3.2 O MERCADO DA CONSTRUÇÃO CIVIL E A SUSTENTABILIDADE................15
3.3 CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA...................................................................17
3.3.1 Classificação dos principais sistemas de construção................................19
3.3.2 Critérios necessários......................................................................................21
3.4 ADOBE.................................................................................................................22
3.4.1 Vantagens do adobe ......................................................................................25
3.4.2 Processo de fabricação..................................................................................25
3.4.3 Sistema construtivo com adobe....................................................................26
3.5 DEFINIÇÕES........................................................................................................28
4 MATERIAL E MÉTODO..........................................................................................29
4.1 LOCAL DE ESTUDO............................................................................................29
4.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................30
4.2.1 Levantamento do conhecimento prévio dos moradores quanto à técnica
de adobe....................................................................................................................30
4.2.2 Coleta da matéria prima para fabricação de blocos de adobe....................30
4.2.3 Avaliação física e mecânica de blocos de adobe com material local........31
4.2.4 Confecção dos blocos....................................................................................33
5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS......................................................................38
5.1 ENTREVISTA JUNTO À COMUNIDADE....................................................................38
5.2 ENSAIOS LABORATORIAIS................................................................................40
5.2.1 Massa................................................................................................................40
5.2.2 Densidade........................................................................................................42
5.2.3 Resistência a flexão........................................................................................43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................46
APÊNDICE A - Questionário aplicado para diagnosticar o conhecimento e a
aceitação da sociedade angicana, residente em casas de taipa, em relação a técnica
de construção em adobe............................................................................................50
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1 INTRODUÇÃO

A construção civil é uma área de grandes avanços no mercado no que tange


comodidade e praticidade da sociedade. Grandes eventos, como a Copa do Mundo
de 2014 e as Olimpíadas de 2016, já marcados, requerem da indústria um maior
empenho na qualidade técnica e estética das obras. Em meio a tantos desejos,
satisfações e modernidade, estabelece-se um rastro notório de problemas e danos
ambientais. Entretanto, a crescente e acelerada busca pelo crescimento e os
consequentes danos aos recursos naturais, fez com que o homem repensasse seu
habitual modo de vida e buscasse alternativas ecologicamente corretas, tentando,
aliás, uma harmonia entre a vivência e a ampliação tecnológica.
Em meio às questões citadas anteriormente, existe no mercado da construção
civil alternativas ecologicamente corretas e com baixo impacto ao meio ambiente,
conhecidas como técnicas da bioconstrução, tendo como um de seus exemplos a
técnica comumente citada como adobe. O adobe como técnica vernacular, é
fabricado pela mistura da argila, em menor proporção, junto com a areia, essa última
em maior quantidade, ambos umedecido com água, junto com a mistura pode ainda
ser acrescido algum tipo de fibra servindo como estabilizante ao produto final. Esta
alternativa viável na busca do desenvolvimento sustentável na construção civil tem
seu estudo e desenvolvimento destacado quando levado em conta sua praticidade
de confecção e respeito ao meio ambiente.
Ressalta-se, entretanto, que alternativas, como a supracitada, são motivos de
questionamentos, especialmente quanto ao aspecto resistência, quando comparada
aos materiais ditos industrializados, porém muitos componentes encontrados de
forma natural e abundante garantem bastante resistência, como é o caso da casa de
barro quando acrescido de areia e água, onde, comprovam a possibilidade de sua
utilização garantindo, principalmente, segurança nas edificações.
Outra vantagem, associada ao bloco de adobe, está pautada no conforto
térmico, aspecto importante para construções em regiões de clima quente e seco,
como no caso do semiárido brasileiro.
A cidade de Angicos/RN, localizada na região central do semiárido potiguar e
local do presente estudo, tem a argila, principal matéria prima do adobe, como
frequente material utilizado na confecção de moradias conhecidas como casas de
12

taipa, ou seja, construções feitas a partir de estrutura de madeira preenchida com


argila. Entretanto, a técnica de adobe não se apresenta difundida na cidade, uma
vez que não se observa moradias construídas como base nesse princípio.
Desse modo, entende-se que trabalhos que se proponham a investigar o
comportamento de blocos de adobe, quando comparado aos materiais
convencionais, são pertinentes como propostas de bioconstruções em áreas,
especialmente, que já utilizam a argila como matéria prima para construção de suas
moradias.
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2 OBJETIVO GERAL

Investigar o comportamento físico e mecânico de blocos de adobe


confeccionados a partir de amostras de argila que são utilizadas na construção de
casas de taipa em localidades da cidade de Angicos/RN.
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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 SUSTENTABILIDADE

Em virtude dos problemas ambientais que o planeta e a sociedade têm


enfrentado, a temática tem sido bastante discutida entre os diversos pesquisadores,
de forma interdisciplinar, tendo em vista a crescente preocupação ambiental advinda
da incessante busca pelo desenvolvimento, e o avanço do modelo capitalista, onde
a busca pela competitividade, avanços tecnológicos e produtivos, foram acentuadas,
ao mesmo tempo que difundidas mundialmente, prejudicando de forma imensurável
nosso planeta através da poluição do ar, desertificação da fauna regional, degelo
polar pelo aquecimento global e destruição da camada de ozônio (LOWI apud
ARRUDA e QUELHAS, 2005).
Concomitante, nasce a necessidade de alternativas sustentáveis, que
garantam desenvolver-se com o mínimo de impacto aos recursos naturais. O termo
desenvolvimento sustentável refere-se à capacidade de desenvolvimento presente
sem comprometer, no entanto, as gerações futuras. Silva (2007, p. 23) cita que:

Desenvolvimento sustentável pode ser definido como aquele que permite


atender as necessidades básicas de toda população e garante a todos a
oportunidade de satisfazer suas aspirações para uma vida melhor sem, no
entanto, comprometer a habilidade das gerações futuras atenderem suas
próprias necessidades. (SILVA, 2007, p 23.).

Desenvolver-se sustentavelmente tem sido o objetivo de uma parcela da


sociedade, sabendo que, esse pensamento só foi mesmo aprofundado a partir do
final da década de 80 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano. Antes da realização deste evento não existia nenhuma
preocupação concreta com relação aos danos provocados pela ação do homem,
pensava-se no planeta apenas como local explorável, sem nenhuma preocupação
com o mesmo (FRAGA, 2006).
O modelo de crescimento moldado pelo capitalismo tem cobrado um alto
preço das reservas naturais. Gibberd apud Silva (2007) descrevem a situação como
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um estado permanente de insustentabilidade, em que reflete exatamente nosso


atual relacionamento com o meio em que vive a sociedade.
Martin apud Girão (2009) enfatiza na temática sobre sustentabilidade, a
necessidade de uma visão sistêmica do problema, contemplando alguns pontos
como: harmonia entre os graus econômicos, sociais e ambientais; ações
integradoras e interdisciplinares, e por fim, trabalhar caso a caso de forma regional,
no entanto, em uma perspectiva global.
Silva (2007) sugere a “estrapolação” do termo sustentabilidade que, a
princípio está relacionado com o meio ambiente e a economia, a outras dimensões
como: a política, a social, a cultural, entre tantas outras. Este autor afirma ainda que
entre essas dimensões deve haver uma grande interação indissociável, relacionadas
a um dado local e tempo.

3.2 O MERCADO DA CONSTRUÇÃO CIVIL E A SUSTENTABILIDADE

O mercado da construção civil, no entanto, está longe de ser considerado


sustentável uma vez que, ao atentar-se para diversas obras, veem-se quantos
danos são provocados ao local como, por exemplo, a impermeabilização de parte do
solo, impacto visual, barulho, poeira, dentre outros (SPADOTTO et al., 2011).
Fraga (2006) explica que as mudanças provocadas ao meio ambiente não se
restringem apenas nas construções propriamente ditas, mas também nas diversas
fases do empreendimento: manutenção, reforma, ampliação, desocupação e, por
fim, na demolição, sem contar ainda que a maioria dos insumos utilizados são
considerados não renováveis, necessitando assim aproveitar ao máximo seu
potencial evitando possíveis desperdícios.
Segundo Bussoloti apud Girão (2009), para que uma obra seja considerada
sustentável, faz-se necessário uma visão do seu projeto desde sua concepção,
atentando para o uso do meio ambiente, o tempo estimado de vida útil e se, depois
disso, o mesmo ainda terá serventia, uma vez que o reaproveitamento de parte da
obra reduz a utilização de novos recursos naturais, além de promover a redução de
resíduos.
Quando se descreve resíduo, há referência ao material resultante de alguma
atividade. No ramo da construção civil, têm-se resíduos de construção e demolição
16

ou RCD. No Brasil, o mesmo é responsável por um total que varia de 51 a 70% do


volume dos resíduos sólidos urbanos, assim sendo o mau gerenciamento da matéria
acarreta sérios problemas à sociedade como um todo, sendo eles: redução da
qualidade de vida urbana, acentuada desigualdade social (uma vez que são gastos
verbas objetivando sua remoção e deposição) e, por fim, uma sobrecarga nas
atividades municipais (SECRETARIA NACIONAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL,
[200-]).
Outro aspecto do dano ambiental referente à construção civil ocorre muitas
vezes na própria fase de confecções dos materiais, o cimento, por exemplo, material
com largo uso no citado setor, no momento de sua confecção, promove a liberação
de substâncias ditas primárias sendo elas: dióxido de carbono, óxido de enxofre e
óxido de nitrogênio, provocando com isso um alto risco tanto aos trabalhadores
envolvidos como à população em geral e ainda ao próprio meio ambiente. Além do
contato com essas substâncias poluentes, ocorre também a nociva presença de
materiais pulverulentos (SANTI; SEVÁ FILHO, 2013).
Outro material comumente encontrado nos diversos projetos da construção
civil são os blocos de tijolos, nas mais variadas formas, esses materiais também são
responsáveis por um negativo impacto ecológico. Estes elementos além de
liberarem partículas de CO e CO2 no momento da sua confecção, extremamente
nocivos ao meio ambiente, promovem um processo conhecido como desertificação,
devido à utilização da lenha em seus fornos (GRIGOLETTI, 2001). O elevado
consumo energético durante a queima do material faz com que seu preço se torne
elevado, o fazendo assim inviável para moradores de baixa renda (BOUTH, 2005).
Sedrez, Rosa e Sattler apud Silva (2007) apresentam princípios para projetos
sustentáveis visando cinco dimensões do termo, são elas:
Econômica: deve-se procurar reduzir ao máximo o preço da obra e geração
de trabalho e renda através de medidas como identificação de materiais mais
próximos, evitando assim desperdícios com transporte, desenvolver atividades
coordenadas e utilizar os próprios moradores como mão de obra.
Social: indica que a produção habitacional deve visar a qualidade de vida dos
seus moradores, o bem estar deve estar acima de tudo até mesmo da redução de
custos.
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Ecológica: devem-se escolher de forma responsável os materiais necessários


à edificação, visando o menor impacto ao meio. O projeto deve se adequar ao meio
ecológico e não o contrário.
Cultural: deve-se implementar nas obras elementos que remetam-se as
características locais com um valor também histórico, capaz de absorver as
atividades e características do local.
Espacial: deve-se dimensionar o projeto de acordo com o terreno disponível,
evitando atrito entre os demais moradores.

3.3 CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA

Em decorrência do grande impacto causado pelo processo que envolve a


fabricação, uso e manutenção dos materiais ditos convencionais, a construção civil
deve buscar outras maneiras de crescer e se desenvolver de forma que não precise
degradar o meio ambiente. As milenares técnicas de construção em terra (sempre
fazendo analogia à utilização da terra crua) vêm como uma alternativa viável para
esse dilema, uma vez que a mesma utiliza essa matéria prima sem a queima como
meio do processo fabril. Melo (2012, p. 7), em seus estudos complementa:

O barro apresenta algumas perspectivas futuras, principalmente, pelo fato


de que os materiais industrializados são mais caros, de difícil obtenção e
polui consideravelmente o meio ambiente, por isso alguns países europeus
já estão recorrendo ao barro, para utilizá-lo como revestimento de paredes.
Portanto, o barro pode trazer grandes benefícios para a sociedade e para o
planeta, basta saber usá-lo de acordo com a técnica apropriada.

Muitas obras têm desafiado o tempo. Construídas há milhares de ano atrás,


se mantém de pé até os tempos de hoje como: o Templo de Ramsés II em Gourna
(onde se utilizou o adobe); também a Muralha da China (Figura 1), cuja construção
foi realizada a cerca de 3000 anos e apresenta extensos setores construídos em
taipa (TORGAL e JALALI, 2009). Outros monumentos importantes do mundo
comprovam que a terra é um material de construção muito antigo e ao mesmo
tempo eficiente, como por exemplo: a aldeia de Ait-Bem-Haddou no Marrocos; a
cidadela de Chan Chan, no Peru; a mesquita de Djenné, no Mali e a cidade de
18

Shibam, no Lémen, todas elas já foram classificadas como patrimônio mundial pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), reforçando assim sua importância. Estima-se que cerca de 30 a 50% da
humanidade vive ou trabalha em construções de terra (Blondet apud Gonçalves e
Gomes, 2012).

Figura 1 – Muralha da China

Fonte: Torgal e Jalali, 2009.

Poucos estudos, no entanto, são feitos voltados ao aperfeiçoamento dessa


técnica, se comparados aos realizados nos materiais convencionais como cimento,
gesso, argamassa, tijolos, dentre outros. O grande preconceito à sua utilização tem
sido um grande entrave à sua aplicação. Melo (2012), complementa que as casas de
taipa estão associadas ao baixo poder aquisitivo de seus moradores. Vantagens
como: conforto térmico e acústico, boa ventilação e fácil obtenção de sua matéria
prima tendem a ser desconsideradas. Barbosa e Mattone (2002, p. 2) afirmam que:

Com a terra aplicada com uma correta tecnologia podem ser feitas
construções de qualidade. Tal fato justifica que esse material passe a ser
estudado como acontece com os diferentes tipos de concreto.

Alguns países europeus já estão buscando no barro diversas aplicações


como, por exemplo, revestimento de paredes. Existe uma tendência para o seu
19

desenvolvimento no futuro, uma vez que os materiais comumente utilizados são em


geral caros, de difícil obtenção e extremamente dependentes do beneficiamento de
matérias primas passíveis de racionalização do seu uso, como a madeira (MELO,
2012).

3.3.1 Classificação dos principais sistemas de construção

A tradicional técnica de construção em terra é uma forma de construção


vernacular, pois se utiliza da matéria prima local, por isso a existência de variações
para uma mesma construção localizada em diferentes regiões, sejam elas distantes
ou até mesmo próximas (GONÇALVES; GOMES, 2012). Contudo, existe a
possibilidade de classificação de suas principais formas de construção, proposto
pelo diagrama estabelecido por Craterre apud Gonçalves e Gomes (2012), sendo
elas: sistema monolítico, sistema de alvenaria, sistema de revestimento e, por
último, mas não menos relevante, o sistema de ligação.
- Sistemas monolíticos:
Essa classe engloba os seguintes sistemas:
 A terra escavada: consiste na escavação de locais adequados,
conhecidos como zonas, onde a boa característica mecânica é
fundamental, formando assim aquilo que é conhecido como grutas.
 Terra moldada: se utiliza do conhecido “método dos rolos de oleiro”, para,
através do barro moldado com a mão, construir em alturas por faixas.
 A terra empilhada: irá sobrepor porções de terra misturadas com palha
em fiadas, no fim estabiliza-se a estrutura aparando o material excedente
por corte vertical. Muito conhecida também pelo termo “cob”.
 Terra vazada: mistura-se a terra argilosa com água e areia grossa e em
seguida a mistura é vazada em cofragens, possibilitando a confecção de
paredes monolíticas. A técnica apresenta certa semelhança com a taipa,
devido o desenrolar da construção ser feito por sucessivas camadas.
 A taipa: em geral é feita com terras arenosas e seus agregados.
Compacta-se, manualmente ou com algum equipamento, o material em
cofragens (taipas), assim como a terra vazada suas paredes são
levantadas por camadas sucessivas. Desde o primeiro momento, as
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taipas vão sendo fixadas à camada anterior, através de peças conhecidas


como “agulhas”.

- Sistemas de Alvenaria: Resulta na confecção de diversos tipos de blocos,


sendo eles:
 Blocos talhados: em regiões de terra vegetal coesa, os chamados “torrões
de terra”, faz-se necessário corta os blocos, ou retirar a partir de laterite
(solo alterado com boa coesão formado a partir da ação da umidade).
 Adobes: são blocos obtidos da secagem ao sol da mistura de areia muito
argilosa localizada próxima à obra. Sua forma não é bem definida
podendo ter vários formatos. Pode ser adicionada à mistura, vários
agregados com intuito de estabilizar a massa.
 Blocos de terra comprimida (BTC): técnica tradicional em alguns locais da
África, semelhante ao adobe, com a diferença que os blocos passam por
um momento de compressão provocado por sistema manual, através do
pilão, ou máquinas, em confecções mais modernas.
 Blocos de terra extrudida: semelhante ao processo de fabricação
cerâmica, com a diferença que junto com a argila coloca-se algum
estabilizante (cal ou cimento por exemplo) e o processo de secagem não
se dá por queima.
 Terra ensacada: também conhecido como superadobe (pela semelhança
da mistura), é um sistema em que se utiliza longos sacos no formato de
tubos, empregando o resultado como estrutura primária para edificação.
Inicialmente, era utilizada para abrigos temporários, contudo com o
decorrer do tempo, foi sendo aplicada de forma mais arquitetônica.

- Sistema de enchimento ou revestimento: Aqui a terra tem outra função além


da estrutural, que é de servir de superfície na edificação. Tem-se:
 Terra de guarnição, incluído também o tabique que, por sua vez, é a
aplicação da terra acrescida de algum tipo de fibra vegetal sobre a
superfície de madeira. Vale salientar que seu uso em outras regiões
apresenta certa variação e diferentes designações.
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 Terra de enchimento é utilizada em edificações tradicionais no


preenchimento de alvenarias planas.
 Terra-palha, utilizada no revestimento da madeira através da cofragem,
muito utilizada em países como Alemanha ou Bélgica. Sua massa é
composta por argila adicionada de uma porção substancial de palha.
 Revestimento de terra, sistema tradicional em que se utilizam diversos
suportes naturais sobre a estrutura da terra crua dos vários tipos
mencionados anteriormente (adobe, taipa, COB, entre outros).
 Coberturas de terra, visando a característica da impermeabilidade da
argila, a mesma é utilizada no revestimento do telhado de construções.
Quando o clima está seco o barro fica fissurado, já com o tempo úmido o
revestimento se expande.

Sistema de ligação: utiliza-se a terra em argamassas no assentamento de


blocos.

3.3.2 Critérios necessários

Assim como em qualquer modelo de construção, ao se trabalhar com a terra


deve-se atentar para alguns critérios ou exigências para que seja garantida toda
segurança necessária à edificação. Neves et al. (2005) descrevem os fatores a
serem observados para que a obra obtenha um padrão de qualidade aceitável, são
eles: dosagem, homogeneização, umidade e o adensamento.
O cuidado com a dosagem ocorre quando se evita a utilização de vários
critérios de medidas, evitando assim confusões, dificilmente perceptíveis, no
decorrer do processo. Objetos já padronizados com seus volumes já conhecidos
podem evitar tais contratempos como a padiola, o carrinho de mão ou baldes. Os
autores acrescentam ainda que o volume da mistura deve ser suficiente para que
não ocorram interrupções nas atividades, quando houver acréscimo de algum
estabilizante como, por exemplo, o cimento, no qual se deve atentar para o tempo
de pega.
A homogeneização é diretamente responsável pela qualidade final do
produto. Deve-se misturar, primeiramente, a terra seca com seus estabilizantes,
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após misturar bem o volume, e obter uma coloração uniforme, adiciona-se aos
poucos a água. Caso o local seja susceptível à chuva, recomenda-se trabalhar sob
abrigo. Na massa não pode haver torrões, resultado de defeito no peneiramento ou
na pá. O tempo de repouso do traço também é algo fundamental. Quando ocorre o
acréscimo da cal hidratada, recomenda-se que haja um tempo de descanso de 12
horas; e, quando se opta por trabalhar com acréscimo de esterco à terra, esse
período de repouso é ainda maior sendo ele de aproximadamente 15 dias, de
acordo com Cevallos e Rotondaro apud Neves et al. (2005).
A umidade vai ser estabelecida de acordo com o tipo de técnica escolhida
para trabalhar. No caso do adobe, a plasticidade será aquela necessária para que o
traço preencha todas as arestas da forma sem, no entanto, provocar deformação
após o desmolde. No caso da terra comprimida, existe um teste a ser realizado, bem
simples, que consiste em tomar uma mistura com a mão e comprimi-la, quando após
a abertura perceberá os traços dos dedos no volume, e logo em seguida deixa-se
cair o volume, que por sua vez, deverá esfarelar-se, caso não ocorra o desenho
após a compressão o teor de umidade é insuficiente, e se após o bloco cair ainda
assim se manter coeso, a umidade é excessiva. Em caso de técnica mista a mistura
deve ser tão plástica que haja a acomodação entre os elementos e ainda assim não
ocorra o deslizamento entre os mesmos.
Nem toda técnica exige a compactação, mas quando assim for necessário o
controle da mesma será intuitivo, uma vez que o operador perceberá a mudança do
seu som até a ocorrência de um som “quase metálico”, notará também um momento
em que seus esforços se tornaram quase que inúteis. Outro fator desse processo é
que as camadas a serem compactadas não devem ser superiores a 20 cm. A massa
do compactador é muito importante, não importa o seu valor, mas sim sua
homogeneidade para que haja uma transferência de energia uniforme.

3.4 ADOBE

Segundo Tagomori e Cavallaro (2011), o adobe é uma técnica de construção


bem antiga, sendo ela uma das primeiras soluções de abrigo para o homem. Alguns
acreditam que o seu nome pode ter sido derivado do árabe “atob” que quer dizer
pasta grudenta. Talvez sua chegada a Europa tenha sido pelo norte do continente
23

Africano, fato é que alguns blocos foram identificados onde hoje se localiza o
Turquemenistão com cerca de 8000 a 6000 a.C. (MINKE apud TORGAL; JALALI,
2009).
O adobe como tipo de construção em terra utiliza a argila, areia e água,
podendo ser acrescida de algum tipo de fibra, formando assim um bloco firme e
consistente. Segundo Bussoloti apud Girão (2009), esse tipo de construção é muito
utilizado em várias regiões do mundo, inclusive aqui no Brasil. Este autor afirma
também que esse método de construção contempla duas grandes necessidades da
sociedade: a primeira, refere-se à redução da agressão ao planeta, uma vez que
não se utiliza da queima para a confecção dos blocos; a segunda, à redução do
déficit habitacional, por se tratar de uma forma barata e simples de ser executada.
Castro e Sales apud Girão (2009) acrescentam que de acordo com a organização
das Nações Unidas (ONU) um milhão de pessoas moram em favelas distribuídas por
todo o planeta com uma projeção de três milhões daqui a vinte e cinco anos,
somando um total de 40% da população.
A carência social leva, muitas vezes, a população a buscar formas
alternativas de moradias sem a mínima segurança. Famílias inteiras utilizam o
papelão, madeira e laminados como material de “construção”, totalmente carente de
higiene e segurança. Outro material muito usado é o plástico como matéria prima de
moradias dos “Sem Terras” (BOUTH, 2005). A técnica de blocos em adobe, desse
modo, poderia servir como alternativa ao problema exposto.

A argila pura ou misturada a diversos materiais, vem sendo usada como


alternativa viável para diminuição dos custos da construção civil, mantem o
padrão de segurança das edificações. São conhecidas e citadas na
literatura experiências com protótipos de sistemas construtivos inovadores
para habitação popular (BOUTH, 2005, p 15.).

Conforme Tagomori e Cavallaro (2011), uma grande característica do adobe


em relação aos demais é que o mesmo é cozido no sol, dispensando assim a
queima da madeira e, por conseguinte, evitando a liberação de CO2. Estes autores
acrescentam que, devido os blocos não ter suas propriedades alteradas, eles podem
ser 100% reciclados.
24

A confecção dos blocos é em geral bem fácil e simples de ser realizada, por
sua matéria prima ser basicamente a argila não necessita de uma mão de obra
especializada, e os conhecimentos podem ser tranquilamente passados de geração
a geração (GIRÃO, 2009). A Figura 2 mostra um exemplo de bloco de adobe e sua
respectiva forma.

Figura 2 – Blocos de Adobe em seu estágio de moldagem

Fonte: Marcelo (2010)

Sobre as dimensões dos blocos, Girão (2009) afirma que não existe um
consenso, variando muito de acordo com a região, porém o que existe na verdade é
uma proporção sendo ela de 1:2 ou 1:5 entre a largura e o comprimento (MACHADO
et al. apud GIRÃO, 2009). Assim, suas formas podem ser nos mais variados
modelos, possibilitando ainda moldar desde apenas um único bloco ou até mesmo
vários, atentando sempre para o local de secagem, que deve ser o mais nivelado
possível.
25

3.4.1 Vantagens do adobe

Tagomori e Cavallaro (2011) citam algumas vantagens em sua utilização


como, por exemplo: a pouca energia necessária, sendo essa apenas a solar;
facilidade em promover instalações elétricas e hidráulicas; abundância e facilidade
de matéria prima; um bom conforto térmico e acústico; material não inflamável; não
necessita de revestimento (a depender do local); não tóxico e totalmente reciclável.
Corrêa et al. (2005) citam ainda outras duas grandes vantagens sendo elas o pouco
consumo de água e não apresentar perigo tóxico na sua manipulação. Existem
também suas desvantagens sendo elas período e área de secagem extensa e,
quando em contato com a água, apresenta baixa resistência.
O barro apresenta sua estrutura classificada como microfina e porosa sendo
capaz de “respirar” melhor que outros materiais. Assim ocorre uma filtração do ar
para dentro dos ambientes ao passo que o ar gasto é liberado para o meio externo.
Outra característica do barro é a regularização do ar, que ocorre devido à alta
capacidade de absorção da umidade e seu armazenamento, ocorrendo em dias
secos a liberação dessa umidade para o ambiente (sua capacidade de absorção é
30 vezes maior que a dos blocos tradicionais) (BOUTH, 2005).

3.4.2 Processo de fabricação

Silva (2007) divide o processo de fabricação em oito etapas, sendo elas:

Preparação do canteiro de produção: devem-se viabilizar equipamentos e


materiais, confecção das formas e separar um local adequado para estocagem. Os
equipamentos necessários são pá, enxada, carrinho de mão, esponja, pregos, areia
fina seca, argila, tonel com água, EPI´s e mão de obra.
Extração e preparação da terra: nesta etapa, identifica-se o melhor local de
extração para realizar os devidos testes no terreno (observando uma proporção de
30% de argila e 70% de silte e areia), extração, peneiramento do material e
armazenagem. Com relação à composição existe muita controvérsia em relação à
quantidade de areia, silte e argila, sendo assim variante de acordo com cada região.
Bouth (2005) descreve o processo que utiliza 20% de argila e 80% de areia, já
26

Martinez apud Corrêa et al. (2005) usa uma composição de 20% de argila e 40 a
55% de areia. Alves apud Corrêa et al. (2005) usa a argila em quantidade menor que
20% e a areia superior a 40%. Segundo Hernandez et al. apud Corrêa et al. (2005),
deve-se utilizar 50% de areia, silte 30% e argila 20%. Ao contrário dos blocos
tradicionais, o adobe apresenta predominância em areia, responsável pela
resistência, e em menor quantidade a argila e o silte, esses últimos servindo como
aglutinante entre as partículas.
Preparar e triturar a palha: identifica-se o local de obtenção da palha, tritura-
se a mesma e sua estocagem. Os equipamentos úteis são algum tipo de triturador,
caso necessário energia e mão de obra. Os eventuais resíduos são os de palha no
local de produção.
Preparar a mistura: Adicionar a palha (opcional) junto com a areia e a argila.
Os resíduos serão a mistura de palha e solo no próprio local de trabalho. Faz-se
necessária apenas a mão de obra para mistura.
Amassar o barro: Adicionar água na mistura anterior e misturar até identificar
a massa homogênea. As ferramentas necessárias são água, mistura (anteriormente
preparada) e mão de obra.
Moldar os adobes: Corrigir alguma eventual porção de água e realizar a
moldagem. São necessários água, mão de obra para pisar novamente e as formas.
Secagem dos blocos: Realizar a primeira etapa de secagem à sombra, cinco
dias e meio, e sua próxima etapa será ao sol, aproximadamente quinze dias. Bouth
(2005) afirma que a secagem química dos blocos é semelhante do concreto sendo
ela em um total de 30 dias.
Armazenamento: Em locais seco e livre de chuvas. Os resíduos do processo
serão blocos quebrados ou rejeitados.

3.4.3 Sistema construtivo com adobe

Segundo Silva (2007), o sistema construtivo é dividido em subsistemas,


sendo eles a fundação, a vedação e a cobertura.
O primeiro é a fundação, onde a mesma pode ser executada em sapata
corrida com blocos de concreto, armada e grauteada. O contato entre a fundação e
27

a parede estrutural ocorre pelo simples apoio direto, ligadas assim pela simples
força da gravidade.
O subsistema de vedação é feito pelo próprio adobe, acrescidos ou não de
estabilizantes próprios, com junta amarrada, a argamassa utilizada é a própria
mistura dos blocos. Araújo (2004) acrescenta que, historicamente, as unidades de
adobe são ligadas através de sua própria massa, ressalta ainda que, esse tipo de
ligante apresentará as mesmas taxas de distorção e retração higroscópica (absorção
de umidade), expansão e contração térmica, e degradação, logo, nenhum outro
material cumpre melhor esse papel. Algumas pessoas utilizam, erroneamente, a
mistura de cimento e cal para ligação, porém sua incompatibilidade com o adobe
através de diferentes taxas de expansão e contração térmicas aceleram a
degradação dos blocos, pelo fato dessa argamassa ser mais forte que o adobe.
O terceiro subsistema é a cobertura, o autor indica a utilização de vigas
formadas por três camadas de peças de madeira da espécie Pinus sp. A união de
cada viga é feita através de pregos de aço (cuja dimensão 17x21 é suficiente), o
espaçamento de uma unidade a outra é de acordo com o tamanho da telha utilizada,
cerca de 40 cm. A junção entre este subsistema e a parede é possível com o uso do
“berço”, elemento de transição em madeira fixada no adobe por pinos metálicos.
Ao término da construção da fundação e do contrapiso, deve-se ter alguns
cuidados: promover uma limpeza no baldrame, para o levantamento da primeira
fiada; execução com argamassa, a mesma utilizada para confecção dos blocos; os
cantos devem estar no nível e no esquadro; a primeira fiada de blocos deve levar em
conta as aberturas de portas para elevação de paredes; as demais fiadas são
executadas mediante junta amarrada de ferro cabelo de 4,2 mm com o intuito de
travamento das fiadas e também impermeabilização nos primeiros 0,30 m internos e
externos. A Figura 3 representa um exemplo de casa construída com adobe.
28

Figura 3 – Exemplo de casa construída com blocos de adobe

Fonte: Colin (2010).

3.5 DEFINIÇÕES

Todo material seja ele de construção, ou não, apresenta algumas


característica provenientes de sua composição, estado e etc. Essas características
informam seu comportamento mediante algum uso específico ou simplesmente
alguma particularidade. As características podem ser inúmeras como: massa,
densidade, volume resistência à compressão ou tração e resistência a flexão entre
outras.
A massa segundo Pucci (2008) é uma grandeza fundamental que representa
a inércia (resistência) de um corpo em ser acelerado. A mesma é uma grandeza
escalar e sua unidade de medida é o Kg (SI).
A densidade é a grandeza utilizada para comparar massas ou até mesmo
pesos de substâncias distintas e é representado como sendo o quociente entre a
massa do objeto e seu volume, tendo sua unidade no sistema internacional de
medidas (SI) o Kg/m³ (BONJORNO e CLINTON, 2005).
Resistência à flexão é a tensão máxima suportada por um corpo de prova
sem que o mesmo sofra ruptura ou fraturas em suas fibras em um teste de flexão
(INSTRON, 2013).
29

4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 LOCAL DE ESTUDO

O trabalho foi desenvolvido na cidade de Angicos/RN, durante os meses de


dezembro de 2012 à março de 2013.
A fabricação dos blocos de Adobe ocorreu na Universidade Federal Rural do
Semi-Árido, Campus de Angicos, com materiais coletados em três locais diferentes
da cidade. O período de fabricação dos blocos ocorreu de 07 de janeiro a 07 de
fevereiro de 2013.
O município de Angicos/RN está localizado na micro-região central do Estado,
limita-se com os municípios de Ipanguaçu (oeste), Afonso Bezerra e Pedro Avelino
(norte), Lajes, Fernando Pedroza e Santana do Matos (sul) e Itajá (sul e oeste)
(Figura 4). A distância rodoviária até a capital é de 171 km. Seu território é de
aproximadamente 742 km² e a população estimada é de 11.549 habitantes (IBGE,
2012).

Figura 4 - Localização do Município de Angicos/RN.

Fonte: IDEMA (2013).


30

4.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A técnica de pesquisa utilizada fundamentou-se nos procedimentos da


pesquisa descritiva através de pesquisas bibliográficas, pesquisas de campo, e da
documentação direta intensiva, através da observação, e a entrevista estruturada.
(MARCONI; LAKATOS (2005); ANDRADE (2003)).

4.2.1 Levantamento do conhecimento prévio dos moradores quanto à técnica


de adobe

Com o intuito de analisar o conhecimento e a aceitação da população


angicana residente em casas de taipa acerca do método de adobe, foi realizada uma
breve entrevista (Apêndice A). Foram entrevistados 13 moradores de casas de taipa,
das 168 casas nesse modelo localizadas na zona urbana de Angicos, segundo
dados do IBGE (2012). A escolha das 13 casas se deu de modo aleatório.

4.2.2 Coleta da matéria prima para fabricação de blocos de adobe

Para fabricação dos blocos foram selecionados três locais diferentes, de


forma aleatória, na própria cidade para obtenção da matéria prima, argila, que
poderia ser utilizada na construção de casas de taipa (Figura 5). O primeiro (amostra
1) localiza-se próximo a entrada do município na Rua: José Machado, bairro Zélia
Alves; o segundo (amostra 2) (o mesmo servia de jazida para a fabricação de blocos
tradicionais, sendo possível identificar vestígios de seu funcionamento), está situado
em frente ao Campus da Universidade Federal Rural do Semi-Árido na Rua:
Gamaliel Martins Bezerra, bairro Alto da Alegria, e o terceiro (amostra 3) foi retirado
um barro encontrado dentro do domínio da UFERSA, sendo o mesmo abundante na
região (Figura 6). O local escolhido para fabricação foi o Campus da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido.
31

Figura 5 – Localização geografia dos setores de extração.

Fonte: Autoria própria (2013)

Figura 6 – Locais da amostra 1, 2, e 3, respectivamente.

Fonte: Autoria própria (2013)

4.2.3 Avaliação física e mecânica de blocos de adobe com material local

Inicialmente, as atividades desenvolvidas foram direcionadas ao


embasamento teórico sobre o tema proposto pela pesquisa, objetivando um
32

melhor direcionamento acerca das propriedades dos materiais que seriam


empregados na fabricação do experimento proposto e dos ensaios de flexão,
densidade, massa, dentre outras informações. Outra ferramenta utilizada foi
através de arquivos fotográficos e anotações, com o desígnio de verificar o
comportamento e peculiaridades do método, uma vez que o processo varia de
região para região.
A avaliação física foi realizada através da determinação da massa e da
densidade dos blocos. Para determinação da massa utilizou-se uma balança
de alta precisão; a densidade foi determinada através do seguinte
procedimento: com um pedaço do bloco foi determinado o peso seco em uma
balança de alta precisão, posteriormente esse mesmo pedaço foi depositado
num recipiente, graduado, de vidro e com água, percebendo uma variação do
volume da água, e com os dados obtidos fez-se a relação da massa com o
referido volume, resultando na densidade.
Para avaliação mecânica foi realizado ensaio de resistência à flexão em
três pontos dos blocos de adobe (FIGUEIREDO,2011) de acordo com a NBR
15310, norma esta que têm como objetivo estabelecer vários requisitos das
telhas cerâmicas como: dimensionais, físicos e mecânicos, bem como
estabelecer os métodos de ensaios, que consiste em apoiar o bloco em duas
bases ao mesmo tempo, onde a terceira barra cilíndrica aplica uma força
localizada no centro do bloco. A força varia aumentando gradualmente até
atingir sua resistência final, ou seja, aquela que o bloco suporta sem que haja
ruptura (Figura 7). A escolha da referida norma se respalda na inexistência de
uma norma específica para blocos de adobe.
Paralelo a esse experimento, foram submetidas telhas da região ao
mesmo processo, resistência à flexão, com o intuito de comparar os valores
obtidos nos blocos de adobe com os das telhas cerâmicas.
33

Figura 7 – Ensaio de flexão em três pontos.

Fonte: Autoria Própria (2013)

4.2.4 Confecção dos blocos

O material utilizado foi a argila, a areia, água, forma e a palha (acrescido ao


conjunto com o intuito de verificar sua influência no produto final). Ressalta-se que o
termo adotado, no presente trabalho, como argila se refere ao material usado em
casas de taipa (Figura 8).

Figura 8 – Materiais necessários para confecção dos blocos.

Fonte: Autoria própria (2013)


34

Foram confeccionados blocos compostos por argila, areia e água


denominados de blocos puros. Também foram confeccionados blocos com adição
de palha e blocos cujos constituintes foram apenas argila e água.
Com relação à forma escolhida, segundo Girão (2009), não existe um
consenso, no entanto, foi confeccionada uma forma na dimensão 8 x 12 x 25 cm
(altura, largura e comprimento, respectivamente) obedecendo assim uma proporção
estabelecida pelo autor que seria 1:2 ou 1:5 em relação a altura e comprimento. O
material utilizado para confecção da forma foi a madeira do tipo jatobá em função de
sua resistência quando em contato com a água (Figura 9).

Figura 9 - Forma para adobe feita com jatobá

Fonte: Autoria própria (2013).

Inicialmente, o barro foi submetido a um destorroamento (Figura 10) devido


seu estado muito coeso e inviável ao peneiramento. Em seguida tanto o barro como
a areia passaram pelo peneiramento visando a eliminação de agregados
inconvenientes (torrões), onde, Neves et al. (2005) afirmam que são responsáveis
diretamente pela diminuição da qualidade do produto final (Figura 11).
35

Figura 10 – Processo de destorroamento do barro

Fonte: Autoria própria (2013).

Figura 11 – Processo de peneiramento

Fonte: Autoria própria (2013).

Posteriormente misturou-se uma quantidade de 35 % de argila (cumprindo o


papel de aglutinante) com 65% de areia (responsável pela resistência final), ambos
secos como enfatiza Neves et. al. (2005). O teor de umidade foi atingido de forma
que a massa preenche-se todas as arestas sem provocar, no entanto deformação
após o desmolde (Figura 12).
36

Figura 12 - Traço da mistura já homogeneizada e umidificada.

Fonte: Autoria própria (2013).

A massa, quando pronta, foi lançada dentro da forma no sentido vertical até que
preenchesse todo o seu volume, o excesso foi retirado de forma manual (as mãos
devem estar sempre molhadas para que aja um melhor acabamento final). Os
blocos foram arranjados em três espaços separados de acordo com as amostras
dos setores.
 Espaço A – blocos provenientes da amostra retirada do 1° setor: composto
por nove blocos formados através da argila proveniente da amostra 1 (argila
1:areia, 35%:65%). Sete deles blocos de adobe puros e dois deles tiveram o
acréscimo de palha com o intuito de verificar sua influência no produto final
(Figura 13 – A).
 Espaço B – blocos provenientes da amostra retirada do 2° setor: composto
por quatro blocos de adobe puros formados através da amostra 2 (argila
2:areia, 35%:65%) (Figura 13 - B).
 Espaço C – blocos provenientes da amostra retirada do 3° setor: composto
por nove blocos formados por meio da argila proveniente da amostra 3 (argila
3:areia, 35%:65%). Dois dos nove blocos foram confeccionados, única e
exclusivamente, pela mistura da argila com a água (argila 3, 100%) com o
intuito de verificar seu comportamento final (Figura 13 - C).
37

Figura 13 – Espaços A, B e C destinados a secagem dos blocos de adobe


confeccionados a partir de amostras dos 1°, 2° e 3° Setores, respectivamente.

(A) (B) (C)


Fonte: Autoria Própria (2013)

Os blocos foram expostos ao processo de secagem ao ar livre, o que o


diferencia dos blocos e tijolos tradicionais, sem qualquer impacto ao meio, os
mesmos eram virados de dois em dois dias, durante vinte dias, garantindo assim
uma secagem distribuída (Figura 13).

Figura 13 - Os blocos sendo virados após dois dias de secagem.

Fonte: Autoria própria (2013).


38

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

5.1 ENTREVISTA JUNTO À COMUNIDADE

A cidade de Angicos/RN apresenta inúmeras bioconstruções no modelo


conhecido como casa de taipa, portanto, o uso da matéria prima, a argila, na sua
condição sem queima, já é adotada em construções locais. O intuito dessa etapa da
pesquisa foi o de verificar o conhecimento de alguns moradores de casas de taipa
quanto à técnica do adobe e sua possível aceitação, por observação apenas visual,
de uma amostra do produto.
Dos 13 moradores das casas de taipa entrevistados, 7 eram do sexo
masculino e 6 do sexo feminino (Gráfico 1).

Gráfico 1: Gênero referente aos moradores de casas de taipa entrevistados da


cidade de Angicos/RN.

Em seguida; perguntou-se aos entrevistados a respeito do número de


moradores por casa, o que totalizou 43 pessoas, representando, portanto, uma
média de 3,3 habitantes por casa.
Perguntou-se também se os entrevistados conheciam ou não a técnica de
construção chamada adobe. De todos os entrevistados ninguém conhecia ou sequer
ouviu falar sobre o modelo. Desse modo, o resultado indica o nenhum
conhecimento, por parte dos moradores, em relação ao tipo de construção exposto.
39

Após uma exposição por parte do pesquisador do que seria o adobe,


apresentou-se um exemplo do bloco. Em seguida, questionou-se sobre a aprovação
em relação ao modelo por parte dos moradores. Estes, por sua vez, utilizaram como
critérios de avaliação o aspecto visual, a textura do bloco e sua firmeza. O Gráfico 2
ilustra os resultados de aprovação ou rejeição do modelo, no qual pode-se observar
que 77% afirmaram ter aprovado, enquanto 23% disseram não abonar.

Gráfico 2: Opinião dos moradores de casas de taipa entrevistados quanto a sua


aprovação ou rejeição no que se refere ao modelo do bloco de adobe.

Por último, indagou-se aos mesmos se eles trocariam, mediante comprovação


da viabilidade técnica e econômica dos blocos de adobe, sua atual moradia por uma
construída por essa técnica. 85% dos entrevistados afirmaram que sim, enquanto
15% responderam que não (Gráfico 3), comprovando a aceitação dos moradores ao
modelo proposto.
40

Gráfico 3: Moradores de casas de taipa entrevistados que trocariam ou não sua


atual moradia por uma em adobe.

5.2 ENSAIOS LABORATORIAIS

Os blocos de adobe, quando prontos, foram enviados para análise no


Laboratório de Ensaios de Materiais do Campus da UFERSA em Mossoró, onde
foram analisados três aspectos: massa, densidade e sua resistência à flexão.

5.2.1 Massa

Com relação a massa, foram pesados diferentes quantidades de blocos por


amostra, de acordo com a disponibilidade. Para a amostra 1, proveniente do 1º
Setor, foram verificados cinco exemplares, obtendo-se uma média de 4,0136 Kg,
como ilustrado no Gráfico 4.

Gráfico 4 – Determinação da massa da amostra 1 (Kg) e sua respectiva média (Kg).


41

Para a amostra 2, proveniente do 2º Setor, foram pesados apenas 3 blocos,


que após sua análise apresentou uma média de 3,935 Kg (Gráfico 5) .

Gráfico 5 – Determinação da massa da amostra 2 (Kg) e sua respectiva média (Kg).

Por fim foi analisado o referido aspecto para a amostra 3, proveniente do 3º


Setor, onde foram utilizados 5 exemplares de blocos, cuja média obtida foi de 3,929
Kg (Gráfico 6).

Gráfico 6 – Determinação da massa da amostra 3 (Kg) e sua respectiva média (Kg).


42

Das três amostras ensaiadas, a que apresentou menor massa foi a terceira,
referente à amostra do 3º Setor, com uma média total de 3,929 Kg. Ao passo que a
primeira amostra (1º Setor), apresentou uma maior média na referida grandeza,
totalizando 4,036 Kg.
Com os valores de massa variando entre 3,800 Kg e 4,150 Kg foi percebido
que os valores obtidos no presente trabalho para os blocos de adobe ultrapassavam
muito aqueles encontrados em blocos tradicionais que variam entre 0,800 Kg e
1,200 Kg.

5.2.2 Densidade

A densidade dos blocos é obtida pelo quociente entre sua massa e seu
volume, para calcular a referida grandeza foi pesado um fragmento de bloco
(obtendo assim sua massa), em seguida o mesmo material foi submerso num
béquer graduado e com um certo volume d’água qualquer, a variação volumétrica
encontrada representa o volume do fragmento, de posse dessas duas grandezas
conseguimos calcular a densidade dos blocos das diferentes amostras (Gráfico 7).

Gráfico 7 - Densidade das amostras 1, 2 e 3.


43

5.2.3 Resistência a flexão

Para a amostra 1, foram selecionados dois blocos, um puro e outro acrescido


de palha, que passaram pelo teste de flexão. Um dos blocos (acrescido de palha)
demonstrou que mesmo após seu rompimento as fibras o mantinham coeso,
evitando assim que os blocos se partissem. O bloco puro apresentou o maior valor
de resistência 1,01 KN (Gráfico 8).

Gráfico 8 – Resistência à flexão da amostra 1 em KN.

Para o ensaio com a amostra 2 foram utilizados dois blocos puros, o primeiro
atingiu o valor de ruptura 0,67 KN e o segundo 0,52 KN de acordo com o Gráfico 9.

Gráfico 9 - Resistência à flexão da amostra 2 em KN.


44

Já a amostra 3 também foram utilizados dois blocos puros, e apresentou os


seguintes valores de ruptura 0,87 KN e 0,81 KN (Gráfico 10).

Gráfico 10- Resistência à flexão da amostra 3 em KN.

As três amostras apresentaram seus valores num intervalo entre 0,52 KN


(menor e que corresponde a amostra 2) e 1,01 KN (maior e que corresponde a
amostra 1). As telhas quando submetidas ao ensaio de flexão apresentaram um
intervalo semelhante sendo ele entre 0,735 KN a 1,16 KN (Figura 14).

Figura 14 – Ensaio de flexão em telhas.


45

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através de contato direto com os moradores de casas de taipa, percebeu-se o


completo desconhecimento dos mesmos acerca do método de construção citado,
tecnologia essa fácil e extremamente barata de ser desenvolvida. Apesar disso,
mediante prévio esclarecimento sobre o assunto para os entrevistados demonstrou-
se receptiva à sua utilização.
Através de ensaios laboratoriais, foi comprovado que a técnica em adobe,
desenvolvida através da argila, utilizada na confecções de casas de taipa da região
de Angicos/RN, pode alcançar resultados semelhantes até mesmo que aqueles
materiais classificados como convencionais, restando assim a necessidade de
desenvolver trabalhos posteriores com intuito de aperfeiçoar esse método, sendo
que o mesmo aceita ainda estabilizantes com intuito de otimização de resultados.
Com relação a massa dos blocos, os resultados obtidos foram muito
superiores aos dos blocos convencionais, porém, vale a pena ressaltar que a
referida grandeza está diretamente relacionada com o volume do bloco. Já que as
dimensões dos blocos de adobes podem variar, a massa dos mesmos podem ser
controlados alterando as dimensões finais dos mesmos, sendo assim, caso deseje
blocos mais leves basta confeccioná-los em tamanhos menores, ao passo que para
aumentar sua massa basta aumentar suas dimensões.
Quanto à confecção dos blocos de adobe, verificou-se que o tipo de superfície
sobre a qual os mesmos devem descansar é imprescindível. No presente trabalho,
observou-se a inadequação do local de secagem, uma que vez que os blocos de
adobes foram espalhados numa passarela feita de cimento e formadas com
ladrilhos, o que lhe proporcionou forte ligação ocasionando dificuldade em sua
remoção, chegando até a perder alguns deles, e ainda moldando uma de suas face
(aquela que tinha o primeiro contato com a superfície). Percebido isso, fica evidente
a necessidade de uma correção tal como colocar até mesmo folhas de papel que
sirvam de separação entre o bloco e o piso.
Com relação aos dois blocos produzidos apenas com a mistura argila e água
(amostra 3), verificou-se o aparecimento, logo no primeiro dia de secagem, de
fissuras e forte poder de agregação à superfície tornando inviável a utilização do
mesmo, e reforçando a importância da areia ao produto final.
46

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50

APÊNDICE – A

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO - CAMPUS ANGICOS

Questionário aplicado para diagnosticar o conhecimento e a aceitação da


sociedade angicana, residente em casas de taipa, em relação a técnica de
construção em adobe.

Nome: Sexo M ( ) F ( )

Número de moradores:

Conhece a técnica de construção chamada adobe? sim ( ) não ( )

Após o material ser exposto, houve aprovação por parte do morador ?

Sim ( ) não ( )

Uma vês comprovada sua viabilidade técnica e econômica, trocaria a atual


moradia por uma construída com adobe? Sim ( ) não ( )

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