Dificuldade da investigação sobre o tempo: Naturalmente, o que seja o tempo
todos nós sabemos; ele é a coisa mais bem conhecida de todos. Mas assim que tentamos dar-nos conta da consciência do tempo, estabelecer a recta relação entre o tempo objectivo e a consciência subjectiva do tempo e tornarmos compreensível como a objectividade temporal, por conseguinte, a objectividade individual em geral, se pode constituir na consciência subjectiva do tempo, assim como quando tentamos simplesmente submeter [4: à análise a consciência puramente subjectiva do tempo, o teor [Gehalt] fenomenológico das vivências do tempo, enredamo-nos na m ais estranhas difculdades, contradições e confusões.
1 – Exclusão do tempo objetivo
HUSSERL >>> Análise fenomenológica da consciência do tempo: Isso envolve,
como em toda análise semelhante, a completa exclusão de quaisquer suposições, afrmações terminantes e convicções a respeito do tempo objectivo (de todos os pressupostos transcendentes acerca do existente). Do ponto de vista objectivo, cada vivência, como cada ser real e momento de ser, pode ter a sua posição num uno, único tempo objectivo - por consequência, também a própria vivência da percepção e representação do tempo. Tal como a coisa real, o mundo real não é um dado fenomenológico, como também não o é o tempo do mundo, o tempo real, o tempo da natureza no sentido das ciências naturais e também da psicologia, como ciência natural do psíquico. (REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA) (...) o que nós aceitamos não é a existência de um tempo do mundo, a existência de uma duração cousal [dinglichen Dauer] e coisas semelhantes, mas antes o tempo que aparece [erscheinende Zeit], a duração que aparece como tal. Ora isto são dados absolutos de que não teria sentido duvidar. De seguida, sem dúvida, nós aceitamos também um tempo que é; porém, isso não é o tempo do mundo da experiência, mas antes o tempo imanente do curso da consciência. Que a consciência de um processo sonoro, de uma melodia que agora mesmo oiço, mostre uma sucessão, acerca disto temos uma evidência que faz aparecer qualquer dúvida ou negação como destituídas de sentido. (DURAÇÃO QUE APARECE COMO TAL >> TEMPO IMANENTE DO CURSO DA CONSCIÊNCIA) (EXCLUSÃO DO TEMPO OBJETIVO) São dados fenomenológicos a apreensões de tempo [Zeituffassungen], as vivências em que o temporal, no sentido objectivo, aparece. São ainda fenomenologicamente dados os momentos da vivência nos quais as apreensões do tempo enquanto tal especialmente se fundam, portanto, os eventuais conteúdos específicos da apreensão temporal (a que o inatismo moderado chama o temporal originário). Mas nada disto é tempo objectivo. Através da análise fenomenológica não se pode encontrar a mínima porção de tempo objectivo. O «campo temporal originário>> não é um fragmento do tempo objectivo, o agora vivido, tomado em si mesmo, não é um ponto do tempo objectivo, etc. Espaço objectivo, tempo objectivo e, com eles, o mundo objectivo das coisas e processos reais - tudo isto são transcendências. Bem entendido, espaço e realidade não são transcendentes num sentido místico, como <<coisas-em-si>>, mas justamente o espaço fenoménico, a realidade fenoménica espácio-temporal, as formas espacial e temporal que aparecem. Nada disto são vivências. E os nexos de ordem que são encontrados nas vivências, enquanto imanências autênticas, não se podem achar na ordem empírica objectiva nem nela se inserem. (DADOS FENOMENOLÓGICOS >> APREENSÕES DE TEMPO) (ANÁLISE FENOMENOLÓGICA >>> NÃO É O TEMPO OBJETIVO QUE ESTÁ EM QUESTÃO) (CAMPO TEMPORAL ORIGINÁRIO >> AGORA VIVIDO) (VIVÊNCIAS >>>> IMANÊNCIAS AUTÊNTICAS >>> NÃO PODEM ACHÁ-LAS NA ORDEM EMPÍRICA OBJETIVA E NEM NELA SE INSERE) Se denominamos «sentido>> um dado fenomenológico que, através da apreensão, nos torna conscientes de algo objectivo como dado em carne e osso [Libhaf], a que chamamos então objectivamente percepcionado, assim temos nós que distinguir também, no mesmo sentido, entre um temporal «sentido» e um temporal percepcionado. O último significa o tempo objectivo. Contudo, o primeiro não é ele próprio tempo objectivo (ou posição no tempo objectivo), mas antes o dado fenomenológico através da apercepção empírica do qual se constitui a referência ao tempo objectivo. Os dados temporais ou, se se quiser, os signos temporais não são os próprios tempora. O tempo objectivo pertence à conexão da objectividade da experiência. Os dados temporais «sentidos» não são simplesmente sentidos, eles estão também < investidos> de caracteres de apreensão e a estes, por sua vez, pertencem certas pretensões e direitos, como aferir um pelo outro os tempos e as relações temporais que aparecem sobre o fundamento dos dados dos sentidos, pô-los de tal e tal modo em ordens objectivas, distinguir de tal e tal modo as ordens aparente e real. O que aqui se constitui como ser objectivamente válido é, em conclusão, o único, infinito tempo objectivo, no qual toda as coisas e acontecimentos, os corpos e as suas propriedades físicas, as psiques e os seus estados psíquicos, têm a suas posições temporais determinadas, que são determináveis pelo cronómetro. (TEMPORAL PERCEPCIONADO >>> TEMPO OBJETIVO) (TEMPORAL “SENTIDO” >>> DADO FENOMENOLÓGICO DO QUAL SE CONSTITUI À REFERENCIA AO TEMPO OBJETIVO) (TEMPO OBJETIVO >>> COISAS, ACONTECIMENTOS, CORPOS, PROPRIEDADES FÍSICAS, PSIQUES E ESTADOS PSIQUICOS TEM SUAS POSIÇÕES TEMPORAIS DETERMINADAS, QUE SÃO DETERMINÁVEIS PELO CRONÔMETRO) HUSSERL >>> O conteúdo vivido torna-se «objectivado>> e, então, é constituído o objecto a partir do material dos conteúdos vividos segundo o modo da apreensão. Mas o objecto não é simplesmente a soma ou a complexão destes «conteúdos», que não entram de modo nenhum nele, ele é mais que um conteúdo e, de certa maneira, outra coisa. A objectividade pertence à «experiência» e, na verdade, à unidade da experiência, à conexão da natureza segundo as leis da experiência. Dito fenomenologicamente: a objectividade não se constitui precisamente nos conteúdos «primários>>, mas sim nos caracteres de apreensão e na legalidade que pertence à essência destes caracteres. Fenomenologia do conhecimento é, precisamente, levar isto a uma plena visão e a uma clara compreensão. (OBJETIVIDADE >>> EXPERIÊNCIA) (OBJETIVIDADE >>> CARACTERES DE APREENSÃO E NA LEGALIDADE QUE PERTENCE À ESSÊNCIA DESTES CARACTERES)
2 – A pergunta pela origem do tempo
A pergunta pela essência do tempo reconduz à pergunta pela «origem» do
tempo. Mas esta pergunta pela origem está dirigida para as formações primitiva da consciência do tempo, nas quais se constituem intuitiva e autenticamente as diferenças primitivas do temporal, como as fontes originárias de todas as evidências relativas ao tempo. Esta pergunta pela origem não pode ser confundida com a pergunta pela origem psicológica, com a questão controvertida pelo empirimo e inatismo. Com a última, é interrogado o material sensível originário a partir do qual a intuição objectiva do espaço e do tempo nasce no indivíduo humano e até mesmo na espécie. A pergunta pela génese empírica é-nos indiferente, interessam-nos as vivências no seu sentido objectivo e no seu teor descritivo. A apercepção psicológica, que apreende as vivências como estados psíquicos de pessoas empíricas, de sujeitos psicofísicos, entre elas estabelece conexões, sejam elas puramente psíquica ou psicofísicas, e persegue as leis naturais do devir, do formar-se e transformar-se das vivências psíquicas, esta apercepção psicológica é totalmente outra que a fenomenológica. Nós não dispomos as vivências em nenhuma realidade. Com a realidade temos nós de lidar apenas enquanto ela é uma realidade visada, representada, intuída, conceptualmente pensada. Relativamente ao problema do tempo, isto quer dizer: interessam- nos as vivências do tempo. Que elas próprias, objectivamente, estejam temporalmente determinadas, que elas se incluam no mundo das coisas e dos sujeitos psíquicos e neste tenham a sua posição, a sua eficiência, o seu ser empírico e a sua génese, isso não nos move, disso nada sabemos. Pelo contrário, interessa-nos que, nestas vivências, os dados «objectivamente temporais, sejam visados. Pertence ao domínio da fenomenologia precisamente esta descrição de que os actos em questão visam «objectivamente» isto ou aquilo e, justamente, a exibição das verdades a priori que pertencem aos diversos momentos constitutivos da objectividade. Procuramos esclarecer o a priori do tempo explorando a consciência do tempo, trazer à luz a sua constituição essencial e pôr em relevo os eventuais conteúdos de apreensão e caracteres de acto especificamente pertencentes ao tempo, aos quais pertencem essencialmente as leis a priori do tempo. Naturalmente, refiro-me com isto a leis, compreensíveis por si, desta espécie: que a ordem temporal fixa é uma série infinita bidimensional, que dois tempos distintos não podem existir simultaneamente, que a sua relação é assimétrica, que se verifica , que a cada tempo pertence um anterior e um posterior, etc. - Chega como introdução geral. (PERGUNTA: ESSÊNCIA DO TEMPO >>> ORIGEM DO TEMPO >> FORMAÇÃO PRIMITIVA DA CONSCIÊNCIA DO TEMPO) (FENOMENOLOGIA >>> REALIDADE VISADA, REPRESENTADA, PENSADA CONCEITUALMENTE) (FENOMENLOGIA >> VIVÊNCIAS DO TEMPO) (A PRIORI DO TEMPO >>> CONSCIÊNCIA DO TEMPO)
PRIMEIRA SEÇÃO – A DOUTRINA DE BENTRANO SOBRE A ORIGEM DO
TEMPO
3 – AS ASSOCIAÇÕES ORIGINÁRIAS
Em ligação com a doutrina de Brentano sobre a origem do tempo, queremos
agora tentar abrir um caminho para os problemas acima levantados. Brentano crê ter encontrado a solução nas associações originárias, no «nascimento das representações mnénicas [Gedächtnisvorstellungen] imediatas, ou seja, as que, por uma lei sem excepções, se conectam sempre, sem qualquer intermediário, com cada uma das representações perceptivas>. Quando vemos, ouvimos ou, em geral, percepcionamos algo, acontece por regra que o percepcionado nos permaneça presente por um lapso de tempo, mas não sem se modificar. Não tomando em consideração outra alterações, como a intensidade e a plenitude, que ocorrem num grau ora insignificante ora significativo, há ainda sempre uma outra, particularmente característica, a verificar: a saber, que o assim mantido na consciência nos apareça como algo mais ou menos passado, como, por assim dizer, temporalmente lançado para trás. Quando, por exemplo, soa uma melodia, o som individual não desaparece completamente com o cessar do estimulo ou então com o movimento dos nervos por ele excitados. Quando soa o novo som, o precedente não desaparece sem deixar rasto, senão nós seríamos mesmo incapazes de notar a relações entre os sons consecutivos; nós teríamos, em cada instante, um som, eventualmente, no intervalo de tempo entre o toque de dois sons, uma pausa vazia, nunca, porém, a representação de uma melodia. Por outro lado, não basta ficarmos com esta permanência das representações de som na consciência. Se elas permanecessem sem modificação, teríamos nós então, em vez de uma melodia, um acorde de sons simultâneos ou antes uma amálgama desarmónica de sons, tal como a obteríamos se todos os sons já soados tocassem simultaneamente. Só porque aquela modificação peculiar ocorre, porque cada sensação de som, depois de o estímulo produtor ter desaparecido, desperta a partir de si mesma uma representação semelhante, provida de uma determinação de tempo, e porque esta determinação temporal se altera sem cessar, se pode chegar à representação de uma melodia, na qual os sons singulares têm os seus lugares determinados e as suas medidas temporais determinadas. (BRENTANO >>> TEMPO >>> PASSADO >>> PERMANÊNCIA E MODIFICAÇÃO >> EXEMPLO DA MELODIA) (BRENTANO >>> ASSOCIAÇÕES ORIGINÁRIAS) É, por conseguinte, uma lei universal que, a cada representação dada, se ligue, por natureza, uma cadeia contínua de representações, da qual cada uma reproduz o conteúdo da precedente, mas de tal maneira que ela fixe sempre à nova o momento do passado. Assim, a fantasia mostra-se aqui, de um modo peculiar, produtiva. Trata-se aqui do único caso onde ela cria um momento das representações verdadeiramente novo, a saber, o momento do tempo. Assim, descobrimos no campo da fantasia a origem das representações de tempo. (FANTASIA >>> ORIGEM DAS REPRESENTAÇÕES DE TEMPO) Assim como sentimos uma cor, sentimos nós também a duração da cor; como a qualidade e a intensidade, a duração temporal seria assim também um momento imanente da sensação. O estímulo externo excita, através da forma do processo físico, a qualidade; através da sua força viva, a intensidade; e através do seu perdurar, a duração subjectiva sentida. Mas isto é um erro palpável. Que o estímulo dure, tal não quer dizer que a sensação seja sentida como duradoura, mas apenas que também a sensação dura. Duração da sensação e sensação de duração são duas coisas distintas. E é do mesmo modo para sucessão. Sucessão das sensações e sensação de sucessão não são o mesmo. (CRÍTICA AO ERRO DOS PSICOLÓGOS, ANTES DE BRENTANO, QUE TENTARAM DEFINIR O TEMPO OU CONSCIÊNCIA DO TEMPO). Seria concebível que a nossas sensações durassem ou se sucedessem umas às outras sem que nós, porém, soubéssemos o mínimo acerca disso, visto que a nossa representações não trariam em si a menor determinação temporal. Consideremos, por exemplo, o caso de uma sucessão e admitamos que a sensações desaparecem com os estímulos que a causam: teríamos então uma sucessão de sensações sem o pressentimento de um decurso temporal. Com o surgir da nova sensação, nós não teríamos mais qualquer recordação do ser passado [Geesesein] da anterior; nós teríamos em cada momento apenas consciência da agora mesmo produzida e nada mais. Mas também um perdurar das sensações já produzidas ainda não nos ajudaria a chegar à representação da sucessão. Se, no caso de uma sucessão de sons, os anteriores se conservassem tal como eram enquanto, ao mesmo tempo, novos e novos soassem, teríamos então uma soma simultânea de sons, mas nenhuma sucessão de sons na nossa representação. Em face do caso de toda esses sons soarem ao mesmo tempo, nenhuma diferença subsistiria. Um outro exemplo: se, no caso de um movimento, o corpo movido fosse retido, em cada sua posição respectiva, sem alteração na I consciência, o espaço percorrido aparecer-nos-ia então contiuamente preenchido, mas nós não teríamos a representação de um movimento. Chega-se à representação d sucessão porque a sensação anterior não persiste inalterada na consciência, mas antes se modifca de um modo peculia, e na verdade se modica sem cessar de momento para momentó. Com a passagem pela fntaia, ela recebe o carácter temporal, constatemente alterável, e assim o conteúdo aparece, de momento para momento, mais e mais lançado para trás. Ma esta modifcação não é coisa de sensação, ela não é provocada pelo estímulo. O estímulo produz o conteúdo de sensação presente. Se desapaece o estÍmulo, desaparece também a senação. Ma a sensação torna-se agora ela mesma criadora: ela produz para s mesma uma representação da fantasia semelhante ou quase semelhante, quanto ao conteúdo, e enriquecida pelo carácter temporal. Esta representação despera ainda uma nov, que se conecta sempre com ela, e assim sucessivmente. A esta constante ligação de uma representação temporalmente modicada à que é dd chama Brentano «associação originária». Em consequência d sua teoria, Brentano é levado a negar a percepção da sucessão e da alteração. Cremos ouvir uma melodia, por conseguinte, ouvir ainda também o mesmo agora passado; no entanto, isto é apenas uma aparência que provém d vivcidade da associação originária. (BRENTANO >>> ASSOCIAÇÃO ORIGINÁRIA)
4 – A Aquisição do futuro e o tempo infinito
De modo semelhante forma a fantasia a representação do futuro a partir do
passado, quer dizer, na expectativa. Que a fantasia não possa oferecer nada de novo, que ela se esgote na repetição daqueles momentos que foram já dados na percepção - isso é uma maneira de ver completamente errada. Enfim, no que respeita à acabada representação do tempo, à representação do tempo infinito, [vê-se que] ela é, assim, uma formação [Gebilde] do representar conceptual, tal como a série infinita dos números, o espaço infinito e outras semelhantes. (FANTASIA > PASSADO E FUTURO) (FANTASIA >> TEMPO INFINITO)
5 – A Modificação das representações através dos caracteres de tempo
Segundo Brentano, deve ainda atentar-se numa peculiaridade p
articularmente importante no âmbito das representações do tempo. As espécies temporais do passado e do futuro têm a peculiaridade de não determinarem, como o fazem outros modos adjungidos, mas antes alterarem os elementos das representações sensíveis com os quais se ligam. Um som dó forte é ainda um som dó, um som dó fraco também; ao contrário, um som dó passado não é nenhum dó, um vermelho passado não é nenhum vermelho. As determinações temporais [zeitlichen Bestirmungen] não determinam [deterrinieren], elas alteram essencialmente, de modo inteiramente semelhante ao que fazem a determinações «representado», «desejado» e coisas similares. Um taler representado, possível, não é nenhum taler. Apenas a determinação «agora>> faz excepção. O A que é agora é um A efectivo. O presente não altera, mas, por outro lado, também não determina. Se à representação de um homem junto ainda o agora, o homem não ganha por isso nenhuma nova nota, quer dizer, nenhuma nota é nele designada. Que algo seja representado como agora não traz nada a mais, na percepção, à qualidade, imensidade e determinação local. Os predicados modificadores de tempo são, segundo Brentano, irreais; real é apenas a determinação do agora. O que é neste caso digno de nota é pertencerem as determinações irreais de tempo a uma série contínua com uma única determinação efectivamente real, à qual elas se agregam por diferenças infinitesimais. O agora real torna-se, pois, sempre de novo irreal. Se se pergunta como pode o real, através da adjunção de determinações modificadoras de tempo, torna-se irreal, nenhuma outra resposta pode ser dada senão esta: que a cada gerar-se e perecer, que tem o seu lugar no presente, são ligadas, de certo modo como consequências necessárias, determinações temporais de qualquer espécie. Pois como é plenamente evidente e compreensível por si, tudo que é virá a ser passado, em consequência do facto de que é, e é, em consequência do facto de que é, um passado vindouro. (PRESENTE >>> REAL QUE TORNA-SE IRREAL) (PASSADO >>> IRREAL) (PREDICADOS MODIFICADORES DE TEMPO >> IRREAIS) (TUDO QUE É VIRÁ A SER PASSADO)
6 – CRÍTICA
Manifestamente, ela não se move no terreno que reconhecemos como
necessário para uma análise fenomenológica da consciência do tempo: ela trabalha com pressupostos transcendentes, com objectos temporais existentes que exercem «estÍmulos» e em nós «provocam» sensações, etc. Ela apresenta-se, por conseguinte, como uma teoria sobre a origem psicológica da representação do tempo. Mas, ao mesmo tempo, ela contém fragmentos de uma ponderação, [ao nível dà] teoria do conhecimento, sobre as condições de possibilidade de uma consciência da temporalidade objectiva, a qual aparece ela mesma e deve poder aparecer como temporal. A isto juntam-se as discussões sobre as peculiaridades dos predicados de tempo, que devem estar em relação com os predicados psicológicos e fenomenológicos, relações que, no entanto, não são levada mais longe. (BRENTANO >>> NÃO SE MOVE NO TERRENO QUE RECONHECEMOS COMO NECESSÁRIO PARA UMA ANÁLISE FENOMENOLÓGICA DA CONSCIÊNCIA DO TEMPO >>> TEORIA SOBRE ORIGEM PSICOLÓGIA DA REPRESENTAÇÃO DO TEMPO >>> TRANSCEDÊNCIA) (RESQUÍCIOS DA FENOMENOLOGIA E TEORIA DO CONHECIMENTO) Brentano fala de uma lei da associação originária, segundo a qual representações de uma memória momentânea se agregam às percepções respectivas. Com isto é manifestamente visada uma lei psicológica acerca da nova formação da vivências psíquicas a partir da base de vivências psíquicas dadas. ·Estas vivências são psíquicas, elas são objectivadas, têm ela própria o seu tempo, e é do seu devir e do processo da sua produção [Herorgebachtwerden] que aqui se fala. Tais coisa pertencem ao campo da psicologia e não nos interessam aqui. Encontra-se, porém, nestas considerações um núcleo fenomenológico e só a ele pretendem ater-se as explanações seguintes. Duração, sucessão e. alterações aparecem. Que reside nestas aparições? Numa sucessão, por exemplo, aparece um «agora>> e, em unidade com isso, um «passado». A unidade da consciência envolvendo intencionalmente presente e passado é um dado fenomenológico. É agora de perguntar se, como Brentano assevera, o passado aparece efectivamente nesta consciência segundo o modo da fantasia. (NÚCLEO FENOMENOLÓGICO >>> DURAÇÃO, SUCESSÃO E ALTERAÇÕES) (UNIDADE DA CONSCIÊNCIA >>> PRESENTE E PASSADO >>> DADO FENOMENOLÓGICO) A onde Brentano fala da aquisição do futuro, ele distingue intuição originária do tempo, que, segundo ele, é criação da associação originária, e intuição alargada do tempo, que brota também da fantasia, mas não da associação originária. Nós podemos também dizer: a intuição do tempo está posta face à representação imprópria do tempo, à representação do tempo infinito, dos tempos e relações de tempo que não são intuitivamente realizados. E, então, surpreendente ao máximo que Brentano não tenha de modo nenhum tido em conta a diferença, que se impõe por si própria e que é impossível que ele não tenha podido ver, entre percepção do tempo e fantasia do tempo. Ele pode mesmo recusar falar de percepção de algo temporal (com excepção dos pontos-agora, como limite entre passado e futuro): a diferença que subjaz ao discurso sobre a percepção de uma sucessão e sobre o recordar-se de uma sucessão outrora percepcionada (ou também a simples fantasia de uma tal sucessão) não pode ser posta de parte e deve ser de qualquer modo esclarecida. Se a intuição originária do tempo é já uma criação da fantasia, que distingue então a fantasia do temporal daquela em que um passado temporalmente remoto está consciente, por conseguinte, daquela que não pertence à esfera da associação originária, que não é concatenada numa consciência com a percepção momentânea, mas o foi antes outrora com uma percepção passada? Se a presentifcação de uma sucessão ontem vivida signifca uma presentifcação do campo temporal originário ontem vivido e se este mesmo se apresenta já como um contÍnuo de fantasias originariamente associadas, teríamos nós, então, de lidar agora com fantasias de fantasias. Tropeçamos aqui em difculdades não resolvidas da teoria brentaniana, que p õem em questão a justeza da sua análise da consciência origiária do tempo 9• Que ele não tenha podido domiar as difculdades, deve-se ainda a outras falhas, para além das indicadas. (