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Luiz Rafael Palmier1, Lucas Samuel Santos Brasil1, Roberto Cézar Monte-Mor1, Nilo Nascimento1,
Eduardo Galliac Rocha1, Neuzimar de Souza e Silva2, Alba Valéria Brandão Canellas2
ABSTRACT --- In Brazil, it is relatively small the number of studies that couple the results of a
dam break flood wave routing and the representation of the related inundated area towards the use
of a Geographic Information System. A research group from EHR/UFMG has been developing
some studies in that subject. In the simulations already carried out, for dams and reservoirs with
relatively small magnitudes, it was shown the relevance of the jointly use of FLDWAV, to
propagate the dam break flood wave, and the ARCGIS, to produce the associated flood prone area
map. Brazilian mining and electric power companies have also started to dedicate an even greater
attention to this matter. A changing view to the dam security subject is indicated by the recent
support from Brazilian research agencies to projects whose main focus is to evaluate hypothetical
conditions of dams rupture, the resultant flood wave routing and the elaboration of flood maps. In
this paper, supported by FINEP, it is presented the first version of the map, obtained from the base
made available by IBGE, of the potentially inundated area due to hypothetical rupture of Manso
Dam, whose reservoir has a volume of 8601 hm³.
A simulação do escoamento originado pela ruptura de barragens pode ser realizada com a
utilização de diferentes modelos numéricos. Salienta-se que os resultados gerados pela aplicação de
um determinado modelo numérico são influenciados principalmente (Ramos e Viseu, 1999) i) pelo
método numérico utilizado; ii) pelas condições iniciais e de contorno assumidas; e iii) pela
quantidade de dados de entrada utilizados. Segundo Morris e Galland (2000), modelos
hidrodinâmicos unidimensionais são os indicados para a maioria dos casos práticos, pois possuem
uma interface mais simples de utilização e apresentam uma boa precisão de resultados.
A seguir descreve-se, de forma simplificada, a metodologia adotada pela equipe de pesquisa
da UFMG/EHR.
1/ 2
Fórmula considerando a
Schoklistch (1917) 8 B d 3 situação em que a ruptura
Q max = Bb g Y médio 2 (4)
apud ICOLD (1998) 27 B b ocorre em parte da crista de
uma barragem
Fórmula baseada em dados
Bureau of coletados de vazões de pico
Reclamation (1982) Q max = 19 H d
1 , 85 históricas e da profundidade
(5)
apud Bureau of da lâmina d’água no
Reclamation (1987) reservatório no momento da
ruptura
De acordo com Singh, o
escoamento que passa pela
Vertedor de Soleira 3 brecha pode ser assumido
Espessa (Singh, Q max = 1, 7 B b H b 2 (6)
como análogo ao escoamento
1996)
que passa por um vertedor
retangular de soleira espessa
3
A Fórmula considerando a
Wetmore e Fread 1,94 s
Bb formação de uma brecha
(1981) apud French Qmax = 1,7 Bb (7)
T + 1,94 As retangular, desenvolvendo-se
(1985)
p ( B H ) em um intervalo de tempo (t)
b d
A partir das saídas fornecidas pelos modelos numéricos podem ser utilizadas ferramentas de
geoprocessamento de maneira a associar os dados advindos da propagação da onda de cheia à
cartografia da área objeto de estudo. A utilização de um software de geoprocessamento permite
criar um modelo digital de terreno (MDT) e a representação do plano de inundação da onda de
cheia provocada pela ruptura da barragem. A comparação desses dois elementos possibilita a
criação de mapas de inundação para as áreas de interesse. A partir de mapas digitalizados e
georreferenciados é possível produzir um arquivo de vetores, que representa as curvas de nível do
terreno, como base para a geração do MDT. Da mesma maneira os planos de inundação são criados
a partir da interpolação das seções topobatimétricas (MDST) que têm como informação, para cada
seção, as cotas máximas de inundação provenientes da modelagem hidráulica.
A relação entre o MDT e o MDST consiste na divisão da imagem raster que representa a
superfície do terreno, com suas cotas altimétricas, pela imagem do plano de inundação, com as
respectivas cotas. Quando a imagem raster apresenta valores superiores ao valor 1, significa que a
superfície do terreno esta mais elevada que o plano de inundação. Por outro lado, se os valores
forem inferiores a 1, significa que as cotas do plano de inundação são maiores que as do terreno.
Os modelos SPRING, IDRISI, ENVI, ERDAS e a série ARCGIS são exemplos de softwares
que podem ser utilizados para a confecção dos mapas de inundação. Alguns softwares auxiliares
podem ser necessários para a geração dos arquivos vetoriais dos dados altimétricos, como, por
exemplo, arquivos no formato DXF criados por softwares CAD.
Para realizar as etapas descritas acima, devem estar disponíveis dados do reservatório
(incluindo alguns dados da bacia hidrográfica); dados da estrutura da barragem; dados topográficos;
e dados de sedimentos.
Os dados necessários do reservatório incluem informações sobre a sua curva cota-área-
volume, enquanto para a bacia hidrográfica é preciso obter dados das seções topobatimétricas, série
de vazões afluentes, registros de cheias naturais e estudos de vazões extremas. Com relação à
escolha das seções topobatimétricas, Sylvestre e Sylvestre (2002) recomendam a obtenção de
seções transversais ao longo do curso d’água de modo a caracterizar adequadamente a topografia
(singularidades, planícies de inundação etc) do mesmo.
Os dados estruturais referem-se às dimensões e aos níveis da barragem, sendo necessários
para predizer razoavelmente o tamanho da brecha formada e, também, a vazão potencial da cheia.
Os dados topográficos devem mostrar toda a área sujeita à inundação com um detalhamento
superior aos níveis de cheias naturais. De forma ideal, deve-se utilizar uma base de dados com
A bacia do rio Cuiabá totaliza aproximadamente 29000 km² de área, com perímetro de 841
km, abrangendo as cabeceiras dos rios Cuiabá da Larga e Cuiabá do Bonito até a confluência do rio
Coxipó-Assú pouco a jusante da cidade de Santo Antônio do Lerverger. A bacia está localizada
entre os paralelos 14°18’ e 17°00’S e os meridianos 54°40’ e 56°55’W. A nascente do rio Cuiabá é
formada pelos riachos Cuiabá do Bonito e Cuiabá da Larga, que após se encontrarem passa a ser
chamado Cuiabazinho. Ao receber as águas do rio Manso, seu volume aumenta de forma
significativa e passa ser chamado rio Cuiabá, o qual atravessa as cidades de Rosário Oeste,
Acorizal, Cuiabá, Várzea Grande, Santo Antônio de Leverger e Barão de Melgaço. As maiores
cidades – Cuiabá, Rosário do Oeste e Santo Antônio do Leverger – possuem populações de,
respectivamente, 482498, 18450 e 15431 habitantes (IBGE, 2001).
A barragem do Manso consta de uma estrutura mista, sendo em grande parte composta por
solo compactado, com extensão total de 3680 metros. A altura máxima da barragem é de 73 metros
e a sua crista está na elevação altimétrica 291,5 m. Os volumes do reservatório nas cotas 287 m
(nível máximo normal) e 290 m (próximo ao nível máximo maximorum) são iguais a,
respectivamente, 7337 hm3 e 8601 hm3. A figura 1 mostra uma vista parcial da barragem do Manso.
A planície de inundação do rio Manso em seu trecho a jusante da barragem do Manso até à
confluência com o rio Cuiabazinho é caracterizada por uma ocupação com pastos, com algumas
manchas de árvores de pequeno porte. As declividades das margens direita e esquerda da calha
principal do rio Manso estão em torno de 30%. Em ambas as margens as planícies de inundação têm
declividades bem mais suaves.
Enquanto a primeira metade do trecho é praticamente retilínea, a segunda apresenta-se com
várias curvas. Há uma ponte logo a jusante da barragem do Manso. A outra ponte trafegável,
recentemente construída, encontra-se em uma seção que se localiza na metade desse trecho.
Próximos a esta última são observados restos dos pilares de uma outra que foi destruída pelas
cheias. As margens não se encontram ocupadas, com exceção de algumas sedes de fazenda e
pequenas casas isoladas.
A partir da confluência com o rio Cuiabazinho, quando o rio principal passa a ser chamado de
Cuiabá, nota-se um trecho, até a cidade de Rosário do Oeste, cujas margens são vegetadas com
árvores de pequeno porte. Esse trecho é caracterizado por grandes curvas, com indícios de mudança
de leito quando da passagem de ondas de cheia. Logo a montante da cidade de Rosário Oeste nota-
se que o rio, principalmente em sua margem direita, possui uma calha secundária. Há uma ponte
sobre o rio nessa cidade. A declividade do curso d’água nesse trecho ainda é baixa e as de suas
margens são similares às do trecho a montante da confluência entre o rio Manso e o rio Cuabazinho.
As características do trecho a jusante da cidade de Rosário Oeste até o lugarejo chamado Engenho
são semelhantes às do trecho anterior. Com exceção da cidade de Rosário Oeste, as margens não
são ocupadas.
A partir de Engenho até Guia, o rio passa a ter menos curvas e a sua declividade aumenta,
visto que se formam pequenas corredeiras em alguns locais. O leito do rio passa a apresentar alguns
afloramentos rochosos. A cobertura vegetal das planícies de inundação ainda é composta de pastos
e pequenas árvores. Foi recentemente inaugurada uma ponte sobre o rio na cidade de Acorizal.
Logo a montante dessa cidade, o rio Jangada, afluente do Cuiabá pela margem direita, tem
contribuições importantes em épocas de cheia.
De Guia até Cuiabá, a declividade do rio volta a diminuir e não se notam grandes diferenças
no uso do solo em relação aos trechos anteriores. Na cidade de Cuiabá há quatro pontes. As
planícies de inundação de ambas as margens são bastante ocupadas nas áreas próximas às duas
pontes centrais. O trecho de rio a partir de Cuiabá até a área urbana da cidade de Santo Antônio do
Leverger tem baixa inclinação longitudinal, ocupação esparsa das margens e vegetação rasteira.
Com base nas observações acima, julgou-se pertinente o estudo de propagação no trecho
compreendido entre a barragem e a cidade de Cuiabá.
I Simpósio de Recursos Hídricos do Norte e Centro-Oeste 8
3.3 – Cheias naturais na bacia hidrográfica do rio Cuiabá
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
22000
20000
18000
16000
Vazão (m³/s)
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Tempo (h)
Número da
Localização da Cota Máxima Elevação Fundo do
Seção
Seção [km] Atingida [m] Canal [m]
Transversal
SB-01 2,02 262,79 216,14
SB-02 14,21 257,30 211,00
SB-03 66,04 236,87 186,00
SB-04 131,31 221,07 177,50
SB-05 212,35 196,62 159,00
SB-06 280,29 165,59 136,50
Número da
Vazão Máxima Tempo para a Tempo para a Vazão
Seção
[m³/s] Cota Máxima [h] Máxima [h]
Transversal
SB-01 23033 22,71 10,00
SB-02 22279 24,97 14,97
SB-03 20845 42,67 25,85
SB-04 18803 57,61 41,00
SB-05 18049 65,64 62,26
SB-06 17956 72,73 69,89
A seguir, nas figuras 3 e 4, são apresentadas as vazões e cotas máximas ao longo da área a
jusante da barragem do Manso, para o diferente cenário simulado.
25000
23033 m³/s
24000
22279 m³/s
23000
20845 m³/s
22000
Vazão Máxima [m³/s]
21000
18803 m³/s
20000
18049 m³/s
17956 m³/s
19000
18000
17000
16000
15000
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300
Distância [km]
Figura 3 – Vazões máximas atingidas ao longo do rio Manso e do rio Cuiabá mostrando a
localização das áreas urbanas e dos afluentes considerados
300
290
262,79 m
257,30 m
280
270
236,87 m
260
250
Cota Máxima [m³/s]
221,07 m
240
230
196,62 m
220
210
200
165,59 m
190
180
170
160
150
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300
Distância [km]
Figura 4 – Cotas máximas atingidas ao longo do rio Manso e do rio Cuiabá mostrando a localização
das áreas urbanas e dos afluentes considerados
Os benefícios da construção da APM Manso são inegáveis no que diz respeito ao controle de
cheias na bacia do rio Cuiabá, principalmente nas cidades de Cuiabá e Várzea Grande.
Notadamente, a magnitude da redução dos danos com a situação com barragem, em relação à
situação sem a mesma, pode ser inferida a partir do mapeamento das áreas que, ao longo dos anos,
deixaram de ser inundadas em função das laminações das cheias pela barragem do Manso.
Por outro lado, associado a esse aproveitamento, há que se considerar, como sempre deve ser
o caso, o risco da ruptura da barragem e suas conseqüências para o vale a jusante. Nesse aspecto, a
criação de planos de emergência depende da implementação de sistemas de alerta e da elaboração
de mapas de inundação que indiquem as áreas afetadas por uma falha da barragem. Esses planos
devem fornecer dados substanciais para o estabelecimento de ações de proteção e evacuação da
população existente ao longo das áreas a jusante.
Os problemas associados a projeções sub- ou superestimadas das áreas potencialmente
inundadas em face de cheias naturais ou a rupturas de barragens são óbvios. Porém, principalmente
para os últimos eventos, ainda há muito a se avançar para diminuir as grandes incertezas associadas
à determinação da forma de evolução da ruptura de uma barragem, à determinação do hidrograma
de cheia resultante e à limitação dos modelos hidrodinâmicos de propagação para que sejam
estabelecidas as profundidades do escoamento ao longo do trecho a jusante de uma barragem.
Portanto, os resultados preliminares obtidos indicam que a metodologia utilizada é uma
importante ferramenta para a obtenção de mapas de inundação associados à ruptura de barragens,
mesmo para aquelas cuja altura e volume de reservatório sejam tão expressivos como no caso da
barragem do Manso. O estudo, no atual estágio, não pode ser considerado conclusivo quanto às
profundidades máximas simuladas. Mesmo considerando que a vazão real de pico do hidrograma de
ruptura possa ser bem maior do que a utilizada (visto que já foi observada vazão superior a 65000
m3/s para o caso da ruptura de uma barragem de altura equivalente e volume do reservatório 20
vezes menor do que o da barragem do Manso), não há como afirmar que profundidades ainda
maiores seriam observadas no caso de um acidente.
Na continuação do presente projeto de pesquisa financiado pela FINEP pretende-se: i) estimar
o hidrograma defluente pela soma de vazões de galgamento, do sistema extravasor e da própria
brecha a ser formada durante o processo de ruptura; ii) executar um levantamento topobatimétrico
de seções intermediárias às disponíveis de forma a permitir uma simulação mais representativa das
condições naturais da área de estudo (espera-se, desta forma, superar os problemas de convergência
encontrados para vazões de maiores magnitudes); e iii) adquirir mapas vetorizados cujas curvas de
nível tenham espaçamento sugerido para o tipo de estudo aqui apresentado.
Os autores expressam seus agradecimentos à FINEP, por conceder apoio financeiro para o
desenvolvimento do trabalho, e à Furnas Centrais Elétricas, por ceder dados relativos ao APM
Manso e pelo apoio logístico dispensado durante as visitas de campo. Adicionalmente, menciona-se
que as informações e conclusões contidas no texto não podem ser, de forma alguma, imputadas à
FINEP e / ou à FURNAS.
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