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Fortaleza-CE
2013
1
RAQUEL MACHADO PEREIRA RODRIGUES
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Profº Msº. Daniel Rogers De Souza Ferreira
(Orientador)
___________________________________________
Profª Msª Elizângela Nunes Assunção
___________________________________________
Profª Espª. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos
2
Dedico aos meus Pais e minha irmã Diana.
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, que me deu o sopro de vida sem Ele não estaria
aqui, que me deu e continua me dando forças e sustento para continuar essa
longa caminhada de aprendizado.
Aos meus pais Edval Alves Pereira e Aldereis Machado Pereira que são
minha base de existência e que me apoiaram em tudo desde o começo do
curso, muito obrigada por terem acreditado em mim. À minha irmã Diana
Machado, sempre contagiando a todos com sua alegria de viver. Obrigada pelo
carinho e amor de toda minha família, sem vocês eu não seria nada.
Obrigada a todos!
4
“Pois a sabedoria entrará em seu coração, e o conhecimento será agradável à
sua alma”.
Provérbios 2:10.
5
RESUMO
6
ABSTRACT
The present study deals with the professional practice of the social worker in
"Third Sector", with the search field SESC-Commerce Social Service of
Fortaleza, in order to reflect and discuss their performance in the socio-
occupational, articulated the ethical- Political Social Services, and what the
challenges faced by Social Services in this area. Note that the SESC /
FORTRESS fits the logic of the "Third Sector", due to neoliberal invested as
capital strategy on the conjuncture of capitalist restructuring. In the post-1970
due to the crises of capital, the relationship between the state and society
undergoes profound changes resulting consequences in economic, social and
political society. Moment there is a disengagement of the State, ie, the
displacement tract of the social question of the state for the "Third Sector".
These changes also cause changes to Social Work, reconfiguring spaces socio-
occupational and ordering new ways of working for Social Services. This
qualitative research provides a broader analysis of the reality studied, was
based on the current situation that characterizes and extends the "Third
Sector". In this sense, the aim of this study was to analyze the joint action of the
Social Worker at SESC / FORTRESS inserted into the logic of the "Third
Sector", with the ethical-political professional, considering the provisions of the
neoliberal project today. Why we have the following specific objectives: Analyze
what the main demands and duties of (the) Social Workers in the institution;
analyze the main difficulties faced by Social Services and analyze how the
ethical-political professional has been materialized in the exercise of (the)
Social Workers at SESC / FORTRESS. Some results can be highlighted: a) the
workload for professionals, b) lack of professionals in some sectors, c) Social
workers seek to articulate their professional practice with the ethical-political
project of the profession, despite the difficulties faced in everyday professional
7
LISTA DE SIGLAS
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................ 10
9
INTRODUÇÃO
Nos fins da década de 1970, em função das muitas crises que o capital
vinha enfrentando, ocorrem profundas modificações entre o Estado e
sociedade, refletindo assim consequências na vida política, econômica e social
da sociedade.
É o momento em que o Estado vai se tornando, cada vez mais “enxuto”
no trato principalmente com a questão social, retirando boa parte de sua
responsabilidade e transferindo-a para o chamado “Terceiro Setor”.
O Terceiro Setor surgiu1 como uma nova forma de resposta, às
consequências da questão social, trazendo consigo uma lógica que exalta
ações voltadas ao voluntariado, à filantropia e principalmente a
responsabilidade social.
Diante disso há uma fragmentação, precarização e focalização nas
políticas sociais, seguida de uma descaracterização dos direitos sociais
conquistados pela a sociedade. (MONTAÑO, 2010)
Todas essas transformações ocorridas na sociedade também geram
profundas alterações para o Serviço Social, principalmente no diz que respeito
ao mercado profissional de trabalho, aonde seu maior empregador que é o
Estado, está se retraindo cada vez mais em relação ao atendimento às
necessidades das pessoas mais pauperizadas e excluídas. Diante desse
quadro há uma reconfiguração dos espaços sócio-ocupacionais do Serviço
Social exigindo novas formas de atuação para o Assistente Social.
Com o atual sistema em que estamos inseridos, que é regido pelo
projeto neoliberal, que vem causando o deterioramento da prestação dos
serviços sociais públicos, aonde há uma transferência de responsabilidade do
público para o privado, é que referencio a minha pesquisa na instituição
Serviço Social do Comércio – SESC, que está inserida dentro dessa lógica
neoliberal, sendo uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos
mantidos por empresários do comércio de bens e serviços, caracterizada como
uma instituição pública não estatal.
1
“Estima-se que hoje, no Brasil, existam cerca de 400 mil organizações não governamentais
(ONG´S) registradas e cerca de 4 mil fundações. Segundo dados da Receita Federal, em 1991
havia cerca de 220 mil entidades registradas como ‘sem fins lucrativos’ ” (MONTAÑO, 2010, p.
14)
10
Diante desse cenário contemporâneo que o Serviço Social está inserido,
novas atuações são exigidas do assistente social e novos espaços sócio-
ocupacionais vão surgindo2, um deles é o Terceiro Setor que vem requisitando
cada vez mais o profissional do Serviço Social.
Então com isso, pensando na reestruturação produtiva ocorrida no
capital, seguido das novas formas de relações entre o Estado e sociedade civil
e o Serviço Social inserido todo nesse contexto é que chegamos ao objetivo
principal dessa pesquisa que é fazer uma análise da prática do assistente
social no terceiro setor, delimitando o campo de pesquisa na instituição Serviço
Social do Comércio – SESC/Fortaleza e fazendo uma articulação desta prática
do Assistente Social tendo em vista o projeto ético-político profissional.
O interesse pela temática surgiu como uma forma de entender como se
dá a atuação do Serviço Social no “Terceiro Setor”, este espaço que se mostra
tão contraditório aos Assistentes Sociais. Então a escolha do tema aparece
para mim, como um desafio de discutir a prática profissional em um dos
inúmeros espaços sócio-ocupacionais que vem requisitando o Serviço Social.
Por objetivos específicos foram delimitados o seguinte:
- Conhecer as principais demandas e atribuições postas no cotidiano
profissional dos Assistentes Sociais no SESC/Fortaleza, discutindo a
conjuntura neoliberal e expansão do “Terceiro setor”;
- Analisar quais os desafios da prática do Serviço Social no
SESC/Fortaleza;
- Analisar se o projeto ético-político profissional tem se efetivado durante
a prática do assistente social na instituição.
Diante da busca de uma maior apreensão da realidade, será utilizado o
método de pesquisa qualitativa que de acordo com Minayo:
Trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das
aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto
de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade
social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por
pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir
da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. (MINAYO,
2012, p.21).
2
Segundo Santos (2007, p. 129), [...] em pesquisa recente sobre o mercado de trabalho do
assistente social no Brasil, o Conselho Federal de Serviço Social apresentou que o setor
estatal continua sendo o maior empregador de assistentes sociais (78%, 16%), mas há um
crescimento nas organizações do chamado terceiro setor: cerca de 7% dos assistentes sociais
apresentam inserção formal nesse espaço [...].
11
Com a pesquisa qualitativa, podemos nos aprofundar cada vez mais no
mundo dos significados, das vivências dos sujeitos. Através da pesquisa
qualitativa, poderemos analisar de forma ampla a realidade da prática do
Serviço Social no Terceiro Setor, especificamente na instituição do
SESC/Fortaleza.
Para tanto, foram utilizados os seguintes procedimentos: Levantamento
bibliográfico e documental – foi realizada uma pesquisa e classificação de
bibliografias a respeito do assunto pesquisado, bem como consulta a
documentos e legislações, como o Código de Ética de 1993 e documentos
específicos do SESC/Fortaleza.
Foram realizadas entrevistas com as quatro Assistentes Sociais da
instituição, mediante roteiro semiestruturado3 com o objetivo de compreender a
prática profissional do Serviço Social no SESC/Fortaleza, dando ênfase as
demandas, atribuições e respostas profissionais dos assistentes sociais;
Organização e análise de dados obtidos para viabilizar a elaboração da
pesquisa e a redação do trabalho de conclusão de curso.
Na pesquisa de campo durante a coleta de dados, foi utilizada a
entrevista semiestruturada que de acordo com Minayo (2012) esse modo de
entrevista faz uma combinação de perguntas abertas e fechadas,
proporcionando ao entrevistado a possibilidade de discorrer sobre o tema
proposto com mais liberdade.
Durante o momento da entrevista foi tomado os devidos cuidados
éticos, bem como o direito de recusa do entrevistado a responder a perguntas
ou a interromper a entrevista a qualquer momento, evitando qualquer tipo de
constrangimento ao mesmo. Foi garantido também ao entrevistado o
anonimato durante a entrevista, para isso foi necessário um Termo de
Consentimento Livre (TCLE) 4.
O presente Trabalho de Conclusão de Curso é constituído de três
capítulos. No primeiro capítulo buscamos contextualizar o processo de
reestruturação produtiva do capitalismo pós- 1970, com o objetivo de estudar e
aprofundar o conhecimento sobre as transformações ocorridas na sociedade e
3
Ver Apêndiece I – As entrevistas foram realizadas no dia 28/03/2013 com quatro Assistentes
Sociais
4
Ver Apêndice II
12
a reconfiguração do Estado diante dos ditames do projeto neoliberal, bem
como a nova relação deste com a sociedade civil, analisando o debate acerca
do surgimento e expansão do “Terceiro Setor” como uma estratégia do
neoliberalismo no enfrentamento às expressões da questão social.
No segundo capítulo analisamos a prática profissional do Assistente
Social na atualidade, para isso se fez necessário uma recuperação da trajetória
sócio-histórica do Serviço Social e a análise da importância e emergência da
profissão na sociedade capitalista. Também procuramos estudar sobre a
constituição, a função e os principais desafios enfrentados pelos (as)
Assistentes Sociais no que se refere a materialização do projeto ético-político
profissional, refletindo sobre a profissão na contemporaneidade, observando
quais os limites e possibilidades de atuação diante da atual conjuntura.
No terceiro capítulo fazemos a caracterização do SESC/Fortaleza,
ressaltando sua origem, trajetória e como esta instituição atua na atualidade,
fazemos também uma trajetória histórica do Serviço Social no Brasil, e por
último fizemos uma análise das entrevistas com as (os) Assistentes Sociais,
analisando as falas e fazendo as devidas discussões sobre a realidade
encontrada na instituição, procurando principalmente refletir sobre a relação do
exercício profissional e o projeto ético-político profissional no SESC/Fortaleza.
13
I. A REESTRUTURAÇÃO CAPITALISTA E A NOVA RELAÇÃO DO ESTADO
COM A SOCIEDADE.
14
suas responsabilidades no tocante as sequelas da questão social, assim, o
termo “Terceiro Setor” é considerado um conceito ideológico, que procura
encobrir e desarticular o real.
15
A partir disso, geraram-se profundas alterações nas funções do Estado,
com “medidas de cunho administrativo, econômico e ideológico.”
No plano administrativo, as alterações exigiram orçamentos estatais
equilibrados, redução dos gastos públicos e reforma tributária (com
impostos voltados ao consumo e não à propriedade e ao lucro). No
âmbito econômico,indicou-se a necessidade da ampliação de capitais
excedentes no mercado mundial, com taxas de juros favoráveis à
captação de capitais ociosos, da fixação cambial estável e alta em
relação ao dólar e da abertura comercial. Já na esfera ideológica,
impôs-se a ótica da iniciativa privada em todas as políticas sociais e
reformas institucionais, reafirmando-se os direitos da propriedade
individual e erodindo-se os modelos de proteção social construídos
no âmbito do welfare state. (SIMIONATO, 2006, P. 05).
5
Ressaltando que o SESC surge no Brasil no ano 1946.
6
Surge um novo modo de produção para o consumo em massa, que tem por base linhas de
montagem a fim de se ter maior ganho e produtividade. Época em que gera expansão do
capital e dos direitos sociais. Momento este considerado como “onda longa expansiva do
capitalismo” (MANDEL, 2009, apud MOTA, p. 05).
17
nova dinâmica na economia capitalista, como por exemplo, o aumento dos
preços das mercadorias produzidas, altas taxas de lucro e aumento dos custos
de venda.
Todos esses processos de mudanças vão até a década de 1970,
momento em que o mundo passa por profundas transformações societárias,
devido à necessidade de se encontrar respostas para a crise que se inicia,
após os novos processos vivenciados pelas mudanças ocorridas pelo
capitalismo monopolista, mudanças essas refletidas tanto no processo de
acumulação do capital e na sua gestão, como na vida da classe trabalhadora.
O capitalismo monopolista de Estado se instaura no Brasil no final do período
de Juscelino, que é marcada pela última fase da industrialização
Segundo Mota (2008) O Brasil nos anos 70 experimentou o crescimento
da sua economia, absorvendo, nos setores produtivos fundamentais, práticas
relativas à gestão da força de trabalho, que se assemelham àquelas dos países
desenvolvidos. Em contrapartida desse sistema, foi alargado o fosso entre o
trabalhador assalariado da grande empresa e os demais trabalhadores
pauperizados. Ainda segundo Mota (2008, p.44),
[...] é necessário reconhecer que, nos anos 80 emerge no cenário
político brasileiro o a novo sindicalismo, cuja característica principal é
a politização das demandas dos trabalhadores assalariados. Há,
portanto, uma relação entre o crescimento dos setores produtivos de
capital intensivo e a ampliação do movimento sindical.
18
passou-se a dizer que o modelo econômico keynesiano entra de fato em crise,
com base nas seguintes evidências: desaceleração do crescimento econômico,
desemprego, altas taxas de inflação, diminuição dos investimentos e problemas
na balança de pagamentos e na acumulação de capital.
De acordo com Behring e Boschetti (2008, p.116), “o que ocorreu em
1974-1975, na verdade, foi uma crise clássica da superprodução”, com isso o
desemprego passa a ser crescente e há queda de lucros, trazendo dificuldades
no que diz respeito à socialização da mais-valia gerando superacumulação e
superprodução.
Com isso surge uma reação por parte da burguesia, “quando o
capitalismo amargou uma crise orgânica de grande proporção”, (BRANCO,
2009, p. 290) neste período, a ideologia neoliberal contrária ao keynesianismo
começa a ganhar força nos pós Segunda Guerra Mundial tornando-se poder
dominante.
O objetivo dessa nova ideologia das classes dominantes era construir
uma organização coesa, eficiente e engajada na produção e disseminação de
uma teoria que fosse contrária ao marxismo e, principalmente ao
keynesianismo, gerando uma nova configuração ao capitalismo. Segundo
Branco (2009, p.293),
19
O projeto neoliberal [...] vem sendo socializado vias agências
financeiras e de cooperação internacional, ultrapassando em larga
medida os limites de um programa de ajuste econômico e afirmando-
se como instrumento formador de uma racionalidade política, cultural
e ética da ordem burguesa, expressa nos programas de
desregulamentação dos mercados, abertura comercial e financeira,
privatização do setor público e na redução do Estado.
20
processos nascem obstáculos na construção de uma consciência de classe
para si, gerando assim um enfraquecimento das possíveis resistências à
reestruturação produtiva.
7
É uma nova etapa de desenvolvimento do capitalismo mundial, que surge a partir da década
de 1980, pode ser caracterizada como sendo a da "mundialização do capital" (uma
denominação precisa para o fenômeno da "globalização"). Na verdade, estamos diante de um
novo regime de acumulação capitalista, um novo patamar do processo de internacionalização
do capital, com características próprias e particulares se comparada com etapas anteriores do
desenvolvimento capitalismo. (ALVES, 1999, p.01)
8
Corresponde a uma estrutura de mercado de concorrência imperfeita, no qual o mercado é
controlado por um número reduzido de empresas.
21
uma reconfiguração da relação do Estado9 com a sociedade civil, que podem
ser consideradas como estratégias do neoliberalismo para sua legitimação.
9
O Estado constitui-se num tipo privilegiado da organização dentro e a serviço da sociedade
capitalista que o criou e o mantém. Não conseguindo pensar um sem outro. (MONTAÑO, 1999,
p.49)
22
Houve um corte significativo nos investimentos e gastos sociais,
causando uma reconfiguração e uma nova implementação das políticas
sociais10, tornando-as restritas, setorizadas e fragmentadas. Ocorre o
rompimento com os compromissos e consensos do pós-guerra, que permitiram
a expansão do Welfare State. “O desemprego de longa duração, a
precarização das relações de trabalho e a ampliação da oferta por empregos
temporários limitavam o acesso aos direitos derivados de empregos estáveis.”
(BEHRING, 2011, p. 133).
Como resultado da prevalência dos ideais do liberalismo surgiu um novo
modelo econômico, o monetarista, que substituiu o keynesianismo. Em
decorrência, a partir dos anos 1980, o neoliberalismo se firmou como um novo
paradigma e recuperou os velhos dogmas do liberalismo clássico, procurando
fazer uma verdadeira revolução na economia e nas relações entre capital-
trabalho.
Assim segundo Pereira (2010, p. 05 e 06):
Segundo esse novo paradigma - que teve como principais apoiadores
a ex primeira ministra inglesa, Margareth Thacher, e o ex-presidente
dos Estados Unidos, Ronald Regan [...], a revolução conservadora
então empreendida estaria baseada nas seguintes crenças: a) De
que há uma mão invisível, ou um sistema natural, que rege a vida em
sociedade e a conduz na direção da ordem e da justiça, sem precisar
de ingerência do Estado. Mas, para isso os indivíduos devem ter a
maior liberdade possível para buscar o seu bem-estar num mercado
que também deverá ser livre para criar e colocar à disposição dos
indivíduos maiores recursos; b) De que a desigualdade social é um
resultado inevitável (e tolerável) da liberdade social e da iniciativa
pessoal, constituindo-se, inclusive, em peça fundamental para
distribuição eficiente de recursos porque proporciona incentivos
necessários para obtê-la; c) De que a figura do empresário constitui o
elemento essencial do processo econômico, na medida em que a sua
função de assumir riscos e tomar iniciativas constitui o ponto de
partida da ação do mercado e, consequentemente, da inovação, do
empreendimento e do progresso; d) De que a interferência das
instituições sobre a ação individual só faz fomentar o conflito de
classes e reduzir os efeitos positivos das iniciativas individuais para o
bem-estar geral.
10
Para maior aprofundamento sobre política social, ver Behring, Elaine e Boschetti, Ivanete,
Política Social: fundamentos e história.
23
local logo tratou de tornar o Brasil um lugar atraente para investimentos de
capital estrangeiro.
No Brasil, a implementação da reforma do Estado, iniciada nos anos
1990, estabeleceu, prática e ideologicamente, a ideia de "Estado mínimo",
denominado "Estado social-liberal", revestida do enganoso discurso de que é
“social porque continuará a proteger os direitos sociais e a promover o
desenvolvimento econômico”,
A partir daí há uma desregulamentação dos direitos sociais garantidos
pela a Constituição de 1988, que passa a ser limitada, a fim de manter a
reprodução da ordem capitalista, com isso nota-se o surgimento de uma “nova
cultura produzida pela ordem burguesa internacional”. (SIMIONATTO, 2006, p.
3).
24
visariam apenas processos de formação de identidade, produção de
solidariedade e argumentação moral visando a constituição de uma
esfera pública entre o mercado e o Estado. (DURIGUETTO, 2005,
p.87 e 88)
11
Que assinou o Decreto n. 1.366 em 12 de janeiro de 1995, esse programa foi encerrado em
dezembro de 2002, foi substituído pelo Programa Fome Zero.
25
[...] o primeiro deles, as determinações e exigências do atual
processo de acumulação do capitalista que expressa o movimento de
reestruturação produtiva do capital; o segundo –articulado ao primeiro
processo- as mudanças na relação Estado- Sociedade [..] e por
último [...] à necessidade de adequar as estruturas burocráticas do
Estado as exigências do atual estágio de desenvolvimento capitalista
[...].
[...] dessa forma, concluem que um governo legítimo tem duas únicas
funções a desenvolver: prover uma estrutura para o mercado
(assegurando ampla liberdade de movimento ao capital e às
mercadorias) e oferecer serviços que o mercado não pode oferecer.
(idem, 2010, p.47)
26
A deresponsabilização do Estado não é feita por se acreditar que a
classe trabalhadora será atendida melhor, ou para reduzir os gastos estatais,
mas sim para legitimar uma ação político-ideológica de descaracterização dos
direitos sociais e universais, responsabilizando e culpabilizando o indivíduo
pelas as mazelas da questão social, que são vivenciadas por causa das
desigualdades geradas pelo capitalismo.
Assim o Estado que era para ser democrático e provedor de direitos,
acaba sendo anulado, não levando em conta o espaço de lutas de classes,
para que o capital seja mantido e expandido, gerando segurança na
acumulação da classe dominante e garantindo somente “certo nível de
“conquistas” sociais”, segundo Montaño (2010, p.18).
Os serviços sociais agora passam a ser prestados por instituições
“públicas não estatais”, (DURIGETTO, 2005, p. 90) que passam a compor o
chamado “Terceiro Setor” que nada mais é do instrumentalizado pelo Estado e
pelo o próprio capital. Com isso a atuação da sociedade civil é determinada
pela lógica da solidariedade, voluntarismo e filantropia. Concordando com
Montaño (1999, p.72) afirmamos que,
É claro que deve haver uma crescente e ativa participação da
sociedade civil, porém sem que isso signifique uma substituição da
responsabilidade estatal (e do capital) com a “questão social”, sob os
princípios de universalização, distributivismo e incondicionalidade das
políticas sociais, consideradas como direitos de cidadania, o que
configura a preservação de verdadeiras conquistas históricas obtidas
pelas classes trabalhistas.
27
e o novo “trato” que está sendo dado à mesma e discutir sobre o “Terceiro
Setor”, que é composto por várias organizações da sociedade civil, como
ONG’s, fundações dentre outras.
A questão social é tratada na ordem econômico-politica, no qual o
Estado burguês, oculta sua parcialidade clássica realizando sua própria política
social no enfrentamento às mazelas da questão social, procurando é claro,
sempre atender as exigências capitalistas, como forma de controle e de
preservação da força de trabalho.
O Estado passa a mediar interesses divergentes, parcializando e
fragmentando as sequelas da questão social, por meios de suas políticas
sociais caracterizadas pela seletividade, principalmente quanto à seleção dos
usuários, para terem seus direitos sociais atendidos.
Segunda afirma Netto (2011), a expressão da questão social surgiu a
partir da Revolução Industrial do século XVIII, momento do surgimento do
pauperismo da classe do proletariado no estágio concorrencial e industrial do
capitalismo. No século XIX a questão social passa a ser o termo utilizado pela
massa conservadora, onde há compreensão da relação capital e sociedade e
com isso a naturalização desta categoria na sociedade, enxergando a
necessidade de intervenção para que se mantenha a hegemonia da classe
burguesa. Para Iamamoto, (2012, p.27),
28
Os defensores da “nova questão social” partem do pressuposto de
que as mudanças ocorridas no mundo capitalista contemporâneo
marcam uma ruptura com o período capitalista industrial e com a
“questão social” que emergiu na primeira metade do século XIX, com
o surgimento do pauperismo, na Europa Ocidental. Assim no
processo inacabado de busca da novidade entram em cena os “novos
sujeitos”, “novos usuários” que teriam “novas necessidades”. Essas
novidades seriam produto das transformações da sociedade
capitalista vividas, mundialmente, a partir dos meados dos anos 1970,
que trazem consigo a necessidade de redefinir os modos de relação
econômica e sociais.
Até 1830, segundo Robert Castel (1998), "questão social" era entendida
como pauperização. Não é lícito, no entanto, segundo o autor, reduzir a
"questão social", com a denominada pauperização, que já ocorria antes mesmo
do advento do capitalismo. O autor por meio de seu estudo sobre as
metamorfoses da questão social identifica já na Inglaterra do século XIV, a
existência de uma população pauperizada.
Contudo, o pauperismo encontrado na sociedade pré-capitalista não
ameaçava o poder vigente, tendo em vista que aquela sociedade dispunha de
mecanismos informais de proteção social para a manutenção do
“pertencimento” do indivíduo. Com o advento do capitalismo, a nova classe
proletária passa a não mais se conformar com estado de coisas em que estava
inserida, e gradativamente o proletariado pauperizado converte a pauperização
em “questão social”. (JÚNIOR, 2010). Assim, concordamos com o autor que
afirma:
[...] parece ser no mínimo contraditório o termo "nova questão social",
uma vez que não houve superação do sistema capitalista, e nem
mesmo há um novo sistema capitalista. As desigualdades sociais são
cada vez mais flagrantes, mas continuam ser decorrências da luta de
classes fundada na dicotomia capital e trabalho, em que aquele dita
as regras por conta do seu poderio econômico. Deste modo, não há
uma nova pobreza, há a pobreza com contornos particularizados
devido ao contexto histórico atual, e não há um novo sistema
econômico, há o mesmo sistema, cada vez mais contraditório e
regido pela batuta de um pequeno grupo de pessoas cada vez mais
ávido por lucros [...] (JÚNIOR, 2010. Disponível em:
http://www.webartigos.com/artigos/nova-questao-social-velha-
pobreza/49738/). Acesso em 30 de julho de 2013.
Esta ideia de que há uma “nova questão social” 12, as crises ocorridas no
capitalismo e a escassez de recursos, são as grandes desculpas colocadas no
12
Ressaltando segundo Montaño (2010, p.187, grifos do autor), [...] a recorrente afirmação de
que existiria hoje uma “nova questão social” tem, no fundo, o claro, porém implícito, objetivo de
29
cenário atual do neoliberalismo, para justificar a transferência de
responsabilidade do Estado para a sociedade civil no trato as mazelas da
questão social. Para Montaño (2010, p.187) “este é o verdadeiro fenômeno
escondido por trás do que é chamado do “terceiro setor”.
Partindo do pressuposto de que vivemos numa sociedade capitalista que
está vivendo uma reordenação do capital e que a questão social se expressa
na contradição da relação entre as classes dominantes e as classes
trabalhadoras, notamos que na verdade, há uma alteração e agravamento nas
expressões da questão social, ou seja, o que há são “novas manifestações da
velha questão social” (MONTAÑO, 2010, p.187).
Lembrando que a partir dos anos de 1970, há uma crise do capital, onde
há o processo de reestruturação produtiva, gerando profundas transformações
na sociedade capitalista, principalmente para a classe trabalhadora que foi a
que mais sentiu com as mudanças decorrentes desta crise, que gerou o
agravamento do desemprego, precarização nas condições de trabalho,
regressão de direitos sociais entre outros.
Com isso há “novidades” nas expressões da questão social o que não
13
dizer que exista uma “nova questão social” , já que para existir uma nova
questão social, entende-se que seria necessário a superação, resolução da
“antiga”. (PASTORINI, 2010).
A apropriação de uma “nova questão social” nada mais é, do que uma
estratégia da classe dominante para a garantia da manutenção/ expansão da
ordem capitalista, ou seja, é uma justificativa que reforça a
desresponsabilização do Estado para com o trato às expressões da questão
social, integrando a sociedade civil neste processo como principal responsável
a estas respostas.
Essa exaltação do novo, referente à questão social, que aparece em
oposição ao antigo nos possibilita a não perceber e não capturar realmente os
elementos novos que estão surgindo e o que está se repetindo ao longo da
justificar um novo trato à “questão social”; assim, se há uma nova “questão social”, seria justo
pensar na necessidade de uma nova forma de intervenção nela, supostamente mais adequada
às questões atuais.
13
Alguns autores realmente defendem que existe uma “nova questão social”, autores como
Pierre Rosanvallon e Robert Castel.
30
história, as mudanças que ocorrem com as transformações na sociedade.
(PASTORINI, 2010).
Assim, no processo inacabado de busca da novidade, entram em
cena os “novos sujeitos”, “novos usuários” que teriam “novas
necessidades”. Essas novidades seriam produto das transformações
da sociedade capitalista vividas, mundialmente, a partir de meados
dos anos de 1970, que trazem consigo a necessidade de redefinir os
modos de regulação econômicos e sociais. (idem, 2010, p.25).
31
estimulada pelo neoliberalismo, onde são considerados como problemas
privados, ocorre uma despolitização da ação do Estado.
O enfrentamento da questão social por parte do Estado passa a ter uma
parceria com setor privado, causando um fortalecimento e ampla participação
da sociedade civil, gerando uma privatização da coisa pública. Essas novas
organizações da sociedade são caracterizadas como “Terceiro Setor”, no qual
o Estado passa a estimular e se apropriar das ações filantrópicas, baseadas no
voluntariado e na responsabilidade social (MONTAÑO, 2010).
Segundo Landim apud Montaño (2010) O “Terceiro Setor” é de
procedência norte-americana, onde o associativismo e voluntarido fazem parte
de uma cultura política que se baseia no individualismo liberal. O “Terceiro
Setor”:
Surge como conceito cunhado, nos EUA, em 1978, por John D.
Rockefeller III. Ao Brasil chega por intermédio de um funcionário da
Fundação Roberto Marinho. O conceito de “terceiro setor” foi cunhado
por intelectuais orgânicos do capital, e isso sinaliza clara ligação com
os interesses de classes, nas transformações necessárias à alta
burguesia. (MONTAÑO, 2010, p. 53).
14
Em 2010, havia 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (Fasfil)
noBrasil, voltadas, predominantemente, à religião (28,5%), associações patronais e
profissionais(15,5%) e ao desenvolvimento e defesa de direitos (14,6%). As áreas
de saúde, educação, pesquisa e assistência social (políticas governamentais) totalizavam 54,1
mil entidades (18,6%). As Fasfil concentravam-se na região Sudeste (44,2%), Nordeste
(22,9%) e Sul (21,5%), estando menos presentes no Norte (4,9%) e Centro-Oeste (6,5%).
Disponível em: http://abong.org.br/ongs.php. Acesso em 30 de julho de 2013.
32
O “Terceiro Setor” está diretamente conectado aos interesses e setores
do capital, como resultado da reestruturação capitalista firmado pelos ditames
do neoliberalismo. O “Terceiro Setor” surge como uma nova estratégia do
capital para atender as demandas que surgem, a partir das expressões
decorrentes da questão social. As respostas às necessidades sociais passam
agora, a depender do voluntário que ajuda o próximo e não um direito do
cidadão. Com isso, segundo Montaño (2010, p.53),
[...] é construído a partir de um recorte do social em esferas, o Estado
(“primeiro setor”), o mercado (“segundo setor”) e a “sociedade civil”
(“tercceiro setor”). Recorte este claramente neopositivista,
estruturalista, funcionalista ou liberal, que isola e autonomiza a
dinâmica de cada um deles, que, portanto, desistoriciza a realidade
social. Como se o “político” pertencesse à esfera estatal, o
“econômico” ao âmbito do mercado e o “social” remetesse apenas à
sociedade civil, num conceito reducionista.
33
Como já foi dito anteriormente, o neoliberalismo defende que há uma
“nova questão social” isso para justificar a participação mínima do Estado no
trato às expressões da questão social, alegando de que é necessário a
participação do “Terceiro Setor” para que se possa enfrentar essas “novas
necessidades socais”.
. Três mecanismos passam a ser utilizados para o enfrentamento da
questão social, o Estado, o mercado e filantropia, e o “Terceiro Setor” vem
como uma estratégia do neoliberalismo, assim, surgindo políticas sociais
privatizadas, focalizadas, setorializadas, fragmentadas e descentralizadas
(BEHRING, 2008).
Os sujeitos sociais passam a ser responsáveis pelo o suprimento das
suas necessidades sociais, gerando o grupo daqueles que podem pagar e
aqueles que não podem, criando demandas para o setor empresarial,
aumentando seus lucros.
Com as novas configurações do capitalismo para garantir cada vez mais
altas taxas de lucro, através da flexibilização das relações de trabalho e da
privatização dos setores públicos, acabam negando os princípios universalistas
e de proteção social.
Assim, há uma regressão dos direitos e transformação das políticas
sociais em ações imediatas, de curto prazo que muitas vezes acabam deixando
os indivíduos dependentes destas políticas, que são submetidas à lógica do
capital. Como ressalta Montaño (2010, p.169) “[...] as políticas sociais
promovidas pelo “terceiro setor”, tendem à multifragmentação do trato da
questão social.”.
Podemos concluir, portanto, que o “Terceiro Setor” como sendo efeito da
reestruturação produtiva do capital, sendo um fenômeno real e interligado com
os interesses do neoliberalismo como meio utilizado pelo Estado para atender
as expressões da questão social, que é vista na verdade como uma “nova
modalidade de questão social” (MONTAÑO, 2010, p.187), tendo como
justificativa princípios políticos-ideológicos pautados no neoliberalismo, que
defende o Estado mínimo para o social e um Estado máximo para o
capitalismo.
34
A partir desta compreensão é necessário analisarmos a atuação destas
instituições do “Terceiro Setor”, assim buscaremos analisar o SES/FORT, que
busca atualmente atender as necessidades sociais da classe dos comerciários
e dependentes, dentro desta lógica do “Terceiro Setor”.
15
Resaltando que o “Terceiro Setor” surge como um processo funcional do padrão de respostas
às expressões da questão social, propiciado dentro de uma estratégia do neoliberalismo e da
reestruturação do capital.
35
neste capítulo sobre este projeto profissional para que possamos analisar o
Serviço Social na contemporaneidade.
36
maior estratégia de controle dessa mobilização social, ou seja, são necessários
mecanismos de regulação, manipulação e prevenção que garantam a
reprodução da ordem capitalista e, por isso, há uma diversificação dos
mecanismos de intervenção para que possibilite a expansão e defesa do
capital.
A exploração abusiva que o operariado é submetido – afetando sua
capacidade vital – e luta defensiva que o operariado desenvolve
aparecerão para o restante da sociedade burguesa [...] como uma
ameaça a seus valores, “moral, a religião e a ordem pública”. Impõe-
se, a partir desse momento, a necessidade do controle social da
exploração da Força de Trabalho. A compra e venda dessa
mercadoria especial deve sair da pura esfera mercantil pela
imposição, através do Estado, de uma regulamentação jurídica no
mercado de trabalho. (CARVALHO, 1980, p. 44).
37
No pensamento conservador há uma natureza ídeo-político e teórico-
cultural, colocando novas configurações de intervenção, como o caráter da
caridade, de forma a organizar a assistência e o Serviço Social. Com isso,
podemos afirmar que o Serviço Social emerge como uma atividade que
baseada em doutrinas conservadoras da sociedade capitalista.
A ação profissional do Assistente Social poderia ter sido utilizada, como
um meio para diminuir as diferenças e injustiças sociais, mas o que aconteceu
na verdade, foi uma contradição dessa ação do Serviço Social, pois houve um
reforço das doutrinas da classe burguesa, como ressalta Castro (2006, p. 45)
“enquadrando-as no âmbito da legislação burguesa”.
38
Entretanto, o Serviço Social se modifica de acordo com as
transformações que vão ocorrendo na sociedade, já que essas alterações
geram novas exigências na sua atuação profissional, como por exemplo, a
conscientização da classe operária em que uma nova intervenção passa a ser
necessária com o objetivo de garantir a manutenção da ordem hegemônica.
Assim, segundo Netto (2011), não é na continuidade da atuação do
profissional de Serviço Social que se dá a sua profissionalização, mas sim com
a ruptura, ou seja, com os deslocamentos dos agentes dessa profissão para
um determinado espaço na divisão sociotécnica do trabalho. Ressaltando que
a emergência do Serviço Social não se deu pela criação dos espaços sócio-
ocupacionais, e sim a existência destes levam a formação da profissão.
Portanto, a emergência do Serviço Social como profissão está
diretamente inserida no desenvolvimento do capitalismo monopolista, estando
principalmente associada às mazelas que ordem capitalista gera na sociedade,
ou seja, o Assistente Social está conectado às expressões da questão social e
a organização da classe operária.
O espaço pertencente ao Serviço Social é determinado pelo processo de
ordem do monopólio, a atuação do Assistente Social terá como base o
enfrentamento da questão social tendo como principal instrumento de trabalho
as políticas sociais. Assim, podemos afirmar que a execução das políticas
sociais se torna a constituição do mercado de trabalho para o Serviço Social.
As condições propícias à profissionalização do Serviço Social decorrem
de sua institucionalização e legitimação como um dos meios mobilizados pelo
Estado, pela classe dominante com o aparato também da Igreja Católica, na
perspectiva do enfrentamento da questão social. Pode-se afirmar que a
profissão de Serviço Social está delimitada em uma contradição antagônica
com relação às respostas sociais. Como afirma Iamamoto e Carvalho (2009,
p.112-113). [...] “O Assistente Social é chamado a constituir-se como agente
institucional de “linha de frente” nas relações entre a instituição e a população”.
O caminho da profissionalização do Serviço Social é, na verdade, o
processo pelo qual seus agentes – ainda que desenvolvendo uma
auto-representação e um discurso centrados na autonomia dos seus
valores e da sua vontade – se inserem em atividades interventivas
cuja dinâmica, organização, recursos e objetivos são determinados
para além do seu controle [...]. Trata-se justamente do espaço que se
engendra na sociedade burguesa quando o monopólio se consolida,
no conflituoso processo [...] em que se gestam as condições histórico
39
sociais para que, na divisão social (e técnica) do trabalho, constitua-
se um espaço em que se possam mover práticas profissionais como
as do assistente social. (NETTO, 2011, p. 71-73).
40
O Serviço Social vem então, como uma alternativa para as atividades de
caráter social para a Igreja Católica onde a intervenção ideológica na vida da
sociedade, tem como base ações caritativas e assistencialistas, através de
atividades educativas, curativas e preventivas. Com isso a proteção social é
individualizada, dessa forma descaracterizando o caráter de classe e as
contradições entre a relação da classe dominante e a classe operária.
Assim, segundo Iamamoto e Carvalho (2009, p. 167 e 168).
O elemento humano e a base organizacional que viabilizarão o
surgimento do Serviço Social se constituirão da mescla entre as
antigas Obras Sociais [...] e os novos movimentos de apostolado
social, especialmente aqueles destinados a intervir junto ao
proletariado, ambos englobados dentro de uma estrutura do
Movimento Laico, impulsionado e controlado pela hierarquia.
41
de um novo Serviço Social latino-americano, saturado de
historicidade, que apostasse na criação de novas formas de
sociabilidade a partir do próprio protagonismo dos sujeitos coletivos.
16
O marco inicial da Reconceituação foi o “Seminário Regional Latino-Americano de Serviço
Social”, realizado em maio de 1965 em Porto Alegre, com a presença de 45 participantes do
Brasil, Uruguai e Argentina. (NETTO, 1996, p. 09).
17
Ressaltando documentos de grande importância durante esse processo de reconceituação
da profissão que foram gestados durante encontros de Assistente Sociais, que foram:
Documento de Araxá, em Minas Gerais no ano de 1967(reuniu 38 Assistente Sociais), de
Teresópolis em 1970 (com 33 Assistentes Sociais) e Sumaré, em 1978 (com 25 pessoas).
42
pretensamente teóricos e sobre o relacionamento da profissão com
os novos protagonistas que surgiam na cena político-social. (NETTO,
2005, p. 09).
18
[...] É na passagem dos anos cinquenta aos sessenta que a inspiração marxista começa a
rebater, expressiva e visivelmente, na elaboração intelectual de pensadores e investigadores
sem vinculação partidária. [...] (NETTO, 2011, p. 108 – 109)
43
da pesquisa e investigação na área do Serviço Social como importante
requisito para a atuação profissional.
O Movimento de Reconceituação também trouxe à tona a denúncia da
neutralidade político- ideológico (tão presente no Serviço Social tradicional), da
restrição dos efeitos de suas ações presas em intervenções em espaços
microssociais e a falta do amadurecimento teórico profissional. Com isso, os
Assistentes Sociais passaram a tomar para si o desafio e a responsabilidade
de contribuir na organização, capacitação e conscientização dos vários
segmentos de trabalhadores. Além disso, como afirma Faleiros (2005), o
movimento de reconceituação traz uma questão importante que diz respeito a
elaboração de uma nova forma de intervir na realidade, em que se deu a
necessária importância com relação à dialética teoria/prática.
Iamamoto (1992, p. 37) afirma a necessidade de “ruptura com a herança
conservadora”, sendo necessário lutar a fim de se alcançar novas bases de
legitimidade da ação profissional, no qual o Assistente Social precisa
reconhecer as contradições sociais no seu exercício, pautando sua prática
profissional nas demandas e interesses da classe trabalhadora. Ou seja,
reconhecer que sua atuação, principalmente como um agente que implementa
e não somente executa políticas sociais, encontra-se inserida na correlação de
forças, para isso a autora afirma que é necessário para o Assistente Social:
44
estar com o seu caráter político definido, para superar qualquer artimanha –
como o voluntarismo, a burocratização da prática profissional, as tendências
empíricas e o desconhecimento da realidade- e unificação à atuação
profissional, bem como ter um posicionamento crítico para que dessa forma
sua atuação seja firmada no momento histórico, ao invés de reproduzir práticas
individuais e desconectadas da realidade.
A partir do que foi exposto até agora, podemos afirmar que o Serviço
Social em sua trajetória carrega momentos de renovação, o que contribui para
o redimensionamento da profissão e também da atuação, embora ainda
coexistam posturas conservadoras até hoje. Vale ressaltar que as
transformações políticas, econômicas e sociais da sociedade repercutem
diretamente na prática profissional do Assistente Social e com isso estabelece
a necessidade de revisão e renovação do compromisso ético-político, diante da
exigência de novas competências na intervenção profissional.
Por isso é necessário que o Assistente Social tenha domínio da
legislação da profissão, pois de acordo com o Código de Ética é preciso que
suas atividades sejam realizadas com eficiência e responsabilidade. Para tanto
é indispensável refletirmos sobre o projeto ético-político profissional, sua
constituição, sua função atual na profissão e os principais desafios enfrentados
pela categoria para a materialização e fortalecimento deste projeto,
principalmente na contemporaneidade.
É notável que o Movimento de Reconceituação, nas décadas de 1960 e
1970, foi um momento de amadurecimento e reflexão da teoria crítica, em que
se buscou levar em consideração o compromisso com os valores da
democracia, liberdade, cidadania e garantia de direitos, Netto (2005, p. 18)
afirma que a “existência deste “Serviço Social crítico” [...] implementa o
chamado projeto ético-político”.
De acordo com Faleiros (2005), o Código de Ética e a Lei que
regulamenta a profissão foram instrumentos importantes e necessários para
que se firmasse a perspectiva de transformação social e do projeto ético-
político profissional que está fundamentado a partir do Movimento de
Reconceituação do Serviço Social.
O Código de 1993 assinala uma etapa de amadurecimento do
processo de renovação da ética profissional, marcando a
consolidação das conquistas afirmadas no Código de 1986: a ruptura
45
com o conservadorismo ético-moral e a superação da concepção
ética tradicional, abstrata e a-histórica. Além disso, ele supera as
fragilidades teóricas do Código anterior sem romper com a linha de
continuidade política que os unifica; dessa forma, amplia a concepção
ética marxista para além da sua configuração de classe, fornecendo
as bases para uma compreensão ontológico-social da realidade. A
devida compreensão teórico-metodológica também permite explicitar
as mediações necessárias entre a ética, os valores e a intervenção
profissional; entre o projeto profissional e o projeto societário ao qual
ela se conecta em dado momento histórico. (BARROCO, 2004, p.
186).
46
e seus rebatimentos na esfera da vida social em meados dos anos
1970 até o final dos anos 1990; b) da implantação do neoliberalismo
em 1989 com Collor de Mello e que ganha fôlego e consolidação nos
dois mandatos de FHC [...] e de sua continuidade no governo Lula
[...]; c) na forma de a categoria profissional posicionar-se na luta
contra o neoliberalismo em defesa do projeto profissional voltado aos
interesses imediatos e históricos da classe que vive do seu trabalho.
47
perspectiva da universalização do acesso a bens e serviços, no diz respeito às
políticas e programas sociais; ampliação e a consolidação da cidadania, como
garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras.
Numa dimensão profissional, o projeto traz de novo o compromisso com
a competência, que se dá com o aperfeiçoamento intelectual constante do
assistente social, dano ênfase numa formação acadêmica de qualidade. Em
especial, o projeto prioriza uma nova relação com os seus usuários, tendo
como componente elementar o compromisso com a qualidade dos serviços
prestados à população.
O projeto profissional integra valores, escolhas teóricas, ideológicas,
políticas, éticas e normatizações que determinam os direitos e deveres
profissionais; e é a expressão de ruptura da profissão com o tradicionalismo e o
conservadorismo do projeto societário. (KOIKE, 2009)
Os valores e princípios do atual projeto profissional remetem a um novo
modo de operar na profissão, o que pressupõe a crítica sobre as condições e
relações do seu exercício profissional, assim segundo Guerra (2007, p.27):
Assim, fica claro ao profissional que não basta se indignar contra a
moral burguesa, não basta o senso moral. É necessário que se
desenvolva a consciência moral, que se apropria da ética como
reflexão crítica sobre a moral para se estabelecer quais as escolhas e
ações táticas e estratégias que nos permitam organizar ações e
sujeitos históricos para intervir no processo de democratização da
sociedade, visando uma sociedade mais justa e equitativa, o que
passa pela defesa da vida humana.
48
Organização político- organizativa da profissão: que envolve fóruns, entidades
associações e organizações sindicais.
O projeto ético-político está em constante processo de formação no
cotidiano, pois é necessário que o Assistente Social traduza este projeto no
processo de formação e exercício profissional, através da relação com a classe
trabalhadora para fortalecê-lo. Logo, é desafio para o Assistente Social tornar
esse projeto um norte concretizado para sua atuação profissional, pois é
necessário que este articule as dimensões normativas, acadêmicas e
organizativas com a realidade em que se insere o cotidiano do exercício
profissional, principalmente na luta contra o conservadorismo na atualidade.
[...] aqueles assistentes sociais que atuam segundo um projeto
profissional crítico tem muito mais possibilidades de alcançar a clareza
Segundo Guerra (2007), o projeto profissional é um elemento de unidade
entre teoria e prática. Sem isso, a atuação profissional realidade carece de uma
unidade, de elementos que possam homogeneizar determinados elementos da
cultura e determinadas posturas profissionais conscientemente adotadas,
diferenciando-as das ações sociais, voluntárias ou não. O projeto profissional
crítico é um elemento necessário para que uma atividade se converta em
práxis.
Outro desafio é que o projeto ético-político do Serviço Social por ter
caráter transformador de ruptura com a ordem burguesa entra em conflito com
os ideais neoliberais, já que este projeto torna-se uma ameaça à ordem
hegemônica capitalista, por defender e lutar pela garantia de direitos sociais,
conforme afirma Teixeira e Braz (2009, p. 13),
[...] por escolhas historicamente definidas pelo Serviço Social
brasileiro, condicionadas por determinantes histórico- concretos mais
abrangentes – colidem (são mesmo antagônicas em sua essência),
com os pilares fundamentais que sustentam a ordem do capital.
49
suas dimensões de universalidade, particularidade e singularidade; superação
da fragmentação de conteúdos curriculares; garantia das dimensões
investigativas, interventiva e ética como princípios formativos articulados e
interdisciplinariedade no projeto de formação profissional e exercício do
pluralismo no campo democrático.
A elaboração de um novo Código de Ética e a proposta de revisão
curricular, operadas ainda na primeira metade da década de 1990,
são exemplos emblemáticos da organização da categoria profissional,
cuja finalidade estava em promover a superação da ética marxista
tradicional e seus pressupostos básicos. (SILVA, 2009, p. 111).
50
Depois de termos realizado uma análise da conjuntura pós-1970, a
contextualização histórica da emergência do Serviço Social e a reflexão acerca
do projeto ético-político profissional, buscaremos refletir e analisar o Serviço
Social na contemporaneidade, as implicações da reestruturação capitalista na
profissão, as novas demandas, bem como os limites e possibilidades da
atuação profissional do Assistente Social hoje.
Diante das transformações sócio-históricas nas relações entre o Estado
e a sociedade, onde a economia se encontra em grande recessão e totalmente
submissa ao capital, notamos o agravamento das expressões da questão
social, como aumento da pobreza; aumento do desemprego e subemprego;
das desigualdades sociais e econômicas e a perda de direitos e conquistas
sociais, o que ocasiona um redimensionamento da profissão e dos espaços
sócio-ocupacionais no sentido de intervir melhor na realidade, onde o cenário é
marcado pelo deslocamento da “satisfação de necessidades da esfera pública
para a privada” (IAMAMOTO, 2009. p.359)
As transformações ocorridas nos países capitalistas nos últimos trinta
anos, vindas da crise estrutural do capitalismo, traz profundas modificações no
mundo do trabalho (como o desemprego estrutural, a tecnologia, flexibilidade,
terceirização) e particularmente no Serviço Social, a partir da orientação
neoliberal há um redimensionamento das políticas sociais, onde estas sofrem
profundas alterações nas suas orientações e funcionalidade, passam pelo
processo de privatização e focalização. (MONTAÑO, 1997).
Ocorre um processo de refilantropização social, com uma forte tendência
de privatização das respostas dadas as expressões da questão social,
respostas estas que são pautadas por um caráter de solidariedade e
voluntarismo nas ações, assim é gerado uma parceria entre o público e o
privado surgindo com isso o “Terceiro Setor”, onde a sociedade civil é cada vez
mais responsabilizada por buscar suprir suas próprias necessidades sociais.
Esse processo gera importantes significados e repercussões para a
prática do Serviço Social, pois ao mesmo tempo em que se mantém os
espaços de execução e implementação de políticas sociais, novos espaços de
atuação profissional surgem, como por exemplo, na área dos recursos
humanos, formulação e gestão de políticas sociais e principalmente a atuação
do Assistente Social no “Terceiro Setor”.
51
Assim, há uma diversificação nos espaços sócio-ocupacionais, os quais
se constituem como produto histórico das lutas entre as classes pela
hegemonia e pelo modo político das respostas profissionais. Ou seja, as
demandas profissionais não estão pré-estabelecidas, elas mudam de acordo
com a realidade social em que estão inseridas, gerando assim ações
profissionais potenciais ao Assistente Social. Como afirma Iamamoto (2012,
p.150, grifos da autora).
[...] a prática profissional não tem o poder miraculoso de revelar-se a
si mesma. Ela adquire inteligibilidade e sentido na história da
sociedade da qual é parte e expressão. Assim, desvendar a prática
profissional cotidiana supõe inseri-la no quadro das relações sociais
fundamentais da sociedade, ou seja, entendê-la no jogo tenso das
relações entre as classes sociais, suas frações e das relações desta
com o Estado brasileiro.
52
Assim as necessidades sociais se tornam fonte de demanda da atuação
profissional do Assistente Social, assim a principal tarefa posta para o Serviço
social na atual conjuntura é a de identificar o conjunto das necessidades
(políticas, sociais, materiais e culturais).
Para que o Assistente social não fique preso ao imediatismo e tenha
uma ampla visão da sua atuação, ele deve buscar ultrapassar alguns limites,
que dentre outros, podem ser caracterizados como: a condição assalariada em
que se encontra inserido esse profissional; pelas exigências e competências
específicas das instituições empregadoras; pela jornada de trabalho; pelo
intenso processo de descentralização, focalização e precarização das políticas
sociais públicas e pelo processo de privatização de serviços sociais.
Outro enorme desafio que o Assistente Social enfrenta é ter a
capacidade de compreensão crítica da realidade, a partir da dinâmica da
totalidade/particularidade/singularidade que atravessam o cotidiano do
exercício profissional do Assistente Social, com o intuito de requalificar o seu
fazer profissional, com o objetivo de este encontrar respostas profissionais
criativas, ou seja:
[...] decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e
capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas
emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não
só executivo. [...] exige uma ruptura com a atividade burocrática e
rotineira, que reduz o trabalho do assistente social a mero emprego.
[...]. (IAMAMOTO, 2012, p. 20- 21, grifos da autora)
53
prioridades para responder as demandas colocadas; 2 – Definição de objetivos,
ou seja, esclarecer o que se pretende alcançar através de sua intervenção
profissional; 3 – Identificação de metas, momento de formular os resultados
esperados a partir das atividades desenvolvidas; 4 - Demarcar os recursos que
serão necessários para a execução do projeto e por último o registro de todo
processo de formulação, execução e avaliação deste projeto no intuito de gerar
novos elementos para novos projetos.
Assim, o projeto de trabalho se torna instrumento fundamental para a
compreensão e consolidação da atuação profissional, bem como do projeto
ético-político profissional, pois parâmetros serão estabelecidos e assumidos.
Outro desafio que é posto ao Assistente Social na contemporaneidade
encontra-se inserida nas relações entre projeto ético-político e o estatuto
assalariado, já que o Serviço Social está presente no processo de
mercantilização, que vende sua força de trabalho para as instituições
empregadoras, que precisam dessa força especializada de atuação. Por isso:
Verifica-se uma tensão entre projeto profissional, que afirma o
assistente social como um ser prático-social dotado de liberdade e
teleologia, capaz de buscar projeções e implementá-las vida social; e
a condição de trabalhador assalariado, cuja ações são submetidas ao
poder dos empregadores e determinadas por condições externas aos
indivíduos singulares, os quais são socialmente forjados a subornar-
se, ainda que coletivamente possam rebelar-se. (IAMAMOTO, 2009,
p. 348).
Ainda segundo a autora, ressalta- se que essa densa relação pode ser
traduzida com a capacidade de realizar projetos e implementá-las na vida
social, na precarização de trabalho, na instabilidade, na polivalência e na
descaracterização da sua atuação como profissional assalariado que se
encontra submetida ao poder dos empregadores. Como podemos notar na
afirmação de Iamamoto (2002, p. 24, grifos da autora):
A condição assalariada envolve necessariamente a incorporação de
parâmetros institucionais que trabalhistas que regulam as relações de
trabalho consubstanciadas no contrato de trabalho, estabelecem
condições em que este trabalho se realiza em termos de intensidade,
jornada, salário, controle do trabalho e de sua produtividade, metas a
serem cumpridas, assim como prevê a particularização de funções e
atribuições decorrentes de normatização institucional que regula a
realização do trabalho coletivo no âmbito dos organismos
empregadores, públicos e privados.
54
Assistente Social passa a ocupar cargos com diferentes nomenclaturas, como
técnico social e coordenador, o que gera um conflito com as competências
profissionais do profissional de Serviço Social com as competências destes
cargos ocupados, ou seja, uma confusão de cargos ou funções com a
profissão. Assim, de acordo com Duarte (2010, p. 71):
Tal consideração é relevante para o Assistente Social, uma vez que
sua consciência enquanto profissional qualifica seu trabalho. Delimita
suas atribuições e competências; por outro lado, o cargo se constitui
como mera denominação que pouco explica sobre sua atuação
profissional.
55
realmente materializá-lo no seu exercício profissional, pois este projeto tem
todas as referências necessárias técnicas, teorias, éticas e políticas para
subsidiar a prática profissional de um Assistente Social crítico que almeja
romper com ações baseadas no tradicionalismo.
Por isso, buscaremos analisar o exercício profissional do Assistente
Social no SESC/FORT e sua articulação com o projeto ético-político, levando
em consideração debate acerca do “Terceiro Setor” e a atual conjuntura
neoliberal que estamos inseridos. Para tanto, foi realizada uma pesquisa com
as Assistentes Sociais da instituição e por meio das entrevistas serão
sistematizadas os aspectos que giram em torno do objetivo geral deste estudo.
56
renovado, o espaço da liberdade assim cria-se um novo momento para a
política social e econômica brasileira e a questão social passa a ser enfrentada
de forma diferenciada, deixando de ser um caso de polícia. Assim, há um
aprofundamento do modelo corporativista no Brasil.
No período citado a política econômica se encontrava voltada para o
incentivo das indústrias básicas e expansão desse setor, além disso, há uma
participação ativa da burguesia industrial nas ações do Estado. Nessa mesma
época, observa-se um crescimento do proletariado urbano, que surge como
segmento que pressiona o Estado para uma nova dimensão política,
econômica e social no país, que contribuiu para a queda do antigo regime, para
a expansão do mercado urbano e com a legitimação das garantias sociais.
Logo, com esse crescimento, é necessário que a classe dominante
controle esse segmento a fim de conseguir a consolidação da ordem
econômica, principalmente, do crescimento das indústrias.
O novo regime busca, então, busca implementar uma nova forma de
gestão da economia e do âmbito social, que procura criar um vínculo com o
proletariado para legitimar a ação burguesa incorporando na ação estatal as
exigências da classe dos proletariados. Tais direitos garantidos por serem uma
estratégia da classe dominante, de acordo com Iamamoto (2011), podem ser
tidos como “ficção” subordinando o trabalho ao capitalismo.
[...] mais que um pacto de classes, trata-se no essencial
de readaptar-se os mecanismos de exploração econômica
e dominação política às necessidades do aprofundamento
capitalista, [...] representam a reafirmação da dominação
do capital e nunca seu contrário. (idem, 2011, p 251,
grifos da autora).
57
partir dos de 1940, as quais fazem parte o Serviço Social do Comércio (SESC)
criado no ano de 1946, Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI) criado no ano de 1942 e do Serviço Nacional
de Aprendizagem Comercial (SENAC) também criado em 1946, todos
buscavam o desenvolvimento social. Foram criados a partir do Decreto Lei 9.
853, que logo em seu 1° artigo explicava a finalidade da instituição: “planejar e
executar [...] medidas que contribuam para o bem- estar e a melhoria do
padrão de vida dos comerciários e de suas famílias [...]”.
De acordo com César (2008), a criação destas instituições,
caracterizadas como complexos assistenciais, se deu a partir da nova dinâmica
capitalista, com a formação de uma economia–social para atender as
necessidades da atividade do capital e se ter um posicionamento diante das
sequelas da questão social.
Assim, o SESC foi criado com o objetivo de atender às necessidades
sociais urgentes dos trabalhadores dos comércios, procurando enfrentar seus
problemas, reduzir ou aliviar suas maiores dificuldades e criar condições de
seu progresso. Deste modo, busca prestar serviços que possuem um caráter
sócio-educativo nas áreas da saúde, cultura, educação e lazer.
Hoje o SESC está presente em todos os estados brasileiros, atuando
nas capitanias brasileiras e em algumas cidades, sendo uma das formas de
inserção privada da população em benefícios por meio de seus serviços
prestados. É uma instituição, além de âmbito nacional, é de direito privado, ou
seja, não tem por responsabilidade a execução e gerenciamento de políticas
públicas.
O SESC é mantido pela contribuição social caracterizada pelo caráter
compulsório incidente sobre a folha de pagamento de empresas dos Serviços
de Comércio de Bens, Serviços e Turismo, ou seja, os recursos financeiros do
SESC é resultado da contribuição compulsória do setor de comércio e
prestação de serviços.
Logo, o que temos é uma forma de financiamento das ações no
tratamento da questão social sendo repassada ao comerciário. Ou seja, temos
um caráter contributivo implementado pela classe do patronato, há uma
repressão e a utilização de uma política conservadora. (CÉSAR, 2008).
58
No Ceará o SESC funciona desde 1948, através de programas e
projetos de saúde, educação, assistência, alimentação, cultura, lazer, turismo,
desenvolvimento físico e esportivo. Atualmente são seis Unidades
Operacionais – duas em Fortaleza (Unidades Centro e Fortaleza) e quatro no
Interior do Estado (Crato, Juazeiro do Norte, Iguatu e Sobral).
Ainda em Fortaleza, dispõe de espaço dedicado à cultura – Sesc Senac
Iracema – e um para a educação – Escola Educar SESC. Em Caucaia, está
localizada a Colônia Ecológica Sesc, na praia de Iparana, que oferece
hospedagem e várias opções de lazer, além de desenvolver ações de proteção
ao meio-ambiente.Também no Interior do Estado, a instituição conta com seis
centros educacionais, onde é desenvolvido o Programa Sesc Ler: Aracati,
Crateús, Ibiapina, Itapipoca, Quixeramobim e São Gonçalo do Amarante.
O SESC tem como missão contribuir na construção por uma sociedade
mais justa, na melhoria pela qualidade de vida do trabalhador do setor de
comércio, bens e serviços e turismos, principalmente aqueles de baixa renda,
através de serviços subsidiados e de excelência. (Disponível em:
http://www.sesc-ce.com.br/index.php/missao.html). Acesso em 15 de maio de 2013.
O SESC possui uma estrutura descentralizada e autônoma, tanto para a
gestão como para a criação e execução de seus projetos e atividades, que são
orientadas pelas diretrizes propostas pelo Departamento Nacional e aprovadas
pelos Conselhos Nacionais do SESC.
O Conselho Nacional do SESC tem estrutura tripartite, composto pelo
Conselho Regional, pelo Diretor Geral do Departamento e de representações
das Federações Nacionais de Comércio de Bens e Serviços. Cada
administração Regional possui seu conselho formado por membros eleitos
pelos sindicatos patronais do comércio de bens e prestação de serviços.
Dentre os serviços prestados pelo SESC temos: Educação – que busca
levar o trabalhador do comércio de bens e serviços e seus familiares a uma
melhor qualidade de vida. A instituição promove um conjunto de ações
direcionadas para a criança, o adolescente e o adulto, todas voltadas para a
formação de pessoas cidadãs, dotadas de senso crítico, autônomas, solidárias,
conscientes de seu papel como agentes das mudanças de que o País precisa
fundada em valores éticos.
59
Saúde – o foco principal do SESC nessa área é a medicina preventiva
proporcionando informações que estimulem a criação de hábitos voltados para
a prevenção e preservação da saúde. Odontologia e Nutrição são outros
campos em que o SESC atua.
Na área Cultura – busca estimular a preservação, a difusão e o
desenvolvimento do conhecimento através de práticas educativo-cultural,
algumas atividades envolvidas são: apresentações artísticas e o uso da
biblioteca. Lazer – tem como objetivo o desenvolvimento social e pessoal de
seus usuários, aproveitando-se do seu tempo livre por meios de atividades
recreativas e de entretenimento. Assistência - através do Trabalho com
Grupos, Ação Comunitária e da Assistência Especializada busca contribuir para
a valorização dos usuários.
Foi possível notar que as práticas adotadas pela a instituição
caracterizam-se na contemporaneidade como uma das expressões de
transferência de responsabilidade do Estado para a sociedade, através da
chamada responsabilidade social, a partir de como se deu a origem do SESC,
sua missão, seu usuários atendidos, seus princípios e atuação.
Ou seja, é possível concluir que o SESC, na atualidade, caracteriza-se
como uma instituição que se encontra dentro da lógica neoliberal, de
manutenção do capital, de instituições não governamentais sem fins lucrativos,
a partir da responsabilização de um segmento específico da sociedade – os
comerciários – para responder suas necessidades sociais.
19
Ressaltamos que os nomes utilizados das Assistentes Sociais no decorrer do trabalho são
nomes fictícios.
60
Comunitária. Das 04 Assistentes Sociais entrevistas20, duas atuam no setor do
Trabalho Social com Idosos (TSI), sendo que uma mais especificamente no
projeto Cidadania Ativa, que é um setor parelelo dentro do TSI, uma trabalha
no setor Mesa Brasil e a outra no setor Ação comunitária. Primeiramente é
preciso fazer uma breve caracterização dos setores citados em que as
Assistentes Sociais atuam.
Trabalho Social com Idosos (TSI) – Desde o ano 1983 vem sendo
desenvolvido onde atua através de ações voltadas para os interesses e
características dos idosos atendidos, trabalhando a pessoa idosa em sua
integralidade por meio do desenvolvimento de ações e projetos que atendem às
diversas dimensões do envelhecimento, seguindo às diretrizes relações
intergeracionais, gerontologia como tema transversal, protagonismo do idoso e
envelhecimento ativo, que são voltadas para o exercício da cidadania,
enfrentamento da exclusão social na velhice e fortalecimento da pessoa idosa
enquanto agente de transformação social, desempenhando papel social
representativo na família e na sociedade.
O TSI trabalha com três áreas de atuação, são estas: Grupo de
Convivência, Escola Aberta da Terceira Idade e o Trabalho Intergeracional.
Estas áreas de atuação são norteadas pelas linhas de trabalho: Promoção da
Saúde do Idoso, Protagonismo e Autonomia da Pessoa Idosa, Direitos Sociais
e Cidadania, Memórias e Histórias de vida, Expressões artístico- culturais,
Intergeracionalidade e Espiritualidade.
Dentro do TSI, tem um setor paralelo que é o Projeto Cidadania Ativa
que trabalha com o protagonismo na velhice e visa promover a cidadania e a
participação da pessoa idosa, incentivando a reivindicação de seus direitos e a
execução de projetos para melhorar a qualidade de vida nas comunidades
onde vivem. O Projeto é desenvolvido em cinco comunidades de Fortaleza que
são: Bom Jardim, Monte Castelo, Henrique Jorge, Papicu e Joaquim Távora.
As Assistentes Sociais lotadas no setor Trabalho Social com Idosos tem
como atribuições e demandas a supervisão, a coordenação e avaliação das
ações e projetos, avaliação dos resultados e a formulação de estratégias, bem
20
No SESC/ Fortaleza tem aproximadamente 10 Assistentes Sociais, só foram entrevistadas 04
por conta do tempo e para não ficar com excesso de informações.
61
como o acompanhamento, planejamento e execução das atividades dos grupos
(como o Grupo de Trabalho Intergeracional) de ações comunitárias e outras
atividades que surgirem para o Serviço Social. Podemos observar outras
demandas e atribuições das Assistentes Sociais no TSI, na fala de uma das
entrevistadas:
No dia-a-dia a gente trabalha também com atendimentos direto ao
público onde aparecem diferentes demandas, principalmente aquelas
pessoas que veem em busca dos projetos da instituição, fazemos
também encaminhamentos, se necessário. Para que as pessoas
tenham acesso aos Projetos do programa tem que passar
inicialmente pela a gente, onde nós fazemos uma entrevista social,
para saber um pouco sobre a questão socioeconômica da família [...]
a partir desse estudo social nós temos mais ou menos o perfil do
usuário, daí nós o direcionamos para os projetos que existem na
instituição de acordo com as suas necessidades O nosso trabalho é
sócio-educativo, trabalhamos muito com os grupos, o que não nos
impede de atender demandas mais individuais. (MARIANA).
62
Aqui no SESC e também nas comunidades eu faço atendimentos
com os usuários dos projetos que fazem parte da Ação Comunitária,
realizo palestras, oficinas, prestando informações relacionadas à
assistência, benefícios sociais e outros assuntos que vão surgindo de
acordo com as necessidades dos usuários dos projetos. (CAMILA)
Outra área de atuação do Serviço Social é no setor Mesa Brasil que atua
desde 2001 é uma Rede Nacional de Solidariedade que atua na área de
Segurança Alimentar e Nutricional, através da doação de alimentos a entidades
sociais que atendem a pessoas em situação de insegurança alimentar e
vulnerabilidade social. Desenvolve também ações educativas voltadas para o
consumo consciente dos alimentos e resgate da cidadania. O Programa tem na
parceria com doadores, entidades sociais e voluntários sua base de
sustentação é uma iniciativa que dissemina a cultura da responsabilidade
compartilhada para a garantia do direito humano à alimentação.
O programa Mesa Brasil não se limita apenas ao ato de doar alimentos,
também é desenvolvido ações de combate ao desperdício e ações educativas
nas entidades sociais e nas empresas doadoras, procurando abordar temas
variados, tanto na parte mais relacionada a nutrição que são: Manipulação dos
alimentos, Noções básicas de alimentos, Aproveitamento integral dos
alimentos, como também temas mais relacionados ao Social quais sejam:
Segurança Alimentar e Nutricional e Direito Humano a alimentação, Estatuto do
Idoso, Estatuto da Criança e Adolescente, Lei Orgânica da Assistência Social,
Educação Ambiental- coleta seletiva, Ação voluntária e Geração de renda.
Alguns princípios norteadores do programa são: Segurança alimentar e
nutricional Ações educativas, objetivando autonomia das entidades sociais;
Construção e manutenção de parcerias; Difusão de conhecimentos e
promoções da cidadania. No programa Mesa Brasil trabalham três Assistente
Sociais.
No setor Mesa Brasil as atribuições e demandas das Assistentes
Sociais, estão mais relacionadas às entidades sociais, assim o Serviço Social
neste setor realiza o trabalho de visitas técnicas de cadastro e monitoramento
nessas entidades porque para que elas possam fazer parte do programa é
necessário que esta mande um oficio para o SESC, especificamente para o
setor Mesa Brasil e assim é agendado a realização da visita tanto do Serviço
Social como da nutrição onde cada um avalia o que lhe é pertinente, no caso
63
do Serviço Social é avaliado por exemplo, a questão documental da entidade e
a relevância do trabalho social que a mesma realiza após esse processo é
elaborado um parecer social.
Outras atribuições das Assistentes Sociais são a supervisão de estágio,
as atividades sócio-educativas e o trabalho de geração de renda, como ressalta
uma das Assistentes Sociais entrevistada:
Nós fazemos atividades sócio-educativas porque como o Mesa é um
programa de segurança alimentar e nutricional onde realizamos
doação de alimentos, temos todo um trabalho sócio-educativo pra
que a nossa atuação não se limite apenas ao ato de doação em si e
sim também proporcionar a auto-sustentabilidade e autonomia das
entidades sociais. [...] Não posso esquecer da supervisão de estágio
que é muito enriquecedor pra nós, [...] é muito interessante a troca de
experiências, as contribuições que elas trazem pra nós. (LAURA).
64
posto do Código de Ética de 1993, que diz no seu Art. 2 alínea “c”-
Participação na formulação e implementação de programas sociais, e no
seu Art. 8° alínea “a” - Programar, administrar, executar e repassar
serviços sociais assegurados na instituição.
b) Entrevista Social com os usuários e encaminhamentos para os projetos
da instituição e Elaboração de estudo socioeconômico. Condiz com a Lei
de Regulamentação da Profissão, no seu Art. 4° inciso XI – Realizar
estudos socioeconômicos, e com o Código de Ética no seu Art. 8 alínea
“d” – empenhar-se na viabilização de direitos sociais dos usuários
através dos programas e políticas sociais.
c) Prestar orientações quanto a direitos e benefícios e ministrar palestras e
oficinas. Art. 4° incisos III e IV da Lei de Regulamentação da Profissão –
Orientação Social, e no Código de Ética de 1993 no seu Art. 5° alíneas
“b” e “c”- Garantir a plena informação e democratizar as informações e
acesso aos programas disponíveis.
d) Supervisão de Estágio - está em sintonia com o que está no Art. 5°inciso
VI da Lei de Regulamentação da Profissão – Treinamento, avaliação e
supervisão direta de estagiários de Serviço Social.
65
são nem da área do Serviço Social, então muitas vezes quando
preciso fazer um atendimento com o usuário onde precise de certa
privacidade fica difícil, muitas vezes tenho que sair atrás de uma sala
vazia na instituição pra poder atender a certas demandas. (CAMILA)
Diante dessas falas notamos que essa situação não está de acordo com
o que está previsto na Resolução n° 495/2006 do Cfess que dispõe das
condições éticas e técnicas do exercício profissional do Assistente Social, que
resolve no seu Art. 2° alínea “b” e “c” o seguinte:
Art. 2° O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser
dotado de espaço suficiente, para abordagens individuais ou
coletivas, conforme as características dos serviços prestados, e deve
possuir e garantir as seguintes características físicas:
b - recursos que garantam a privacidade do usuário naquilo que for
revelado durante o processo de intervenção profissional
c - ventilação adequada a atendimentos breves ou demorados e com
portas fechadas.
66
assim como com a fragmentação da organização política dos
trabalhadores.
67
Serviço Social, é necessário um maior número de Assistentes Sociais na
instituição, tendo em vista a quantidade programas/ projetos desenvolvidos e
as demandas levantadas para as profissionais do Serviço Social, para que
assim haja a garantia de respostas profissionais com uma melhor qualidade e o
fortalecimento da ação profissional do Serviço Social.
21
As Assistentes Sociais hoje no SESC/FORT trabalham 30 horas semanais, 06 horas diárias.
68
Assim, percebemos que as profissionais entendem que a profissão ao
longo dos anos vem crescendo, que tem conseguido conquistar novos espaços
nos campos de atuação, apesar de demonstrarem que ainda há muito a ser
expandido.
No que diz respeito a tensão que o profissional de Serviço Social
enfrenta entre os interesses do usuários e os da instituição, segundo Montaño
(2006) isso não significa dizer que ele possua um papel de “mediador” entre
essas classes, o fato de o Assistente Social está inserido no contexto das
contradições e conflitos entre as classes, faz deste um profissional político (não
partidário) no sentido de ser um participante dessa conflituosa relação entre as
classes, onde esse profissional tem que ter o compromisso ético-político
através da defesa do trabalho emancipado do capital sem nenhuma forma de
exploração, que defenda os direitos sociais, trabalhistas e políticos que foram
conquistados historicamente pela as classes trabalhadoras. Ainda segundo
Montaño (2006, p.05).
Isso significa o comprometimento do assistente social em centrar sua
ação profissional nesses valores, o que supõe um claro corpo ético-
político (Código de Ética) que oriente e controle o exercício
profissional a partir dos consensos criados pelos coletivos
profissionais e da articulação com outros atores institucionais e
sociais, objetivando reforçar seu papel na correlação de forças.
Notamos também que existe uma preocupação no que se refere à
formação dos cursos de Serviço Social à distância22, vemos que há uma
mercantilização e uma precarização do ensino, tendo em vista que o Serviço
Social é uma profissão que trabalha com uma realidade social dinâmica e
complexa e que precisa ser apurada a partir da apreensão da totalidade.
Essa situação de ensino à distância atinge diretamente a identidade do
Serviço Social, já que não há como formar profissionais críticos e competentes,
trazendo profundas alterações no perfil da formação profissional, já que não há
um adequado acompanhamento de sua trajetória acadêmica e de seus
estágios durante a graduação.
Para tanto, nota-se “a necessidade da garantia de qualidade para o
Ensino à Distância, o que exige ser o mesmo pautado pelas Diretrizes
Curriculares que orientam a formação profissional dos Assistentes Sociais”.
(CFESS, ABEPSS E ENESSO, 2006, p.03)
22
A aprovação pelo MEC dos cursos à distância para assistentes sociais sofreu imediato repúdio das
entidades profissionais – o conjunto CFESS/Cress, a Abepss e a Enesso.
69
b) Participação e/ou acompanhamento em eventos da profissão
Quando questionadas sobre o assunto, as Assistentes Sociais
colocaram que sempre procuram ficar atentas aos últimos acontecimentos e
aos assuntos que envolvem o Serviço Social, e quando possível participam de
forma ativa de seminários, palestras, conferências, fóruns e outros eventos,
inclusive publicando e apresentando trabalhos e fazem cursos de capacitação,
atualização que muitas vezes são até financiados pela a instituição. Como
podemos destacar em algumas falas das entrevistadas:
[...] eu procuro sempre tá publicando alguma coisa, apresentando
trabalhos em seminários e palestras, faço também muitos cursos
assim de atualização de assuntos que envolvem o Serviço Social, o
SESC tem uma política de investir na qualificação profissional ele
custeia alguns cursos pra gente, nós precisamos estar em constante
atualização, até porque trabalhamos com a realidade e ela é
dinâmica, então nós temos que tá sempre acompanhando as
transformações que ocorrem na sociedade, não podemos parar no
tempo temos que saber o que tá rolando na profissão. (LAURA)
70
c) Contribuição do Código de ética no cotidiano profissional
71
O Código de Ética é primordial pra nossa profissão, é realmente o
nosso norte se a gente não tiver baseada nele fica difícil ter uma
atuação de qualidade, ele contribui de forma direita na minha prática
profissional. (MARCELA).
O nosso Código de Ética é tudo pra mim minha atuação, é o norte até
mesmo pra gente brigar pelos os nossos direitos enquanto
Assistentes Sociais, ele é um instrumento pra garantia desses diretos.
(LAURA).
72
Percebemos que as Assistentes Sociais da instituição fizeram a escolha
ética e política que prima pela defesa dos direitos da população usuária na
instituição, por isso destaco o que está previsto na Lei de Regulamentação da
Profissão no seu art. 4° que atribui as competências do Assistente Social, no
inciso v- orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no
sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na
defesa de seus direitos, vemos que as profissionais buscam esse objetivo.
Ainda com as falas citadas podemos destacar a consonância com alguns
princípios fundamentais do nosso Código de Ética (CFESS, 1993, p. 24 e 25)
I. Reconhecimento da liberdade como valor éticocentral e das
demandas políticas a ela inerentes -autonomia, emancipação e plena
expansão dos indivíduos sociais;
73
[...] nós do Serviço Social trabalhamos muito em conjunto com a
Nutrição, principalmente na hora das visitas que fazemos nas
entidades, onde cada área faz um parecer, um relatório, separado é
claro, mas se um dos relatórios for desfavorável há o respeito da
outra área. Por isso é essencial saber trabalhar com outras pessoas
de diferentes áreas, tendo o respeito porque se não o trabalho não
flui. (LAURA)
74
constitui um guia para a ação, posto que estabelece finalidades ou resultados
ideais para o exercício profissional e as formas de concretizá-lo.
Assim, podemos afirmar que aquelas Assistentes Sociais, que atuam
segundo um projeto profissional crítico têm muito mais possibilidades de
alcançar a clareza de seus compromissos éticos e políticos, já que o projeto
possui uma dimensão crítico-reflexiva. Isso permite-lhes escolher com
responsabilidade suas estratégias e táticas, sabendo que o que fazem
encontra-se dentro dos limites dados pela sua condição de trabalhador
assalariado.
75
CONSIDERAÇÕES FINAIS
76
Em razão desta conjuntura de novas configurações capitalistas, com
novas formas de enfrentamento das expressões da questão social, como
destaque para o “Terceiro Setor” , é exigido do Assistente Social uma
“refuncionalização de procedimentos operacionais, que também determinam
um rearranjo de competências técnicas e políticas” (MOTA E AMARAL, 1998,
p. 25); ou seja, novas exigências e demandas se colocam para o Serviço
Social. Logo, o Assistente Social passa a ser cada vez mais requisitado nos
espaços sócio-ocupacionais, inclusive do “Terceiro Setor”, no qual destacamos
neste estudo o SESC/FORT.
Como já foi observado, o Serviço Social intervém na tensão entre o
capital e trabalho, dentro do processo de enfrentamento da questão social;
logo, a profissão se encontra inserida na tensão entre os diferentes projetos
societários, já que estes incidem na dinâmica dos espaços sócio-institucionais,
nos projetos profissionais, nas condições de trabalho e na atuação profissional.
Portanto, os novos desafios e possibilidades de atuação profissional
perpassam as demandas profissionais, o espaço sócio-ocupacional, as
condições e relações de trabalho e que incidem sobre as redefinições de
intervenção profissional.
Com isso, essa pesquisa possibilitou a análise e problematização do
cotidiano profissional das Assistentes Sociais, das demandas para o Serviço
Social, assim como os limites e possibilidades profissionais e por último no que
diz respeito à articulação entre o projeto ético-político e a atuação profissional
do Assistente Social no SESC/FORT. Diante disso, chegamos a algumas
conclusões e resultados:
Primeiramente, refere-se às demandas e atribuições das Assistentes
Sociais na instituição, que se encontram em sintonia com o que está previsto
no Código de Ética do Serviço Social de 1993 e com a Lei de Regulamentação
da Profissão (Lei 8662/1993), como por exemplo, umas das atribuições das
Assistentes Sociais é prestar orientações quanto a direitos e benefícios,
ministrar palestras e oficinas, o que está relacionado ao que está posto no
Código de Ética de 1993 art. 5° alínea “b” e “c” que diz que o Assistente Social
deve garantir a plena informação e democratizar as informações e acesso aos
programas disponíveis.
77
Além disso, foi possível perceber a importância que as Assistentes
Sociais da instituição dão ao estágio supervisionado, como um de aprendizado
e reflexão sobre o cotidiano profissional, se caracterizando como uma
oportunidade de se realizar a síntese da relação teoria e prática , bem como a
oportunidade de capacitação constante do Assistente Social, já que se tem
uma contínua troca de saberes entre as profissionais e os estagiários.
Em segundo lugar, foi possível identificar alguns limites, ou seja,
desafios que são vivenciados pelas as Assistentes Sociais da instituição, são
estes: a) a sobrecarga de trabalho, gerando um acúmulo de função e
atividades causando a precarização do trabalho; b) não há “tempo” e/ou não é
dado prioridade para avaliar as atividades que realiza, justamente por conta do
excesso de trabalho, algumas profissionais muitas vezes não conseguem
colocar em prática o que planejam por conta de demandas “urgentes” que
surgem; c) Falta de profissionais do Serviço Social; d) há uma falta de estrutura
física para realizar atendimentos (principalmente quando se trata de
atendimentos individuais, não há privacidade) e atividades com os usuários, ou
seja, notamos que não há condições éticas e técnicas para atuação das
profissionais de Serviço Social;
Ainda como desafios, a fim de ampliar o Serviço Social na instituição e
buscar romper com os limites observados, observam-se: a necessidade de
traçar estratégias articuladas com o projeto ético-político para melhor
responder as demandas para o Serviço Social, a realização de capacitações
continuadas e a articulação e mobilização a fim de se expandir o quadro de
pessoal de Serviço Social.
E como último aspecto conclui-se que as Assistentes Sociais articulam o
projeto ético-político com suas respostas profissionais com as mais diferentes
demandas postas pela instituição e pelos usuários, assim destacamos: a
articulação com a dimensão jurídica- política que é materializado pelas leis que
compõe a base para a profissão, como o Código de Ética do Serviço Social de
1993, a Lei de Regulamentação da Profissão – Lei 8662/1993, o Estatuto do
Idoso e o Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA ; o entendimento da
necessidade de estarem em constante processo de capacitação, sinalizando
que se preocupam em ter uma formação contínua com vistas a prestar um
78
melhor serviços aos seus usuários e por último, observa-se que as Assistentes
Sociais teem um posicionamento favorável a equidade e a justiça social.
Assim, acredita-se que é importante sempre buscar reafirmar o projeto
ético-político, a qual expressa a ruptura com o conservadorismo do projeto
hegemônico, para enfrentar os pressupostos neoliberais por meio de
comprometimento profissional, bem como na necessidade de articulação e
organização das dimensões – política, ética e técnico-operativa – do exercício
profissional a fim de construir coletivamente alternativas e alianças
profissionais para se buscar cada vez mais o fortalecimento do Serviço Social
no SESC/FORT.
Pois, de acordo com Mota (2003, p. 14) o Serviço Social está vinculado
com as práticas de atendimento das necessidades sociais e para que isso
ocorra é necessário “intervir qualificadamente nos mecanismos de
enfrentamento e superação das desigualdades sociais no país. É preciso ousar
intelectualmente e politicamente com os meios de que dispomos”.
Vale ressaltar que este trabalho não buscou julgar a ação da instituição
SESC/FORT ou mesmo das profissionais que participaram da pesquisa, mas
sim refletir e buscar apreender as determinações sócio-históricas, esclarecer
limites e buscar limites e buscar pensar em uma atuação profissional que tenha
como balizador o projeto ético-político profissional.
Logo, este trabalho não busca terminar com as discussões que
envolvem a atuação do Assistente Social no “Terceiro Setor”, particularmente
no SESC/FORT, e nem esgota possíveis reflexões sobre este assunto.
79
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85
APÊNDICES
APÊNDICE I
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1. PERFIL
1. IDADE:
3. INSTITUIÇÃO DE FORMAÇÃO:
86
14. QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS NO SEU
COTIDIANO PROFISSIONAL?
87
APÊNDICE II
_____________________________ ____________________________
Fortaleza,____de____________de____
88
89