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CORRELAÇÃO ENTRE A ENERGIA DE SUPERFÍCIE DE UMA PELÍCULA DE TINTA E A

PEGA DE SUJEIRA

INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é aplicar a teoria de Zisman na análise da Energia de Superfície de uma
película de tinta, correlacionando as características de seus respectivos valores a propriedade de pega de
sujeira. A conceito é combinar resultados de ângulos de contatos de líquidos sobre uma determinada
superfície de revestimento em tintas imobiliárias a fim de correlacionar através de suas características
dispersiva γ d (apolar) e γ (polar) a pega de sujeira por poluição orgânica (fuligem). Medidas de energia
de superfície de líquidos são relativamente simples e diretas de serem determinadas, contudo a
determinação de energia de superfície de sólidos não é tão simples pois não pode ser medida
diretamente, ela é calculada através de um conjunto de valores de ângulos de contato entre a interface
líquido-sólido.
Zisman, em 1961, definiu energia de superfície de um sólido como sendo igual a mais alta tensão
superficial de um líquido (real ou imaginário) capaz de umectar completamente a superfície deste sólido.
Isto é determinado através da medida do ângulo de contato formado entre a interface do sólido com o
líquido, ou uma diminuição do ângulo de contato a medida em que diminui a tensão superficial entre o
líquido e a superfície sólida.
Com o auxílio desta técnica prepararmos corpos de prova revestidos com tintas imobiliárias
convencionais, elastoméricas e com nano-partículas, e fizemos a medida de energia de superfície dos
respectivos revestimentos, além de determinar a composição da parte dispersiva γ d (apolar) e γ (polar).
Aplicamos o conceito de afinidade de polaridade entre materiais, considerando apenas a poluição como
sujeira orgânica, por exemplo a fuligem, um dos poluentes mais frequentes em nosso meio onde em tese
temos nos revestimentos com maior afinidade da parte dispersiva γ d (apolar) ao monóxido de carbono
(CO) presente nesta fuligem, portanto maior pega de sujeira. Estes resultados são muito relevantes porque
representam um avanço no conhecimento na área de formulação de tintas que auxiliará a resolver e/ou
prever problemas sem necessitar de extensos testes naturais e empíricos.

TENSÃO SUPERFICIAL E A ENERGIA DE SUPERFÍCIE

Historicamente, o conceito de Tensão Superficial foi desenvolvido pela primeira vez no século
XVIII e utiliza os conceitos de hidrostática para explicar a ascensão capilar e tem por definição o efeito
físico que ocorre na interface entre duas fases químicas capaz de gerar camadas diferenciadas entre
líquidos, modificando o comportamento da espessura de um líquido, fazendo com que os mesmos se
comportem de maneiras adversas à sua convenção natural.
A Tensão Superficial é capaz de gerar uma espécie de membrana elástica na própria água, o
fenômeno situa as moléculas do interior de um líquido dentro da atração multidirecional, considerando que
as mesmas possam se unir às moléculas vizinhas e alterar seu comportamento superficial. As moléculas
da superfície do líquido sofrem atrações laterais e internas, fornecendo uma dinâmica diferenciada entre o
encaixe dos fluidos. O responsável pelo comportamento elástico, que pode ser comparado a um látex, é a
falta de balanço entre forças de atração que modifica a interface destas superfícies (Figura 1).

Figura. 1 O diagrama mostra, na seção transversal, uma


agulha que está sobre a tensão superficial da água. Seu
peso, Fw, faz uma força contra a superfície da água que
é equilibrada pelas forças de tensão superficial da água
em ambos os lados, Fs
Os efeitos da tensão superficial são variados, a partir da modificação no comportamento de líquidos
em suas condições naturais. Por causa da tensão superficial, por exemplo, podemos observar como
alguns objetos mais densos que o líquido conseguem flutuar pela superfície do mesmo, mantendo-se
sobre a interface e permanecendo sob a mesma, sem afundar.
O conceito de Energia de Superfície faz parte da Teoria da Termodinâmica e foi desenvolvido por
Gibbs (1), na segunda metade do século XIX. Sua teoria baseia-se na interação entre uma superfície e
um determinado líquido e pode ser estudada através da medida do chamado ângulo de contato θ, que é
definido como o ângulo entre um plano tangente a uma gota do líquido e um plano contendo a superfície
onde o líquido se encontra depositado, conforme esquematizado na (Figura 2). Energia de superfície
pode ser definida como sendo igual a mais alta tensão superficial de um líquido (real ou imaginário) capaz
de umectar complemente a superfície de um sólido com um ângulo de contato de zero graus. Isto decorre
da forte tendência observada do ângulo de contato diminuir tanto quanto diminui a tensão superficial do
líquido sobre a mesma amostra de sólido.

Figura. 2 Definição do ângulo de contato θ entre uma gota líquida e uma


superfície plana e horizontal. Nesta figura, γS e γLV são a energia de
superfície do sólido e a tensão superficial do líquido em equilíbrio com o
vapor, respectivamente; γSL é a energia da interface sólido – líquido.

Energia de superfície pode ser mais facilmente compreendida usando um líquido onde seus
átomos e moléculas do líquido podem se mover livremente procurando ocupar uma posição de menor
energia potencial, ou seja, um lugar onde eles as forças (atrativas e repulsivas) agem em todas as
direções estejam em equilíbrio. Por outro lado, as partículas na superfície do material experimentam
apenas forças dirigidas para dentro do líquido (Figura 3), devido a isto, as superfícies são sempre regiões
de maior energia e é justamente a diferença entre as energias das espécies na superfície e no interior do
material que se denomina energia de superfície ou tensão interfacial.
De acordo com o princípio da menor energia, a natureza tende sempre a um estado de mínima
energia. É por esta razão, por exemplo, que uma gota de água tende à forma esférica, pois esta é a forma
geométrica de mesmo volume com a menor área superficial, sendo da mesma forma, a adesão de um
material sobre outro será tanto melhor quando maiores forem as energias de superfícies envolvidas.

Figura 3. Forças atuando em átomos ou moléculas no interior e na superfície de um material.

Por definição, a energia de superfície (γ ) é o trabalho necessário para se criar uma unidade de
área e a unidade de medida usada é Joule (J/m2) que equivale a 1N/m, usada para tensão superficial. O
fato de que a força por unidade de comprimento equivale a energia por unidade de área, pode ser
verificada através do experimento abaixo (Figura 4), pelo comportamento de uma película de sabão em
uma moldura de arame, que pode ser puxada. Sendo que a energia de superfície (γ ) é a tensão superficial
do sabão-ar que gera força f=2γ l necessária para manter em repouso a peça móvel do arame (há duas
superfícies do sabão-ar que resistem a F. A de superfície é a energia necessária para aumentar a área
superficial. Se o arame for movido para direita de uma distância dx, será a área 2.l.dx às custas do
trabalho f.dx (2). A tensão superficial será, portanto:

(1) Josiah Wiliard Gibbs (1839 – 1903), físico norte-americano pioneiro na utilização da termodinâmica para interpretar fenômenos físico-
químicos.
(2) Usualmente a letra W é utilizada para simbolizar a grandeza física trabalho. W=F*d, onde F é a força e d é a distâncias. Uma das unidades
utilizadas é joule (J).

Figura 4. Forças Superfícies de Sólidos – Determinação de energia de superfície

SUPERFÍCIES DE SÓLIDOS E A DETERMINAÇÃO DA ENERGIA DE SUPERFÍCIE

Os estudos de energia de superfície de sólidos por métodos de molhabilidade envolvem a medição


de ângulos de contato entre diversos líquidos, de tensão superficial conhecida, e a superfície do sólido.
Para determinar a componente dispersivaγ d (apolar) e polar γ (polar), da energia de superfície do sólido,
fazem-se agora medições de ângulos de contato com líquidos apolares e polares (Figura 5).

Água em vidro (10 a 150)


Molhabilidade Superfície Maior / Menor energia
Água em PMM (740)
parcial Hidrofílica de superfície
CH2l2 em teflon (85 a 880)

Água em teflon (110 a 1180)


Não há
Superfície Menor / Maior energia Água em polipropileno (1080)
molhabilidade
Hidrofóbica de superfície Mercúrio em vidro (1480)
Glicerina na parafina (950)

Superfície
Molhabilidade Maior energia de Hexano em polietileno
Super
total superfície Água em ouro
Hidrofílica

Totalmente Superfície
Menor energia de
não molhável Super 1800 Não é possível com a gravidade
superfície
Hidrofóbica

Figura 5. Ângulos de contato de líquidos apolares e polares para determinação de energia de superfície

TEORIA DE ZISMAN

Talvez, a definição de energia de superfície mais largamente utilizada é a atribuída a Zisman. W. A


Zisman, em 1961, definiu energia de superfície de um sólido como sendo igual a mais alta tensão
superficial de um líquido (real ou imaginário) capaz de umectar complemente a superfície do sólido com
um ângulo de contato de zero graus. Isto decorre da forte tendência observada do ângulo de contato
diminuir tanto quanto diminui a tensão superficial do líquido sobre a mesma amostra de sólido. A
conhecida equação de Young, assumindo que a influência do vapor sobre a superfície do sólido é
negligenciável, isto é, π = 0, mostra que:
γ S = γ SL + γ L cos θ
Infelizmente, da equação acima somente γL e θ são medidos experimentalmente e, para contornar
o problema da determinação dos outros componentes da equação de Young, Zisman e seus
colaboradores plotaram valores de cos θ versos γL para uma serie homóloga de líquidos sobre um dado
sólido e encontrou que, geralmente, obtêm-se uma linha reta e introduziu o conceito de tensão superficial
crítica de molhamento (γC). Esta quantidade empírica é definida como o valor da tensão interfacial
líquido/vapor que intercepta o eixo horizontal no gráfico cos θ versos γL, isto é, cos θ = 1. De acordo
com a teoria de Zisman, este valor (tipicamente expresso na unidade mN/m) é igual à energia de
superfície do mencionado sólido.
Abaixo um exemplo de aplicação desta teoria, consideremos os seguintes dados de ângulo de
contato, os quais foram obtidos, por vários líquidos, sobre uma superfície não tratada de polietileno de
baixa densidade:

Líquido em teste Tensão Superficial (mN/m) Ângulo de Contato Polietileno


n- pentano 15,4 0
n-hexano 18,4 0
n-heptano 19,9 0
n-octano 21,3 0
n-decano 23,8 18,5
Ciclohexano 25,5 28,2
n-tetradecano 26,4 32,1
Tolueno 28,4 38,7
Álcool benzílico 39,0 63,7
Etileno glicol 47,7 81,1
Tabela 1. Tensão superficial e ângulo de contato do polietileno

O gráfico de Zisman abaixo (baseado nos dados acima) mostra que polietileno tem uma energia de
superfície de 22,8 mN/m. A confiança neste valor vem na forma do coeficiente linear (r2) para a linha que
extrapola ângulos de contato > 0 para cos θ = 1 (θ = 0). Para os dados acima se obteve r2 = 0,999.

Surface energy 22,8 m/Nm

Gráfico 1. Zisman sob uma superfície de polietileno de baixa densidade

Outro exemplo de aplicação da teoria de Zisman, superfície polimérica de poli (metil metacrilato) e
os seguintes ângulos de contatos foram encontrados pela série de líquidos abaixo.

Líquido em teste Tensão superficial (mN/m) Ângulo de Contato poli (metil metacrilato)

n-hexano 18,4 0
n-heptano 19,9 0
n-octano 21,3 0
Ciclohexano 25,5 0
n-tetradecano 26,4 0
Tolueno 28,4 0
Nitrometano 36,5 16,5
Benzoato de metila 37,2 3,9
Álcool benzílico 39,0 15,1
Etileno glicol 47,7 46,7
Formamida 57,0 64,1
Glicerol 63,4 61,5
Água 72,8 75,6
Tabela 2. Tensão superficial e ângulo de contato do poli (metil metacrilato)
Abaixo o gráfico correspondente aos dados mostrados acima. Pelo gráfico verifica-se que o valor
de energia de superfície do poli (metil metacrilato) é 35,0 mN/m, contudo, o fator de confiança, medido
através do coeficiente linear (r2 = 0,9467) não é significativamente alto.

Surface energy 35,0 m/Nm

Gráfico 2. Zisman sob uma superfície de poli (metil metacrilato)

A teoria de Zisman não se aplica tão bem ao poli (metil metacrilato) como o polietileno devido à
funcionalidade Acrilato na estrutura do polímero metacrilato. Interações dipolo-dipolo e mesmo ligações de
hidrogênio são possíveis entre muitos dos líquidos em teste no poli (metil metacrilato). Em ciência de
superfície estas interações são referidas como interações polares e essas são muito mais fortes do que as
interações dispersiva γ d (apolar) (tipo Van der Waals), as quais surgem em superfícies completamente
hidrofóbicas tais como polietileno.
Visto que superfícies de poli (metil metacrilato) são capazes de interações com líquidos do tipo
γ (polar) e cada líquido do conjunto escolhido possui diferentes potenciais para interações γ (polar) o
método de Zisman se torna uma ferramenta inadequada.
Em geral a teoria de Zisman funciona melhor para superfícies não-polares γ d(apolar), como
polietileno e polipropileno sendo que outras superfícies poliméricas podem também ser estudadas através
da teoria de Zisman, contudo se a superfície é significativamente γ (polar) o método de Zisman se torna
inadequado. Outras superfícies poliméricas que possuem heteroátomos demonstrarão características
γ d (apolar), como por exemplo as poliamidas, poliéster, poliacrilatos, policarbonatos etc.
A teoria de Zisman é inadequada para superfícies como vidros, cerâmicas, metais e isto se deve ao
fato por ser um modelo monoparamétrico pois entende-se que a energia de superfície é caracterizada por
somente um único valor, a tensão superficial do líquido e não leva em conta interações superficiais
especificas líquido/sólido.

TEORIA DE FOWKES

A teoria de Fowkes funciona muito bem para superfícies de polaridade moderada onde descreve a
Energia de Superfície de um sólido como sendo composta de dois componentes, sendo as componentes
dispersiva γ d (apolar) e a γ (polar). Do ponto de vista matemático as teorias de Zisman e Fowkes são
semelhantes, sendo que a principal diferença é a abordagem do fenômeno do estudo das componentes. A
teoria de Fowkes está baseada em três equações fundamentais, as quais descrevem interações entre o
líquido e a superfície do sólido, como seguem:

Equação de Young
γ S = γ SL + γ L cosθ
Onde:
γL = Tensão superficial do líquido
γSL = Tensão interfacial entre o sólido e o líquido
θ = Ângulo de contato entre o líquido e o sólido
Fowkes também desenvolveu uma teoria para trabalho de adesão entre sólido e líquido somando as
influências de interações das componentes dispersiva γ d (apolar) e γ (polar) entre as duas fases.

WSL = 2 γ LD [( ) ⋅ (γ ) + (γ ) ⋅ (γ )
1
2 D
S
1
2 P
L
1
2 P
S
1
2
]
Onde:

WSL = Trabalho de adesão por unidade de área entre o líquido e a superfície do sólido
γLD = Componente dispersiva apolar da tensão superficial do líquido
γLP = Componente polar da tensão superficial do líquido

Essas equações são combinadas para formar a equação primaria da teoria de energia de
superfície de Fowkes:
γ L (cosθ + 1)
(γ ) ⋅ (γ ) + (γ ) ⋅ (γ )
D
L
1
2 D
S
1
2 P
L
1
2 P
S
1
2
=
2
A primeira etapa para determinação da energia de superfície de sólidos usando a teoria de Fowkes
é testar o ângulo de contato com um líquido que tenha somente a componente γ (polar) em sua tensão
superficial, isto é, um líquido para o qual γLP = 0, para que se tenha γLD = γL. Neste caso, a equação
primária se reduz a:
γ L (cosθ + 1)2
γ = D
S
4
Sendo γSD pode ser calculada diretamente do ângulo de contato obtido.

A segunda etapa é testar o sólido por ângulo de contato usando líquido que tenha tanto a
componente dispersiva γ (polar) em sua tensão superficial. Conhecendo os valores de ambas
componentes da tensão superficial, o ângulo de contato que do líquido sobre o sólido, e γSD (calculado
segundo a equação acima), torna-se simples a determinação de γSP através da equação primária:
γ L (cosθ + 1)
(γ ) ⋅ (γ ) + (γ ) ⋅ (γ )
D
L
1
2 D
S
1
2 P
L
1
2 P
S
1
2
=
2
Sendo que γSP é a única incógnita.
A energia de superfície global γS é calculada: γS = γSP + γSD
Tipicamente, a teoria de Fowkes é aplicada usando dados de ângulo de contato de dois líquidos:

Líquido γL D γL P γL (mN/m)
Água 26,4 49,2 75,6
Diiodometano 50,8 2,8 53,6
Tabela 3. Tensão superficial dos Líquidos γL D (Diodometano) e γL P(Água)

Superfície Ângulo de contato Energia de Superfície (mN/m) Dyn/cm


Água Diodometano γS D
γS P
γS γC
Poli (cloreto de vinila) 87 36 40,0 1,5 41,5 39
Polivinil fluoreto 80 49 31,3 5,4 36,7 28
Politetrafluoretileno 108 88 12,5 1,5 14,0 18,5
Poli etileno tereftalato 81 38 37,8 3,5 41,3 43
Poli metilmetacrilato 80 41 35,9 4,3 40,2 39
Nylon 6-6 70 41 34,1 9,1 43,2 46
Poliestireno 91 35 41,4 0,6 42,0 43
Parafina 108 66 25,4 0,0 25,4 23
Tabela 4. Tensão superficial e ângulo de contato em diversas superfícies
A teoria de Fowkes pode, alternativamente, ser usada com múltiplos líquidos tendo somente a
componente dispersiva, bem como líquidos que têm ambas as componentes, linearizando a equação
primária em cada caso. Contudo, na prática, é muito difícil encontrar líquidos que possuam somente a
componente dispersiva a fim de torná-la útil.
A teoria de Fowkes é particularmente adequada para estudar modelos de adesivos e solucionar
problemas de recobrimentos, muitos químicos formuladores utilizam esta ferramenta para caracterizar a
energia de superfície de substratos, bem como as componentes da tensão superficial por esse modelo.
Igualmente é possível determinar a energia entre adesivo ou recobrimento pela própria definição de
trabalho de adesão de Fowkes (WSL).
A definição de energia de adesão de Fowkes prevê que ocorrerá intensa adesão em substratos,
com um dado percentual de energia de superfície, for umectada com adesivo ou recobrimento de mesma
polaridade. O método de Fowkes, portanto, fornece elementos para um guia confiável de tratamento de
substratos e decisões visando modificações de adesivos ou recobrimentos a fim de obter aderência em
determinados substratos.
No exemplo do poli (metil metacrilato), o ângulo de contato para Diiodometano medido é θ 53,60 e
usando este valor para calcular a componente dispersiva da energia de superfície, obtém-se γSD = 32,2
mN/m. Usando este valor, o ângulo de contato para água sobre este mesmo sólido, acha-se θ 75,60 e, a
componente polar para a energia de superfície será γSP = 5,7 mN/m. Comparando com os resultados
obtidos pela teoria de Zisman onde as melhores interações são somente entre os líquidos e superfícies
não-polares, sua teoria não nos permite o cálculo das componentes dispersivas γSD e γSP, fornecendo
somente a energia de superfície total γS (mN/m). Conclui-se então que o modelo de Fowkes, avalia
perfeitamente a superfície do poli (metil metacrilato) e requer menos experimentos para obter o mesmo
resultado.

PEGA DE SUJEIRA POR FORÇAS DE VAN DER WAALS

Quando falamos de pega de sujeira em película de tinta arquitetônica por afinidade da parte γ d
(apolar) ao monóxido de carbono (CO) presente nesta fuligem a mesma não é removida facilmente
(chuvas) pelo fato da energia de ligação existente entre ambas, essa energia se dá através da ligação
interatômica mais fraca, isto é, com menor energia de ligação, é a chamada ligação de Van der Waals.
Ela ocorre entre átomos neutros, átomos de gases nobres (He, Ne, Ar, Kr, Xe, Rn), entre moléculas
não-polares e, de forma geral, em todos os líquidos e sólidos. Entretanto, ela somente tem importância
quando não existem outros tipos de ligações químicas presentes. As ligações de Van der Waals são mais
fracas que as ligações intermoleculares de moléculas polares, como o HCl que não formam ligações de
hidrogênio. Ligações de tipo Van der Waals são também mais fracas que as ligações intermoleculares
entre uma molécula apolar e outra polar, pois a molécula polar induzirá polaridade na molécula apolar.
Estas observações não devem reduzir a importância do fenômeno da teoria de Van der Waals, pois
com esta teoria é possível descrever um grande número de fenômenos físicos, tais como os fenômenos de
superfície. As ligações de Van der Waals são também importantes na determinação da estrutura e de
propriedades de polímeros naturais e biológicos e são, muitas vezes, suficientemente fortes para
determinar os arranjos finais de grupos de átomos nos sólidos. O carvão ativado que será utilizado no
teste de laboratório como o contaminante (fuligem), é o resultado das forças atrativas chamadas Van der
Waals em função da adsorção física, cujos níveis de energia são próximos entre o contaminante e a
superfície (película de tinta arquitetônica).

DETERMINAÇÃO DE ENERGIA DE SUPERFÍCIE

Determinaremos a energia de superfície em película de tinta arquitetônica através do equipamento


a equipamento Drop Shape Analyzer – DSA100S.

Procedimento de preparação de corpos de prova:


Estender 3 filmes de tinta para cada amostra de tinta com auxílio de um extensor de barra de 600
mµ, em uma placa de vidro 10cm x 10cm x 0,5 cm.
Manter o corpo de prova em sala climatizada (25 ± 2 ℃ e umidade relativa 50 ± 5%) por 7 dias.

Cálculo da Tensão superficial dos líquidos:


Ajustar o ângulo do equipamento para 0º;
Selecionar o líquido que será usado no teste (água e posteriormente diiodometano);
Ajustar: foco, zoom e iluminante do equipamento;
Medir a espessura da agulha, com auxílio de um micrômetro;
Informar o valor da espessura da agulha no setting do equipamento e em seguida dosar uma
quantidade do líquido, a fim de que se forme a maior gota possível, na agulha da seringa;
Calcular a tensão superficial do líquido;
Repetir o mesmo procedimento com uso do diiodometano;
Cálculo do ângulo de contato na superfície da película:
Ajustar o ângulo do equipamento para 2º;
Selecionar o líquido que será usado no teste (água e posteriormente diiodometano);
Posicionar o corpo de prova (com tinta aplicada na placa de vidro), no equipamento;
Uma vez que a seringa com água destilada já esteja posicionada no suporte do equipamento dosar
aproximadamente 20 ml na superfície da tinta (volume de uma gota de água);
Ajustar: foco, zoom e iluminante do equipamento (a gota deve ser entre 1/3 e 2/3 da tela do
equipamento);
Manter o baseline fixo (abaixo da gota) e posicionar os demais baselines entre a gota;
Selecionar a opção “magnification”, coletar o valor de ângulo de contato e os valores de tensão
superficial dos líquidos, parte γ d (apolar) e parte γ (polar) da tensão superficial dos líquidos;
Repetir o mesmo procedimento com uso do diiodometano;

RESULTADOS

Líquido γL D γL P γL (mN/m)
Água 19,9 52,2 72,1
Diiodometano 47,4 2,6 50,0
Tabela 5: Tensão superficial dos Líquidos γL D (Diodometano) e γL P(Água)

Revestimento γSD γSP γS (mN/m)


Película propriedade: Nano-Sílica 2,6 71,8 74,4
Película propriedade: Acrílica 22,9 29,1 52,1
Película propriedade: Elastomérica 26,9 9,3 36,1
Tabela 6: Resultado de energia de superfície

DETERMINANDO A PEGA DE SUJEIRA NA SUPERFÍCIE DE UMA PELÍCULA DE TINTA


ARQUITETÔNICA

Carvão ativado será utilizado como fonte de contaminação para este método, sendo o mesmo
pulveriverizado manualmente sobre a superfície do corpo de prova. Passados 10 minutos após aplicação,
o do corpo de prova será lavado com água com o volume de água requerida. A redução no valor da
reflectância Y(%) determinará a resistência à sujidade da película de tinta arquitetônica.

PROCEDIMENTO

Estender 3 filmes de tinta para cada amostra de tinta com auxílio de um extensor de barra de 600
mµ, em uma placa de vidro 10cm x 10cm x 0,5 cm;
Manter o corpo de prova em sala climatizada (25 ± 2 ℃ e umidade relativa 50 ± 5%) por 7 dias;
Medir os valores médios iniciais de reflectância Y em 3 diferentes pontos do corpo de prova;
Pulverizar uniformemente o carvão ativado na superfície do corpo de prova em posição horizontal e
mantê-lo durante 2 horas;
Adicionar 15 litros de água potável no reservatório, abrir a válvula com uma vazão de 1 litro /
minutos;
Durante a lavagem, mover o corpo de prova para se certificar de toda área esteja sendo lavadas;
Manter corpo de prova secar por 24 horas em sala climatizada (25 ± 2 ℃ / umidade relativa 50 ±
5%);
Medir os valores de reflectância Y em 3 diferentes pontos do corpo de prova;
Repetir esse procedimento nos 3 corpos de prova e tirar a média dos valores de reflectância Y(%);

CÁLCULO

O método de pega de sujeira resistência à sujidade do revestimento é expressa como:


X = 100 × (A-B) / A

A: O valor inicial da reflectância Y antes o teste de pega de sujeira;


B: O valor final da reflectância Y após o teste de pega de sujeira;
X: A redução na reflectância Y(%);
Considerar o resultado a média Y valor da reflectância dos 3 corpos de prova,

1: Reservatório de água;
2: Saída de água com diâmetro interno de 8 milímetros;
3: Suporte 450 do corpo de prova;
4: Corpo de prova;

Figura 6. Aparelho de lavagem

RESULTADOS

Revestimento X Redução da reflectância Y(%);


Película propriedade: Nano-Sílica 15,26
Película propriedade: Acrílica 22,75
Película propriedade: Elastomérica 53,92
Tabela 7: Resultado de energia de superfície
FOTOS
Película propriedade: Acrílica Película propriedade: Nano-Sílica Película propriedade: Elastomérica

Figura 7. Corpos de prova antes da pulverização do carvão ativado

Película propriedade: Acrílica Película propriedade: Nano-Sílica Película propriedade: Elastomérica

Figura 8. Corpos de prova depois da pulverização / lavagem do carvão ativado

DETERMINACÃO PRÁTICA DE PEGA DE SUJEIRA NA SUPERFÍCIE DE UMA PELÍCULA DE TINTA


ARQUITETÔNICA

Com o objetivo de correlacionar a teoria e a prática, aplicamos os mesmos revestimentos de tintas


imobiliárias convencionais, elastoméricas e com nano-partículas, para exposição em ambientes externos
em grandes centros comerciais como por exemplo São Paulo – Capital, onde a concentração de fuligem
fonte monóxido de carbono (CO).
Com 3 meses de exposição as películas de tintas dos revestimentos submetidos a testes
apresentam os mesmos resultados dos ensaios de pega de sujeira com carvão ativado em menor
intensidade, reforçando a tese que nos revestimentos de maior afinidade a energia de superfície com parte
dispersiva γ d (apolar) apresentarão maior pega de sujeira.

FOTOS
Película propriedade: Nano-Sílica Película propriedade: Acrílica Película propriedade: Elastomérica

Figura 9. Corpos de provas – exposição natural – 3 meses

COEFICIENTE DE ABSORTÁNCIA RELACIONADO A RADIAÇÃO SOLAR

As edificações de cidades grandes sofrem interferência de fontes de calor internas (aparelhos


elétricos ou térmicos) e de fontes externas como a radiação solar, chuvas e ventos. Como principal fonte
de interferência externa, tem-se a radiação solar que quanto maior o grau de incidência, maior será a
energia gerada, podendo alterar a temperatura da superfície externa e interna do ambiente. Revestimentos
e tratamentos industriais podem ajudar a diminuir o impacto da radiação solar incidida nas superfícies.
Neste caso, a pintura é uma solução muito utilizada e quanto mais clara ou como menor constante de
luminosidade, melhor refletirá a luz solar, ou seja, menor será a quantidade de energia absorvida por
aquela superfície.
A cor, em superfícies que recebem radiação solar, pode ser utilizada para minimizar ou acentuar
sensações térmicas. O conforto térmico de edificações com pintura em cores escuras e intensas, por
exemplo, pode ser relacionado com a irradiação solar que é absorvida durante o dia e que passa a ser
armazenada no interior da edificação durante a noite, já que a energia dissipada em cores escuras é
menor do que a energia absorvida por elas.
Cores com alto coeficiente de refletância podem ajudar na diminuição de energia elétrica e energia
para o condicionamento de ar, que em regiões quentes, se faz necessário para ambientes que recebem
exposição diária as radiações solares. Conforme dados retratados na resenha mensal do mercado de
energia elétrica, em maio, o consumo de energia nas residências brasileiras caiu 2,5% e no setor de
comércio e serviços cresceu 0,5% em relação ao mesmo mês do ano passado, atingindo 10.610 GWh e
7.296 GWh, respectivamente. Esse declínio no consumo de energia elétrica se deu primeiramente pela
queda de temperaturas, ou seja, o consumo de condicionamento de ar diminuiu e pelo aumento das tarifas
energéticas instituídas no começo desse ano de 2015.
A tendência é que nos meses mais quentes o consumo de energia elétrica cresça
proporcionalmente e cada vez mais a população busque alternativas para minimizar os efeitos térmicos
levando em consideração o custo mais baixo e soluções que contribuam para que futuramente o pais não
sofra com possíveis faltas de energia elétrica oriunda de hidroelétricas que por sua vez utilizam a água
como principal fonte de geração de energia. A influência da radiação solar em superfícies está relacionada
ao processo de troca térmica e transferência de calor. Para a energia radiante o espectro eletromagnético
abrange sua teoria, sendo a distribuição da intensidade da radiação eletromagnética com relação ao seu
comprimento de onda ou frequência.
Figura 10. Espectro eletromagnético

Considerando todo o espectro eletromagnético, a luz é o intervalo em que o sistema visual pode
detectar. Sendo assim, a energia radiante depende do comprimento de onda e frequência ao longo de
todo o espectro.
λ=c/f, sendo λ energia radiante, c o comprimento de onda e f a frequência.

Para o espectro solar, a radiação incidente na terra é oriunda de três fontes, ultravioleta, visível e
infravermelho e esse espectro, em sua teoria, tem como base o espectro eletromagnético. A absortância é
uma propriedade termofísica que interfere na condução de calor em uma superfície, sendo o quociente da
taxa de radiação solar absorvida por uma superfície pela taxa de radiação solar incidente sobre esta
mesma superfície. Superfícies opacas absorvem uma parte de energia e refletem outra.

α+ρ=1, sendo α a absortância e ρ refletância

Para definir cores claras, médias e escura, utilizamos o conceito de luminosidade, eixo
colorimétrico do espectro CIE L*a*b*, e é utilizado para referenciar as cores em um espaço de cor RGB,
em um modo mais intuitivo e compreensível ao olho humano e como forma de medição, temos:

Cores Luminosidade α Absortância


Claras 100% a 70% 0,3
Médias 70% a 40% 0,5
Escuras 40% a 0% 0,7
Tabela 8: Luminosidade x Absortância
Como forma de visualização o sistema CIEL*a*b* compõe constantes que indicam luminosidade,
saturação e tonalidade, além das cores vermelho, verde, azul e amarelo. Essas constantes são
denominadas por: H = tonalidade; C = saturação; L* = luminosidade;
a* = verde/vermelho; b* = amarelo/azul.

Figura 11. Sistema CIE L*a*b*

Portanto cores com alta luminosidade, ou seja, L positivo são cores que sofrem menor influência no
aumento de temperatura quando a radiação solar é incidente em uma superfície, já as cores escuras,
como o preto por exemplo, são as cores que sofreram maior influência no aumento da temperatura, tendo
sua refletância inferior a 40% comparado com cores claras que têm sua refletância em torno de 70% ou
superior.
A luminosidade e tonalidade estão ligadas ao fato de maior ou menor absortância de radiação a luz
solar, um fato relevante quando estudado superfícies externas é a pega de sujeira, ou seja, quanto mais a
superfície adsorver sujeira maior será sua constante de luminosidade e consequentemente menor será
sua refletância da irradiação solar, que será inversamente proporcional a absortância da mesma radiação,
portanto quanto mais suja a superfície, maior será a sensação de calor e nesse contexto, superfícies com
menor adsorção de sujeira.

CONCLUSÃO
Este estudo demonstra a efetividade da correlação da teoria de Zisman na análise da energia de
superfície a pega de sujeiras orgânicas (fuligem) a superfície de uma película de tinta que possui menor
energia de superfície composta preponderantemente pela sua parte dispersiva γ d (apolar), impactando
diretamente a redução da reflectância Y. Portanto ao Químico – Analista que se deparar com tal
propriedade na superfície da película de sua respectiva tinta, a análise de energia de superfície pela teoria
de Fowkes é totalmente indicada para análise e caracterização das partes dispersiva γ d (apolar) e γ
(polar),auxiliando a resolver e/ou prever problemas sem necessitar de extensos testes naturais e
empíricos.

REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. So you want to measure surface energy? Rulison, Christopher, KRUSS Laboratory Services and
Instrumentation for Surface Science, (1998).
2. W. A. Zisman, Ind. Eng. Chemical, 55, 18 (1963).
3. Relation of Equilibrium Contact angle to liquid and solid Constitution; W.A. Zisman, ACS Advances
in Chemistry Series, 43, 1-51 (1964)
4. Estimation of Surface Free energy of Polymers, D. K. Owens; R.C. Wendt, Journal of Applied
Polymer Science. 13, 1741-1744(1969).
5. Contact angle and the surface free energy of solids, Good, R.J. Surface and Colloids Science, 11,
(1979)
6. Fowkes, F.M., Industrial and Engineering Chemistry, 56, 12,40 (1964)
7. CASTRO, A.P.A.S.; LABAKI, L.C.; CARAM; R.M.; BASSO, A. Medidas de refletância de cores
de tintas através de análise espectral. In: ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO
AMBIENTE CONSTRUÍDO, 6., 2001, São Pedro, SP. Anais.... Campinas, p. 285-286. CD-ROM.
8. GRANJA, A.D. Transmissão de calor em regime periódico: efeito da inércia térmica em
fechamentos opacos. Campinas, 2002. 121 f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Faculdade
de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas.

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