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PEGA DE SUJEIRA
INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é aplicar a teoria de Zisman na análise da Energia de Superfície de uma
película de tinta, correlacionando as características de seus respectivos valores a propriedade de pega de
sujeira. A conceito é combinar resultados de ângulos de contatos de líquidos sobre uma determinada
superfície de revestimento em tintas imobiliárias a fim de correlacionar através de suas características
dispersiva γ d (apolar) e γ (polar) a pega de sujeira por poluição orgânica (fuligem). Medidas de energia
de superfície de líquidos são relativamente simples e diretas de serem determinadas, contudo a
determinação de energia de superfície de sólidos não é tão simples pois não pode ser medida
diretamente, ela é calculada através de um conjunto de valores de ângulos de contato entre a interface
líquido-sólido.
Zisman, em 1961, definiu energia de superfície de um sólido como sendo igual a mais alta tensão
superficial de um líquido (real ou imaginário) capaz de umectar completamente a superfície deste sólido.
Isto é determinado através da medida do ângulo de contato formado entre a interface do sólido com o
líquido, ou uma diminuição do ângulo de contato a medida em que diminui a tensão superficial entre o
líquido e a superfície sólida.
Com o auxílio desta técnica prepararmos corpos de prova revestidos com tintas imobiliárias
convencionais, elastoméricas e com nano-partículas, e fizemos a medida de energia de superfície dos
respectivos revestimentos, além de determinar a composição da parte dispersiva γ d (apolar) e γ (polar).
Aplicamos o conceito de afinidade de polaridade entre materiais, considerando apenas a poluição como
sujeira orgânica, por exemplo a fuligem, um dos poluentes mais frequentes em nosso meio onde em tese
temos nos revestimentos com maior afinidade da parte dispersiva γ d (apolar) ao monóxido de carbono
(CO) presente nesta fuligem, portanto maior pega de sujeira. Estes resultados são muito relevantes porque
representam um avanço no conhecimento na área de formulação de tintas que auxiliará a resolver e/ou
prever problemas sem necessitar de extensos testes naturais e empíricos.
Historicamente, o conceito de Tensão Superficial foi desenvolvido pela primeira vez no século
XVIII e utiliza os conceitos de hidrostática para explicar a ascensão capilar e tem por definição o efeito
físico que ocorre na interface entre duas fases químicas capaz de gerar camadas diferenciadas entre
líquidos, modificando o comportamento da espessura de um líquido, fazendo com que os mesmos se
comportem de maneiras adversas à sua convenção natural.
A Tensão Superficial é capaz de gerar uma espécie de membrana elástica na própria água, o
fenômeno situa as moléculas do interior de um líquido dentro da atração multidirecional, considerando que
as mesmas possam se unir às moléculas vizinhas e alterar seu comportamento superficial. As moléculas
da superfície do líquido sofrem atrações laterais e internas, fornecendo uma dinâmica diferenciada entre o
encaixe dos fluidos. O responsável pelo comportamento elástico, que pode ser comparado a um látex, é a
falta de balanço entre forças de atração que modifica a interface destas superfícies (Figura 1).
Energia de superfície pode ser mais facilmente compreendida usando um líquido onde seus
átomos e moléculas do líquido podem se mover livremente procurando ocupar uma posição de menor
energia potencial, ou seja, um lugar onde eles as forças (atrativas e repulsivas) agem em todas as
direções estejam em equilíbrio. Por outro lado, as partículas na superfície do material experimentam
apenas forças dirigidas para dentro do líquido (Figura 3), devido a isto, as superfícies são sempre regiões
de maior energia e é justamente a diferença entre as energias das espécies na superfície e no interior do
material que se denomina energia de superfície ou tensão interfacial.
De acordo com o princípio da menor energia, a natureza tende sempre a um estado de mínima
energia. É por esta razão, por exemplo, que uma gota de água tende à forma esférica, pois esta é a forma
geométrica de mesmo volume com a menor área superficial, sendo da mesma forma, a adesão de um
material sobre outro será tanto melhor quando maiores forem as energias de superfícies envolvidas.
Por definição, a energia de superfície (γ ) é o trabalho necessário para se criar uma unidade de
área e a unidade de medida usada é Joule (J/m2) que equivale a 1N/m, usada para tensão superficial. O
fato de que a força por unidade de comprimento equivale a energia por unidade de área, pode ser
verificada através do experimento abaixo (Figura 4), pelo comportamento de uma película de sabão em
uma moldura de arame, que pode ser puxada. Sendo que a energia de superfície (γ ) é a tensão superficial
do sabão-ar que gera força f=2γ l necessária para manter em repouso a peça móvel do arame (há duas
superfícies do sabão-ar que resistem a F. A de superfície é a energia necessária para aumentar a área
superficial. Se o arame for movido para direita de uma distância dx, será a área 2.l.dx às custas do
trabalho f.dx (2). A tensão superficial será, portanto:
(1) Josiah Wiliard Gibbs (1839 – 1903), físico norte-americano pioneiro na utilização da termodinâmica para interpretar fenômenos físico-
químicos.
(2) Usualmente a letra W é utilizada para simbolizar a grandeza física trabalho. W=F*d, onde F é a força e d é a distâncias. Uma das unidades
utilizadas é joule (J).
Superfície
Molhabilidade Maior energia de Hexano em polietileno
Super
total superfície Água em ouro
Hidrofílica
Totalmente Superfície
Menor energia de
não molhável Super 1800 Não é possível com a gravidade
superfície
Hidrofóbica
Figura 5. Ângulos de contato de líquidos apolares e polares para determinação de energia de superfície
TEORIA DE ZISMAN
O gráfico de Zisman abaixo (baseado nos dados acima) mostra que polietileno tem uma energia de
superfície de 22,8 mN/m. A confiança neste valor vem na forma do coeficiente linear (r2) para a linha que
extrapola ângulos de contato > 0 para cos θ = 1 (θ = 0). Para os dados acima se obteve r2 = 0,999.
Outro exemplo de aplicação da teoria de Zisman, superfície polimérica de poli (metil metacrilato) e
os seguintes ângulos de contatos foram encontrados pela série de líquidos abaixo.
Líquido em teste Tensão superficial (mN/m) Ângulo de Contato poli (metil metacrilato)
n-hexano 18,4 0
n-heptano 19,9 0
n-octano 21,3 0
Ciclohexano 25,5 0
n-tetradecano 26,4 0
Tolueno 28,4 0
Nitrometano 36,5 16,5
Benzoato de metila 37,2 3,9
Álcool benzílico 39,0 15,1
Etileno glicol 47,7 46,7
Formamida 57,0 64,1
Glicerol 63,4 61,5
Água 72,8 75,6
Tabela 2. Tensão superficial e ângulo de contato do poli (metil metacrilato)
Abaixo o gráfico correspondente aos dados mostrados acima. Pelo gráfico verifica-se que o valor
de energia de superfície do poli (metil metacrilato) é 35,0 mN/m, contudo, o fator de confiança, medido
através do coeficiente linear (r2 = 0,9467) não é significativamente alto.
A teoria de Zisman não se aplica tão bem ao poli (metil metacrilato) como o polietileno devido à
funcionalidade Acrilato na estrutura do polímero metacrilato. Interações dipolo-dipolo e mesmo ligações de
hidrogênio são possíveis entre muitos dos líquidos em teste no poli (metil metacrilato). Em ciência de
superfície estas interações são referidas como interações polares e essas são muito mais fortes do que as
interações dispersiva γ d (apolar) (tipo Van der Waals), as quais surgem em superfícies completamente
hidrofóbicas tais como polietileno.
Visto que superfícies de poli (metil metacrilato) são capazes de interações com líquidos do tipo
γ (polar) e cada líquido do conjunto escolhido possui diferentes potenciais para interações γ (polar) o
método de Zisman se torna uma ferramenta inadequada.
Em geral a teoria de Zisman funciona melhor para superfícies não-polares γ d(apolar), como
polietileno e polipropileno sendo que outras superfícies poliméricas podem também ser estudadas através
da teoria de Zisman, contudo se a superfície é significativamente γ (polar) o método de Zisman se torna
inadequado. Outras superfícies poliméricas que possuem heteroátomos demonstrarão características
γ d (apolar), como por exemplo as poliamidas, poliéster, poliacrilatos, policarbonatos etc.
A teoria de Zisman é inadequada para superfícies como vidros, cerâmicas, metais e isto se deve ao
fato por ser um modelo monoparamétrico pois entende-se que a energia de superfície é caracterizada por
somente um único valor, a tensão superficial do líquido e não leva em conta interações superficiais
especificas líquido/sólido.
TEORIA DE FOWKES
A teoria de Fowkes funciona muito bem para superfícies de polaridade moderada onde descreve a
Energia de Superfície de um sólido como sendo composta de dois componentes, sendo as componentes
dispersiva γ d (apolar) e a γ (polar). Do ponto de vista matemático as teorias de Zisman e Fowkes são
semelhantes, sendo que a principal diferença é a abordagem do fenômeno do estudo das componentes. A
teoria de Fowkes está baseada em três equações fundamentais, as quais descrevem interações entre o
líquido e a superfície do sólido, como seguem:
Equação de Young
γ S = γ SL + γ L cosθ
Onde:
γL = Tensão superficial do líquido
γSL = Tensão interfacial entre o sólido e o líquido
θ = Ângulo de contato entre o líquido e o sólido
Fowkes também desenvolveu uma teoria para trabalho de adesão entre sólido e líquido somando as
influências de interações das componentes dispersiva γ d (apolar) e γ (polar) entre as duas fases.
WSL = 2 γ LD [( ) ⋅ (γ ) + (γ ) ⋅ (γ )
1
2 D
S
1
2 P
L
1
2 P
S
1
2
]
Onde:
WSL = Trabalho de adesão por unidade de área entre o líquido e a superfície do sólido
γLD = Componente dispersiva apolar da tensão superficial do líquido
γLP = Componente polar da tensão superficial do líquido
Essas equações são combinadas para formar a equação primaria da teoria de energia de
superfície de Fowkes:
γ L (cosθ + 1)
(γ ) ⋅ (γ ) + (γ ) ⋅ (γ )
D
L
1
2 D
S
1
2 P
L
1
2 P
S
1
2
=
2
A primeira etapa para determinação da energia de superfície de sólidos usando a teoria de Fowkes
é testar o ângulo de contato com um líquido que tenha somente a componente γ (polar) em sua tensão
superficial, isto é, um líquido para o qual γLP = 0, para que se tenha γLD = γL. Neste caso, a equação
primária se reduz a:
γ L (cosθ + 1)2
γ = D
S
4
Sendo γSD pode ser calculada diretamente do ângulo de contato obtido.
A segunda etapa é testar o sólido por ângulo de contato usando líquido que tenha tanto a
componente dispersiva γ (polar) em sua tensão superficial. Conhecendo os valores de ambas
componentes da tensão superficial, o ângulo de contato que do líquido sobre o sólido, e γSD (calculado
segundo a equação acima), torna-se simples a determinação de γSP através da equação primária:
γ L (cosθ + 1)
(γ ) ⋅ (γ ) + (γ ) ⋅ (γ )
D
L
1
2 D
S
1
2 P
L
1
2 P
S
1
2
=
2
Sendo que γSP é a única incógnita.
A energia de superfície global γS é calculada: γS = γSP + γSD
Tipicamente, a teoria de Fowkes é aplicada usando dados de ângulo de contato de dois líquidos:
Líquido γL D γL P γL (mN/m)
Água 26,4 49,2 75,6
Diiodometano 50,8 2,8 53,6
Tabela 3. Tensão superficial dos Líquidos γL D (Diodometano) e γL P(Água)
Quando falamos de pega de sujeira em película de tinta arquitetônica por afinidade da parte γ d
(apolar) ao monóxido de carbono (CO) presente nesta fuligem a mesma não é removida facilmente
(chuvas) pelo fato da energia de ligação existente entre ambas, essa energia se dá através da ligação
interatômica mais fraca, isto é, com menor energia de ligação, é a chamada ligação de Van der Waals.
Ela ocorre entre átomos neutros, átomos de gases nobres (He, Ne, Ar, Kr, Xe, Rn), entre moléculas
não-polares e, de forma geral, em todos os líquidos e sólidos. Entretanto, ela somente tem importância
quando não existem outros tipos de ligações químicas presentes. As ligações de Van der Waals são mais
fracas que as ligações intermoleculares de moléculas polares, como o HCl que não formam ligações de
hidrogênio. Ligações de tipo Van der Waals são também mais fracas que as ligações intermoleculares
entre uma molécula apolar e outra polar, pois a molécula polar induzirá polaridade na molécula apolar.
Estas observações não devem reduzir a importância do fenômeno da teoria de Van der Waals, pois
com esta teoria é possível descrever um grande número de fenômenos físicos, tais como os fenômenos de
superfície. As ligações de Van der Waals são também importantes na determinação da estrutura e de
propriedades de polímeros naturais e biológicos e são, muitas vezes, suficientemente fortes para
determinar os arranjos finais de grupos de átomos nos sólidos. O carvão ativado que será utilizado no
teste de laboratório como o contaminante (fuligem), é o resultado das forças atrativas chamadas Van der
Waals em função da adsorção física, cujos níveis de energia são próximos entre o contaminante e a
superfície (película de tinta arquitetônica).
RESULTADOS
Líquido γL D γL P γL (mN/m)
Água 19,9 52,2 72,1
Diiodometano 47,4 2,6 50,0
Tabela 5: Tensão superficial dos Líquidos γL D (Diodometano) e γL P(Água)
Carvão ativado será utilizado como fonte de contaminação para este método, sendo o mesmo
pulveriverizado manualmente sobre a superfície do corpo de prova. Passados 10 minutos após aplicação,
o do corpo de prova será lavado com água com o volume de água requerida. A redução no valor da
reflectância Y(%) determinará a resistência à sujidade da película de tinta arquitetônica.
PROCEDIMENTO
Estender 3 filmes de tinta para cada amostra de tinta com auxílio de um extensor de barra de 600
mµ, em uma placa de vidro 10cm x 10cm x 0,5 cm;
Manter o corpo de prova em sala climatizada (25 ± 2 ℃ e umidade relativa 50 ± 5%) por 7 dias;
Medir os valores médios iniciais de reflectância Y em 3 diferentes pontos do corpo de prova;
Pulverizar uniformemente o carvão ativado na superfície do corpo de prova em posição horizontal e
mantê-lo durante 2 horas;
Adicionar 15 litros de água potável no reservatório, abrir a válvula com uma vazão de 1 litro /
minutos;
Durante a lavagem, mover o corpo de prova para se certificar de toda área esteja sendo lavadas;
Manter corpo de prova secar por 24 horas em sala climatizada (25 ± 2 ℃ / umidade relativa 50 ±
5%);
Medir os valores de reflectância Y em 3 diferentes pontos do corpo de prova;
Repetir esse procedimento nos 3 corpos de prova e tirar a média dos valores de reflectância Y(%);
CÁLCULO
1: Reservatório de água;
2: Saída de água com diâmetro interno de 8 milímetros;
3: Suporte 450 do corpo de prova;
4: Corpo de prova;
RESULTADOS
FOTOS
Película propriedade: Nano-Sílica Película propriedade: Acrílica Película propriedade: Elastomérica
Considerando todo o espectro eletromagnético, a luz é o intervalo em que o sistema visual pode
detectar. Sendo assim, a energia radiante depende do comprimento de onda e frequência ao longo de
todo o espectro.
λ=c/f, sendo λ energia radiante, c o comprimento de onda e f a frequência.
Para o espectro solar, a radiação incidente na terra é oriunda de três fontes, ultravioleta, visível e
infravermelho e esse espectro, em sua teoria, tem como base o espectro eletromagnético. A absortância é
uma propriedade termofísica que interfere na condução de calor em uma superfície, sendo o quociente da
taxa de radiação solar absorvida por uma superfície pela taxa de radiação solar incidente sobre esta
mesma superfície. Superfícies opacas absorvem uma parte de energia e refletem outra.
Para definir cores claras, médias e escura, utilizamos o conceito de luminosidade, eixo
colorimétrico do espectro CIE L*a*b*, e é utilizado para referenciar as cores em um espaço de cor RGB,
em um modo mais intuitivo e compreensível ao olho humano e como forma de medição, temos:
Portanto cores com alta luminosidade, ou seja, L positivo são cores que sofrem menor influência no
aumento de temperatura quando a radiação solar é incidente em uma superfície, já as cores escuras,
como o preto por exemplo, são as cores que sofreram maior influência no aumento da temperatura, tendo
sua refletância inferior a 40% comparado com cores claras que têm sua refletância em torno de 70% ou
superior.
A luminosidade e tonalidade estão ligadas ao fato de maior ou menor absortância de radiação a luz
solar, um fato relevante quando estudado superfícies externas é a pega de sujeira, ou seja, quanto mais a
superfície adsorver sujeira maior será sua constante de luminosidade e consequentemente menor será
sua refletância da irradiação solar, que será inversamente proporcional a absortância da mesma radiação,
portanto quanto mais suja a superfície, maior será a sensação de calor e nesse contexto, superfícies com
menor adsorção de sujeira.
CONCLUSÃO
Este estudo demonstra a efetividade da correlação da teoria de Zisman na análise da energia de
superfície a pega de sujeiras orgânicas (fuligem) a superfície de uma película de tinta que possui menor
energia de superfície composta preponderantemente pela sua parte dispersiva γ d (apolar), impactando
diretamente a redução da reflectância Y. Portanto ao Químico – Analista que se deparar com tal
propriedade na superfície da película de sua respectiva tinta, a análise de energia de superfície pela teoria
de Fowkes é totalmente indicada para análise e caracterização das partes dispersiva γ d (apolar) e γ
(polar),auxiliando a resolver e/ou prever problemas sem necessitar de extensos testes naturais e
empíricos.
REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas.