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Pontifícia Universidade Católica

Avaliação Final do Curso de Antropologia I,


Introdução à Antropologia

Gabriela Vicente Gonçales


RA00068479
Relações Internacionais
RI-NA-1/2010
Professor Rodrigo Ribeiro

JUNHO/2010
Questão 1 - A primeira parte do curso tratou da articulação entre os
aspectos “naturais” e os “culturais” para a formação do ser humano.
Aponte as principais características desse processo, com ênfase nos
modos de manifestação e controle da violência/irracionalidade humanas –
e quiser, compare com os outros primatas.

Questão 3 - “A variedade de formas de pensamento do homem está


relacionada à existência de modalidades distintas de interação com o
mundo ao seu redor – por exemplo, a crença na bruxaria possibilita um
tipo específico de apaziguamento das relações interpessoais e as práticas
mágicas uma eficácia terapêutica.” Discuta essa proposição, associando-
a à noção de sistema de pensamento.

De acordo com o texto presente no livro “O Enigma do Homem”, de Edagar


Morin, havia anteriormente uma idéia que foi destruída de que natureza e
cultura se opunham. Porém, a evolução desses aspectos no homem se inter-
relacionam. Não existe na natureza nada que seja puramente instinto, é preciso
a prática e aquisição e desenvolvimento cultural.
A evolução biológica que se deu no processo em que começou no primata
para surgir o homem teve continuidade com uma mudança sociocultural, o que
acabou por estimular o desenvolvimento natural. Este, por sua vez, era
juvenilizante, ou seja, com capacidade de criar coisas novas, inovar e manter o
aprendizado, desenvolver habilidades, e ao mesmo tempo era cerebralizante,
onde o cérebro era o epicentro a partir do qual as habilidades se
desenvolveram, onde ser terá maleabilidade cognitiva, criação de alternativas
etc.
Na primeira fase da pré-história, de um pequeno cérebro era possível o
desenvolvimento de uma prática que levasse a tecnologia, uma nova
estruturação se sociedade, a uma cultura. Mas, foi na segunda fase que
começou a haver uma pressão para o desenvolvimento, que houve um
desenvolvimento da complexidade sociocultural. A interação entre o cérebro, o
ambiente, o indivíduo e a espécie levam à evolução. Conforme vai havendo um
desenvolvimento da complexidade social, as relações com o ecossistema
natural vão se tornando mais amplas e complexas também, não podendo,
então, anular seu significado. A economia, aspecto cultural do homem,
depende de aspectos naturais e biológicos, e qualquer mudança que haja no
ecossistema a afetará, repercutindo, posteriormente, sobre a própria
sociedade.
A cultura, mesmo assim, possui uma autonomia maior. Uma espécie com
certos aspectos culturais em um certo lugar, mudando de ambiente, poderá
conservar sua cultura. Se a espécie encontrar dificuldades, poderá se adaptar
ao novo ecossistema.
Na primeira metade do século XX, Kroeber desenvolveu a Teoria do Ponto
Crítico. De acordo com o darwinismo, o homem vem da evolução do macaco
(natureza como biológico) e só se libertou para tornar-se o homem racional
(aspecto cultural), desta maneira o homem deixou de ser força para ser
habilidade. Se o homem tivesse origem criacionista, seria fácil balancear
homem e cultura. Qual teria sido o momento em que o homem rompeu o elo
com a natureza? De acordo com essa teoria, a natureza é quantitativa e a
cultura é qualitativa.
O homem que se realiza em homo sapiens é uma espécie juvenil e seu
cérebro não é dotado de aspectos culturais. O final da hominização se dá com
o inacabamento criador do homem.
Certos métodos foram criados pelos homens para que estes pudessem
lidar e entender as transformações que acontecem durante a vida. O homem
traz ao mundo algumas novidades, como por exemplo, a sepultura, que supõe
uma irrupção da morte entre os vivos. Na sepultura, o cadáver encontra-se em
posição fetal, o que supõe o renascer.
A morte é vista como um aspecto natural, universal e inevitável. A partir
disso, percebe-se que o homem adquire uma consciência sobre ela. Há uma
consciência de transformação do estado (no caso, da vida para a morte). Essa
idéia é usada como mecanismo de superação da morte. A morte também é
vista como a transformação do “duplo”, ou seja, acredita-se a que a morte é
uma passagem para outra vida. Os funerais aparecem como ritos para
contribuir para essa passagem.
Porém, existe, nesse contexto, uma brecha antropológica, entre uma
consciência objetiva que reconhece a mortalidade como algo inevitável e a
consciência subjetiva que reconhece uma imortalidade, baseada em
transformação. Há uma distancia entre imaginar o destino e o destino de fato.
Assim, surge uma necessidade de ter uma construção imaginária. Com isso,
originam-se os mitos, ritos, a magia e a crença. Os mitos são historias
verdadeiras para quem acredita, que explicam as coisas do mundo; os ritos são
os rituais de passagem, transformação etc.
A pintura rupestre é uma arte, um talento, uma habilidade e é, de certa
forma, um escrito, uma imagem com consciência própria.
Nos animais, é possível criar uma causa e efeito, ou seja, fazer algo
para se obter certo tipo de resposta. Um certo cálculo utilitário é feito pelos
animais. Se o animal não desenvolveu certas habilidades é porque não houve
necessidades sócio-culturais, e não por incapacidade. Pode-se usar como
exemplo ilustrativo o caso da gorila Koko. Ela aprendeu a linguagem de sinais,
o que fez com ela passasse a agir como homem, expressando seus mais
diversos sentimentos e até adquirindo vontade de ficar sozinha, de relacionar-
se etc. Por causa dessa diferenciação entre outros gorilas, ela passou a ter
algumas dificuldades de relacionamento, apresentando um ponto negativo da
aprendizagem de algo que não fazia parte da sua cultura original.
Em “Organização Social: os Interditos”, de Georges Bataille, apresenta-
se a idéia de que a organização social faz com que haja a fabricação de
ferramentas, o que dará inicio ao trabalho. Porém, o trabalho faz com que se
perca a liberdade absoluta do homem, que está presente somente na
animalidade. O único jeito de construir o trabalho é tendo o controle. O controle
sobre a violência contra o próximo, o controle da sexualidade. Esse controle
gera a consciência.
No “Processo Civilizador”, de Norbert Elias, é caracterizado o processo
em que os homens (nobres) foram modificando seus comportamentos, de
modo a passar a controlar a violência e a animalidade. Nesse processo, a
nobreza deixa de ser guerreira e se diferencia do resto da sociedade. Foi
havendo, portanto, um recuo progressivo e não dirigido da manifestação da
violência. Essa mudança não é feita da noite para o dia. Alguns
comportamentos passam a ser proibidos, não necessariamente por serem anti
higiênicos, para também por não serem bem vistos pelo resto da sociedade. A
vergonha, antes ausente, tornou-se presente na sociedade. Os mais idosos
passam para as crianças desde cedo esses sentimentos, e se essas fogem da
conduta adequada, faz com que o desagrado por parte dos adultos cresça,
naturalmente.
A violência é também tratada no texto de Pierre Clastres, “Da tortura nas
sociedades primitivas”. A violência, dentro da sociedade, para Clastres, sempre
tem um sentido. No caso político, com a ausência de Estado ou com a
sociedade contra o Estado, dizendo que não há necessidade de uma instituição
política para estabelecer as relações sociais, que estas estão imanentes. No
ponto de vista do Estado, quando quebra-se uma lei por ele instituída, haverá
uma pena. Porém, numa sociedade contra o Estado, não há um superior para
impor comportamentos nem punições, já que não há leis.
Os ritos de iniciação levam os homens a vida adulta. A utilização da
tortura deixa as pessoas impassíveis. A dor deve chegar na sua intensidade
máxima, a ponto de gerar marcas corporais, pois este é o objetivo da iniciação.
Isso provará que a pessoa está pronta para a vida. O chefe indígena deve ser
um bom orador, possuindo uma boa retórica, conhecimento da tradição de todo
o grupo. Também deve ser generoso, bom caçador e guerreiro. Porém, a única
situação que permite que o chefe dê uma ordem incontestável é durante
guerras.
No texto de Evans-Pritchard, “Bruxaria, oráculos e magia entre os
Azande”, é utilizado um sistema de causação, onde se busca a lógica a partir
da linguagem interna na sociedade hierarquizada, idioma na qual a
racionalidade se apresenta. Para nós, ocidentais, o natural remete a leis, ao
fisiológico, ao psicológico. A anormalidade, que representa tudo que foge das
leis e do habitual, é vista como sobrenatural. Já nos Azande, sociedade
composta de bruxos, a bruxaria é natural, ocorrendo o tempo todo. E, como a
sociedade é hierarquizada, por conta da competição, a bruxaria é praticada
ainda com mais freqüência. Porém, essa disputa acontece geralmente entre
pessoas que se apresentam no mesmo grau de hierarquia, já que não
consegue se tiver aproveito para a ascensão social. Eles não se assustam com
as práticas bruxarias, porém ficam incomodados e irritados. A bruxaria, nessa
sociedade, atua como explicação causal, explicação do sobrenatural, dos
infortúnios, o que regulamenta tudo o que acontece no mundo. Através dela,
entendem-se as doenças, coisas que não deram certo, etc. Porém, nem
sempre ter a magia, a substancia magia, transforma alguém em bruxo. A
substância é parte do corpo da pessoa, e, assim como as outras partes, esta
também cresce conforme o passar do tempo. Ou seja, quanto mais velho é o
bruxo, mais forte é o seu poder de atuar com bruxaria, enquanto que uma
criança, quando nova, não tem capacidade para fazer um mal muito grande a
alguém. Essa substancia sai do corpo de quem a possui, durante a noite, para
atuar em uma pessoa que seja indesejável, em casa de inveja ou vingança, por
exemplo. Assim, essa substancia, quando entra no corpo da outra, passará a
influenciar no seu cotidiano, na sua vida. Contudo, a bruxaria pode ser
negociada e modificada. Essa noção de bruxaria fez com que os maus
sentimentos tivessem vazão e fez com que as pessoas, para evitar bruxaria
sobre elas, passassem a se relacionar melhor. Os oráculos ajudam a descobrir
que está jogando bruxaria, porém este resultado não é revelado. Para os
Azande, então, o conceito de normalidade se baseia em que tudo dê certo, e
dando certo, é porque está normal. O mundo é um lugar inteligível, tem lógica e
nunca algo acontece por acaso.
Em “O Arco e o Cesto”, de Pierre Clastres, a sociedade se mantém por
meio de trocas, sejam elas de informações, mercadorias e até troca de
mulheres. No grupo dos Guaiaquis, os homens e as mulheres sem opõem e
cada um desenvolve uma função diferente, tornando suas atividades
complementares umas as outras. No caso, os homens desenvolvem atividades
como a caça, onde se apresenta uma disjunção entre eles e a carne. O melhor
caçador é aquele que tem mais habilidade e não o que mais acumula, já que
tem que dar a caça para sua tribo e, caso contrário, é amaldiçoado. Essa
maldição é apresentada como uma vergonha, desonra para o resto da tribo.
Por isso, os caçadores devem apresentar uma conjunção entre sim, devendo
ter uma relação com outros caçadores, para que estes possam trocar suas
caças entre si e não correr o risco de passarem fome. Já as mulheres,
transportam crianças e outras coisas. Os homens são os produtores e utilizam
o arco; as mulheres são consumidoras e utilizam o cesto, e estes não podem
trocar de instrumentos entre si, senão terão má sorte. Porém, a mulher não
pode usar o arco, mas o homem pode usar o cesto. As mulheres, durante suas
tarefas, produzem cantos coletivos e tristes durante o dia, enquanto que os
homens cantam individualmente durante a noite, se auto-celebrando. No que
se diz respeito a parentesco, no grupo dos Guaiaquis, há mais homens do que
mulheres, e, por isso, cada mulher pode ter mais de um marido. Pode ser que,
por ocorrer essa conjunção e disjunção entre os homens do grupo, segundo
Lévi-Strauss, que esse sistema ocorra universalmente e inconscientemente.
Em “Uirá vai ao encontro de Maíra”, texto tirado do livro de Darcy
Ribeiro, existe um grupo, os Kaapor (urubus) que acreditavam em sua tradição
em uma terra sem males que, segundo a tradição, se encontrava a Leste do
continente e representava um céu na terra, que seria a morada de Deus, Maíra.
Esse Deus era o criador, era super poderoso, porém não era onisciente,
onipresente e onipotente. Os pajés e os xamãs do grupo eram os escolhidos
para falar com esse Deus. Nesta terra sem males, há muito sexo, beleza e
festas e não há trabalho. Isso fez com que toda a comunidade Tupi (originados
dos Kaapor) tentasse chegar lá, mas, no final das contas,encontravam os
oceano e acabavam por fixar-se no litoral do Brasil. Essa Terra também
poderia ser atingida sendo um Xamã ou morrendo de alguma forma heróica
que espelhasse coragem, persistência.
Uirá, um homem do grupo dos Urubus, incentivado por costumes sociais
e religiosos, ao ir em busca de Maíra, encontra o colonizador branco. A
sociedade tinha uma tradição coletiva de tentar encontrar essa terra sem males
onde estaria Mairá, mas as pessoas tiveram reações individuais diante desse
colonialismo. Assim, por Uirá não ter conseguido encontrar o Deus que todos
procuravam, houve um enfraquecimento da tradição e dos costumes do grupo.
Assim, fica perceptível que o choque entre os povos pode mudar a tradição e
os costumes de um grupo ou mais. Também, nota-se que as reações que os
seres humanos que vivem de acordo com tradições culturais particulares
podem fazer com que as pessoas se desesperem, a ponto de perderem o
interesse pela existência já que ela passa a se apresentar de outra forma.
Ao longo do curso, após estudarmos vários autores com concepções
diferentes sobre os assuntos expostos nesse trabalho, conclui-se que as
transformações do homem e também as transformações sociais são um
conjunto de aspectos naturais e culturais, que estão presentes ao mesmo
tempo no homem, já que nada é puramente instinto nem puramente cultura, e
esses aspectos se inter-relacionam. Experiências culturais também são
capazes de fazer com que as tradições e os costumes mudem, assim como o
choque de diferença entre não só os grupos indígenas mas também em
qualquer sociedade. As bruxarias, que são vistas como algo sobrenatural para
os ocidentais, fazem parte da vida de povos que as usam para dar lógica para
seu próprio mundo, justificar a coesão. Ou seja, essas práticas fazem parte de
suas vidas, acontecem com freqüência e de várias formas, seja por conta de
inveja, vingança, entre outros. Os ritos também imprimem a cultura de um
povo, uma vez que servem para ilustrar acontecimentos importantes na vida
das pessoas que pertencem a uma certa sociedade.
Para o curso de Relações Internacionais, o estudo da Antropologia sobre
povos diferentes que possuem os mais diversos costumes, processos e modos
de entender e lidar com alguns acontecimentos na vida é importante para que
um internacionalista saiba lidar e ponderar esses aspectos na convivência com
diferentes sociedades, não necessariamente indígenas. Atualmente, o
etnocentrismo, ou seja, a exaltação da própria cultura de modo a submeter as
demais, é um problema grave e internacional, de modo que alguns países
(falando em escala global) podem até iniciar conflitos e até mesmo guerras por
não saber entender, lidar e aceitar outras culturas.

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