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INDICE

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2
1.1. ENQUADRAMENTO GERAL ........................................................................ 2
1.2. OBJECTIVO ...................................................................................................... 2
2. EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO ....................................................... 3
2.1. CONCEITOS BÁSICOS ................................................................................... 3
2.1.1. Evaporação a partir duma superfície líquida .................................................. 3
2.1.2. Evaporação a partir do solo nú ....................................................................... 3
2.1.3. Transpiração ................................................................................................... 3
2.1.4. Importância do fenómeno da evaporação....................................................... 3
2.1.5. O Processo físico da evaporação. Lei de Dalton ............................................ 4
2.1.6. Humidade relactiva ........................................................................................ 6
2.2. DETERMINAÇÃO DA EVAPORAÇÃO EM SUPERFÍCIES LÍQUIDAS .... 8
2.2.1. Introdução....................................................................................................... 8
2.2.2. Método do balanço hídrico ............................................................................. 8
2.2.3. Método do balanço energético ....................................................................... 9
2.2.4. Método de transferência de massas .............................................................. 14
2.2.5. Método de Penman ....................................................................................... 15
2.3. MEDIÇÃO DIRECTA DA EVAPORAÇÃO ................................................. 16
2.3.1. Medição com evaporímetro .......................................................................... 16
2.3.2. Medição com tina evaporimétrica ................................................................ 17
2.3.3. Rede evaporimétrica ..................................................................................... 20
2.4. PROCESSO FÍSICO DA TRANSPIRAÇÃO ................................................. 20
2.5. EVAPOTRANSPIRAÇÃO ............................................................................. 21
2.5.1. Aspectos gerais ............................................................................................. 21
2.5.2. Determinação de evapotranspiração potencial ............................................. 22
2.5.3. Determinação de evapotranspiração potencial ............................................. 23
2.6. DETERMINAÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO EFECTIVA ................. 26
2.6.1. Método de Thornthwaite-Mather ................................................................. 26
3. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 30
4. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS .................................................................... 31
EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

1.1. ENQUADRAMENTO GERAL

Cerca de 70% da quantidade de água precipitada sobre a superfície terrestre retorna à


atmosfera pelos efeitos da evaporação e transpiração. Devido a isso, a mensuração desses
dois processos é fundamental para o hidrologista na elaboração de projetos, visto que
afetam diretamente o rendimento de bacias hidrográficas, a determinação da capacidade
do reservatório, projetos de irrigação e disponibilidade para o abastecimento de cidades,
entre outros.
Em zonas áridas, como o Iraque, em que a evaporação anual pode atingir valores
superiores a 2 metros, a desconsideração do fenômeno implicaria numa superestimativa
das disponibilidades hídricas.
A água, recebendo incidência de calor, inicia um processo de aquecimento até que seja
atingido seu ponto de ebulição. Prosseguindo a cessão de calor, este não mais atua na
elevação da temperatura, mas como calor latente de vaporização, convertendo a água do
estado líquido para o gasoso. Este vapor d’água, se liberta da massa líquida e passa a
compor a atmosfera, situando-se nas camadas mais próximas da superfície.
Caso a evaporação possa se processar livremente, sem restrições do suprimento de água,
esta evaporação é dita EVAPORAÇÃO POTENCIAL.
A evaporação e a evapotranspiração, fisicamente, dizem respeito ao mesmo fenômeno,
que é a mudança de fase da água, da fase líquida para a vapor. Entretanto, no estudo da
evaporação, considera-se apenas a água perdida pelo solo e por superfícies de água livre
(p. ex. açudes), enquanto que na evapotranspiração leva-se em conta a perda conjunta de
água pelo solo e pela planta.

1.2. OBJECTIVO

É objectivo do Presente trabalho falar sobre o precesso e evaporação e evapotranspiração


no contexto da realidade em Moçambique no que tange a componente hidrológica.

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2. EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

2.1. CONCEITOS BÁSICOS

2.1.1. Evaporação a partir duma superfície líquida

Em qualquer superfície líquida, há um incessante movimento de moléculas de água que


passa da fase líquida para a fase gasosa e vice-versa, sendo a primeira forma a dominante
em condições atmosféricas normais. Há, portanto, simultâneamente evaporação (líquido
→ vapor) e condensação de água (vapor ← líquido).
Do ponto de vista prático e correspondendo àquilo que de facto se pode medir, o que nos
interessa é o excedente da evaporação sobre a condensação. Assim, chamaremos
evaporação ao excedente da transformação líquido → vapor em relação à situação oposta.
2.1.2. Evaporação a partir do solo nú

A evaporação que se verifica a partir do solo nu depende de um certo número de factores


entre os quais os mais importantes são o estado de humidade do solo, o tipo de solo e a
localização da toalha freática. Se o solo se encontra saturado, a evaporação que lhe
corresponde é próxima da evaporação a partir duma superfície líquida, sugerindo-se
multiplicar esta última por 0.9 para se obter a evaporação a partir do solo.
À medida que o solo vai perdendo a humidade, a água remanescente vai sendo retida com
intensidade crescente por forças de capilaridade e adsorção, dependendo do tipo de solo.
A evaporação torna-se geralmente desprezável depois de se terem evaporado os primeiros
10-15 mm. Se a toalha freática estiver suficientemente alta para que a água possa atingir
a superfície do solo por capilaridade, a evaporação a partir do solo é elevada e semelhante
à situação do solo saturado.

2.1.3. Transpiração

Transpiração é a água perdida pelas plantas através dos estomas (poros) das folhas por
evaporação para a atmosfera. Esta água é substituida pela que a planta vai buscar ao solo
através das raízes.
Numa região em que o solo está revestido de vegetação, é praticamente impossível
analisar em separado a transpiração das plantas e a evaporação a partir do solo, linhas de
água e lagoas. Os dois processos tomados em conjunto designam-se por
evapotranspiração.

2.1.4. Importância do fenómeno da evaporação

Pode-se ficar com uma ideia da importância destes fenómenos considerando o exemplo
da albufeira dos Pequenos Libombos, construida, como se sabe, para reforçar o
abastecimento de água à cidade de Maputo.

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Considerando que a albufeira tem uma superfície inundada com uma área média de cerca
2
de 30 km e que a evaporação anual na albufeira é de cerca de 1700 mm, então o volume
evaporado anualmente em média é de
6 6 3
Vevap. = 30 * 10 * 1.7 = 51*10 m
3
O abastecimento de água de Maputo é de aproximadamente 150,000 m /dia, ou seja, cerca
6 3
de 55 * 10 m /ano. Portanto o volume evaporado na albufeira equivale a quase 1 ano de
abastecimento a Maputo.
Do ponto de vista para a utilização da água para o homem, a evaporação constitui uma
perda que interessa minimizar. Várias vias tem vindo a ser consideradas para este efeito:
 utilizar reservatórios cobertos (só possível em pequenos reservatórios);
 utilizar reservatórios subterrâneos (é necessário que existam condições naturais
para o efeito);
 construir reservatórios com área superficial mínima (na escolha dum local para
um barragem, é preferível optar pelo que apresenta a menor superfície para um
dado volume de armazenamento);
 utilizar produtos químicos especiais na superfície da água. Certos compostos
orgânicos como o hexadecanol e o octodecanol formam películas
monomoleculares à superfície da água que inibem a evaporação. Estudos
indicaram ser possível reduzir a evaporação a pouco mais de 1/3 da evaporação
natural. No entanto, a aplicação destes produtos em grandes lagos é
consideravelmente menos eficiente devido ao vento e às ondas que quebram a
camada monomolecular e a arrastam para as margens. Estudos realizados nos
EUA e Austrália indicam que se pode obter reduções de ordem de 30% na
evaporação para pequenos lagos (<5 km2) e da ordem de 10% para lagos com
cerca de 10 km2 (Dunne e Leopold, 1978). É duvidoso que o processo tenha
qualquer rendimento para lagos de maior dimensão;
 utilizar cortinas de árvores como quebra-ventos (para pequenos reservatórios).

2.1.5. O Processo físico da evaporação. Lei de Dalton

Considere-se o recepiente fechado representado na figura 1.1 e que contém uma certa
quantidade de água a uma dada temperatura. A situação é estável o que se manifesta pelo
nível constante da água. Isto significa que o número de moléculas de água que passa para
a fase de vapor é, em média ao longo de um intervalo de tempo curto, igual ao número de
moléculas que passa da fase de vapor para a fase líquida. Diz-se então que o ar está
saturado e não pode conter mais vapor de água.

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Figura 1 – Processo fiísico da evaporação


Admitamos agora que no recipiente da figura 1.1 se fez inicialmente o vácuo e depois se
introduziu uma certa quantidade de água. Verifica-se que a água começa imediatamente a
vaporizar. Isto deve-se ao facto de que a força estabilizante das moléculas no seio do líquido,
que é a atracção molecular, é insuficiente para contrariar a forca de repulsão devido a energia
cinética das moléculas. Como é sabido, as moléculas de vapor de água dispõem de maior
energia cinética do que as moléculas de água no estado líquido. Por outro lado, na fase inicial
da vaporização, há muito poucas moléculas gazosas e a pressão de vapor de água é baixa.
À medida que a vaporização da água se vai processando, aumenta a pressão de vapor,
aumentam as colisões entre moléculas gasosas e algumas destas, ficando com energia cinética
reduzida, voltam ao estado líquido. A certa altura atinge-se a estabilidade: a evaporação cessa
e a pressão do vapor mantem-se constante. A pressão do vapor não saturado designa-se por
e.
Designa-se por tensão do vapor saturado ew a pressão do vapor quando o espaço já não
comporta mais vapor de água. ew aumenta com a temperatura como é fácil de constatar
experimentalmente. Com efeito, se no recipiente fechado onde a evaporação cessou se
produzir um aquecimento, a evaporação reinicia-se e a pressão do vapor aumenta. Isto deve-
se ao facto do aumento da temperatura conduzir a uma aumento da energia cinética das
moléculas da água. A tabela 1.1, adaptada de FAO 1977, dá os valores da tensão do vapor em
função da temperatura do ar, com pressão atmosférica normal.

Tabela 1 – Tensão do vapor saturado em função da temperatura do ar


T (°C) ew (mbar) T (°C) ew (mbar) T (°C) ew (mbar)
0 6.1 14 16.1 28 37.8
1 6.6 15 17.0 29 40.1
2 7.1 16 18.2 30 42.4
3 7.6 17 19.4 31 44.9
4 8.1 18 20.6 32 47.6
5 8.7 19 22.0 33 50.3
6 9.3 20 23.4 34 53.2
7 10.0 21 24.9 35 56.2
8 10.7 22 26.4 36 59.4
9 11.5 23 28.1 37 62.8
10 12.3 24 29.8 38 66.3
11 13.1 25 31.7 39 69.9
12 14.0 26 33.6 40 73.8
13 15.0 27 35.7

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A diferença (ew - e) chama-se défice de saturação. A tensão ew iguala à pressão atmosférica


no ponto de ebulição.
Os principais factores que afectam a evaporação são:
a) a radiação solar, que é a principal fonte da energia necessária para a vaporização
das moléculas de água. Por sua vez, a radiação solar é uma função da latitude, dia
do ano, hora do dia e nebulosidade. Outras fontes de energia podem dar um
importante contributo local para a evaporação, por exemplo a entrada num lago
de água quente proveniente da refrigeração duma central térmica.
b) as temperaturas do ar e da água, a pressão atmosférica e a humidade. Todos
estes factores influenciam o défice de saturação. Ora a evaporação é obviamente
uma função crescente do défice de saturação.
c) o vento. Numa situação sem vento, o vapor de água concentrado numa camada da
atmosfera muito próxima da superfície livre da água, camada que se designa por
camada evaporante, atinge o estado de saturação e a evaporação cessa. Para que a
evaporação continue, é necessário que essa camada já saturada seja removida e
substituida por ar não saturado. Esse é o papel desempenhado pelo vento.

A Lei de Dalton, apresentada em princípios do século XIX, diz que a evaporação E varia
linearmente com o défice de saturação do ar [ew(Th) - e(Ts)]:
E = a [ew(Th) – e(Ts]

em que a é uma constante, e é a tensão do vapor não saturado (mbar), ew é a tensão do


vapor saturado (mbar), Th é a temperatura média da camada evaporante, chamada
temperatura húmida (ºC) e Ts é a temperatura do ar ambiente, chamada temperatura seca
(ºC).

2.1.6. Humidade relactiva

A medição directa da tensão do vapor e não é fácil pelo que ela é obtida por via indirecta
através de medição nas estações meteorológicas da humidade relativa U, definida por:
U = e/ew
Para se compreender o processo da medição de U, há que recorrer à Lei de Dalton,
E = a [ew(Th) - e(Ts)]
Por cada grama de água evaporado, é necessário um número l de calorias, em que l é o
calor latente de vaporização = 590 cal./g. O calor retirado ao líquido pela evaporação seria
então:
Qe = ρlE, em que:
Qe é o calor gasto na evaporação (cal/cm2)
ρ é a densidade da água,
l é o calor latente de vaporização (cal/g)
E é a evaporação (cm).

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A temperatura da camada superficial da água vai baixando até que se atinge o equilíbrio entre
a quantidade de calor Qe que o líquido gasta na evaporação e a quantidade de calor Qh que o
meio ambiente comunica ao líquido.
Qh é directamente proporcional à diferença entre a temperatura do ar, T s, e a temperatura da
camada evaporante, Th:
Qh = b (Ts-Th)
Como E é proporcional a Qe e Qe = Qh, ter-se-á:
E = cQh = c'(Ts-Th)
Por comparação com a Lei de Dalton, obtem-se
[ew(Th) - e(Ts)] = A (Ts-Th)
Como a tabela 5.1 fornece valores de ew para a pressão atmosférica normal, p = 1000 mbar, a
expressão acima foi modificada para outros valores de p:
[ew(Th) - e(Ts)] =1000p A (Ts-Th)
⇒ e(Ts) = ew(Th) - 1000p A (Ts-Th)
U = e/ew = e(Ts)/ew(Ts) )]T-TA(1000p - )T(e[ )T(e1 = U hshwsw⇒ (Fórmula do psicrómetro)
Assim, para se determinar U, usa-se um aparelho designado por psicrómetro (figura 1.2) que
é composto por dois termómetros: o termómetro seco, que mede a temperatura do ar
ambiente, Ts, e o termómetro húmido que mede a temperatura da camada evaporante, Th. O
termómetro húmido tem o depósito de mercúrio envolvido por um pano que se mantém
constantemente húmido por ligação com um depósito de água. Obtidos T s e Th, p é lido num
barómetro e ew(Th) e ew(Ts) são obtidos através da tabela 1.

Figura 2 – Psicrómetro

O factor A chama-se constante do psicrómetro e depende do tipo e da colocação do


aparelho:
 psicrómetro de ventilação natural: colocado num abrigo meteorológico, a ventilação
do termómetro húmido é a ventilação natural do abrigo. Toma-se A = 0.79 mbar/°C;
 psicrómetro de funda: o termometro húmido dispõe dum cordão com
comprimento de 0.5 m. Antes de medir Th, o operador movimenta-o à velocidade
de 2 rotações/segundo. Nessas condições, toma-se A = 0.66 mbar/°C;
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 psicrómetro de ventilação forçada: um ventilador faz passar o ar sobre o


termómetro húmido à velocidade de 6 m/s. A = 0.67 mbar/°C.
Em Moçambique usam-se psicrómetros de ventilação natural. Figura 2 – Psicrómetro
Note-se que foi considerada apenas a troca convectiva do calor, Qh, entre o meio ambiente
e o psicrómetro. Como adiante se verá, verifica-se sempre também troca de calor por
radiação. Pode-se evitar a recepção de radiação da atmosfera (de ondas curtas) colocando
o psicrómetro num abrigo. Para evitar a emissão de radiação (de ondas longas) pelo
próprio psicrómetro, seria necessário utilizar um tipo de psicrómetro com 'cortina polida'.
A maioria dos psicrómetros em Moçambique não tem uma tal protecção, razão pela qual
se deve contar com um erro de medição de cerca de 5% para valores normais de
humidade.

2.2. DETERMINAÇÃO DA EVAPORAÇÃO EM SUPERFÍCIES LÍQUIDAS

2.2.1. Introdução

Para a determinação da evaporação em superfícies líquidas existem vários métodos, dos


quais os mais importantes são:
 método de balanço hídrico;
 método do balanço energético;
 método da transferência da massa;
 método de Penman;
 medição directa.

Estes métodos são abordados nos pontos seguintes deste capítulo.

2.2.2. Método do balanço hídrico

Este método pode ser utilizado em lagos e albufeiras. A equação do balanço hídrico em
termos de volumes de água escreve-se:
E = I + P - O - ΔS - G,
em que E é o volume evaporado, I o volume afluente ao lago, P o volume de precipitação,
O o volume que sai do lago (efluente), ΔS a variação do volume armazenado e G o
volume correspondente à infiltração e escoamento subterrâneo.
Desde que todos os termos do 2º membro da igualdade se possam medir com precisão, o
método fornece bons resultados. Normalmente, o termo mais difícil de obter é G
(infiltração e escoamento subterrâneo). Sempre que se estime que G possa tomar valores
da mesma ordem de grandeza que a evaporação, o método do balanço hídrico não deve
ser utilizado pois o erro relativo com que a evaporação é estimada é grande.
Surgem também, por vezes, problemas de ordem prática: nas albufeiras de Cahora- Bassa,
Massingir e Corumana, o regolfo das albufeiras chega à fronteira pelo que uma estação
de medição do volume afluente I teria de ser instalada já num país vizinho com todas as

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dificuldades que isso implica. Assim, nessas albufeiras a evaporação é estimada por
outros métodos e o balanço hídrico é utilizado para calcular o volume afluente.

2.2.3. Método do balanço energético

2.2.3.1. Equação do balanço energético

Assim como o balanço hídrico exprime a equação da continuidade aplicada ao volume de


água contido num domínio, o balanço energético exprime a equação da continuidade
aplicada à quantidade de energia num domínio como um lago ou uma albufeira.
O balanço energético avalia os seguintes fluxos de energia:
• radiação solar
• energia armazenada
• troca de energia entre a água e a atmosfera
• troca de energia entre a água e a terra
• energia gasta na evaporação.

2
Considere-se então a figura 1.3 e as seguintes grandezas expressas em cal/cm : Qs, Qsr,
Qlw, Qh, Qe, Qv e ΔQ. A equação do balanço energético para a água para um dado intervalo
de tempo escreve-se:
Qs - Qsr - Qlw - Qh - Qe + Qv = ΔQ

Figura 3 – Balanço energético

2.2.3.2. Radiação solar incidente

Qs é a radiação solar incidente ou radiação global. A quantidade de energia solar que


atinge o topo da atmosfera terrestre chama-se constante solar e designa-se por I0. A
tabela 5.2 dá os valores de I0 em função da latitude e do mês (Dunne e Leopold, 1978).
Qs é uma fracção de I0 que, após atravessar a atmosfera, incide sobre a superfície da água
e é composta na sua quase totalidade por radiações com comprimentos de onda entre 0.3
e 3 μm.

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Tabela 2 - Radiação solar média recebida num plano horizontal no limite superior da
2
atmosfera, I0 (cal/cm /dia).

Latitude Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
70°N - 65 255 540 800 1000 870 670 400 140 5 -
60°N 75 205 400 655 860 975 925 750 500 275 110 55
50°N 200 350 540 750 910 985 950 820 620 430 155 175
40°N 355 490 650 820 880 985 960 870 740 550 395 325
30°N 500 620 750 870 945 975 955 900 795 670 540 365
20°N 640 725 820 895 930 930 930 900 850 760 660 610
10°N 755 820 870 895 885 870 870 885 880 830 770 730
0 855 885 895 870 820 790 795 840 880 885 860 840
10°S 930 930 885 810 730 685 705 770 845 900 920 930
20°S 985 940 855 740 630 570 595 680 790 900 965 990
30°S 1015 930 800 640 505 445 465 575 725 870 985 1030
40°S 1020 895 715 525 375 305 335 450 630 810 960 1045
50°S 1000 835 620 400 240 175 200 315 505 735 950 1040

Qs pode ser medido directamente através de instrumentos como o pirheliómetro ou o


piranómetro (ver descrição e funcionamento em Lencastre e Franco, 1984). No entanto,
são poucos frequentes as estações meteorológicas em que essa medição é feita. Faz-se
então a determinação de Qs a partir de fórmulas obtidas a partir dos dados de medições
directas de Qs. Duas das fórmulas mais utilizadas são as fórmulas de Angström e de
Black.

A fórmula de Angström é:
Qs = I0 (a + bNn)

em que n é o número de horas de insolação no período considerado, N é o número máximo


possível de horas de insolação nesse período e a,b são parâmetros de ajustamento local.
n é medido diariamente através dum heliógrafo (figura 1.4). Este aparelho é constituido
por uma esfera de vidro óptico que concentra os raios solares sobre uma banda de papel
fotosensível. Quando o sol brilha, a temperatura no foco é suficiente para carbonizar o
papel o que não acontece com tempo nublado. O comprimento total de papel carbonizado
indica o número de horas de sol nesse dia. O Instituto Nacional de Meteorologia (INAM)
dispõe dum grande número de estações equipadas com heliógrafo. A partir dos registos
de n é possível, por exemplo, obter valores médios da insolação em dados períodos do
ano.

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Figura 4 - Heliógrafo

O número máximo possível de horas de insolação num certo intervalo de tempo, N, é


função da latitude e da época do ano. A tabela 5.3 dá os valores mensais de N.
A n/N chama-se insolação relativa. Considera-se que o seu valor é elevado se for
superior a 0.8 (céu limpo); é baixo se for inferior a 0.6 (céu pouco nublado).

Tabela 3 - Duração da insolação mensal máximo possível (horas)

Latitude Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez
50°N 265 280 366 415 480 490 495 450 380 330 274 252
40°N 303 300 370 400 445 450 455 425 375 345 300 290
30°N 324 314 370 388 425 420 430 410 370 353 320 316
20°N 341 324 370 378 407 400 410 400 366 360 335 338
10°N 360 327 370 370 390 380 390 385 366 366 352 356
0 375 340 375 363 375 363 375 375 363 375 363 375
10°S 388 350 378 355 363 346 360 364 360 380 378 396
20°S 410 360 378 350 346 328 340 344 360 388 393 414
30°S 430 370 380 342 330 306 328 345 360 404 410 435
40°S 466 380 385 334 310 280 302 330 360 415 432 463
50°S 490 403 387 320 276 242 266 315 356 427 465 508

A tabela 4 dá alguns valores dos parâmetros a e b apresentados por diversos autores. Para
Moçambique recomenda-se usar os parâmetros segundo Glover et al (1958).

Tabela 4 - Valores das constantes empíricas a, b da fórmula de Angström


Local a b Fonte
Mundo 0.23 0.48 Black et al. (1954)
Mundo 0.29 cos(latit.) 0.52 Glover et al.(1958)
Camberra 0.25 0.54 Penman (1948)
África Ocid. 0.12-0.26 *) 0.39-0.50*) Davies (1966)
*) varia com o mês

A fórmula de Black é:
2
Qs = I0 (0.803 -0.340C - 0.458C )

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em que C representa a nebulosidade média, expressa em décimos. A tabela 5 relaciona C, em


décimos, com n/N.

Tabela 5 - Relação entre a nebulosidade e a insolação relativa


___________________________________________________________
C 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
n/N 0.95 0.85 0.80 0.75 0.65 0.55 0.50 0.40 0.30 0.15 0.00

2.2.3.3. Radiação solar reflectida

Qsr é a radiação solar reflectida. É uma fracção pequena da radiação solar incidente. A
parte que é reflectida depende da superfície sobre a qual a radiação incide. Essa
característica de reflectividade duma superfície chama-se albedo, a. Qsr é dada por
Qsr = a Qs
Normalmente, considera-se para a água um valor entre 0.05 e 0.10, sendo o valor mais
usual 0.06.

2.2.3.4. Radiação de ondas longas

Qlw é a radiação de ondas longas ("long wave radiation"). Esta é a forma pela qual a Terra
irradia para a atmosfera o calor acumulado.
Parte desta radiação é absorvida pela atmosfera (pelo vapor de água, nuvens e dióxido de
carbono) e enviada novamente para a Terra. Como é muito difícil medir esta radiação,
tem-se procurado desenvolver expressões que a relacionem com variáveis medidas à
superfície da Terra, das quais a mais influente é a temperatura.

Uma dessas expressões é a equação de Brunt:


4 4
Qlw = σ [Ts - (c+d√e2)T2 ] (1 -aC),

em que
-7 2 4
σ = constante de Stefan-Boltzmann = 1.17*10 cal/cm K dia;
Ts = temperatura da superfície da terra (K);
T2 = temperatura do ar a 2 metros do solo (K);
e2 = tensão do vapor a 2 metros do solo (mbar);
C = nebulosidade, em décimos;
a = constante dependente do tipo de nuvens: 0.25 para nuvens altas, 0.6 para nuvens
médias, 0.9 para nuvens baixas;
c, d = coeficientes empíricos que variam conforme o local (ver tabela 6).

Tabela 6 - Valores das constantes da equação de Brunt

Local Suécia Áustria Argélia Califórnia Inglaterra França Índia


c 0.43 0.47 0.48 0.50 0.53 0.60 0.62
d 0.082 0.061 0.058 0.032 0.065 0.042 0.029

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

Se não se dispuser de dados para o tipo de nuvens, pode-se tomar a = 0.8 ou, em alternativa,
substituir o factor (1 - aC) por (0.1 + 0.9 n/N) em que n/N é a insolação relativa. Para c e d
podem tomar-se os valores médios de 0.53 e 0.052 respectivamente.
Uma outra equação empírica é a de Chang:

4
Qlw = σ T2 (0.56 - 0.08√e2) (1 - aC)

Também aqui se pode substituir (1 - aC) por (0.1 + 0.9 n/N). Segundo Dunne e Leopold
(1978), os erros destas equações excedem frequentemente ± 25% em valores diários mas
reduzem-se a ± 15-20% para valores mensais.

2.2.3.5.Radiação útil

A radiação útil, Qn, é a radiação efectivamente disponível para a evaporação. É a radiação


global subtraída da radiação reflectida e da radiação de onda longa:

Qn = Qs - Qsr - Qlw = Qs(1 - a) - Qlw

A radiação útil pode ser medida directamente utilizando um radiómetro mas esse
equipamento apenas existe num número restrito de estações meteorológicas.

2.2.3.6. Coeficiente de Bowen

Viu-se já que a evaporação, ao provocar um abaixamento da temperatura, origina trocas


de calor entre a superfície evaporante e a atmosfera. A relação entre a quantidade de calor
transferida por trocas turbulentes com a atmosfera, Qh, e a quantidade de calor gasta na
evaporação, Qe, é dada pelo coeficiente de Bowen, R.
A energia gasta na evaporação, Qe, é igual ao produto da massa evaporada pelo calor
latente da vaporização (l = 590 cal./g). Qe pode ser expresso por unidade de área.
2
Qe = ρ l E cal/cm (com E = altura da água evaporada, em cm).
Porque Qh = b(Th-Ts)
Qe = ρ l E = a'[ew(Th) - e(Ts)]
)Te(-)T(eT-T1000pA = QQ = Rshwsheh

Note-se que numa situação de equilíbrio, quando não há radiação, seria Qh = -Qe e R = -
1, como se viu ao deduzir a fórmula do psicrómetro. A definição e as grandezas das
variáveis que intervêm no cálculo de R são as mesmas da referida fórmula do psicrómetro.

2.2.3.7. Energia aduzida

A energia aduzida, Qv, representa a quantidade de calor transportada pelas massas de


água que entram ou saem do lago. Qv é calculado a partir da massa m e da temperatura T
do caudal afluente (ou efluente) em relação a uma temperatura arbitrada de referência

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

(normalmente 0 °C). Como o calor específico da água, c, é, para as temperaturas normais,


igual a 1 cal./g./°C, a energia aduzida será:
Qv = c ρ Vaf (T - T0) = ρ Vaf (T -T0) cal
em que Vaf é o volume da água que entra (se sai, toma-se V negativo), T a temperatura
dessa água e T0 a temperatura de referência. Dividindo Qv pela área do lago, obtem-se o
2
seu valor em cal/cm .

2.2.3.8. Variação de energia armazenada

ΔQ é a variação da energia armazenada no lago. Este valor é calculado em função da


variação do volume e da temperatura da água:
ΔQ = Qt+1 - Qt = c ρ [Vt+1 (Tt+1-T0) - Vt (Tt-T0)] cal
2
Dividindo pela superfície do lago, obtem-se ΔQ expresso em cal/cm .

2.2.3.9.Cálculo do balanço energético

Como o que nos interessa é calcular E (altura de evaporação), pode-se reescrever a


equação do balanço energético:
Qs - Qsr - Qlw - Qh - Qe + Qv = ΔQ
⇒ Qe + Qh = Qs - Qsr - Qlw + Qv - ΔQ
⇒ Qe(1+R) = Qs - Qsr - Qlw + Qv - ΔQ
R+1Q-Q+Q = QvneΔ
Porque Qe = ρlE:
R)+l(1Q-Q+Q = EvnρΔ

O método do balanço energético aplicado a períodos de um mês com medição cuidadosa


das várias grandezas pode conduzir a estimativas da evaporação com uma precisão de 5
a 10%. Trata-se, porém, dum processo muito dispendioso. Quando se utilizam equações
empíricas, com períodos mensais, o erro andará na ordem de 10-20% o que é aceitável
para aplicações práticas.

2.2.4. Método de transferência de massas

O vento é um dos factores que exerce grande influência na evaporação. Então, por
generalização da lei de Dalton, pode escrever-se:
E = C f(u) [ew(Th)-e(Ts)]
em que C é uma constante a determinar localmente, f(u) é uma função da velocidade do
vento. C e f(u) têm de ser calibrados através dum outro método (balanço hídrico ou
balanço energético). Dunne e Leopold (1978) apresentam um método simples para essa
calibração em pequenos lagos e reservatórios, admitindo que:
f(u) = u2,
em que u2 é a velocidade do vento a 2 m de superfície.
Fazendo medições de u2, Th e Ts e das variações de nível do lago apenas devido à
evaporação (i.e. subtraindo os efeitos dos escoamentos afluente e efluente), o gráfico de
Δh (cm/dia) versus u2[ew (Th)-e(Ts)] dá aproximadamente uma recta cujo declive é C.

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

Com u2 em m/s, ew e e em mbar, Viessman et al. (1977) sugerem que C pode ser calculado
por:
C = 0.0146/A0.05, em que A é a área da superfície líquida (km2)
2.2.5. Método de Penman

Penman apresentou em 1948 um método de cálculo da evaporação combinando as


aproximações do balanço energético e da transferência da massa. Devido às hipóteses
restritivas que o método introduz, ele só deve ser aplicado a reservatórios e lagos poucos
profundos.
Penman desenvolveu o método para um lago tal que seja aceitável dizer que:
ΔQ - Qv = 0
Se não houvesse energia aduzida, conviria tomar intervalos de tempo relativemente curtos
(7 - 10 dias), para que ΔQ ≈ 0. Se houvesse energia aduzida, significaria que ΔQ = Qv,
pois mudanças na energia acumulada no lago devem-se apenas ao calor aduzido pelas
massas de água que entram ou saem do lago. Assim, a água evaporada é substituida pela
mesma quantidade de água à mesma temperatura (ou por outra combinação volume-
temperatura que apresente a adução da mesma quantidade de calor).
A equação do balanço energético fica, nessas condições, simplificada
2
Qn = Qh + Qe = Qe (1 + R) (cal/cm ),
em que Qn = Qs - Qsr - Qlw.
3
Dividindo por ρl (cal/cm ), virá em altura de água (em cm):
N = E (1 + R),
em que N = Qn/ρl
Esta equação traduz o facto óbvio de que, não havendo variações na energia armazenada,
a radiação útil é distribuida pela radiação necessária para a evaporação e pela radiação
transferida para a atmosfera por trocas turbulentas.
Penman considerou:
T-T)T(e-)T(e dTde = shswhwsw≈Δ
sendo Δ a inclinação da curva de tensão do vapor à temperatura Ts.
Já se sabe que (para uma pressão atmosférica de 1000 mbar):
Se Th = Ts ⇒ ew(Th) = ew(Ts).

Neste caso verifica-se evaporação isotérmica Ea. Então Ea é a evaporação hipotética que
ocorreria se a temperatura da água fosse igual à do ar. Pela lei da transferência da massa
seria:
Ea = C f(u) [ew(Ts)-e(Ts)]

O valor de C f(u) pode calcular-se com várias fórmulas empíricas. Penman propôs:
Ea = 0.35 (0.5 + 0.54 u2) [ew(Ts) - e(Ts)],

em que

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

Ea = evaporação isotérmica (mm./dia.);


u2 = velocidade do vento à altura de 2 metros do solo (m./s.);
ew(Ts) e e(Ts) em mm Hg.

ou

Ea = (0.13 + 0.14 u2) [ew(Ts) - e(Ts)]


com ew(Ts) e e(Ts) em mbar. AΔ é o parâmetro adimensional de Penman, dado na tabela
7.

Tabela 7 - Parâmetro adimensional de Penman.

T (°C) 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Δ/A 0.67 0.90 1.23 1.61 2.14 2.77 3.57 4.57 5.70 7.10 8.77

A fórmula de Penman é válida para P = 1,000 mbar. Para P≠Th1,000 basta substituir na
fórmula A por A' = A1000P. AΔ é calculado para uma temperatura T=2T+s.
De todos os métodos analíticos, o método de Penman é aquele que oferece o melhor
compromisso entre uma base teórica suficientemente sólida e a facilidade de aplicação
prática. O método deve ser usado para períodos da ordem de 7-10 dias e nunca em
períodos superiores a 1 mês (para que ΔQ ≈ 0).

2.3.MEDIÇÃO DIRECTA DA EVAPORAÇÃO

Para além dos métodos analíticos referidos nos pontos anteriores, a evaporação pode ser
medida directamente. Os instrumentos mais usados para esse efeito são o evaporímetro
ou atmómetro e a tina evaporimétrica.

2.3.1. Medição com evaporímetro

O evaporímetro é um instrumento que mede a evaporação latente, i.e., o poder


evaporante da atmosfera. A evaporação latente é definido como a evaporação máxima
duma superfície saturada, plana, horizontal e negra, exposta às condições meteorológicas
(energia solar, vento, temperatura, humidade relativa) naturais do meio onde se pretende
estudar a evaporação.
O evaporímetro não mede, portanto, directamente a evaporação da superfície líquida
embora esta esteja certamente relacionada com a evaporação latente.

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

Figura 5 - Evaporímetro

A figura 5 representa dois tipos de evaporímetros frequentemente usados: "Black Bellani"


e o "Piche". O "Black Bellani" segue a definição dada para a evaporação latente. Tem
uma placa de porcelana porosa e negra, com 7.5 cm de diâmetro, permanente humidecida
através do seu contacto com um recipiente que é alimentado por um reservatório
graduado. É possível ler diariamente no reservatório a altura da água evaporada através
da placa porosa.
O evaporímetro "Piche" utiliza um disco de papel poroso (papel de filtro) em lugar da
placa negra. O disco está preso por uma mola a um tubo graduado com água que mantem
o disco permanentemente humidecido. A perda de água evaporada através do disco pode
ser lida diariamente no tubo graduado. Em Moçambique, apenas se tem utilizado o
evaporímetro "Piche".

2.3.2. Medição com tina evaporimétrica

A tina evaporimétrica permite medir directamente a evaporação duma superfície líquida,


simulando (embora com algumas limitações importantes que adiante se verão) a situaçáo
real. A tina é um reservatório aberto, cheio de água e exposto às condições atmosféricas.
Existem vários padrões de tina, sendo os mais conhecidos:
 a tina de classe A do US Weather Bureau, EUA;
 a tina GGI-3000 da União Soviética;
 a tina Symons, utilizada na RAS;
 a tina Colorado, utilizada nos EUA;
 a tina flutuante, utilizada pelo United States Geological Survey (USGS), EUA.

Figura 6 – Tina evaporimétrica

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

De todas elas, a mais frequentemente utilizada nos países ocidentais é a tina de classe A
que é também a utilizada em Moçambique.
A tina GGI-3000 é uma tina enterrada no solo, tem uma forma composta cilídrico-cónica,
2
com uma área à superfície de 3,000 cm (D = 61.8 cm.) e uma altura da parte cilídrica de
0.60 m.
A tina Symons é também uma tina enterrada, cilíndrica, com 1.83 m. (6 pés) de diâmetro
e 0.61 m. de profundidade.

Também a tina Colorada é uma tina enterrada, de secção quadrada, com 0.914 m. de lado
(3 pés) e 0.457 m. de profundidade.
A tina flutuante do USGS tem dimensões iguais às da tina Colorado.
A tina de classe A do USWB está representada na figura 5.6. Trata-se de um tanque
circular, construido em chapa de aço galvanizado, assente sobre um estrado de madeira,
com as dimensões constantes da figura. O nível da água na tina deve ser sempre mantido
a uma distância de 5 a 7.5 cm do bordo superior da tina.
Cada tipo de tina apresenta determinadas desvantagens:
a) Tinas enterradas
 as tinas enterradas (com a boca aproximadamente ao nível da superfície
do terreno) recolhem muito lixo;
 quaisquer perdas de água (devido a um furo na chapa) não se detectam
facilmente;
 as trocas de calor através das paredes da tina dependem do solo
circundante e das suas condições de humidade.

b) Tinas flutuantes
 a tina flutuante pode receber ou perder água devido à ondulação;
 a sua operação é difícil.

c) Tinas acima do solo


 a tina acima do solo indica uma evaporação que é muito influenciada pela
radiação solar recebida através das paredes e pelas trocas de calor através
delas.

No entanto, a experiência indica ser preferível a utilização de tinas colocadas acima do


solo, como a tinde classe A do USWB.
A medição da evaporação numa tina é feita normalmente uma vez por dia, sendo o
processo de medição o seguinte:
 instala-se na tina uma escala graduada à qual fica ligado um estilete móvel.
O zero da escala corresponde à posição em que a ponta do estilete toca na
superfície da água;
 após o período em que se registou a evaporação (um dia), a superfície da
água terá baixado. Esse abaixamento é medido deslocando o estilete até a

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

ponta tocar novamente na superfície da água e lendo o deslocamento na


escala graduada. Essa altura é a altura da evaporação;
 caso nessa altura se tenha registado precipitação, é preciso somar à altura
determinada anteriormente o valor da precipitação. Note-se que, neste
caso, pode acontecer que a superfície da água esteja acima e não abaixo
do nível de referência.

Como se disse anteriormente, a evaporação medida numa tina evaporimétrica simula


melhor a realidade da evaporação a partir duma superfície líquida do que a medição num
evaporímetro como o “Piche”, sendo por isso preferível utilizar dados de tina, sempre que
possível. Como principais dificuldades à utilização da tina podem apontar-se:
 o problema do seu transporte para os lugares mais distantes;
 os problemas de manutenção (pintura metálica para protecção contra a
ferrugem);
 o problema de evitar que pássaros e outros animais utilizem a tina como
bebedouro, assim falseando os resultados das medições.

Em relação a este último aspecto, usa-se por vezes uma rede metálica a cobrir a tina. Esta
solução traz, porém, o inconveniente de alterar o valor da radiação recebida pela tina.
A evaporação medida na tina pode, no entanto, diferir significativamente da evaporação
numa superfície líquida dum lago ou duma albufeira sujeita às mesmas condições
climáticas. Há um conjunto de factores que explicam essa diferença:
 a radiação que a tina recebe pela superfície lateral e pelo fundo é uma
proporção muito mais elevada da radiação recebida pela superfície líquida
do que no caso dum lago;
 a evaporação numa superfície líquida cria o chamado “efeito de oásis”
(efeito local de diminuição da temperatura e aumento da humidade
relativa). Se a camada saturada que se forma é removida pelo vento, o
processo de evaporação recomeça. A remoção da camada saturada
acontece muito mais facilmente na tina do que num lago em virtude da
pequena dimensão da superfície da tina;
 os bordos da tina criam uma turbulência adicional, aumentando o efeito
do vento na remoção da camada saturada;

 devido ao pequeno volume de água que a tina contem, a temperatura da


água na tina é homogénea, não existindo a estratificação térmica
característica dos lagos e albufeiras.

Todos estes factores induzem a que a evaporação na tina seja bastante superior à
evaporação que se verifica no lago. Por este motivo, a evaporação medida na tina deve
ser multiplicada por um coeficiente de redução para se obter a evaporação num lago ou
albufeira. Este coeficiente é chamado de “coeficiente de tina” e é inferior à unidade. Pode-
se aferir o valor do coeficiente da tina (que varia conforme o local e a época do ano) se

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

se dispuser de algum outro método preciso para a determinação da evaporação como, por
exemplo, o método do balanço energético.
Lencastre e Franco (1984) referem os seguintes valores do coeficiente da tina utilizados
em Portugal:
 Outubro, Novembro: 0.7;
 Dezembro a Março: 0.6;
 Abril, Maio: 0.7;
 Junho a Setembro: 0.8.

Ainda não foi feita (1996) nenhuma aferição em Moçambique. Sugere-se por isso a
adopção do valor médio de 0.7para o coeficiente da tina, valor comummente adoptado
para a tina de classe “A” em zonas onde tal coeficiente não foi determinado.

2.3.3. Rede evaporimétrica

Segundo dados de Loureiro (1984), existiam em Moçambique 132 estações dispondo de


tina evaporimétrica ou evaporimetro “Piche” ou ambos, com a seguinte distribuição:
Total >20 anos 10-20 anos <10 anos
Tina de classe “A” 14 4 7 3
Evaporimetro “Piche” 82 43 31 8
Tina + evaporimétro 36 10 21 5
122 estações pertenciam ao INAM e 10 à DNA. Tomadas em conjunto, elas conduziam
2
a uma densidade de 5,900 Km /estação, o que se pode considerar uma densidade bastante
baixa.

Devido ao pequeno número de estações dotados de tina (50), há todo o interesse de tentar
correlacionar os dados de tina com os de evaporimetro para se poder estimar a evaporação
de superfícies líquidas a partir da evaporação latente medida pelo evaporimétro. A
correlação teria de ser estabelecida usando as estações comuns (dispondo de tina +
evaporimetro). Tal estudo foi realizado por Carvalho e Loureiro (1974) mas usando
poucas estações (9) e dispondo de poucos anos de dados comuns (4 a 6). Obtiveram-se
coeficientes de correlação iguais ou superiores a 0.7 em 7 dos 9 casos. Interessa, portanto,
retomar e estender o estudo realizado.

2.4.PROCESSO FÍSICO DA TRANSPIRAÇÃO

Os seres vivos transpiram, ie, perdem água por evaporação a partir de poros
microscópicos situados na pele ou nas folhas. A transpiração é um processo
quantitativamente importante quando se considera a abundância geral da vegetação.
O sistema de raízes duma planta absorve água do solo, a maior parte da qual não é
utilizada pela planta, perdendo-se para a atmosfera através dos poros nas folhas.
A transpiração é, portanto, afectada pelos mesmos factores que influenciam a evaporação
(radiação solar, temperatura, vento, humidade relativa). No entanto, para além destes
factores, a transpiração depende também de:
 características da planta (sistema de raízes, tipo de folhas, etc);

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

 densidade das plantas;


 teor de humidade do solo.

No que respeita ao teor da humidade do solo, verifica-se que a transpiração duma planta
vai decrescendo com o teor de humidade do solo a partir da situação de capacidade de
campo e cessa quase totalmente quando se atinge o ponto de emurchecimento.
A capacidade de campo é o teor de humidade dum solo inicialmente saturado após ter
cessado a percolação, correspondendo à quantidade de água que fica retido no solo contra
a acção da gravidade.
O ponto de emurchecimento é o teor de humidade mínimo para o qual as plantas ainda
conseguem ir buscar água no solo, correspondendo a tensões de sucção da ordem de 15
atmosferas. Quando o teor de humidade é inferior, as plantas já não conseguem exercer a
sucção necessária e murcham.

2.5. EVAPOTRANSPIRAÇÃO

2.5.1. Aspectos gerais

É quase impossível medir a componente da transpiração a não ser em condições restritas


de laboratório. Por isso, procura-se estimar conjuntamente a água perdida para a
atmosfera por transpiração das plantas e por evaporação do solo e superfícies líquidas
circundantes, fenómeno que se designa por evapotranspiração.
Distingue-se a evapotranspiração potencial e a evapotranspiração efectiva ou actual.
A evapotranspiração potencial é a evapotranspiração que se registaria se não houvesse
carência de água. Neste caso a transpiração das plantas atinge o seu valor máximo. A
evapotranspiração potencial então depende de:
 factores climáticos (radiação solar, temperatura, vento, humidade relativa,
pressão atmosférica);
 características da planta (sistema de raízes, tipo de folhas, estádio de
crescimento, etc);
 densidade das plantas.

Sempre que o teor de humidade do solo se encontra abaixo da capacidade de campo, a


evapotranspiração que se verifica é inferior à evapotranspiração potencial. Designa-se por
evapotranspiração efectiva aquela que se regista nas condições actuais de humidade do
solo. Depende então, além dos factores que influenciam a evapotranspiração potencial,
também da humidade do solo.
A evapotranspiração efectiva, ETe, é sempre inferior à evapotranspiração potencial, ETp,
podendo considerar-se a seguinte formulação genérica:
)n-nn-n( f ET = ET0r0wpe
em que nw, n0 e nr, são respectivamente o teor da humidade do solo, o ponto de
emurchecimento e a capacida de campo.

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

2.5.2. Determinação de evapotranspiração potencial

Tal como para a evaporação, também se usam métodos analíticos e medições para
determinar a evapotranspiração potencial. No entanto, devido a maior complexidade do
fénomeno da evapotranspiração, verifica-se um maior recurso a métodos semi-empíricos.
Os métodos abordados nos próximos parágrafos são:
 método do balanço energético;
 método de Penman;
 medição directa com lisímetros ou medição indirecta com tina
evaporimétrica;
 métodos semi-empíricos, como o método de Thornthwaite e de Blaney-
Criddle.

2.5.2.1. Método do balanço energético

O método do balanço energético referido em 2.2.3 pode também ser utilizado para a
determinação da evapotranspiração potencial. A equação do balanço energético para uma
superfície revestida de vegetação e para um dado intervalo de tempo escreve-se:
Qs – Qsr – Qlw – Qh – Qet + Qv = ΔQ
em que
Qs = radiação solar incidente;
Qsr = radiação solar reflectida; Qsr = aQs em que a é o albedo;
Qlw = radiação de ondas longas;
Qh = calor transferido por trocas turbulentas;
Qet = energia gasta na evapotranspiração;
Qv = energia adu
ΔQ = variação da energia armazenada no solo e vegetação; pode-se considerar nula para
períodos de tempo não inferiores a 1 dia.
Desprezando Qv e ΔQ, a equação do balanço energético torna-se:
Qn = Qs – Qsr – Qlw = Qh + Qet = Qet (1+R),
em que R é o coeficiente de Bowen.
Dividindo por ρl, obtemos ETp = N/(1+R), com ETp = Qet/ρl e N = Qn/ρl.

2.5.2.2.Método de Penman

Também o método de Penman pode ser aplicado para a estimação da evapotranspiração


potencial. Partindo da equação do balanço energético referida no parágrafo anterior,
chega-se a
1+AE+AN = ETapΔΔ
em que N, Δ/A e Ea têm o significado já anteriormente definido

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

2.5.3. Determinação de evapotranspiração potencial

2.5.3.1.Mediçaão com evapotranspirómetros ou lisímetros

Os evapotranspirómetros ou lisímetros são tanques com fundo semi-permeável,


enterrados no chão e contendo solo e vegetação nas mesmas condições que o terreno
circundante. Para minorar o efeito da fronteira e evitar restringir o crescimento das
plantas, o tanque deve ser tão grande e profundo quanto possível, sendo normal que os
3 3
lisímetros possuam capacidades que podem ir desde cerca de 1 m até cerca de 150 m . A
figura 1.7 representa diversos tipos de lisímetros.

Figura 7 – Tipos de lisímetros

O lisímetro do tipo a) determina a evapotranspiração a partir da equação de balanço


hídrico:
Evapotranspiração = (Precipitação + Irrigação) - Drenagem
Nesta equação não se tem em conta a variação do armazenamento de água no solo pelo
que estes lisímetros devem ser usados quanto esta variação for pequena.
Os lisímetros dos tipos b) e c) medem a variação do peso registado o que equivale a uma
variação do volume de água armazenada no solo, entrando seguidamente com a equação
do balanço hídrico:
Evapotranspiração = (Precipitação + Irrigação) - Drenagem + Variação do
armazenamento
Através da irrigação, o solo é mantido em condições próxima da saturação, pelo que o
valor determinado corresponde a evapotranspiração potencial. Os lisímetros são
instrumentos pouco práticos e apenas são utilizados normalmente em grandes explorações
agrícolas e centros de investigação.

2.5.3.2.Medição com tina evaporimétrica

Embora a tina meça a evaporação duma superfície líquida, é possível usar os seus valores
para estimar a evapotranspiração potencial multiplicando-os por determinados factores
de correcção.

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

2.5.3.3.Medição de Thornthwaite

O método de Thornthwaite é um método semi-empírico que foi derivado por correlação


entre temperaturas do ar e evapotranspiração potencial a partir dum grande número de
medições das mesmas. O procedimento é o seguinte,
a) determina-se o índice de calor mensal ji de cada mês,
b) determina-se o índice de calor anual,
c) determina-se a evapotranspiração potencial no Equador, ETp,0 (cm/mês),
em que T é a temperatura média do mês (°C);
d) determina-se a evapotranspiração potencial no local de latitude φ através de:

ETp,φ = K ETp,0,

em que K é função da latitude e da época do ano, conforme se apresenta na tabela 1.10.

Tabela 8 Factor de correcção da duração mensal de insolação, K (fórmula de


Thornthwaite).

Latitude Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
60°N 0.54 0.67 0.97 1.19 1.33 1.56 1.55 1.33 1.07 0.84 0.58 0.48
50°N 0.71 0.84 0.98 1.14 1.28 1.36 1.33 1.21 1.06 0.90 0.76 0.68
40°N 0.80 0.89 0.99 1.10 1.20 1.25 1.23 1.15 1.04 0.93 0.83 0.78
30°N 0.87 0.93 1.00 1.07 1.14 1.17 1.16 1.11 1.03 0.96 0.89 0.85
20°N 0.92 0.96 1.00 1.05 1.09 1.11 1.10 1.07 1.02 0.98 0.93 0.91
10°N 0.97 0.98 1.00 1.03 1.05 1.06 1.05 1.04 1.02 0.99 0.97 0.96
0 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1 .00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00
10°S 1.05 1.04 1.02 0.99 0.97 0.96 0.97 0.98 1 .00 1.03 1.05 1.06
20°S 1.10 1.07 1.02 0.98 0.93 0.91 0.92 0.96 1.00 1.05 1.09 1.11
30°S 1.16 1.11 1.03 0.96 0.89 0.85 0.87 0.93 1.00 1.07 1.14 1.17
40°S 1.23 1.15 1.04 0.93 0.83 0.78 0.80 0.89 0.99 1.10 1.20 1.25
50°S 1.33 1.19 1.05 0.89 0.75 0.68 0.70 0.82 0.97 1.13 1.27 1.36

2.5.3.4.Medição de Blaney - Criddle

O método de Blaney - Criddle foi desenvolvido para a região ocidental dos Estados
Unidos e depois foi sendo aplicada a outras regiões áridas no mundo, registando-se
resultados favoráveis.
O método determina a evapotranspiração potencial num dado mês através da fórmula
ETp = C [p (0.46 T + 8)] + d,

Sul *) Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun.
60° 0.15 0.20 0.26 0.32 0.38 0.41 0.40 0.34 0.28 0.22 0.17 0.13
58° 0.16 0.21 0.26 0.32 0.37 0.40 0.39 0.34 0.28 0.23 0.18 0.15
56° 0.17 0.21 0.26 0.32 0.36 0.39 0.38 0.33 0.28 0.23 0.18 0.16
54° 0.18 0.22 0.26 0.31 0.36 0.38 0.37 0.33 0.28 0.23 0.19 0.17
52° 0.19 0.22 0.27 0.31 0.35 0.37 0.36 0.33 0.28 0.24 0.20 0.17
50° 0.19 0.23 0.27 0.31 0.34 0.36 0.35 0.32 0.28 0.24 0.20 0.18
48° 0.20 0.23 0.27 0.31 0.34 0.36 0.35 0.32 0.28 0.24 0.21 0.19
46° 0.20 0.23 0.27 0.30 0.34 0.35 0.34 0.32 0.28 0.24 0.21 0.20

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

44° 0.21 0.24 0.27 0.30 0.33 0.35 0.34 0.31 0.28 0.25 0.22 0.20
42° 0.21 0.24 0.27 0.30 0.33 0.34 0.33 0.31 0.28 0.25 0.22 0.21
40° 0.22 0.24 0.27 0.30 0.32 0.34 0.33 0.31 0.28 0.25 0.22 0.21
35° 0.23 0.25 0.27 0.29 0.31 0.32 0.32 0.30 0.28 0.25 0.23 0.22
30° 0.24 0.25 0.27 0.29 0.31 0.32 0.31 0.30 0.28 0.26 0.24 0.23
25° 0.24 0.26 0.27 0.29 0.30 0.31 0.31 0.29 0.28 0.26 0.25 0.24
20° 0.25 0.26 0.27 0.28 0.29 0.30 0.30 0.29 0.28 0.26 0.25 0.25
15° 0.26 0.26 0.27 0.28 0.29 0.29 0.29 0.28 0.28 0.27 0.26 0.25
10° 0.26 0.27 0.27 0.28 0.28 0.29 0.29 0.28 0.28 0.27 0.26 0.26
5° 0.27 0.27 0.27 0.28 0.28 0.28 0.28 0.28 0.28 0.27 0.27 0.27
0° 0.27 0.27 0.27 0.27 0.27 0.27 0.27 0.27 0.27 0.27 0.27 0.27
*
Latitude de hemisfério Sul: desfasar de 6 meses, como indicado.

A figura 8 permite obter directamente o valor de ETp a partir do conhecimento de p (0.46


T + 8).

Quer o método de Thornthwaite quer o método de Blaney - Criddle foram derivados para
condições específicas que, quando não verificadas, podem originar erros grosseiros.

Figura 1-8 –Abaco de calculo para metodo de Bleney - Cridle

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

2.6.DETERMINAÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO EFECTIVA

2.6.1. Método de Thornthwaite-Mather

O cálculo da evapotranspiração efectiva torna-se muito complexo devido à interacção de


condições meteorológicas com as condições do solo e as características da vegetação.
Recorre-se por isso a métodos simplificados, sendo um dos mais utilizados o método de
Thornthwaite - Mather.
Em casos especiais ainda pode-se aplicar o método do balanço hídrico ou o método do
balanço energético.
No que diz respeito ao método de balanço energético, pode-se referir que foram
recentemente desenvolvidos métodos para determinar a evapotranspiração efectiva a
partir de imagens de satélite. Trata-se porém dum método bastante dispendioso por
necessitar dum grande número de imagens.
O método de Thornthwaite - Mather pode ser aplicado para estimar a
evapotranspiração efectiva em áreas onde o nível da água subterrânea é profundo. O
método baseia-se na equação do balanço hídrico aplicado à camada superficial do solo:

P - ETe - Q - R = ΔSs + ΔSso,


em que
P = precipitação;
ETe = evapotranspiração efectiva;
Q = escoamento superficial;
R = recarga da água subterrânea;
ΔSs = variação do armazenamento superficial;
ΔSso = variação do armazenamento no solo.
O método parte da seguinte hipótese: só há escoamento superficial e/ou recarga da água
subterrânea e/ou variação do armazenamento superficial quando o teor de humidade do
solo atingiu a capacidade de campo e a evapotranspiração efectiva igualou a
evapotranspiração potencial.
A fracção da humidade do solo utilizável pelas plantas designa-se por nu = nw - n0, em que
nw e n0 são respectivamente o teor da humidade do solo e o teor de humidade no ponto de
emurchecimento. nu é um valor adimensional (fracção). Se se multiplicar pela
profundidade do solo atingida pelas raízes, esse valor passa a se expresso em altura de
água, Nu.
A evapotranspiração efectiva é dada em cada peródo de tempo por
ETe = ETp se P ≥ ETp
ETe = P - ΔSso se P < ETp (Obs: note-se que ΔSso < 0)
Quando P ≥ ETp diz-se que há superavit hídrico SH:
SH = P - ETp - ΔSso

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

Esta equação significa que a precipitação garante a evapotranspiração potencial e o


aumento do armazenamento no solo; o excedente constitui o SH, que resulta em
escoamento superficial e/ou recarga da água subterrânea e/ou armazenamento superficial.
ΔSso = P - ETp (ou seja, SH = 0)
até Sso = Nr (Nr é a capacidade de campo, expressa em altura, sendo o limite superior de
Sso). A tabela 10 apresenta alguns valores característicos da capacidade de campo, nr, e o
ponto de emurchecimento, n0, para vários solos.
Tabela 10 Valores característicos da capacidade de campo e do ponto de emurchecimento

Solo: Capacidade de campo (%) Ponto de


emurchecimento (%)
Argila 45 30
Argila siltosa 40 25
Areia siltosa 28 18
Areia fina 15 8
Areia 8 4

Quando P < ETp diz-se que há défice hídrico DH:

DH = ETp - P + ΔSso (ΔSso < 0)

A aplicação sequencial ao longo do tempo do método de Thornthwaite - Mather (também


chamado de método do balanço sequencial) permite assim calcular a evapotranspiração
efectiva.
As figuras 1.9 e 1.10, extraídas de Gonçalves (1974), representam a evapotranspiração
potencial calculada pelo método de Thornthwaite e a evapotranspiração efectiva
calculada pelo método de Thornthwaite – Mather, para valores climáticos anuais médios
de Moçambique. Para este último caso, o autor adoptou os valores de Nr = 75 mm para
solos arenosos, Nr = 100 mm para solos areno-argilosos e Nr = 150 mm para solos
argilosos.
A comparação das duas figuras mostra que a ETe se aproxima de ETp em zonas de
precipitação elevada, afastando-se bastante dela e assemelhando-se aos valores de
precipitação em zonas de baixa precipitação como o interior da Província de Gaza e o sul
da Província de Tete.

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

Figura 9 – Evapotranspiracao; piracao potencialcalculada em Mocambique

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

Figure 10 - Evapotranspiraçao efectiva, calculada pelo método de Thornthwaite-Mather

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

3. CONCLUSÃO

Em qualquer superfície líquida, há um incessante movimento de moléculas de água que


passa da fase líquida para a fase gasosa e vice-versa, sendo a primeira forma a dominante
em condições atmosféricas normais. Há, portanto, simultâneamente evaporação (líquido
→ vapor) e condensação de água (vapor ← líquido).
Do ponto de vista prático e correspondendo àquilo que de facto se pode medir, o que nos
interessa é o excedente da evaporação sobre a condensação. Assim, chamaremos
evaporação ao excedente da transformação líquido → vapor em relação à situação oposta.
É quase impossível medir a componente da transpiração a não ser em condições restritas
de laboratório. Por isso, procura-se estimar conjuntamente a água perdida para a
atmosfera por transpiração das plantas e por evaporação do solo e superfícies líquidas
circundantes, fenómeno que se designa por evapotranspiração.
Distingue-se a evapotranspiração potencial e a evapotranspiração efectiva ou actual. A
evapotranspiração potencial é a evapotranspiração que se registaria se não houvesse
carência de água. Neste caso a transpiração das plantas atinge o seu valor máximo.

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EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO

4. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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p.
 KLAR, A. V. A água no sistema- solo-planta-atmosfera - São Paulo, Nobel, 1984.
 DOORENBOS, J. e PRUITT, W. O. 1975. Crop water requeriments. Roma,
 FAO. 179 p (Irrigation and Drainage Papers)
 VAREJÃO-SILVA, M. A. 1982. Instrumentos meteorológicos convencionais
para estações de superfície II. UFPb/CCT. 94 p.
 LINACRE, E. T. 1967. Climate and evaporation from crops. Jour. Irrig. And
Drainage Div. ASAE, 93: 61-79.
 ALTENHOFEN, J. 1985. A modified atmometer for on farm evapotranspiration.
Proceedings of the Conference on a Advances in Evapotranspiration. ASAE,
Chicago, Ilinoi.
 DOORENBOS, J. 1976. Agro-meteorological field stations. FAO, Roma. N 27,
94 p.
 MOTA, F. S. 1987. Meteorologia agrícola. Livraria Nobel S/A. 376 p.
 ABOUKHALED, A.; ALFARO, J. F.; SMITH, M. Los Lisímetros. Roma: FAO,
1986, 60 p. (Estudio FAO. Riego y Drenaje, 39).
 TUBELIS, A. e NASCIMENTO, F. J. L. 1980. Meteorologia Descritiva -
Fundamentos e aplicações brasileiras. Livraria Nobel S. A.., São Paulo.

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