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Métodos Alternativos de

Resolução e Conflitos
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MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

APRESENTAÇÃO

Caro aluno,

Seja bem-vindo ao sistema EAD.

INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

1. Nesta nossa disciplina, trataremos de assuntos sobre os Métodos Alternativos de Resolução de


Conflitos: Negociação, Conciliação, Mediação, Arbitragem. Origem, conceituação e fundamentos
históricos dos métodos alternativos de resolução de conflitos. Aspectos sociais, políticos e
econômicos dos métodos alternativos de resolução de conflitos. Aplicabilidade e procedimentos
utilizados em cada um dos métodos alternativos de resolução de conflitos.

Nosso objetivo é promover a compreensão e a importância dos métodos alternativos de resolução


de conflitos, assim como apresentar e discutir aos conhecimentos teóricos e práticos a respeito
das formas alternativas de solução de controvérsias e sua interação com o Poder Judiciário.

2. Considerando-se que será você quem administrará seu próprio tempo, nossa sugestão é que se
dedique ao menos quatro horas por semana para esta disciplina, estudando os textos sugeridos
e realizando os exercícios de autoavaliação. Uma boa forma de fazer isso é já ir planejando o que
estudar, semana a semana.

3. Para facilitar seu trabalho, apresentamos na tabela abaixo os assuntos que deverão ser estudados
e, para cada assunto, a leitura fundamental exigida e a leitura complementar sugerida, além das
videoaulas. No mínimo, você deverá buscar entender muito bem o conteúdo da leitura fundamental,
só que essa compreensão será maior se você acompanhar também a leitura complementar. Você
mesmo perceberá isso ao longo dos estudos.

CONTEÚDOS/LEITURAS SUGERIDAS

CONTEÚDOS DE ESTUDO BIBLIOGRAFIA BÁSICA BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR


LEIRIA, Jerônimo Souto;
MONTESANO, Arlete; ALCÂNTARA,
Módulo 1 - Breve Histórico dos CARMONA, Carlos Alberto. Sandro Vilela. Manual de
Métodos Alternativos de Resolução Arbitragem. São Paulo: Atlas, 2007. Arbitragem para Solução do Passivo
de Conflitos. Trabalhista Empresarial. Porto
Alegre: CLT.
Módulo 2 - Conflito de Interesses:
Origem, Elementos, Fatos e
Percepções, Estratégias.
Métodos Alternativos de Resolução CALMON FILHO, Petrônio. FIORELLI, J. O.; FIORELLI, M. R.;
de Conflitos: Negociação. Fundamentos da mediação e NALHADAS, M. J. O. Mediação e
da conciliação. Rio de Janeiro: solução de conflitos. São Paulo:
Conciliação. Forense, 2007. Atlas, 2008.
Mediação.
Arbitragem.

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Módulo 3 – Negociação:
Origem, Conceituação e Fundamentos
Históricos da Negociação.
Mudança de Paradigma. CALMON FILHO, Petrônio. FIORELLI, J. O.; FIORELLI, M. R.;
Fundamentos da mediação e NALHADAS, M. J. O. Mediação e
Princípios da Negociação. da conciliação. Rio de Janeiro: solução de conflitos. São Paulo:
Forense, 2007. Atlas, 2008.
Atitudes do Negociador.
Aplicabilidade da Negociação.
Procedimento de Negociação.
Módulo 4 – Conciliação:
Origem, Conceituação e
Fundamentos Históricos da CALMON FILHO, Petrônio.
Conciliação. Fundamentos da mediação e
da conciliação. Rio de Janeiro: FIORELLI, J. O.; FIORELLI, M. R.;
Mudança de Paradigma. NALHADAS, M. J. O. Mediação e
Forense, 2007.
Princípios da Conciliação. solução de conflitos. São Paulo:
Resolução nº 125/2010 do CNJ. Atlas, 2008.
Atitudes do Conciliador. Novo Código de Processo Civil.
Aplicabilidade da Conciliação.
Procedimento de Conciliação.

Módulo 5 – Mediação: CALMON FILHO, Petrônio. Fundamentos


Origem, Conceituação e Fundamentos da mediação e da conciliação. Rio de FIORELLI, J. O.; FIORELLI, M. R.;
Históricos da Mediação. Janeiro: Forense, 2007. NALHADAS, M. J. O. Mediação e
solução de conflitos. São Paulo:
Mudança de Paradigma. Novo Código de Processo Civil. Atlas, 2008.
Princípios da Mediação. Lei nº 13.140/2015.

CALMON FILHO, Petrônio.


Módulo 6 – Mediação: Atitudes do Fundamentos da mediação e
Mediador. da conciliação. Rio de Janeiro: FIORELLI, J. O.; FIORELLI, M. R.;
Forense, 2007. NALHADAS, M. J. O. Mediação e
Aplicabilidade da Mediação. solução de conflitos. São Paulo:
Novo Código de Processo Civil. Atlas, 2008.
Procedimento de Mediação.
Lei nº 13.140/2015.
Módulo 7 - Arbitragem.
Origem, Conceituação e
Fundamentos Históricos da GUILHERME, Luiz Fernando do Vale
CARMONA, Carlos Alberto.
Arbitragem. de Almeida. Manual de Arbitragem.
Arbitragem. São Paulo: Atlas, 2007. São Paulo: Saraiva, 2012.
Mudança de Paradigma.
Princípios da Arbitragem.
Módulo 8 – Arbitragem: Atitudes
do Árbitro.
GUILHERME, Luiz Fernando do Vale
CARMONA, Carlos Alberto.
Aplicabilidade da Arbitragem. de Almeida. Manual de Arbitragem.
Arbitragem. São Paulo: Atlas, 2007. São Paulo: Saraiva, 2012.
Procedimento de Arbitragem. Análise
da Lei nº 9.307/1996.

Nota: ver a seguir as referências bibliográficas, para maior detalhamento das fontes de consulta indicadas

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MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Básica:

CALMON FILHO, Petrônio. Fundamentos da mediação e da conciliação. Rio de Janeiro: Forense, 2007.

CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem. São Paulo: Atlas, 2007.

GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo. Mediação e gerenciamento do processo. São Paulo:
Atlas, 2007.

Complementar:

ALVIM, J. E. Carreira. Comentários à lei de arbitragem: Lei 9.307. Curitiba: Juruá, 2007.

CAETANO, Luiz Antunes; PAASHAUS, Gustavo Cintra. Do juízo arbitral: arbitragem e mediação. São
Paulo: LEUD, 2006.

FIORELLI, J. O.; FIORELLI, M. R.; NALHADAS, M. J. O. Mediação e solução de conflitos. São Paulo:
Atlas, 2008.

PRADO, Geraldo. Transação penal. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006.

SAMPAIO, Lia Castaldi; BRAGA NETO, Adolfo. O que é mediação de conflitos? São Paulo: Brasiliense, 2007.

SIX, Jean-François. Dinâmica da mediação. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

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MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

Unidade I
MÓDULO 1 – BREVE HISTÓRICO DOS MÉTODOS ALTERNATIVOS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS.

Os métodos alternativos de resolução de conflitos, negociação, conciliação, mediação e arbitragem,


são meios complementares à jurisdição e não são adequados para todos os litígios.

O atual momento pelo qual passa o Poder Judiciário brasileiro, evidenciado pelos diversos fóruns,
seminários, simpósios, programas de incentivo à conciliação etc., há muito demonstra o esgotamento
pelo qual passa nosso sistema jurisdicional, revelando-nos a insuficiência, ineficácia e, por vezes, a
insatisfação gerada pela atuação jurisdicional do magistrado, como modelo tradicionalmente adotado
para a resolução de conflitos em uma sociedade.

Com vistas nesse cenário que nos apoiamos nos Métodos Alternativos de Resolução de Conflitos
(MARCs), como modelos aliados ao Poder Público, especialmente o Judiciário, e aptos a ampliar o
acesso à justiça, de forma mais humana, equânime, legítima, e capaz de produzir desfechos idôneos a
gerar efetiva satisfação para todas as partes em um litígio, concluindo-se, destarte, que os MARCs são,
teleologicamente, expressão do acesso à justiça enquanto direito fundamental previsto na Constituição
Federal e, portanto, merecedores de aprimoramento em homenagem ao princípio da máxima efetividade
dos direitos fundamentais.

Convém conhecermos a evolução histórica dos Métodos Alternativos de Resolução de Conflitos.

O instituto da arbitragem é um dos mais antigos que se tem notícia na história do Direito, havendo
registros comprobatórios de sua origem bem antes do surgimento dos legisladores e do Estado – Juiz.

No início das civilizações, o homem utilizava seus instintos mais primitivos para resolver conflitos,
predominando a chamada “justiça com as próprias mãos”. Nesta época, as instituições eram, ainda,
bastante tênues, carecendo de organização e autoridade para solucionar controvérsias.

Posteriormente, para que pudesse viver em sociedade, o homem teve que “abrir mão” de tais instintos,
passando a outorgar ao chefe ou à pessoa mais idosa da comunidade, poderes para solucionar conflitos
através da sabedoria, bem senso e, também, dos costumes. Daí temos a continuidade da Justiça Privada,
só que não mais realizada diretamente pelo ofendido, mas pelo terceiro especialmente designado para
solucionar as controvérsias. Somente em momento histórico bastante posterior é que a Justiça Pública
seria oferecida pelo Estado.

Desta forma, sabendo-se que a Justiça Privada antecedeu a Estatal, vamos inicialmente encontrar as
raízes do Juízo Arbitral no Direito Romano, com a criação de um quadro composto por membros idôneos e
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Unidade I

com certa representatividade dentro da sociedade, que tinham como objetivo dirimir extrajudicialmente
conflitos decorrentes de negócios jurídicos realizados entre os cidadãos.

Entretanto, conforme foi o Estado Romano se publicizando, o chamado “arbitramento” da época foi
cedendo lugar para o juízo estatal, surgindo o julgamento realizado pelo Imperador, na figura de um pretor.

Já a partir do século XII, encontramos na Idade Média diversos casos de Arbitragem entre cavaleiros,
barões e proprietários feudais, além de ser o período em que surgiu a Arbitragem comercial, na medida
em que os comerciantes preferiam ter seus litígios resolvidos por árbitros que eles mesmos escolhiam,
muito mais rápidos e eficientes em suas decisões que os Tribunais da época.

Em 1789, com a revolução francesa, teve a Arbitragem o seu apogeu, consolidando-se em decorrência
da consagração dos Direitos do Homem, passando a ser obrigatória para solucionar várias questões.
Posteriormente, a França substituiu esta forma de Arbitragem forçada pela facultativa.

No período em o Brasil era colônia de Portugal, a solução amigável dos conflitos esteve presente nas
Ordenações Filipinas (Livro 3º, T. 20, § 1º).

No Brasil, a Constituição do Império de 1824, já dispunha acerca o juiz de paz, reconciliação, mediação
e do Juízo Arbitral, nos seus arts. 160 e 161.

Através das Leis Orgânicas de 1831 e 1837, a utilização do Instituto passou a ser obrigatória para
matérias relativas a seguro e locação comercial, abrangendo todos os conflitos de natureza mercantil
com o advento do Código Comercial de 1850, desaparecendo, porém, em 1866. Na área trabalhista,
foram criados mecanismos para solucionar conflitos mediante Mediação e Arbitragem em 1907, abolida,
entretanto, em 1932, pois o Estado considerou-a um contrassenso ao direito pátrio.

Em 1916, o Código Civil previu a possibilidade de as partes submeterem suas controvérsias a um


Tribunal Arbitral em seus artigos 1.037 e seguintes. A Constituição de 1934 também previu o Instituto,
que foi prontamente revogado pela Constituição de 1937.

A Constituição de 1988, art. 114, §§ 1º e 2º, prevê a possibilidade de entidades sindicais elegerem
árbitros para mediar suas questões.

Superados os obstáculos à utilização da Arbitragem, em 1996, foi publicada a Lei nº 9.307, a chamada
Lei de Arbitragem, que trouxe à realidade um projeto iniciado há muito tempo.

Em 2015, entrou em vigência a Lei de Mediação (Lei nº 13.140/2015), para dispor sobre a mediação
entre particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no
âmbito da administração pública. Nesse mesmo ano, a Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/1996) sofreu
atualização por meio da Lei nº 13.129/2015, para ampliar o âmbito de aplicação da arbitragem e dispor
sobre a escolha dos árbitros quando as partes recorrem a órgão arbitral, a interrupção da prescrição pela
instituição da arbitragem, a concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de arbitragem, a
carta arbitral e a sentença arbitral.
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MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

Podemos concluir que os Métodos Alternativos de Resolução de Conflitos são instrumentos de


pacificação social, garantidos constitucionalmente, na medida em que permite o acesso à justiça é um
direito fundamental consagrado em nossa Carta Maior, devendo ser aplicados a sua máxima efetividade
no plano fático.

O status de direito fundamental do acesso à justiça remete à discussão acerca da máxima


efetividade dos Métodos Alternativos de Resolução de Conflitos, no que tange à sua eficácia
processual no ordenamento jurídico pátrio. Para isso, faz-se necessário o fomento a algumas reformas
processuais com o intuito de fortalecer estes meios alternativos, otimizar as políticas públicas até
então existentes, bem como racionalizar a utilização dessas vias, com intuito de dirimir os litígios de
forma mais humana e eficaz.

MÓDULO 2 – CONFLITO DE INTERESSES: ORIGEM, ELEMENTOS, FATOS E


PERCEPÇÕES, ESTRATÉGIAS. MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE
CONFLITOS: NEGOCIAÇÃO, CONCILIAÇÃO, MEDIAÇÃO, ARBITRAGEM.

CONFLITOS DE INTERESSE

Interesse é a satisfação das necessidades humanas corporificadas nos bens materiais.

Os conflitos de interesses surgem com a possibilidade de que mais de uma pessoa eleja um
determinado bem para a satisfação de suas necessidades e considerando que não haja bens disponíveis
para todos.

Moacyr Amaral dos Santos entende que “existe conflito de interesses quando a intensidade do
interesse de uma pessoa por determinado bem se opõe à intensidade do interesse de outra pessoa pelo
mesmo bem, donde a atitude de uma tende à exclusão de outra quanto a este”.

Os conflitos dão origem a litígios, que se encontram nos:

- relacionamentos em geral.

- família.

- emprego.

- vida social.

- lazer.

Ao longo da vida humana aumentam os conflitos em quantidade e complexidade.

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Unidade I

Elementos dos conflitos:

- diversificação de aspirações de indivíduos e grupos.

- aumento de complexidade dos afazeres.

- conscientização das pessoas em relação a seus direitos.

- surgimento de tecnologias que despertam para novas possibilidades.

- mensagens veiculadas pelos meios de comunicação, incentivando as mudanças.

- oposição à estagnação.

Causa de conflitos – Mudanças. As mudanças afetam o relacionamento entre pessoas e conduzem


ao conflito.

Exemplos de mudanças: fusão de empresas, troca de chefia, casamento, falecimento, divórcio, nova
etapa de vida etc.

Mudança – definição: acontece quando algo ou alguém intervém em um sistema (que pode ser
desde um indivíduo até uma sociedade completa) e, nele, provoca algum tipo de transformação ou
perspectiva de que ela aconteça.

Natureza do conflito:

- bens: patrimônio, direitos, haveres pessoais.

- princípios, valores e crenças de qualquer natureza, inclusive políticas, religiosas, científicas etc.

- poder (nas diferentes acepções).

- relacionamentos interpessoais.

Percepção da mudança: origina-se na mente de pessoas e repercute nas mentes de outras.


Não se pode controlar mentes, mas é possível controlar os processos por meio dos quais as
pessoas tomam contato com as proposições de mudanças. Gerenciam-se os inevitáveis conflitos
administrando as mudanças, para que os envolvidos assimilem suas consequências de maneira
harmoniosa e pacífica.

Fatores que influenciam os conflitos:

- expectativa em relação à mudança: as expectativas sofrem influência da percepção de risco


ou sofrimento, real ou imaginário, originada de experiências anteriores, crenças inadequadas,
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MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

esquemas rígidos de pensamentos, relatos de pessoas significativas e informações obtivas nos


meios de divulgação. Esse fenômeno aumenta a violência potencial do conflito e a dificuldade
de resolvê-lo.

- expectativas associadas aos relacionamentos: todo relacionamento respeita um contrato


psicológico, baseado nas expectativas tácitas e inconscientes de cada pessoa a respeito dos
comportamentos das demais. Esse contrato pode existir entre duas pessoas ou pode ser coletivo.
O contrato psicológico, embora não explícito, exerce grande influência no comportamento das
pessoas. As mudanças fazem com que ele seja um pacto dinâmico em constante renegociação. As
expectativas mudam com o tempo, idade, estado civil.

- resistência à mudança: pode ser desejada por uns e rejeitada por outros, provocada por terceiros,
de forma inegociável, ou originar-se no próprio sistema.

- consequências para a estabilidade do sistema: a reação à mudança também vem da suspeita


quanto à eficácia, diretamente associada às consequências (reais ou percebidas) para a estabilidade
do sistema. Os envolvidos buscarão preservar valores, princípios, crenças, comportamentos e hábitos,
com o intuito, talvez inconsciente, de evitar uma transformação fatal para sua continuidade.

- aderência à realidade: no conflito com bases reais as partes percebem diferenças de interesses. O
conflito sem bases reais origina-se de falhas de comunicação, de mau entendimento das questões
envolvidas (os interesses podem, nem mesmo, conflitar).

- diferenças de personalidades: há pessoas inconciliáveis, que dificultam qualquer relacionamento


satisfatório. Mas, há situações em que o convívio é obrigatório por razões sociais, profissionais ou
outras. O conflito permanece latente pronto para aflorar.

- efeitos da mudança sobre os valores: valor é a ideia aceita pela pessoa e que orienta sua ação.
O valor possui fundamento emocional e encontra-se associado à visão de mundo da pessoa.
Aprendidos desde a infância, os valores fazem parte dos critérios de decisão dos indivíduos.
Compreendem mensagens do tipo: obedecer às leis, respeitar os mais velhos, fazer o vem, vencer
a qualquer custo etc.

- modificações na estrutura de poder: para Max Weber poder é a “possibilidade de impor a


própria vontade à conduta de outras pessoas”. No tocante à mediação, poder é a capacidade
de exercer influência (não significa imposição da vontade do mediador). Pode-se classificar
poder em diferentes tipos: poder físico, poder da sexualidade, poder econômico, poder
da informação. Os poderes podem ser empregados de maneira combinada. Um ou outro
prevalece por motivos situacionais e possibilidades das pessoas que os exercem e daquelas
que recebem seus efeitos. Mudanças na estrutura de poder provocam conflitos e conduzem
a situações complexas, porque afetam o equilíbrio (ou o desequilíbrio) existente, podendo a
mudança reduzir poder de um dos indivíduos envolvidos ou de todos, acentua a diferença de
poder, favorecendo o mais forte.

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Unidade I

Custo dos conflitos:

- financeiros.

- emocionais.

Gastos materiais e emocionais ocorridos no passado são importantes no litígio, na tentativa de


recuperar os investimentos que não voltam mais.

Conteúdos do conflito:

- conteúdo manifesto ou posição: mãe ou pai que luta pela posse de um filho (posição); empregado
que luta por maior salário (posição).

- conteúdo real ou interesse: mãe ou pai que luta pela posse de um filho pode estar interessado
no bem estar da criança (interesse); empregado que luta por melhor salário, pretende manter seu
poder aquisitivo (interesse).

Os conflitos sociais são fenômeno da própria vida em sociedade. As sociedades coexistem com os
conflitos e descobrem técnicas de solução que, teoricamente, podem ser reunidas em três fundamentos,
a autodefesa, a autocomposição e heterocomposição.

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

Sistema de composição de conflitos:

- autotutela ou autodefesa.

- autocomposição: negociação, conciliação, mediação.

- heterocomposição: jurisdição e arbitragem.

1) Autodefesa ou autotutela

A autodefesa, também chamada de autotutela, indica o ato pelo qual alguém faz a defesa própria,
por si mesmo. Supõe defesa pessoal, isto é, as próprias partes procedem à defesa de seus interesses.

Autodefesa consiste na solução direta entre os litigantes pela imposição de um sobre o outro, isto é,
impondo à outra parte um sacrifício não consentido por esta. Há o concurso de duas notas: a ausência
de juiz distinto das partes e a imposição da decisão por uma das partes à outra.

São notórias as deficiências dessa técnica, cuja solução provém de uma das partes interessadas,
que é unilateral e imposta. Portanto, evoca a violência, e a sua generalização importa na quebra da
ordem e na vitória do mais forte e não do titular do direito. Assim, os ordenamentos jurídicos a proíbem,
autorizando-a apenas excepcionalmente.

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MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

A autodefesa pode ser autorizada pelo legislador, tolerada ou proibida. Exemplos de autodefesa:

a) autodefesa autorizada no direito penal são a legítima defesa e o estado de necessidade, que são
meios excludentes da ilicitude do ato (CP, art. 23).

b) autodefesa tolerada pelo legislador é o duelo em alguns países.

c) autodefesa proibida é o exercício arbitrário das próprias razões para a solução de conflitos entre
as partes envolvidas.

d) autodefesa no direito do trabalho são as manifestações de greve (muitas vezes a greve não é
forma de solução, mas meio de pressão), locaute (lock-out), o “exercício do poder disciplinar do
empregador”, a autotutela sindical etc.

2) Autocomposição

Autocomposição consiste na solução direta entre os litigantes através de acordo firmado entre eles,
isto é, o conflito é solucionado por ato das próprias partes, sem emprego de violência, sem a intervenção
de um terceiro, mediante ajuste de vontades. Na autocomposição, um dos litigantes consente no
sacrifício do próprio interesse, daí a sua classificação em unilateral e bilateral. A renúncia é um exemplo
da unilateral e a transação da bilateral, quando cada uma das partes faz concessões recíprocas. Pode
dar-se à margem do processo, sendo, nesse caso, extraprocessual, ou no próprio processo, caso em que
é intraprocessual, como a conciliação.

a) Negociação.

Importante método que antecede todos os outros de resolução de conflitos. É o procedimento no


qual as partes desenvolvem uma série de reuniões para discutir as pretensões apresentadas umas
às outras. É uma forma consensual de por fim a um conflito.

b) Conciliação

Conciliação é autocomposição. As partes chegam a um acordo pela aceitação da proposta de uma


delas, pela convergência e acerto das duas propostas ou pela aceitação da proposta do juiz.

Há vários tipos de conciliação, extrajudicial e judicial. Extrajudicial quando realizada fora da


Justiça, quando ainda não há processo judicial em andamento perante o Poder Judiciário.

Poderá ser judicial, quando já se encontra em andamento processo judicial perante o Poder
Judiciário. A conciliação das partes é possível em todo momento e fase processual. Neste caso, a
conciliação depende da homologação judicial do acordo, que tem natureza irrecorrível. E, se não
cumprida, pode ser executada diretamente.

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Unidade I

c) Mediação

É a composição do conflito com a participação de um terceiro, suprapartes, o mediador, escolhido


pelas partes, e que tem a função de ouvi-las, intermediar a negociação, subsidiar as partes de
informação e formular sugestões de propostas conciliatórias, para decisão das partes. As partes
não são obrigadas a aceitar as propostas. O mediador nada decide, apenas interfere para aproximar
as vontades divergentes dos litigantes. Geralmente, a mediação é extrajudicial, mas também pode
ser judicial. A nova Lei de Mediação n. 13.140/2015.

3) Heterocomposição

Heterocomposição consiste na solução do conflito por uma fonte suprapartes, que decide com força
obrigatória sobre os litigantes, que são submetidos à decisão. A decisão não é das partes, mas de uma
pessoa ou órgão acima delas.

Há mais de um tipo de heterocomposição.

a) Jurisdição ou Tutela

Jurisdição é uma forma heterocompositiva de solução dos conflitos através de decisão da Justiça
do Trabalho.

O fim principal da jurisdição é a satisfação do interesse público do Estado na realização do direito


e a composição dos litígios pelas pessoas ou órgãos investidos, pela lei, desses poderes.

A jurisdição ou tutela é a forma de solucionar os conflitos por meio da interveniência do Estado,


gerando o processo judicial. O Estado diz o direito no caso concreto submetido ao judiciário,
impondo às partes a solução do litígio.

b) Arbitragem (Lei n. 9.307/96, com alteração da Lei n. 13.129/2015)

Arbitragem é um mecanismo heterônomo de solução dos conflitos de trabalho. É uma forma de


decisão extrajudicial dos conflitos. Na arbitragem quem julga não é um juiz investido de jurisdição
pelo Estado, mas um árbitro escolhido pelas partes, que profere uma decisão chamada sentença
arbitral (Lei n. 9.307/96, art. 3º). Difere da decisão judicial pelos fundamentos, porque o laudo
arbitral não aponta, obrigatoriamente, fundamentos jurídicos. Podem ser econômicos, de bom
senso ou de conveniência no caso concreto. O árbitro não está investido do poder jurisdicional,
porque sua autoridade para decidir é atribuída pela vontade dos particulares cujos interesses são
apreciados.

O árbitro deve ser pessoa capaz, terceiro escolhido pelas partes, que deve atuar de forma imparcial
na solução do conflito e também ser de confiança das partes, que decidirá de modo obrigatório
para as partes, tratando-se de decisão que impede o acesso ao juízo natural, para questionar
seu mérito, porquanto opção das partes. Pode ser formado um Juízo Arbitral, composta por um
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MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

árbitro, ou um Tribunal Arbitral, composta por mais de um árbitro, sempre em número ímpar, mas
todos escolhidos pelas partes.

Arbitragem tem natureza jurídica de justiça privada, pois o árbitro não é funcionário do Estado, nem
está investido por este de jurisdição, como acontece com o juiz. É uma forma de heterocomposição,
pois não são as próprias partes que resolvem o conflito, como ocorre na autocomposição, mas um
terceiro é chamado para decidir o litígio.

MÓDULO 3 – NEGOCIAÇÃO: ORIGEM, CONCEITUAÇÃO E FUNDAMENTOS


HISTÓRICOS DA NEGOCIAÇÃO. MUDANÇA DE PARADIGMA. PRINCÍPIOS
DA NEGOCIAÇÃO. ATITUDES DO NEGOCIADOR. APLICABILIDADE DA
NEGOCIAÇÃO. PROCEDIMENTO DE NEGOCIAÇÃO.

NEGOCIAÇÃO

Histórico

Negociação é termo nascido no latim que vem de negocium, palavra formada da junção de dois
termos distintos, Nec e ocium cujo significado é atividade difícil e trabalhosa, mas no nosso português
tem o significado de acordo ou entendimento bi ou multilateral.

Negociação existe desde os tempos em que o homem passou a viver em sociedade, eis que negócios
e negociações fazem parte da rotina humana, da infância à velhice.

Um dos primeiros relatos que envolve a prática de negociação está descrito na mitologia judaico-
cristã na alegoria de Esaú e Jacó. O relato ilustra aspectos fundamentais da negociação: o propósito, os
interesses, a oportunidade, a persuasão, a troca e a ética.

A Negociação ocorre em todos os momentos de nossas vidas e faz parte das maiorias de nossas
decisões como, por exemplo: ao colocar o nome em um recém-nascido, a cor do carro novo, a festa
de casamento, dentre outros aspectos, como também, o advogado negociando com o juiz ou com seu
cliente, o empregado negociando a data de suas férias dentre muitas situações do nosso dia a dia. Trata-
se de um processo no qual as partes em disputa tentam alcançar uma decisão conjunta. Sendo assim
temos diversas formas de se negociar algo, podendo essa negociação ser flexível ou inflexível, onde na
flexível os negociadores evitam qualquer tipo de conflito, já na inflexível ambos encaram qualquer tipo
de situação para ter êxito na sua vontade.

Logo, a negociação pode ser praticada tanto para resolver questões pessoais, como para questões
profissionais, em ambientes políticos, comerciais, diplomáticos, institucionais, gerenciais, jurídicos,
trabalhistas, de libertação de reféns, entre outros. Diante dessa grande diversidade de contextos, existem
muitas definições e formas diferentes de abordar o assunto.

Definição de Negociação: cuidar dos negócios.

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Unidade I

Para Humberto Dalla Bernardina Pinho a negociação é um processo bilateral de resolução de impasses ou de
controvérsias, no qual existe o objetivo de alcançar um acordo conjunto, através de concessões mútuas. Envolve
a comunicação, o processo de tomada de decisão (sob pressão) e a resolução extrajudicial de uma controvérsia.

Negociação é um processo em que duas ou mais partes, com interesses comuns e antagônicos, se
reúnem para confrontar e discutir propostas explícitas com o objetivo de alcançar um acordo.

A negociação é utilizada para lidar com situações de conflito. As perdas e os ganhos de cada parte
são colocados na mesa e constituem as cartas com as quais a negociação se desenvolve, com objetivos
claramente definidos.

Negociação é uma via alternativa pura para dirimir controvérsias, destacando-se na solução de
litígios de natureza comercial em razão de evitar incertezas e os custos de um processo judicial, bem
como preservar o relacionamento das partes envolvidas de maneira discreta e sigilosa. É, normalmente,
a primeira forma de compor litígios, e caso não seja bem-sucedida, é possível partir para outra forma
alternativa ou até mesmo para a jurisdição tradicional.

A negociação foi desenvolvida pela Universidade de Harvard nos EUA, chamado de “Método de
Harvard”, que se baseiam nos seguintes princípios:

- separar as pessoas do problema;

- concentrar-se nos interesses e não nas posições;

- criar várias possibilidades antes de decidir;

- insistir em um resultado objetivo, independente de vontades;

- lembrar que na negociação não há opositores ou adversários, e sim participantes.

Modernamente, compreende-se que negociar não é discutir, é conversar com um objetivo em mente.

Na moderna negociação, não se deve fazer:

- Manipular não corresponde a negociar, pois consiste em um indivíduo convencer outra pessoa de
que está certo, quando sabe que está errado.

- Agir com agressividade, pois requer determinação e preparação.

Desvantagem na negociação direta:

- quando um dos dois lados possui maior poder (físico, econômico, emocional), terá facilidade para
exercê-lo a seu favor e, com isso, conquistar as cartas que mais lhe interessam; praticada sem a
devida técnica, ela acentua as diferenças a favor do mais forte.
16
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

- nada obsta que uma parte atue com malícia e perversidade e se valha desse comportamento para
auferir vantagens; isso pode acontecer em todos os métodos, porém, como na negociação não há
influência de terceiros, a conduta má é ainda mais beneficiada. Todavia, a técnica de negociação
possui diversos métodos para se descobrir, esvaziar e usar essa má fé contra seu próprio autor.

- um dos lados pode ter grande experiência em negociar e aproveitar-se da ingenuidade ou


despreparo do outro. É comum empresas de grande porte terem ou contratarem negociadores
profissionais, com o objetivo de construir acordos vantajosos para elas na negociação de dívidas
e compromissos assumidos com outras empresas, clientes e colaboradores.

- diferenças de personalidade contribuem para pender a negociação para um lado ou outro. Quando
uma das partes apresenta timidez, dificuldade para se expressar; e a outra se mostra agressiva,
independente, bem-falante, a mesa de negociação se desequilibra.

Tipos de Negociação:

Existem três tipos básicos de negociação: distributivas, integrativas e criativas.

As negociações distributivas envolvem apenas uma questão, normalmente relacionada a valores.


Como exemplo de sua aplicação pode-se citar a compra ou venda de um carro, em que a única questão
a ser negociada é o valor do automóvel. Normalmente essa negociação é conduzida em um ambiente
competitivo. Cada parte apresenta uma abertura e planeja-se para não ultrapassar determinado valor
limite. Por definição, é sempre ganha-perde.

As negociações integrativas envolvem diversas questões. Como exemplo de aplicação pode-se


citar a mesma compra ou venda de um carro, mas ao invés de negociar apenas o valor do automóvel,
negocia-se também o prazo de pagamento, a inclusão de certos acessórios, a data de entrega etc. Essa
negociação pode ser conduzida tanto em um ambiente competitivo como colaborativo. No ambiente
competitivo torna-se mais difícil para as partes alcançarem um bom resultado, devido à omissão ou
distorção de informações ou a manobras para adquirir poder de influência. No ambiente colaborativo,
em que ambas as partes são mais transparentes na divulgação de seus interesses, limites e prioridades,
são criadas as condições ideais para uma solução ganha-ganha.

Na negociação criativa cada parte revela seus interesses, a partir dos quais busca soluções que
sejam capazes de atender a maior quantidade possível de interesses envolvidos. Essa negociação é ideal
para encontrar soluções conciliadoras para problemas complexos. Deve ser conduzida em um ambiente
colaborativo e emprega largamente os princípios de negociação apresentados por William Ury: foque
nas pessoas, não nos problemas; diferencie posições de interesses etc.

Em negociações complexas, como as conduzidas em projetos ou contratos de grande porte, é comum


que o negociador necessite utilizar as técnicas necessárias para conduzir os três tipos de negociação,
simultaneamente.

17
Unidade I

Principais elementos presentes para uma Negociação:

Abertura - primeiro valor apresentado por uma das partes, em uma negociação distributiva.

Valor limite - valor mínimo (para vendedores) ou máximo (para compradores) que não deve ser
ultrapassado, em uma negociação distributiva.

Posições - soluções pré-concebidas para se obter um determinado resultado, defendidas em uma


negociação, como dinheiro, prazos, condições e garantias.

Interesses - motivos que sustentam as posições adotadas por um negociador, formados pelos
desejos, preocupações, crenças conscientes, temores e aspirações.

MACNA - Melhor Alternativa em Caso de Não Acordo - Termo derivado do inglês BATNA
(Best alternative to a negotiated agreement). Trata-se de uma alternativa (fora da mesa) caso a
negociação entre num impasse e não se concretize nenhum acordo.

Concessão - ato ou efeito de ceder algo de sua opinião ou direito à outra parte. Na negociação
distributiva as concessões ocorrem por meio da redução nos valores negociados. Na negociação
integrativa as concessões ocorrem por meio da troca.

Negociador

O negociador capacitado, de posse de todas as técnicas de negociação, consegue equilibrar as


diferenças e minimizar as desvantagens.

Sem qualquer dúvida, a negociação é o melhor dos métodos para a solução de conflitos, pois é
através dela que as partes chegam a uma solução satisfatória, por meio da autocomposição, sem
qualquer participação de terceiros no conflito instaurado, ao contrário da mediação e da arbitragem
onde as soluções sempre dependem da intervenção obrigatória de terceiros.

Importante destacar que, na negociação, ao contrário da arbitragem e da mediação, as partes chegam


a uma solução satisfatória sem, contudo, haver a participação de estranhos na relação problemática.

Deve, portanto, ser o método privilegiado para fins de solução de litígios de natureza trabalhista e
sindical, tal qual ocorre na celebração dos Acordos e Contratos Coletivos de Trabalho, obtidos mediante
negociação direta entre as partes envolvidas.

Na negociação as partes chegam a uma solução satisfatória sem qualquer participação de terceiros,
ao contrário da mediação e arbitragem, onde as soluções sempre dependem da intervenção obrigatória
de terceiros.

18
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

Dez habilidades necessárias a um negociador:

Ser um bom ouvinte: Quando se escuta atentamente e sem interrupções, você está aberto a
entender a mensagem da outra pessoa e conseguir informações que poderão ser de valia no processo.
Na medida em que você ouve atentamente e sem interrupções habilita-se para decodificar a mensagem
do outro lado e obter informações que poderão ser úteis ao processo.

Desenvolver um espírito negocial: Grandes negociadores têm ciência que é possível que tudo pode
ser negociado, mas para isto o ambiente precisa ser declaradamente de negociação. A agressividade
deve ceder lugar ao consenso no processo, para que se possa alcançar o objetivo planejado. É primordial
ter em mente que por mais difícil que pareça um acordo, sempre haverá a possibilidade de alternativas.

Planejar: Quando se participa de um evento sujeito a negociação, faz-se necessário despender


parte do tempo a estudar e entender as variáveis que possam vir a interferir na mesma. Muitas
vezes é necessário pré-negociar internamente recursos, prazos, especificações, metas, condições de
pagamento etc.

Portanto, deve-se ir a uma reunião de negociação com todo o dever de casa diligentemente realizado.
Isto lhe dará muita segurança no processo.

Mirar alto: Uma vez buscados com legitimidade, os objetivos deverão buscar sempre o ponto
máximo, pois ao lutar por mais em uma negociação pode-se obter mais. Por exemplo, se pode vender
por 1000 e o mercado paga 1200, esta será a faixa inicial! Na outra ponta, se pode pagar à vista, mas for
interessante fazê-lo em 60 dias busque inicialmente esta alternativa!

Ser paciente: Um dos principais erros do negociador brasileiro é a impaciência, quase


todas às vezes oriundas de metas irrealistas ou necessidade de logo fechar o acordo. Pode-
se até fechar com um resultado, diga-se de passagem, razoável, mas poderia torná-lo ótimo
se não fosse à impaciência que na realidade atropela o processo e elimina possibilidades de
mais ganho. Estando com um bom planejamento pode-se torna o processo mais produtivo
sem necessitar ser refém da impaciência. Às vezes uma reunião de negociação que se
estendeu por uma ou duas horas além do previsto pode trazer excelente compensação.
Visar à satisfação: Negociação é uma estrada de mão dupla. Tanto um quanto o outro negociador
deverão estar legitimamente comprometidos na busca de um resultado altamente satisfatório.
Mas, não terá sido negociação de fato se somente um lado alcançar seus objetivos e o outro
ficar com a sensação de perda ou frustração. Por isto, é preciso visar à satisfação do processo
como um todo e lutar para obter o máximo possível. O outro lado certamente fará o mesmo e aí
tem-se um resultado otimizado para ambos os lados, com satisfação de todos e sem frustrações
de ambas as partes.

Ter cuidado com a primeira oferta: Planeja-se bem, se identifica com a zona de possível
acordo e suas alternativas, se é paciente e ouve durante o processo o grau de autoconfiança
será elevado e a primeira oferta do outro lado será apenas um balizador para sua argumentação
buscando obter concessões.
19
Unidade I

Ser ético: No ambiente em que se viver a todo o momento surgem arranhões à ética: na política, na
justiça e nos negócios. A realidade mostra que agir eticamente nas negociações traz inúmeras vantagens.
A maior delas tem a ver com quem está negociando, agindo com correção e exigindo respeito torna-se
conhecido como um negociador confiável com o qual pode-se travar os mais duros embates na certeza
de lisura e resultados concretos.

Trocar concessões: Negociar é, sobretudo, trocar concessões de um lado para o outro em busca
da conclusão de um acordo. É primordial ter concessões estudadas na fase de planejamento e procurar
incluí-las no rol das alternativas para fechamento do negócio.

Ser empático: Ter em mente que o processo de negociação é um evento fortemente alicerçado na
dimensão humana: são pessoas que o fazem evoluir para um acordo. Pessoas que possuem crescentes
aspirações pessoais e profissionais, que carregam uma série de influências e desejam obter o melhor
resultado possível, então é mais que fundamental ver o outro lado como um parceiro, sendo compreensivo
quanto a possíveis dificuldades pessoais. Dando este toque humano ao processo estará fazendo algo
mais por uma conclusão satisfatória.

Elementos fundamentais da Negociação:

Legitimidade: É o pressuposto básico e realista de possibilidade, alcance e realização do objetivo,


assim como das possíveis alternativas para sua consolidação. Metas exageradas ou acanhadas são
um dos complicadores da legitimidade. É preciso ser realista, estudar o ambiente intra e extra da
negociação ajustando-as ao factível, ao possível de ser alcançado dentro de ações buscando um
alcance realista dos resultados.

Informação: O moderno negociador, seja de que área for, é um profissional que administra o
máximo de informação possível, tanto de dentro quanto de fora, utilizando-a para o balizamento e
exploração de sua posição no evento. Melhor negocia quem melhor gerencia a informação obtida e
disponibilizada sobre o motivo do encontro. Não se deve dar sequência a um processo negocial sem que
toda a informação esteja sob seu efetivo controle.

Tempo: Quem administra convenientemente o elemento tempo praticamente está no comando


do evento. Estabelecer uma agenda de negociação com o “oponente” é o primeiro passo e poderá
facilitar muito ao controle temporal. Esta agenda deverá especificar não somente os itens a serem
discutidos como também o responsável por cada um deles e a duração prevista de cada discussão. Por
outro lado, não se deve ir para uma negociação sem que tenha tido tempo para criteriosa preparação
e planejamento. Negociações derivadas de urgências ou imprevistos são, na verdade, uma restrição ao
tempo e comprometem os resultados.

Poder: Quando se negocia, por exemplo, em nome da Corporação X o outro lado o verá não
como “fulano”, mas, sobretudo como a Corporação X. Isto demanda a necessidade de estabelecer-se
nitidamente a amplitude do poder para conduzir o processo e decidir no que for necessário até a
obtenção do melhor acordo. Portanto, verifique e estabeleça seu poder antes da negociação e pré-
negocie internamente os seus limites fixando claramente sua amplitude. Pode ser que a partir de
20
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

determinadas situações a palavra final seja de um gerente, coordenador ou diretor. Se isto for o caso esta
pessoa estará como co-partícipe do processo em stdand-by (sobreaviso) para ser acionada, se necessário.
Estes quatro elementos são como estacas que se fixam a uma base sólida: a ética corporativa. É fundamental
que se tenha e exija credibilidade, respeito e total coerência em procedimentos de negociação. Tendo
estes quatro elementos fundamentais e a ética sob seu efetivo controle estará instrumentalizado para
buscar os melhores resultados possíveis no processo das negociações.

Considerações finais

A necessidade de negociação está presente constantemente no ambiente familiar, no trânsito, no


trabalho e até mesmo em eventos sociais torna-se cada vez mais necessária. A negociação está presente
no dia-a-dia, o que torna o desenvolvimento da capacidade negocial absolutamente essencial para
todas as esferas de nossas vidas, principalmente no campo profissional.

Assim, todo profissional que se preze deve por obrigação buscar o desenvolvimento desta técnica,
não só para se tornar uma pessoa desenvolvida, como também para saber utilizar isto a seu favor e a
favor da organização do qual faça parte.

O caminho da negociação na construção de relacionamentos é cada vez mais notório, não se fala
mais em analisar propostas, fala-se em negociar isto e aquilo com alguém. A arte de negociar é um
caminho que não tem mais volta, ser intransigente não leva ninguém mais a canto nenhum com exceção
de para trás.

Os grandes negociadores do mundo souberam usar estas técnicas a favor de si mesmos, de suas
empresas e seus países, visando o crescimento e aperfeiçoamento, juntamente com a satisfação de
ambas as partes envolvidas em toda ou qualquer negociação.

De forma geral, sempre é tempo de começar a aprender a negociar e se não começou ainda, é
melhor começar a correr, pois se não vai ficar para trás, ao fim de uma negociação de que não viu
que aconteceu.

MÓDULO 4 – CONCILIAÇÃO: ORIGEM, CONCEITUAÇÃO E FUNDAMENTOS


HISTÓRICOS DA CONCILIAÇÃO. MUDANÇA DE PARADIGMA. PRINCÍPIOS
DA CONCILIAÇÃO. ATITUDES DO CONCILIADOR. APLICABILIDADE DA
CONCILIAÇÃO. PROCEDIMENTO DE CONCILIAÇÃO.

CONCILIAÇÃO

1 – Introdução Resolução 125/2010 do CNJ

A conciliação e a mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de


litígios, e sua apropriada disciplina em programas já implementados no país tem reduzido a excessiva
judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de recursos e de execução de sentenças.

21
Unidade I

A organização dos serviços de conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de


conflitos deve servir de princípio e base para a criação de Juízos de resolução alternativa de conflitos,
verdadeiros órgãos judiciais especializados na matéria.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) delibera, através de seu Pleno, a Resolução nº 125, de 29 de
novembro de 2010, que dispõe sobre a Política Judiciária de tratamento adequado dos conflitos de
interesses no âmbito do Poder Judiciário.

Esta política pública de tratamento adequado de conflitos está fundamentada nos seguintes
princípios constitucionais:

Princípio do acesso à Justiça e pacificação social

Princípio da dignidade da pessoa humana

Aos órgãos judiciários incumbe oferecer, além da solução adjudicada, outros mecanismos de solução
de controvérsias por via consensual, como a conciliação e mediação.

Dentre outras, o CNJ tem como principais funções a organização de programas de incentivo à
autocomposição de litígios e à pacificação social por meio da conciliação e da mediação, promover
o estímulo à conciliação nas demandas que envolvam matérias sedimentadas pela jurisprudência e
promover a mudança de mentalidade.

Este programa será constituído por órgãos do Poder Judiciário e através de parcerias com entidades
públicas e privadas, inclusive universidades e instituições de ensino, pela criação de disciplinas que
propiciem o surgimento da cultura da solução pacífica dos conflitos.

Os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) são unidades do Poder


Judiciário responsáveis pela realização das sessões de conciliação e mediação pré-processuais,
que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao
cidadão. Deverão ser instalados nos locais onde exista mais de um Juízo, Juizado ou Vara com pelo
menos uma das competências, como cível, fazendária, de família ou dos Juizados Especiais Cíveis
e Fazendários.

Atuam nos Cejuscs:

Na administração e supervisão do serviço de conciliadores e mediadores:

Um juiz coordenador

Um juiz adjunto, se necessário

Servidores

22
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

Na conciliação e mediação:

Conciliadores (certificado do Curso de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento)

Mediadores (certificado do Curso de capacitação)

Outros especialistas em métodos consensuais de solução de conflitos

Em cada unidade dos Cejuscs haverá:

Setor de solução de conflitos pré-processual

Setor de solução de conflitos processual

Setor de cidadania

O Setor de solução de conflitos pré-processual pode recepcionar casos que versem sobre direitos
disponíveis em matéria:

Cível

Família

Previdenciária

Competência dos Juizados Especiais

Os casos no Setor de solução de conflitos pré-processual acima mencionado têm início pela
provocação do interessado através da apresentação de sua reclamação por e-mail ou pessoalmente no
setor, solicita o agendamento de sessão para tentativa de acordo. Logo após, é emitida a carta convite
à parte contrária, através de qualquer meio idôneo de comunicação, informando a data, hora e local da
sessão de conciliação ou mediação.

Obtido acordo na sessão, este será homologado judicialmente por sentença. O termo de acordo será
arquivado em meio digital e os documentos devolvidos aos interessados.

Não obtido acordo, os interessados serão orientados para buscar a solução do conflito nos Juizados
Especiais ou na Justiça Comum.

Descumprido o acordo, o interessado munido com o termo, poderá ajuizar ação de execução de
título judicial.

O Setor de solução de conflitos processual receberá processos já distribuídos e despachados pelos


magistrados, que indicarão o método de solução de conflitos a ser seguido, retornando sempre ao órgão
23
Unidade I

de origem, após a sessão, obtido ou não o acordo, para extinção do processo ou prosseguimento dos
trâmites processuais normais.

O Setor de cidadania prestará serviços de:

Informação

Orientação jurídica

Emissão de documentos

Serviços psicológicos

Assistência social etc.

2 – Centros Judiciários de Solução Consensual de Conflitos (NCPC, arts. 165 e ss.)

Os tribunais têm por incumbência criar os Centros Judiciários de Solução Consensual de


Conflitos (Cejuscs), com composição e organização, observadas as normas do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), sem exclusão de outras formas de conciliação e mediação extrajudiciais vinculadas a
órgãos institucionais ou realizadas por intermédio de profissionais independentes, que poderão ser
regulamentadas por lei específica.

Os Cejuscs realizarão sessões e audiências de conciliação e mediação, com o objetivo de desenvolver


programas de auxílio, orientação e autocomposição.

Atuação do Conciliador:

atuar em casos que não houver vínculo anterior entre as partes

sugerir soluções para o litígio

vedado qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para conciliação das partes

Atuação do Mediador:

atuar preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes

auxiliar a compreensão das questões pelos interessados (conflitantes), para que eles próprios
cheguem a solução consensual de benefícios mútuos.

O conciliador na conciliação proporciona uma boa oportunidade para as partes conflitantes tentarem
se compor amigavelmente, podendo até sugerir proposta conciliatória; enquanto que na mediação, o
mediador além de proporcionar o encontro das partes conflitantes, também as subsidia com informações
adicionais sobre o objeto conflitante, as orienta no que for necessário.
24
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

Princípios que regem a conciliação e mediação:

independência

imparcialidade

autonomia da vontade (inclusive quanto à definição de regras procedimentais)

confidencialidade (a todas as informações produzidas no procedimento)

oralidade

informalidade

decisão informada

Conciliadores, mediadores e câmaras privativas de conciliação e mediação poderão se inscrever em


cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, que manterá
registro dos profissionais habilitados, com indicação da área de atuação.

Requisitos para atuação como conciliador e mediador, e características:

Certificado de capacitação emitido por curso de capacitação realizado por entidade credenciada,
conforme parâmetro definido pelo CNJ e pelo Ministério da Justiça.

Inscrição de conciliadores e mediadores no cadastro nacional e no cadastro de tribunal de justiça ou


de tribunal regional federal.

Registro poderá ser efetivado por concurso público, caso opte o tribunal por quadro próprio de
conciliadores e mediadores.

Se advogados, estão impedidos de exercer a advocacia nos juízos em que desempenhem suas funções
(NCPC, art. 167, § 5º).

Remuneração prevista em tabela fixada pelo tribunal.

Conciliação e mediação podem ser realizadas como trabalho voluntário (sem remuneração, gratuito).

Conciliador e mediador ficam impedidos por 1 ano, contado do término da última sessão em que
atuaram, de assessorar, representar ou patrocinar qualquer das partes (NCPC, art. 172).

Credenciamento das câmaras privativas de conciliação e mediação, por meio de avaliação de sua
atuação pelo tribunal.

25
Unidade I

Procedimento:

As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o mediador ou a câmara privada de


conciliação e de mediação.

O conciliador ou o mediador poderá ou não estar cadastrado no Tribunal.

Inexistindo acordo quanto à escolha do conciliador ou mediador, haverá distribuição entre aqueles
cadastrados no registro do tribunal.

Sempre que recomendável, haverá a designação de mais de um mediador ou conciliador.

Os tribunais determinarão o percentual de sessões não remuneradas que deverão ser suportadas
pelas câmaras privadas de conciliação e mediação, para atender processos beneficiários da gratuidade
da justiça, como contrapartida de seu credenciamento.

Conciliador e mediador poderão estar impedidos ou suspeitos.

No caso de impedimento, o conciliador ou mediador deve comunicar, por meio eletrônico, e devolver
os autos ao juiz do processo ou ao coordenador do Centro, devendo ser realizada nova distribuição
(NCPC, art. 170).

Se o impedimento for apurado quando já iniciado o procedimento, a atividade será interrompida,


lavrando-se ata com relatório do ocorrido e solicitação de distribuição para novo conciliador ou mediador
(NCPC, art. 170, § único).

No caso de impossibilidade temporário do exercício da função, o conciliador ou mediador


deve informar o fato por meio eletrônico, para que durante o período haja novas distribuições
(NCPC, art. 171).

Exclusão do cadastro de conciliadores e mediadores (NCPC, art. 173 e ss):

Agir com dolo ou culpa na condução da conciliação ou mediação sob sua responsabilidade ou
violar qualquer dos deveres: independência, imparcialidade, autonomia da vontade (inclusive quanto
à definição de regras procedimentais), confidencialidade (a todas as informações produzidas no
procedimento), oralidade, informalidade e decisão informada.

Atuar em procedimento de mediação ou conciliação, apesar de impedido ou suspeito.

Os casos serão apurados em processo administrativo.

O juiz do processo ou o juiz coordenador do Centro que verificar atuação inadequada do mediador
ou conciliador, poderá afastá-lo de suas atividades por 180 dias, por decisão fundamentada, informando
o tribunal para a instauração do respectivo processo administrativo.
26
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

A União, Estados, o DF e os Minicípios criarão câmaras de mediação e conciliação, com atribuições


relacionadas à solução consensual de conflitos no âmbito administrativo, como:

Dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública.

Avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de conciliação, no âmbito
da administração pública.

Promover a celebração de termo de ajustamento de conduta, quando couber.

A Lei nº 13.140/2015 dispõe sobre a mediação, como meio de solução de controvérsias, entre
particulares e também sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública.

3 - Conciliação

A conciliação ou mediação ativa tem como objetivo o acordo, sendo o conciliador o agente capaz de
conduzir a conversa entre os conflitantes acerca dos direitos e deveres legais das partes. Pode-se observar
que há um prestígio da autocomposição no ordenamento jurídico pátrio como forma de resolução de
conflitos. Para Keith Rosenn, isto se justificaria em razão do brasileiro agir com sentimentalismo, ou
seja, ele aceita e tolera solidariamente as debilidades humanas. Por esta razão, o autor entende que a
conciliação é um “jeito” em nossa cultura jurídica.

Todavia, tal argumento deve ser revisto, na medida em que a conciliação figura como um efetivo
instrumento de pacificação social, como ocorre, por exemplo, na “Semana da Conciliação” promovida
pelo Conselho Nacional de Justiça. As críticas do referido autor devem ser levadas em consideração,
no que tange à forma como a conciliação está sendo empregada pelos juristas e demais operadores
do Direito. Isto significa dizer, que para a conciliação não se tornar uma forma de “jeito” de resolver
os litígios, é necessária a criação de estruturas capazes de garantir a efetividade dos direitos com
celeridade e técnica.

2.1 – O que é conciliação?

É um meio alternativo de resolução de conflitos em que as partes confiam a uma terceira pessoa
(neutra), o conciliador, a função de aproximá-las e orientá-las na construção de um acordo. O conciliador
é uma pessoa da sociedade que atua, de forma voluntária e após treinamento específico, como facilitador
do acordo entre os envolvidos, criando um contexto propício ao entendimento mútuo, à aproximação
de interesses e à harmonização das relações.

2.2 - E conciliação judicial?

A conciliação é judicial quando se dá em conflitos já ajuizados, nos quais pode atuar como conciliador
o próprio juiz do processo ou conciliador treinado e nomeado.

27
Unidade I

A conciliação é posta no sistema processual civil (NCPC) como uma das duas formas nele previstas
para a resolução dos conflitos que são levados à apreciação do Judiciário. A outra, é a forma impositiva,
via sentença/acórdão.

A conciliação é a forma preferida de resolução de conflitos no nosso sistema processual porque ela
é a melhor das duas: é mais rápida, mas barata, mais eficaz e pacífica. E nela não há risco de injustiça,
na medida em que são as próprias partes que, conciliadas, mediadas e auxiliadas pelo juiz/conciliador,
encontram a solução para o conflito de interesses. Nela não há perdedor.

Nos Juizados Especiais, a conciliação é um dos seus fundamentos. Todas as causas iniciam pela
conciliação (Lei 9.099/95).

A Conciliação é um método de solução de conflitos em que as partes resolvem a controvérsia por


meio de um acordo, através da ajuda de uma terceira pessoa imparcial, o conciliador.

Apesar de não possuir uma lei específica, a conciliação está prevista na legislação brasileira, em
vários ramos do direito, como no direito processual do trabalho, direito processual civil.

No âmbito do Direito Processual do Trabalho, Carlos Henrique Bezerra Leite dispõe que o princípio da
conciliação, apesar de ter sido suprimido do art. 114 da Constituição Federal pela Emenda Constitucional
nº 45, continua sendo amplamente previsto no plano infraconstitucional, como ocorre nos arts. 625-A,
764, 831, 846, 847 850, 852-E, 862 e 863 da CLT. Tamanha é a importância da conciliação, que uma vez
não observada nos procedimentos ordinário e sumaríssimo, poderá haver nulidade absoluta dos atos
posteriores, sob a justificativa de que a mesma trata de matéria de ordem pública.

O Novo Código de Processo Civil (NCPC), no Capítulo V, do Título I, do Livro I “Parte Especial”, artigos
334 e seguintes, disciplina a conciliação e à mediação judiciais, e atribui ao mediador e conciliador o status
de auxiliares de justiça. Para reger a atuação e conduta dos operadores destas vias alternativas, devem
ser observados os princípios da independência, neutralidade, autonomia da vontade, confidencialidade,
oralidade e informalidade. Ademais, há uma inovação normativa no que diz respeito à pretensão
de profissionalizar os operadores das vias alternativas de resolução de litígios, como por exemplo, a
remuneração, cadastro de registro, e cursos de formação de mediadores e conciliadores.

O NCPC dispõe sobre a audiência de conciliação ou de mediação, na qual as partes devem estar
acompanhadas de seus advogados ou defensores públicos. O art. 334 dispõe que, se a petição inicial
preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência do pedido, o juiz designará audiência
de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 dias, devendo ser citado o réu com pelo
menos 20 dias de antecedência. Os §§ 2º e 4º do art. 334 dispõem que poderão ocorrer mais de uma
sessão destinada à conciliação e à mediação, não podendo exceder a 2 meses da data de realização da
primeira sessão, exceto se houver desinteresse das partes na composição amigável ou não se o objeto
do conflito não admitir a autocomposição. O § 6º dispõe que se houver litisconsórcio, o desinteresse
na realização da audiência deve ser manifestado por todos os litisconsortes. O § 8º dispõe que o não
comparecimento injustificado das partes (autor ou réu) à audiência de conciliação é considerado ato
atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até 2% da vantagem econômica
28
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado. Dispõe o § 11º que a
autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença.

A conciliação está prevista, ainda, nos arts. 2, 20 e 26 da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais
(Lei 9.099/95). Ademais, a referida lei prevê a possibilidade da transação penal, conforme previsão do
art. 76 da Lei 9.099/95.

Em consonância com este entendimento, o Conselho Nacional de Justiça, órgão responsável pelo
controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, editou a Resolução nº 125 para
instituir Política Pública de Tratamento Adequado de Conflitos de interesses no âmbito do Judiciário. A
referida resolução visa estimular, apoiar e difundir a sistematização e o aprimoramento das práticas de
pacificação social, destacando-se a conciliação e a mediação. Além disso, pretende vincular os órgãos
judiciários para criação de Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania, Núcleos Permanentes
de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos e Juízos de Resolução Alternativos de Conflitos.
Para isso, estabelece conteúdo programático mínimo para cursos de capacitação de conciliadores e
mediadores, conforme anexo I da resolução. Destaca-se, ainda, o anexo III da referida norma, que versa
acerca do Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judicias, dispondo acerca de princípios que
norteiam a prática e conduta dos operadores destes meios de pacificação social.

2.3 - Quais as características da Conciliação?

Este método tem por principal característica a celeridade, ocorrendo geralmente em uma única
reunião. Ressalte-se, também, que na Conciliação inexiste entre as partes relacionamento significativo
no passado ou contínuo no futuro.

2.4 - Qual a função do Conciliador?

A função do Conciliador é de aproximar e propiciar as partes na construção de um acordo.

2.5 - A Conciliação tem alguma relação com a via judicial?

Sim, a Conciliação guarda uma estreita relação com a via judicial, haja vista que por diversas vezes
possui previsão nos diplomas legais do ordenamento pátrio. Exemplo é o artigo 846, da CLT que dispõe:
“Aberta a audiência, o juiz ou o presidente proporá a conciliação”.

3 – Técnicas de Conciliação

A técnica de conciliação é um conjunto de procedimentos e estratégias que otimizam a realização


da audiência/sessão de conciliação, no sentido de torná-la produtiva. Visa contribuir para o alcance dos
objetivos propostos de forma mais ágil e eficiente.

Conhecer as técnicas de conciliação e o uso correto das mesmas possibilita o conciliador ter mais
facilidade, firmeza, segurança ao conduzir a audiência/sessão de conciliação. Naturalmente, apenas a
prática irá assegurar o domínio delas.
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Unidade I

3.1 - Preparação para audiência/sessão de conciliação

3.1.1 - Momento Prévio

Para promover uma atmosfera de respeito entre as pessoas envolvidas na audiência/sessão de


conciliação e contribuir para que a reunião seja bem-sucedida, é importante que o conciliador chegue
ao local da conciliação antes do horário da audiência/sessão, a fim de se preparar adequadamente,
concentrando-se e imbuindo-se do sentimento de sua função.

Rever as técnicas, estratégias e ferramentas que deseja empregar durante a sessão, assim como a
organização prévia do ambiente (mobiliário/material), colabora para que as pessoas se sintam bem acolhidas.

O conciliador deve centrar-se no caso em questão buscando conhecer de antemão a natureza do


conflito, o que o auxilia a ter mais segurança na condução da conciliação, podendo, se necessário,
esclarecer possíveis dúvidas com juízes, coordenadores e conciliadores-orientadores.

3.1.2 - Como proceder anteriormente à chegada dos participantes

Antes dos envolvidos chegarem, o conciliador deverá:

1. Preparar o local no qual será realizada a conciliação: mesa, iluminação, temperatura ambiente,
privacidade, água, café, local de espera, materiais de escritório, entre outros.

2. TÉCNICA:

1. Conhecimento prático

2. Conjunto de métodos e pormenores práticos essenciais à execução perfeita de uma arte ou profissão.

3. Revisar todas as anotações feitas sobre o caso e, se possível, memorizar o nome das partes. Quando
for possível saber o nome das partes somente durante a Conciliação; anotá-los pode ser de utilidade.

4. Caso haja mais de um conciliador, é fundamental que se preparem quanto ao modo como cada um
deverá atuar. É interessante que eles dividam, entre si, as informações a serem apresentadas às pessoas
e estabeleçam que um realizará toda a apresentação e o outro completará os demais aspectos. De
qualquer modo, uma divisão igualitária é recomendável, pois evitará o direcionamento do diálogo para
apenas um dos conciliadores, e também permitirá uma melhor percepção, pelas partes, da harmonia do
trabalho por eles realizado.

3.1.3 - Posicionamento das partes à mesa durante a conciliação

Alguns preparativos no local da audiência/sessão de conciliação e na organização do trabalho podem


auxiliar no êxito da conciliação. Portanto, uma verificação prévia das condições físicas da sala de conciliação
e conhecimento do conflito a ser trabalhado são itens indispensáveis para o alcance desse êxito.
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MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

Na audiência/sessão de conciliação, todos devem se sentir fisicamente confortáveis, concentrados e


seguros, dentro de um ambiente que garanta a privacidade das partes.

A disposição dos assentos e a forma como serão ocupados durante a audiência/sessão de conciliação
transmite muito mais informações do que se possa imaginar. Trata-se de uma forma de linguagem não
verbal que deve ser bem analisada, a fim de que se possa perceber o que os envolvidos podem esperar
da conciliação e como irão se comportar nesse ambiente. A disposição física dos presentes deverá se dar
conforme o número de pessoas e o grau de animosidade entre elas.

O posicionamento do conciliador em relação às partes também é de grande importância, já que a


qualidade, imparcialidade, aptidão e liderança podem ser transmitidas, em muito, por esses aspectos.
Dessa maneira, ele deve se posicionar com igual distanciamento em relação às partes. Quanto à liderança,
seu posicionamento deve se dar de modo a conseguir administrar e controlar todo o desenvolvimento
da audiência/sessão de conciliação.

No caso de uma audiência/sessão de conciliação ser conduzida por mais de um conciliador é


importante que se sentem próximos um do outro, para facilitar a comunicação entre eles.

3.1.4 - Como receber as pessoas

O conciliador deve recepcionar as pessoas, procurando estabelecer um ambiente de cordialidade e


acolhimento. Deve, também, cumprimentar cada uma delas para que se sintam calmas e confortáveis.
Contudo, não deve conversar em demasia para manter certo grau de objetividade.

3.2 - Abertura

A abertura da audiência/sessão de conciliação deve ser realizada de forma clara e objetiva,


esclarecendo às pessoas sobre a proposta e a dinâmica da conciliação.

É o momento onde se explica como a conciliação se desenvolve, quais as regras que deverão ser
seguidas, sempre no intuito de deixar as pessoas confortáveis e seguras quanto ao desenvolvimento
da conciliação.

O conciliador deve ter o cuidado de não direcionar mais atenção a uma das pessoas do que à outra,
conversando - por exemplo - ou se portando mais amigavelmente com uma delas. Caso isso venha a
ocorrer, uma das partes, provavelmente, terá a impressão de que o conciliador está sendo parcial.

É muito importante apresentar algumas palavras de encorajamento, por isso, é interessante que
o conciliador elogie o esforço de cada uma das partes de tentar resolver seu conflito ou dificuldade,
utilizando a conciliação. Ao mesmo tempo, ele deve cientificar as partes de que, nos processos
conciliatórios, em situações semelhantes à que elas estão vivenciando, têm-se logrado êxitos
bastante expressivos, uma vez que, além de se solucionar o problema específico, também possibilita
uma oportunidade para que as partes saiam satisfeitas com o processo, e até consigam manter um
relacionamento posterior satisfatório.
31
Unidade I

É na fase de abertura que o conciliador estabelece sua presença e sua autoridade como condutor da
audiência/sessão de conciliação, devendo se apresentar como um auxiliar e facilitador da comunicação
entre as partes. Seu objetivo – desde já deve ser explicitado – não é induzir ninguém a um acordo que
não seja satisfatório. Pelo contrário, o que se deseja é que as partes, em conjunto, cheguem a um acordo
que as faça se sentirem contentes com o resultado. Ao mesmo tempo, o conciliador deve deixar claro
que buscará fazer com que elas consigam explicitar suas metas e interesses e, desse modo, possam,
construtivamente, criar e encontrar suas próprias soluções.

Para tanto, o conciliador deve portar-se de forma a despertar nas partes o sentimento de confiança
em sua pessoa e imparcialidade, sendo útil desse modo, que ao conversar, olhe para cada um dos
presentes de modo equilibrado e calmo. É importante dizer aos envolvidos que o conciliador não é juiz
e, por isso, não irá proferir julgamento algum em favor de uma ou outra pessoa envolvida no conflito.
Ademais, deve ele frisar a sua imparcialidade e confiança no sucesso da conciliação que está em curso.
Um exemplo de como se expressar: “Devo lembrá-los que não sou juiz e, portanto, não irei prolatar
nenhuma decisão em favor de uma ou outra parte. Minha atuação será imparcial, sempre no intuito de
auxiliá-los a terem uma negociação eficiente”.

O conciliador, portanto, deve agir como um educador no processo de conciliação e como condutor
das regras que deverão ser empregadas durante a conciliação.

Cabe ao conciliador explicar de forma objetiva como a audiência/sessão se desenvolverá, enfatizando,


logo no início, que cada um dos participantes terá a sua vez para se expressar. Durante a audiência/sessão,
o conciliador disciplina o diálogo cuidando para que um não interrompa o outro e diligenciando para que
as pessoas tenham a oportunidade de falar e ouvir umas às outras, sempre de forma cordata e organizada.

Desde já, deve o conciliador combinar sobre a participação do advogado quando este estiver presente,
uma vez que o engajamento de todos é fundamental para a construção do acordo.

É conveniente também que o conciliador faça uma previsão da duração da audiência/sessão de


conciliação, com base em sua experiência ou na política institucional do Tribunal. Todavia, é importante
ter em mente que cada caso tem suas particularidades e, que pode levar a uma reorganização do
planejamento dos trabalhos. Naturalmente, tratando-se de conciliação, há também a questão da pauta,
pois, uma audiência/sessão que se atrasa, afeta todas as demais daquele conciliador.

Para um adequado desenvolvimento das técnicas autocompositivas, sugere-se que o tempo mínimo
planejado para cada conciliação seja de 30 a 45 minutos. Isto porque, em conciliações realizadas em
menos de 15 minutos, o conciliador somente tem tempo para se apresentar, ouvir resumidamente os
envolvidos e apresentar uma proposta de solução - que se considera, como indicado anteriormente,
uma forma excessivamente precária de se conduzir uma conciliação.

Na fase de abertura - etapa fundamental do processo de conciliação – tem-se o propósito de deixar


os participantes da audiência/sessão cientes da dinâmica de trabalho, de estabelecer um tom ameno
para o debate das questões por elas suscitadas, de fazer com que o conciliador ganhe a confiança das
pessoas e, desde já, explicite as expectativas quanto ao resultado do processo que se está a iniciar.
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MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

3.3. Exposição dos fatos pelos participantes

Após a abertura o conciliador propõe às pessoas envolvidas no conflito que exponham o motivo que
as levaram a procurar ajuda junto aos órgãos que promovem a conciliação.

Esse é o momento da escuta pelo conciliador dos fatos ocorridos de acordo com o ponto de vista de
cada um dos envolvidos.

Nessa fase, é comum as pessoas relatarem passagens de suas vidas que não estão diretamente
relacionadas ao problema, fugindo, assim, do assunto que as levou até a conciliação.

O conciliador, de maneira calma e serena, porém firme, deve restringir a conversa para evitar a
exposição da vida dessas pessoas e objetivar a reunião de conciliação.

Ele disciplina o diálogo, cuidando para que uma parte não interrompa a outra e diligenciando para
que as pessoas tenham a oportunidade de falar e de ouvir umas às outras, sempre de forma respeitosa
e organizada. Durante a exposição, porém, se necessário, deve relembrar, às partes, as regras a serem
cumpridas ao longo da conciliação.

3.4. Identificação e esclarecimento das questões, interesses e sentimentos

Um aspecto importante no processo da conciliação, consiste em conhecer os fatos e informações


importantes sobre o problema, procurando identificar o que realmente as pessoas pretendem resolver.

A escuta atenciosa das partes é a chave para conhecer seus reais interesses e o meio de chegar
a acordos onde esses interesses sejam respeitados. O conciliador deve estar disponível para ouvir as
pessoas com atenção, disciplinando-se para não fazer julgamentos enquanto o outro fala.

Deve evitar ainda, interromper o pensamento do outro, não se precipitando para concluir ou
direcionar a discussão.

3.5. Negociação

A negociação é um processo de comunicação que tem por objetivo a construção de soluções


para o conflito. Ela é realizada pelas partes com a ajuda do conciliador que, neste sentido, participa
da negociação com a função de facilitar o diálogo, coordenar a discussão, organizar as propostas
apresentadas e elaborar a síntese das propostas apresentadas.

Na negociação o conciliador estimula as partes a conversarem de forma objetiva sobre as alternativas


para a redução dos seus conflitos, o que proporciona soluções participativas e responsáveis, fazendo
com que os envolvidos se comprometam com a resolução de suas questões.

Embora esteja presente onde há conflito, a negociação, para ser bem-sucedida utiliza técnicas
próprias e específicas que ajudam a criar um clima de acordo onde a ética e o respeito ao outro sejam a
tônica e que os INTERESSES das partes possam ser atendidas sem prejuízo de nenhuma delas.
33
Unidade I

São técnicas da negociação:

• IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

Um ponto importante ao se deparar com uma questão de conciliação, consiste em identificar


claramente qual é o seu objetivo, ou seja, ter clareza do que se pretende resolver. Trata-se de buscar
todos os fatos e informações relevantes sobre o problema. Uma vez identificados, será possível descrever
a situação problemática de maneira clara, distinguindo as informações importantes das irrelevantes,
separando os fatos verdadeiros das suposições e interpretações não comprovadas.

• REFORMULAÇÃO

Dar uma nova formulação ao problema, mudando a perspectiva conceitual ou emocional em


relação à forma como é vivenciado pelas partes. Muda-se o significado atribuído à situação e não aos
fatos ocorridos.

• CONOTAÇÃO POSITIVA DO CONFLITO

Transformar fatos acusatórios em temas positivos e de interesse comum, ressaltando especialmente


as características e qualidades positivas das pessoas.

• FOCO NOS CONFLITOS E NÃO NAS PESSOAS

Frequentemente, as partes envolvidas num conflito sentem-se adversárias, envolvendo-se em


questões pessoais que não deveriam ser objeto da negociação naquele momento. Quando isso acontece,
as emoções se sobrepõem, aumentando as dificuldades para solucionar o problema.

• CONCENTRAR-SE NOS INTERESSES

Os interesses são os desejos e as preocupações das partes, e que na maioria das vezes aparecem
numa negociação encobertos por posições iniciais rígidas. Isso dificulta sobremaneira uma negociação, à
medida que não proporciona flexibilidade aos negociadores e a todo o processo da conciliação, além de,
em muitos casos, poder inclusive encobrir efetivamente o que se pretende atingir, ou seja, os interesses
básicos que estão por trás da negociação.

As posições são sempre claras. Os interesses nem sempre são expressos ou coerentes. Uma maneira
de descobri-los é perguntando: O que você pretende? Por que almeja?

• ENCONTRAR CRITÉRIOS OBJETIVOS

Outra ferramenta importante refere-se a encontrar critérios objetivos para a solução do problema. A
busca do melhor acordo possível deve passar pela mais vasta gama de soluções, sempre com a preocupação
de procurar interesses comuns que conciliem, de maneira criativa, os interesses divergentes das partes.
Porém como escolher a melhor opção dentro do amplo leque que frequentemente se consegue montar?
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MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO E CONFLITOS

Nesse sentido, é importante que o acordo reflita algum padrão justo, razoável e que seja consenso entre
as partes envolvidas. Pode-se, por exemplo, tomar como referência o valor de mercado, uma opinião
especializada ou uma lei.

Assim, ao discutir as soluções, nenhum dos lados precisa ceder ao outro. Ambos devem, isto sim,
acatar uma solução justa, baseada em critérios previamente discutidos e aceitos.

Para resolver interesses conflitantes, as pessoas devem acordar no que seja, no mínimo, justo para ambas.

• BUSCA DE OPÇÕES DE GANHOS MÚTUOS

Normalmente, as partes envolvidas numa negociação acreditam existir uma única alternativa para
a solução do problema, e caminham nessa direção. Isso se deve a alguns fatores: acomodação, ausência
de criatividade para buscar outras opções, falta do hábito de buscar diferentes soluções. Sendo assim,
quanto mais forem estimuladas a criarem alternativas de ganhos mútuos, mais facilmente chegarão a
um acordo.

O conciliador deve estar sempre atento à forma de comunicação estabelecida entre as partes, pois
esta pode favorecer ou dificultar o desenvolvimento de uma negociação satisfatória entre elas. Atitudes
como julgamento prematuro, busca de uma resposta única, preocupação exclusiva com os próprios
interesses pode inibir a criação de opções alternativas para a solução do conflito.

3.6. Síntese da sessão de conciliação

Uma vez que as partes tenham expressado sua visão do conflito, apresentado suas propostas, enfim,
negociado as soluções, o conciliador, após perguntar se elas têm algo mais a acrescentar, fará um
resumo do que escutou. Assim, ele resgata os pontos comuns entre as partes e aponta as possibilidades
de acordo que surgiram.

Nessa fase, pode acontecer que o conflito apresentado passe a exigir conhecimentos técnicos quanto
à legalidade. É função do conciliador, nessa situação, prestar esclarecimentos às pessoas naquilo que
tiver conhecimento.

Quando não possuir o conhecimento exigido deve buscar assessoramento com o juiz e/ou coordenador.

Em situações de muita dificuldade das pessoas para buscarem uma alternativa que satisfaça aos
interesses de ambas num acordo, o conciliador deve ser o mais claro e didático possível: apontar os
diferentes interesses das pessoas, proceder ao levantamento e análise dos problemas e das opções
que cada uma delas apresenta. Desta forma, terão oportunidade de raciocinarem sobre possibilidades
de acordo que levem em consideração a realidade presente e futura, bem como a viabilidade da
concretização dos objetivos da audiência/sessão conciliatória.

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Unidade I

3.7. Composição do acordo

Todas as alternativas levantadas para a solução do problema devem ser consideradas, cabendo ao
conciliador indicar outras que lhe ocorrerem, mas sempre com imparcialidade. Quanto mais opções
existirem para atender aos interesses dos envolvidos numa conciliação, maiores serão as chances de se
chegar a um acordo.

O conciliador deve sempre estar atento para que os acordos obtidos sejam realistas, devendo
satisfazer ao máximo as partes e prevenir questionamentos futuros, a fim de que sejam os mais
duradouros possível.

Após a síntese dos pontos comuns encontrados, cabe ao conciliador fazer um resumo do acordo de
forma compreensível para as partes, o que as auxiliará na escolha de soluções que atendam aos critérios
da realidade: um acordo que seja imparcial, sensato, eficiente e que aprimore o relacionamento entre as
pessoas envolvidas na conciliação.

3.8. Encerramento e lavratura de termo

Finalizada a composição do acordo, o conciliador deverá registrá-lo em formulário específico (ata/


termo de acordo), numa linguagem clara contendo as condições e especificações tal como elas foram
acordadas. É importante fazer a leitura para os envolvidos na conciliação do que foi registrado, visando
pleno conhecimento e dirimindo dúvidas com relação à sua composição final.

Este momento também é propício para orientá-las sobre outras questões (quando for o caso: conta
bancária, mandado de averbação, encaminhamentos etc.), para que finalizem os trabalhos de conciliação
esclarecidos e acolhidos em suas necessidades.

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