You are on page 1of 11

INTRODUÇÃO

O livro didático é um importante recurso de acesso à cultura, conhecimento e


desenvolvimento da educação. Além de auxiliar o importante trabalho do professor, ao passo
que facilita o planejamento de atividades em sala de aula, abre portas para o estímulo da leitura.
Dessa maneira, propondo uma ação educativa, a qual é elaborada através das concepções do
autor e o que a escola considerada adequada para o seu público

Nesse contexto, entende-se que a relação entre academia e escola é de que o saber escolar
recebe os conteúdos produzidos pelo saber acadêmico e os ajusta para o nível de crianças e
jovens. Considerando o ensino de história de suma importância para o indivíduo sair do senso
comum e desenvolver um pensamento crítico, foram analisados dois livros didáticos e uma
apostila.

O primeiro livro analisado foi História, Sociedade e Cidadania (BOULOS, 2009), atendendo
aos alunos de sexto ano do ensino fundamental da rede pública. O livro se estrutura de forma
simples, com dois capítulos, totalizando 20 páginas dedicadas ao ensino de Grécia Antiga. Este,
consta sempre uma sinóptica introdução em cada um dos capítulos. O livro possui uma
linguagem básica, que facilita a interação aluno-texto.

De mesma maneira que o supracitado, o segundo livro utilizado História para o Ensino Médio
(VICENTINO, 2007), também é estruturado em 2 capítulos, porém conta com 17 páginas.
Voltado a alunos de terceiro ano da rede pública, o livro não apresenta tópicos em excesso,
dando espaço para textos longos. Apresenta uma linguagem mais próxima a seu público alvo.

O último material didático analisado, foi a apostila Energia Pré-Universitário (SOUSA,


FERREIRA, 2017) do Sistema Ari de Sá. É dedicada a alunos de terceiro ano e cursinho pré-
vestibular da rede particular de ensino. A apostila é dividida também em 2 unidades aplicadas
a Grécia Antiga, com 14 páginas. Entretanto, 4 delas são questões de vestibulares do ano de
2016, somando 40 questões. Possui um vocabulário mais complexo, todavia ainda de
entendimento acessível ao público direcionado.

Dessa forma, elencou-se nove tópicos considerados relevantes no ensino de Grécia Antiga
nesses livros. Além disso, se faz presente também uma comparação dos livros com textos
acadêmicos. Foram utilizados os livros Grécia e Roma de Pedro Paulo Funari; Grécia
Primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica de Moses Finley e A Grécia Arcaica de Homero a
Ésquilo de Claude Mossé. Estes, conduziram o trabalho a um contraste de ideias entre o que
é apresentado aos alunos de fundamental e médio (público e privado) e o voltado na sua
maioridade ao público de ensino superior.

Portanto, o presente trabalho teve por objetivo analisar os livros e apostila citados tendo por
ideal entender e a apontar as diferenças entre eles e como elas influenciam no ensino de história
antiga nas escolas. Procurou-se entender o diálogo que ocorre entre academia e escola, e até
que ponto ela recebe o conhecimento da academia e de que forma ajusta ao nível direcionado
e não apenas o suprime.

Fontes

Partindo-se do pressuposto de que o livro de ensino fundamental possui uma base mais
introdutória da história antiga, por ser direcionado a alunos de sexto ano, utiliza-se recursos
como imagens, fábulas e ilustrações. Como resultado, o mecanismo visual permite ao aluno
maior visibilidade e discernimento do texto apresentado, como também a quebra de um ritmo
cansativo de leitura. Porém, no que se refere ao estudo das fontes no livro, mesmo trazendo-as
em imagens junto aos textos, não agregam de forma significativa o texto,

A exemplo disso, (BOULOS JUNIOR, 2009) destaca em lugares extras ao texto principal
a existência dos poemas Illíada e Odisséia como responsáveis por grande parte do que se
conhece sobre gregos entre os séculos XII e VIII a.C. Porém, apenas com um objetivo de narrar
a história, sem desenvolver o conhecimento sobre os gregos que os poemas trazem. Dessa
forma, há uma abordagem apenas ilustrativa e limitada, perdendo a oportunidade de evidenciar
aos alunos a importância e o potencial de documentos encontrados para a formação de
conhecimento sobre a antiguidade.

Em contrapartida, as apostilas do ensino médio, voltados a alunos de terceiro ano, não as


citam, revelando uma revisão geral, sem preocupação em apresentar questionamento de como
e a partir de quais fontes se obteve tal conhecimento. Possivelmente, por se tratar de apostilas
com exercícios retirados de vestibulares do ano de 2016, o conteúdo oferecido pelo material
está direcionado exclusivamente ao abordado nas questões.
Em relação a textos de cunho acadêmico, nota-se uma abordagem muito mais concisa e
esclarecedora. O livro A Grécia Arcaica de Homero a Ésquilo de Claude Mossé, evidencia não
só os conhecimentos o quais uma fonte escrita pode fornecer, mas também processos

históricos que antecederam a sua produção, as metodologias adotadas para a suas intepretações
e problematizações em cima de quem as transcreveu.

No início deste século, os progressos da arqueologia permitem elaborar


uma datação mais precisa no respeitante a estes palácios. (MOSSÉ,
1984)

Os trabalhos desenvolvidos pelos arqueólogos tinham já permitido


constatar qual a importância desempenhada pelos palácios no seio de
tais Estados (MOSSÉ, 1984)

No caso de Ilíada e Odisséia, só numa época relativamente recente é


que se começou a contestar é que se começou a contestar, se não a
existência de um poeta chamado Homero, pelo menos o fato de ele ser
o autor da totalidade de suas epopeias (MOSSÉ, 1984)

Assim sendo, conclui-se uma maior preocupação do material voltado a ensino fundamental
e médio na repassagem do conteúdo em si produzido, diferentemente dos textos acadêmicos,
que demonstram maior amplitude de conteúdo em relação as fontes.

Periodização

A periodização da história é, de certa forma, um método utilizado também para fins


didáticos para melhor entendimento e contextualização dos fenômenos históricos. Assim,
embora nem sempre seja possível caracterizar o objeto de estudo dentro de um tempo
específico, o historiador é submetido a trabalhar períodos com propósito de melhor
organização.

A perspectiva tradicional e eurocêntrica dos acontecimentos na história é a adotada no


livro direcionado aos alunos de sexto ano como também, ensino médio público e particular.
Por ter essa finalidade didática, é clara a importância que os autores destes livros concedem às
datas dos eventos históricos.

Há a utilização de linhas do tempo implementadas com todas as datações desde a pré-


história até a idade contemporânea. Os problemas de posição cronológica na historiografia não
se resumem com a definição de “eras”, “idades”, ou “períodos”, mas também da própria
conceituação das situações históricas. Quando começa e quando acaba uma determinada
história não diz respeito meramente as datas dos acontecimentos ocorridos, mas da análise de
seu comportamento temporal (CARRERAS, 2000).

Por conseguinte, um fato histórico ou um período em questão fica limitado as datas


informadas pelos livros, depreendendo-se uma ideia de linearidade histórica, logo, uma
cronologia exata, mas que nem sempre acontece. No que concerne as divisões atribuídas aos
períodos da Grécia Antiga, o livro (BOULOS, 2009) não as mencionam, trabalhando com
informações dispersas. À vista disso, fica a critério do professor exemplificar aos alunos de
ensino fundamental, um desenvolvimento inicial dessas civilizações e que, as informações no
livro contidas dizem respeito a períodos diferentes.

É interessante salientar que ambos os livros de terceiro ano indicam as divisões da história
grega. Entretanto, nenhum dos dois desenvolve o conteúdo a partir das divisões e sim, por
importância que o tópico abordado tem atualmente. Dessa forma, a introdução do estudo de
Grécia nestes dois livros inicia com temáticas como política e economia.

Ademais, em referência ao livro Grécia e Roma de Pedro Paulo Funari “há também, no
final do livro, uma cronologia, que poderá ser bastante útil aos leitores em seus estudos. Este
livro é, assim um convite a repensar as civilizações grega e romana” (FUNARI, 2001, p.12).
Portanto, as divisões não sendo amplamente citadas no decorrer do livro, o uso de linhas do
tempo para melhor entendimento da cronologia grega é presente também, em textos voltados
ao público acadêmico.

Além disso, outro aspecto muito importante analisado foi o emprego de termos para
caracterizar relações entre indivíduos, sistemas desenvolvidos por eles à luz de valores que
pertencem a outra época. (SOUSA, FERREIRA, 2017) destaca que o desenvolvimento do
comércio marítimo na Grécia, provocou o surgimento de classes sociais, entretanto

Classe social é um conceito criado bastante recentemente, ligado ao capitalismo e


portanto, nenhum autor antigo se refere a classe social nesse sentido, pois não havia
capitalismo na Antiguidade. Os termos usados pelo filósofo antigo Aristóteles para
designar os grupos sociais, por exemplo, são muito diferentes do conceito de classe
social empregado nos dias de hoje.(FUNARI, 2001, p. 47)
A partir disso, o texto de Funari problematiza o termo para definir os grupos no meio
grego, diferentemente do material para alunos do ensino médio. Este, sendo voltado para
conteúdo cobrado nos vestibulares atuais, não faz presente o aprofundamento dessas questões.
Esses apontamentos acerca do tempo permitem compreender a sua importância para o
ensino de história e problematizar como a temporalidade vem sendo pensada ensinada nos
livros investigados. Em suma, vê-se um desenvolvimento dos livros em relação às

periodizações. Enquanto o livro para alunos do fundamental traz poucos detalhes sobre estas
divisões, há uma maior preocupação nos livros de terceiro ano no informe das mesmas.

Ilhas

A Grécia Antiga localizava-se no sudeste da Europa e era composta por três áreas distintas:
uma parte formada por ilhas no Mar Egeu, outra ligada à Europa Balcânica e outra dentro do
próprio continente europeu. No que concerne as ilhas,

Como exceção de Rodes e Chipre, poucas vezes estas ilhas


desempenharam um papel independente nos tempos históricos – se por
nenhuma razão, por causa do seu tamanho reduzido e recursos
limitados (FINLEY, 1990)
Em uma observação geral dos livros e apostila didática, percebeu-se que não se atentam
na abordagem de características físicas e povoamento da Grécia. Para a explicação da geografia
deste local, se usam apenas mapas, ficando a observação do aluno ou esclarecimento do
professor qual região se constituía.

As ilhas e qualquer importância que possam ter exercido, não são citadas de maneira
relevante em nenhum deles. (SOUSA, FERREIRA, 2017) trata a ilha de Creta como detentora
e pioneira no desenvolvimento de uma economia baseada no uso da cerâmica e da metalurgia.
Contudo,

O mais interessante é que eles desenterraram cerca de uma centena de


pesos de tear feitos em argila e pedra, quase nenhum metal e algumas
centenas de lâminas em obsidianas de Melos (FINLEY, 1990)

Creta viria a se destacar, embora com um relativo atraso no primeiro


estágio da metalurgia (FINLEY, 1990)

A passo que você expõe esta ideia ao aluno, é necessário também informar referência de
tempo e espaço a qual ocorreu. A noção histórica e os demais conceitos de tempo, por exigir
um grau maior de abstração, e por ser necessariamente já trabalhadas com pré-adolescentes,
deve ser muito mais cuidadosamente elaborada para permitir sua assimilação, mas partindo
sempre da concepção concreta de tempo que o educando tem como premissa para as
extrapolações posteriores (ZAMBONI, 1984).

Os textos diferenciam-se entre si justamente nesta questão. Enquanto a apostila apresenta


uma informação de certa forma, vaga, o texto acadêmico traz mais informações sobre ilhas
(Creta, neste caso) no que diz respeito as noções de espaço e tempo. Eventualmente, a possível
razão desse não tratamento na apostila analisada, seria um conteúdo voltado as questões de
vestibulares, as quais não lidam com o questionamento de informações sobre ilhas gregas.

Dentre os capítulos 3 e 4 do livro Grécia Primitiva são dedicadas aproximadamente 28


páginas ao que se sabe sobre a ilhas da Grécia. Os textos contêm maior abrangência de
informações, desde achados arqueológicos até costumes religiosos praticados. A
disponibilidade deste modelo de livro no âmbito acadêmico, mesmo sendo a critério do
professor utilizá-lo permite ao acadêmico um contato maior com o estudo das Cíclades.

Atenas e Esparta

(FUNARI, 2001, p.27) em uma breve introdução sobre a cidades gregas, menciona Esparta
e Atenas como as mais conhecidas e de diferentes organizações políticas. Indubitavelmente, os
textos voltados a público escolar focam na abordagem destas cidades-estado e suas
peculiaridades. Sendo assim, entende-se que por terem essa exclusividade no estudo de Grécia
Antiga passam a ideia de superioridade as outras.

É importante salientar que esta é uma conclusão equivocada. Atenas e Esparta foram sim,
importantes no desenvolvimento de vários aspectos culturais, porém correspondiam as
necessidades da época. Estas, retomando Funari se apresentam como as mais conhecidas e não
como principais.

O livro de ensino fundamental cita as cidades-estado de Atenas e Esparta de maneira


comparativa. Apesar de ser de vertente mais introdutória, cita conceitos como Boulé e Eclésia
e o próprio significado de cidadão para a época, exemplificando de forma bem satisfatória a
política ateniense. O texto conta a história da democracia e representa com figuras os seus
principais autores. Porém, se contradiz quando propõe atividades como votações entre os
alunos e as caracteriza com o mesmo conceito de democracia da Atenas.
O livro didático de ensino médio público se comporta de forma similar ao de fundamental
em relação as duas cidades. A explicação dos conceitos é bem clara e de fácil entendimento.
Porém, diferentemente do livro anteriormente citado, não traz questões comparativas ou
qualquer incentivo de atividades extraclasse. Por fim, a apostila de ensino médio/cursinho pré-
vestibular, cita a figura de Clístenes como (SOUSA, FERREIRA, 2017) promotor de uma série
de reformas políticas que lhe valeriam o título de "pai da democracia". A partir dessa
introdução, se desenvolve uma explicação mais de acordo com a época. A exemplo disso,

Contudo, a prática da democracia para os atenienses era bem mais


excludente do que as existentes nas sociedades contemporâneas, pois
em Atenas, estrangeiros, mulheres e escravos eram excluídos, e os ditos
cidadãos representavam, aproximadamente 10% da população total.
(SOUSA, FERREIRA, 2017, p.42)

Os magistrados podiam ser homens eleitos pela assembleia (no caso


em que fossem ocupar cargos que necessitassem de alguma habilidade
especial, como conhecimentos de estratégias militares) ou escolhidos
por sorteio entre os candidatos. Os gregos consideravam que o sorteio
punha na mão dos próprios deuses a escolha, já que a sorte era uma
deusa (Tykhé) (FUNARI, 2001, p. 38)

O texto acadêmico consegue relacionar aspectos como democracia, relação entre os


indivíduos e religião em uma mesma explicação. Diferentemente dos livros didáticos, que as
tratam de forma fragmentada.
No que tange a economia das cidades, é sempre abordada juntamente a geografia das
mesmas. Apesar de sempre se constituírem nos livros como um dos primeiros fatores, não há
grandes explicações ou contribuições, gerando uma ideia bem limitada. A comparação citada
anteriormente vai além, quando são apresentadas questões sobre qual seria a escolha de melhor
cidade-estado para se viver na visão dos alunos. Esse tipo de comparação novamente, é
equivocada. Pois, as maneiras de diferentes sociedades se estruturarem são únicas e conforme
as suas necessidades, não podendo haver por parte do autor julgamentos sem bases teóricas.
Em contrapartida Esparta é introduzida no livro como um (BOULOS, 2009) desde o
começo, um verdadeiro acampamento militar. Dessa forma, se atenta principalmente nos
aspectos relacionados a educação dos espartanos e sua preparação para a guerra. A política
espartana é também, de maneira bem satisfatória, considerando o público direcionado,
exemplificada. Termos como Gerusia, Eforato e Apela são apresentados aos alunos.
Concomitantemente ao livro, apostila também aborda as informações de mesma maneira.
Em síntese, apesar de no geral serem explicações bem convincentes, foram constadas
maiores divergências na amplitude das informações entres os materiais didáticos escolhidos
em relação aos textos acadêmicos. Circe Bittencourt (2011) atenta, para o fenômeno do
“esquecimento”, observado tanto em professores quanto em estudantes, de que o livro didático
é também um livro e, portanto, produto da idealização de seu autor, da construção

de seu processo editorial e de dinâmicas do mercado de consumo em que está inserido.


Novamente, a base mais introdutória dos livros de fundamental e a metodologia de ensino
escolhida pelos autores dos de ensino médio influenciam diretamente no resultado das
informações.

Cultura
Considerando a cultura grega como grande desenvolvedora de áreas como filosofia, artes
plásticas, arquitetura e teatro, entende-se a dedicação dos livros didáticos na abordagem destas
questões. Os três materiais analisados fornecem a maior parte de suas páginas do ensino de
Grécia, a sua cultura. Provavelmente, por serem questões de maior facilidade de aproximação
a realidade do aluno.
A cultura grega no livro do ensino fundamental possui páginas direcionas somente para os
jogos olímpicos. No intuito de se aproximar os jogos atuais são feitas muitas comparações entre
pinturas da época e fotografias de atletas atuais praticando esportes que, na visão do autor,
seriam semelhantes. Os deuses também são trazidos em suas representações de estátuas, e a
sua forma de cultuar a religião e crenças são bem apresentadas.

Outro aspecto da cultura que tem grande atenção do autor é a criação do teatro. As
esculturas e artes gregas são citadas minimamente, mostrando que o objetivo do autor ao falar
de cultura é demonstrar sua influência até a atualidade. Também há proposta de atividades aos
alunos, [...] "Assim, como na Grécia antiga, no Brasil atual também há busca pelo corpo
atlético, bonito e saudável. Mas, ao mesmo tempo, pesquisas recentes indicam que 30% das
crianças estão acima do peso e entre 10% e 15% são obesas. Porque será que isso vem
acontecendo?" (BOULOS, 2009, p. 32)

Dessa forma, o recuso utilizado pelo autor é citar uma ideia desacertada sobre os gregos,
nessa busca pela aproximação aos temas atuais. Nesta análise, levanta-se a questão de até que
ponto essa aproximação que o autor procura fazer contribui para o pensamento crítico do aluno
e não só, o leva a conclusões erradas.

O material de ensino médio particular é extremamente sucinto na abordagem da cultura


grega. Mais uma vez, o conteúdo da apostila é voltado as questões que ela traz, logo,
democracia toma espaço no material em detrimento aos aspectos como jogos olímpicos e vida
cotidiana. Já, o de ensino médio público vai ao encontro ao de fundamental.

O livro Grécia e Roma de Pedro Paulo Funari aborda tópicos como A vida na Grécia
Antiga, como também, vida privada, sexualidade na antiguidade, religião, mitos e arte grega.
Apesar de ser um livro bem didático, com uma linguagem acessível, Funari não tenta
exorbitantemente a aproximação dos elementos culturais antigos com atuais. Nesse contexto
os tópicos citados são apresentados de forma concisa, possibilitando o leitor a compreensão
dos elementos da cultura antiga.

Posição da mulher

As relações de gênero que transformam os indivíduos em homens e mulheres se dá por meio


de vivências no que se refere ao espaço e tempo de cada sociedade, sobretudo na figura
masculina e feminina. Assim, essa diferenciação não é apenas dada nos compromissos de cada
um, mas em relação a sua presença em casa época.

A história das mulheres vem ganhando visibilidade nos temas atuais, refletindo no
ensino dos livros didáticos. Porém, se trata de uma abordagem relativamente recente.
Primeiramente, a posição da mulher nos livros analisados é rasa e pouco acrescenta no estudo
do aluno. Em geral, há uma breve explicação da sua função na sociedade (não excedendo os
deveres de esposa e mãe) logo dando espaço apenas o entendimento de que não eram
consideradas cidadãs.

Em detrimento aos livros didáticos, Pedro Paulo Funari aborda uma quantidade de
informações muito mais enriquecedoras sobre a posição das mulheres na Grécia.

Na elite, o sistema familiar era patriarcal e fortemente limitador da


liberdade das mulheres. Um de seus traços mais marcantes era a
separação muito clara entre o mundo feminino e o masculino, aquele
voltado para a casa e para a reprodução e este para a vida em sociedade.
(FUNARI, 2001, p.55)
O livro expõe aspectos como divisão entre os diferentes papéis exercidos na sociedade
conforme o gênero, como as mulheres deveriam se portar em velórios, justificativas baseadas
em crenças a função atribuída a elas. Ademais, as questões acima são citadas em um contexto
de sexualidade grega, logo, subentendendo-se sua atribuição na sociedade.

Filosofia

A filosofia enquanto disciplina é recente e ficou longe dos componentes escolares por
muito tempo. Portanto, os livros didáticos ainda não apresentam certo padrão ou adequação no
ensino de filosofia grega. A filosofia no livro do ensino fundamental é apresentada de forma
breve, com questões de lógica para falar de Aristóteles e questões de autoconhecimento para
falar de Sócrates, da mesma maneira que o de ensino médio público.

A apostila não traz elementos da filosofia no conteúdo. O sistema Ari de Sá de ensino conta
com um livro a parte sobre a explicação da filosofia e todos os aspectos relacionados a Grécia,
logo, não se faz necessário a abordagem também na apostila. Textos de cunho acadêmico,

A Filosofia começou ocupando-se do problema da origem do mundo e da verdadeira


realidade, da unidade por detrás das aparências. Desde o século VI a.C. uma série de
pensadores, na Jônia e na Magna Grécia, começaram a se ocupar desses temas.
(FUNARI, 2001, p.66)

Levantam-se questões de como nasceu essa ciência, como era o pensamento dos filósofos,
como separam razão, religião e mitologia, cita alegoria da caverna e amor platônico de Platão,
usa poesias de Aristóteles, constituindo-se um livro excelente na explicação da filosofia.

Considerações finais
Pelo exposto, infere-se que em vários aspectos os livros didáticos analisados deixam a
desejar no ensino da Grécia Antiga. Questões como especificidade da leitura, o público que é
direcionado, a metodologia e bases teóricas que o autor utiliza e maneira como o professor
conduz a aula utilizando esse material como fonte para o estudo da história, refletem de forma
direta em como o aluno recebe esta informação.
Dessa forma, nota-se o papel fundamental do professor para estimular a problematização e
estimulação do pensamento crítico do aluno dentro da sala de aula. Há maior necessidade de
diálogo entre academia e escola, para que os livros didáticos não sejam apenas instrumentos de
memorização, mas levar a compreensão do assunto tratado.
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
ZAMBONI, ERNESTA. Desenvolvimento das noções de tempo e espaço na criança. In:
Cadernos CEDES, nº. 10.São Paulo: Cortez Editora, 1984.
SALLES, André Mendes. O livro didático como objeto e fonte de pesquisa histórica e
ducacional. Revista Semina (UPF). Passo Fundo/RS, v.10, 2011.
SOUSA, Carlos David Costa; VALE, Isac Ferreira do. Energia Pré-Universitário. Fortaleza:
Sistema Ari de Sá, 2017.
VICENTINO, Claúdio; DORIGO, Gianpaolo. História para o Ensino Médio. São Paulo:
Scipione, 2007.
BOULOS JUNIOR, Alfredo. História, Sociedade e Cidadania. São Paulo: Ftd, 2009
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2001.
FINLEY, Moses. Grécia Primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica. São Paulo: Livraria
Martins Fontes, 1990. Tradução de Wilson Vaccari.
MOSSE, Claude. A Grécia Arcaica de Homero a Ésquilo. 70. ed. Lisboa: Du Seuil, 1984.
Tradução de Emanuel Lourenço Godinho.

You might also like