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Uma luta de vida e de morte

Nós que vivemos num país onde a guerra aberta não existe, pois com o 25 de Abril os teatros de
guerra em África, - onde pereceram mais de 10000 soldados portugueses e onde ficaram
traumatizados muitos mais, - cessaram, temos por vezes a tendência a esquecer que a guerra
aberta ou larvar é hoje uma realidade em grandes zonas do nosso mundo.
Um regime capitalista autointitulado democracia mas que a um olhar crítico não pode deixar de
ser considerado como um regime de “ditadura da burguesia de fachada democrática”, onde
pontificam os falcões norte-americanos bem secundados pelos seus émulos europeus ou
sionistas, exporta todos os dias a guerra para onde os seus interesses tem a possibilidade de vir
a dominar. É assim no Iraque e no Afeganistão. Foi assim na antiga Jugoslávia. Foi recentemente
na Líbia. Está a ser na Síria, prevendo-se o Irão como objectivo imediato. Isto só para falar nas
guerras mais recentes. Guerras onde através dos seus próprios exércitos ou através de
mercenários, se matam inocentes, se mudam governos. Guerras com “jornalistas” embebidos
nas forças da “liberdade”, contando as “verdades” a que os povos do ocidente devem ter acesso
e acreditar sem a menor dúvida.
Mesmo dentro das suas fronteiras, o regime ditatorial burguês cada vez mais assume facetas
fascizantes. Vejam-se as leis que permitem as prisões arbitrárias e até a tortura dentro e fora
das suas fronteiras, subjugando homens em nome da liberdade burguesa. Vejam-se, para além
da guerra aberta, os fenómenos cada vez mais massificados de fome, desemprego,
precariedade, insalubridade, falta de educação básica.
Por isso quando ouço no meu país aos meus concidadãos e até por vezes a amigos que pensava
mais esclarecidos que estamos num mundo pacífico, em que a ordem burguesa nos permite a
livre expressão e eleições onde livremente podemos votar, o meu coração enche-se de raiva e
a minha cabeça de revolta, dizendo-me vezes sem conta: como não vemos ao que isto chegou?
Como não vemos o absurdo deste mundo, virado de pernas para o ar, só porque uns poucos
querem continuar a mandar nos outros todos nem que para isso tenham que fazer da mentira
verdade, da obscenidade virtude, e, quando isso não chega, tudo aquilo que anteriormente
descrevemos?
O homem vingou na terra pela sua capacidade de resistir às intempéries, à fome, às agressões
de animais ferozes. Conseguiu fazê-lo não individualmente mas no seio de um coletivo que lhe
foi dando consciência do seu ser assim como foi a origem das suas caraterísticas humanas.
Entretanto o homem dividiu-se em classes com interesses antagónicos e assim houve escravos,
servos e assalariados que trabalharam e foram explorados pelos nobres, senhores e burgueses.
Hoje deparamos com a maior ameaça de sempre: há homens que estão apostados no domínio
de outros homens a uma escala planetária e têm para isso armas terríveis, que não se coibem
de utilizar.
Que deus morrera já todos tinhamos tido notícia. Eis no presente o homem em vias de morrer
à míngua de resistência, esclarecimento e sabedoria. Há às nossas portas uma luta de vida e
morte e tão poucos sabem que estão tão perto de sucumbir, até por falta de quem lute, ou
mesmo de saber que é tão preciso lutar.
Haja quem lute. Há quem não desista. Haja quem saiba porque o deve fazer e que o faça até ao
limite das suas forças. Não estará muito longe um tempo em que os de cima usarão as tais
terríveis armas pois só assim os debaixo poderão ser contidos. Quando chegarmos a esse
momento espero que não deixemos de lutar mesmo sem a garantia de vitória.
P.S. Este texto surgiu-me depois de ler mais uma falsa notícia sobre a guerra de mercenários que
está a assolar a Síria e que tem por trás o apoio do mundo Ocidental: EUA, EU e Israel. E é
também hoje uma realidade a existência de soldados portugueses a lutar em África em nome
de interesses que estão longe de serem devidamente justificados.

Henrique Santos
2018

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