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REVISÃO DE LITERATURA

Relação entre tabagismo e transtornos psiquiátricos


Regina de Cássia Rondina 1
Ricardo Gorayeb2
Clovis Botelho3

Recebido: 30/6/2003 Aceito: 7/1/2004


RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão não sistemática da literatura sobre a relação entre tabagismo e doenças mentais,
destacando algumas perspectivas recentes sobre o assunto. Buscou-se identificar e descrever as hipóteses levantadas
por estudiosos nas últimas décadas acerca da natureza da associação entre o tabagismo e as perturbações psiquiátricas
como depressão maior, esquizofrenia e transtornos de ansiedade. Discutem-se, também, as reflexões sobre as
abordagens utilizadas nas pesquisas, bem como as possíveis contribuições desse conhecimento para os programas
de intervenção e assistência a pacientes psiquiátricos fumantes.
Unitermos: Tabagismo; Transtornos psiquiátricos.
ABSTRACT
Relationship between smoking behavior and psychiatric disorders
This paper presents a non systematic literature review on the relationship between smoking behavior and psychiatric
disorders, pointing out the new perspectives on the matter. The aim was to identify and describe the hypotheses on
the nature of the association between smoking and major depression, schizophrenia and anxiety disorders, in the last
decades. The different research approaches, as well as the possible contributions of this knowledge to intervention
programs to assist smokers psychiatric patients are discussed.
Keywords: Smoking behavior; Psychiatric disorders.

Introdução como álcool e outras drogas. A literatura contém ainda


um número significativo de estudos sobre tabagismo e
A relação entre tabagismo e doenças mentais vem perturbações psiquiátricas diversas, como transtornos
sendo objeto de numerosas publicações nas últimas duas de ansiedade e de humor, transtorno de déficit de atenção
décadas, mostrando associação entre consumo de tabaco e hiperatividade, entre outros.
e transtornos psiquiátricos em pacientes estudados. Está Trata-se de um tema de muito interesse clínico,
bem estabelecida na literatura a relação entre tabagismo uma vez que o tabagismo tem diversas implicações
e quadros psicopatológicos, como esquizofrenia e do ponto de vista bioquímico. A nicotina interfere no
depressão maior. Existe ainda forte evidência de funcionamento dos sistemas neurotransmissores e
associação entre consumo de tabaco e transtornos exerce diversas ações neuroendócrinas, entre outros
ligados ao consumo e/ou dependência de substâncias fatores, o que pode influenciar no quadro psicopa-

1
Psicóloga e Mestra em Educação Pública.
2
Professor Associado do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(HC-FMRP/USP).
3
Professor Adjunto Doutor da Faculdade de Ciências Médicas e do Curso de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente da UFMT.
Endereço para correspondência:
Ricardo Gorayeb
Av. Bandeirantes, 3900 – Ribeirão Preto, SP
Tel.: (016) 602-2438
E-mail: rgorayeb@fmrp.usp.br

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tológico e na responsividade do paciente ao tratamento exemplo, auxiliar na “automedicação” de sentimentos


(Herrán et al., 2000). de tristeza ou humor negativo. Ou seja, os níveis de
Pela importância do tema e a necessidade de depressão podem influenciar, em uma relação de
esclarecer melhor os leitores sobre algumas das causalidade direta, os níveis subseqüentes de consumo
abordagens existentes sobre o assunto, fez-se esta revisão de tabaco (Breslau et al., 1991; Anda et al., 1990). Há
não sistemática da literatura. Para tanto, usando as evidências, ainda, de que o uso de nicotina interfere
palavras-chave “tabagismo” e “transtornos psiquiátricos”, nos sistemas neuroquímicos (neurorreguladores como
foram pesquisadas, nos bancos de dados do MEDLINE acetilcolina, dopamina e norepinefrina), que, por seu
e no LILACS, todas as referências mais importantes sobre turno, afetam circuitos neurais, tais como mecanismos
o tema estudado. Os artigos mais atualizados e que reforçadores associados à regulação de humor (Windle
preenchiam os requisitos definidos pelos autores foram e Windle, 2001; Anda et al., 1990).
selecionados para a elaboração desta revisão. Tem-se ainda a hipótese de que, mais do que uma
Este artigo aborda o estudo da relação entre taba- relação unidirecional, tabagismo e depressão podem
gismo e quadros como depressão maior, esquizofrenia influenciar-se reciprocamente. Por exemplo, alguns
e transtornos de ansiedade. Buscou-se caracterizar fumantes deprimidos podem fumar para aliviar seus
algumas das principais hipóteses apresentadas pelos sentimentos negativos e, por conseguinte, uma vez que
a nicotina tem esse efeito desejado, o tabagismo para
pesquisadores sobre a natureza da associação entre
esses indivíduos é reforçado positivamente. Contudo,
consumo de tabaco e quadros de perturbações
sob a cessação do consumo, fumantes com histórico de-
psiquiátricas. É importante esclarecer, inicialmente, que,
pressivo podem ter aumentado seu risco de desenvolver
embora exista evidência de relação entre tabagismo e
novo episódio depressivo, o que pode aumentar sua
transtornos de ansiedade, essa associação é menos
predisposição às recaídas (Glassman et al., 1990; Covey
consistente (em comparação a distúrbios como depres-
et al., 1998). Finalmente, uma quarta hipótese vem sendo
são maior, esquizofrenia e alcoolismo, por exemplo),
apresentada por alguns estudiosos: mais do que uma
pois os resultados das pesquisas ainda denotam contro-
relação causal entre depressão e tabagismo, uma série
vérsia em alguns pontos. Assim sendo, esta revisão
de variáveis comuns, ou altamente correlacionadas
salienta o estudo da relação tabagismo–ansiedade,
(como, por exemplo, fatores genéticos e psicossociais),
destacando perspectivas recentes sobre o assunto. contribui para a expressão de ambos (tabagismo e
depressão) (Kendler et al., 1993; Breslau et al., 1994;
Breslau, 1995; Laje et al., 2001; Windle e Windle, 2001).
Tabagismo e depressão/transtornos depressivos

A bibliografia denota forte associação entre


tabagismo e transtornos depressivos. Em especial, Tabagismo e esquizofrenia
destaca-se a relação entre consumo de tabaco e Nas últimas décadas, foram publicados numerosos
depressão maior. O assunto é tema de muito interesse estudos abordando a relação entre tabagismo e esquizo-
clínico e tem profundas implicações para a psiquiatria, frenia. Como exemplo, os trabalhos de Gopalaswamy
podendo até mesmo subsidiar propostas terapêuticas. et al. (1986), Goff et al. (1992), Addington et al. (1998),
Está comprovado que a probabilidade de abandono Herrán et al. (2000), Patkar et al. (2002), Lyons et al.
do tabagismo é reduzida em pacientes com transtornos (2002), Uzun et al. (2003) e McCloughen (2003), entre
de depressão. Sabe-se que fumantes com histórico de de- outros.
pressão correm mais risco de recaídas durante o período Levantamentos efetuados nos Estados Unidos nas
de abstinência, em comparação a fumantes sem o mes- duas últimas décadas demonstraram que a prevalência
mo histórico. Nos fumantes com histórico de transtornos de tabagismo em portadores de esquizofrenia tende a
depressivos, a cessação do tabagismo é fator de risco ser mais elevada em relação à população em geral e
para a manutenção do quadro clínico ou o desenvolvi- também em comparação a outras populações psiquiá-
mento de novo surto depressivo. Mesmo que esses indi- tricas (Gilbert et al., 1997; Hughes, 1986; Goff et al.,
víduos parem de fumar, as recaídas são mais freqüentes, 1992; Gopalaswamy e Morgan, 1986; Masterson &
pois a nicotina ajuda a manter a homeostase interna O' Shea, 1984). Nos Estados Unidos, cerca de 70% a
(Glassman et al., 1988; Breslau et al. 1992; Glassman, 80% dos pacientes esquizofrênicos são fumantes, ao
1993; Escobedo et al. 1996; Gilbert et al. 1997; Patton passo que em outros pacientes psiquiátricos a preva-
et al. 1998; Glassman et al. 2001; Laje, et al., 2001). lência média de tabagismo gira em torno de 50%. Na
A literatura apresenta diferentes hipóteses acerca população em geral, observa-se uma prevalência média
da natureza dessa associação. O tabagismo pode, por de 25% (Herrán et al., 2000).

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Estudos efetuados com outras nações também de dopamina poderia constituir-se em um forte apelo
apresentam resultados semelhantes. Herrán et al. (2000) para pacientes psiquiátricos que apresentam disfunção
encontraram uma prevalência de 64% de tabagismo em nesses sistemas (Glassman, 1993).
esquizofrênicos, em um levantamento efetuado na A revisão da literatura denota, portanto, a
Espanha. No estudo de Uzun et al. (2003), realizado na existência de um conjunto de complexas interações
Turquia, foi encontrada uma prevalência de 50%. psicopatológicas, bioquímicas e neurofarmacológicas
Embora o consumo de tabaco esteja decrescendo na mediando a interface entre tabagismo e esquizofrenia
população como um todo, esquizofrênicos permanecem (McCloughen, 2003). Contudo, o tema é altamente polê-
fumando em índices alarmantes e sofrendo as conse- mico e existem também outras linhas de interpretação
qüências maléficas do tabagismo à saúde (Mc Cloughen, para o assunto. É importante levar em conta que esquizo-
2003). Portanto, é fundamental investigar as causas da frênicos são menos preocupados com convenções
elevada proporção de tabagismo em portadores desse sociais e com as conseqüências em longo prazo do
distúrbio (Goff et al., 1992). tabagismo à saúde. Dessa forma, tendem a ser menos
A bibliografia sugere que uma variedade de propensos a abandonar o consumo. Além disso, a típica
mecanismos pode mediar essa associação. O consumo alienação social experienciada por portadores dessa
de tabaco pode ser reflexo de processo de instituciona- doença freqüentemente resulta em sua associação com
lização, tédio e baixo controle dos impulsos dos determinados fatores, como baixo nível socioeconômico
portadores dessa doença (Herrán et al., 2000; Goff et e grupos marginalizados socialmente, que tendem a
al., 1992; Hughes, 1986). Esquizofrênicos relatam que apresentar as maiores prevalências de tabagismo
fumar produz relaxamento, reduz a ansiedade e os (Gilbert e Gilbert, 1995).
efeitos colaterais de medicações. Como algumas
medicações antipsicóticas acarretam efeitos
Tabagismo e ansiedade
desagradáveis, é possível que a alta prevalência de
tabagismo observada em esquizofrênicos seja uma Numerosos trabalhos publicados nas duas últimas
tentativa de reduzir os efeitos colaterais desses décadas revelam associação entre tabagismo e
medicamentos (Glassman, 1993; Glynn e Sussman, ansiedade/transtornos de ansiedade (Hughes et al., 1986;
1990; Goff et al., 1992; Gilbert et al., 1997). Tilley, 1987; Jorm et al., 1999). Contudo, muitos autores
O consumo de tabaco pode ainda melhorar a afirmam que as evidências dessa relação ainda são bem
concentração, reduzir a hiperestimulação desagradável menos consistentes, em contraste com a relação
experimentada por esquizofrênicos e promover um dos tabagismo – depressão (Takemura et al. 1999; Glassman,
poucos prazeres disponíveis para muitos portadores da 1993). A bibliografia contém um número significativo
doença (Gopalaswamy e Morgan, 1986). Além disso, de trabalhos que não confirmam essa associação (Canals
se os efeitos da nicotina em populações não-portadoras et al., 1996; Kick e Cooley, 1997).
de distúrbios forem generalizáveis para populações Publicações recentes vêm lançando pistas para o
esquizofrênicas, é possível ainda que a nicotina reduza esclarecimento dessa controvérsia. Resultados de
os sintomas esquizofrênicos negativos, tais como apatia, diversos estudos permitem estabelecer a hipótese de que
tédio e as emoções da síndrome de abstinência, e que a natureza da relação entre tabagismo e ansiedade varia
ao mesmo tempo melhore os processos de atenção e segundo o tipo ou o diagnóstico do distúrbio de ansie-
concentração (Gilbert e Gilbert, 1995; Hughes et al. dade. Nesse sentido, a seguir será esquematizada didati-
1986; Goff et al., 1992). camente uma descrição sobre o assunto, destacando
hipóteses levantadas pelos estudiosos, bem como novas
Supõe-se, ainda, que o consumo de tabaco por perspectivas que vêm se delineando atualmente.
esquizofrênicos crônicos esteja relacionado mais
diretamente a propósitos terapêuticos. Está bem Tabagismo e transtorno obsessivo-compulsivo
demonstrado que a nicotina aumenta a liberação de (TOC)
dopamina no núcleo accumbens, o que pode exercer
efeito reforçador para esses pacientes (Glassman, 1993). Alguns autores sugerem uma associação inversa entre
É possível que uma disfunção no mesmo sistema consumo de tabaco e TOC. Há indícios de que a prevalência
reforçador dopaminérgico – que parece servir como de tabagismo é menor em portadores desse transtorno em
base celular de adição às drogas – possa também fazer relação à população em geral e em comparação a outras
parte da fisiopatologia da depressão maior e populações psiquiátricas (Bejerot et al., 2000).
esquizofrenia crônica. Nesse caso, tem-se a hipótese Um levantamento efetuado em Estocolmo, na
de que a propriedade da nicotina em acentuar a liberação Suécia, revela claramente essa associação. Os autores

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avaliaram quatro grupos de indivíduos. O primeiro foi um dado que chama a atenção nessa pesquisa. Entre
constituído por pacientes que receberam diagnóstico os indivíduos avaliados que consumiram um ou mais
de TOC em uma clínica da região. O segundo foi maços de cigarros durante a adolescência e que
constituído por membros de uma associação sueca de desenvolveram transtornos de ansiedade no início da
portadores de TOC. O terceiro grupo, tomado como vida adulta, nenhum obteve diagnóstico de TOC.
controle, foi constituído por pacientes psiquiátricos O transtorno obsessivo-compulsivo pode ser
com transtornos de ansiedade e humor, mas sem considerado uma “desordem de hiperfrontalidade, que
diagnóstico de TOC. O quarto grupo (extraído dos se traduz em sintomas como atenção exagerada, pla-
registros da central de estatísticas oficiais da Suécia, nejamento detalhado, inquietação, preocupação exage-
que continha dados sobre o padrão de consumo de rada, senso de responsabilidade, falta de espontaneidade,
tabaco da população) foi tomado também como emoções controladas e rituais de cuidado e limpeza”
controle e utilizado como amostra normativa da (Bejerot et al. 2000). Pacientes que sofrem de TOC
população em geral (Bejerot e Humble, 1999). apresentam atividade metabólica acentuada no córtex
No primeiro grupo (pacientes com TOC), foi orbital frontal. É interessante notar que, ao contrário do
detectada uma prevalência de 14,5% de tabagismo. No transtorno obsessivo-compulsivo, a atividade no lobo
segundo grupo (membros da associação de portadores frontal é reduzida em esquizofrênicos. As prevalências
de TOC), a prevalência foi de 13,8%. Por outro lado, de tabagismo em esquizofrênicos e em portadores de
nos pacientes psiquiátricos sem diagnóstico de TOC foi TOC, respectivamente, parecem representar dois
detectada uma prevalência de 42,3% de tabagismo e na extremos de um continuum (Bejerot e Humble, 1999;
amostra normativa da população a prevalência foi de Bejerot et al., 2000).
25,4% (Bejerot e Humble, 1999). Discute-se a hipótese de que o baixo consumo de
Esses resultados são corroborados por outros tabaco em portadores de TOC possa ser o reflexo de
estudos que também denotam indícios de relação inversa um fator genético subjacente, possivelmente relacionado
entre consumo de tabaco e TOC. Himle et al., (1988), aos sistemas serotonérgico e colinérgico. A bibliografia
por exemplo, efetuaram um estudo, por meio de con- sobre personalidade e tabagismo revela que traços de
sultas junto aos arquivos de uma clínica psiquiátrica personalidade, como comportamento impulsivo e de
em Michigan (EUA). Os autores extraíram amostras de risco, extroversão, comportamentos não-convencionais
prontuários de pacientes portadores de transtornos de e tendências anti-sociais, são relacionados ao consumo
ansiedade. Foram comparadas as prevalências de de tabaco e precedem a iniciação do hábito. Coinci-
tabagismo em pacientes com diagnósticos de fobia dentemente, muitos desses traços de personalidade são
simples, fobia social, agorafobia, transtorno de pânico, raros em portadores de TOC, o que poderia explicar a
ansiedade generalizada e transtorno obsessivo- baixa prevalência de tabagismo em portadores dessa
compulsivo. As maiores prevalências foram encontradas perturbação (Bejerot et al., 2000).
em quadros de agorafobia, transtorno de pânico e fobia Isto posto, torna-se possível traçar um paralelo,
simples. As menores prevalências foram detectadas em uma similaridade, entre essa linha de interpretação e os
pacientes com TOC e ansiedade generalizada. É dados de algumas pesquisas sobre a relação entre
interessante observar que, nesse trabalho, o menor características de personalidade e tabagismo. Haines et
percentual de fumantes foi encontrado justamente em al. (1980), por exemplo, compararam os escores de fu-
portadores de TOC (9%). Por outro lado, em pacientes mantes, ex-fumantes e não-fumantes em um inventário
com distúrbios de humor ou outros transtornos de para avaliação de fatores de personalidade como
ansiedade, detectou-se um percentual de 42%. Também “histeria”, “ansiedade flutuante”, “ansiedade fóbica”,
o estudo de Lagrue et al. (2002) apresenta dados “características e sintomas obsessivos”, “ansiedade
semelhantes. somática” e “depressão”. Fumantes obtiveram escores mais
Um outro estudo recente, com desenho longi- altos em relação aos não-fumantes, em todos os fatores
tudinal, envolvendo uma amostra composta de 668 investigados, exceto, justamente, no fator “caracte-
pacientes, revelou que o tabagismo pesado (consumo rísticas e sintomas obsessivos” (Haines et al., 1980).
de um ou mais maços de cigarros) durante a Padrão similar de resultados foi encontrado no estudo
adolescência é associado a um risco maior para o de Waal-Manning et al. (1978). No estudo de Williams
aparecimento de transtorno de pânico, agorafobia e (1973), efetuado com adolescentes, foi encontrada uma
ansiedade generalizada no início da vida adulta. Por associação inversa ou negativa (para o sexo masculino)
outro lado, o mesmo estudo demonstrou que tabagismo entre tabagismo e o fator de personalidade denominado
pode não ser associado a risco de TOC e ansiedade “ordem” (composto de traços como “preocupação com
social (Johnson et al., 2000). É importante destacar limpeza, asseio e organização”).

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Estudo recente revelou que universitários sintomas obsessivos quando consumiram um cigarro
fumantes obtiveram, em média, menores escores em (Bejerot e Humble, 1999).
relação a ex-fumantes e não-fumantes no fator de Para melhor esclarecimento dessa questão, Bejerot
ordem vs. falta de compulsão (O) das escalas Comrey e Humble (1999) afirmam que pacientes com TOC exibem
de Personalidade (CPS) (Rondina et al., 2001). Em sintomas que se assemelham à “hiperfrontalidade” no lobo
outro trabalho efetuado com o CPS, o maior consumo frontal e que, em contraste, esquizofrênicos apresentam
de tabaco foi associado a menores escores no fator O sintomas similares aos quadros de lesão no lobo frontal,
(Rondina et al., 2003). Aqui, é importante destacar que assemelhando-se à “s índrome de hipofrontalidade”. A
estudo de validação do CPS, efetuado pelo autor desse “hiperfrontalidade” é associada a sintomas como “atenção
instrumento, detectou também associação inversa entre exagerada”, “planejamento e detalhamento exagerados”,
consumo de tabaco e os escores dos sujeitos na escala “ansiedade”, “preocupação exagerada com relação às
de ordem vs. falta de compulsão (O) do CPS (Comrey conseqüências das ações”, “falta de espontaneidade”,
e Baker, 1970). Sabe-se que indivíduos com altos “rituais de cuidado e limpeza exagerados” e “emoções
escores no fator ordem vs. falta de compulsão (O) do controladas”. Por outro lado, a “síndrome de hipofron-
CPS tendem a se preocupar com limpeza e ordem. São talidade” é associada a traços como “déficit de concen-
cautelosos, meticulosos e apreciam a rotina. Os tração/atenção, inabilidade em levar planos a cabo”, “falta
indivíduos com escores baixos nesse fator inclinam- de preocupação com conseqüências das ações ”,
se a serem descuidados, relaxados, não sistemáticos “quietude”, “desinibição social, com brincadeiras
em seu estilo de vida, imprudentes e pouco asseados inapropriadas etc.”, “indiferença social, especialmente
(Comrey, 1997). quanto a higiene e vestuário” e “instabilidade/ super-
Nota-se que é marcante a similaridade entre as ficialidade das emoções” (Bejerot e Humble, 1999).
características de personalidade que compõem o fator
Tabagismo e transtorno de pânico
de ordem vs. falta de compulsão (O) do CPS e as
características do transtorno obsessivo-compulsivo A partir de meados da década de 1980, a relação
(TOC). Em suma, a conjugação de dados obtidos em entre tabagismo e ataques de pânico/transtorno de
diferentes regiões do planeta até o presente momento pânico (TP) passou a despertar a atenção de alguns
denota a possibilidade de uma relação inversa entre estudiosos. Nas duas últimas décadas, o assunto foi
tabagismo e TOC. No entanto, é possível afirmar que objeto de numerosas publicações, que demonstram
ainda são necessários estudos em maior profundidade indícios de associação entre tabagismo e essa pertur-
para a confirmação desses resultados. O assunto inspira bação psiquiátrica. Como exemplo, citam-se os traba-
ainda a necessidade de investigações direcionadas ao lhos de Brodsky (1985), Dilsaver (1987), Yeragani et
esclarecimento da natureza dessa associação ou dos al. (1988), Himle et al. (1988), Hayward et al. (1989),
possíveis mecanismos a ela subjacentes. Glassman et al. (1990), Amering et al. (1999), Isensee
Uma das hipóteses é a de que a baixa prevalência et al. (2003) e Zvolensky et al. (2003).
de tabagismo em portadores dessa perturbação esteja Um estudo epidemiológico contém resultados que
relacionada aos efeitos neuroquímicos da nicotina no inspiram reflexões. Os autores avaliaram a relação
córtex orbitofrontal (Bejerot e Humble, 1999). Estudos entre tabagismo e transtorno de depressão maior,
com base em neuroimagem revelaram que pacientes distimia, fobia simples, agorafobia, transtorno
com TOC apresentam atividade metabólica acentuada obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de pânico
no córtex orbitofrontal. Em contraste, esquizofrênicos (TP) e alcoolismo. Inicialmente, detectou-se associa-
exibem atividade metabólica reduzida no lobo frontal, ção entre tabagismo e os transtornos de depressão
assemelhando-se aos quadros de lesões nessa região maior, alcoolismo, agorafobia e distimia. Por outro
(Bejerot e Humble, 1999). Uma vez que a nicotina lado, o TOC, o TP e a fobia simples não apareceram
incrementa a atividade no lobo frontal e também associados ao tabagismo. No entanto, tendo em vista
normaliza e/ou reduz a anormalidade na fisiologia que é bastante comum a comorbidade entre depressão
sensorial, é possível que o tabagismo atue como uma maior e os diversos quadros/diagnósticos de pertur-
tentativa de automedicação para esquizofrênicos. Por bação psiquiátrica, os autores efetuaram uma análise
outro lado, teoricamente, a nicotina causaria um efeito ajustando ou mantendo sob controle a interferência do
deteriorador em portadores de TOC, reforçando os transtorno de depressão maior. Com esse procedi-
sintomas obsessivos, o que poderia contribuir para a mento, desapareceram as associações com distimia e
baixa prevalência de tabagismo em portadores dessa agorafobia. Apenas o transtorno de depressão maior e
perturbação. Os autores relatam casos clínicos de o alcoolismo permaneceram associados ao tabagismo
pacientes com TOC que apresentaram piora nos (Glassman et al., 1990).

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Mais tarde, um dos autores (Glassman, 1993), aumento no risco de transtorno/ataques de pânico pos-
comentando os resultados do trabalho anterior, atenta teriores. Entretanto, os autores alertam para o fato de
para um aspecto crucial da questão. Alerta para o fato que ainda não é possível descartar completamente a
de que, ao se excluir da amostra os sujeitos com co- existência de uma associação na direção inversa (embora
morbidade entre depressão maior e outros diagnósticos, menos freqüente). O estudo também revelou a possi-
diminuiu o tamanho amostral e, conseqüentemente, a bilidade de relação entre pânico anterior e dependência
força estatística necessária para detectar se existe nicotínica secundária.
associação significativa entre tabagismo e os demais O cômputo geral das pesquisas, portanto, denota
quadros de perturbação psiquiátrica. É interessante notar associação entre consumo de tabaco e pânico e sugere
também que no estudo citado, quando se mantém sob a possibilidade de que o tabagismo seja fator de risco
controle a interferência de depressão maior, acentua-se para o aparecimento do problema. No entanto, os
a razão de probabilidades (odds ratio) em portadores mecanismos responsáveis por essa associação ainda não
de transtorno de pânico (2,13) (Glassman et al., 1990). estão completamente elucidados. Análises exploratórias
Outros autores salientam que essa odds ratio é alta, sugerem que doenças pulmonares decorrentes do
embora não tenha alcançado significância estatística (IC consumo de tabaco (como bronquite e enfisema) podem
= 0,81-5,65), o que sugere potencial ligação entre pânico constituir-se em um dos mecanismos ou elos entre
e tabagismo (Pohl et al., 1992). tabagismo e TP. Aumentando o risco para doenças
Pohl et al. (1992) efetuaram estudo comparativo pulmonares, o tabagismo pode indiretamente aumentar
entre as prevalências de tabagismo em pacientes com o risco de ataques de pânico (Breslau e Klein, 1999).
Além disso, Johnson et al. (2000) afirmam que é de
TP e um grupo-controle. O estudo revelou maior
considerável interesse o fato de que diversos estudos
prevalência de tabagismo em portadores de TP, mas
anteriores indicaram que “respiração deficiente”
apenas no sexo feminino. Os resultados desse trabalho
(impaired respiration) pode estar associada a transtornos
indicam que o tabagismo precede o aparecimento da
de ansiedade, como pânico, agorafobia e ansiedade
doença, mais do que o inverso, uma vez que mais da generalizada, mas não à ansiedade social e ao TOC
metade dos pacientes examinados relatou que já eram (Johnson et al.2000).
fumantes antes do início do aparecimento do problema
Porém, a maioria dos pesquisadores alerta para a
(Pohl et al., 1992). Os recentes trabalhos de Breslau e
necessidade de examinar com cautela essas hipóteses/
Klein (1999) e Jonhson et al. (2000) apresentam
explicações e eles afirmam que pode haver, também,
resultados compatíveis com essa linha de interpretação,
outros fatores mediando essas associações. Com base
sugerindo que o tabagismo antecede o aparecimento do
em análises de casos clínicos, Valença et al. (2001), por
transtorno de pânico.
exemplo, consideram que o consumo de tabaco não deve
Goodwin et al. (2002) investigaram a relação entre ser considerado fator etiológico exclusivo em nenhum
traços de neuroticismo e tabagismo/ataques de pânico caso de TP e que ainda são necessários mais estudos
em um estudo longitudinal. O fator de personalidade destinados a esclarecer os possíveis mecanismos
“neuroticismo” apareceu como preditor da co-ocor- etiopatogênicos comuns ao tabagismo e essa doença,
rência simultânea de tabagismo e ataques de pânico. bem como responder a questões terapêuticas específicas.
Por outro lado, o mesmo estudo revelou que traços de
neuroticismo não precedem ataques de pânico ou Tabagismo e transtornos de ansiedade
tabagismo, um na ausência de outro. Segundo os autores, generalizada e fobias
há relação sinergística entre altos escores em Com relação a transtornos de ansiedade gene-
neuroticismo, ataques de pânico e tabagismo. Assim, ralizada e fobias em geral, os dados disponíveis na
os resultados do estudo sugerem evidência preliminar literatura ainda denotam certa controvérsia. Nota-se, por
de que esse fator de personalidade pode refletir uma exemplo, que em um dos estudos anteriormente men-
vulnerabilidade subjacente para co-ocorrência de cionados as maiores prevalências de tabagismo foram
tabagismo e ataques de pânico (Goodwin et al., 2002). encontradas em portadores de agorafobia, transtorno de
Contudo, até o presente momento ainda resta pânico e fobia simples. As menores prevalências foram
controvérsia quanto à natureza dessa associação. O detectadas em quadros de TOC e ansiedade generalizada
estudo prospectivo de Isensee et al. (2003), efetuado (Himle et al., 1988). Por outro lado, o estudo de Johnson
com adultos jovens na Alemanha, faz a sugestão de que et al. (2000) revelou que tabagismo pesado durante a
existe uma relação praticamente única, específica e adolescência foi associado a risco maior de ansiedade
unidirecional entre tabagismo e pânico. O trabalho generalizada, agorafobia e transtorno de pânico no início
mostrou associação entre tabagismo prévio (anterior) e da vida adulta.

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Supõe-se que esses dados conflitantes da literatura gualdades nas percepções e nos padrões de consumo
devam-se à comorbidade entre diferentes quadros de de tabaco encontradas entre pacientes com diferentes
perturbação psiquiátrica, conforme sugere o estudo transtornos mentais sugerem que a intervenção pode
anteriormente citado (Glassman et al.1990). Isso leva a ser mais eficaz se o diagnóstico psiquiátrico for
crer que ainda são necessários mais estudos também levado em consideração durante o tratamento
comparativos, envolvendo populações com maior (Lawn et al., 2002).
tamanho amostral, para que sejam obtidos dados mais Isso leva a crer que a conjugação de técnicas de
conclusivos nesse sentido. No entanto, é possível coleta de dados de cunho quantitativo e qualitativo
afirmar que o cômputo geral desses trabalhos confirma em pesquisas sobre a relação tabagismo–psicopato-
a suposição de que a natureza da ligação entre tabagismo logia pode enriquecer o conhecimento científico nessa
e ansiedade é variada, diferindo segundo o quadro área, subsidiando a atuação dos profissionais na assis-
específico de transtorno de ansiedade. tência a pacientes psiquiátricos fumantes. É possível,
ainda, inferir que investigações científicas em que se
leva em conta relatos obtidos dos sujeitos, sob abor-
Comentários finais
dagem qualitativa, podem lançar pistas para a elu-
A revisão da bibliografia permite traçar reflexões cidação de importantes ângulos deste assunto. Enfim,
sobre alguns aspectos dessa ampla temática. Na maioria podem desvelar detalhes/indícios que ainda estão
dos estudos citados, a análise dos resultados foi efetuada obscuros ou ainda não foram detectados em levan-
com base em comparações estatísticas entre os escores tamentos de dados e análises de cunho quantitativo/
de fumantes e não-fumantes, em inventários de estatístico.
avaliação psicológica ou, então, em comparações entre
as prevalências de tabagismo, em pacientes portadores
de diferentes quadros de perturbação psiquiátrica. Referências bibliográficas
Apesar de muitos desses trabalhos apresentarem um A DDINGT ON , J.; El-G U E B A LY , N . ; CAMPBELL , W.; H ODGINS , D.C.;
desenho do tipo epidemiológico, as pesquisas efetuadas ADDINGTON, D. – Smoking cessation treatment for patients with
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por abordagens de cunho quantitativo/estatístico. AMERING, M.; BANKIER ,B.; BERGER , P.; GRIENGL, H.; W INDHABER , J.;
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Recentemente, alguns estudiosos vêm efetuando Compr Psychiatry 40: 35-8, 1999.
pesquisas de cunho qualitativo (baseadas principalmente ANDA, R.F.; WILLIAMSON, D.F.; ESCOBEDO, L.G.; MAST, E. E.; GIOVINO,
em relatos dos sujeitos), para obter uma compreensão G.A.; REMINGTON, P.L. – Depression and the dynamics of smoking.
mais abrangente sobre a dinâmica psicológica subja- JAMA 12(264): 1541-5, 1990.

cente ao tabagismo em pacientes psiquiátricos. Lawn BEJEROT, S.; HUMBLE, M. Low prevalence of smoking among patients
with obsessive-compulsive disorder. Compr Psychiatry 40: 268-
et al. (2002), por exemplo, entrevistaram um grupo de 72, 1999.
24 pacientes fumantes, composto de esquizofrênicos, BEJEROT, S.; von KNORRING, L.; EKSELIUS, L. – Personality traits and
portadores de transtorno bipolar, depressão maior e smoking in patients with obsessive-compulsive disorder. Eur
transtornos de personalidade. O objetivo do trabalho Psychiatry 15: 395-401, 2000.
foi identificar similaridades e diferenças no com- BRESLAU, N.; KILBEY, M.M.; ANDRESKI, P . – Nicotine dependence, major
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pacientes acerca da ligação entre a doença mental e o
BRESLAU, N.; KILBEY, M.M.; ANDRESKI, P. – DSM-III-R nicotine
tabagismo. Segundo os autores, o estudo trouxe à luz dependence in young adults: prevalence, correlates and associated
temas ainda não existentes na bibliografia, de- psychiatric disorders. Addiction 89: 743-54, 1994.
monstrando que o tabagismo pode assumir um papel BRESLAU, N. – Psychiatric comorbidity of smoking and nicotine
de significado existencial na vida de populações psi- dependence. Behavior Genetics 25(2): 95-101,1995.
quiátricas. BRESLAU, N.; KILBEY , M.M.; ANDRESKI, P. – Nicotine withdrawal
symptoms and psychiatric disorders: findings from an
O trabalho reconhece e confirma dados de epidemiologic study of young adults. Am J Psychiatry 149: 464-9,
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Entretanto, segundo os fumantes entrevistados, a 142: 144, 1985.
principal barreira para o abandono do tabaco parece
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ser o sentimento de desespero por ser portador de uma Rep 79: 809-10, 1996.
doença mental, a falta de esperança em recuperação e COMREY , A. & BACKER , T. – Construct validation of the Comrey
a necessidade de controle. Além disso, as desi- Personality Scales. Mult Behav Res 5: 469-77, 1970.

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