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HISTÓRIA DE RESISTÊNCIA E LUTA DA MULHER CAMPONESA EM SERGIPE
Laiany Rose Souza Santos¹(IC)*
Sheila Caroline Souza Santos²(IC)
Antônio Vinícius Oliveira Gonçalves³ 1(IC)
¹Estudante do curso de Geografia pela Universidade Federal de Sergipe
*laiany001@hotmail.com
² Estudante de Geografia da Universidade Federal de Sergipe
³ Estudante de Comunicação Social: Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe
Introdução
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XIX ENGA, São Paulo, 2009 SANTOS, L. R. S. et. al.
Camponesa e mulher. A carga ideológica que trás o significado dessas palavras
e como o sistema tenta mascarar a sua realidade.
O Brasil segue a tradição monoteísta do catolicismo onde é colocado o poderio
de Deus como único e absoluto, reforçando a imagem de Deus como pai dos seres.
Como afirma Jarshel Dizer que Deus é pai, Deus é homem, é uma forma muito
eficaz de afirma o poder masculino. (Jashel, 2004; 5). A autora utiliza sabiamente desta
colocação para mostrar como a igreja esta no controle, colocando a mulher como
sendo fruto do homem e que deve se sujeitar a decisão por ele imposta, dessa maneira
consegue afirmar o poder masculino.
Os assuntos que diz respeito a individualidade da mulher são abordados pela
Igreja com uma conotação que lhes atribui valores morais e sociais, assim muitos deles
são tratados como questão pública. Dessa forma abre-se um precedente para que o
Estado Brasileiro, com influência Católica, possa legislar, normatizar e punir as
questões referentes a intimidade feminina. As religiões baseadas no Judaísmo
cumprem o papel de vetar as decisões referentes a mulher criando verdadeiros tabus,
como no caso do aborto ou mesmo da virgindade, fazendo com que a mulher tenha
que se relacionar com eles sozinha, assumindo muitas vezes uma sentimento de culpa
por ter praticado já que a posição da Igreja é colocar como pecado.
O papel do Estado confundiu-se com seu preceito constitucional que é a garantia
dos princípios fundamentais baseados na igualdade cumprindo o papel de agente
catalisador do sistema do capital, como conseqüência o processo de desigualdade
social e de gênero tornam-se características permanentes.
No campo se agrava essas questões, pois as políticas públicas destinadas a
esse são comprometidas ao interesse dos latifundiários além de imperar a moral dos
padrões conservadores da Igreja para maior controle, impõe a divisão do trabalho
dentro e fora de casa de maneira sexista.
A mulher inserida no campesinato enfrenta cotidianamente dupla opressão, pela
questão de classe social e de gênero, tornando uma verdadeira resistência e luta o ato
de organizar-se contra esse sistema opressor.
Contexto histórico
A afirmação de a mulher ter começado agora a assumir um papel como ser
social e agente transformador da história é muito contraditória.
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E mulheres que hoje lutam para ampliar espaço na vida política fazendo a voz
feminina ecoar pelo país. Dentro das capitais já é marcante essa atuação, contudo no
campo a mulher tem se organizado fortemente contra a postura do coronelismo e
entrado de maneira mais sutil na política.
O que acontece dentro do contexto brasileiro é uma luta de classe, onde a
burguesia sendo a dominante mantém os grandes latifúndios que são utilizados para a
plantação de monoculturas extinguindo a riqueza da biodiversidade que o nosso país
tem, e os camponeses com seus pequenos lotes se tornam responsáveis por manter a
cesta básica de toda população.
Dessa forma a má distribuição do espaço agrário brasileiro se torna o principal
ponto de discussão, pois ele traria a possibilidade da real igualdade que promete a
Constituição de 1988 e também a quebra do capitalismo. O que não favoreceria aos
atuais donos do “poder”.
Um outro problema que surge a partir desse é que não há distribuição igualitária
de recursos para a agricultura, onde os avanços tecnológicos e os recursos naturais,
como por exemplo, a água, deveria chegar a todos, todavia poucos conseguem
manipular esses bens.
As mulheres camponesas do Brasil lutam por um novo projeto de agricultura
camponesa para o país, com a produção de alimentos saudáveis, se levarmos em
consideração que com o avanço da ciência os latifúndios têm direito ao acesso a
produção de transgênicos colocados na sociedade como experiência aos seres
humanos.
Lutam também por políticas públicas adequadas, com respeito ao ambiente, a
biodiversidade e a todas as formas de vida do planeta, na compreensão de que a luta
se faz nos espaços públicos e coletivos, mas que continua no privado e cotidiano,
todos os dias.
Lá pelos anos de 1964, aconteceu a luta pela terra, no povoado Santan dos
Frades, município de Pacatuba, SE. Nessa luta, os posseiros enfrentaram duros
momentos de perseguição. Durante toda a luta foi marcante a presença e coragem das
mulheres, mas, sobretudo nos momentos mais sofridos. Um dia quando as máquinas
chegaram para derrubar as casas, suas mulheres, depois de passarem momentos
rezando, decidiram deitar na frente das máquinas, dizendo: “Mesmo que a gente morra
não sairemos desta terra”.
O MMTR-SE teve início em 1991, por ocasião da comemoração do 08 de março,
promovido pela CPT, em Própria - SE, contando com o apoio da Diocese através da
CPT e de alguns sindicatos rurais, tendo a primeira dado acompanhamento ao
movimento por um bom período, até ser fundado o Centro Dom José Brandão de
Castro, parceiro do MMTR-SE até os dias atuais.
Um fator preponderante para o desenvolvimento dos movimentos sociais
naquele momento e que contribuiu para que o MMTR-SE surgisse e encontrasse força
para se estabelecer sua meta e buscar mecanismos que possibilitassem a libertação
da grande parte do povo latino-americano, submetido a condições de opressão, miséria
e não-cidadania, foi fundamental na dinamização dos movimentos sociais, inclusive
este. Foi a partir do momento em que a igreja se posicionava garantindo apoio moral,
transmitia às pessoas a garantia de que estas tinham direitos e deveres de lutar
enquanto membro da sociedade por dignidade e cidadania.
Ainda no início da década de 90 o MMTR-SE passou a fazer parte do MMTR-
NE. O movimento tem hoje uma coordenação estadual e está articulado em 04
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Mapa 01
cada um, nas normas da sociedade, na política, etc.; esse conhecimento é necessário
para que se fundamentem a luta das trabalhadoras rurais no sentido de batalhar para
uma democratização das relações de gênero onde mulheres e homens possam e
devam ser reconhecidos com o mesmo valor.
Considerações finais
Ideologicamente mulher representa um peso dentro da sociedade capitalista que
sabe que através da organização destas pode ser corrompida e desestruturada, e sabe
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que as camponesas têm força e vigor para lutar contra as opressões impostas a elas
duplicadamente durante um período longo da história.
Assim o fato de ser camponesa e mulher dentro de uma sociedade marcada
pelo machismo apoiado pela religião monoteísta já não pode mais ser mascarado,
confundido ou esvaziado. A mulher tem um papel de fundamental importância na
mudança da estrutura econômica, social, cultural e é através da organização que dá
força a essas mulheres de resistir no embate social tanto em espaços políticos quanto
dentro dos seus próprios lares.
O Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Sergipe é um exemplo de
organização feminina que através que conseguiu levar as camponesas a se unir para
discutir relações de gênero, direitos trabalhistas, opressões, e assuntos direcionados
ao feminino para que essas mulheres percebam que muitas outras passam pelas
mesmas problemáticas e a partir disso entendam que não são questões individuais e
que vai além da discussão somente de gênero, é também uma questão de classe
social e estrutura social.
Através da resistência e da luta é que a mulher garante sua afirmação enquanto
ser social e agente transformador da sociedade. Por isso é necessário que haja a
organização das mulheres para conseguirmos garantir uma sociedade realmente
igualitária.
Por meio desse debate é que afirmamos a palavra de ordem dos Trabalhadores
e Trabalhadoras Rurais: essa luta é nossa, essa luta é do povo, é só lutando que se faz
um Brasil novo. E chamando as companheiras e companheiros que não utilizem desse
estudo meramente como forma acadêmica, mas uma maneira de chamar para a luta,
nada adiantaria só relatarmos os fatos se nos esquecêssemos que somos agentes
transformadores dessa sociedade e que é nosso papel também resistir e lutar.
Referências
CARLOS, Ana Fani A. O lugar no/do mundo. São Paulo. Editora Hucitec, 1996.
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XIX ENGA, São Paulo, 2009 SANTOS, L. R. S. et. al.
_______ A questão da cidade e do campo: teorias e política. Disponível no site
http://www4.fct.unesp.br/nera/usorestrito/FANI.pdf, acessado no dia 10 de novembro de
2008.
MORISSAWA, Mitsue. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo. Expressão
Popular, 2001.
SOUZA, Maria Nazaré de. (Nazaré Flor). Canção e Poesia. Fortaleza. Centro de
Estudos do Trabalho e da Acessória do Trabalhador/CETRA, 2002.
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SOUZA, Maria Nazaré de. (Nazaré Flor). Canção e Poesia. Fortaleza. Centro de
Estudos do Trabalho e da Acessória do Trabalhador/CETRA, 2002.