Professional Documents
Culture Documents
Introdução
Desenvolvimento
Seguindo com as descrições de João Daniel, os relatos que põe em cheque a Visão
do Paraíso presente no imaginário do colonizador português, são diversos. Assim como
no Brasil, o Novo México, pouco a pouco essa visão edênica vai perdendo credibilidade
perante a reflexão da brutalidade da guerra, a ganância pelo ouro e a calamidade das
doenças que assolavam tanto espanhóis como os próprios nativos mexicas, e todo esse
choque passou de uma perspectiva divina, ou seja, tudo que aquilo que resultou da pós
conquista, não passava de castigo divino, porém, essa perspectiva muda e o que antes era
de proveniência divina, passou a ter como culpado por todas as mazelas, o próprio homem
seja ele espanhol ou índio. Desse imaginário espanhol, os nativos irão tomar um certo
“proveito”, sabendo da vontade de ouro dos conquistadores os índios vão falar de lugares
e cidades onde abundam quantidades absurda de ouro, levando os espanhóis a adentrarem
nas matas buscando algo que sequer existia. No cenário dos sertões do Brasil, podemos
observar como essa visão de paraíso na terra perde sua consistência assim que os
portugueses se deparam com a complexidade e a dificuldade nas ações e nas explorações
dos produtos da terra. Sobre esse imaginário português, Sérgio Buarque de Holanda
relata:
Se algum efeito possa ter tido sobre esses moradores de São Paulo, tão hostilizados
pelo autor do relato a Sua Majestade, a porfia de Dom Francisco de Sousa no
prosseguir o sonho dos novos potosi em terras da sua administração, tudo se
desvanecerá desde que, em 1628, retornou o vulto o apresamento Carijó. Nem a
existência de minas de outo verdadeiras, ainda que de pouco haver, nem as
suspeitas ou esperanças de prata e esmeraldas pareciam prometer tão bom sucesso
quanto o que alcançavam as correrias dos predadores de índios. Passados mais
alguns decênios, tão pouca era a lembrança das celebradas jazidas do Sabarabaçu
que o Conselho Ultramarino tomava a seu cargo avivar a memória delas à Câmara
de São Paulo. (HOLANDA, p. 65)
levam de provimento, e algumas frutas bravas que encontram, e muitos não acham
água alguma, outras vezes bebem só algum suco, ou agua de cipó, dormindo ao
sereno, isto por 10, 15, e às vezes muitos mais dias contínuos; de que encontrem
boas colheitas na paragens a que aportam, e levantam feitoria, porque muitas vezes
sucede não acharem naquela paragem cacau, v.g., que buscam depois de muitos
dias, ou semanas, que gastam na fatura das feitorias, e descobrimento das matas;
e vêem-se obrigados a buscarem e fazerem de novo outras feitorias com a mesma
contingência, em que gastam todo o tempo, e chegando o tempo da torna-viagem,
se vêem obrigados a voltarem sem nada. (DANIEL, p. 5,6)
A morte dos índios ou o sumiço deles seja pela guerra ou pelo temor a escravidão,
tornava a vida nos sertões um caos para os portugueses, pois era o índio que conhecia o
lugar e era aquele que faria todo o trabalho, e quando não conseguiam os índios,
começavam os incômodos entres exploradores e missionários. E é o que podemos ver em
mais um relato trazido pelo padre:
Já se pode ter uma noção do contraste do imaginário edênico português diante dos
problemas e das mazelas que enfrentavam e que viriam enfrentar em todos o processo nas
tentativas de extrair as riquezas do novo éden na terra, situado nos trópicos. Sergio
Buarque vai caracterizar o espanhol com uma imaginação mais fértil que o do português,
4
e o português, segundo Buarque, vai ser menos criativo na formulação do éden do que o
espanhol e vai ter uma certa racionalidade nesse pensamento baseados em filósofos
cristãos como Santo Isidoro e Agostinho.
5
Conclusão
Portanto, a mesma reflexão que pode ser feita no caso do Novo México, onde
pouco a pouco a visão edênica vai dando espaço a outra perspectiva, de que o cenário dá
pós conquista se distância daquele imaginário idealizado pelo espanhol, pode-se atribuir
a mesma reflexão no contexto dos sertões do Brasil. A brutalidade sobre os nativos, o
massacre de muitos e o caos instalado no cenário dá pós conquista no contexto colonial
do Brasil, o que no final das contas, nada se parece com uma visão de um paraíso
idealizado pelos povos ibéricos, e a cobiça pelo ouro e pelo enriquecimento os cegou
diante da barbárie infligida aos povos nativos. É a partir do conhecimento e do
entendimento desse imaginário, ou seja, dessa ideia de um paraíso na terra, que podemos
entender tanto os povos ibéricos daquele período, como também poder identificar alguma
das formas de permanência desse modo de pensar dos portugueses nos dias atuais, algo
que é proposto pelo Sergio Buarque de Holanda.
6
Referências Bibliográficas
DANIEL, João. Tesouro no máximo rio Amazonas. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004