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204, EY Wy Fat Onto, Lede, AVENTURAS E DESVENTURAS Do Estapo SociAL Anténio José Avelas Nunes 72 Avextunas: Desventu2ns 00 Esti90 SOCAL 1. As representagéesliberais do estado ¢ do direito redusiam o estado 20 papel de defensorda ordem, cometendo ao direito afungio de sancionaras relagdes sociais decorrentes do exercicio da liberdade individual. Talvez possamos admitir que o estado de direito assenta sobre trés ‘principios essenciais: 1) 0 prinefpio democrdtice, que, por oposigio ao principio ‘mondrquice do estado absolutista, pressupbe a soberania popular; 2) 0 principio liberal, ionplicando a ideia da separasio entre o estado ea sociedade (a sociedade «ivil, no seio da qual se desenvolve a economia, como actividade que apenas diz respeito aos privados); 5) 0 principio do direte, que implica 2 sujeigio do estado a0 dircito, it, as leis aprovadas no parlamento. Daqui decorre o estatuto constitucional dos direitos fundamentais, nomeadamente a lierdade a propriedade(talvex na ordem inversa, porque 4 propriedade¢ 0 fundamento da liberdade e s6 0 proprietario é um verdadeiro ‘idadéo), sendo que a liberdade & a liberdade de adquirir e possuir sem centraves, a liberdade do individuo enquanto agente econémico, enquanto sujito (privado) da economia. Na ordem liberal, os direitos fandamentais destinam.-se a garantir aos individuos a defesa contra a ‘agressio’ do estado. Dagueles principios decomre também a reserva da lei, a legalidade da administragéo, a separagio dos poderes. Os parlamentos dominados pela burguesia faziam as Jeis que o estado (0 Executivo) se limitava a executar, As Ieis exprimiam a “vontade geraf” expressa no parlamento, o que teve alguma correspondéncia na realidade, durante o periodo em que a burguesia, desempenhowo seu papel hist6rico de classe revolucionéria, perfodo durante ‘© qual os interesses ¢ os valores da burguesia coincidiram, em boa medida, com 0 interese geral, com os objectivos imediatos das massas populares. ‘Estas eis respeitariam também a ordem natural da economia privada (auto- regulada por Jeis naturais), mantendo o estado ¢ o diteito separados da economia, para que a economia, baseada na propriedade buerguesa c nas relagbes de produsio a ela associadas, se pudesse desenvolverirmune as interferéncias ‘externas, assim se garantindo a ‘perenidade’ da ordcon sucial fc das revolagoes burguesas, pondo-se fim @ histéria (como ironizou Marx em comentitio a Ricardo) por imperativo das leis naturais’ que regem a economia, estado de dreito (0 estado dedieita iberal foi a bandeica da burguesia na uta contra 0 eitado aristoerdtico-absolutita, foi um instrumento de que, em dado momento hstérico, a burguesia revolucionéria se serviu para conseguir a ‘hegemonia no controlo do poder politico. Mas ee foi também um instrumento 420 servigo da burguesia para, num segundo momento, tentar consolidar e petpetuar a sua posigo de classe dominante, numa sociedade em que novas relagdes sociais de produgao assentam numa nova estrutura de clases (a burguesia capitalista ¢ os trabalhadores assalariados, o capital e o trabalho). 2..A vida mostraria néo corresponder realidade a velha tese liberal de que a economia ¢ a sociedade, se deixadas a si préprias, confiadas & mao inivistoel ou 2s leis naturais do mercado, proporcionam a todos os individuos, ‘em condigées de liberdade igual para todos (a igualdade perante a lei), as melhores condigdes de vida, para além do justo e do injusto. Este pressaposto liberal falhou em virtude de vérios factores: progresso técnico, aumento da dimensio das empresas, concentrago do capital; fortalecimento do ‘movimento operério (no plano sindical ¢ no plano politico) e agravamento da uta de classes; apatecimento de ideologias negadoras do capitalismo.? Falhado aquele pressuposto — que justificava a tese de que o estado everia estar separado da sociedad e da economia impds-se a necessidade de confiar ao estado (ao estado capitalista) novas fungGes, no plano da economia € no plano social. A emergéncia do estado social — poderemos antecipar ji esta ideia ~ significou uma diferente representagio do estado ¢ do direiia, aos quais se comete agora a missio de realizar a ‘justiga social’, roporcionando a todos as condigées de uma vida digna, capae de assegurar © pleno desenvolvimento da personalidade de cada um. A mao visivel do dircito comesava a substituir a méo invistoel da economia, No quadro do capitalismo monopolista, 0 coneeito de estado social trouxe cconsigo, por isso mesmo, maior autonomia da intancia politica e wm certo dominio do paltico sobre o eionémice, também com 0 objectivo de satisfazer determinadas aspiragbes sociais, na tentativa de reduzir a campo de acgio dos movimentos revolucionarios (nota esta que ja estava presente no estado bismarckiano, talvez a primeira manifestagio do que viia a sero estado via!) | Disiam os fsioerts: 0 que natural 6 jst. E Hayek into am que no fz sero falar de festa ou inj a tespeto das Soles impesoas do mercado, 2 Em 1965, esceve Rudolf Huber (apud J. GOMES, “Estado socal, cit, 219/214); “As ‘caracerisicas da sociedad industrial alanente desenvoia tue penance 0 eoncsto de «estado social s40: er prmelto liga, um sera econdmico com aka concorgao de ‘apt, erica de suas apenas, process de tabla reionleades recedes de masa ‘etandarizads; em seguro log, um sama social no ual a vel hie ‘as corporagoes cedeu peranto © conflto de clases, pelos mesos dros ds else possidente; om treero lugar, um stems cultural, de educacio popular perl com Posbiidads de aceso para tds as bes culuraso aqusites da Clicato, avs de ‘aganisads siteras de Cala e cvlizaro; em quarto lgar om stare cok ee ees aminisrativo preparado para as necasdades econdmcs, sacl © cultal das seas ‘indus em quia liga, «sabre, um stern de eado que se deligos do pinipo 6 nd itervencio nos tos da mixin liberal laser‘, letorpsser pare ar pare lum sitema de erences socials, prolegend as clases os grupos mals aco

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