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O Bitcoin é um protocolo
Bitcoin é um sistema de comunicação que funciona através da Internet. Na ciência
da computação a gente chama esses sistemas de protocolo. Você consegue acessar
qualquer página da Web tanto do seu celular, como do computador de casa ou do
seu trabalho, não importa o país que o sítio web esteja hospedado. Isso é porque o
protocolo que os servidores usam para disponibilizar os websites, e que os
navegadores usam para mostrar os sites é o mesmo. Os protocolos funcionam
como línguas universais, que permitem que os vários computadores diferentes da
Internet consigam se comunicar para realizar diferentes tarefas específicas.
Outro exemplo de protocolo famoso é o email: não importa o cliente de email que
você use, se você usa o Gmail, Hotmail, ou o e-mail da sua empresa, seu email
chega em qualquer caixa postal do mundo. Isso só é possível porque os servidores
de email espalhados pela internet todos “falam” o mesmo protocolo de email.
Os protocolos para você acessar páginas da internet e para você enviar email
funcionam em modo cliente-servidor: existe um cliente (você) que se comunica
com um servidor (por exemplo, o servidor web que te entregou essa página que
você está lendo agora, ou os servidores do Gmail). Existem protocolos que não
fazem essa distinção: todo cliente é também um servidor. Esses protocolos são
chamados de peer-to-peer, ou p2p. Um exemplo é o protocolo Bittorrent, que é
usado para compartilhamento de arquivos. Para as autoridades é fácil tirar um site
específico do ar (basta mandar desligar o servidor responsável pelo site), mas é
muito difícil interferir no funcionamento de um protocolo p2p, pois não ha nenhum
servidor central que eles podem mandar desligar. É justamente por esse motivo
que o protocolo Bittorrent é usado para compartilhamento de músicas, filmes e
séries: os detentores de direitos autorais podem chorar e espernear junto às
autoridades, mas elas não tem como impedir o funcionamento de um protocolo
p2p.
O Bitcoin é um protocolo também, e um protocolo p2p, desses que não pode ser
desligado pelas autoridades. Não existe um servidor central responsável pelo
Bitcoin: todos os participantes do protocolo Bitcoin são ao mesmo tempo clientes e
servidores desse sistema. O Bitcoin é um sistema de comunicação que funciona em
cima da Internet, e nada mais que isso. Da mesma forma que não existe uma
empresa responsável pelo e-mail, não existe uma empresa responsável pelo
Bitcoin. Ele é apenas um protocolo de comunicação.
1. O que é Bitcoin?
2. Para que serve o Bitcoin?
3. Como os Bitcoins são armazenados?
4. Como os Bitcoins são transferidos?
5. Como os Bitcoins são criados?
6. Resumo
7. Dúvidas mais Frequentes
O protocolo Bitcoin define uma unidade digital, chamada de bitcoin (em minúsculo),
e o protocolo faz três coisas com esses Bitcoins:
Vamos entender como que essas 3 funções permitem que o Bitcoin funcione como
uma moeda digital descentralizada. Essas funções estão na verdade interligadas.
Pra facilitar, vamos entender cada função de uma vez, e no final você vai encaixar
as peças do quebra cabeça para entender como o protocolo como um todo
funciona.
Isso significa que uma pessoa que tem Bitcoins não armazena o Bitcoin em si, mas
uma chave digital, que todo mundo está em consenso que tem autoridade sobre
um determinado valor em Bitcoin.
Mais a frente vamos entender como isso pode funcionar na prática. O ponto
importante a capturar agora é que todos os usuários do Bitcoin devem possuir uma
cópia do banco de dados completo: qual chave digital tem quantos Bitcoins.
Lembre-se também que um usuário de Bitcoin está sempre conectado a outros
pares, enviando e recebendo novidades a cerca das transações que estão sendo
realizadas.
Podemos fazer uma metáfora aqui: é como se a sua chave pública fosse seu
endereço de email: você pode informar ele para qualquer pessoa. E sua chave
privada seria a senha do seu email, que só você sabe. Você informa a sua chave
pública para quem quer falar com você, mas mantém sua chave privada em
segredo. Outra metáfora: é como se sua chave pública fosse sua conta no banco
(agência e número) e a chave privada, sua senha.
A matemática brilhante por trás dessas chaves digitais dão uma propriedade
interessante a elas: da mesma forma que só quem tem a senha de um certo email
pode enviar mensagens usando esse email, só quem sabe a chave privada (a
carteira) relativa à uma chave pública (um endereço) pode assinar mensagens
digitais criadas com esse endereço.
1G2ompg3Pg4HMVRTvKh9jW3po93XuUwMTc
A pessoa só precisa desse texto-endereço para enviar Bitcoins para o detentor do
mesmo. Se você enviar algum Bitcoin para esse endereço minha mãe vai
agradecer, pois esse endereço é de uma carteira controlada por ela. Para facilitar,
endereços são frequentemente apresentados como QR codes. Então o endereço
pode ser uma sequência horrível de caracteres aleatórios, mas não se preocupe que
não será necessário memorizar ou digitar um endereço Bitcoin. Ou ele é copiado-e-
colado ou ele é escaneado via QR code.
Então para ter um endereço Bitcoin seguro, basta escolher uma chave privada, que
será a sua carteira, o que nada mais é que um número aleatório bem grande, e
gerar a chave pública equivalente, que é o seu endereço Bitcoin. Mantendo sua
carteira segura, você já pode começar a receber Bitcoins no seu endereço Bitcoin.
Para isso, basta que alguém tenha uma carteira cujo endereço tem Bitcoins
associadas a ela assine uma transação transferindo esses Bitcoins pro seu
endereço.
Daqui para frente, quando vc ouvir ou ler que alguém “tem” Bitcoins, lembre-se
que isso significa que a pessoa é detentora de uma chave privada, ou carteira cuja
chave pública ou endereço recebeu Bitcoins de alguém.
Até aí está tudo lindo, mas existe um problema crucial com as transferências de
Bitcoin que apresentamos aqui: e se uma pessoa cria duas transferências de Bitcoin
ao mesmo tempo, do mesmo endereço origem para pra dois endereços destino
diferentes? Ela pode transmitir uma transação para um participante do protocolo, e
outra transação para outro participante. Como a rede faz para que todos
concordem qual a transação que valeu de verdade? Esse é o problema do gasto
duplo.
Gerar Bitcoin exige bastante trabalho, e isso torna o Bitcoin impossível de falsificar,
portanto muito mais seguro do que as moedas dos governos que existem hoje.
Existe uma forma, e apenas uma, de gerar Bitcoins: ajudar com a segurança da
rede para evitar os gastos duplos. Para evitar os gastos duplos, as transações são
“validadas” por alguns usuários especiais do protocolo, conhecidos como
mineradores. Esses usuários ficam trabalhando com um “arquivo” que contém as
ultimas transações realizadas, que ainda não foram validadas. O papel dos
mineradores é encontrar uma chave de validação criptográfica para esse arquivo,
que só pode ser encontrada através de bilhões de tentativas e erros. É caro
encontrar essa chave, o minerador gasta energia elétrica e poder computacional
tentando. Quando algum minerador encontra essa chave de validação, ele publica
esse arquivo com a chave, que é chamado de bloco, para todos os participantes do
protocolo conectados a ele. Quando um participante do Bitcoin recebe um bloco
válido, com a assinatura certa e com transações válidas, ele é passado adiante, de
forma que em apenas alguns segundos depois de um bloco válido ser produzido por
um minerador, todos os participantes do Bitcoin já ficam sabendo desse bloco.
O bloco não pode conter nenhuma transação de gasto duplo, para isso o minerador
decide quais transações ele vai incluir no bloco dele. Se o minerador publicar um
bloco com alguma transação inválida ou de gasto duplo, o bloco não seria válido, e
portanto seria sumariamente rejeitado pelos outros participantes do Bitcoin.
Igualmente, se ao receber o bloco, um participante tentar altera-lo, removendo
uma transação por exemplo, a chave de validação do bloco deixa de ser válida, e o
bloco fraudado passa a ser rejeitado.
A quantidade de Bitcoins a ser criada é fixa. No início, o autor de cada bloco recebia
50 Bitcoins pelo seu trabalho. Depois de uma certa quantidade de blocos pre-
definidos, a recompensa caiu pela metade: hoje o criador dos blocos pode incluir
para si apenas uma transação gerando 25 Bitcoins. Se algum minerador hoje
publicar um bloco criando 50 Bitcoins, ao invés de 25, o bloco será rejeitado
sumariamente pelos outros usuários. E daqui a alguns anos, a recompensa vai cair
para 12.5 Bitcoins por bloco, e assim por diante, até que em algumas décadas,
todos os 21 milhões de Bitcoins serão gerados, e nenhum novo Bitcoin será criado.
Por esse motivo, o Bitcoin é visto como uma espécie de ouro digital: ele é escasso,
apenas uma quantidade limitada de Bitcoins vai existir. O que é completamente
diferente das moedas dos governos que são emitidas a bel-prazer dos governantes.
Aqui no Brasil, no passado, e agora na Argentina, no presente, a emissão
desenfreada de moeda é uma forma do governo tirar para si o poder de compra dos
cidadãos que trabalharam duro para fazer uma poupança ou aposentadoria.
No Bitcoin não é possível uma emissão extra surpresa, pois é o algoritmo que
regula o ritmo de produção de Bitcoin, que é previsível e conhecido por todos. O
software Bitcoin de referência é de código aberto e pode ser inspecionado por
qualquer um. Qualquer um também pode alterar o código do aplicativo Bitcoin de
referência. Também é possível ou propor melhorias ao protocolo, que depois de
aprovadas pelos desenvolvedores mais ativos são ultimamente votadas pelos
mineradores através do próprio protocolo Bitcoin. O voto da maioria dos
mineradores é que decide qual mudança pode entrar no protocolo ou não.
Resumo
A pergunta que mais frequente que recebo é “o que confere valor aos Bitcoins? O
que ‘banca’ eles?” A verdade é que nada banca eles. Em sociedades primitivas,
conchas marinhas especiais, ou pedras raras, eram usadas para representar valor e
facilitar trocas entre as pessoas. Essas conchas não serviam para nada além de
intermediar as trocas. Muitos argumentam que o ouro tem o seu valor por ter
utilidade na indústria, mas a verdade é que o valor industrial do ouro hoje é muito
menor do que o valor de mercado dele. As pessoas valorizam o ouro por que ele é
escasso e as pessoas do mundo inteiro concordam que o ouro é valioso. É por isso
que jóias de ouro são mais caras que jóias de aço cirúrgico.
O que dá valor ao papel azul retangular com um peixe, tão cobiçado por nós?
Certamente não é o valor artístico do peixe desenhado. Convencionou-se que esse
papel tem valor (cada vez menos valor, diga-se de passagem). O governo brasileiro
obrigou o povo a usa-lo como meio de pagamento. O que impede de que os
brasileiros, e o resto do mundo todo entrarem em acordo que Bitcoins tem valor?
A história mostra que a única coisa necessária para que algo tenha valor para ser
utilizado como meio de troca é que seja escasso e divisível em partes menores.
Quando a internet se tornou disponível para ser usada na casa das pessoas, na
década de 90, visionários acreditavam que aquilo mudaria o rumo do mundo, pois a
Internet era uma tecnologia descentralizada, que permitia coisas que eram
impossíveis de serem feitas de outra forma. Os que diziam que a internet
substituiria o correio, lojas, o telefone, os jornais, eram taxados de lunáticos.
Percebo que o mesmo está acontecendo agora. O Bitcoin possibilita coisas novas,
que não são possíveis com o sistema financeiro global atual. Pela dificuldade de uso
e baixa adoção, muitos acreditam que o Bitcoin é uma bolha, ou uma febre
passageira. Há até mesmo desinformados que, não entendendo como a tecnologia
funciona, afirmam que é uma pirâmide financeira. A maioria das mentes brilhantes
do mundo discorda, percebendo que a facilidade de uso e adoção são ganhos
graduais de qualquer tecnologia nova. Não se sabe se o Bitcoin é o protocolo que
chegou para ficar, mas todos concordam que cripto-moedas vão conquistar o
mundo. E a medida que o tempo passa, o Bitcoin vai se tornando cada dia mais
usado, ganhando força, credibilidade e momento. Considerando isso, eu acho difícil
que algum outro protocolo de criptomoeda consiga rivalizar com o Bitcoin.
O que são Bitcoins para a Receita Federal? Devo pagar impostos sobre eles?
Ano passado, a Justiça Federal publicou uma nota que dá a entender que
propriedades em Bitcoins devem ser declaradas, considerando seu valor
equivalente em moeda local, e da mesma forma, ganhos relativos a valorização de
Bitcoins devem ser declarados.
Não é ineficiente que todo mundo tenha uma cópia completa do banco de dados?
Na verdade, não é bem assim. Podem existir clientes leves que não armazenam o
banco de dados completo, mas apenas as transações que aconteceram em relação
à carteira dela. Os aplicativos de Bitcoin para celular funcionam assim.
O que garante a segurança dos blocos de transação, impedindo que eles sejam
fraudados?
Cada bloco tem uma referência para chave de validação do bloco anterior, com
excessão, obviamente do primeiro bloco, publicado pelo criador(a) do Bitcoin em
2009. Os blocos formam portanto uma sequência. Essa sequência de blocos é
chamada de blockchain, ou cadeia de blocos. Essa cadeia de blocos é toda validada
pelas chaves de validação dos blocos. Se você tentar mudar alguma coisa em um
bloco antigo, a chave de validação desse bloco muda, e o bloco que está a frente
deixa de ser válido pois ele inclui uma referencia para a chave de validação do
bloco anterior. Isso gera um efeito em cascata que requer que todos os blocos a
frente do bloco alterado tenham suas chaves de validação recalculadas.
Nesse caso, cada minerador escolhe um dos blocos, e começa a calcular a chave do
novo bloco, usando a chave de validação do bloco anterior que ele escolheu. Um
minerador vai descobrir um bloco eventualmente, e a cadeia de blocos escolhida
por ele vai ficar maior. Nesse ponto, todos os usuários vão convergir pra essa
cadeia mais longa de blocos que emergiu. É importante notar que isso é um
acontecimento raro. Por isso, quando uma transação é incluída em um bloco, a
transação é considerada como validada, praticamente irreversível. Quando 6 blocos
são publicados na frente do bloco em qual a transação é incluída, a transação tem
uma chance quase nula de ser revertida, por isso é considerada confirmada e
irreversível.