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ROTEIRO DE AULA
Poder Constituinte
1988.
1.1. Natureza
Dependendo da concepção adotada o Poder Constituinte Originário pode ter
naturezas distintas:
I - Concepção jusnaturalista
II – Concepção positivista
Segundo a concepção positivista, existe somente o direito posto pelo Estado.
Assim, se o Poder Constituinte Originário está fora e acima do direito positivo,
ele seria um poder de fato ou político.
1.4. Legitimidade
I - Legitimidade subjetiva
II - Legitimidade objetiva
2.1. Natureza
CF, art. 25: “Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis
que adotarem, observados os princípios desta Constituição”.
ADCT, art. 11: “Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes,
elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da
promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta”.
1.3. Características
1.4. Existe
Poder Constituinte Decorrente no Distrito Federal e nos
Municípios?
I - DF:
I – Municípios:
3.1. Espécies
É aquele responsável por fazer alterações de caráter mais geral, mais ampla, mais completa
– via extraordinária, tanto que está prevista no ADCT.
ADCT, art. 3º: “A revisão constitucional será realizada após cinco anos (limitação
temporal), contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos
membros do Congresso Nacional (mais simples do que a emenda de reforma), em sessão
unicameral (CD e SF votam conjuntamente, sem diferença ente os votos de deputado e
senador)”.
Observações:
STF – ADI n. 1.722/MC: “Ao Poder Legislativo Federal ou Estadual, não está aberta a via
da introdução, no cenário jurídico, do instituto da revisão constitucional”.
Como as decisões são antigas, tendo havido quase completa substituição dos ministros que
realizaram as decisões acima, e tendo em conta o fato de que o legislativo não fica
vinculado às decisões do STF, o qual também não se vincula ao que decidiu, para evitar o
fenômeno conhecido como fossilização constitucional, é possível que o entendimento
acerca da impossibilidade de nova revisão constitucional seja modificado, embora haja uma
ideia inicial (sinalização) de que não o será.
3.2. Limitações
3.2.1. Temporais
Considerações:
I - Definição: proibição de alteração da Constituição durante um determinado período de
tempo, após ela ter sido promulgada. O objetivo é permitir que a Constituição adquira
estabilidade.
II – Geralmente, as limitações temporais são estabelecidas nas primeiras Constituições
de um Estado, como ocorreu, por exemplo, em nossa primeira Constituição:
Constituição Imperial de 1824, art. 174: “Se passados quatro anos, depois de jurada a
Constituição do Brasil, se conhecer, que algum dos seus artigos merece reforma, se fará a
proposição por escrito, a qual deve ter origem na Câmara dos Deputados, e ser apoiada
pela terça parte deles”.
O mesmo ocorreu com a Constituição Americana de 1787, a qual em seu artigo 5º previa
proibição de reforma de determinados dispositivos até 1808.
III – Questão n. 1: existe limitação temporal para o Poder Reformador? A CF, art. 60
prevê algum período de tempo, dentro do qual a Constituição não poderia ser
modificada? Não há na Constituição de 1988 qualquer tipo de limitação temporal para o
Poder Reformador (CF, art. 60); no entanto, em relação ao Poder Revisor, sim: cinco
anos (ADCT, art. 3º).
3.2.2. Circunstanciais
Considerações:
I - Definição: as limitações circunstanciais proíbem a alteração da Constituição durante a
vigência de determinadas situações excepcionais, nas quais a livre manifestação do poder
reformador possa estar ameaçada. Evita-se, portanto, que um ato desmedido ou
precipitado altere a Constituição de forma indevida.
CF, art. 60, § 1º: “A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção
federal, de estado de defesa ou de estado de sítio”.
III – O ADCT, art. 3º não prevê nenhuma limitação circunstancial ao Poder Revisor.
No entanto, o entendimento que prevaleceu à época era o de que o Poder Revisor
possuía as mesmas limitações circunstancias do Poder Reformador. Ou seja, se na
ocasião em que poderiam ter tramitado houvesse a decretação de intervenção
federal, de estado de defesa ou de estado de sítio, o andamento das emendas de
revisão deveria ser sobrestado.
3.2.3. Formais
Considerações:
I - Definição: impõem formalidade a serem observadas quando da alteração da
Constituição.
Reforma e revisão: são processos formais de alteração da Constituição por existir uma
série de formalidades a serem observadas para que a Constituição seja emendada.
Mutação constitucional: é veiculada por processos informais de modificação da
constituição – altera-se o seu sentido e conteúdo da Constituição, mas seu texto permanece
o mesmo. Dentre os processos informais estão os costumes constitucionais (no caso de
constituições não escritas) e a interpretação (nas constituições escritas, através de
modificação do sentido da norma, como o STF tem sinalizado com relação ao art. 52, X,
da CRFB – GM na reclamação 4335 havia proposto que o SF deveria dar apenas ciência
ou publicidade no controle difuso, já que a decisão tinha efeitos erga omnes e vinculante.
Há alguns anos, GM apresentou a tese, que só teve acolhimento de eros grau. No fim de
2017, GM voltou a falar na tese, quando alguns ministros sinalizaram no sentido de que a
tese deveria ser adotada. Celso de Melo diz que houve mutação constitucional. Mas ainda
não se pode dizer ter havido MC, pois os outros ministros, embora tenham confirmado a
tese de que o controle difuso tem efeitos erga omnes e vinculante, não fizeram menção ao
fato de que o SF deverá apenas dar publicidade à decisão do STF. Decisão no caso do
amianto.
III – Limitações formais
V - Espécies:
Há aqui diferença comparativamente á iniciativa de propositura das leis em geral, nas quais
um único parlamentar pode propor. Há a necessidade de que uma quantidade expressiva de
membros apoiem (desde logo) a propositura da EC. A justificativa é que a CF é rígida,
sendo, portanto, o procedimento mais dificultoso do que o das demais espécies normativas.
II – do Presidente da República;
Questão n. 1: poderia haver iniciativa popular de emenda? Como visto, não há disposição
expressa nesse sentido na Constituição. Posições doutrinárias:
Sim (José Afonso da Silva e Ingo Sarlet): deve ser feita uma interpretação sistemática da
Constituição. Através dessa interpretação, por analogia, deveria ser aplicado o
procedimento previsto na CF, art. 61, § 2º (iniciativa popular de lei).
Não (Gilmar Mendes e Novelino). Fundamentos: a) a iniciativa em relação às leis (CF, art.
61, § 2º) é a regra geral e a iniciativa de emendas a exceção e, segundo uma conhecida
diretriz hermenêutica, as normas excepcionais devem ser interpretadas restritivamente; e
b) houve na Assembleia Constituinte de 87/88 a proposta de se incluir a iniciativa popular
no caso de emenda, a qual foi barrada.
Não necessariamente haveria maior democraticidade no fato de se entender pela
possibilidade de iniciativa popular de emendas, pois estas possuem uma lógica diferente
das Leis. As leis veiculam a vontade da maioria; as constituições, em muitos casos, têm
papel contramajoritário, o que ocorre, por exemplo, nas cláusulas pétreas, que são
mecanismos de autovinculação da sociedade, para garantir o cumprimento de metas de
longo prazo.
I - CF, art. 60, § 2º: “A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos
votos dos respectivos membros”.
Observações:
ADI 4.357/DF: “1. A aprovação de emendas à Constituição não recebeu da Carta de 1988
tratamento específico quanto ao intervalo temporal mínimo entre os dois turnos de
votação (CF, art. 62, §2º - o correto é 60, § 2º)), de sorte que inexiste parâmetro objetivo
que oriente o exame judicial do grau de solidez da vontade política de reformar a Lei
Maior (...). A interferência judicial no âmago do processo político, verdadeiro locus da
atuação típica dos agentes do Poder Legislativo, tem de gozar de lastro forte e categórico
no que prevê o texto da Constituição Federal. Inexistência de ofensa formal à
Constituição brasileira”.
Novelino: se quisesse, o STF poderia ter dito que apesar de inexistir norma constitucional
veiculando interstício mínimo, o regimento interno do senado serviria de paradigma.
II - CF, art. 60, § 3º: “A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem [sequência
numérica das emendas, não levando em consideração o número da PEC]”.
III - CF, art. 60, § 5º: “A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida
por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa”.
Não se trata de limitação temporal, mas formal, mesmo.
Observação n. 1:
3.2.4. Materiais
Porque uma geração anterior (de 3 décadas, no caso do Brasil, ou de 23 décadas, como nos
EUA) podem impor proibições às autuais gerações, por meio das Cláusulas Pétreas?
2ª: de caráter semântico: o Poder Judiciário não é composto por representantes eleitos
democraticamente (concurso público ou escolha do Poder Executivo): há um déficit de
legitimidade democrática (não há responsabilidade política como no Poder Executivo ou
no Poder Legislativo).
Teoria do pré-comprometimento
- Constituições democráticas = mecanismos de autovinculação;
Embora esta analogia seja muito interessante e muito citada no Direito Constitucional, o
curioso é que Jon Elster acabou mudando de ideia. Ele escreveu um outro livro,
posteriormente, chamado “Ulysses unbound” (Ulisses desacorrentado), no qual afirma
que, na verdade, não é a soberania popular que se autovincula, e sim que uma maioria
momentânea cria as cláusulas pétreas para que, no futuro, uma outra maioria não
modifique aqueles valores que ela consagrou. Então, na verdade, não seria um
mecanismo de autovinculação, mas sim mecanismos para se proteger de mudanças a
serem feitas por gerações futuras.
Política ordinária: deliberações dos órgãos de representação popular (p. ex.: Parlamento
elaborando e aprovando uma lei).
Questiona-se: Por que a primeira vontade de Pedro deve prevalecer sobre a segunda
vontade, que é a mais recente? Resposta: A primeira foi manifestada em um momento em
que ele estava sóbrio, ao passo que a segunda foi manifestada em um momento de
embriaguez.
Ex.: Menoridade penal e pena de morte são cláusulas pétreas. Para Novelino, a
menoridade pode ser baixada para 16 ou 17 anos, tendo em vista que o núcleo mínimo do
direito estará protegido. A todo instante, quando há um crime chocante praticado por um
menor, a discussão quanto à redução da maioridade penal se intensifica. Quando crimes
brutais acontecem, a discussão referente à previsão da pena de morte também se
intensifica. São momentos em que a sociedade está “embriagada” por aqueles
acontecimentos. Se as medidas são adotadas baseadas em reações de momentos
excepcionais, de grande clamor popular, de grande indignação, não haverá muita
dificuldade para se permitir, posteriormente, medidas já abolidas durante o processo de
evolução civilizatória.
III. Finalidades
Toda Constituição tem um conteúdo que a identifica, o qual não pode ser modificado sob
pena de perda da própria essência. Se for para alterar a identidade, que se faça uma
Constituição nova.
Impedir que aquela maioria, que, momentaneamente, está no poder, se utilize da maioria
no parlamento, por exemplo, para modificar a Constituição (sufocar a oposição) e se
perpetuar no poder.
Essas cláusulas são ainda mais rígidas do que a própria Constituição. São rígidas como
uma “pedra”, no sentido de que não podem, nem mesmo, ser objeto de uma deliberação.
Ex.: O art. 16, que consagra o princípio da anterioridade eleitoral, é considerado pelo
Supremo como uma cláusula pétrea. No entanto, ele já foi alterado por emenda (Emenda
4/93). Essa Emenda não foi considerada inconstitucional, porque ela apenas alterou a
redação do dispositivo, apenas aprimorou o texto do art. 16, ou seja, o núcleo essencial do
princípio da anterioridade foi mantido.
Exemplo:
- STF – ADI 3.685: “A modificação no texto do art. 16 pela EC 4/1993 em nada
alterou seu conteúdo principiológico fundamental. Tratou-se de mero
aperfeiçoamento técnico levado a efeito para facilitar a regulamentação do processo
eleitoral. Pedido que se julga procedente para dar interpretação conforme no sentido
de que a inovação trazida no art. 1º da EC 52/2006 somente seja aplicada após
decorrido um ano da data de sua vigência”.
IV.1) Cláusulas pétreas expressas
CF, Art. 60, § 4º. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir:
I - a forma federativa de Estado;
Tem como núcleo essencial a autonomia atribuída aos entes federativos. Não impede que
haja uma alteração, por exemplo, nas competências atribuídas à União, aos Estados, aos
Municípios ou ao DF. O que se protege é a autonomia dos entes federativos.
Na ADI 939 o STF decidiu que o princípio da imunidade tributária recíproca (art. 150, VI,
“a”, da CF) é cláusula pétrea decorrente da forma federativa de Estado. Este princípio
veda que União, Estados, Município e DF estabelecem impostos uns sobre os outros no
que diz respeito a determinadas rendas e determinados bens. Isso porque através da
tributação, um ente federativo poderia enfraquecer a autonomia financeira de outro ente.
A rigor, o que é secreto não é o voto, mas sim o escrutínio, que é o modo como o direito
de voto se realiza. O escrutínio pode ser secreto ou pode ser aberto.
Obs.: O voto obrigatório não é cláusula pétrea, nem expressa nem implícita. Assim, o
voto poderá passar a ser facultativo em virtude de uma Emenda à Constituição.
Os extremos é que não são permitidos. Podem ocorrer mudanças, ajustes, adaptações, etc.
O que não pode é haver uma mudança que afete o equilíbrio, a independência e a
harmonia entre os Poderes.
Por outro lado, haverá violação à separação dos poderes caso a alteração seja no sentido
de impedir que o outro Poder exerça suas funções típicas. Ex.: Alteração no sentido de
que todas as decisões do Supremo poderão ser revistas pelo Parlamento.
ADI 3367, o STF adotou o entendimento de que a criação do CNJ por emenda não afeta a
separação de poderes, por se tratar de um órgão de fiscalização que não interfere na
função típica do Judiciário.
O CNJ tem pessoas de fora do judiciário, mas como suas decisões têm carater
administrativo e não jurisdicional, não haveria afetação do núcleo essencial da separação
de poderes.