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1 Introdução
O Conselho consultivo do IPHAN se constitui em um instrumento para subsidiar
o processo de formulação e implementação de políticas publicas relacionadas ao campo
da preservação do patrimônio brasileiro. Nele, vêm sendo discutidas e negociadas, por
representantes dos gestores governamentais setoriais e da sociedade civil, as principais
estratégias nacionais de operacionalização da política de preservação do patrimônio.
Instituído em 1937 por meio da Lei n° 378 de 13 de janeiro, se constitui hoje em uma
*
Doutora em História das Ciências. Museu de Astronomia e Ciências Afins. danielasophia@mast.br
**
Graduanda do Curso de Museologia. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Bolsista PIBIC do
Museu de Astronomia e Ciências Afins. maylasaldanha@hotmail.com
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Artigo/Article Daniela Carvalho Sophia, Mayla Ramos Saldanha
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Por seu intermédio, ocorre a aprovação dos bens a serem tombados e, no que
diz respeito aos bens relacionados à cultura imaterial, a aprovação dos bens a serem
registrados. Nele, ocorre a negociação política e a legitimação das ações a serem
empreendidas, induzindo a ampliação de novos itens a serem objeto de apreciação,
discussão, aprovação e inclusão nos livros de tombo e de registro. Sob a perspectiva
adotada neste trabalho, o tombamento está inserido em um contexto caracterizado pela
disputa de interesses, grupos, versões e visões da política e, por isso, consideramos
nesse artigo o tombamento como um processo político e cultural dinâmico no qual os
bens são submetidos à valoração. Instituído no ano 1937, no Governo de Getúlio
Vargas, o tombamento de bens culturais se constitui como um dos principais
instrumentos do Estado no processo de implementação da política de preservação do
patrimônio Cultural1, assim como consolidou na memória social uma idéia unívoca de
patrimônio nacional. A partir do tombamento, tais bens passam a compor a coleção do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cuja proteção é justificada por serem
considerados portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira2. Assim que, quanto ao requisito da
competência, no nível federal, a decisão do ato de tombamento cabe, precipuamente,
ao Conselho Consultivo do IPHAN (RABELO, 2009).
1
Decreto Lei n° 25 de 30 de novembro de 1937 que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional.
2
Instituído no ano 1937, no Governo de Getúlio Vargas, o tombamento de bens culturais se constitui como um dos
principais instrumentos do Estado no processo de implementação da política de preservação do patrimônio Cultural. A
partir do tombamento, tais bens passam a compor a coleção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cuja proteção
é justificada por serem considerados portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira. Atualmente, o país conta com aproximadamente 21 mil edifícios e 79 centros e
conjuntos urbanos tombados pelo IPHAN – órgão responsável pela preservação do patrimônio nacional. Juntamente à
esta coleção, soma-se 9.930 sítios arqueológicos cadastrados, mais de um milhão de objetos e cerca de 800 mil
volumes bibliográficos, documentação arquivística, registros fotográficos, videográficos, além do Patrimônio Mundial.
Esses bens compõem o acervo do chamado Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, instituição criada em 1937 por
meio do Decreto n° 25.
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O período que vai do final dos anos 1980, especificamente após aprovação da
Carta Constitucional, em 1988, até o fim da primeira década dos anos 2000 deve ser
examinado como um momento crucial no campo da ação do governo federal sobre o
processo de implementação das diretrizes constitucionais no âmbito das políticas do
patrimônio federal, especificamente versando sobre a atuação das instituições
responsáveis pela preservação do patrimônio.
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2 Antecedentes
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A Lei nº 8.113, de 12 de dezembro de 1990, dispõe sobre a natureza jurídica do Instituto Brasileiro do Patrimônio
Cultural – IBPC, e atribuiu status jurídico de autarquia ao Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC). O Decreto
nº 99.492, de 03 de setembro de 1990, institui a Autarquia Federal Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural vinculado
à Secretaria da Cultura da Presidência da República (BRASIL, 1990b; 1990c).
4
É preciso destacar que a criação do Instituto Brasileiro de Proteção Cultural (IBPC) ocorreu no Governo do então
Presidente Fernando Collor de Mello e sua configuração e ações não estão relacionadas às diretrizes político-
ideológicas e institucionais empreendidas sob seu comando. Em março de 1990, quando Collor tomou posse, a
inflação chegara a 80% e ameaçava escalar ainda mais. Foi anunciado, destarte, um plano econômico que visava
bloquear todos os depósitos bancários existentes, por dezoito meses, permitindo saques até um limite de 50 mil
cruzeiros. Concomitantemente, a equipe de seu governo começou a tomar medidas com o objetivo de modernizar o
país e que incluía a privatização de empresas estatais, maior abertura ao comércio exterior e a redução no número de
funcionários públicos (cf. FAUSTO, 2001).
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De acordo com o Decreto-Lei 24 de 30 de novembro de 1937, os livros de tombo são descritos das seguintes formas:
Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico - coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica,
etnográfica, ameríndia e popular; Livro de Tombo Histórico - as coisas de interesse histórico e as obras de arte
históricas; Livro do Tombo das Belas Artes - as coisas de arte erudita, nacional ou estrangeira; Livro do Tombo de
Artes Aplicadas - as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras.
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12 11
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8
8
6 6 6 6
6
4
4 3 3 3
2 2 2
2
0 0
0
ano/1994 ano/1995 ano/1996 ano/1997 ano/1998 ano/1999 ano/2000 ano/2001 ano/2002 ano/2003 ano/2004 ano2005 ano2006 ano/2007 ano/2008 ano/2009
Entre 1994 e 2009, a maior parte dos bens tombados pelo Conselho no
Instituto localiza-se na Região sudeste (37), nos estados de Rio de Janeiro (15), São
Paulo (14) e Minas Gerais (8), seguido pela Região Nordeste (22), nos estados da
Bahia (7), Ceará (6) e Alagoas (3) respectivamente; e, pela região sul, no estado do
Rio Grande do Sul (6) – confere a Figura 2, abaixo. Juntos, a quantidade de bens
tombados nos estados pertencentes à Região Sudeste representa o total de 53%
comparativamente à quantidade de bens tombados nas demais regiões, como ilustra a
tabela abaixo (Figura 3):
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14
14
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6
4 3 3
2 2 2 2 2 2
2 1 1
0 0 0 0 0
0
AL BA CE DF GO MA MT MS MG PA PB PE PR PI RJ RS RN RO SC SP
40 38
35
30
25 22
20
15
10 6
5 3 2
0
SUL SUDESTE NORTE NORDESTE CENTRO-OESTE
8
7
7
6
6
5 5
5
4 4 4 4 4
4
3 3 3 3
3
2 2 2 2
2
1 1 1 1
1
0
ANO/2012
ANO/2011
ANO/2010
ANO/2009
ANO/2008
ANO/2007
ANO/2006
ANO/2005
ANO/2004
ANO/2003
ANO/2002
ANO/2001
ANO/2000
ANO/1999
ANO/1998
ANO/1997
ANO/1996
ANO/1995
ANO/1994
ANO/1993
ANO/1992
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2,5
2 2 2
2
Série1
1,5
1
1
0,5
0 0
0
Ano/2000 Ano/2001 Ano/2002 Ano/2003 Ano/2004 Ano/2005 Ano/2006 Ano/2007 Ano/2008 Ano/2009
A maior parte dos registros (9 ocorrências) foi aprovada pelo Conselho para
inclusão no Livro de Registro das Formas de Expressão, a saber: Arte Kusiwa - pintura
corporal e arte gráfica Wajãpi, Frevo, o Jongo no Sudeste, Matrizes do Samba no Rio
de Janeiro (Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba Enredo), Ritxòkò: Expressão
Artística e Cosmológica do Povo Karajá, Roda de Capoeira, Samba de Roda do
Recôncavo Baiano e Tambor de Crioula do Maranhão. A seguir, foram encontradas 7
ocorrências no Livro dos Saberes: Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas nas
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6 Conclusão
Referências
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FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2001.
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