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século XIX, e estão relacionadas a ações que buscavam a proteção e defesa de locais e
construções significativos em tempos de guerra. Posteriormente, a inclusão de objetos de arte
e ciência, sítios de reprodução da memória e eventos históricos, é elucidativa do lugar
ocupado pelo patrimônio cultural: o cruzamento entre uma perspectiva universalista e um
movimento particularista. A primeira dimensão alude a um patrimônio comum da civilização.
Com a noção de progresso da humanidade, a necessidade de preservação de acervos artísticos
e científicos também se mostravam cruciais. A proteção também se encontra relacionada a
processos de construção nacional em curso, e o patrimônio aludia a uma civilização comum e a
comunidades particulares nacionais. A patrimonialização da experiência histórica e a crescente
construção de museus, por exemplo, está vinculada à percepção de uma aceleração do tempo
histórico, da transitoriedade e da perda, característica da modernidade. Nesse contexto, o
passado é transformado em patrimônio coletivo, objetificado em monumentos e lugares de
memória.
Com a criação da UNESCO (Organização das nações unidas para a educação, ciência e cultura,
1946), a relação entre identidades políticas e o tratamento do passado se tornam mais
estreitas. A criação da UNESCO parte do pressuposto de que a paz seria alcançada através do
respeito à diferença cultural. Assim, sua contribuição como organização seria a difusão da
cultura, do conhecimento, da educação. A diferença e peculiariadade das diversas sociedades
nacionais passariam a ser ensinadas e aprendidas como parte de um todo, cooperando para a
salvaguarda desses bens. No contexto da guerra, isso era particularmente importante.
A noção de diversidade cultural defendida pela Organização sofreu modificações durante os anos,
principalmente a partir do diálogo entre representações acadêmicas e conhecimento comum. Apesar
disso, sua política orientada por um tipo de “paternalismo” ou ideologia salvacionista, continua a
mesma. Com isso alguns autores irão dizer que a retórica da perda legitima a criação da UNESCO e
reforça a afirmação de identidades limitadas e soberanas como elemento constitutivo do sistema
internacional.