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A MÚSICA E O CÉREBRO

Na era do conhecimento é vasto o número de estudos e de publicações


acumuladas sobre as descobertas proporcionadas pela neurociência acerca do
estudo do cérebro. Muitos desses estudos são desenvolvidos com bebês
(SILVA, 2012).

Segundo estudos [...] algumas crianças, com poucos dias de


idade, exibem alguns comportamentos musicais e ao fim de
algumas semanas utilizam a música na sua comunicação.
Ainda, os comportamentos de atenção e reação a determinados
sons verificam-se em crianças que permanecem no útero da
mãe, a partir do sexto mês. No útero da mãe, a criança já ouve
os sons do batimento do coração, a voz da mãe, do pai e de
outros familiares. Quando nasce, alguns sons já lhe são
familiares e fazem parte do universo sonoro onde viverá. O
movimento contribui para o desenvolvimento das estruturas
neurológicas o que possibilita o desenvolvimento cognitivo e a
organização da personalidade. Desta forma, a música sendo
movimento no espaço e no tempo auxilia nestes objetivos
educacionais, proporcionando à criança um enriquecimento
pessoal e um desenvolvimento da personalidade (SILVA, 2012,
p. 43).

A criança, mesmo enquanto feto sofre os estímulos dos sons – batimento


cardíaco da mãe, voz do pai, dentre outros – e ao nascer não é diferente
acontecendo já quando é colocada junto ao peito da mãe e acalma-se não pelo
alimento que vai receber, mas sim por ouvir e reconhecer o som do batimento
cardíaco da mãe (ROMANELLI, 2009).
Percebe-se, então, facilmente que antes do seu nascimento a criança já
sobre influência do contexto ambiental em que está de certa forma inserida. Em
síntese, não só a genética é responsável pelo crescimento da criança, mas
também o meio em que está inserida. Muitos médicos são adeptos à teoria de
que a alimentação vocal que a mãe proporciona ao filho é de tanta importância
para seu desenvolvimento quanto ao leite que usará para amamentá-lo (PINTO,
2009).
Quando o bebê, mesmo no ventre, tem contato e experiências especiais
com música, está exposto à oportunidade de construção do seu cérebro graças
à combinação entre o som e o silêncio (ROMANELLI, 2009). De acordo com
Faria (2001, apud SILVA, 2012, p. 45) “a música é um importante fator na
aprendizagem, pois a criança desde pequena já ouve música, a qual muitas
vezes é cantada pela mãe ao dormir”.

Ao nascer, a criança é cercada de sons e esta linguagem


musical é favorável ao desenvolvimento das percepções
sensório-motoras, dessa forma a sua aprendizagem se dá
inicialmente através dos seus próprios sons (choro, grito,
risada), sons de objetos e da natureza, o que possibilita
descobrir que ela faz parte de um mundo cheio de vibrações
sonoras (BRITO, 2003, p. 35).

Beyer (1988) e Ilari (2003), em seus estudos ressaltam que no primeiro


ano de vida a criança está propensa ao desenvolvimento cerebral juntamente à
inteligência musical. Para os mesmos a música tem a capacidade de
desenvolver um papel de colaboradora quanto ao aprimoramento das estruturas
cognitivas, oportunizando o desenvolvimento das habilidades emocionais,
promovendo ainda o desenvolvimento das habilidades sociais e das habilidades
musicais.

As experiências com a música, desde as mais elementares, são


importantes em dois sentidos: porque promovem o
conhecimento musical no sentido da aprendizagem restrita ou
strictu sensu; e importantes porque são experiências
necessárias à formação de esquemas e estruturas de
pensamento, que funcionam como condições prévias para as
novas aprendizagens – que são as aprendizagens de sentido
amplo, ou latu sensu (MAFFIOLETTI, 2002, p. 102).

Para Melo et al. (2009, apud PINTO, 2009, p.9) “a música é um meio de
expressão de ideias e de sentimentos, mas também uma forma de linguagem
muito apreciada pelas pessoas”. De modo geral pode-se afirmar que desde o
início da vida humana a música assume papel importante, pelo fato de promover
sensações serão importantes durante o crescimento infantil.
Estudos comprovam que a audição pode promover o desenvolvimento da
Inteligência, haja vista que cada um dos códigos sonoros é capaz de representar
espaços no cérebro cuja finalidade seria a retenção de informações. De acordo
com
Pederiva e Tristão (2006), os neurônios – que recebem as informações
codificadas, após serem ativados pelos códigos musicais – ficariam ‘abertos’
para a absorção dos conhecimentos de outros órgãos dos sentidos. Os
neurônios se ampliam à medida que novos conhecimentos são transmitidos
pelos sentidos. Ainda, de acordo com os mesmos, maior será o conhecimento
sonoro da pessoa quanto mais sons diferentes ela ouvir, por estar utilizando uma
área cerebral maior para reter aquelas informações. A Figura 1 mostra as áreas
cerebrais relacionadas com algumas funções cerebrais básicas mediante
percepção musical.

Figura 1 – A música e as funções cerebrais


Fonte: http://falaribem.wordpress.com/

Em simples linhas, afirma-se ser muito importante a relação estabelecida


entre uma criança e a música, sendo a mesma de forma organizada e recorrente
– o que possibilita a mesma a criar e a ampliar suas conexões cerebrais,
mediadas de experiências significativas com a música (PEDERIVA; TRISTÃO,
2006).
Ilari (2003), menciona em seus estudos a importância do conhecimento
das janelas de oportunidades – teoria de Gardner. As mesmas se referem a cada
período relacionado à oportunidade e à facilidade que a criança tem em
desenvolver cada tipo de inteligência – oriundo da teoria das inteligências
múltiplas. Embora todas as inteligências possam ser estimuladas por toda a vida,
durante o período chamada de abertura, cada uma delas tem propensão a se
desenvolver com maior potencialidade.
Diversos estudos concordam na afirmativa de que quando se escuta
música, a mesma se processa em diversas áreas do cérebro. Uma diversidade
de registros afirma que foi a partir da década de 90 que estudos sobre
neuroimagem se difundiram, e que os mesmos apontam em concordâncias as
áreas envolvidas no processo (ILARI, 2003).
A Figura 2 e 3 ilustram as áreas do cérebro envolvidas com a música.
Mostra com clareza as várias áreas cefálicas que se ativam mediante o
processamento da música.

Figura 2 – Áreas do cérebro envolvidas com a música


Fonte: http://www.mindasks.com/#!ouvir/c20gw
Figura 3 – Cérebro musical
Fonte: Sander (2014)

Sander (2014), explica como se dá o processamento musical, com base


na Figura 3:

A atividade musical mobiliza amplas áreas cerebrais, tanto as


filogeneticamente mais novas (neocórtex) como os sistemas
mais antigos e primitivos como o chamado cérebro reptiliano que
envolve o cerebelo, áreas do tronco cerebral e a amígdala
cerebral. As vibrações sonoras, resultantes do deslocamento de
moléculas de ar, provocam distintos movimentos nas células
ciliares (receptoras) localizadas no ouvido interno e são
transmitidas para centros do tronco cerebral. A frequência de
vibração dos sons tem uma correspondência com a localização
das células ciliadas do ouvido interno e a intensidade dos sons
está diretamente relacionada ao número de fibras que entram
em ação. Quanto mais intenso o som, mais fibras entram em
ação. Existe uma relação entre a localização da célula sensorial
na cóclea e a frequência de vibração dos sons. A frequência que
mais excita uma célula sensorial muda sistematicamente de alta
(sons agudos) para baixa frequência (sons graves). Assim, os
estímulos sonoros nas chamadas células ciliares são levados
pelo nervo auditivo de maneira organizada ao córtex auditivo
(lobo temporal). O primeiro estágio, a senso-percepção musical,
se dá nas áreas de projeção localizadas no lobo temporal no
chamado córtex auditivo ou área auditiva primária responsável
pela decodificação da altura, timbre, contorno e ritmo. Tal área
conecta-se com o restante do cérebro em circuitos de ida e volta,
com áreas da memória como o hipocampo que reconhece a
familiaridade dos elementos temáticos e rítmicos, bem como
com as áreas de regulação motora e emocional como o cerebelo
e a amígdala (que atribuem um valor emocional à experiência
sonora) e um pequeno núcleo de substância cinzenta (núcleo
acumbens) relacionado ao sentido de prazer e recompensa.
Enquanto as áreas temporais do cérebro são aquelas que
recebem e processam os sons, algumas áreas específicas do
lobo frontal são responsáveis pela decodificação da estrutura e
ordem temporal, isto é, do comportamento musical mais
planejado (SANDER, 2014, p.1).

A inteligência musical relaciona-se ao hemisfério direito e seu período de


abertura da janela se dá do nascimento aos 10 anos de idade na criança; seu
desenvolvimento cerebral ou cognitivo é marcado a partir dos 3 anos, já que as
áreas do cérebro que dominam a coordenação motora e já estão aptos à
execução musical. O estímulo desse tipo de inteligência se dá pela motivação
quanto ao canto, quanto ao movimento de dança, mediante aos jogos musicais,
mediante a promoção de identificação de sons e quaisquer outras atividades que
promovam o desenvolvimento do ouvido interno (ILARI, 2003).
A Figura 4 mostra as funções musicais no cérebro, de acordo com seus
lados.

Figura 4 – Funções musicais no cérebro


Fonte: https://www.slideshare.net/michelledemeloferreira/vi-semana-mundial-do-crebro-2017-
escola-em-sbc
Ressalta-se ainda que a música promova efeitos neuroquímicos
responsáveis pela melhoria do sistema imunológico, haja vista que a mesma tem
a capacidade de redução da ansiedade e regulação do humor. Daraya (2013),
divulgou resultados de estudos promovidos em uma universidade canadense
que registrou a elevação da produção e imunoglobulina tipo A enquanto se ouve
música. Tal tipo é responsável por combater invasores, tais como bactérias e
germes. Em síntese, o estudo menciona que pelo fato da música causar bem-
estar e tranquilidade, ela deixa livre o cérebro para trabalhar como deve,
promovendo o desenvolvimento do homem em todos os seus sentidos.
“A música e a ciência biológica permanecem diretamente ligadas, pois, os
comportamentos musicais podem ser encontrados em idades precoces da vida
humana, antes de os fatores culturais exercerem influência” (SILVA, 2012, p. 42).

A música deve ser vista como uma linguagem de expressão,


que é parte integrante da formação global da criança, deverá
contribuir para o desenvolvimento dos processos de aquisição
de conhecimentos, desenvolvimento da imaginação e da
criatividade. O momento destinado para as descobertas como
o reconhecimento dos sons, as combinações rítmicas e
melódicas são para a criança um momento de enorme prazer e
satisfação [...] é possível trabalhar diversos conceitos através
da música, como a socialização, a autoestima, a criatividade,
entre outros (SILVA, 2012, p. 46).

“A música é a linguagem que se traduz em forma sonora capaz de


expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos” (KRZESINSKI;
CAMPOS, 2006, p.115).
Se explorada corretamente, é capaz de promover o desenvolvimento do
raciocínio lógico e da criatividade, e por isso, deva ser trabalhada para
sensibilização da criança quanto ao mundo dos sons. Torna-se recurso
indispensável para a promoção do desenvolvimento da criança e excelente
aliada da educação. Em simples palavras, enquanto a criança procura captar o
som musical vai estruturando ao mesmo tempo a sua própria cognição
(KRZESINSKI; CAMPOS, 2006).
REFERÊNCIAS

BEYER, Esther S.W. A abordagem cognitiva em música: uma crítica ao ensino


da música, a partir da teoria de Piaget. Rio Grande do Sul: UFRGS, 1988.

BRITO, T. A. de. Música na Educação Infantil: propostas para a formação da


criança. 2.ed. São Paulo: Petrópolis, 2003.

DARAYA, Vanessa. Neurociência: Música pode ser mais eficaz do que


remédios. 2013. Disponível em:
<http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/musica-pode-ser-mais-eficaz-do-
que-remedios-diz-estudo/> Acesso: 10 jun. 2018.

ILARI. Beatriz. A música e o cérebro: algumas implicações do


neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da ABEM. Porto
Alegre. V. 9. 7-16, set. 2003.

KRZESONKI, M. T.; CAMPOS, S. S. A importância da linguagem musical


para a aprendizagem da criança. Brasil: Ministério da Educação, 2006.

MAFFIOLETTI, L. A. Conhecimento e aprendizagem musical: Aprendizagem


e conhecimento escolar. Pelotas: Educat, 2002.

PEDERIVA, Patrícia Lima Martins; TRISTÃO, Rosana Maria. Música e Cognição.


Ciências & Cognição; Ano 03 Vol. 09. 2006.

PINTO, Rogério da Silva. A música no processo de desenvolvimento infantil.


2009. Disponível em:
<http://www.domain.adm.br/dem/licenciatura/monografia/rogeriopinto.pdf>
Acesso: 10 jun. 2018.

ROMANELLI, G. A música que soa na escola: estudo etnográfico nas séries


iniciais do ensino fundamental. Educar em Revista, Curitiba, n.34. 2009.

SANDER, Ricardo. Música, neurociência e desenvolvimento humano. 2014.


Disponível em: <http://centrosuzukiindaiatuba.com/musicaestudo/>. Acesso em:
10 jun. 2018.

SILVA, Carmen Campos Ramos da. Música: um auxílio no desenvolvimento e


aprendizagem de crianças com a perturbação do espectro do autismo. 2012.
Disponível em: <
http://recil.grupolusofona.pt/bitstraeam/handle/10437/2821/Trabalho%20Escrito
%20Mestrado.pdf?sequence=1> Acesso: 10 jun. 2018.

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