Professional Documents
Culture Documents
TURISMO
Gustavo Tepedino
Professor titular de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro.
Por outro lado, sublinhe-se a complexidade da definição técnica do que seja uma viagem
turística, sendo comum associar-se trabalho e lazer. Sendo consentido oferecer um
exemplo prático, dir-se-ia que, a despeito da seriedade dos participantes de um conclave
jurídico, voltados inteiramente para suas preocupações científicas, não seria implausível
e improvável que, ao interesse estritamente jurídico pudesse ser adicionada certa dose
de interesse turístico. Sem falar - por despiciendo -, do interesse propiciado pela
confraternização com colegas irmanados pelas preocupações com os direitos e a política
do consumo (invoque-se, ao propósito, a expressão popular "fazer uma social").
Nem sempre é fácil, diga-se ainda, definir o que seja um turista, já que com a
eliminação das barreiras alfandegárias, como já ocorreu na Europa e tem sido anunciado
em diversos setores do planeta, desenvolve-se um processo de crescente igualdade de
Página 1
A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE
TURISMO
Tampouco o auxílio aos dicionários contribui para resolver tais agruras. Segundo Aurélio,
além do sentido próprio do vocábulo turista, que designa "aquele que faz turismo", há
ainda uma segunda e mais prosaica definição, a indicar "o aluno que quase não vai às
aulas". Já o substantivo turismo recebeu do mesmo dicionário conceituações mais úteis à
pesquisa ora proposta: "1. Viagem ou excursão feita por prazer, a locais que despertam
interesse. 2. O conjunto dos serviços necessários para atrair aqueles que fazem turismo
e dispensar-lhes atendimento por meio de provisão de itinerários, guias, acomodações,
transporte, etc...".
Daí ter-se justamente evidenciado em doutrina: "a causa para isto serve: é através dela
que se individualizam os elementos essenciais do contrato e, a partir daí, com tal
constructo, procede-se à investigação da presença (ou ausência) de tais elementos no
3
concreto regulamento de interesses estabelecido pelas partes". Segue-se que os efeitos
do negócio, tanto no que concerne à exigibilidade das obrigações reciprocamente
pactuadas entre as partes, como, principalmente, para fins de responsabilidade civil,
dependem da individualização da causa do negócio, capaz de lhe dar autonomia
4
(existência), validade e eficácia.
agência de viagens.
O art. 1.º define o âmbito de aplicação da lei, incidente sobre os pacotes turísticos
vendidos ou oferecidos à venda no território nacional pelo organizador ou pelo
Página 3
A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE
TURISMO
"2.º. Pacotes turísticos. 1. Os pacotes têm por objeto as viagens, as férias e os circuitos
'tudo incluído', resultado da prefixação de ao menos dois dos elementos a seguir
indicados, vendidos ou oferecidos à venda por um preço forfetário, e com duração
superior a 24 horas ou a estender-se por um período de tempo que compreenda ao
menos uma noite:
a) transporte;
b) hospedagem;
O art. 14 determina que "em caso de não cumprimento ou cumprimento parcial das
obrigações assumidas com a venda do pacote turístico, ao organizador e ao vendedor
cabe o ressarcimento do dano, segundo as respectivas responsabilidade, se não provam
que o não cumprimento ou o inexato cumprimento foi determinado pela impossibilidade
da prestação derivada de causa a eles não imputáveis".
O art. 17, por outro lado, dispõe: "O organizador e o vendedor são exonerados da
responsabilidade de que trata os arts. 15 e 16 quando o não cumprimento ou a inexata
execução do contrato è imputável ao consumidor ou é devida a fato de terceiro com
natureza imprevisível ou inevitável, a caso fortuito ou à força maior". Ainda segundo
Roppo este preceito torna a previsão de exoneração de responsabilidade do art. 14 uma
12
mera "declamação privada de conteúdo operativo, e, portanto, realmente supérflua".
Página 4
A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE
TURISMO
Art. 15. Responsabilidade por danos a pessoas - 1. O dano ocasionado à pessoa pelo
inadimplemento ou pela inexata execução das prestações que constituem o objeto do
pacote turístico é ressarcível nos limites das convenções internacionais que disciplinam a
matéria, das quais são partes a Itália ou a União Européia, e, em particular, nos limites
previstos pela convenção de Varsóvia de 12.10.1929 sobre transporte aéreo
internacional (...), pela convenção de Berna de 25.02.1961 sobre transporte ferroviário
(...) e pela convenção de Bruxelas, de 23.04.1970 (...), para qualquer outra hipótese de
responsabilidade do organizador e do vendedor (...)
Vale sublinhar, de todo modo, duas questões que freqüentemente surgem no exame de
serviços de turismo. A primeira relaciona-se com uma pretendida transferência de
Página 5
A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE
TURISMO
Quanto à primeira das questões lançadas, parece inegável que, uma vez definida a
autonomia causal do contrato de turismo, a responsabilidade do operador ou da agência
de viagem independe das cláusulas estipuladas em cada um dos contratos que integram
o pacote turístico, cabendo ao consumidor acionar qualquer um dos fornecedores dos
serviços, solidariamente responsáveis pela sua segurança e pelo atendimento do
programa de turismo que lhe foi vendido. O operador responsabiliza-se pelo bom êxito
do pacote, para isso é contratado, sem prejuízo da responsabilidade contratual fixada
em cada um dos serviços que o compõe e do direito de regresso que eventualmente
poderá exercer contra outros agentes, co-responsáveis pelos serviços desenvolvidos no
17
curso da relação contratual.
A harmonização, com efeito, não poderá jamais significar a recepção acrítica e servil às
normas comunitárias, mormente quando estas contrariem a tábua axiológica que define
a ordem pública interna. No caso do Mercosul, a problemática torna-se ainda mais
relevante, quando se tem presente a ótica produtivista, inspirada nas relações
puramente econômicas e nas leis de mercado, com a qual se pretende otimizar o
comércio internacional na América do Sul.
Em tema de tutela dos consumidores, deve ser sumariamente rejeitada a tese de que a
lei brasileira, excessivamente intervencionista, poderia significar uma barreira não
Página 6
A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE
TURISMO
22
tarifária para a integração econômica. Se é verdade que o art. 1.º do Tratado de
Assunção determina a eliminação das restrições aduaneiras e não aduaneiras para a
circulação de mercadorias entre os países do Mercado Comum, não é menos verdade
que o mesmo Tratado, em seu anexo I, dispõe não se considerarem restritivas as
situações previstas no art. 50 do Tratado de Montevidéu (ALADI), de 1980. O art. 50
afirma que nenhuma disposição daquele Tratado seria interpretada "como um
impedimento à adoção e ao adimplemento das medidas destinadas à proteção da vida e
23
da saúde, das pessoas, dos animais, dos vegetais".
Da combinação dos dois dispositivos acima cotejados resulta que não se poderão
considerar como um obstáculo à livre circulação as regras de proteção da pessoa
humana e em particular as normas protetoras da integridade psicofísica do homem,
como é, no caso do Brasil, o Código de Defesa do Consumidor.
Cada vez mais intensifica-se o turismo organizado, levado a cabo por grandes empresas
que oferecem um sem número de ofertas, veiculadas pela imprensa escrita, falada e
televisionada, bem como pela internet, acarretando notável incremento da chamada
indústria do turismo. Sem embargo da responsabilidade de cada agente da complexa
engrenagem, constata-se a formulação, por parte da autonomia privada, de um contrato
atípico, destinado especificamente à organização de viagens turísticas, e que, nos
termos dos princípios insculpidos no Código de Defesa do Consumidor, acarreta
responsabilidade própria para as partes contratantes.
Como ocorre sempre com os negócios atípicos, aflorados por obra criativa da autonomia
privada, é preciso estabelecer critérios para evitar danos ao consumidor, exposto a toda
sorte de ofertas - nem sempre confiáveis - de pacotes turísticos.
Os exemplos de conflitos nesse campo são inúmeros, não sendo infreqüente a tentativa
do operador de turismo de se exonerar de qualquer responsabilidade, derivada da má
prestação ou inexecução dos serviços por ele próprio recomendados - como se o
problema fosse sempre de terceiros: a empresa aérea que não embarcou o passageiro
em virtude da prática de overbook (confirmação de reservas de assentos em número
superior à lotação do avião) ou que permitiu o extravio de malas; o hotel que não
honrou reservas; os espetáculos que não puderam ser assistidos por ausência de
24
confirmação nas reservas.
Outro caso de interesse, no âmbito do Juizado Especial, foi julgado pela Primeira Turma
do Conselho Recursal da Comarca do Rio de Janeiro, em que se condenou a empresa de
turismo ao pagamento de danos morais resultantes do atraso de mais de 14 horas no
embarque da excursão, sem que tenha havido, durante a espera, qualquer assistência
26
por parte dos organizadores. Ainda bastante emblemático do que se procura aqui
demonstrar - e exemplo típico da necessidade de se fixar responsabilidade pelo fracasso
de pacotes turísticos -, é relatado na petição inicial de ação ordinária de indenização
27
proposta por Manoel Sorrilha e outros contra certa agência de viagens paulista. O
operador de turismo vendeu um pacote turístico de 7 dias na ilha de St. Martin/St.
Maarten, no Caribe, exatamente no período em que, segundo as previsões
metereológicas, ocorreria um fortíssimo furacão, denominado Luis. O furacão, de fato,
ocorreu e arruinou a semana de férias do grupo de viajantes, portando-lhes tensão,
pavor, pânico, desespero e profundo abalo psicológico durante a malsinada semana em
que, escondidos no hotel, assistiram a destruição da ilha e a morte de pessoas,
correndo, eles próprios, sério risco de vida no momento em que nutriam justa
expectativa, transmitida pela agência de viagens (e dramaticamente frustrada), de um
completo relaxamento, físico, mental e espiritual.
Tal hipótese traduz cenário recorrente, que insere os contratos de turismo na ordem do
dia, a exigir do intérprete redobrada atenção. Afinal, como turista, o consumidor
encontra-se em situação que lhe é ainda mais desfavorável na relação contratual.
(1) Veja-se, sobre o ponto, na literatura brasileira, na mesma linha doutrinária aqui
seguida, Maria Celina Bodin de Moraes, O Procedimento de Qualificação dos Contratos e
a Dupla Configuração do Mútuo no Direito Civil Brasileiro, in Revista Forense, v. 309, p.
33 e ss. A autora, em refinado estudo, com ampla bibliografia nacional e estrangeira,
apresenta as diversas teorias causalistas e anticausalistas, invocando, sobre o tema, a
irônica crítica de Pontes de Miranda aos autores que negam a existência da causa no
direito brasileiro em razão da omissão legislativa: "esse agir equivale ao daquele
professor de Obstetrícia que, chegando à unidade onde estavam internadas as
parturientes, exigiu: que todos os bebês nasçam sem pernas! Na mesma medida, a
extirpação do elemento causal resulta inoperante frente ao próprio Código Civil
(LGL\2002\400), cujo sistema se encontra fundado naquela noção" (p. 34). Sobre o
tema, é fundamental a contribuição de Antônio Junqueira de Azevedo , Negócio Jurídico
e Declaração Negocial, São Paulo, Saraiva, 1986, p. 121 e ss., com ampla bibliografia,
em que adota francamente a noção de causa como o fim do negócio jurídico,
atribuindo-lhe as seguintes funções: " a) se ilícito, é, por ele, que se pode decidir pela
nulidade dos negócio jurídicos simulados, fraudulentos, etc., como já dissemos; b) se se
torna impossível, o negócio deve ser considerado ineficaz; ele explica, então, algumas
das situações que, há muito tempo, os autores alemães vêm tentando cobrir com
diversas teorias (teoria da pressuposição, de Windscheid; teoria da base do negócio, de
Oertmann; teoria da base do negócio, de Larenz); c) é ainda o fim último que explica a
pós-eficácia das obrigações; d) serve, finalmente, para interpretar corretamente o
negócio concreto realizado pelos declarantes (p. 129)". Cfr., do mesmo autor, Negócio
Jurídico. Existência, Validade e Eficácia, São Paulo, Saraiva, 1974, p. 172 e ss.
(3) Maria Celina Bodin de Moraes, O Procedimento de Qualificação dos Contratos, cit., p
35.
(4) Observa ainda Maria Celina Bodin de Moraes, O Procedimento de Qualificação dos
Contratos, cit., p. 35: "A necessidade de qualificação dos institutos não é apenas um
problema de sistematização dogmática. A causa importa quando se tem que saber a qual
ato jurídico pertence o efeito que se analisa. Estabelecendo-se que o nexo de
causalidade entre o efeito e o ato chega-se à disciplina aplicável ao negócio".
(5) Sobre o tema, v., C. Massimo Bianca, Milano, Giuffrè, Diritto civile, v. 3, Il Contratto,
1987, p. 450 e ss., o qual, após indicar as duas noções de contrato misto, a primeira
como uma concorrência de più negozi tipici che si fondono in un'única causa - locação de
maquinaria com fornecimento de combustível, por exemplo, e a segunda como una
pluralità di cause concorrenti nell' unicità del rapporto - a venda mista com doação é
emblemática, leciona: o contrato misto non costituisce un autonomo tipo negoziale. Se si
ammettesse la possibilità di inquadrare il rapporto in più schemi tipici legali, questa
possibilità porterebbe a qualificare il contratto secondo il tipo di volta in volta richiamato.
Se poi le cause, secondo la nozione di contratto misto accolta dalla giurisprudenza, si
fondono in un'única causa, il contratto è allora senz'altro un contratto innominato
quando tale única causa non trova riscontro in un tipo legale.
(6) Massimo Bianca, ob. cit., p. 452, que acrescenta: Il pericolo è, ancora, quello di
volere ridurre la realtà dei nuovi tipi sociali alla somma o alla combinazione di figure
tipiche riflettenti altri interessi pratici della vita di relazione. La possibilità di ricondurre
singoli elementi del contratto a tipiche operazioni negoziali non vale in effetti a cogliere
la funzione unitaria e autonoma dell'operazione. A crítica reporta-se à importantíssima
contribuinção de La Lumia, Rivista di diritto commerciale, 1912, I, p. 719 e ss.
(8) Tenha-se presente o art. 51, XI, do CDC (LGL\1990\40), segundo o qual são nulas
de pleno direito as cláusulas que autorizem o fornecedor a cancelar o contrato
unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor". V., sobre o ponto,
Vincezo Roppo , I Contratti del Turismo Organizzato, in Vito Rizzo (coord.), Diritto
privato Comunitario - Fonti, Prinicípi, Obbligazioni e Contratti, v. 1, Napoli, ESI, 1997, p.
306, o qual observa argutamente: Nei fatti, il turista che acquista un pacchetto opera in
veste sostanziale di accettante, rispetto a una 'offerta' che, dal punto di vista economico,
è una offerta che egli trova sul mercato, dove l'operatore turistico l'ha portata per
proporla al pubblico dei possibili utenti; e, dal punto di vista giuridico, si incorpora in
Página 9
A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE
TURISMO
(9) Para uma análise da Diretiva n. 314/90 e sua recepção pelo ordenamento jurídico
italiano, v. Vincezo Roppo , I Contratti del Turismo Organizzato, cit., p. 303 e s. V.,
ainda, Klaus Tonner, Regulation of Package Travel, in Summer Programme in European
Community Consumer Law - Contributions by lecturers, Centre de droit de la
cosommation, Louvain - la Neuve, 1997 e Bernd Stauder , Le contrat de voyage -
législation et pratique contractuelle en Suisse, in Revista da AJURIS, Edição Especial, v.
1, mar. 1988, p. 126 e ss, com ampla bibliografia.
(11) Vincezo Roppo , I Contratti del Turismo Organizzato, cit, p. 314. Com efeito, eis o
teor do aludido art. 1.218, C.C.it., aplicável no inadimplemento das obrigações em geral:
Il debitore che non esegue esattamente la prestazione dovuta è tenuto al risarcimento
del danno, se non prova che l'idadempimento o il ritardo è stato determinado da
impossibilità della prestazione derivante da causa a lui non imputabile.
(13) Segundo o art. 52, última parte, da Diretiva n. 314/92, comentado por Enzo Roppo
( ob. loc. cit.), os Estados-Membros podem limitar ex lege o montante do ressarcimento
devido pelo operador por danos à pessoa, com o único dever de conformar a limitação
ao quanto previsto pela convenções internacionais". E o legislador italiano, posto em
consonância com o que seria uma práxis internacional, opta por una soluzione che
ancora una volta non va in direzione della massima tutela del turista.
(14) LICC (LGL\1942\3), art. 9.º. "Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a
lei do país em que se constituíram. §1.º Destinando-se a obrigação a ser executada no
Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as
peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. § 2.º A
obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o
proponente".
(18) V., sobre o ponto, Sérgio Cavalieri Filho, Programa de Responsabilidade Civil, cit.,
p. 213 e ss.; e, ainda, Eduardo Arruda Alvim e Flávio Cheim Jorge, A Responsabilidade
Civil no Código de Proteção e Defesa do Consumidor e o Transporte Aéreo, in Revista de
Direito do Consumidor, v. 19, p. 114 e ss., com atualizada bibliografia, os quais
observam: "Assim, o fato de a Convenção de Varsóvia não ter sido denunciada pelo
Governo brasileiro (tal como previsto no art. 39 da Convenção) não quer significar que
os limites de indenização nela previstos prevaleçam ainda hoje, pois que virtualmente
incompatíveis com o regime do Código de Proteção e Defesa do Consumidor que, como
visto, deita raízes na própria Carta de 1988" (p. 135). Na jurisprudência, cf. Acórdão do
1.º Gr. Câm. Cív. Do TACivRJ-AR63/95, sendo Rel. o Juiz Mello Tavares, de 26.09.1996,
in Revista de Direito do Consumidor, v. 21, p. 144, com a seguinte ementa: "Obrigação
de a transportadora ressarcir o dano, salvo se provar culpa exclusiva do consumidor ou
de terceiro. Responsabilidade objetiva caracterizada à luz do art. 14, § 3.º, I, da Lei
8.078, de 11.09.1990 (Código de Defesa do Consumidor), aplicável à espécie, excluída a
limitação tarifária estabelecida na Convenção de Varsóvia".
(20) Para uma cuidadosa retrospectiva das posições doutrinária e jurisprudencial sobre o
tema, especialmente quanto à evolução jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, v.
Jacob Dolinger, As Soluções da Suprema Corte Brasileira para os Conflitos entre o Direito
Interno e o Direito Internacional: Um Exercício de Ecletismo, in Revista Forense, v. 334,
1996, p. 71 e ss., com ampla bibliografia. A matéria é tratada de forma sistemática por
Luís Roberto Barroso, Interpretação e Aplicação da Constituição, São Paulo, Saraiva,
1996, p. 15 e ss.
(21) V., sobre o ponto, do ponto de vista do direito comparado, Tomás Hutchinson y
Julián Peña, El Tratado de Assunción y la Constitución Nacional, in Revista de Derecho
Página 11
A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE
TURISMO
(22) O argumento pelo qual uma lei de proteção dos direitos dos consumidores pode
obstacular a circulação e o consumo de mercadorias e serviços oriundos dos países no
Mercado que não possuam idêntico nível de exigências relativas à qualidade dos
produtos, das informações e da segurança dos produtos é analisado criticamente por
CLÁUDIA LIMA MARQUES, O Código Brasileiro de Defesa do Consumidor e o Mercosul, in
Revista do Direito do Consumidor, vol. 8, p. 40 e ss. e, esp. p. 41, onde sublinha: "São
duas visões do mesmo fenômeno jurídico, uma que tende a manter o corpo de normas
tutelares, como uma conquista social, e outra que tende a revogar ou modificar as
normas consideradas danosas à integração econômica".
(24) Vale conferir, na rica experiência dos juizados especiais do Rio de Janeiro:
"Passageira impedida de embarcar no avião que partiu de Miami para o Rio de Janeiro,
apesar de haver confirmado previamente o seu bilhete, com marcação de assento, além
de haver expedido regularmente sua bagagem, que se extraviou, causando-lhes
transtornos. Alegação de compromisso profissional assumido com cliente no Brasil não
comprovada satisfatoriamente. Cabível indenização moderada pelos danos materiais e
morais sofridos (Ac. da 3.ª Câmara Recursal, Rio de Janeiro, Rel. Juiz Mário Assis
Gonçalves, Recurso n. 028/96, in DOERJ, 05.09.1997, p. 160). "Passageiro de
transportadora aérea que, por falha desta, não recebe cartão de estrangeiro, para o
embarque devido e perde o vôo marcado, com base no que dispõe o art. 14, § 1.°, do
CDC (LGL\1990\40), faz jus à reparação por prejuízo material e por dano imaterial, por
ele sofridos com este fato" (Ac. da 12aCâmara Recursal Cível, Rio de Janeiro, Rel. Juiz
Célio Geraldo Magalhães Ribeiro, Recurso n. 330/98, in DOERJ, 22.05.1998, p. 192).
Página 12