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INFLUÊNCIA DA LAMA VERMELHA ATIVADA NAS

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO BIO-ÓLEO


OBTIDO VIA CRAQUEAMENTO TERMOCATALÍTICO DO
RESÍDUO LIPÍDICO DE CAIXAS DE GORDURA

NASCIMENTO A S1, MARTINS M L N1, VASCONCELOS G N1, OLIVEIRA R M2,


FERREIRA C C2 e MACHADO N T3
1
Universidade Federal do Pará, Instituto de Tecnologia, Faculdade de Engenharia Química
2
Universidade Federal do Pará, Instituto de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia
3
Universidade Federal do Pará, Dr-Ing do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Recursos Naturais da Amazônia
E-mail para contato: adriellesousa@live.com

RESUMO – Este trabalho teve por objetivo realizar um estudo comparativo da


influência do resíduo mineral de alumínio da região, lama vermelha (LV), ativado
térmica e quimicamente com HCl 1M, como catalisador da reação de craqueamento
termocatalítico do lodo de caixas de gordura do RU. Além disso, analisou-se físico-
quimicamente o bio-óleo obtido, de modo à comparar com normas estabelecidas pela
resolução ANP nº 45 de 26/08/2014, para biodiesel, e aos resultados analíticos da
literatura. Obteve-se valores de 19,55 e 20,40 mg KOH/g para índice de acidez (IA) e
Índice de saponificação (IS), respectivamente. Para viscosidade cinemática e
densidade, encontrou-se 2,79 mm2/s e 0,8171 g/cm3, nessa ordem. Diante disso, foi
possível observar que a lama vermelha (LV) ativada quimicamente melhorou a
qualidade do bio-óleo obtido no que se refere aos parâmetros analisados mediante as
normas estabelecidas pela ANP e estudos de outros autores.

1. INTRODUÇÃO
O interesse crescente por fontes alternativas de energia, menos poluentes que os
combustíveis de origem fóssil, têm levado à pesquisa no Brasil e no mundo com foco na
substituição gradual destes combustíveis. Dentre as diversas rotas tecnológicas investigadas
para a produção de biocombustíveis, destaca-se o craqueamento termocatalítico, um método
simples e eficiente para a produção de biocombustíveis que consiste na quebra das moléculas
orgânicas complexas, tornando-as mais simples sob a ação de calor e/ou catalisadores (Lima
et al., 2004). Contudo, uma das principais desvantagens do bio-óleo obtido através do
craqueamento é a sua acidez, provocada especialmente pela presença de compostos
oxigenados no produto final. O alto teor de ácidos graxos livres (AGL) presentes é um fator
vital no que se refere à produção de biocombustíveis, pois o alto grau de acidez pode
comprometer motores e sistemas de combustível (Knothe et al., 2006). Na tentativa de
resolver a problemática referente à concentração de AGL no bio-óleo, pesquisadores vêm
estudando métodos para reduzir essa acidez, dentre eles o emprego de catalisadores de caráter
básico ainda no processo de craqueamento, como a lama vermelha (LV) ativada.

A LV é um material residual proveniente da etapa de clarificação do processo Bayer da


indústria de beneficiamento do minério de alumínio (Silva Filho et al., 2007), possuindo um
grande potencial poluidor. A LV é caracterizada, principalmente, pela elevada alcalinidade
(pH 10-13), por apresentar partículas muito finas (cerca de 95 % < 44 µm, i.e. 325 mesh) e
área superficial de 13-22 m2g-1 (Silva Filho et al., 2007). Todos esses fatores contribuíram
para a escolha desse catalisador na reação de craqueamento termocatalítico de resíduos das
caixas de gordura com a finalidade de produzir biocombustíveis sustentáveis.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Materiais
O bio-óleo analisado foi obtido do craqueamento termocatalítico de resíduo da caixa de
gordura do RU, localizado na Universidade Federal do Pará (UFPA). O catalisador utilizado
no processo foi a LV gentilmente cedida pela HYDRO ALUNORTE S.A (Barcarena-Pará-
Brasil). O material residual das caixas de gordura após coletado foi submetido a uma série de
operações de separação físicas (peneiramento, decantação e desidratação) em uma unidade
piloto de desodorização, de acordo com a metodologia descrita por Almeida et al. (2016). O
catalisador foi ativado quimicamente com HCl 1M na proporção de 5:6 e termicamente, sendo
calcinado à 1000 ºC. Para obtenção de bio-óleo, 20 kg da gordura residual foram inseridos no
reator piloto, juntamente com 2 kg de LV ativada (10% em relação à massa da matéria prima).
Após um tempo reacional de craqueamento termocatalítico correspondente a 120 minutos, o
bio-óleo foi coletado e submetido a análises físico-químicas.

2.2. Metodologias
A LV foi caracterizada por microscopia eletrônica de varredura (MEV) em equipamento
da marca Hitachi (modelo TM 3000). O bio-óleo foi submetido às análises físico-químicas de
Índice de acidez (ASTM D 974); Índice de saponificação (AOCS Cd 3-25); Índice de refração
(AOCS Cc 7-25); Densidade, pelo método de picnometria (ASTM D854 a 25 ºC) e
Viscosidade cinemática (ASTM D 446).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com relação ao processo de craqueamento termocatalítico, o surgimento de materiais
orgânicos em fases distintas no reator após 20 minutos de reação indicou o início do
craqueamento, ao atingir 180°C no fundo deste. O processo perdurou 120 minutos até a
obtenção de 491°C na base do reator, obtendo-se um rendimento de 60,8% para o bio-óleo.
A Tabela 1 apresenta a caracterização físico-química do bio-óleo produzido,
comparando-a com as especificações da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) e os resultados de Almeida et al. (2016) e Costa et al. (2016), que
também estudaram o craqueamento termocatalítico de resíduo lipídico proveniente de caixas
de gordura tendo como catalisador, respectivamente, LV ativada termicamente a 1000°C e
Na2CO3, na proporção de 10% (m/m).

Tabela 1 – Caracterização Físico-Química do bio-óleo

Almeida et COSTA et ANP nº


Análise Unidade bio-óleo
al. (2016) al. (2016) 45 (2014)
Índice de Acidez mg KOH/g 19,55 84,89 14,97 até 0,5
Índice de
mg KOH/g 20,40 122,63 24,22 -
Saponificação
Índice de
- 1,443 1,46 1,45 -
Refração
Viscosidade
mm2/s 2,79 13,43 3,29 3,0–6,0
Cinemática
Densidade g/cm3 0,8171 0,8718 0,82 0,80–0,9

Infere-se da Tabela 1 que a viscosidade cinemática e a densidade do bio-óleo estão de


acordo com as especificações da resolução ANP nº 45 de 26/08/2014, para biodiesel. Nota-se
a influência positiva da ativação química na seletividade de reações que favorecem a
formação de produtos menos oxigenados e de cadeia carbônica menor, pois o bio-óleo obtido
apresentou densidade e índices de acidez e saponificação expressivamente menores que os
produzidos por Almeida et al. (2016). Ao analisar a Figura 1, verifica-se que não houve
alteração significativa na morfologia dos aglomerados de partícula com as ativações, porém o
ataque químico possibilitou a acentuação dos interstícios, aumentando o potencial de adsorção
da LV, corroborando o observado por Guerreiro et al. (2016), o qual indicou que essa
ativação facilita na remoção dos AGL responsáveis pelo elevado grau de acidez do bio-óleo,
podendo dispensar processos de refino posteriores. Ao comparar os resultados com os de
Costa et al. (2016), observa-se que a utilização da LV ativada como catalisadora proporcionou
a obtenção de bio-óleo com propriedades físico-químicos similares às alcançados por
catalisadores básicos mais comuns, como o carbonato de sódio, apresentando o mesmo
potencial de catalisadores provindos de reagentes P.A.

(a) (b) (c)

Figura 1– Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) para (a) LV Seca, (b) LV


ativada quimicamente com HCl 1M e (c) LV após ativação térmica a 1000°C
4. CONCLUSÃO
O estudo realizado constata a eficiência da aplicação da LV como catalisador na reação
para a produção de bio-óleo, de modo a facilitar a reação, além de atuar como agente de
neutralização da acidez do bio-óleo obtido, devido à sua capacidade de adsorção ter sido
aumentada após tratamento químico com HCl 1M. Neste sentido, é possível concluir que a
caracteristicas físico-química do bio-óleo obtido obteve resultados satisfatórios quanto aos
parâmetros analisados. Em comparação com Almeida et al. (2016), o bio-óleo obteve
resultados bem melhores, o que pode ser atribuído ao emprego da LV ativada quimicamente,
e, resultados muito semelhantes ao estudado por Costa et al. (2016) que utilizou carbonato de
cálcio como catalisador. Esses resultados indicam o potencial de aplicação do da lama
vermelha com tratamento químico e térmico no processo de craqueamento termocatalítico
para a produção de biocombustíveis similares ao petróleo.

5. REFERÊNCIAS
ALMEIDA HS, CÔRREA AO, EID JG, RIBEIRO HJ, CASTRO DAR, PEREIRA MS,
PEREIRA LM, MÂNCIO AA, SANTOS MC, SOUZA JAS, BORGES LEP,
MENDONÇA NM, MACHADO NT. Production of biofuels by thermal catalytic
cracking of scum from grease traps in pilot scale. J. Anal. Appl. Pyrolysis, v. 118, p. 20-
33, 2016.

COSTA F, ALMEIDA HS, MACHADO NT, SANTOS MC, PEREIRA L, MENDONÇA N.


Estudo da produção de biocombustível a partir da gordura residual de unidade de
tratamento de esgoto do restaurante universitário/UFPA. Anais do XXI Congresso
Brasileiro de Engenharia Química, Fortaleza, 2016.

GUERREIRO LHH, COSTA KMB, CORDEIRO MEC, MANCIO AA, BORGES LEP,
MACHADO NT. Influência da ativação química da lama vermelha no processo de
adsorção de ácidos graxos livres presentes em biogasolina. Anais do XXI Congresso
Brasileiro de Engenharia Química, Fortaleza, 2016.

KNOTHE G, GERPEN JV, KRAHL J, RAMOS LP, Manual do Biodiesel. São Paulo: Editora
Edgard Blucher, 2006.

LIMA DG, SOARES VCD, RIBEIRO EB, CARVALHO DA, CARDOSO ECV, RASSI FC,
MUNDIM KC, RUBIM JC, SUAREZ PAZ, Diesel-like fuel obtained by pyrolysis of
vegetable oils. J. Anal. Appl. Pyrolysis. 71, 987-996, 2004.

SILVA FILHO EB, ALVES MCM, DA MOTTA M, Lama vermelha da indústria de


beneficiamento de alumina: produção, características, disposição e aplicações
alternativas. R Matéria, v. 12, n. 2, pp. 322 – 338, 2007.

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