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Educação

Midiática

UM GUIA PARA USAR DENTRO


E FORA DA SALA DE AULA
Índice
PÁGINA 3

Introdução

PÁGINA 4

Guia de Letramento
e Educação Midiática

PÁGINA 10

Como identificar
uma notícia falsa?

PÁGINA 16

Vídeo ajuda a identificar


notícia falsa em 2 minutos

PÁGINA 17

Atividades para falar


sobre notícias falsas
em sala de aula
INTRODUÇÃO

E ducação (ou alfabetização)


midiática e informacional. Já
ouviu falar? Essa área da Educação
Como saber se um vídeo que
chegou por WhatsApp é real ou
está fora de contexto? Como
tem como objetivo formar cidadãos garantir que aquele link que você
críticos e aptos a interpretarem todas compartilhou nas redes sociais vem
as informações as quais são expostos de uma fonte confiável?
diariamente. O assunto é tão relevante
que deverá entrar em vigor na BNCC Para isso, NOVA ESCOLA apresenta
(Base Nacional Comum Curricular). Em este conteúdo desenvolvido dentro
breve, todas as crianças e adolescentes do projeto de Educação Midiática,
do país irão aprender a ler notícias em parceria com o Instituto Palavra
e a diferenciar conteúdos, seja uma Aberta, para que professores
matéria jornalística publicada num tenham em mãos as ferramentas
veículo de grande circulação, seja um necessárias para que seus alunos
post patrocinado numa rede social. possam compreender e exercitar
seu senso crítico em relação às
Porém, enquanto isso não se novas mídias, da mesma forma que
transforma em realidade, é preciso fazem com as mídias estabelecidas.
colocar a mão na massa. Este guia é para você, professor.
GUIA DE LETRAMENTO
E EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 1

C ompartilharam um texto no
Facebook. É um desses textos que
você poderia ter recebido também
notícias que se encontra em sites da
internet, o número sobe para 20%. O
fato é que provavelmente em algum
no grupo de WhatsApp. O visual das momento você já clicou (e talvez até
páginas, o estilo do texto e o conteúdo compartilhou como verdade) uma
informativo até lembram os dos sites notícia dessas. Pelo menos 62% dos
que você conhece. Esses textos revelam brasileiros confiam de vez em quando
fatos escandalosos, transformações (mesmo que poucas vezes) ao se
i-na-cre-di-tá-ve-is e contêm fotos deparar com elas. “Existe um abismo
que comprovam o que está sendo entre a interpretação de texto e o
falado. Será que dá para confiar? letramento midiático”, afirma Pollyana
Ferrari, professora de hipermídia e
Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia narrativas transmídias da Pontifícia
2016, 14% da população brasileira Universidade Católica (PUC-SP), autora
confiam nas notícias que circulam nas do livro Como sair das bolhas (Editora
redes sociais. Quando se trata das Armazém da Cultura).
Mesmo que o indivíduo interprete
e consiga compreender todas as
informações presentes no texto, o
letramento midiático vai além da
interpretação do que está sendo
apresentado. “É preciso verificar se a
publicação tem fonte, se a imagem
foi manipulada ou não e se o site é um
portal ou só tem a aparência, se é uma
fachada”, explica a especialista.

Caça-clique, notícias falsas (do inglês


fake news), opiniões partidárias.
Cada vez é mais difícil identificar
determinados conteúdos e como são
produzidos. Por isso, é crucial que
todos nós aprendamos a identificar
o que estamos lendo e vendo. Com a
popularização dos celulares e tablets,
as crianças interagem com a tecnologia O letramento midiático segue mais
e diferentes fontes de informações – ou menos o mesmo processo, mas
sejam texto ou imagens. “Antes mesmo inclui a habilidade de identificar
de iniciar a vida escolar e aprender a diferentes tipos de mídia e interpretar
ler, as crianças já foram apresentadas as informações e mensagens enviadas
a diferentes tipos de mídia. Elas já nessas mídias. Isso inclui não apenas
dominam algumas ferramentas, os conteúdos de texto, como também
principalmente os vídeos”, diz Carlos memes, vídeos virais e propagandas.
Eduardo Canani, mestre em Educação,
professor de Língua Portuguesa Apesar de ganhar espaço no debate
e diretor de ensino na Secretaria educacional nos últimos anos, o
Municipal de Lages (SC). tema não é novo. O primeiro curso de
letramento midiático surgiu no início
O que é letramento midiático dos anos 1990, na Universidade de
Harvard, nos EUA. O assunto, porém,
A definição de letramento se resume se torna cada vez mais urgente com o
basicamente à capacidade de ler e crescimento desenfreado das notícias
escrever. A partir do reconhecimento de falsas, opiniões super partidárias
letras e palavras, o indivíduo que está e dos conteúdos caça-cliques, que
desenvolvendo essas habilidades, além passaram a influenciar decisões
de identificá-las, passa a compreender importantes, inclusive levando
o significado delas e interpretar o pessoas a cometer atos violentos
significado daquele determinado como linchamento e até à morte de
conjunto de frases. pessoas inocentes.
O impacto das notícias falsas Além disso, na era digital, é muito mais
nas eleições fácil criar uma notícia falsa e torná-la
disponível na rede do que criar uma
“Por conta das eleições do [Donald] moeda e fazê-la circular no mercado.
Trump, em 2016, é que se começou a
falar sobre o tema”, diz Pollyana Ferrari. Pelo fato de serem criados para
Empresário e protagonista da versão gerar interação, os fatos inventados
americana do reality show “O Aprendiz”, costumam ser impactantes para
Trump teria sido favorecido pela grande chamar atenção, provocar sentimentos
circulação de fake news que atacavam fortes (como indignação) e serem
sua concorrente Hillary Clinton, ou compartilhados. É assim – e por
favoreciam a imagem do empresário. meio dos bots, os robôs criados para
desempenhar certas funções na
“Papa Francisco choca o mundo e apoia internet – que o mercado das notícias
Donald Trump”, “Wikileaks confirma falsas opera. De acordo com a análise
que Hillary vendeu armas para o de 40 notícias (sendo metade delas
Estado Islâmico” e “E-mail de Hillary falsa) em um período de três meses, o
para o Estado Islâmico vazou e é pior Buzzfeed News concluiu que as notícias
do que qualquer um poderia imaginar” falsas têm maior alcance do que as
são alguns exemplos de manchetes verdadeiras. A análise foi feita em cima
que viralizaram três meses antes das de conteúdos eleitorais veiculados nos
eleições presidenciais de 2016 nos EUA. principais veículos jornalísticos dos EUA,
de sites que se dizem informativos e
A prática de usar notícias para atacar de blogs. Enquanto veículos de mídia,
adversários ou atender interesses como o New York Times, somaram
políticos é antiga. Em 44 a.C., a 7,367 milhões de compartilhamentos,
República Romana passou pelo que reações e comentários no Facebook, as
é considerado pelo relatório “A short notícias falsas atingiram 8,711 milhões.
guide to the history of ’fake news’ and Além disso, o relatório aponta que
disinformation” (em tradução livre: há crescimento do desempenho das
“Um guia rápido sobre a história das notícias falsas sobre as verdadeiras
notícias falsas e desinformação”), do conforme se aproximam as eleições.
International Center for Journalists
(UCFJ), como a primeira notícia falsa Em 2016, análise do BuzzFeed Brasil
registrada. Uma das figuras políticas com dados do Facebook mostrou que
da época, Otaviano travou uma guerra notícias falsas sobre a Lava Jato foram
de propaganda política contra o rival mais compartilhadas que as reais.
Marco Antônio, gravando em moedas O relatório analisa 20 textos
frases que manchavam a reputação do virais (metade falsos). As notícias
adversário. Com o advento da internet, confiáveis somaram 2,7 milhões de
rumores circulam com muito mais compartilhamentos e comentários,
velocidade e volume por todo o mundo enquanto o engajamento das falsas
em diferentes mídias e com tons reais. chegou a 3,9 milhões.
Qual é o papel da escola nesse
universo de desinformação

Além do amplo contato que as crianças


pequenas e até bebês possuem com
as mídias digitais, o professor Carlos
Eduardo Canani ressalta que, cada
vez mais cedo, as crianças começam
a dar sua opinião de maneira pública,
comentar conteúdos e produzir
vídeos. “Essas mídias são vistas como
socialização, o que indica a necessidade
de um papel educativo. As mídias
ajudam a exibir valores e a formar e
toda essa leitura precisa ser ensinada
também na escola. É importante que
a gente não negue essas práticas, mas
as utilize, se apropriando da realidade
dos estudantes”. O estímulo ao senso
crítico para que crianças e jovens
possam estabelecer relações e analisar
informações, refletir sobre os papéis “A Educomunicação destaca a
de emissor e receptor e até mesmo importância de os estudantes
estimular um diálogo respeitoso são desenvolverem senso crítico e se
alguns dos principais pontos que a apropriarem da realidade que os cerca.
escola pode ajudar a desenvolver no É desafio da Educação formar cidadãos
processo da Educação midiática. críticos em um mundo voltado para o
virtual”, aponta Carlos Eduardo. Para
O resultado da omissão da escola pode o professor de Língua Portuguesa, se
ser sério – e não levar necessariamente restringir à sala de aula sem questionar
levará muito tempo para se concretizar. essas mídias, estar à mercê das notícias
Ao ignorar o debate, a escola pode, sem ter ferramentas para fazer uma
ainda que de forma não intencional, análise crítica e não saber distinguir
endossar movimentos que levam fontes confiáveis pode ser considerado
à desinformação e uma leitura até um retrocesso para as escolas.
equivocada de situações, já que esses
estudantes vão se tornar cidadãos que Para avançar nesse debate, é preciso
por falta de orientação vão se deixar oferecer formação aos professores.
levar por notícias falsas. No Brasil, há Em sua experiência com escolas
pelo menos um caso registrado que públicas e privadas, a pesquisadora
levou à morte de uma mulher porque Pollyana Ferrari sente que a
pessoas acreditaram em uma notícia resistência para trabalhar com o tema
falsa que circulou em redes. ainda é grande.
“Já ouvi: ‘Ah, mas como assim, sair das “Mas não é isso que deixará os alunos
bolhas, ir até os fatos e ser crítico em estimulados a fazer leituras críticas. O
relação às redes sociais? A gente tem estímulo para crianças e adolescentes
que trabalhar o lúdico com a criança’”, vai estar nos blogs, redes sociais
afirma. Ela esclarece que o lúdico é e memes que estão circulando.
importante na Educação, sim, mas Precisamos fazer Educação midiática a
são coisas completamente diferentes. partir deles”, diz Pollyana Ferrari.
“O lúdico é ótimo, eu concordo. Mas
além disso, as crianças e adolescentes PARA SABER MAIS
precisam interpretar fatos e fazer um Como sair das bolhas
uso de redes sociais crítico”, afirma. Pollyana Ferrari, Editora Educ
Os educadores precisam se sentir Pós-Verdade: A Nova Guerra Contra
confortáveis para trabalhar o tema, o os Fatos em Tempos de Fake News
que só acontece quando há domínio Matthew D`Ancona, Faro Editorial
sobre o conteúdo. Inevitavelmente, Guia de Letramento Midiático:
o mundo digital precisa estar no como identificar desinformação
horizonte do professor. https://novaescola.org.br/
conteudo/12307/guia-de-
Textos literários como os de autoria de letramento-midiatico-o-que-
e-como-aplicar-e-identificar-
José de Alencar ou Machado de Assis, desinformacao
geralmente estudados nas escolas e
cobrados no vestibular até podem ser A Short Guide to the History of
‘Fake News’ and Disinformation
fontes para checar informações sobre https://www.icfj.org/news/short-
a época e local em que a história se guide-history-fake-news-and-
passa, verificando o que é realidade e disinformation-new-icfj-learning-
o que é ficção na obra. module
ATENÇÃO AOS FORMATOS As consequências de
compartilhar mensagens
Notícia falsa. São textos que alarmistas podem ser graves.
se parecem com notícias de Em 2017, uma corrente falsa
verdade. O layout é semelhante sobre um grupo que estava
ao de um site de notícias, citam sequestrando crianças na Índia
dados e, às vezes, trazem levou ao assassinato de sete
supostas afirmações de possíveis suspeitos. Nenhum
especialistas. As informações sequestro de crianças havia sido
apresentadas podem ser reportado naquela área.
completamente falsas,
mescladas com elementos reais Sátira. Alguns sites se
– como afirmações de algum inspiram em notícias, fatos ou
político embasada por dados personagens reais para produzir
inexistentes – ou distorcidas. conteúdos satíricos. Eles são
uma espécie de paródia dos
Correntes de WhatsApp. conteúdos jornalísticos e, diante
São mensagens alarmistas de um olhar descuidado, podem
que circulam em grupos do ser interpretados como reais. É
aplicativo. Essas mensagens o caso do Sensacionalista, que
pedem compartilhamento. Esse conta com mais de 3 milhões
pedido pode ser direto, como os de curtidas em no Facebook.
que anunciam que aplicativos Ao fazer uma checagem rápida
como o WhatsApp serão pagos sobre o perfil do veículo, é
e que para evitar isso, é preciso possível ver que seu slogan é
repassar a 20 amigos. Outras “um jornal isento de verdade”.
são indiretas, citando suspeitos
de sequestro e pedindo para Caça-cliques. As manchetes
informar a polícia. Elas podem sensacionalistas também são
citar vagas de emprego, tarifas características deste conteúdo,
abusivas ou trazer informações que traz imagens chamativas
capazes de causar indignação para despertar curiosidade nos
em relação a políticos. “Qualquer leitores. O conteúdo geralmente
um pode produzir um áudio ou não entrega o que está sendo
um texto”, reforça a professora noticiado. É feito para atrair
Pollyana Ferrari. “Antes de cliques e compartilhamentos,
compartilhar, é preciso se com a finalidade de gerar
questionar: quem é essa pessoa receita para as publicidades
que fala? De onde ela veio? online. É usado pejorativamente
Existe algum outro registro para conteúdos que tentam
sobre este fato?”. gerar cliques. a todo custo.
COMO IDENTIFICAR
UMA NOTÍCIA FALSA? 2

V rocê acabou de receber um


link no WhatsApp ou uma
notícia através de seus contatos no
à publicação, como instituições e
associações políticas. Se o texto não
possui autoria, desconfie. Se possuir,
Facebook. É uma notícia urgente, pergunte-se: o autor é confiável?
que vai deixar muito amigo indignado Ele é um indivíduo? Representa uma
e você mal pode esperar para instituição? Esta instituição é um
compartilhar. Muita calma agora: veículo confiável ou está associada
antes de enviar para todos que você a quais interesses? Fazer uma
conhece, confira os seguintes pontos. busca pelo nome do autor ajuda a
reconhecer a credibilidade. Procure
1. FONTE também se o site possui um “quem
Quem escreveu esse texto ou captou somos”. No caso de outras fontes
esse vídeo ou tirou essa foto? Procure citadas no texto, como procure por
por informações sobre o autor, nome elas e confirme se refletem de fato
da publicação em que está sendo o que a pesquisa aponta ou se os
veiculado e quem está relacionado dados foram distorcidos.
2. EVIDÊNCIA O que está sendo deixado
Busque no texto por informações de fora? O contexto daquela
que você pode checar, como notícia possui algum outro
nomes, dados, locais e citações condicional ou acontecimento
a documentos ou pesquisas. (como eleições) que podem ter
Questione-se: quais informações gerado aquele conteúdo com o
são usadas no conteúdo para propósito de influenciar visões?
sustentar os fatos? Os fatos Considere diferentes forças
apresentados se sustentam em torno daquele fato, como
com essas informações? Os acontecimentos atuais, objetivos
dados são estatísticas de uma políticos e pressões financeiras
fonte de informações confiáveis de mercado.
ou nem sequer são citadas no
texto? Citações genéricas como 4. PÚBLICO-ALVO
“de acordo com pesquisas” ou Entender para quem o conteúdo
“estudos afirmam” são comuns foi feito também pode ajudar a
em notícias falsas e gêneros afins. identificar se tem algum viés ou
Observar se há aspas de alguma intencionalidade que não está
pessoa citada no texto também visível à primeira vista. Qual
deve ser objeto de observações. é o público-alvo pretendido?
Perguntas relacionadas às falas São pessoas que compartilham
de especialistas e pessoas algum interesse em comum?
citadas também devem ser Qual é o interesse do grupo? As
questionadas: quem é essa pessoa informações apresentadas se
que está falando? Qual é a sua respaldam unicamente sobre
função profissional? Ela tem esse interesse ou também
conhecimento para falar sobre apresentam dados que possam
o assunto? Há evidência de que equilibrar esse interesse?
está falando a verdade? Procure Preste atenção aos apelos a
por outras notícias veiculadas grupos específicos ou pessoas.
em fontes confiáveis que tenham Essas informações podem não
citado as falas do interlocutor. estar presentes diretamente
nas informações apresentadas
3. CONTEXTO no texto, mas também na
Todas as notícias existem dentro linguagem usada pelo conteúdo,
de um contexto. Esse contexto é técnicas de apresentação dos
complexo: ele é histórico, social, pontos levantados pelo texto
econômico, cultural, temporal... (que podem, por exemplo,
Pergunte-se: qual é o cenário geral seduzir o leitor e levar a
dessa notícia? Ela apresenta um uma conclusão enviesada) e
panorama completo da história ou escolha de imagens para atingir
omite informações? determinado objetivo.
5. PROPÓSITO
Todas as notícias compartilham
o fato de que foram criadas por
alguém e com algum propósito.
Entender a razão disso é a base
para o letramento midiático. A
pergunta chave é: por que esse texto
foi escrito? É para informar sobre
algum acontecimento? É para te
convencer de alguma perspectiva
ou sobre algum tema? Quem pode
se beneficiar com a circulação dessa
informação? É para te convencer a
comprar algo? É para divertir, como
no caso das sátiras? A observação de
fatores como a missão da publicação
em que o texto está sendo veiculado,
linguagem ou uso de imagens A pergunta principal sobre a
persuasivas, técnicas para fazer execução é: como as informações
dinheiro (o caça-cliques) e posições estão sendo apresentadas? Há
declaradas (ou não declaradas) uso de adjetivos que possam
sobre a temática podem dar pistas enviesar a leitura? Algumas palavras
sobre o propósito do conteúdo aparecem em caixa-alta (aquele
em questão. Além disso, o usuário famoso CAPS LOCK LIGADO) no
pode se questionar sobre qual o título ou corpo do texto? Esses
sentimento que aquela mensagem recursos costumam ser utilizados
lhe causa. A maioria das notícias para criar reações emocionais nos
falsas tende a inspirar sentimentos leitores e são evitados em textos
fortes nos leitores, como indignação jornalísticos. O design da página
ou grande surpresa, fazendo com que e escolha de fontes parece ruim
o leitor se sinta com necessidade de ou o texto mal escrito? A baixa
compartilhar aquele sentimento – e qualidade também é característica
conteúdo – com suas redes. das notícias falsas. Bem como o uso
da caixa-alta, esses sites costumam
6. EXECUÇÃO apresentar erros gramaticais,
O modo como o conteúdo é imagens sensacionalistas (que muitas
produzido e apresentado também vezes foram manipuladas) e manter
dá pistas sobre a veracidade do que diversos anúncios pela página (muito
está sendo veiculado. Estilo de texto, mais do que qualquer outro veículo
gramática, tom, escolha de imagens, confiável) ou mesmo propagandas
posicionamento e layout são alguns em pop-ups difíceis de fechar (que
elementos que podem dar indicações você acaba clicando e abrindo antes
sobre a credibilidade da publicação. mesmo de conseguir fechar).
Outra pergunta essencial é: como é Portuguesa e diretor de ensino na
a URL da página? A maioria das URLs Secretaria Municipal de Lages (SC). As
confiáveis termina em “.com”, “.net”, oportunidades são inúmeras, focadas
“.org” e as do governo em “.gov”. As em cada área do conhecimento.
de conteúdos duvidosos costumam
usar outros domínios, como “.co” Uma das possibilidades em Língua
(que também pode ser o domínio dos Portuguesa é explorar o tema
sites da Colômbia, mas caso veja um dentro do campo jornalístico/
conteúdo em português com domínio midiático proposto pela Base.
colombiano, desconfie!). Se o domínio Para Carlos Eduardo, é necessário
for “.wordpress” ou “.blogger”, vale sobretudo trabalhar com as
lembrar que se tratam geralmente estruturas composicionais dos
de publicações pessoais e, portanto, textos, problematizar as informações
são opiniões. E opinião cada um tem trazidas, comparar textos de
a sua, mas isso não a torna um fato diferentes publicações para verificar
verdadeiro. Além disso, alguns sites como um mesmo tema é tratado
costumam usar endereços muito em diferentes veículos. Ele pontua
parecidos com o de publicações de que esse processo não cabe apenas
credibilidade, copiando até mesmo o aos professores da disciplina. “As
layout (mas sem a mesma qualidade). mídias trazem informações sobre
Em uma olhada rápida, podem todas as áreas e apontam para a
ser facilmente confundidos. URLs necessidade de trabalhar o tema
aleatórias, com nomes estranhos, de modo interdisciplinar já que
também merecem desconfiança. pedem e trazem conhecimentos das
diferentes áreas”.
Como a escola pode levar
o tema para a sala de aula? Os alunos dos 6º e 8º anos e do
Ensino Médio possuem uma base de
As diretrizes da Base Nacional aprendizados que lhes permite fazer
Comum Curricular trazem a verificações mais complexas, que
necessidade de trabalhar com envolvam, por exemplo, busca reversa
novos letramentos, os digitais e de imagens para checar possíveis
os multiletramentos. Apesar de montagens ou antecedentes de
ser melhor explorado em Língua publicação daquela foto e raspagem
Portuguesa a partir do 6º ano do de dados. No entanto, na prática
Fundamental, o letramento midiático convencional da interpretação de
deve ser transversal às séries e texto, é possível adicionar parte
componentes curriculares. “Desde desse conhecimento desde que as
cedo as crianças podem e devem crianças e jovens aprendam a ler
ter contato com o tema porque os princípios básicos da checagem
já faz parte da vida delas”, afirma de informações, aplicando o
Carlos Eduardo Canani, mestre conhecimento até mesmo em um
em Educação, professor de Língua texto do livro didático.
“O professor pode sempre inserir
a busca de contexto e fontes, seja
na autoria do livro ou nos textos de
terceiros que são utilizados e citados
no livro”, sugere Pollyana Ferrari.
Para a professora de hipermídia, o
importante é estimular a criança a se
questionar e ir atrás de informações.
“Isso é possível fazer na lousa ou em
um espaço ao ar livre, não precisa
necessariamente de internet ou
chegar na verificação em sala”.
Utilizar os próprios conteúdos Quando se trata do trabalho de
suspeitos que os alunos receberam temas transversais, é muito comum
nos grupos dos quais participam no as escolas proporem trabalhos
WhatsApp pode ser um bom material pontuais e isolados sobre esses
de trabalho por já estar inserido no temas. Mas eles não são suficientes
dia a dia dos estudantes. para garantir o letramento midiático.
“Fica um trabalho fragmentado e não
“São os assuntos do trending topic representa aprendizado e formação
[os conteúdos mais acessados] de leitores críticos”, considera
que abastessem as notícias falsas, Carlos Eduardo. Outros equívocos
não aqueles dos quais ninguém comuns, de acordo com o professor,
está falando”, atenta Pollyana. é pensar que o trabalho com gêneros
Esses assuntos podem embasar midiáticos garante o letramento e
práticas de sala de aula sem entrar que inserir o digital é trabalhar com
em questões políticas. “Opiniões, letramento midiático. “O professor
cada indivíduo e família tem as precisa pensar no desenvolvimento
suas. Mas fato é fato. Se o tema é de estratégias para garantir isso”.
o aumento da mortalidade infantil,
vamos ver se isso é um dado? Veio de O trabalho é contínuo ao longo de
onde? Aumentou quanto? Por quê? toda a Educação Básica. “E quando
Aumentou a pobreza?”, exemplifica. este aluno chegar ao Ensino Médio,
Para ser uma experiência conectada imagine que bagagem! Ele não vai
com a realidade, ela precisa ser acreditar só porque está circulando”,
próxima do universo e temas com diz Pollyana. “Ele vai questionar a
os quais os alunos se deparam nas informação que está na TV aberta,
mídias digitais. “Trabalhar as mentiras vai questionar o filme no cinema,
sobre a II Guerra Mundial é legal. Mas uma frase machista ou homofóbica
essa criança nasceu em 2010, é bem que ouviu, vai ter mais consciência
difícil se conectar com esse tema. ao compartilhar conteúdos. Isso é
Quanto mais próximo, mais fácil é que letramento midiático”, define. E, na
ele se aproprie do conhecimento”. dúvida, não compartilhe!
O que diz a BNCC sobre o tema Essa consideração dos novos e
multiletramentos; e das práticas da
“A viralização de conteúdos/publicações cultura digital no currículo não contribui
fomenta fenômenos como o da pós- somente para que uma participação
verdade, em que as opiniões importam mais efetiva e crítica nas práticas
mais do que os fatos em si. Nesse contemporâneas de linguagem por
contexto, torna-se menos importante parte dos estudantes possa ter
checar/verificar se algo aconteceu lugar, mas permite também que se
do que simplesmente acreditar que possa ter em mente mais do que um
aconteceu (já que isso vai ao encontro “usuário da língua/das linguagens”,
da própria opinião ou perspectiva). [...] na direção do que alguns autores
vão denominar de designer: alguém
Eis, então, a demanda que se coloca que toma algo que já existe (inclusive
para a escola: contemplar de forma textos escritos), mescla, remixa,
crítica essas novas práticas de transforma, redistribui, produzindo
linguagem e produções, não só na novos sentidos, processo que alguns
perspectiva de atender às muitas autores associam à criatividade.
demandas sociais que convergem para Parte do sentido de criatividade em
um uso qualificado e ético das TDIC – circulação nos dias atuais (“economias
necessário para o mundo do trabalho, criativas”, “cidades criativas” etc.)
para estudar, para a vida cotidiana etc. tem algum tipo de relação com esses
–, mas de também fomentar o debate fenômenos de reciclagem, mistura,
e outras demandas sociais que cercam apropriação e redistribuição. Dessa
essas práticas e usos. É preciso saber forma, a BNCC procura contemplar a
reconhecer os discursos de ódio, refletir cultura digital, diferentes linguagens e
sobre os limites entre liberdade de diferentes letramentos, desde aqueles
expressão e ataque a direitos, aprender basicamente lineares, com baixo nível
a debater ideias, considerando posições de hipertextualidade, até aqueles que
e argumentos contrários.[...] envolvem a hipermídia.”
VÍDEO AJUDA A IDENTIFICAR
NOTÍCIA FALSA EM 2 MINUTOS 3

https://www.youtube.com/watch?v=iTJYMJAQLpQ

Com o avanço da tecnologia, a visa justamente formar cidadãos


produção e publicação de conteúdos críticos e aptos a interpretarem as
está a alguns cliques de alcance. Nesse informações as quais são expostos
universo, notícias falsas, satíricas diariamente. Quer saber ao que se
e caça-cliques se confundem com atentar diante de uma notícia? Neste
informações confiáveis gerando vídeo, você confere as principais dicas
desinformação entre os leitores. A do que precisa saber para não cair em
Educação (ou alfabetização) midiática uma notícia falsa.
COMO FALAR SOBRE NOTÍCIAS
FALSAS EM SALA DE AULA 4

“ Eu tenho um jeito fácil de saber se


uma notícia é falsa: pergunto para
mainha. Se mainha compartilhou no
O professor Ivan Paganotti leciona uma
disciplina que trabalha o letramento
midiático e todas as discussões que o
zap e acredita na notícia, eu sei que é envolvem no Colégio Stockler, em São
falsa”, brincou um estudante da Escola Paulo, há 12 anos. “A ideia é preparar
de Referência em Ensino Médio Alberto os alunos para ler criticamente as
Torres, em Pernambuco. informações, opiniões, narrativas
que eles recebem por meio das mais
Notícias falsas e correntes de diversas comunicações”, explica.
WhatsApp estão na boca dos alunos,
não tem como fugir desse problema. Nem toda escola tem a estrutura de
Em vez disso, é possível torná-las uma uma disciplina específica voltada à
oportunidade de aprendizagem, para análise e produção de mídia em sua
que seus alunos entrem em contato grade curricular. Como abordar o
com o chamado Letramento Midiático tema das notícias falsas e da análise
e possam compreender quando estão de mídia, encaixando-o no currículo.
sendo ludibriados na internet. Veja a seguir os principais aspectos.
1. Promova um debate

A professora Sônia Maria Alves


Domingues, da E.M. Paulo Freire, em
Curitiba, se preocupou quando viu uma
notícia, baseada em uma pesquisa da
Universidade de Stanford, que afirmava
que a maioria dos estudantes não
sabia identificar uma notícia falsa, e
decidiu levar o tema para a escola.
Depois de uma conversa inicial sobre o
que a turma sabia sobre fake news (o
termo em inglês para notícias falsas),
a professora pediu para que eles
imaginassem um comunicado: “Durante “Peguei algumas notícias da internet e
uma semana não haverá aula na Escola perguntei aos alunos se eles achavam
Paulo Freire”, e perguntou: Isso é que aquelas informações eram
verdade ou mentira? confiáveis ou não”, lembra Margarete.
Houve uma turma, mais escolada
“Claro que é fake”, disseram os alunos, no uso da rede, que logo percebeu
e apontaram que o comunicado não que havia coisa errada ali. Outros,
tinha data e não era assinado pela acreditaram em todos os textos. “Como
direção da escola. “Três meses depois, podemos verificar se essa notícia é
eu já vejo um avanço na discussão, verídica? Por que vocês acham que
porque eles sempre trazem notícias ela é falsa?”, provocou a professora.
que receberam no celular e debatemos Logo formou-se um debate. “Foi
se é verdade ou não. Eles já falam que interessante ver os argumentos que
não é verdade porque verificaram em eles usavam, cada um defendendo um
outros sites, por exemplo”, conta Sônia. ponto de vista”, lembra.
A professora procura não dar respostas
prontas quando é questionada pelos Um grupo apontava detalhes que
alunos, mas levantar provocações o outro não estava observando,
e questionamentos para que eles como a fonte da notícia, a data, e em
próprios discutam o assunto. seguida o grupo conversou sobre a
necessidade de checar os conteúdos
Na cidade de Encantado (RS), a que recebem nas redes sociais. “Mostrei
professora Margarete Lourdes Fachi, o cuidado que eles devem ter ao ler
de Linguagens, se preocupou com a uma notícia: buscar mais de uma
falta de senso crítico de seus alunos do fonte, não confiar somente nas redes
6º ao 9º anos do Instituto Estadual de sociais, buscar a mesma informação
Educação Monsenhor Scalabrini, que em outros lugares, como sites de
acreditavam em tudo o que viam nas jornais, que têm trabalhos jornalísticos
redes sociais. mais tradicionais”, conta Margarete.
2. Coloque os alunos para 3. Ensine os alunos a checar dados
pesquisar com a comunidade e citações

Pode ser uma pesquisa com a Na EREM Alberto Torres, em Recife (PE),
população do entorno, um quizz ou o professor Eduardo de Santana Romão
até uma enquete online. O que vale é de Andrade notou que alunos do 3º ano
fazer as crianças entenderem como a usavam dados e citações sem critério,
comunidade consome esses conteúdos apenas para deixar o texto mais bonito.
que são compartilhados entre eles. Isso “Eles viam informações na internet,
ajuda os estudantes a perceber que do tipo ‘Pabllo Vittar é vice de Lula’
o tema estudado em sala de aula faz e colocavam na redação. Quando eu
parte de uma conjuntura maior, que questionava, eles diziam ‘Não professor,
afeta toda a sociedade. mas eu peguei da internet’”, conta.

Em Recife (PE), a professora Maria Para resolver, Eduardo colocou os


José de Oliveira Fagundes, da Escola alunos para checar. De posse dos
Municipal Divino Espírito Santo, celulares, a turma pesquisou as
conversou com suas turmas de 9º informações nas redações, checando
ano sobre o tema e colocou-os para os pontos apontados pelo professor. “A
recolher impressões da comunidade. gente tinha uma lista de itens que eles
A escola fica localizada atrás de um deveriam marcar: tem data? A pessoa
movimentado terminal de ônibus. que escreveu assina? A pessoa tem
Os passantes tiveram que responder outros textos publicados? O site em
perguntas como “Você sabe o que são que ela publicou é confiável? Até filtrar
notícias falsas?”, “Você compartilha as o que era sensato e o que não era”.
notícias que recebe nas redes sociais?”
e “Você checa se uma notícia é verdade As citações de autores famosos
quando recebe pelo WhatsApp?”. também foram tema de desconfiança.
“Pedi para eles pesquisarem citações
Com ajuda do professor de de Clarice Lispector na internet.
Matemática, a ideia de Maria José é Depois, fomos verificar: eles jogaram
ensinar aos alunos como recolher os as aspas no Google e encontraram
dados tabulados e transformar aqueles a mesma citação sendo creditada a
questionários em gráficos e tabelas Caio Fernando de Abreu e Gregório
que mostrem de maneira clara qual é a de Matos. Eu disse: se tem o mesmo
compreensão do assunto. texto sendo creditado a três pessoas
diferentes, alguma coisa está errada.
Analisando as respostas, já dava para Como vamos fazer para saber em
perceber que muitos respondentes quem confiar?” Navegando pelos
não sabiam o que eram notícias falsas, resultados de busca, a turma foi
diziam que recebiam, sim, notícias aplicando a lista de checagem que eles
pelo aplicativo WhatsApp, mas não já tinham para selecionar os sites que
verificavam sua veracidade. consideravam mais seguros.
4. Experimente produção de mídia Algumas crianças desconfiaram,
a maioria espalhou para outras e
Educação midiática também é tomou como verdade que o recreio
produção midiática. “Qualquer aluno teria 40 minutos e continuaram
que tem uma conta em rede social é brincando no pátio como se não
um produtor de conteúdo, e algumas precisassem voltar para a sala de
vezes, não percebe a responsabilidade aula. Ninguém consultou um adulto
que tem sobre esses conteúdos e como sobre a veracidade da informação.
pode fazer essa produção de maneira
responsável”, explica Ivan Paganotti. A Micheli coletou o depoimento de
ideia é que, ao produzir conteúdos, em alunos em áudio, e seu projeto é
qualquer idade, os alunos se tornem iniciar a produção de podcasts sobre
consumidores mais conscientes. a experiência. Outros professores
da rede também têm liberdade de
A rede municipal de Curitiba tem produzir conteúdos midiáticos, de
um jornal eletrônico, com conteúdos acordo com o perfil de seus alunos:
postados pelos alunos. “Os professores eles podem alimentar o jornal virtual
entram no sistema para corrigir da rede, ou produzir os seus próprios.
ortografia e ver se há algum equívoco
conceitual”, diz Sandra Mara Castro 5. Mostre como imagens podem ser
dos Santos, da Coordenadoria de manipuladas
Tecnologias Digitais e Inovação da
Secretaria de Educação de Curitiba. O professor Geraldo Seara, na Bahia,
participa do programa de difusão e
Cada escola tem a sua página dentro do compartilhamento de mídias da rede
jornal virtual, que pode ser alimentada pública estadual. Além de produzir
com corbertura de eventos e textos conteúdos, ele oferece formação
produzidos pelos alunos sobre o que de professores e estudantes para
aprenderam. Alguns textos, produzidos apropriações tecnológicas.
por crianças de 9 e 10 anos, são
justamente sobre o que são notícias falsas. Um velho exercício de cinema e
interpretação chamado “efeito
A professora da rede curitibana Micheli Kuleshov” é reproduzido com os
Bárbara Soares Panzarini leciona para o aprendizes: alguém é orientado a
4º ano da Escola Municipal Sady Sousa, fazer “cara de paisagem”, enquanto
e combinou com um grupo de alunos é filmado. Na hora da edição, o rosto
para espalhar uma “fake news” para os do ator é intercalado com imagens
colegas: a de que o recreio teria mais que causam sensações diferentes no
tempo. Cada criança tinha a “missão” de espectador. “Através da associação
contar a outras duas essa notícia. “A ideia de imagens, uma ideia associada a
era ver qual seria o comportamento: eles outra produz uma terceira: os objetos
contariam para outros? Eles checariam a interferem na maneira como lemos o
informação com algum adulto?”. rosto do ator”, explica o professor.

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