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Pensar o futuro, reforçar a esperança!

Escatologia, reino de Deus e história

Claudio de Oliveira Ribeiro

“O Reino de Deus é semelhante ao fermento que uma


mulher tomou e escondeu em três medidas de fari-
nha, até tudo ficar levedado”. (Lucas 13,18-19)

Resumo

Análise da situação religiosa atual no tocante às


questões escatológicas. Apresenta conceitos básicos
para o estudo da escatologia e para a relação entre
salvação e história. Avalia as perspectivas demasia-
damente intra-históricas da compreensão do Reino
de Deus e indica que a noção do Reino para além
a história é iluminação teológica fundamental para o
tempo presente.

Palavras-chave

Reino de Deus – utopia – salvação – nova criação


– ressurreição.

Doutor em Teologia pela


Pontifícia Universidade Católica–
RJ. Trabalha como professor
de Teologia Sistemática da
Universidade Metodista de
São Paulo e do programa de
pós-graduação em Ciências
de Religião. É pastor da Igreja
Metodista na comunidade de
Jardim Santo André, Santo
André-SP. Endereço eletrônico:
claudio.ribeiro@metodista.br
Thinking of the future is reinforcing hope!

Eschatology, kingdom of God and history

Claudio de Oliveira Ribeiro

Abstract

This article is an analysis of the present religious si-


tuation concerning eschatological issues. It presents
basic concepts for the study of Eschatology and for
the relationship between salvation and history. It
evaluates the over intra-historical perspectives of the
understanding of the Kingdom of God and indicates
that the notion of the Kingdom beyond history is a
fundamental theological illumination for the present
time.

Keywords

Kingdom of God, utopia, salvation, new creation,


Ressurrection.

Doctor of Theology by Pontifícia


Universidade Católica-RJ,
he works as a professor of
systematic theology at the
Faculty of Theology, Methodist
University in São Paulo, and as a
pastor in the Jardim Santo André
Community in Santo André, SP.
Electronic address:
claudio.ribeiro@metodista.br
¡Pensar el futuro, reforzar la esperanza!

Escatología, reino de Dios e historia

Claudio de Oliveira Ribeiro

Resumen

Análisis de la situación religiosa actual en lo que se


refiere a las cuestiones escatológicas. Presenta con-
ceptos básicos para el estudio de la escatología y para
la relación entre salvación e historia. Evalúa las pers-
pectivas excesivamente intra-históricas de la com-
prensión del Reino de Dios e indica que la noción de
Reino que va más allá de la historia es iluminación
teológica fundamental para el tiempo presente.

Palabras clave

Reino de Dios – utopía – salvación – nueva creación


– resurrección.

Doctor en teología por la


Pontificia Universidad Católica
– RJ. Trabaja como profesor
de Teología Sistemática en
la Universidad Metodista de
São Paulo y como pastor en
la comunidad de Jardín Santo
André, Santo André –SP.
Correo electrónico:
claudio.ribeiro@metodista.br
Introdução ram ou mesmo inviabilizaram uma inter-
venção positiva dos cristãos na sociedade
brasileira que significasse esforços com
Quando eu era criança, nos bancos da
vistas à transformação social no presente.
Igreja Metodista de Volta Redonda-RJ, fi-
Trata-se da visão majoritária dos primei-
cava impressionado quando pregadores
ros pregadores, estrangeiros e nacionais,
falavam com convicção sobre o futuro.
e essa foi a perspectiva que prevaleceu na
Demarcavam nitidamente, por um lado,
formação das igrejas locais e paróquias. É
a realidade temporal – o aqui-e-agora,
possível dizer que este seria um primeiro
as fragilidades humanas vividas no tem-
e caudaloso ‘rio’ que deságua na realidade
po presente como a dor, o sofrimento, as
das igrejas hoje. A mentalidade das igre-
angústias –, e por outro, a realidade por
jas foi por ele formada.
vir – escatológica, liberta das injunções da
realidade humana e mundana, um tempo À forte influência destas ênfases, jun-
futuro de prazer, gozo e felicidade comple- tou-se o fundamentalismo bíblico. Este,
ta. Era o céu, para o qual todos poderiam entre outros aspectos, não permitia que
ir num futuro, desde que aceitassem se os crentes, ao lerem a Bíblia, descobris-
tornar ‘crentes’ e seguir o padrão de vida sem que a delicada tarefa dos primeiros
adotado pela igreja. No futuro, estaria cristãos de saber e pregar o futuro era
também o inferno para os que rejeitassem uma aventura espiritual de intensa mobi-
a possibilidade do céu. lização existencial, era um “salto no escu-
ro”, eram atitudes de constante revisão.
O que vai ocorrer no futuro mobiliza
Na verdade, eles não sabiam de antemão.
a atenção das pessoas. Trata-se de inda-
O futuro é de Deus e “um dia pode ser
gação filosófica fundamental. Quem sabe
como mil anos”.
o que ocorrerá no futuro – próximo ou
distante – acumula poder de salvação e Com o tempo, comecei a desconfiar da
de dominação. Pode persuadir, agir em visão de futuro que o pietismo, o dualis-
favor, interpretar o passado e o futuro. A mo religioso e o fundamentalismo haviam
teologia e a pastoral não puderam, histo- construído. Achava que se tratava de uma
ricamente, escolher se teriam ou não este perspectiva medieval, pré-moderna; uma
poder. Deus, que está no futuro, no pre- mensagem que se referia a um mundo es-
sente e no passado, se revelou. Partilhou condido, invisível na sua parte mais im-
com a humanidade os seus planos. Quem portante, cuja promessa era a vida futura
sabe desses planos está eleito, embora a invisível, ganha com a renúncia da vida
destinação destes projetos de Deus seja presente. Nesta época – final dos anos de
universal, ou seja, para todos. 1970 – eu era adolescente, estava na fa-
As temáticas sobre o fim do mundo ou culdade, atuante nas atividades da igreja,
sobre a vida após a morte – enfim, sobre mas começava a achar que Jesus não vol-
o futuro – sempre estiveram presentes na taria em breve, como ouvira anteriormen-
vida das igrejas. No Brasil, as igrejas evan- te. Muitos fatos e movimentos ocorriam na
gélicas, em função da mentalidade dos sociedade brasileira e no mundo todo que
movimentos missionários e avivalistas que se o futuro incidisse de forma iminente no
prevaleceu no século XIX, em especial nos presente, os valiosos esforços de promo-
Estados Unidos, receberam esta pregação. ção humana e mudança social poderiam
No campo católico há similaridades. parecer em vão. Comecei a me empolgar
com outras coisas.
As ênfases pietistas e dualistas da pre-
gação protestante foram acentuadas. As Nesse texto, estarão apresentados
dicotomias individual/social, igreja/mun- outros ‘rios’ teológicos que formam as
do, terra/céu, espiritual/material dificulta- margens do estudo da escatalogia. Obvia-

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mente, tudo como muita paixão, utopias sempre contribuíram para o fomento de
particulares e visões de mundo específi- práticas diferenciadas da visão hegemôni-
cas. Mesmo assim, espera-se oferecer ca “tradicional” já descrita. Neste sentido,
uma contribuição didática para os estudos participação dos cristãos nos movimentos
introdutórios da escatologia. sociais e comunitários, transformação so-
Após uma avaliação panorâmica da re- cial e construção do Reino de Deus são
alidade sociorreligiosa no tocante aos te- expressões recorrentes no interior das
mas escatológicos, serão indicados alguns igrejas, variando de intensidade de acordo
pressupostos para o estudo da escatolo- com a realidade de cada uma delas.
gia, com destaque para os temas relativos Todavia, não obstante a isso, mais do
ao Reino e Deus e à salvação. que a presença desta teologia foi marcan-
te a influência do liberalismo teológico.
Esta corrente, forte nos Estados Unidos e
1. A realidade das igrejas, na Europa, especialmente no século retra-
sado, está presente no Brasil, embora um
a teologia e o futuro
tanto quanto desfigurada em relação às
suas bases teóricas. De alguma forma o
Considerando a escatologia escapis- “Evangelho Social”, inspirado nas idéias de
ta e dualista que foi anteriormente apre- Walter Rauschenbusch (1861–1918) indi-
sentada como um ‘rio’ que desaguou no cava, no Brasil, desde o início do século
Brasil, podemos também falar que há um XX, suas pautas pastorais.
segundo rio, não tão caudaloso assim,
No campo da experiência judaico-
que forma a mentalidade das comunida-
cristã, as tensões entre fé e razão estão
des e de lideranças das igrejas no Brasil.
presentes desde os primórdios. Cada mo-
Trata-se do engajamento social e político
mento histórico expressou formas diferen-
dos cristãos. É possível que haja consenso
ciadas de tensão, mas foi, sobretudo, no
teológico para afirmar que esta perspecti-
século XIX, após os impactos do Raciona-
va remonta às bases bíblicas do Êxodo, do
lismo e do Iluminismo na civilização oci-
profetismo em Israel e das experiências dental, que a teologia precisou enfrentar
de diaconia e de martírio nas primeiras mais detidamente as questões relativas
comunidades cristãs. ao método científico. No referido século,
Ao longo da história, a visão teológica o liberalismo teológico de Friedrich Sch-
e pastoral que está delimitada pelas pro- leiermacher (1768–1834), Albrecht Ritschl
postas de inserção dos cristãos em proces- (1822–1899), Adolf Harnach (1851–1930)
sos de transformação social obteve várias e outros, foi a expressão que mais forte-
e diferentes conformações – o que merece mente demonstrou o interesse pela arti-
um estudo à parte. Todas estas experiên- culação entre fé e ciência, e entre teologia
cias foram vividas dentro das contradições e história.
e dos conflitos próprios de cada época e de As ênfases da Teologia Liberal e os
cada contexto cultural. aspectos metodológicos principais dessa
No atual contexto eclesial brasileiro, a corrente formaram um criativo amálga-
preocupação e a responsabilidade social ma no qual houve uma dupla interação
dos cristãos é um fato. Por aceitação ou e influência mútua. Entre as ênfases do
rejeição, a Teologia Latino-Americana da liberalismo teológico podem ser listadas:
Libertação, por exemplo, forma, em parte, a busca de aproximação entre teologia e
a mentalidade das comunidades locais, das ciências e entre fé e racionalidade moder-
instituições e das lideranças leigas e cléri- na; visão antropológica positiva, com forte
gas. As intuições desta corrente teológica expectativa em relação à educação como

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possibilidade de promoção humana; rela- mo. A outra – a neo-ortodoxia teológica
tivização das perspectivas cristocêntricas – de Karl Barth (1886–1968), Emil Brun-
e eclesiocêntricas com vistas à perspectiva ner (1889–1966), Dietrich Bonhoeffer
universalistas e seculares; abertura para (1906–1945) e outros, não foi sequer co-
as questões próprias da relação Igreja e nhecida pelos líderes das igrejas no Bra-
sociedade e a valorização do mundo como sil. Se a crítica teológica ao triunfalismo
espaço do Reino de Deus; valorização da utópico do liberalismo, à sua escatologia
exegese bíblica e uma conseqüente visão intra-histórica, ao seu otimismo antropo-
histórico-crítica da Bíblia; aceitação dos lógico, realizada sobre as sombras e os
valores culturais modernos; reforço das escombros das guerras mundiais, da dor,
dimensões da individualidade e da subje- da morte e da perseguição fossem ouvidas
tividade reduzindo a religião à esfera dos anteriormente, o entusiasmo progressista
sentimentos; interpretação predominan- de muitos de nós poderia ter sido alimen-
temente ética do cristianismo, em especial tado pela visão de que o Reino é de Deus
em relação ao dado salvífico.1 e, por gratuidade e por despojamento di-
O liberalismo teológico foi encantador vinos, ele chega até nós.
porque pregava o futuro que se avizinhava Em contraposição ao liberalismo, a co-
do presente. Acreditou-se que, de fato, “o nhecida neo-ortodoxia teológica ou Teolo-
Reino de Deus está próximo”. Era possível gia Dialética, realçou, no século XX, outra
construí-lo, ver sinais cada vez mais nítidos metodologia teológica. As ênfases dessa
e crescentes da implantação do Reino. Nes- corrente revelam a inovação que a refle-
sa concepção, o ser humano é bom, é rea- xão teológica vivenciou. Entre elas desta-
lizador e o mundo caminha para a paz tão cam-se: o esforço em não aprisionar a re-
sonhada; a educação, uma vez propiciada flexão teológica aos limites da razão, des-
a todos, possibilitará evolução social, cons- tacando para isso os elementos da fé, da
cientização ética e justiça social. Orques- graça e do absoluto; a visão antropológica
trando todo este projeto utópico, estava a negativa, baseada na corrupção humana
razão iluminista. resultante dos processos socioculturais;
No senso comum das críticas oriundas um destaque para o caráter cristológico e
dos setores pastorais mais conservadores eclesiológico da reflexão teológica cristã;
no Brasil, ser liberal era não cumprir as leis avaliação teológica permanente dos pro-
da moralidade protestante como não fu- blemas sociais e políticos e as implicações
mar, não tomar bebida alcoólica e outras. deles para a fé cristã e para a Igreja; de-
Este reducionismo na crítica dificulta, por fesa da centralidade da Bíblia na vida da
exemplo, se ensinar hoje nos seminários Igreja e na reflexão teológica, consideran-
que o liberalismo teológico baseia-se no ri- do os avanços da pesquisa e da exegese
gor ético. Também representa um estudo à bíblica; crítica aos valores da sociedade a
parte as influências do pensamento teoló- partir de uma correlação com a fé cristã;
gico liberal para o contexto eclesial. distinção entre fé e religião, destacando a
Se é possível lamentar a história, po- primeira como elemento fundamental da
deria-se fazer referência às duas grandes vida, que chega ao ser humano como dá-
reações ao liberalismo, das quais apenas diva graciosa de Deus.
uma chegou ao Brasil: o fundamentalis- No entanto, o que interessa mais objeti-
vamente nesta reflexão é que a perspectiva
1
Não há abundante bibliografia em português sobre teológica liberal, em síntese e como tendên-
o liberalismo teológico. Para sínteses, veja: H. R. cia, trouxe as expectativas escatológicas
Mackintosh. Teologia moderna: de Schleiermacher
a Bultmann. São Paulo-SP, Novo Século, 2002; e para dentro da história, acreditou na “mão
VV.AA. Teologia e modernidade. São Paulo-SP, Novo invisível” da educação e reduziu a espiritua-
Século, 2005.

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lidade à ética do seguimento de Jesus. socioanalíticas’. (3) A consciência do con-
Alguns teólogos, líderes eclesiásticos e dicionamento socioeconômico da teologia
integrantes de movimentos pastorais bebe- e da igreja e a crítica de ambos a partir
ram porções consideráveis da água deste da ótica da libertação histórica dos pobres.
rio. Todavia, no campo protestante, foi, (4) A perspectiva de a reflexão teológica
sobretudo, o casamento da Teologia Libe- estar a serviço da transformação da socie-
ral com a Teologia da Libertação que pos- dade, com indicações práticas e concretas
sibilitou o estabelecimento de um grupo e de caminhos históricos de libertação socio-
de práticas denominado usualmente como política. Nesse sentido, a Teologia da Liber-
“progressistas”, com a ênfase na “constru- tação não se esgota no âmbito acadêmico.
ção” do Reino. Tal perspectiva possui, dire- (5) O lugar central da economia na reflexão
ta ou indiretamente, a referência utópica teológica para, entre outros aspectos, es-
do socialismo, que, por seu turno, é tam- tabelecer uma crítica ao messianismo tec-
bém intra-histórica. nologista, às relações entre capital e tra-
balho, e vislumbrar alternativas de cunho
A Teologia da Libertação, embora con-
socialista.2
te em seus primórdios (1968-1971) com
uma produção de teólogos protestantes A “nova forma de ser Igreja” relacio-
como Rubem Alves e José Miguez-Bonino, nada à Teologia da Libertação está vincu-
se desenvolveu mais no ambiente católico lada às possibilidades de transformação
romano, em especial, a partir das práticas social e política e possui como uma das
das Comunidades Eclesiais de Base e das referências centrais a busca por uma so-
Pastorais Setoriais. Isto não significa au- ciedade igualitária, participativa e firmada
sência de seus postulados na vida das igre- nos princípios bíblicos da justiça social. Tal
jas evangélicas. Ao contrário, já se afirmou proposta representa, desde os primórdios,
o grau de influência da Teologia da Liberta- uma contraposição ao modelo econômi-
ção no contexto pastoral protestante. co capitalista, devido ao seu caráter ex-
cludente e concentrador de riquezas para
O fato é que a novidade metodológica,
grupos minoritários. Nesse contexto, a
o apelo de articulação entre teoria e prá-
Teologia da Libertação – de Gustavo Gu-
tica, a experiência de leitura da Bíblia por
tierrez, dos irmãos Leonardo e Clodovis
grupos populares, e uma sensibilidade es-
Boff, José Comblin, José Miguez-Bonino,
pecial pela realidade desumana e opressi-
Julio de Santa Ana, Elza Tamez e tantos
va vivida pelas populações empobrecidas
outros – como elaboração teórica, procu-
geraram, na América Latina, entusiasmo e
ra compreender a realidade por meio de
novas perspectivas eclesiais e sociopolíti-
mediações científicas, julgá-la mediante a
cas a partir da década de 1960.
tradição bíblica, com destaque para o as-
Entre diferentes análises, pelo menos pecto profético, e indicar uma nova inser-
cinco pontos podem caracterizar a teologia ção prática dos cristãos.
latino-americana da libertação: (1) A práxis
A ênfase intra-histórica da teologia
de libertação dos pobres e o compromisso
latino-americana não esteve dissociada
evangélico de outros setores sociais com
da reflexão escatológica.3 Todavia, o fu-
eles. A consciência dessa práxis gera uma
turo sonhado não está tão perto como
nova linguagem religiosa e teológica, fru-
imaginávamos.
to da relação dialética entre práxis e teoria
presente na metodologia desse novo pen-
sar teológico. (2) A necessidade de análise 2
Cf. Jung Mo Sung. Teologia e economia: repensando a
científica da realidade social com o recurso Teologia da Libertação e utopias. Petrópolis-RJ, Vozes,
1994.
da teoria da dependência e, posteriormen- 3
Uma obra de referência é Escatologia cristã: o novo
céu e a nova terra. Petrópolis-RJ, Vozes, 1985, de
te, com o que se denominou ‘mediações
João Batista Libânio e Maria Clara L. Bingemer.

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As últimas décadas do século XX de- par visões como a “Confissão Positiva”
safiaram enormemente os cientistas da (não aceitação da fragilidade humana), o
religião. No caso das igrejas brasileiras, o “Rhema” (poder direto de Deus concedido
leque de influências filosóficas e teológi- pessoalmente aos crentes), a “Batalha Es-
cas é tamanho que se torna árdua tarefa piritual” (deslocamento religioso para ex-
descrever o cotidiano doutrinário, teológico plicações dos projetos históricos) e a “Vida
e prático de uma comunidade local. Para na Bênção” ou “na Graça” (transferência da
continuar com a metáfora, podemos dizer escatologia para a vida terrena).
que muitos e diferentes ‘rios’ têm desagua- O fato é que esta perspectiva religio-
do no mesmo lugar. sa encontra-se em sintonia com o estágio
Em primeiro lugar, é necessário destacar de desenvolvimento do sistema capitalista.
que o processo de secularização vivido em Se considerar o fato de que o socialismo
meio à modernidade não produziu, como se real no final do século passado ruiu, en-
esperava, o desaparecimento ou a atenua- tre outros fatores, pela incapacidade de
ção das experiências religiosas. Ao contrá- prover o bem-estar social que estava no
rio, no campo cristão as formas pentecos- bojo de suas promessas utópicas e que o
tais e carismáticas ganharam apego popular, capitalismo, em sua face neoliberal, refor-
espaço social e base institucional, tanto no ça as idéias de que é possível a satisfação
mundo evangélico como no católico. Outras pessoal a partir do consumo, as propostas
religiões também vivenciam, no Brasil e no religiosas de prosperidade reúnem as me-
mundo, momentos de reflorescimento. lhores condições para alargar as margens
As novas formas religiosas são substi- do seu rio. Nesse sentido, a reflexão esca-
tutivas das tradicionais. Em certo sentido, tológica ganha cada vez mais relevância e
elas, por possuírem propostas globalizado- urgência.
ras e de resultados práticos e imediatos, Consciente da diversidade dos temas
respondem mais adequadamente ao mito escatológicos e que, mesmo com a indi-
moderno do progresso ilimitado (prospe- cação dos principais deles, não se daria
ridade). Elegem com nitidez inimigos e conta da complexidade situação religiosa
adversários, reais ou imaginários (como a pouco descrita, passo a apresentar al-
a ‘Nova Era’ e os desenhos de Walt Dis- guns aspectos introdutórios dos estudos
ney, por exemplo) e com isso mobilizam a escatológicos.
atenção de muitos com a sedução de que é
possível tornar o futuro presente.
Nas igrejas, por suposto, ainda correm 2. Identidade e
as águas dos dois primeiros rios. Todavia, pressupostos para o
é sobretudo a proposta de saúde e de ri-
queza pessoais, a explicação religiosa das
estudo da escatologia hoje
vicissitudes da vida e a melhoria (supos-
ta) da qualidade de vida pessoal é que têm
marcado mais substancialmente o cotidia- Primeira pressuposição:
no das igrejas. Parece óbvio afirmar que o Reino de Deus e Salvação
crescimento desta proposta se dá no Brasil,
em meio a um contexto de crescente exclu- A expressão “escatologia”, como se
são e desigualdade social e de decréscimo sabe, está relacionada a dois vocábulos
dos índices de qualidade de vida. gregos: éscathos (= “último”, “fim”) e
São muitos os traços e nuances desta logia (“discurso”, “tratado” “conhecimen-
perspectiva, o que dificulta enormemente to”). Na visão bíblica, a pregação escato-
as sínteses. No entanto, sob o nome de lógica deve ser associada à mensagem da
Teologia da Prosperidade podem se agru- Boa Nova. Ela deve gerar esperança para

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a vida das pessoas e grupos. Não se trata renovação e transformação do presente”.6
de algo que vá impor medo ou fazer com Nesse sentido, é possível afirmar que de-
que as pessoas “escapem” da realidade da pendendo da visão escatológica, o con-
vida. O Apocalipse (revelação) é base da ceito de missão, por exemplo, altera-se
esperança e não de medo.4 profundamente. Uma pregação que apon-
Em sua Teologia da Esperança, Jürgen te simplesmente para o fim iminente do
mundo, não tende a gerar maior compro-
Moltmann afirma que a esperança
metimento com a integralidade da missão,
é chamada e capacitada para a trans- com a responsabilidade social da igreja e
formação criadora da realidade, pois com uma atuação mais eficaz e positiva no
possui uma perspectiva que se refere
mundo. A escatologia deve, ao contrário,
a toda a realidade. Tudo considerado,
a esperança da fé se pode tornar uma
entender onde Deus está atuando no mun-
fonte inesgotável para a imaginação do; deve sempre sinalizar uma esperança
criadora e inventora do amor. Ela pro- e um caminho a ser seguido. Ao mesmo
voca e produz perenemente ideais ante- tempo, a visão escatológica sempre rela-
cipatórios de amor em favor do homem
tiviza (ou seja, não coloca como algo ab-
e da terra, modelando ao mesmo tempo
as novas possibilidades emergentes à
soluto) o valor da história, no sentido de
luz do futuro prometido, e procurando, sempre apresentar um valor maior que vai
na medida do possível o melhor mundo além da realidade.
possível, porque o que está prometido é
O conceito bíblico fundamental para a
possibilidade total.5
escatologia é o do Reino de Deus. Reino
de Deus significa a vontade de Deus. Esse
Sabemos que as visões escatológicas
sentido bíblico se tornou obscuro por vá-
surgem de interpretações concretas da
rias razões, em especial porque no livro de
história, tanto no período bíblico como em
Mateus do Novo Testamento, por razões
outros momentos da história, no passado
bem específicas da cultura judaica, não se
e no presente. Tais visões devem cooperar
usou o termo Reino de Deus e sim Reino
para que as pessoas percebam mais ade-
dos Céus. Todavia, por razões fortemente
quadamente o amor e o propósito de Deus
pedagógicas, é importante frisar que são
para o mundo.
sinônimos. A expressão “dos Céus” é um
A escatologia deveria nortear toda substitutivo para “de Deus”, pois a comuni-
a estrutura da teologia e da ação práti- dade judaica para a qual o livro de Mateus
co-pastoral das igrejas. Nas palavras de foi destinado não admitia utilizar o nome
Jürgen Moltmann: “O cristianismo é to- de Deus freqüentemente. Mas, como se
tal e visceralmente escatologia, e não só sabe, o problema surgiu com a influência
a modo de apêndice; ele é perspectiva e da mentalidade helênica (grega) no pensa-
tendência para frente, e por isso mesmo, mento semítico (judaico). Enquanto para
os judeus “céus” significava Deus, para os
gregos significava uma realidade a-histó-
4
Para estudos introdutórios em escatologia, além das
obras á citadas veja: Jürgen Moltmann. A vinda de rica, etérea, “nas nuvens”; lugar à parte
Deus: Escatologia cristã. São LeopoldoRS, Unisinos,
onde os deuses reinavam soberanos. Mas,
2003; Alberto Fernando Roldán. Do terror à esperan-
ça: paradigmas para uma escatologia integral. Lon- como a influência de pensamentos de ori-
drina-PR, Descoberta Editora, 2001; Oscar Culmann.
gem grega se tornou forte, a palavra céus
Cristo e o tempo: Tempo e história no cristianismo
primitivo. São Paulo-SP Editora Custom, 2003; Luiz passou a ser (mal) compreendida como
Carlos Susin. Assim na terra como no céu: breviló-
um lugar fora da realidade presente, eté-
quio sobre escatologia e criação. Petrópolis-RJ, Vozes,
1995 Reinold Blanck. Escatologia da pessoa: vida, reo, a-histórico. Mas, Reino dos Céus quer
morte e ressurreição. São Paulo-SP, Paulus, 2000; Id.
Escatologia do mundo: o projeto cósmico de Deus.
dizer a vontade e a soberania de Deus.
São Paulo-SP, Paulus, 2001.
5
Teologia da Esperança: estudos sobre os fundamen-
tos e as conseqüências de uma escatologia cristã. São
Paulo-SP, ed. Teológica, 2003, p.43. 6
Id. Ibid, p. 22.

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A palavra “reino” está relacionada, em A escatologia representa uma forma das
um primeiro momento, à monarquia. A comunidades construírem, em linguagem
monarquia, como também sabemos, foi religiosa, a reafirmação de seus sonhos e
um desastre na vida do povo de Israel. esperanças fundamentais.
É um tema que ficou ‘engasgado’ na his- Na visão bíblica, portanto, conside-
tória, pois foi uma experiência que gerou rando tanto o Antigo como o Novo Testa-
uma ambigüidade: ao mesmo tempo em mento, o Reino de Deus possui um caráter
que deu uma certa visibilidade para Israel, duplo onde estão presentes os aspectos
gerou também uma certa confusão entre intra-histórico e trans-histórico. Trata-se
Deus e a figura do rei. Vemos no Antigo da clássica afirmação escatológica do “já”
Testamento que, de um modo geral, as e do “ainda não”. Ou seja, Deus está pre-
pessoas não encontraram nos reis uma sente no “meio de nós”, mas ainda guar-
legitimidade vinda de Deus, especialmen- damos um momento final onde essa pre-
te por eles não praticarem a justiça. Des- sença terá pleno reconhecimento.
sa forma, o reino possuiu para Israel um
A unidade da comunidade cristã, por
significado escatológico importantíssimo
exemplo, é uma antecipação da promes-
no sentido de resgatar a legitimidade do
sa escatológica do Reino de Deus que está
rei no mundo. Criou-se, assim, muitas e
presente entre nós, mas que somente ex-
variadas expectativas messiânicas de um
perimentaremos de maneira plena na con-
rei que teria a legitimidade de Deus para
sumação dos tempos. É também um sinal
“resgatar a sorte de Sião”.
da possibilidade de reconciliação entre os
O horizonte escatológico é utópico. A seres humanos e deles com Deus. Deus
palavra “utopia” está relacionada à “to- está acima de todas as coisas. A experi-
pos” (lugar) [lembramos assim da palavra ência real de ser alcançado por ele, não
“topografia”, no estudo da geografia]. A obstante as fragilidades e as imperfeições
partícula “u” refere-se à negação. Nes- humanas, gera, para o ser humano, uma
se sentido, em uma tradução literal seria vivência de misericórdia, generosidade,
“aquilo que não tem lugar”. Utopia tem o liberdade e segurança. É necessário acre-
sentido de meta. Em geral, é usada nos ditar que a ação de Deus é possível diante
livros como referência para a realidade das impossibilidades humanas e históricas.
histórica, para a vida. Por exemplo: a per- Isso gera na vida humana um sentimento
feição cristã é algo para ser alcançado, de esperança – reserva escatológica sem a
pois está entre o real e o não alcançado. A qual não se encontraria força para a cami-
utopia cristã refere-se ao Reino de Deus, nhada cristã em busca do Reino de Deus.
que já está presente, mas irá se realizar
plenamente somente no futuro, que é in-
Segunda pressuposição:
calculável.
História e salvação
A palavra utopia não pode ser com-
preendida como algo irrealizável, ainda A escatologia está relacionada à histó-
que o sentido da palavra seja “o que não ria e à doutrina da salvação. Em relação à
tem lugar”. A utopia alimenta e motiva a primeira, temos a pergunta teológica fun-
esperança para que a trajetória humana, damental que é “como perceber o amor
mesmo com alvo desconhecido, seja cons- e a presença de Deus olhando para os
truída passo a passo. A visão escatológica acontecimentos e processos históricos?”
tem como um de seus papéis importantes Ou seja, não se pode entender escatologia
o de orientar a vida de uma comunidade apenas como a reflexão sobre o fim (no
lançando perspectivas para que ela almeje sentido cronológico de término), mas é
alcançar os seus desejos mais profundos. imprescindível que pensemos também so-

40 Claudio de Oliveira RIBEIRO, Pensar o futuro, reforçar a esperança!


bre o fim (na visão kairológica de sentido, sonância com os escritos bíblicos, não se
de objetivo, de significado maior e profun- refere à salvação meramente individual,
do) da história. mas sim às dimensões pessoal, social e
Em relação à salvação, é importante cósmica da salvação.
afirmar que tal experiência é o direciona- As perspectivas bíblicas no tocante à
mento da vida ao Reino de Deus, que ques- salvação, além de serem destinadas a toda
tiona e desestabiliza a realidade presente. a criação, estão fundamentadas a partir da
O futuro antecipado pela compreensão experiência humana do risco, da dor, do
utópica e humana cria, com a dimensão sofrimento, da perseguição, do abandono
lúdica, outro tipo de relacionamento com e da morte. O ato salvífico de Deus dirigi-
a realidade. O lúdico é uma forma de con- do ao ser humano está relacionado à pro-
testação e de desestabilização do presen- teção, à libertação, ao resgate, à cura, à
te, e sinaliza a infinitude e a misericórdia justiça e à paz, tanto no sentido histórico
de Deus na subversão do real. como no escatológico.
Falar em salvação mobiliza intensa- A salvação é dom de Deus (cf. Salmo
mente todos os seres humanos, indepen- 44. 4, 7s), por isso é inútil manter uma
dente de credos, culturas ou convicções confiança nas forças humanas. O pressu-
políticas e filosóficas. Trata-se de algo de- posto da concepção de salvação é que o
cisivo, fundamental na existência humana, ser humano é justificado. A justificação
e que traz indagações e expectativas para introduz um “apesar de” no processo de
todas as pessoas. No caso da reflexão te- salvação. Apesar das ambigüidades e das
ológica, a temática da salvação represen- limitações, o ser humano é aceito por
ta um ‘divisor de águas’. A compreensão Deus (graça) – e este também aceita esta
sobre o dado salvífico demarca os outros situação (fé) – na medida em que se abre,
pontos teológicos, especialmente os práti- reconhece seu caráter de alienação e de
co-pastorais. As atitudes, valores e práti- pecado, e deixa de olhar a si mesmo em
cas das pessoas e grupos irão variar bas- sua condição autodestrutiva, valorizan-
tante, dependendo da visão que se tenha do o ato salvífico e justificador de Deus.
da salvação. Trata-se da afirmação neo-testamentária
No interior das igrejas, há, ao menos, de que “não há distinção, pois todos pe-
duas compreensões equivocadas sobre a caram e carecem da graça de Deus, sendo
salvação, bastante correntes, ambas sem justificados gratuitamente, por sua graça,
base bíblica de sustentação. A primeira é mediante a redenção que há em Cristo
a concepção mera e excessivamente indi- Jesus”. (Romanos 3. 23-24). A graça é o
vidualista da salvação. A segunda é que a dom de Deus que contém todos os outros
salvação é exclusivamente para um outro (Romanos 8. 32). Ela não torna os seres
mundo.7 Para reverter esse quadro, for- humanos somente objetos do amor de
mado com essas duas visões distorcidas, Deus, mas torna-os sujeitos também da
tendo em vista uma perspectiva salvífica graça, na medida em que suscita formas
mais substancialmente bíblica, vários es- de generosidade e de amor da criatura
forços teológicos precisam ser feitos. que a recebe. O ser humano não está em
condição de se chegar à própria salvação,
Nossa proposição é que uma teologia
mas, ao mesmo tempo, ele não é mero
bíblica consistente corrige as referidas
objeto – sem vontade ou capacidade – da
compreensões equivocadas sobre a sal-
ação divina. A graça de Deus atua na im-
vação. A compreensão teológica, em con-
possibilidade humana, sem deixar de con-
siderar as suas possibilidades.
7
Cf. J. L. Idígoras. Vocabulário teológico para a América
Latina. São Paulo-P, Paulinas, 193, pp.445-447.

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Terceira pressuposição: também como afirmou Moltmann: “Esta
a nova criação presença da vindoura Parusia de Deus e
de Cristo nas promessas do Evangelho do
A perspectiva cósmica e ecológica da Crucificado não nos arranca do tempo,
salvação encontra-se ao lado e integrada nem faz parar o tempo, mas antes fura o
às dimensões salvíficas pessoal (e não in- tempo e move a história; não é a negação
dividual) e coletiva. As dimensões pessoal, do sofrimento por causa do não-ser, mas
coletiva e cósmica da salvação sintetizam a aceitação e inserção do não-existente na
o sentido bíblico da nova criação. lembrança e na esperança”. 9
A ressurreição de Cristo representa a A afirmação de fé por excelência é que
nova criação e a esperança de libertação o futuro do mundo é o Reino de Deus,
presente em nossa realidade. Moltmann onde Ele será tudo em todas as coisas. O
indicara que “a esperança cristã é uma Reino já está presente em mistério aqui na
esperança de ressurreição e demonstra a terra. Todos/as são convidados/as dia-a-
sua verdade pela contradição entre o pre- dia a usufruir dele.
sente e o futuro por ela visualizado, futuro
de justiça contra o pecado, de vida contra E assim permanece a esperança...
a morte, de glória contra o sofrimento, de
paz contra a divisão”.8 As razões de esperança advêm da fé
A concepção da ressurreição, entendida que é oferecida por Deus aos corações hu-
como nova criação (big-crunch, na lingua- manos. O tempo presente é para descobrir
gem científica), faz parte do plano salvífico novos rumos, novas atitudes que possam
de Deus para recriar a condição humana. sinalizar o Reino tão esperado e desejado.
A ressurreição de Cristo é uma expressão Nesse sentido, o cultivo de uma espirituali-
da nova criação da parte de Deus que se dade profundamente bíblica, de abertura e
estende a todos/as que crêem. Com ela, de despojamento à vontade de Deus apre-
recuperamos duas referências que nos senta-se como caminho ou como um ‘rio’
tornam humanos na verdadeira acepção – para se retomar a metáfora inicial – esca-
do termo: a) a postura de reverência e de tológico fundamental. Trata-se de esperar
gratidão ao criador, que é a única adequa- por Deus ativa, mas pacientemente.
da em relação a quem nos agraciou com O discernimento do Kairos, como impac-
a vida; b) a postura solidária, baseada na to da Presença Espiritual na vida humana
justiça, que é a única adequada em rela- requer, mais do que anteriormente, análises
ção à criação, na qual estamos inseridos. profundas da sociedade. Requer, igualmen-
As reflexões sobre a escatologia, de- te, reflexão teológica, como possibilidade
vidamente articuladas com a teologia da humana de anúncio do poder de salvação,
criação em geral e sobre o ser humano em de comunicação das boas-novas do futuro.
particular, devem nos fazer olhar para a Todavia, estes esforços não criam au-
vida, tanto na positividade como nas limi- tomática e mecanicamente práticas de so-
tações e dores. Dentro das ambigüidades lidariedade e de libertação. É o Espírito de
da vida, tudo possui um destino transcen- Deus que, como quer, assim o faz. Crer
dente e escatológico e “apesar de tudo, nisto é fonte de esperança e de mobiliza-
vale a pena viver”. A fé ajuda o povo a ca- ção pessoal e coletiva para o serviço cris-
minhar, não para uma catástrofe social ou tão e para o discernimento das promessas
cósmica, mas em direção a uma plenitude escatológicas. Acreditar nelas é viver sem
com o próprio Deus (cf. Apocalipse 21). E que se possa, para usar expressão barthia-

8
Teologia da Esperança. Op. Cit.; p. 25. 9
Id. Ibid. p. 39 [grifo meu].

42 Claudio de Oliveira RIBEIRO, Pensar o futuro, reforçar a esperança!


na, chegar a Deus com as próprias mãos, cristã: o novo céu e a nova terra.
assim como ele fez com a humanidade. Petrópolis-RJ, Vozes, 1985.
MOLTMANN, Jürgen. Teologia da
Bibliografia Esperança: estudos sobre os
fundamentos e as conseqüências
LIBÂNIO, João Batista & BINGEMER, de uma escatologia cristã. São
Maria Clara Lucetti. Escatologia Paulo-SP, Ed. Teológica, 2003.

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