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Professor: Cornélio Póvoa de Oliveira
www.semeandoabiblia.blogspot.com



A história da teologia cristã é marcada por várias lutas. Algumas dessas lutas se
deram no campo das palavras e muitas outras de armas nas mãos. Estamos falando de
um período de mais de dois mil anos, onde muitos homens deram suas vidas em defesa
de sua fé e de sua compreensão bíblica.
Ao olharmos para a história o fazemos pensando em nosso presente e futuro.
Precisamos compreender que não podemos discutir nosso presente e muito menos nosso
futuro teológico sem olhar para aquilo que já foi "` ``
  ". Podemos
até afirmar, que um dos maiores erros que um teólogo possa cometer em nossos dias é
dar as costas para o nosso passado, pois é impossível fazer teologia como se isso nunca
tivesse sido feito antes.
Karl Barth expressa essa idéia de uma forma contundente à medida que nota, nos
debates teológicos do presente, a continua importância das grandes celebridades
teológicas do passado:
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Também é importante considerarmos, ao estudarmos a História da Teologia
Cristã, o valor da filosofia sobre a mesma. A partir do século II, quando começa a nossa
história, a filosofia torna-se a principal interlocutora da teologia, e mesmo com a
oposição de alguns pais da Igreja.
O relacionamento entre a reflexão cristã e a filosofia constitui uma parte muito
importante da história da teologia cristã, e fornece algumas das tensões mais
emocionantes dessa história.
Para seu melhor estudo, a teologia cristã foi dividida em períodos, os quais são:

 c O período Patrístico, d.C. 100 - 451;


 c A idade Média e o Renascimento, 1050 - c.1500;
 c Os períodos das Reformas e da pós-Reforma, 1500 - c. 1750;
 c O período Moderno e o pós-Moderno, 1750 - até os dias atuais.

Para nosso melhor estudo estaremos dividindo nossa disciplina em duas partes:

 c História da Teologia Cristã I X O Período Patrístico: Os Pais Apostólicos até


Agostinho
 c História da Teologia Cristã II X Idade Média: De Agostinho a Lutero
 c História da Teologia Cristã III X O Período Moderno: Desde a Reforma até o
Presente

O que podemos afirmar é que a história da Teologia Cristã começa no século II, cerca
de cem anos depois da morte e ressurreição de Cristo, com o inicio da confusão entre os
cristãos no Império Romano, tanto dentro quanto fora da Igreja. Os desafios internos
principais eram semelhantes a cacofonia de vozes que muitos cristãos em nossos dias

1
chamariam de "seitas", ao passo que os desafios externos eram semelhantes as vozes
que muitos hoje chamariam "céticos". É dessas vozes desafiadoras que surgiu a
necessidade e os primórdios da ortodoxia - uma declaração definitiva daquilo que é
teologicamente correto.

Bibliografias:
OLSON, Roger E. Ê !  ` "  # $%%% 
 ` &  ` ` . São
Paulo: Editora Vida.
HÄGGLUND, Bengt. Ê !  ` Porto Alegre: Editora Concórdia.

 
 Ê  
   
05/08 1 Introdução ± Conhecendo os alunos e a matéria
12/08 2 Agostinho
19/08 3 1ª Parte - Agostinho x Pelágio - 1
26/08 4 1ª Parte - Agostinho x Pelágio - 2
02/09 5  (1ª PARTE)
09/09 6 Concílio (dinâmica): Agostinho x Pelágio
16/09 7 2ª Parte - Idade Média de Agostinho à Lutero
23/09 8 3ª Parte - A Transição do Período Antigo ao Medieval
30/09 9 4ª Parte - Fase Inicial da Escolástica
07/10 10 NÃO ESTAREI PRESENTE -  (2ª e 3ª PARTE)
14/10 11 5ª Parte - A Alta Escolástica - 1
21/10 12 5ª Parte - A Alta Escolástica - 2
28/10 13 Filme:
04/11 14 6ª Parte ± A Fase Final da Escolástica - 1
11/11 15 6ª Parte ± A Fase Final da Escolástica - 2
18/11 16  
25/11 17 Entrega de Notas (Média X Notas Provas 1 + 2 + 3 ÷ 3)
02/12 18 Recuperação

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O Cristianismo nasceu e desenvolveu-se dentro do quadro político-cultural do
Império Romano. Durante três séculos o Império Romano perseguiu os cristãos, porque
a sua religião era vista como uma ofensa ao estado, pois representava outro
universalismo e proibia os fiéis de prestarem culto religioso ao soberano imperial.
Durante a perseguição, e apesar dela, o cristianismo propagou-se pelo império.
As principais e maiores perseguições foram as de Nero, no século I, a de Décio no ano
250, a de Valeriano (253-260) e a maior, mais violenta e última a de Diocleciano entre
303 e 304, que tinha por objetivo declarado acabar com o cristianismo e a Igreja.
O balanço final desta última perseguição constituiu-se num rotundo fracasso.
Diocleciano, após ter renunciado, ainda viveu o bastante para ver os cristãos viverem
em liberdade graças ao Édito de Milão, iniciando-se a Paz na Igreja.
No decurso do século IV, o Cristianismo começou a ser tolerado pelo Império,
para alcançar depois um estatuto de liberdade e converter-se finalmente, no tempo de
Teodósio, em religião oficial do Estado. O imperador romano, por esta época, convocou
as grandes assembléias dos bispos, os concílios; e a Igreja pôde então dar início à
organização de suas estruturas territoriais.
A igreja cristã na região do Mediterrâneo foi organizada sob cinco patriarcas, os
bispos de Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Roma. As antigas
comunidades cristãs foram, então sucedidas pela "sociedade cristã", o cristianismo
passou de religião das minorias para então se tornar em religião das multidões. Com a
decadência do Império os bispos pouco a pouco foram assumindo funções civis de
caráter supletivo e a escolha do bispo passou a ser mais por escolha do clero do que pela
pequena comunidade, segundo as fórmulas antigas. Por essa época não foram poucas as
intervenções dos nobres e imperadores nas suas escolhas. Figuras expressivas da vida
civil foram alçadas à condição de bispo, exemplo disto foram Santo Ambrósio,
governador da Alta Itália que passou a bispo de Milão; São Paulino de Nola, ex-cônsul
e Sidônio Apolinário, genro do imperador Avito e senhor do Sul das Gálias, que foi
eleito bispo de Clermont-Ferrand.
Antes de findar o século IV o Primeiro Concílio de Niceia (325) e o Primeiro
Concílio de Constantinopla, em respostas às heresias arianas e ao macedonianismo,
formularam a doutrina da Trindade que ficou fixada no seu conjunto no "Credo niceno-
constantinopolitano". Por esta época colocou-se a questão da humanidade e divindade
de Cristo que ficou definida no Primeiro Concílio de Éfeso, convocado pelo imperador
Teodósio II, que afirmou que Cristo é "perfeito Deus e perfeito homem" e definiu Maria
como "Aquela que portou Deus" (`' ) em resposta à heresia nestoriana (do bispo
Nestório) que lhe atribuia apenas o " ' (Aquela que portou Cristo). Esta
posição depois foi reafirmada no Concílio de Calcedônia (451) e no Terceiro Concílio
de Constantinopla (680).
Constantemente heresias e cismas temporários ameaçaram a união da igreja
primitiva e que às vezes a igreja usou poder coercivo para impor, à força, a união ou
mesmo a uniformidade. A despeito dessas tensões, no entanto, a igreja dos bispos em
sucessão apostólica conseguiu permanecer uma só igreja. Em meados do século V, na
ocasião do Concílio de Calcedônia (451), os bispos das grandes sés da cristandade ainda
estavam em comunhão uns com os outros, embora essa comunhão estivesse sob tensão
e a ponto de terminar. Depois do Concílio, a Grande Igreja foi identificada pelos bispos

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em comunhão com o imperador e patriarca do Oriente e pelo bispo de Roma (também
considerado um patriarca) no Ocidente, e os três usualmente mantiveram comunhão e
fraternidade entre si.
A Grande Igreja sofreu várias deserções de vulto nos séculos IV e V. No
Ocidente, o cisma donatista na África do Norte criou sua própria comunhão de bispos e
congregações e só foi superado pelo poder do estado, ao forçar seus seguidores a
retornar ao redil da Grande Igreja ou ir para o exílio e a ilegalidade. No Ocidente, os
cismas nestorianos e monofisistas foram mais permanentes nas fímbrias do império. No
entanto, pelo menos como um ideal no papel, a Grande Igreja e sua Grande Tradição de
fé e de comunhão permaneceram relativamente intactas. Mas isso não duraria para
sempre. Por muitas razões, as tensões entre as igrejas do Ocidente, que respeitavam
cada vez mais o bispo de Roma como patriarca supremo de toda a cristandade, e as do
Oriente, que respeitavam Constantinopla (o imperador e patriarca) como o centro da
cristandade, agravaram-se cada vez mais nos séculos que se seguiram ao Concílio de
Calcedônia.
O grande cisma entre o Oriente e o Ocidente oficializou-se definitivamente em
1054 quando, então, os patriarcas de Roma e de Constantinopla se excomungaram
mutuamente. Na verdade, porém, isso já tinha acontecido antes. Depois de 1054, no
entanto, o rompimento nunca foi sanado. Desde então, durante quase um milênio, houve
duas ramificações principais da Cristandade, sendo que cada uma alegava ser a única
igreja apostólica verdadeira, tanto católica (Católica Romana) quanto ortodoxa
(Ortodoxia Oriental). Cada uma considera a outra cismática, que se separou da única
igreja verdadeira, santa, católica e ortodoxa.
Um sinal claro dessa atitude é a recusa da comunhão eucarística. Membros das
igrejas de Roma que respeitam o bispo de Roma como papa e ³vigário de Cristo´ não
devem participar da eucaristia, ou ceia do Senhor, com membros da família das igrejas
ortodoxas orientais. Membros da família das igrejas ortodoxas orientais (grega, russa,
romena, etc) não devem participar dos sacramentos com membros da Igreja de Roma.
Embora as partes se reconheçam como igrejas cristãs, nenhuma reconhece a outra como
a verdadeira igreja de Jesus Cristo. Cada uma das igrejas é cismática aos olhos da rival.
O que levou ao rompimento? Como a Grande Igreja indivisa dos apóstolos e do
Império Romano se dividiu dessa maneira? Por que existem duas grandes e antigas
famílias de igrejas e cada uma alega representar hoje a igreja primitiva no mundo? Para
respondermos a estas perguntas é necessário compreendermos a vida e a teologia de
Agostinho, o mais importante teólogo da tradição ocidental.
Agostinho de Hipona, embora seja considerado santo e um grande instrutor dos
cristãos pelas igrejas orientais, também é tido como aquele que separou a igreja e isso
de várias maneiras cruciais. Seu legado incluia vários hábitos de reflexão,
profundamente arraigados no Ocidente, que os cristãos orientais não podiam aceitar.
Outroa teólogos também contribuiram para este cisma, mas ninguém o fez tanto como
Agostinho.
Agostinho pode ser comparado com Orígenes em termos de genialidade,
produtividade e influência. O que Orígenes era para o Oriente (até sua condenação
imerecida em 553), Agostinho é para o Ocidente. Até os grandes reformadores
protestantes do século XVI consideravam-se seguidores e intérpretes de Agostinho.
Seria quase impossível exagerar a influência do pensamento desse homem, que não
sabia ler a língua grega, sobre o cristianismo ocidental, tanto católico romano, quanto
protestante. A aceitação dele no Oriente, porém, é menos efusiva. Os teólogos
ortodoxos orientais em geral acreditam que as interpretações da teologia de Agostinho

4
ou mesmo o próprio pensamento desse pai norte-africano da igreja desviaram as igrejas
ocidentais para o caminho do cisma e talvez até da heresia.

Agostinho marca o fim de uma era e o início de outra. É


o último dos escritores cristãos da Antiguidade e o precursor da
teologia medieval. As principais correntes da teologia da
Antiguidade convergiram para ele e dele fluíram as correntes,
não somente do escolasticismo medieval, mas também da
teologia protestante do século XVI (Justus Gonzalez).










































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O nome de Agostinho (Aurelius Augusinus) ocupa lugar de destaque não só na
história do dogma, mas também na história geral da cultura. Além da teologia, os
campos da filosofia, literatura, governo eclesiástico e jurisprudência também foram
influenciados por seus escritos.
A posição teológica de Agostinho enquadra-se na da igreja antiga, a qual ele
completou, ao menos no que se refere à sua parte ³ocidental´. Reuniu e articulou a
tradição cristã. Mas, ao mesmo tempo, contribuiu com algo de novo.
Do ponto de vista filosófico, Agostinho era neoplatônico. Essa escola de
pensamento exerceu influência decisiva sobre ele, e nunca ele deixou de apresentar suas
doutrinas cristãs em categorias derivadas dela. Podemos afirmar que do ponto de vista
formal, a teologia de Agostinho é uma síntese de formas de pensamento cristãs e
neoplatônicas.
Agostinho era homem do ocidente, nasceu em Tagaste, na Numídia (África do
Norte), em 354. Seu pai era pagão, mas sua mãe era cristã, de modo que chegou a
conhecer o cristianismo já muito cedo.
Em 371 foi enviado a Cartago para estudar, onde leu a obra ³Hortênsio´ de
Cícero, que despertou nele amor pela filosofia.
Pouco tempo depois deste incidente, Agostinho uniu-se aos maniqueus, seita que
tinha bom número de adeptos na África.
Os maniqueus consideravam o mal como princípio independente ao lado de
Deus, poder que limitava o domínio de Deus e contra o qual Deus combatia. O
maniqueísmo também se caracterizava por seu código de ética ascético, que
frequentemente chegava ao oposto ± ao libertinismo ± entre seus membros.
Agostinho abandonou essa forma de pensar quando teve contato com a filosofia
neoplatônica. No contexto do neoplatônico, conceituava-se o mal como qualidade
negativa, não ser, apenas ausência do bem. Agostinho aceitou esta definição de mal, a
qual constituiu a origem de seu diagnóstico da natureza do pecado.
Mais tarde Agostinho entrou em contato na Itália com Ambrósio de quem
aprendeu a ler a Bíblia de maneira alegórica, método este que se tornou presente em
suas leituras.
Segundo Agostinho sua conversão se deu através da passagem da Carta de Paulo
aos Romanos (13.13-14). Estas palavras o levaram a abandonar sua vida mundana.

,c[  -./012/-. /2/3/24.52/6


Agostinho desde sua conversão submeteu-se à autoridade da igreja e aceitou os
ensinamentos da Escritura como regra de fé.
Em sua opinião, o cristianismo é o neoplatonismo não se excluíam mutuamente.
Acreditava que, em vez disso, idéias neoplatônicas o capacitaram a encontrar o
cristianismo e a entender suas implicações mais profundas. Como resultado, os
fundamentos de sua posição teológica foram sempre, ao menos em parte, determinados
por pressupostos neoplatônicos.
Depois de converter-se, Agostinho entendeu a relação entre teologia e filosofia
de acordo com a seguinte fórmula: ³Creio para que possa compreender´. A submissão à
autoridade ocupava agora o primeiro lugar em sua vida. Acreditava agora que só pela fé
se podia chegar a conhecer verdadeiramente a Deus, aceitando a verdade revelada. Não
concluía com isso, entretanto, que a possibilidade de considerar a fé em termos
racionais ficava excluída; julgava que a verdade da fé também podia ser alvo de
compreensão, pelo menos até certo ponto. Mas o pensamento filosófico não mais

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ocupava o lugar de honra em sua vida. Agostinho substituiu este pensamento filosófico
pela fé e pela submissão à autoridade da Escritura.
O neoplatonismo ensinava que a tendência mais elementar encontrada no
homem é sua busca da felicidade, e é esta idéia, acima de tudo, que constituiu a o elo de
ligação entre Agostinho e este sistema de pensamento. Em sua opinião, o pressuposto
básico de todo esforço humano se encontra na concentração do homem sobre um objeto
que lhe promete trazer certos benefícios. ³Certamente todos desejamos viver felizes´
dizia Agostinho.
Agostinho percebeu que a filosofia levanta questionamentos que a mesma não
podia responder e não encontrava resposta satisfatória, pois todo bem humano trazia
uma felicidade temporária. Contudo foi na Escritura Sagrada que ele descobriu a
resposta que trouxe a sua alma paz. Agostinho percebeu que o homem não se satisfaz
com que é apenas parcialmente bom ou que oferece valores de qualidade inferior. O que
o homem realmente deseja é o ³bem supremo´, isto é, aquilo onde possa dirigir suas
aspirações mais profundas, algo de valor absoluto, um bem imutável e permanente. O
próprio Agostinho afirma que apenas Deus é este bem supremo (summum et
incommutabile bonum).
Conforme Agostinho, o alvo mais elevado é união com o bem supremo, como
algo transcendente, não encontrado na esfera humana.
Agostinho distinguia entre o amor ao bem supremo %-3/32+7 e o amor ao
mundo %-8//32+ ± a saber, o desejo de buscar o bem nas coisas temporais,Caritas é a
única forma de amor verdadeiro; cupiditas é uma forma falsa, pervertida.

,c$/33 5.93.552/6
Com respeito à doutrina da Igreja, Agostinho continuou a desenvolver a tradição
ocidental que se originara, acima de tudo, com Cipriano.
O que levou Agostinho a desenvolver seu conceito de igreja mais
cuidadosamente foi a controvérsia donatista1, que provocara divisões na igreja do Norte
da África desde o final do terceiro século.
Este cisma principiou durante a perseguição de Diocleciano. Certas questões
práticas relacionadas com a perseguição formaram a base das dificuldades. Por
exemplo: cópias da Escritura poderiam ser entregues aos pagãos? (Poderiam os pagãos
terem acesso as escrituras?).
Originalmente essa, controvérsia também incluía uma questão pessoal: certo
bispo de Cartago fora consagrado por alguém que entregara Escritura às autoridades
romanas para serem destruídas durante um período de perseguição. O partido rigoroso
era de opinião que tal ato (consagração deste homem ± sua autoridade foi questionada)
não era válido. Posteriormente a controvérsia ampliou-se a questão do batismo válido,
da santidade da igreja, etc.
Os donatistas perpetuaram a antiga tradição pneumática: os únicos ocupantes
legítimos de cargos são os que possuem os dons do Espírito (Pensamento defendido por
Cipriano). Reconhecem como bispos verdadeiros apenas aqueles que demonstram, por
suas vidas inatacáveis e seus dons, que são os portadores do Espírito. Esta posição

1
O 3/24 (cujo nome advém de Donato de Casa Nigra, bispo da Numídia e posteriormente de
Cartago) foi uma seita religiosa cristã, considerada herética e cismática pelo catolicismo. Surgiu nas
províncias do Norte de África na Antiguidade Tardia. Iniciou-se no início do século IV e foi extinta no
final do século VII. Os autores que mais influenciaram os donatistas, em termos de doutrina religiosa,
foram São Cipriano, Montano e Tertuliano.

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levou-os também a questionar os batismos e ordenação de pessoas foram batizados por
estes homens considerados indignos do ministério sacerdotal.
A posição dos donatistas como manifesta nas questões práticas acima
mencionadas relacionava-se com seu conceito de igreja. Concebiam a igreja como
comunhão dos santos. E, uma vez que a igreja existente tolerava os hipócritas e os que
uma vez tinham apostatado, ou adotavam uma posição branda quanto à penitência,
afirmavam que era necessário romper com essa igreja existente. Ela não eram mais uma
igreja legitima.
Os donatistas insistiam que os que deixavam a igreja existente para filiar-se a
sua organização tinham que ser rebatizados, uma vez, que não consideravam válido o
batizo e nem a ordenação feita por uma falsa religião ou igreja.
Em vários escritos produzidos por volta do ano 400 (por exemplo: .
038/24+, Agostinho apresentou suas idéias principais sobre a questão da igreja e dos
sacramentos em oposição às doutrinas donatistas. Agostinho defendia que não era
necessário o rebatismo e nem a reordenação, se colocando nesta questão em desacordo
com Cipriano.
Agostinho faz distinção entre o sacramento em si e a eficácia do sacramento (o
que Cipriano não fazia), tal pensamento valia também para a questão da ordenação.
Desta forma um herético batizado recebe o batismo assim como um justo, mas a
eficácia deste sacramento só se concretiza na vida daquele que tem amor a unidade da
igreja. Este principio, também era valido se uma pessoa fosse batizada ou ordenada por
um herege. O que se conta é se o batizado ou ordenado está vivendo em unidade, ligado
em uma comunhão plena com a Igreja Católica. Ele acreditava que só recebia o Espírito
Santo por meio da Igreja Católica. A eficácia esta vinculada a unidade com a igreja
institucional (que para ele representa estar ligada a igreja espiritual).
:3 3223-34.2, Agostinho usava o termo de uma forma mais ampla
que a nossa. Entretanto, concordava que o batismo e a ceia do Senhor são os principais
sacramentos. Influenciado pelo neoplatonismo, ele concebia nos elementos dos
sacramentos um valor externo (símbolos que apontam à realidade espiritual) e valores
espirituais para os mesmos. Os sacramentos são sinais externos que possuem conteúdo
espiritual. Mas não estão necessariamente ligados a estes sinais.
Esta visão de Agostinho revela sua visão da igreja. Portanto, a igreja para ele era
43 53/;3 .<.3 (institucional, visível, local) e a -46 2 232
(invisível, espiritual, a verdadeira igreja). Estas não são idênticas, pois muitos dos que
pertencem à igreja no sentido externo não estão numerados entre os verdadeiros crentes.
Agostinho, acreditava também que existia uma terceira igreja, ele se refere a ela
quando fala dela como o 4.283..2/34(números de predestinados). Este
grupo de pessoas não pertencem nem a igreja visível, nem a invisível. Agostinho
compreendia que eram pessoas separadas por Deus, chamadas para salvação que não se
encontravam vinculados a Eclésia. Por exemplo: Jó (não era israelita, mas era amado
por Deus) ou pessoas que não receberam o sacramento da igreja (ladrão da cruz), mas
por vontade de Deus estão salvas. Assim como nem todo que estão na igreja para ele
eram eleitos. Ele não descartava a existência de joio na igreja.








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  5.93/=/2>=.?
.21/2./3 ..2/32
.3/5.93
=/2>=.?

Os predestinados podem vir a fazer parte da igreja visível e invisível.










 5.93/=/2>=.?
 .21/2./3
 ..2/32
.3/5.93
 =/2>=.?



A doutrina da igreja de Agostinho foi importante, não apenas para a controvérsia
donatista, mas também para sua descrição do reino de Deus e do reino do mundo
apresentada em seu escrito  /3. . .2, Os 22 livros desta obra, completados
durante os anos 413 a 426, foram escritos especialmente como apologia dirigida contra
os pagãos que culpavam os cristãos pelos infortúnios sofridos pela sociedade.
Agostinho escreveu este livro principalmente para defender a comunhão dos
santos do estado romano pagão. Neste livro Agostinho defende que o estado terreno
NÃO é mau em si mesmo, mas pode-se tornar. Ele afirma que o estado terreno deveria
se submeter ao estado piedoso (celestial); isto é, ele deveria se submeter as leis do céu e
não a igreja.
Durante a Idade Média, entretanto, o pensamento de Agostinho foi interpretado
como significando que o estado está subordinado à igreja, e  /3. . .2
realmente tornou-se o fundamento da doutrina da supremacia papal sobre a autoridade
secular. O conceito hierárquico, portanto, representava uma reinterpretação do ponto de
vista de Agostinho.
De certa forma sua teologia colaborou para este erro, pois a afirmação de que a
igreja é a única representante verdadeira do Reino de Deus e que somente nela se
encontra salvação, levou a interpretação que somente a igreja governando o estado
terreno poderia levar a sociedade a salvação.

9
,c$/3..-3 33.52/6
Agostinho afirmou, em oposição a Pelágio, que a salvação é obra do próprio
Deus; não é de origem humana. Numa controvérsia, o ponto principal se referia à
relação entre as naturezas divina e humana em Cristo; na outra, à relação entre graça de
Deus e o livre arbítrio do homem.
Pelágio, natural da Irlanda, apareceu em Roma pouco antes do ano 400 como
pregador extremamente rigoroso com relação a penitência. Julião de Eclano tornou-se o
expoente principal do pelagianismo. O pelagianismo foi aceito por muitos, mas também
suscitou forte oposição, especialmente da parte de Agostinho, que contra ele escreveu
várias obras. Os teólogos orientais também foram persuadidos a rejeitar Pelágio, e no
Concílio de Éfeso em 431 (onde o nestorianismo foi condenado) a doutrina pelagiana
foi repudiada como sendo herética.


/=.@>/ Em suas pregações, Pelágio apelava ao livre arbítrio do homem.
Supunha que o homem tem em si mesmo a capacidade de escolher entre o bem e o mal.
Acreditava que se o homem não se julgava capaz de cumprir com os mandamentos de
Deus, jamais seria capaz de fazê-lo, e como resultado, nunca mudaria para melhor. Seria
inútil esperar que o homem fizesse o que lhe parecesse impossível.
Na teologia da igreja primitiva a idéia do livre arbítrio era pressuposto básico,
tanto no Ocidente como também entre os gregos.
Mas na conversa entre Agostinho e Pelágio toda a questão do livre arbítrio
ingressou em nova etapa e se tornou uma das questões cruciais da própria salvação ± o
problema do pecado e graça.
Em outras palavras o homem tem a possibilidade e a liberdade de decidir em
favor do bem.
Podemos dizer que Pelágio, assim como todos os teólogos anteriores a
Agostinho cria no 2/.5/242. 
.-3 Segundo Pelágio consiste apenas de atos isolados da vontade. Pelágio
rejeitou a idéia que se deve conceber o pecado em termos da natureza ou do caráter do
homem. O pecado não é defeito da natureza, mas da vontade. Como resultado, também
negou-se a aceitar a doutrina do pecado original. Pecado é apenas o que o homem faz, e
por causa disto não pode ser transmitido por herança, não pode estar implícito na
natureza.

.-32 32 -/332  Crianças pequenas, que são incapazes de escolher


conscientemente o que é mau, estão, portanto, livres de pecado, de acordo com Pelágio.
Como resultado, o batismo não implica necessariamente em libertação do pecado.
Pelágio também afirmava, falando em geral, que o homem pode avançar até a
perfeição, que pode evitar cada vez mais o mal e escolher o bem.

 33  Para Pelágio, a graça é algo que altera a vontade do homem, que o
enche com o amor a Deus e desta maneira modifica toda a direção de sua vontade. Para
Pelágio, a graça de Deus significa que o homem tem desde o início uma vontade livre
para escolher o bem. A obra da graça é beneficio da natureza (bonum naturae). Além

2
/.5/24é a crença de que a agência de Deus e a agência humana cooperam
mutuamente de algum modo para produzir a história e a salvação.

10
disso, a graça de Deus facilita o processo de escolha e capacita o homem a alcançar
aquilo que é bom. Essa assistência é fornecida mediante a pregação da lei e mediante o
exemplo de Cristo, bem como pelo perdão dos pecados da lei e mediante o exemplo de
Cristo, bem como pelo perdão dos pecados, que capacita o homem a continuar sua
jornada sem ficar enredado em seu passado. É, pois, necessário, que a vontade do
homem seja apoiada pela graça de Deus. Mas, ao mesmo tempo, o homem é capaz de
escolher o bem por si mesmo e para si.

52/6863[2.-3.5/-34..33/2/A/32..?15/,Seus conceitos
de liberdade, de pecado e graça foram apresentados em vários escritos dirigidos contra o
pelagianismo (cf. De Spiritu Et Littera, 412; De Natura Et Gratia, 415; Contra Julianum,
421). A controvérsia dizia respeito, em sua maior parte, aos seguintes pontos: o livre
arbítrio, o pecado original, a conquista da salvação, graça e predestinação.
Agostinho descreve o homem diferenciando-o em quatros etapas: antes da
queda, depois da queda, depois da conversão e na perfeição.


/=. 3@>/  No assim chamado estado original, isto é, quando o primeiro
homem foi criado, ele possuía medida completa de liberdade. Tinha então livre arbítrio
não somente no campo da ação; também era capaz de escolher entre o bem e o mal.
A capacidade de escolher o bem (evitar o pecado), segundo Agostinho, não
pertencia ao homem por causa de seus dons naturais; pertencia-lhe somente por causa
da ajuda da graça divina. Era a 8/43 53/3 que dava ao homem a liberdade de
escolher o bem.
Mas a liberdade também encerra a possibilidade de uma queda, e o primeiro
pecado foi ocasionado pelo livre arbítrio. A queda significa que o homem, em espírito
de arrogância, afastou-se de Deus e se colocou na direção do mal. A -3/32 foi
substituída pela -8//32 na vida do homem. O homem perdeu assim a dádiva da
graça, e com ela a liberdade que constituía a capacidade de escolher o bem. Pois quando
a graça foi perdida, alterou-se a natureza humana. A razão e a vontade não mais
controlam os poderes inferiores da alma; por outro lado, estes poderes assumiram
posição dominante, e o homem, como resultado, viu-se enredado nas malhas do desejo e
guiado pela concupiscência. O homem é incapaz de livrar-se da servidão à
concupiscência, porque nesta situação o mundo é o objetivo primordial de sua vontade,
e não Deus.
A queda, portanto, significa que o homem perdeu a liberdade de escolher o bem.
Como conseqüência, o homem agora sente-se impelido a pecar. Aqui Agostinho opõe-
se a Pelágio. Agostinho negava que o homem, depois da queda continuava a possuir
livre arbítrio no verdadeiro sentido, a saber, a liberdade de escolher o bem. Em vez
disso, está sob o impulso de pecar, o que quer dizer que age de tal maneira que a
corrupção é inevitável. Boas obras isoladas podem ser realizadas, mas estas não
modificam a intenção má de sua vontade.
Agostinho não é determinista, ele compreendia que o homem possuía uma
liberdade limitada ou corrompida por causa de sua queda. A tendência do homem de
escolher o mal determina o curso de sua conduta e o impede de fazer o bem.

.-3 Para Agostinho o pecado original foi uma ofensa a Deus e que trouxe
culpa ao homem perante Deus. A culpa herdada pelo pecado original é removida pelo
batismo, de modo que o pecado original não é mais contado como pecado. Apesar disso,
a condição pecaminosa permanece, mesmo depois do batismo.

11
O pecado não é simplesmente uma série de ações voluntárias isoladas; é
corrupção real da natureza, resultante do fato que a própria direção da vontade está
deturpada. Agostinho descreveu o pecado como perversão da vontade. Nisto vemos o
principal ponto de conflito entre ele e Pelágio.
O pensamento que o pecado está implícito na natureza humana é sugerido pela
própria idéia de ser a corrupção herdada. O Adão bíblico é o ³homem´ em geral
(representa toda raça humana ± é a semente de toda raça). Todos participam na culpa de
Adão.
Assim também acontece com a corrupção humana; ela igualmente é herdada,
como resultado da desobediência de Adão. Além disso, na opinião de Agostinho, nossa
condição pecaminosa herdada também nos torna culpados perante Deus.

.-3 32 -/332  Agostinho concluiu que crianças não batizadas estão
sujeitas à condenação. A teologia católica romana posterior abrandou esta afirmação de
várias maneiras, e mesmo Agostinho sugeriu que as orações da família podiam, em
alguns casos, substituir o batismo.


/4@  Posteriormente, devido as pressões, Agostinho sugere que as crianças
que morrem sem ser batizadas vão para um lugar chamado ³limbo´, que não é o paraíso
nem o hades (inferno) ± nem bem-aventurança, nem sofrimento ± um lugar à margem
do inferno que abriga os não-regenerados sem culpa pessoal.

A doutrina do pecado original também supõe a unidade da raça humana em


Adão. Pois, caso contrário, como podia ser atribuída culpa ou responsabilidade a um
indivíduo por algo que não fez? A posição agostiniana nesta questão não distingue entre
crianças e adultos; a mesma ofensa se aplica a todos.
O pecado é um afastar-se de Deus por parte da vontade do homem, não se trata
apenas de ações isoladas. Depois da queda o homem tornou-se incapaz de fazer o bem.
Pode ocasionalmente fazer o bem, mas sua vontade é dominada pelo mal e suas ações
sempre o dirigem a corrupção. Portanto para Agostinho não existe mais livre arbítrio e
sim um 2.=3@>/± que corresponde a dizer que o homem é incapaz de cooperar
no interesse de sua salvação.

3?=3  A salvação resulta do perdão dos pecados, mediante a fé,


independentemente de mérito humano. Nada há que o homem possa fazer de si mesmo
para realizar esta salvação. Este foi o principal argumento de Agostinho contra Pelágio.
Agostinho tomou esta idéia básica de Paulo, cuja doutrina da justificação pela fé teve
influência decisiva sobre Agostinho. A vontade do homem é incapaz de fazer o bem e,
portanto, a salvação deve ser obra do próprio Deus.
Mas, para Agostinho, graça inclui a regeneração do homem. A vontade do
homem se altera, o amor é derramado nele; como resultado disto, o homem pode fazer
verdadeiramente o que é bom e 8. 3[2.-8.3 ..2 3 BA. Encarado
de certo modo, Agostinho parece dizer que esta regeneração é o alvo. O amor a Deus
(-3/32) é o pressuposto da salvação do homem. Esta interpretação de Paulo, feita por
Agostinho, é diferente da dos Reformadores. Para os reformadores somente a fé em
Cristo e em sua obra que justifica o homem. O homem é salvo pela fé e nada mais.

 c Agostinho: A graça salva o homem do poder do pecado X livre o homem


pode fazer boas obras (praticar o amor) X As boas obras se torna méritos
para alcançar a salvação.

12
 c Reformadores: A graça salva o homem do pecado X Boas obras devem ser
praticadas, entretanto não são imputadas para salvação.

..2/3  A oposição de Agostinho a Pelágio expressou-se mais


fortemente em sua doutrina da predestinação. A graça, que é a única fonte da salvação
do homem, é a vontade misericordiosa de Deus; ela é, ao mesmo tempo, onipotente. A
onipotência desta graça significa que a salvação do homem depende apenas da vontade
e do decreto de Deus. A esse pensamento deu-se o nome de 4.5/243. Deus, na
eternidade, escolheu certos homens para serem arrancados da massa corrupta e para
participarem de sua salvação. Agostinho baseou esta conclusão em Romanos 8.30 ± 
 ` `` 
  ` ` ( ) `  `   ` ` (
 ) `  `    ` ` ( *
O fundamento decisivo da salvação humana, portanto, não se encontra em nosso
méritos ou no livre arbítrio, mas, ao invés disso, na vontade de Deus. Para Agostinho,
isto significava que os que foram escolhidos um dia serão salvos. Não se pode imaginar
que venham a cair novamente aqueles que uma vez chegaram a crer. A graça os supre
não apenas com a fé, mas também com o dom da perseverança. Esta linha de
pensamento fez surgir a teoria denominada ³graça irresistível´. O termo em si, só foi
usado mais tarde pelos reformadores.
Agostinho acreditava até que os predestinados podem existir fora da igreja.
Essas pessoas seriam salvos pelo poder da graça que operaria sem os meios ao nosso
dispor. Seguindo esta linha de pensamento, se alguém não era salvo, era porque Deus
não desejou sua salvação, pois nada pode ser feito sem a vontade e o poder de Deus; e
nada que Deus queira realizar é impossível para Ele.

/3  Agostinho rejeitava a interpretação literal dos sete dias da criação e


entendia os ³dias´ da criação como épocas ou eras de duração indefinida.

Podemos dizer que o pensamento teológico de Agostinho foi sendo moldado no


decurso de suas controvérsias, que deram em três etapas:
 c Primeira: No combate ao maniqueísmo.
 c Segunda: No combate aos donatistas.
 c Terceira: No combate à Pelágio e seus seguidores.

3
!.5/24 X É a crença de que a agência humana é inteiramente passiva e a de Deus totalmente
determinante, tanto na história universal quanto na salvação individual. Deus é o único agente e energia
ativa na salvação do homem.

13


 !C    Ê 
 

$ =A2/3@. 52//3/24A >. 35.7'D
As doutrinas da graça e da predestinação de Agostinho suscitaram ampla
controvérsia mesmo antes de sua morte, e continuaram a ocupar o centro da discussão
teológica durante a Idade Média e mesmo, em parte, até no período após a Reforma. Os
seguintes problemas assumiram importância especial: a extensão do livre arbítrio, o
papel da graça na conversão e regeneração do homem e o significado da predestinação.
A assim chamada escola de pensamento ³semipelagiana´ também surgiu em
oposição a Agostinho; esta propagou-se especialmente na Gália4. A doutrina da
predestinação de Agostinho foi interpretada como fatalismo pelos semipelagianos, e
esta era a principal causa de sua oposição. A idéia que a vontade é incapaz de fé e boas
obras em geral, também foi considerada objetável.
O principal expoente da posição semipelagiana foi # 322/3 nasceu em
360 e morreu no ano 4327fundador do mosteiro de São Vitor em Marselha (em 410).
O mosteiro de João Cassiano em Marselha tornou-se um lar para vários
estudantes de teologia, relativamente brilhantes e produtivos, e, com ele, transformou-se
no foco de oposição à teoria da salvação fortemente monergística defendida por
Agostinho.
As gerações posteriores chamaram João Cassiano, Fausto de Riez e Vicente de
Lérins de simipelagianos. Podemos incluir outros nomes, mas estes foram os mais
importantes deste movimento.
O semipelagianismo não é ramo da teologia pelagiana; em vez disso, tem sua
origem na tradição pré-agostiniana do Oriente. Os semipelagianos acreditavam que se
poderia evitar a heresia pelagiana sem fazer uso das idéias extremadas inerentes à
doutrina da graça de Agostinho. João Cassiano, que via as coisas do ponto de vista
monástico, afirmava:

Que o homem pode viver vida moral. O pecado


é herdado de Adão no sentido que toda a raça humana
participa de sua transgressão. Por causa disto, o homem
não pode ser salvo ou viver vida virtuosa sem a ajuda
de graça. Mas as sementes do bem, que só precisam ser
reavivadas pela graça, estão presentes na vida humana.
Pelo exercício do livre arbítrio, o homem pode ou
rejeitar a graça ou dedicar-se a ela. Quando o homem é
convertido, às vezes, é Deus quem toma iniciativa, mas
em outras ocasiões Ele espera que nós nos decidamos,
de modo que nossa vontade antecipa a vontade de
Deus. Deus não deseja a condenação de qualquer
homem. Quando isto acontece, é feito contra a sua
vontade.

Nos anos seguintes, esta corrente teológica foi amplamente aceita na Gália.

4
Gália X Atual região da França.

14
Expressões como ³Deus ajuda quem cedo madruga´ ou ³dê o primeiro passo em
direção a Deus, e, Ele virá ao seu encontro´ representam bem o pensamento
semipelagiano. Deus age a partir do momento em que demonstramos interesse por Ele.
E28. . F/G/3 (390-465) procurou promover o ponto de vista
puramente agostiniano, enquanto H32. /.;3(410-495) opô-se a ele, inclinando-
se mais até do que Cassiano em direção ao pelagianismo.
Fausto concordava com Cassiano em dizer que a vontade divina e a humana
cooperam. Mas não acreditava que a graça era poder interno vivificador; em sua
opinião, a graça era apenas a iluminação e o despertar que ocorrem na pregação, ou pela
revelação da Escritura. O poder de atração da graça e o consentimento da vontade se
reúnem para produzir a conversão. A predestinação baseia-se tão somente na
presciência do mérito humano.
Por algum tempo o semipelagianismo alcançou grande sucesso; foi confirmado
por um sínodo em Arles em 473, por exemplo. Mas nunca triunfou definitivamente. Os
papas em Roma jamais estiveram muito interessados nos conflitos teológicos na Gália, e
deram a maior parte de seu apoio à oposição de Agostinho.
O principal dos discípulos de Agostinho (depois de Próspero) foi H?5I-/.
28.(468-533) talvez o mais destacado teólogo desse período. Foi bispo no Norte da
África, mas ficou longo tempo na Sardenha. Ensinava que ninguém que fora escolhido
na eternidade se perderia, e também, que ninguém que não tinha sido predestinado para
a salvação poderia ser salvo.
Nessa época, .21/ . ?.2 (470-543) defendia as idéias agostinianas na
Gália. Cesário atraiu a atenção do papa, e no Sínodo de Orange (529) conseguiu que
fosse aceita uma confissão que tratava de pecado original, graça e predestinação. Neste
Sínodo condenaram a crença na predestinação divina para o mal ou para a perdição, isto
é, foi totalmente rejeitada a idéia de que Deus predestina homens para o inferno. A
posição semipelagiana foi repudiada nesta confissão, enquanto que a doutrina
agostiniana da graça foi imposta. Esta decisão foi confirmada no ano seguinte pelo papa
Bonifácio II e subsequentemente recebeu prestígio quase canônico.
A conclusão final do Sínodo de Orange é que nem a fé, nem o amor e nem as
boas obras resultam da atividade do livre arbítrio; devem ser precedidas pela graça
divina do Deus misericordioso. Esta graça é recebida por intermédio do batismo. Sendo
sinceros, todos os batizados podem ± com a ajuda de Cristo ± cumprir com aquilo que
se relaciona com a salvação da alma. Nesta conexão a idéia da dupla predestinação foi
rejeitada; os que ensinavam que alguns são predestinados ao inferno foram condenados
pelo Sínodo de Orange.
É correto dizer que o Sínodo de Orange marca o fim da controvérsia em torno do
agostinianismo. Mas os problemas suscitados no tumulto provocado por esta
controvérsia continuaram a produzir prolongados debates.
A igreja sempre permaneceu um pouco dividida entre o agostinismo moderado e
semipelagianismo. Muitos teólogos buscaram posições intermediárias entre o
monergismo de Agostinho e as obras de justiça defendida por Pelágio.







15


[   "    ! 


,$4.2.2..>.32/
Durante o período agitado da época da queda do Império Romano Ocidental,
quando os povos germânicos assumiram o domínio político, as questões teológicas mais
importantes passaram a receber cada vez menos atenção da parte dos líderes da igreja.
Apesar disso, no entanto, os fundamentos da teologia escolástica posterior, bem como
da cultura medieval em geral, foram lançados nessa época. Importante contribuição foi
feita pelos que labutaram para preservar a herança da antiguidade para o período
medieval que surgia.

 c 0A-/%8=?3.'*[''+
Entre estes encontra-se Boécio, filósofo cristão e funcionário do Imperador
Teodorico. Acusado de manter relações com o Império Romano Oriental. Boécio foi
aprisionado e afinal executado em Pávia, em 525. É lembrado como o ³último romano´
e ainda como o ³primeiro escolástico´.

 c />2/%8=?3.()'[''+
Os escritos atribuídos a Dionísio, o Areopagita, também pertencem a este
período. Em quatro tratados intitulados O Nome Divino, A Hierarquia Divina, A
Hierarquia Eclesiástica e A Teologia Mística apresentou um sistema em padrões
neoplatônicos. Tratou nele, entre outras coisas, de anjos, apresentou suas próprias idéias
sobre os sacramentos e ofícios da igreja, bem como o caminho da alma à salvação,
segundo os postulados do misticismo.

 c 322/%8=?3.')+
Como Boécio, estadista no reino dos ostrogodos, fez sua reputação como
colecionador e enciclopedista.

 c 0../.J2/3%8=?3.'(K+
Famoso monge cuja regra monástica dominou os mosteiros ocidentais até ao
século 12. Em virtude de suas recomendações sobre o estudo e a escrita nos mosteiros,
Benedito contribuiu notavelmente para o enriquecimento da vida espiritual durante a
Idade Média.

 c 2/..=/?63%8=?3.LL+
Mais do que qualquer outro, reuniu o conhecimento científico e teológico
daquela época e o tornou acessível às gerações seguintes.

 c .5E/7  3.%'(*[L*(+
Numa época de decadência religiosa e de penúria material, um ex-prefeito
municipal e monge (em Roma) foi eleito papa em 590. Seu nome era Gregório.
Na história do dogma, o pontificado de Gregório geralmente é considerado a
linha divisória entre a igreja antiga e a Idade Média. O fundamento do papado medieval
foi em parte lançado durante os anos de seu poderoso reinado. Mas as contribuições de
Gregório também foram de significado fundamental no campo da teologia.

16
Foi um papa muito influente em um momento crucial da história da igreja
ocidental e um dos mais importantes interpretes da teologia de Agostinho e promotor da
piedade e estilo de vida monástico.
É frequentemente considerado pelos historiadores eclesiásticos como o último
pai da igreja, e, o primeiro papa e teólogo medieval do ocidente.

,[ .<2E-/[8?>/- 48A/438.>. .5E/


Roma e o Império Ocidental estavam em decadência. Os reis bárbaros não
conseguem se unir e estavam sempre guerreando entre si. O imperador bizantino
Justiniano não conseguiu concretizar o desejo de reunificar o antigo Império Romano. O
senado romano que tentou voltar ao governo dispersou-se e surgiu a grande necessidade
de que alguém ocupa-se a vaga no poder cultural e político.

,[.3?/;3M.2. .5E/
Era característico de Gregório combinar a melhor tradição teológica (que tentou
preservar) com elementos tomados da piedade popular. Diante disso encorajava a crença
em milagres, que caracteriza a cristandade medieval.

 c Iniciou um grande esforço missionário para converter os pagãos da Grã-
Bretanha e as tribos bárbaras arianas da Europa ao cristianismo católico.
 c Fundou comunidades monásticas e deu-lhes escrituras de concessão para
controlarem vastos territórios da Europa , com o propósito de estabelecer
uma sólida base cristã na região inteira.
 c Promoveu muitas crenças e práticas espirituais tradicionais dos leigos
cristãos no Ocidente relacionadas à veneração de santos e às penitências
sacrifíciais e observâncias de dias festivos.
 c Criou o conceito híbrido da salvação entre o monergismo agostiniano e o
sinergismo de João Cassiano.

,([/32.B./32 .5E/
 c /3 3 33 X Gregório aceitou a doutrina da graça de Agostinho,
em forma simplificada, e a transmitiu à Idade Média. Ensinou que o amor e a
graça de Deus precedem a ação do homem. O mérito não precede a graça,
uma vez que a vontade humana é incapaz de fazer o bem. A graça
preparatória transforma a vontade. Na realização daquilo que é bom, a graça
coopera com o livre arbítrio. O bem, portanto, pode ser atribuído tanto a
Deus como ao homem. O objetivo da graça é produzir boas obras, que
podem ser recompensadas (na forma de regeneração e salvação).
 c /333?=3XPara Gregório, ³as orações, a penitência, as missas,
a intercessão e as boas obras são formas de intermediação do esforço
humano com o divino´. Entretanto, ninguém seria capaz de realizar esses
esforços de modo salvífico sem a graça auxiliadora. Mas quando a vontade e
o esforço cooperam com a graça e a pessoa persevera até o fim e entra para o
reino eterno, então, pode-se dizer que ela estava ³predestinada à salvação´.
A graça eletiva precisa estar presente. Segundo Gregório, ela não era
automática.
 c /33<8/3XA exposição de Gregório da doutrina da expiação
também serviu de modelo para vários teólogos medievais, entre eles
Anselmo e Abelardo. Gregório apresentou Cristo como exemplo para os
homens, bem como sendo aquele que ofereceu o sacrifício substitutivo e

17
expiatório a Deus, pelos pecados dos homens. Ele é o mediador entre Deus e
os homens, que levou sobre si a punição pela culpa dos homens.
O aspecto sacrifical da expiação associava-se à idéia que a ceia do Senhor é
um sacrifício, em que a morte de Cristo é repetida misteriosamente a favor
de nós.
 c  ./3  .6 X Além do aspecto de Cristo ser sacrificado em cada
celebração, Gregório enfatizava que a Ceia do Senhor influenciava o bem-
estar temporal das pessoas. Afirmava que pessoas foram salvas de
tempestade, naufrágios, prisões, etc., porque receberam a Ceia do Senhor em
seu favor.
 c ./I-/3XGregório desenvolveu o conceito de satisfação como meio pelo
qual a punição eterna podia ser mitigada ou removida; também apresentou
suas idéias sobre o 853E/nesta conexão.
A pessoa que realmente quiser agradar a Deus, garantir a eleição divina e
escapar da agonia do purgatório deve viver como um monge, que é a vida do
³penitente perfeito´5. Para Gregório o prazer físico, em si, é um convite ao
pecado ou mesmo o próprio pecado. As relações sexuais são pecado até
mesmo dentro do casamento a não ser quando visam o propósito de
procriação e, mesmo assim, se o ato tiver alguma concupiscência ou
proporcionar prazer carnal, pode implicar culpa. Se a pessoa quiser ser um
³instrumento perfeito´ e ter a ³garantia do perdão´ e do céu, terá de se filiar
a uma ordem monástica e negar ao corpo todos os tipos de prazeres que
talvez legalmente sejam permitidos por Deus, mas que contêm sementes da
tentação.

Gregório, o Grande, deve ser incluído, sem sombra de dúvida, entre os mais
importantes daqueles que lançaram os fundamentos para a teologia medieval e para a
cultura medieval em geral.

[
 
" 
O período de tempo em Gregório, o Grande, e o início da época da escolástica
(de 600 a 1050, em outras palavras) não se notabilizou por desenvolvimento no campo
da teologia. Apesar disso, uma coisa neste período é digna de nota: o entusiasmo com
que os povos recentemente cristianizados se devotaram aos recursos culturais tornados
acessíveis pelo cristianismo e pela antiguidade. A era do Império Carolíngio6 foi a
época áurea neste sentido.

5
Quando Lutero se filiou ao mosteiro agostiniano buscando um Deus gracioso, foi-lhe ensinada a versão
do agostinismo ensinada por Gregório. Ficou perturbado com a idéia de um Deus irado e impossível de se
agradar. Experimentou a autoflagelação para castigar-se pelos próprios pecados e completar a obra de
Cristo em seu favor através do auto-sacrifício. Chegou a odiar, mais do que amar, a Deus. Foi então que
teve sua grande ³experiência na torre´, percebendo que a auto-suficiência da graça e eficácia da fé eram
bastantes para se receber o perdão. Deixou de tentar de ser o penitente perfeito de Gregório e confiou na
graça, encontrando respaldo na declaração bíblica de que o ³justo viverá pela fé´. Em grande medida a
teologia protestante de Lutero foi uma reação contra a doutrina da salvação ensinada por Gregório.
6
 48A/ 3?>5/, também conhecido como o Império de Carlos Magno, foi o momento de maior
esplendor do Reino Franco (ocupava a região central da Europa). Este período ocorreu durante o reinado
do imperador Carlos Magno (768 ± 814).
Com uma política voltada para o expansionismo militar, Carlos Magno expandiu o império, além dos
limites conquistados por seu pai, Pepino, o Breve. Conquistou a Saxônia, Lombardia, Baviera, e uma
faixa do território da atual Espanha.

18
Nesta era também surgiu um bom número de teólogos importantes, tais como:
 c Alcuíno (m. 804),
 c Rábano Mauro (m. 856),
 c Radberto (m. 865),
 c Ratramno (m. depois de 868),
 c Hincmaro de Reims (m. 882)

Suas atividades não tomaram a forma de novas orientações no pensamento


teológico; em lugar disso, eles colecionaram e reproduziram a tradição mais antiga.
Entre os Pais Eclesiásticos referiram-se especialmente a Agostinho e Gregório.
Gostaria apenas de destacar alguns pontos teológicos que foram debatidos neste
período.

,$/33.2.3.3?. /23 ./3.6


Como já vimos anteriormente, a idéia que a Ceia do Senhor é repetição do
sacrifício expiatório de Cristo (o sacrifício da missa) começou a tomar forma na época
de Gregório, o Grande. O pão e o vinho são o corpo e o sangue de Cristo. Como se deve
entender isto exatamente? Especulações sobre esta questão ocuparam vários teólogos
durante a primeira metade do século IX. As especulações aqui levantadas prepararam o
terreno para a doutrina medieval posterior.
Pascásio Radberto apresentou a doutrina da presença real em termos
inequívocos: depois da consagração, existe apenas o corpo e o sangue de Cristo, embora
sob a forma de pão e vinho. O corpo que é dado é o mesmo que nasceu da virgem
Maria, que sofreu na cruz e ressuscitou dos mortos. A modificação que ocorre nos
elementos resulta do poder criador da Palavra onipotente. É obvio que isto se realiza de
maneira misteriosa, e até certo ponto, figurativa, uma vez, que os elementos retêm sua
forma externa.
Pascásio chegou a crer que o aspecto simbólico se restringe ao que é perceptível
e puramente externo: os elementos visíveis e seu recebimento por parte dos
comungantes. Mas o que é percebido internamente, a entrega do corpo e sangue de
Cristo, é realidade. Pela influência da Palavra e do Espírito, o pão torna-se o corpo de
Cristo e o vinho torna-se o sangue de Cristo.
Pascásio embora não tenha rejeitado plenamento a posição agostiniana com sua
interpretação simbólica; ele ressaltou a transformação ocorrida nos elementos como o
aspecto essencial.
As idéias de Pascásio deram contribuíram significativamente para a construção
da teologia da transubstanciação. 

,$/33./I-/33/4./33.3 3.!A/3
Na igreja antiga, penitência significava a readmissão na comunhão da igreja dos
que tinham caído em pecado manifesto após o batismo. Era ato público, que só podia
ser realizado uma vez. De início, acreditava-se que pecados graves como adultério,
assassinato ou apostasia estavam excluídos, mas eventualmente sua validez foi

Embora as conquistas militares tenham sido significativas, foi nas áreas cultural, educacional e
administrativa que o Império Carolíngio demonstrou grande avanço. Carlos Magno preocupou-se em
preservar a cultura greco-romana, investiu na construção de escolas, criou um novo sistema monetário e
estimulou o desenvolvimento das artes. Graças a estes avanços, o período ficou conhecido como o
Renascimento Carolíngio.

19
estendida para também cobrir esses pecados. Esta forma de penitência foi mantida até o
fim do século VI.
Na Igreja Celta, que em muitos sentidos preservou seu caráter peculiar, a forma
pública de penitência era desconhecida. Por outro lado, a forma privada, composta de
confissão ao sacerdote, satisfação e readmissão à comunhão da igreja, chegou a existir.
Fazer penitência podia incluir jejum e orações, dar esmolas, viver em
abstinência, e assim por diante. A forma mais severa era o exílio de permanente.
Algumas das formas mais prolongadas de penitência podiam ser reduzidas se o
penitente guardasse uma vigília, recitasse continuamente os Salmos, ou fizesse outra
coisa difícil. A possibilidade de ³redenção´ também era reconhecida: uma forma de
punição podia ser substituída por outra, ou uma pessoa podia até mesmo comprar os
serviços de outra que faria a penitência por ela, conforme manuais eclesiásticos datados
do século VI.
Missionários celtas e anglo-saxões levaram esta forma de penitência ao
continente, onde foi gradualmente aceita sem qualquer oposição. Manuais de confissão
francesa datando da segunda metade do século VIII adotaram os regulamentos celtas.
A forma céltica de penitência continuou a crescer em popularidade, e chegou a
formar a base da nova praxe da penitência na Igreja Católica Romana.
A penitência nesta forma implicava em contrição, confissão e satisfação.

 c A contrição era ressaltada, o pecador devia estar arrependido.


 c A confissão se tornou obrigatória até mesmo para pecados menos graves.
O Quarto Concílio Laterano de 1215 prescreveu que a confissão deve ser
feita no mínimo uma vez ao ano.
 c A satisfação era dada pela absolvição do sacerdote ao pecador. O ato
público de reconciliação foi substituído pela absolvição do sacerdote.

Desde o início, o emprego do confessionário relacionou-se com o ofício do


sacerdote e seu poder de ligar e desligar. O sacerdote podia ³ligar´ (continuava
devedora) uma pessoa ou excomungando ou ainda lhe prescrevendo outra espécie de
penitência. O sacerdote ³desligava´ uma pessoa concedendo-lhe a absolvição. Como
resultado disso, o confessionário tornou-se o mais importante meio de exercer disciplina
na igreja, o vínculo mais forte entre sacerdote e povo.


$ #  
 [   N  

A igreja ocidental que se tornou católica romana sempre se considerou, também,
ortodoxa romana. A igreja oriental que se tornou o que hoje chamamos de ortodoxa
oriental sempre se considerou, também, católica oriental. Desde 1054, cada uma se
considera a única e verdadeira Grande Igreja que é católica e ortodoxa. Uma vê a outra
como grupo cismático que não é totalmente católico nem totalmente ortodoxo.
A igreja oriental também teve um personagem que se impôs da mesma maneira
que Agostinho, seu nome era Orígenes.

,$ B?I-/3.43... >5..2


Embora Orígenes e o origenismo fossem condenados pelo quinto concílio
ecumênico em Constantinopla em 553, continuaram poderosamente influentes no
pensamento cristão oriental.
O origenismo marcou a igreja oriental e sua teologia com um conceito
fortemente sinergístico da salvação, que enfatiza o livre-arbítrio em cooperação com a

20
graça, e a doutrina racional-mística de Deus que enfatiza a inefabilidade e imutabilidade
de Deus. A soteriologia de Orígenes concentra-se na idéia da encarnação salvífica, na
qual o Logos, ao se tornar humano em Cristo, transforma a própria criação, vencendo o
pecado e a morte.
Duas grandes controvérsias e três grandes teólogos desempenharam papéis
cruciais especialmente no desenvolvimento da ortodoxia oriental com um ramo da
teologia cristã, distinto do catolicismo romano. As controvérsias foram a monotelista e a
iconoclasta. Os três teólogos foram João Crisóstomo, que recebeu a alcunha de o Boca
de Ouro por sua grande habilidade homilética, Máximo o Confessor, que foi martirizado
por um imperador bizantino por causa de sua oposição inflexível ao monotelismo, e
João Damasceno, que proveu um grandioso sumário da fé ortodoxa e defendeu o uso de
ícones (imagens santas) pela igreja no culto, contra aqueles que tentavam pribi-los.

,$# /2E24 0-3. %(D[(*L+
Crisóstomo foi contemporâneo de Agostinho. Nasceu em Antioquia, por volta de
349, em uma família relativamente abastada com certa posição social.
Embora as massas gostassem muito de suas pregações e ensinamentos, a
reputação de Crisóstomo na elite cultural reinante em Antioquia nem sempre foi
favorável, porque muitos dos seus sermões atacavam o consumismo exagerado e estilo
de vida egoisticamente afluente desse grupo. Mesmo assim, era tão benquisto e
respeitado por todos que, em outubro de 397, foi nomeado bispo de Constantinopla pelo
imperador Teodósio I.
Uma vez instalado em Constantinopla como patriarca, João Crisóstomo iniciou
uma campanha maciça para moralizar e reformar os clérigos e monges da cidade.
Acreditava que o favoritismo do imperador e da corte imperial pelo cristianismo tinha
ocasionado uma letargia moral e espiritual e que ele era chamado por Deus para moldar
a igreja e reconduzi-la ao caminho certo.Começou quase imediatamente a pregar
sermões poderosos na grande catedral contra, a predominância do imperador sobre a
igreja ± predominância esta que, no Ocidente, foi chamada de cesaropapismo. Declarou
a independência dos bispos em relação à corte e condenou a prosperidade e opulência
que coexistam com a mais abjeta indigência em Constantinopla. Além disso, ordenou
aos monges e clérigos trabalhar, cuidar de seus rebanhos e deixar de viver luxuosamente
às custas dos ricos que os patrocinavam.
Nem é preciso dizer que Crisóstomo rapidamente se tornou herói das massas
indigentes e oprimidas, tanto cristãs quanto pagãs, que corriam para escutá-lo.
Embora Crisóstomo não tenha sido tanto um teólogo, não escreveu nenhum livro
de teologia, ocupa um lugar de importância na história da igreja ortodoxa oriental, pois
para a mesma ³ o bom teólogo é aquele que ora e prega bem´.

,$!1</47 B.22.4.?/24%')*[LL+
Os monofisistas7 eram cristãos que, sob a influência de Alexandria, acreditavam
que a definição de Calcedônia realmente violava o espírito da doutrina da união
hipostática, defendida por Cirilo de Alexandria. Entendiam que ela favorecia a idéia
antioquiana de duas naturezas e duas pessoas em Cristo. Em outras palavras,
acreditavam que não era suficiente para excluir o nestorianismo8.

7
!B/2/24 (em grego 
 - "um, único" - e physis - "natureza") - é a posição cristológica de que
Cristo tinha apenas uma natureza, sua humanidade tendo sido absorvido pela divindade.
8
.2/3/24 $ é a posição cristológica de que Cristo tinha duas naturezas humana e divina
(vagamente unidas). Maria concebeu o Cristo homem que mais tarde passou a ser Deus.

21
Uma proposta aparentemente atraente para acabar com esse hiato foi o
4.?/247 a idéia de que, embora Jesus Cristo fosse uma só pessoa integral com
duas naturezas completas, porém inseparáveis, tinha uma única vontade: a divina. Os
monotelistas e seus simpatizantes esperavam que esse acordo fosse reunificar a igreja,
afinal, as partes não estavam cedendo tanto assim.
Máximo lutou combateu o monotelismo até o fim de sua vida, sendo executado
por esse motivo. Sua luta contra o monotelismo e em favor do .?/24 ± a crença
em duas vontades naturais de Cristo ± levou-o a Roma, onde tentou persuadir papas a
tomarem uma posição firme contra os acordos defendidos pelos imperadores bizantinos.
Depois de recusar a retirar suas opiniões duotelistas e a fazer um acordo com os
monotelistas, Máximo foi morto sob tortura por ordem do imperador em 13 de Agosto
de 661.

,($#3432-..3/--?32/3%32-.O[L'*.4.O[K'*+
Os iconoclastas argumentavam que imagens de Cristo violavam o espírito da
proibição bíblica da idolatria e deturpavam a cristologia.
João Damasceno é citado na história da teologia por várias contribuições, mas
acima de tudo por ter fonecido o fundamento lógico e a justificativa teológica para o
emprego de ícones na adoração. Por seus critérios em favor dos ícones, a igreja oriental
encontrou a maneira de reinstituí-los sem implicar idolatria.
João passou a justificar o uso de ícones na adoração ao fazer a distinção sutil,
porém importante, entre a adoração propriamente dita de uma pessoa ou objeto e a mera
veneração ± um certo respeito por alguma coisa, por ser dedicada a Deus e permeada
por sua energia espiritual.
A maneira de João enxergar os ícones afetou profundamente o Segundo Concílio
de Nicéia em 787, que foi o sétimo e último concílio ecumênico, segundo a ortodoxia
oriental. Os bispos ali reunidos decidiram pela condenação dos iconoclastas.
João Damasceno também é conhecido como o último dos grandes pais da igreja
da tradição ortodoxa oriental.

Embora a igreja ocidental, que considerava Roma seu centro, reconhecesse e


aceitasse o sexto e o sétimo concílios ecumênicos e considerasse tanto Máximo quanto
João Damasceno grandes expositores da fé, no fim do século VIII, os dois ramos da
grande igreja separaram-se definitivamente por causa de diferenças na forma de
governo, nos estilos de culto e nos conceitos do credo trinitariano.
Vejamos algumas causas que levou ao Cisma de 1054.

,'$?>/-3. /243
É claro que a política desempenhou papel importante nesse rompimento. Os
imperadores bizantinos 9 de Constantinopla ainda consideravam seu reino o único
império cristão verdadeiro, embora estivesse cada vez mais reduzido pelas constantes
invasões dos muçulmanos. Eles e seus bispos entendiam que o Império Romano Cristão
de Constantino, Teodósio e Justiniano ainda existia e devia incluir o Ocidente. Os papas
de Roma, no entanto, confiavam cada vez mais nas tribos bárbaras cristianizadas, como

9
O Impero Bizantino - sob Justiniano I, considerado o último grande imperador 43, albergava
Cartago e áreas nos atuais Marrocos, sul da península Ibérica, sul da França, Itália, bem como suas ilhas,
península Balcânica, Anatólia, Egito, Oriente Próximo e a Crimeia, no mar Negro.
Tradicionalmente, era conhecido apenas como Império Romano do Oriente (devido à divisão do Império
feita pelo imperador romano Tedósio I, no século IV da Era Cristã).

22
os francos da Europa Central, para restabelecer o antigo Império Romano no Ocidente.
No Natal de 800, um papa coroou o rei dos francos, Carlos Magno, como imperador do
novo e revivificado Sacro Império Romano. O Imperador bizantino, no mínimo ficou
consternado.

,L$.?5/3. /243
5.93 /.3?% 23/8?3+
 c Permitia que os sacerdotes se casassem antes de serem ordenados.
Somente os monges deveriam ser celibatários. Sacerdotes não poderiam
se casar depois de consagrados, caso fossem ordenados estando solteiros.
 c Se apoiavam na teologia escrita por Ireneu, Orígenes, Atanásio, aos pais
Capadócio, Cirilo, Máximo e outros teólogos orientais, de
Constantinopla.
 c Insistia no livre-arbítrio e no conceito sinergista da salvação.
 c Não reconheciam a autoridade do papa ocidental ± interpretavam a
³pedra´ que Jesus se refere(Mt 18.19) a fé de Pedro e não o próprio
Pedro.
 c A controvérsia FILIOQUE X Não aceitavam a inclusão no "` `
`
 do termo ` (e do Filho). Diziam altera a doutrina da
trindade. Criam numa certa superioridade de uma pessoa para outra,
numa hierarquia das três pessoas divinas.
³Creio no Espírito Santo, Senhor, doador vida, e procede
do Pai (e do Filho); e com o Pai e o Filho é adorado e
glorificado; que falou pelos profetas´.

5.93 -/.3?%43+
 c Defendia o celibato clerical universal.
 c Se apoiavam na teologia escrita por Agostinho, Gregório, etc.
 c Insistia na soberania exclusiva da graça e admitia um monergismo
modificado.
 c Não aceitavam que o imperador interferisse no governo da igreja. Diziam
que a igreja do oriente possuía um cesaropapismo, isto é, ³César é o
papa´.
 c A controvérsia FILIOQUE X Aceitavam a inclusão do termo ®` 
+*, embora não soubessem como a mesma surgiu. Acreditavam que
o Espírito Santo era a pessoa divina que transitava entre o Pai e o Filho.











23
(
H  

P 

$ 2/.3M.2 .3/2
Dentro do contexto da história do dogma, o termo escolástica refere-se à teologia
que tomou forma nas universidades ocidentais, principiando em meados do século XI,
alcançando seu apogeu no século XIII, e deteriorando na Baixa Idade Média, sendo
finalmente destruída pelo humanismo e pela Reforma.
O caráter distintivo da escolástica foi seu emprego do método filosófico. Os
escolásticos empregaram o sistema dialético herdado da antiguidade e introduzido na
filosofia ensinada nas escolas e nas universidades que floresceram na Idade Média sob a
proteção da igreja e dos mosteiros.
Expressões como ³escolástica´ e ³escolasticismo´ são frequentemente usadas
para designar uma espécie de teologia formalista e estéril, cuja exposição é confundida e
embaraçada pela inclusão de distinções desnecessárias e racionalização vazia. Todavia,
como avaliação geral da escolástica da Idade Média, este conceito é falso. A escolástica
medieval por vezes degenerou, é verdade, mas em seus melhores momentos representou
atividade séria, em que problemas teológicos forma hábil e energicamente estudados.
A avaliação habitual da escolástica frequentemente é influenciada pela critica do
humanismo e da Reforma.
Dois fatores especialmente, contribuíram para o desenvolvimento da escolástica:
3.=33/5.937de um lado, que se exprimiu na reforma monástica, e por outro
lado, 3-.2-..322-/3-43.-3B/?2EB/-3 da época. A fé estava em busca
da inteligência, isto é, fé desejava andar de mãos dadas com a razão.

,$ ./3.6
 c Berengário de Tours (m. 1088) X protestou contra a crescente aceitação da
idéia que os elementos são transformados pelas palavras da consagração
(contra a transubstanciação). Defendeu a posição Agostiniana.
 c Lanfranc (m. 1089, arcebispo de Cantuária) X Grande defensor da
transubstanciação.
 c Neste período se afirmava também a posição da consubstanciação. A
consubstanciação ou impanação sustentava que os elementos retêm suas
características externas e também sua própria substância natural, enquanto
servem, ao mesmo tempo, de portadores da presença de Cristo.
 c A doutrina da transubstanciação foi subsequentemente estabelecida pelo
papa Inocêncio III no Quarto Concílio Laterano de 1215.

,$ =A2/3.4/3?/24..3?/24
 c 4/3?/24XSustentava que os conceitos universais do homem nada são
além de figuras de palavras ou nomes, que usamos para identificar o que é
comum a vários objetos da mesma categoria.
Oc <, Uma mesa. A mesa é um objeto real. Mesa é o nome dado para
identifica este objeto de 4 pernas (geralmente), com uma plataforma
plana em cima das pernas.
Oc Essa posição filosófica contradizia a doutrina da Igreja sobre a
Trindade. A palavra ³Trindade´ é o nome dado a um objeto que não
pode ser distinguido (não pode ser bem definido), nem suas
qualidades o podem ser. Portanto sua existência não era aceita pelos

24
nominalistas. Para estes ou existia somente um Deus sem distinguir
as três pessoas ou três deuses.
 c .3?/24 X Os conceitos que  são percebidos pelos sentidos, mas que
são formados por nossos poderes racionais, representam algo real, uma
espécie mais elevada de realidade, que só a razão entende.
Oc Anselmo foi o grande defensor do realismo. Ele afirmava que Deus
não existe apenas na inteligência, mas também na realidade. Anselmo
desenvolveu uma linha de pensamento sobre essas bases, chamados
de argumento ontológico, que foi retomada por René Descartes e
criticada por Immanuel Kant, e ela estava numa obra chamada
Proslógio. Ele parte do fato de que o homem encontra no mundo
muitas coisas, algumas boas, que procedem de um bem absoluto, que
é necessariamente existente. Todas as coisas tem uma causa, menos o
ser incriado, que é a causa de si mesmo e fundamenta todos os outros
seres. Esse ser é Deus. Seus argumentos não foram totalmente
aceitos.
 c . @.?3 %*KD[(+ X Este tinha uma posição intermediária, com
relação a realidade dos universais. Abelardo distinguia entre conceitos como
meros complexos de sons (vocês) de um lado e como designações da
realidade do outro (sgna0. Entidades às quais os conceitos servem de sinais
não existem fora das coisas como substâncias independentes. Mas, ao
mesmo tempo, pode-se atribuir realidade definida aos conceitos universais:
existem antes das coisas, como padrão do projeto na mente de Deus. Além
disso, existem 2 @9.2 individuais como sua forma ou substância. E
como designações daquilo que é comum a vários indivíduos existem .4
223 4... Esse realismo modificado foi posteriormente adaptado por
Tomás de Aquino, que expressou sua posição na fórmula ³universais antes
das coisas, nas coisas e depois das coisas´.
Oc <,  Uma cadeira. A palavra ³cadeira´ expressa um som, mas que
pode não definir uma cadeira para aqueles que não conhecem esse
objeto. Neste caso você tem 44.-48?.<.24,
A palavra ³cadeira´ pode expressar um objeto real para aqueles que
já tiveram contato com este objeto. Neste caso você tem 3
.2/53(uma indicação) 3.3?/3.,
Para Abelardo ³a cadeira´ já existia na mente de Deus 3.2 do
homem fabricá-la. ³A cadeira´ existe  mundo hoje como realidade.
³A cadeira´ existe em nossa mente como realidade concreta.

,$ .2.=?=/4.!A.?E5/-
Considerada de certo ponto de vista, a escolástica foi uma maneira independente
de lidar com a tradição teológica herdada do passado. Como já foi visto, esta nova
exposição teológica foi feita com o auxílio da filosofia, usada de uma ou de outra
maneira. Não houve desenvolvimento na Igreja Oriental que, em sua maior parte,
contentou-se em preservar as decisões dogmáticas dos pais eclesiásticos.
Anselmo de Cantuária, mais que qualquer outro, foi responsável pelo
desenvolvimento escolástico da tradição herdada.
Anselmo procurou avançar da fé ao conhecimento dos mistérios da fé. Desejava
empregar os poderes da razão, tanto quanto possível, em seu exame das bases racionais
da verdade revelada. . 43./3 2/48?.27 2.?47 B3;/3 43 ?./3 @>@?/-3
?.=3.4-343?./33-/3?.?E5/-33=.3..=.?33,

25
Pedro Abelardo também exerceu influência poderosa na formação do método
teológico. Foi ele quem introduziu o método dialético, que era a ousada tentativa de
combinar autoridade e razão, fé e erudição independente. Abelardo partia do
fundamento que fé e razão não podem contradizer-se, uma vez que se originam na
mesma fonte ± a verdade divina..43./32/48?.27@.?37-?-3=333?3=3
..2.4-B-432Q=.3.2/=.23/2R.-432B.2-/22,
Pedro Lombardo (m. 1160) combinou a adaptação meditativa da tradição
fornecida por Anselmo e pelos representantes da escola de S. Vitor com o método
dialético de Abelardo.
Com respeito às várias questões de pormenores que são citadas a favor e contra,
da Bíblia e dos pais eclesiásticos, Lombardo procurou, com o auxílio do método
dialético, demonstrar como tais afirmações contraditórias podiam ser trazidas a um
acordo.

,($HA.3;
Anselmo, tal como Agostinho antes dele, com respeito à relação entre fé e razão,
representava aquela posição que comumente se caracterizava pela expressão: ³creio
para que possa compreender´ (credo ut intelligam). Os que seguem esta corrente
enfatizam que a fé é o pressuposto para a percepção racional da verdade revelada.
Agostinho assim o expressou: ³compreender é a recompensa da fé´.
Neste conceito teologia e filosofia podem ser harmonizadas. Aquilo que forma o
conteúdo da fé, e que o homem entende pela fé, também pode ser entendido pela razão ±
ao menos até certo ponto. A fé e os princípios da razão não são antitéticos. É a tarefa da
teologia apresentar o conteúdo da fé de tal maneira que possa ser entendido e
compreendido. Por essa razão, segundo Anselmo, a teologia deve seguir princípios
filosóficos e utilizar da lógica. Contudo é a fé que tem a primazia, pois o homem não
chega a fé através da razão, mas compreende através da fé.
Abelardo, embora concordasse que a fé e razão podiam andar lado a lado,
diferentemente de Anselmo, acreditava que a vontade do conhecer tinha primazia sobre
a fé.

,(c$./33<8/3.52.?4
Anselmo não pretendeu simplesmente fornecer uma interpretação teológica da
obra de Cristo, mas demonstrar que a doutrina da encarnação e a da expiação realizada
pela morte de Cristo são apoiadas pela lógica.
A doutrina da satisfação na teoria de Anselmo tem seu fundamento na
cosmologia e na história da salvação. Anselmo cria que Deus, em sua sabedoria e amor,
decidira desde a eternidade estabelecer um reino de seres racionais, obedientes a sua
vontade e que estes vivessem debaixo de seu governo. Quando os seres angelicais
cairam, Deus criou os homens para substituir os anjos caídos. Quando o homem se
afastou de Deus por um ato de desobediência, todo o plano para o universo foi
pertubado. A honra de Deus foi atacada, essa deveria ser restaurada e o homem punido
por sua ofensa.
Segundo Anselmo o plano de Deus não poderia deixar de ser cumprido e a honra
de Deus deveria ser restaurada. O homem não tinha condições de honrar a Deus e nem
restaurar o plano concebido na eternidade. Caso o homem fosse punido com a
destruição, o plano de Deus seria frustrado. Restava, à Deus, somente providenciar um
remédio (satisfação).
O homem é incapaz de realizar tal satisfação. O homem fora criado para
obedecer e servir a Deus fielmente. Tudo que o homem fizesse é apenas dever de sua

26
parte. O pecado exigia algo maior do que apenas obediência, uma vida plenamente
justa. Somente Deus poderia pagar a exigência do pecado. Contudo somente outro
homem deveria pagar o preço exigido pelo pecado para honrar novamente ao seu
criador. O homem foi o causador, portanto o homem deveria pagar o preço de seu erro.
Esta satisfação foi feita, segundo Anselmo, não mediante a vida de Cristo, pois
sua obediência era apenas aquilo que devia a Deus, mas antes por intermédio de sua
morte. Cristo não estava sujeito à morte, mas sujeitou-se voluntariamente a ela,
adquirindo desta maneiro o mérito que para todo o sempre remirá os pecados de todos
os homens.
A teoria de expiação de Anselmo desenvolveu o ponto de vista jurídico (ou
forense). A expiação é satisfação vicaria, que de modo superabundante remiu a culpa de
todos os homens e assim restaurou a honra ofendida de Deus.






























27
'

[

P 
O desenvolvimento da escolástica atingiu seu apogeu durante o século XIII.
O avanço geral da ciência e da erudição formou a base para as realizações
teológicas desta época. A Universidade de Paris, que se tornou baluarte internacional
para a educação teológica, substituiu as escolas catedrais de Paris do século XII. As
duas ordens mendicantes, a dominicana e a franciscana, fundadas no início do século
XIII, também muito fizeram para promover o estudo teológico erudito. Os principais
teólogos da época associaram-se a estas ordens. O conhecimento crescente da filosofia
neoplatônica e, acima de tudo, a aristotélica, que então tornou-se acessível contribuíram
significativamente para o desenvolvimento doutrinário da alta escolástica.
Antes disso, o conhecimento ocidental de Aristóteles limitava-se a seus trabalhos
no campo da lógica, mas no século XIII seus outros escritos também se tornaram
conhecidos. Os teólogos descobriram, sobretudo na metafísica e ética de Aristóteles,
vários pontos de vista e definições que podiam ser úteis a sua abordagem científica a
questões doutrinárias.
Na alta escolástica a filosofia, em relação ao conhecimento obtido pela fé,
recebeu posição diferente da que os primeiros escolásticos lhe tinham atribuído. Os
primeiros escolásticos empregaram o método dialético10 na discussão das verdades da
fé, a fim de, por assim dizer, demonstrar sua necessidade lógica 3 82.//, Na alta
escolástica, a adaptação racional tornou-se mais independente em relação à Fe. A
cosmovisão metafísica11 chegou a constituir a base de toda a exposição teológica. A fé
formava a superestrutura do conhecimento natural tomado do sistema metafísico de
Aristóteles.

,$52//3/24%.8?3/24+N/2.?/24
Embora a teologia da escolástica, em geral, não cultivasse um ponto de vista
especifico, preferindo sintetizar os elementos das diversas fontes, podemos, contudo,
discernir duas correntes predominantes a dos Agostinianos (que tinha uma forte
influência neoplatônica) e a dos aristotélicos (teólogos influenciados pelos pensamentos
de Aristóteles).
A corrente agostiniano-neoplatônica estava representada acima de tudo pelos
franciscanos mais antigos, enquanto que os teólogos da ordem dominicana
aproximavam-se mais do ponto de vista aristotélico. Mas não há linha demarcatória
nítida: os que perpetuaram a tradição agostiniana também se devotaram em certa
medida aos novos conceitos aristotélicos; ao mesmo tempo, havia dominicanos que
utilizavam muito da herança agostiniana.

10
!A/3?A/- X(do grego įȚĮȜİțIJȚțȒ (IJȑȤȞȘ), pelo latim `, ou `,`) - é um método de
diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que leva a outras ideias e que tem sido um
tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigos.
11
!.3B>2/-3 X (do grego antigo ȝİIJĮ [`- = depois de, além de; e ĭȣıȚȢ [ .   = natureza ou física)
- é uma das disciplinas fundamentais da filosofia. Os sistemas metafísicos, em sua forma clássica, tratam
de problemas centrais da filosofia teórica: são tentativas de descrever os fundamentos, as condições, as
leis, a estrutura básica, as causas ou princípios primeiros, bem como o sentido e a finalidade da realidade
como um todo, isto é, dos seres em geral. Em sua concepção clássica, os objetos da metafísica não são
coisas acessíveis à investigação empírica; ao contrário, são realidades transcendentes que só podem ser
descobertas pelas luzes da razão.
William James (psicólogo e filósofo) definiu a Metafísica como "apenas um esforço extraordinariamente
obstinado para pensar com clareza".

28
Tomás de Aquino, o mais destacado dos teólogos, na realidade reuniu pontos de
vista agostinianos e aristotélicos. Como filósofo, entretanto, Tomás aproximava-se mais
de Aristóteles do que de conceitos puramente agostinianos.
 /-83  3/2.?/24 3 .?5/3 -/2 8.22863 3 .9./
.-.2--./2.4//28.?B/?E2B835.2.2-4.3.2743=.;F.
.34-1/23-/2/3/24,Para poderem fazê-lo e simultaneamente sustentarem
os pontos fundamentais da fé cristã, estes homens se refugiavam na teoria da verdade
dupla: o que é verdadeiro na filosofia pode ser falso na teologia e vice-versa.

,$/B..32..352//3/24[8?3S/-.3/2.?/24 
 c  82/ 352//33[.8?3S/-3 baseava-se na idéia que o
conhecimento intelectual pode ser essencialmente derivado de ³iluminação´
imediata. O homem participa do pensamento divino, e seu intelecto,
portanto, possui dentro de si mesmo a capacidade de criar percepção. Coisas
externas não são a causa direta de nosso conhecimento; apenas fornecem os
impulsos que levam o indivíduo a formar o conhecimento. Denomina-se essa
teoria de iluminação, que também é significativa para a compreensão da fé. 
Oc <, O homem crê a partir de uma iluminação interior.
 c  82/ 3/2A?/-3 baseava-se na idéia que o homem recebe o
conhecimento de fora. Em sua relação com o mundo exterior, o intelecto é
passivo, e possui a capacidade de receber a forma das coisas como 28.-/.2
/.??/5/@/?.27que são transformadas passando de coisas ao intelecto através
de impressões sensoriais. ³Nada há no intelecto que antes não tenha estado
nos sentidos´. Essa posição inclui maior interesse empírico e acentuado
sentido de realidade tangível. Isto também tem sua importância na teologia.
Oc <,  O homem crê a partir de uma experiência exterior ou de um
conhecimento adquirido.
 c 8?5/3352//33afirmava que a alma do homem era uma entidade
independente, isto é, não esta ligada ao corpo.
 c 8?5/33/2A?/-3afirmava que a alma e o corpo era uma unidade.
 c  .2-?3 352//33 & B3-/2-33 era voluntarista, isto é, a vontade era
considerada o fator decisivo, governando de maneira soberana as ações das
pessoas.
 c  .2-?3 3/2A?/-3 era intelectualista, isto é, o intelecto é que governa o
homem. O intelecto influência a vontade, de modo que a vontade deseja o
que o intelecto considera bom. 


,$ 2/4./2H3-/2-32(Agostinianos-neoplatônicos)
 c ?.<3. . Ê3?.2 (m. 1245, o primeiro franciscano a ensinar na
Universidade de Paris) foi o fundador da alta escolástica autêntica.
 c 03=.3 (m. 1274, contemporâneo de Tomás de Aquino, e como ele,
professor em Paris) relacionava-se intimamente com seu predecessor,
Alexandre de Hales, e com a tradição agostiniana. Boaventura e seus
seguidores foram, até certo ponto, adversários de Tomás de Aquino e dos
tomistas.
 c 2-2(m. 1308, professor em Oxford e Paris),




29
,($2-?34//-33(aristotélica)
 c ?@. !35 (m. 1280, nascido em Würtemberg) legou à posteridade
enorme quantidade de obras que dão testemunho de sua erudição universal.
 c 412 . F/ (m. 1274, com apenas 50 anos de idade; professor em
Paris e por algum tempo na cúria papal e em Nápoles, filho de destacada
família italiana) levou o escolasticismo ao seu apogeu. Sobrepujou Alberto
como sistemático, e também obteve sucesso na integração dos novos
conceitos aristotélicos e da tradição cristã numa união orgânica.


[ !P:  
Veremos algumas doutrinas segundo o ponto de vista de Tomás de Aquino
 c /3-6.-/4...2XBásica para todo o sistema tomista é
a convicção que o intelecto humano está em concordância com a essência
das coisas e que, no processo de conhecer, a mente do homem se identifica
com as coisas e participa de sua essência.
Assim acontece que a possibilidade de conhecer o homem a Deus como o
Ser mais elevado e como o fundamento de toda a realidade se encontra na
capacidade do intelecto de entender a natureza das coisas. O homem não
pode, naturalmente, entender a natureza absoluta de Deus, que é
infinitamente superior às coisas criadas. Mas, apesar disso, há uma conexão
entre o Ser absoluta e o mundo criado ± ambos existem.
Em virtude do nosso mundo criado, portanto, podemos chegar a algum
conhecimento de Deus.
Para Tomás há outra maneira, também, de se conhecer a Deus, mais elevada
que a razão (conhecimento por meio da criação) que não pode ser alcançada
pela especulação metafísica. Este é o conhecimento de Deus que vem ao
homem através da revelação. Deriva-se diretamente de nosso conhecimento
de Deus, e é acessível ao homem mediante a luz da graça.
É este conhecimento sobrenatural de Deus que é o verdadeiro assunta da
teologia, segundo Tomás. Ele rejeitava a idéia do conhecimento imediato,
congênito de Deus, isto é, do conhecimento que vinha simplesmente pela fé
interior, uma iluminação sem base alguma.
 c .?5/3 . /I-/3 X Na opinião de Tomás, teologia é uma ciência. Ao
mesmo tempo, é diferente do conhecimento racional, uma vez que o
conteúdo da fé é inacessível à razão e só pode chegar ao homem por meio da
revelação e da luz da graça. A razão é incapaz de perceber o fundamento da
verdade revelada, mas a fé o aceita com base na autoridade divina. Contudo
ela é ciência por que pode ser provada através das experiências das pessoas e
da criação. Segundo Tomás uma ciência mais ³elevada´.
Oc 2-2rejeitava a idéia de que a teologia era uma ciência. Para
ele a ciência trata do universal, daquilo que as coisas têm em comum,
de leis e princípios universais. A teologia, por sua vez, trata da
revelação de Deus, que inclui, entre outras coisas, as obras
especificas da salvação, às quais a Escritura dá testemunho.
 c /33.<8/3XTomás de Aquino associava a doutrina da expiação
aos sacramentos. Através de seu sofrimento que incluía toda sua vida terrena
e não apenas sua morte, Cristo obteve mérito suficiente para contrabalançar
os pecados de todos os homens de todos os tempos. Esse mérito é transferido
aos fiéis através dos sacramentos, que trazem até nos os dons da graça. 

30
Oc 2 -2 também relacionava a salvação com o sofrimento de
Cristo, mas essa relação, como ele a via, existe apenas porque Deus
aceitou o sacrifício de Cristo como substitutivo para compensação
humana. Tudo depende, em última análise da livre aceitação de Deus
(vontade domina). Tal posição afasta-se muito da idéia da
necessidade racional da expiação como apresentada por Anselmo.

[   

P 
Como resultado da obra expiatória de Cristo, o plano de Deus para a salvação da
humanidade entrou em ação. Através da predestinação, Deus escolheu aqueles que
crêem em Cristo para serem libertados do pecado e para alcançarem a bem-aventurança
e a vida eterna. Isto acontece na justificação e no decurso da obra permanente da graça
na vida do homem. A vida na igreja, sob a influência da Palavra e da graça sacramental
é, portanto, uma continuação da obra expiatória de Cristo, e a execução no tempo do
decreto eterno da predestinação.
Que é graça? É o favor de Deus dado aos homens.
 c 33 /-/33 %53/3 /-.33+ X Diz respeito a vontade eterna
amorosa de Deus. O presente ou favor que surge da realidade do próprio
Deus, pois ele é amor. Esta além do homem.
 c 33-/33 %53/3-.33+ Xaquela graça que vem ao homem como
dádiva e, por conseguinte, prepara o caminho para a salvação humana,
Inclui tudo aquilo que Deus dá ao homem gratuitamente.
Oc 33/B23Xque realiza a justificação e produz boas obras.
Oc 33 533 33 X Graça dada livremente ao homem, sem
envolver a questão do mérito. Graça essa que conduz o homem a
salvação, mesmo o homem natural (sem Cristo).
 c 33 3-34.3? X O favor de Deus advindo por meio dos
sacramentos. Através da graça sacramental se recebe a graça justificante,
que é um 63@/2infuso. Esse habitus eleva a natureza do homem a um
nível mais alto. Essa graça infusa altera a direção da vontade do homem
para Deus e torna possível tanto a fé genuína como o espírito de
arrependimento, que é motivado, não pelo temor à punição, mas pelo
amor a Deus. A graça sacramental é recebida primeiramente pelo
batismo, mas também pelo penitência e pela Ceia do Senhor. A graça
uma vez perdida pode ser reconquistada pela penitência.

A proclamação da Palavra, ou evangelho, ocupa lugar relativamente obscuro no


plano da salvação. Apenas providencia o conhecimento necessário para se receber a
533 23-34.3?, e com ela a justificação. A ênfase principal recai sobre os
sacramentos.
O evangelho é apresentado como nova lei, que não apenas ordena, mas também
confere o poder necessário para se poder cumprir com seus mandamentos. Mas esse
poder não é fornecido pela própria Palavra; vem através dos sacramentos instituídos por
Cristo.

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12
Ê3@/2X 383-/3.833-.2-.743B31=.?-.2-..,

31
A escolástica aos poucos formulou o ponto de vista geralmente aceito na Igreja
Católica Romana. Principiando com Pedro Lombardo, julgou-se haver sete
sacramentos:
1.c Batismo
2.c Confirmação
3.c Ceia do Senhor
4.c Penitência
5.c Extrema Unção
6.c Ordenação
7.c Matrimônio

Todos os sacramentos eram considerados portadores da graça que resultara do


sofrimento substitutivo de Cristo. Os sacramentos manifestam esse sofrimento de várias
maneiras, e transmitem seu poder de curar e sua influência criadora aos membros da
igreja.
Tomás acreditava que a graça na só se relaciona ³moralmente´ ao uso externo
dos sacramentos, mas também está ³fisicamente´ incluída neles. Segundo essa teoria, os
sacramentos não são simplesmente sinais da graça que Deus outorga de maneira
invisível, mas são em sentido real a causa da comunicação da graça. Acreditava,
portanto que a ação sacramental é por si mesma eficiente, independente da fé nas
palavras da promessa.

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32
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$  -34/24
O nominalismo da Baixa IdadeMédia, que deve ser distinguido da escola
anterior de nome igual, foi fenômeno sem paralelo na história da teologia.
O Fundador e principal representante desta escola foi Guilherme de Occam
(professor em Oxford; acusado de heresia e citado a Avignon, onde foi mantido em
custódia por quatro anos; mais tarde ensinou em Munique, onde foi protegido pelo
imperador da Bavária; faleceu em 1349).
Occam reexaminou o problema dos universais que tinha sido tema importante de
debate para os primeiros escolásticos. Occam rejeitou o realismo de Tomás de Aquino e
fez reviver a posição nominalista, que afirmava que apenas o individual possui
realidade.
A tarefa da ciência é investigar conceitos em seu contexto e suas relações. Como
resultado, a lógica era a ciência básica na opinião dos ocamistas, enquanto que a
metafísica devia ser abolida.
Occam desenvolveu sua espistemologia principalmente para tratar do problema
do conhecimento teológico. Sua crítica se dirigia contra a assim chamada prova da
existência de Deus. Negando a realidade dos universais, a prova cosmológica de Tomás
de Aquino caía por terra. Pois esta, como se viu acima, pressupunha que podemos
perceber a existência de Deus devido a nosso conhecimento do elemento universal das
coisas que vemos. Para Occam, Deus, no seu sentido mais próprio, é algo individual. A
metafísica, pode, naturalmente demonstrar de outras maneiras a existência de um ou de
muitos deuses, mas a reivindicação que Deus é um só e o fato que é infinito, devem ser
considerados confissões de fé e nada mais.
O que se disse até agora ilustra a concepção ocamista da relação entre teologia e
filosofia. Diversamente de Tomás de Aquino, Occam não considerava a teologia uma
ciência. Suas proposições não podem ser elucidadas por meios lógicos; como artigos de
fé, têm seu único apoio nas Escrituras.
Os nominalistas julgavam, em princípio, que a Escritura é a única autoridade.
Alguns até mesmo tentaram citar suas doutrinas em oposição ao papa e outras
autoridades eclesiásticas. Embora não concordassem com a igreja 343//3 não lutava
contra ela, evitavam um confronto direto e aberto, preferiam aderir estritamente à
posição dogmática da igreja. As exceções a essa posição se fez por meio de João Wiclif
e João Hus.

,$4.2.4/3?/232303/<3 3.!A/3
 c /?6.4.. --34$faleceu em 1349.
 c . /??T$m. 1420 ± cardeal ativo nos concílios de reforma.
 c 3@/.?0/.?$m. 1494 ± professor em Tübingen.
 c # U/-?/B $ m. 1384 ± criticou severamente a autoridade papal e a
igreja medieval. Apenas Cristo é o cabeça da Igreja, dizia. Originou-se
como nominalista, mas no fim adotou a posição realista.
 c # Ê2 $ m. 1415 ± Defendeu as idéias de Wiclif, cuja atividade
resultou em movimentos de oposição de grande repercussão na Boêmia.
 c #.3 .2$m. 1429 ± estava incluído entre os autores medievais com
que Lutero concordava em muitos pontos.


33
A Reforma Protestante não foi simplesmente uma continuação da oposição da
Baixa Idade Média à Igreja Católica Romana. Foi, antes, uma renovação de natureza
muito mais profunda e de conseqüências bem maiores.

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O misticismo medieval tinha suas origens na teologia agostiniana e na piedade
monacal. Bernardo de Claraval (m. 1153) foi a primeira personalidade medieval a
desenvolver o misticismo como posição teológica original. Bernardo baseava sua
teologia na crença que o homem Jesus é Senhor e Rei. Meditações sobre a vida terrena
de Jesus, e particularmente sobre seu sofrimentos constituíam o centro do misticismo de
Bernardo. Acima de tudo foi motivado pelo conceito de Jesus como noivo da alma, que
derivou dos Cantares de Salomão. Entre os primeiros escolásticos que perpetuaram o
ponto de vista místico encontravam-se Hugo e Ricardo ambos de S. Vitor.
É freqüente ouvir-se dizer que o misticismo e o escolasticismo foram adversários
um do outro, mas a verdadeira relação entre ambos desafia esta conclusão.
Houve alguns escolásticos que eram dialéticos (por exemplo, Abelardo e Duns
Scotus), enquanto outros fundiam teologia escolástica e misticismo em seus escritos
como os teólogos de S. Vitor, já mencionados. Tomás de Aquino é outro exemplo disto.
Seus livros no campo da teologia expressam experiências e sentimentos místicos. Há
elementos no pensamento escolástico relacionados com o misticismo. Um teólogo
franciscano que combinou misticismo e escolástica em alto grau foi Boaventura.
Durante a Baixa Idade Média formas místicas de piedade foram enconrajadas
por certos elementos básicos da cultura da época.
Os místicos estavam acima de tudo interessados nos seguintes temas: a doutrina
de Deus, os anjos, a alma do homem, e o significado dos sacramentos e dos atos
litúrgicos.
O principal místico da Baixa Idade Média foi Meister Eckhart de Hochheim (m.
1327). O mais notável de seus seguidores foi João Tauler (m. 1361).

,$/324/2/-/24
 c .2 $ Deus é a unidade absoluta, além da complexidade da criação e
mesmo além da Trindade. Descreveu a origem do mundo em parte como
criação, e em parte como emanação. Tudo fora de Deus é nada. Deus é a
única realidade. A criação sem Deus deixa de existir.
 c Ê4.4$A alma do homem ocupa terreno intermediário. A alma possui
um núcleo divino nas profundezas de seu ser. O homem pertence a
criação que é nada, dominada pelo mal.
 c /2 $ Segundo Eckhart, é o protótipo da união de Deus com o
homem. Como tal é o exemplo para todos os fiéis. Eckhart não colocou a
cruz e a ressurreição no centro, mas antes a encarnação, em que esta
união se manifestou.
 c 3?=3 $ O homem é salvo morrendo para o mundo e recolhendo-se
dentro de si mesmo a ponto de poder unir-se com o divino. Isto acontece
em três etapas: através da purificação, iluminação e união.
Oc /B/-3 $ consiste de arrependimento, um morrer para a
busca do pecado e o conflito contra a sensualidade.
Oc ?4/3 $ consiste na imitação dos sofrimentos e da
obediência de Cristo. O melhor meio de conseguir isto é a
contemplação dos sofrimentos de Cristo, o abandono da própria

34
vontade e a busca em fazer a vontade de Deus. ³A maneira mais
rápida de se alcançar a perfeição é através do sofrimento. As
meditações místicas muitas vezes se relacionavam com
mortificações dolorosas, como se pode ver, por exemplo, nos
escritos de Henrique Suso´. (Exemplo destas mortificações:
abster-se de alimento por longo tempo, abster-se de tudo o que o
dinheiro pode lhe oferecer, etc.).
Oc / 3 3?43 -4 .2 $ consiste em o homem se tornar
inteiramente livre das coisas criadas e de suas seduções, bem
como de si mesmo. Cristo então nasce na alma, e o homem deseja
o que Deus quer e se torna um com Ele. Em alguns casos essa
experiência tinha natureza extática, ou então produzia visões que
constituem o auge da vida do piedoso.


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