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começa quando a
APOIO:
NÚCLEO DE ATENÇÃO
À VIOLÊNCIA
SUPERINTENDÊNCIA DE SAÚDE COLETIVA
nav@nav.org.br COORDENAÇÃO DE PROGRAMAS DE ATENDIMENTO INTEGRAL À SAÚDE
www.nav.org.br GERENCIA DO PROGRAMA DE SAUDE DA CRIANÇA
GERÊNCIA DO PROGAMA DE SAÚDE DO ADOLESCENTE
E X P E D I E N T E
COORDENAÇÃO E EDIÇÃO
NAV
Flavia Franco
Paula Mancini C. M. Ribeiro
Simone Gryner
PROJETO GRÁFICO
Ampersand Comunicação Gráfica
REVISÃO
Elisa Sankuevitz
Maria Zilma
palavra
perde o valor
Apresentação
Viviane Manso Castello Branco
Luciana Barreto Phebo |7
Apresentação
Lidando com a violência doméstica
Uma experiência de trabalho com profissionais da Saúde
Paula Mancini C. M. Ribeiro | 11
Apresentação
„
A VIOLÊNCIA COMEÇA QUANDO A PALAVRA PERDE O VALOR | 11
A P R E S E N T A Ç Ã O
Lidando com
a violência doméstica
Uma experiência de trabalho
com profissionais da Saúde
„
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Prevenção, assistência,
assistencialismo:
os tempos da clínica
1
A partir das formulações de Jacques Lacan, no texto: “Tempo lógico e a
asserção da certeza antecipada – um novo sofisma. Ed. Perspectiva: São
Paulo, 1992.
A VIOLÊNCIA COMEÇA QUANDO A PALAVRA PERDE O VALOR | 19
2
Idem, p. 79.
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Prevenção
Quando falamos em prevenção, a primeira idéia que se tem é
que prevenir seria prever o que está por vir. Se, no que diz respei-
to as situações de violência doméstica, tomássemos “preven-
ção” nesse sentido restrito, teríamos pouco a fazer. Mas se
pudéssemos considerar “prevenção” como uma intervenção que
se dá num momento precoce, então teremos muito o que fazer.
Intervir precocemente em uma situação, não quer dizer atropelar
a escuta, nem ceder a urgência em resolver objetivamente um
problema. Uma ação preventiva visa reconhecer que há algo a
fazer num tempo anterior a um momento crítico, num momento
no qual os elementos e fatos de uma situação ainda são sensíveis
a uma intervenção não tão dramática. Um trabalho preventivo
quanto a questão da violência doméstica, no campo da saúde,
pode ser a capacitação dos profissionais para que possam atuar
de maneira menos ingênua e mais avisada sobre as condições
nas quais um ato de violência acontece, imprimindo um certo
olhar, uma certa visada na abordagem dos envolvidos, que venha
a favorecer um desfecho melhor do que geralmente temos
notícias. A prevenção também se faz a partir da sensibilização
da comunidade e do social para essa temática. Na medida em
que o tema da violência doméstica deixa de ser tabu, pode-se
falar, trocar experiências, expor angústias e impasses sobre como
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Assistencialismo
O assistencialismo, ao contrário do trabalho preventivo parece
antecipar o tempo da intervenção. Não ao tempo cronológico,
mas na precipitação da compreensão de determinada situação.
Quando achamos que estamos compreendendo muito bem uma
situação, quando achamos que estamos entendendo a fala de um
paciente sem nenhum mal-entendido, estamos correndo um gran-
de risco de, como profissionais da saúde, cair no assistencialismo.
Não estamos com isso dizendo que a assistência social não tem
lugar. Temos notícias de como as instituições filantrópicas, as
igrejas, as associações de moradores prestam grandes serviços
dessa ordem. Mas o lugar de onde um profissional intervém é
outro. O risco de cair no assistencialismo não tem nada a ver
com uma categoria profissional específica, como por exemplo a
do serviço social. Um psicólogo ou um nutricionista, todos estão
suscetíveis a se precipitar numa ação assistencialista que tem a
ver com um excesso de ofertas. Oferta de remédios, de vitaminas
e de espaços terapêuticos – quando nos damos conta até os trata-
mentos parecem estar sendo oferecidos como mais um produto
disponível no mercado de consumo. Essa antecipação na assis-
tência em saúde, essa precipitação em tentar ajudar com as me-
lhores intenções, poupa o sujeito de tentar identificar o que lhe
falta, de formular sua necessidade e propor uma forma de
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Assistência
Assistir significa acompanhar, observar de perto o desenrolar de
um acontecimento, testemunhar. Aquele que presta assistência
é alguém que acompanha de perto o desenrolar de um aconte-
cimento. O profissional que está numa boa posição no que diz
respeito a assistência de pessoas envolvidas em situações de
violência doméstica, seja ele um professor, um médico, um con-
selheiro tutelar, é aquele que pode oferecer sua escuta e intervir
de maneira prudente, porém firme, a partir da especificidade do
seu campo profissional. Assim, a intervenção de um médico não
é a mesma que a de um professor, nem, tampouco, que a de um
Conselheiro Tutelar. Cada profissional tem seu campo de atuação
e nesses campos profissionais diferentes, o tempo da intervenção
também não é o mesmo. A intervenção de um assistente social
pode levar menos tempo para ser posta em funcionamento, em
relação, por exemplo, ao tempo de uma intervenção do campo
jurídico, mas nem por isso ela é menos importante, nem pode
ser menos cautelosa.
A boa assistência é aquela que passa pelos três tempos clíni-
cos, que viemos discutindo ao longo deste texto: o instante do
olhar, o momento de compreender e o tempo de concluir. Um
trabalho de assistência sério e cuidadoso é aquele que não se
precipita, nem se atrasa. São muito raros os momento em que
podemos fazer uma boa assistência, uma intervenção no tempo
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Violência doméstica:
os desafios para
o Setor Saúde
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Os desafios da saúde:
prevenção, assistência e
assistencialismo no
atendimento
à violência doméstica
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“Quem é o pai
da criança?”
Edson Saggese
pode dar uma resposta coerente sobre aquilo que foi falado para
ele. O reconhecimento da sua posição de sujeito e o reconheci-
mento que, afinal, as coisas não tinham que passar só num plano
do corpo material, que existe uma vida subjetiva ali que merece
ser considerada. Isso é também abrir um lugar, um lugar não é só
um lugar concreto, é um reconhecimento de que ali está um su-
jeito e por mais que seja estranha a sua maneira de comunicar,
ele pode, de alguma forma, responder, entender, perceber aquilo
que ocorre a sua volta. Trata-se de uma maneira de falar, de en-
contrar um lugar de abrir um lugar para esse adolescente. Duas
semanas depois, pude constatar que seus sintomas corporais ti-
nham desaparecido.
Eu farei agora uma referência, por contraste a esse tipo de
exemplo que apresentei, vou fazer referência a “soluções” – e eu
coloco soluções aí entre aspas – que estão muitíssimo em voga
hoje em dia para se lidar com diversos tipos de problemas da
criança e do adolescente. Os problemas podem ser vários – ina-
daptação escolar, conflitos na família, comportamento fora da
expectativa que os pais tinham sobre aquela criança, o fracasso
escolar, um ato anti-social. O que se vê, como uma ação que vai
se tornando cada dia mais freqüente, é o uso de uma medicação,
a proliferação extrema das soluções psicofarmacológicas. Para
todas essas questões que eu toquei as soluções que se apresen-
tam são soluções fáceis, são soluções rápidas, são soluções ligei-
ras. São rápidas e fáceis só na aparência, porque elas não são
produtivas. Recebemos cada vez mais diagnósticos feitos nos colé-
gios que o garoto tem um transtorno, um déficit de atenção e
hiperatividade. Diagnósticos feitos pelo professor, feitos pela
própria família que viu na televisão, no Fantástico, casos que corres-
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Algumas observações
a partir do trabalho
de supervisão
continuada
Simone Gryner
1
FUREDI, Frank. Artigo publicado na folha de São Paulo, dia 11 /7/2004.
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Contextualizando a
relação com a lei –
avanços e dificuldades a
partir do E.C.A.
Fernanda Costa-Moura
„
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Debatendo os avanços e
dificuldades a partir do
Estatuto da Criança
e do Adolescente
Alessandro Molon
vontade para ler a lei com os olhos de quem conhece essa área
melhor do que o juiz, por exemplo. Vocês têm que se dar o direito
de ler essa lei com essa tranqüilidade. A lei deve ser interpretada.
Se não precisasse ser interpretada, as sentenças seriam emitidas
por computadores, as pessoas levariam a denúncia, levariam seus
casos e a lei seria imediatamente aplicada, mas ela não pode ser
aplicada sem ser interpretada. Não é objetivo, é subjetivo, tem
muita interpretação de quem lê, de quem está vivendo a situação.
Por isso, essa lei vai precisar ser calibrada – com esses 14 anos de
tentativa de vivência do ECA – entre os profissionais que traba-
lham com ela. Esse desafio que a Fernanda me parece apresentar,
de não procurar fazer com que a justiça substitua o diálogo, o
pacto, é muito interessante. Se, de um lado o ECA garante a
oitiva das crianças e dos adolescentes, o que é fundamental, isto
não quer dizer que ele veio para proibir que os pais sejam ouvidos
ou falem. Ele veio para garantir que as crianças sejam ouvidas.
Essa é a interpretação histórica que a gente também precisa ter
do processo legislativo, das mudanças das leis na sociedade. A
gente deve procurar entender por que uma lei surgiu. O ECA
veio no momento em que a criança era vista como alguém que
não tinha o que dizer. Ainda hoje há juizados que não sabem
ouvir as crianças. Nós não temos delegacias especializadas em
receber casos de crianças e de adolescentes vitimados. Temos
Varas de Infância e de Juventude, mas não temos uma delegacia
verdadeiramente de proteção à criança e ao adolescente. Na de-
legacia que tem este nome (DPCA), sabem quantos por cento
dos casos são crianças ou adolescentes vítimas de violência? Cerca
de 15% dos casos, isto é, em 85% dos casos que lá chegam a
criança ou o adolescente está em conflito com a lei. É uma dele-
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D E P O I M E N T O S
Relato de alguns
profissionais sobre
o trabalho de
Supervisão Continuada
Universo,
Diverso,
Imerso...
Complexo...
Retomada do início,
Universo comum,
Diverso em setores,
Imerso em busca,
Para enfrentar o complexo.
Caminhada solitária?
Luz no universo,
União do diverso,
Visão do imerso,
Complexa supervisão,
Acreditar na construção.
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Mapa | Unidades de Saúde Municipais que participaram do Projeto
AP 1.0
H. M. Salles Neto
H. M. Marcolino Candal AP 3.1
PAM Antônio Ribeiro Neto
AP 2.1 AP 3.3
Adolecentro paulo freire”
AP 5.1 AP 3.2
AP 1.0
AP 5.3 AP 5.2
A VIOLÊNCIA COMEÇA QUANDO A PALAVRA PERDE O VALOR
AP 2.2
AP 4.0 AP 2.1
AP 2.2
H. M. Jesus
C. M. S. Maria Augusta Estrela
AP 3.1
P. S. Madre Teresa de Calcutá AP 4.0 AP 5.2
H. M. Raphael de P. Souza P. S. Dr. Alvimar Carvalho
AP 3.2 Maternidade Leila Diniz C. M. S. Belizário Penna
H. M. Piedade
P. S. Eduardo V. Leite AP 3.3 AP 5.1 AP 5.3
PAM Rodolpho Rocco H. M. Francisco da Silva Telles (PAM Irajá) PAM Guilherme da Silveira (PAM Bangú) C. M. S. Lincoln de Freitas