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da IdadeMédia
ou
Primaverados
Tempos Modernos?
PhilippeWolff
Martins Fontes
Titulo original: AU TO MNE OU MOY EN AGE OU PRI NTEMPS OES
TEMPS NOUVEAUX? - L' économie européenn e aux
XIV e et XVe siêcles
Copyright © Aubier, Paris, 1986
Cop yright © Livraria Martins Fontes Ed itora LId a.
para a pre sente tradução
CDD- ])O.9lo01
&-24 20 - 940 . 1
Introdução ...... ..... ....... ... ... .. .. ... ... ... ... ... ... ..... .. ... .... ...... 1
1. As fomes 7
Fo mes e pen úrias. 7
Mais frio e umidade'). 10
3. A guerra .. .. .......... .... ...... .. .. ...... ..... .... .. .. .... ... .. ... .. ... 29
Amb igüidades de um doloroso privilégio . 30
Uma sinistra contab ilidade . 35
5. As questões que restam .. .. ..... ..... .. ...... ...... .. .... .... ... .. ... 53
Q uando ? 53
Por quê? 55
7. Cultivar melhor 81
A dem and a das cida de s. 82
Três regiões de prog resso . 89 .
8. Fabricar melhor .... ...... ....... ........ .... ... ......... .... ... ...... . 99
Minas e metalurgia . 102
Um a atividade de pont a : a impren sa. 110
12. Esboço da nova Europa. .... .. .. ... .. .. ... .. .. .. .. .. .... .... .. .. .... 179
O eixo It ália-Pa íses Baixos. 179
A verte nte at lântica. 208
Rum o ao Fur East, 225
Bibliograf ia ....... .. .. ... ....... ... .. .. .. ..... ..... ........ .... ........ .... . 263
Para Charl es Mora zé
Fiel companheiro de
pensamento
há meio século,
como lembrança afetuosa de tantas experiências em comum .
Introdução
As fomes
Fomes e penúrias
dade , pois os países atravessados pelos precio sos com boios empenha-
vam-se com muita freqüência em desviar pelo menos uma part e a
seu proveito .
Explica- se que o pro blem a da subsistê ncia tenha-se colocado em
termos tão dramáticos pa ra o conj unto da E uro pa pela debilidade
e irregularidade da produ ção ; pelas más condições de arm azen agem,
que provocavam , de um ano para outro , perd as conside ráveis , por
apodrecimento do trigo , por exte nsão de diversas doenças que o
tornavam impr óp rio ao consumo, pelos estragos causados pelos ra-
tos; enfim , pelos hábitos alime ntares dem asiado uniform es - o mi-
lho, por exemplo , ainda não era conhecido , tamp ou co a batata , que
mais tarde ter ão um papel impo rta nte na alimentação . Um a colheita
fraca bastava para ameaçar o eq uilíbrio ent re a oferta e a procura;
\ duas seguidas inevitavel mente provocavam a fome .
Sabia-se de tu do isso de modo geral. Um estudo muito recent e,
o de Maurice Ber th e sobre os campo neses do reino de Navarra do
fim do século XIII a meado s do século XV. estru turo u . pela primeira
vez. nossos conh ecimen tos de modo sólido (108). Seu mérito é gra nde
por ter utilizado muito bem fontes exce pcionalme nte abunda ntes ,
sem se deixar desencorajar pela própria ab undâ ncia - e isso sem
que recorresse a computador. Aos "li vros de lare s" . enco ntrados
em muita s outras províncias , e que com freqüência exigem algumas
ressalvas, jun ta-se uma série origina l, quase ininte rru pta de 1280 a
1454: a dos relatór ios que tod os os anos o rei receb ia de seus agentes
a respeito das 223 com unidades que compun ham sei.! dom ínio . Eles
detalhavam nesse s relatórios os censos (pechas) divididos por catego-
rias de lares - inte iros (com a família completa) , redu zidos (seja
pelo faleciment o do chefe de família ou ausência de ado lesce ntes
válidos) e indigentes . Anota vam cuida dosa mente as causas e a ampli-
dão dos progressos alcanç ados - ou, na maioria das vezes, da despo -
voação e do em po brecimento . O interessante é que esses domínios
se achavam bem divididos entre as diversas zonas de que se constituía
o reino : atlântica, mont anh osa e medit errânica ; certos dom ínios eram
vizinhos de cidades, como Pamp elun a , outros era m isolados. Port an-
to, a série de amostras é boa. Navarra de antes de 1347 é most rada
como um " mundo cheio"; as fomes apenas começam a agir aí. cavan-
do vazios demográficos rapidamente preenchidos. É em 1347 que
se ro mpe o eq uilíbrio, e por mu ito tem po . Suspeitava-se que a Peste
Negra de 1348 tinha sido precedida por uma fome . à qua l dive rsas
fontes de ou tros países fazem alusões mais ou menos vagas . Dessa
vez, não é mais possível du vidar : 10% das famílias navarresas fora m
/ ceifadas pela fome de 1347, antes qu e , no ano seguinte, 40% desapa-
recessem . Cer tament e hou ve reag rupamento das famílias, o que,
AS FOMES 9
" Aos prim eiros sinais de encarecime nto do frurnento , uma part e
de consumido res suplementa res volta-se para o cereal pani ficável
mais próximo , sobret udo o centeio ; acentuando-se a carestia, o cen-
teio torna-se raro , seu preço faz com que também ele seja inacessível
para alguns, e então o milho miúdo e as favas passam a pre ench er
esse papel de substituto junto a um novo grupo de con sumid or es... "
Não é precisodramatizar a menção , freqüente sob a pena dos analistas:
em caso de fome , as pessoas contentavam-se em alimentar-se de herbes.
A palavra herbes tinha então um sentido muito mais vasto que em nossos
dias: incluía as saladas e diversos legumes que cresciam de maneira mais
ou menos selvagem e que hoje compõem a alimentação dos vegetarianos.
Seria preciso est abelecer as políti cas dos podere, públicos face
aos problemas colocados pela penúria (8, 99). As vezes, 'ião as autori-
dades mon ár quicas, mas, ainda com mais freq üência, á ' municip ais
que devem enf rentá-Ia. Elas mand am os comerciantes ao exte rior ,
com a missão de conseguir a qualquer custo os grãos que , se for
necessário , revender ão com pre juízo . Proíbem a saída dos grãos ar-
mazen ados na cidad e e . se pr iso. colocam guardas nas port as para
vigiar a aplicação de suas ord ens. Proced em às req uisições e às per-
quisições. Em caso extremo, chegam a fixar preços máximos, medid a
cuj a eficácia pode, aliás, ser discutida.
Seria preci so cartografar uma geografia da produç ão e do con sumo
dos alimentos. El a faria com que aparecessem grandes mercados
permanentes de demanda: as grandes cidades - onde a cultura dos
campos estabelecidos nas parc elas abandonadas graças ao despovoa-
mento era apenas um pequeno paliativo - , as regiões industriais
povoadas - como uma parte dos Países Baixos - , as regiões especia-
lizadas, como o Bordelais, na viticultura. Ao lado disso , mercados
de produção perm anente , que deviam seu papel exportador seja à
riquez a natur al de seus ,solos. caso da Sicília. da região de Arl es,
da Barb aria (isto é, da Africa do Norte), seja à frugalidade de seus
habitant es, como na Apúlia, na Sard enh a, na Catalunh a. Havia ainda
zonas norm almente expo rta do ras, mas que podiam se encontra r " fo-
ra de jogo" em razão de alguma penúria : as planícies das bacias
parisiense e londrina, as do alto Langued oc, a Limagne , as grandes
extensões cerea líferas vizinhas dos Países Baixos (H ainaut , Ar-
tois... ). Enfim, seria preciso esta belecer uma cron ologia o mais com-
pleta possível das penúrias e das fomes no curso dos séculos XIV
e XV , levand o em consider ação seu caráte r geral ou region al -
o que F. Curschmann tinha tentado já em 1900 -, mas tirando partid o
do considerável enriquecimento de nossa documentação desde então .
Assim , to m ar-se-a evide nte como uma E uropa mal eme rsa do
mund o da fome era vulne rável aos out ros flagelos que a espreitava m.
2
As epidemias
Era uma vez .. . Mas acaba ndo as peste s do séc ulo VI, relatadas,
entre outros, por Gregório de Tours. ain da encontra va-se algu ém
para ler a menção nas raras bibliotecas? E en tão como um aconteci-
mento novo que a peste chega à Europa O ciden tal, e m 1347. Descre-
vamos os fatos antes de tentar um a interpretação (110. 116, 170,
184).
É Froi ssart que o afirma: mor reu va te rça parte do mundo" (enten-
da-se: a Europa). Ter á ele razão? Coloca-se aí. em tod o caso, o
primeiro problem a: o dos efeitos demográficos da peste.
As respostas não faltam. Os contemporâneos assustados fizer am
avaliações que pod em nos parece r excessivas . E. em pr imeiro lugar.
Boccaccio:
"A crue ldade do Céu. e talvez dos homens. foi tão rigorosa. a
epidemia castigou de março a julho com ta nta violência. muit os doen-
tes for am tâo mal socorridos. ou mesmo. devido ao medo que inspira -
vam às pessoas que passavam bem. aba ndona dos num a tal misér ia ,
que tem os razão segura para estimar em mais de cem mil o núm ero
de homen s que perder am a vida na cidade. Antes do sinistro, não
se havia notado talvez que em nossa cida de existia uma tal quanti -
dade . Qu antos grandes palácios. qua ntas belas casas , qu ant as resi-
dências, o utro ra cheias de servos, de senho res e de damas, vira m
enfim desaparecer até o mais humilde servidor! Qu ant as ilustres famí-
lias, qu ant os impon ent es domínios, qu ant as for tun as reputadas fica-
ram privad as de herd eiro legítimo ! Qu an tos valor osos senhores, belas
damas e graciosos rapazinhos, aos quais não só a Faculd ade , mas
Galeno . Hipócrates e até Escu lápio teriam confe rido um certificado
de boa saúde. tomaram sua refeição da manhã com seus pais, seus
cama radas e seus amigos . e, vinda a noite, sentaram-se no outro
mundo à ceia de seus ancest ra is."
Jean de Venette concluiu qu e hou ve " um núm ero de vítimas como
nunca se ouvira dizer , nem se lera ou vira nos temp os passad os"
- e arri scou uma ava liação, verdadeira ao menos "e m certos luga-
res" : " para cada vinte habit ant es. só restavam dois com vida". O
aba de de Saint-Mar tin de Tou rnai conto u nessa cidade 25.000 mor-
tos: puro exagero já que não podiam existir ali mais que 20.000 almas
antes da epide mia . Certo. e no entanto ...
No enta nto, as verificações precisas que se pud er am fazer são im-
pression ant es. Na França, graças à comparação de recen seament os
que enqua dra m o flagelo , sabe-se qu e em Castres e Alb i a met ade
da população morreu ou fugiu (147. 161). Na Alemanha, segundo
os cálculos - discutíveis. é verdade - , em 1350, a peste já tinh a
levado 50% dos habitantes de Magdeburgo , 50 a 66% dos de Ham-
burgo, 70% de Bremen (100, 145). No fim das contas, pod emos
aderir à razoável conclusão proposta por Yves Ren ou ard: " ... A
proporção dos faleciment os devidos à peste em relação ao conjunto
da população parece ter oscilad o entre 2/3 e 1/8 conforme as regiões"
(71). Vamos ao encontro de Fro issart.
AS EPIDEMIAS 21
missa sobre dita deverão carregar na mão uma vela acesa durante
cinco dia s consecutivos e não poderão ser atacados de morte súbita.
Isso é segur o e aprovado para Avignon e região. Segue-se o ofício
da missa .
" Lntroito , Lembre-se , Senhor, de sua aliança e diga ao anjo exter-
minador: qu e su a mão pare doravante e deixe de arruinar a terra
e de fazer perecer todo ser vivo . Ouça-nos, você que dirige Israel,
você que conduz José como uma ovelha !
" G ló ria ao Pai. Como ele er a . Lembre-se , Senhor.
" Oração. Ó D eus, voc ê qu e não deseja a morte, mas o arrepen-
dim ento do s pec adores, permita em sua benevolência , nós lhe supli-
camos, que seu povo se volte para você, a fim de obter, graças à
sua submissão, que se afaste dele o chicote da cólera ." Etc.
A vela acesa. Eis o qu e anunciam os " cintos de cera" oferecidos
à Virgem e aos santos antipestilentos por municipalidades enlouque-
cidas. As sim, em 1348 os cônsules de Montpellier deram à Notre-Da-
me-des-Tables um círio qu e uma procissão levaria em torno da cidade
sobre as muralhas . O exemplo foi seguido por Amiens em 1418 ,
Cornpi êgne e m 1453 , Louviers em 1468 e 1472 , Nantes em 1490 (em
honra a São Sebastião) , Ch alon-sur-Saône em 1494 (a São Vicente)
- ao menos a documentação nos fornece esses nomes . É a origem
dessas grandes procissões, a um só tempo penitenciais e propicia-
tórias , das quais o futuro propagará o uso , apesar do esforço das
autoridades alarmadas justamente com a idéia do foco de contágio
suscitado por tai s multidões .
Já fiz vári as vezes alus ão ao papel da peste na iconografia. Ela
também teve conseqüências artísticas. Pode-se considerar que , desde
o século XIV , ela tivesse sido " uma fonte ignorada de inspiração
artística" (H . Moll aret e J . Brossollet) . E mais ou menos certo que
. o tema da Dança Macabra , em que homens e mulheres de todas
as condições são arrastados numa ronda infernal por esqueletos care-
teiros , nasceu com a grande epidemia de 1348. Encomendas de qua-
dros representando esse tema , em ligação com golpes do flagelo ,
estão atestadas entre outros na Basil éia (1439 , reproduzido por Me-
rian) e em Lübeck (Marienkirche, 1463) . O s artistas não cessarão
de sutilizar a representação do flagelo: dedos tapando narizes suge-
rindo o fedor dos moribundos , acumulação de cadáveres que apodre-
cem entre os vivos agu ardando que sejam retirados, etc. O capítulo
12 desta obra sugere outros aspectos de ssa aspiração . Na verdade,
é toda a vida qu e é invadida pela morte!
3
A guerra
• Grupos de salteado res que durante a Guerra dos Cem Ano s aterrorizaram a
Fra nça . (N.T .) .
34 OUTONO DA IDADE MÉDIA
Mas uma tal turba também era tão difícil de conduzir ao combate,
quanto de armar convenientemente. Quase não era utilizada, e logo
o rei substituiu a obrigação pessoal por uma taxa. Quadro certamente
simplista. Seria preciso estabelecer diferenças sutis, mencionando
o serviço das milícias urbanas, a presença de sargentos a pé e a cavalo,
etc.
A inadaptação desse sistema apareceu pelo menos já no século
XIII, quando algumas guerras excederam a duração e os desloca-
mentos previstos pelo costume . O uso era que o rei conservasse seus
dependentes , mas pagando-lhes soldo e indenizando-os por suas des-
pesas e perdas - em cavalos, particularmente. Com mais forte razão
a Guerra dos Cem Anos fez ressaltar essa necessidade. Philippe Con-
tamine pôde escrever: "Por volta de 1300, no reino da França, o
servicium debitum [serviço devido] tradicional encontra-se em plena .
decadência. "
\ Não seria o caso aqui de evocar a evolução militar dos séculos
I XIV e XV a não ser na medida em que ela afeta a economia. Deve-
(sobre cuja couraça podia- se ler a insolente divisa: " Inimigo de Deus,
inimigo da piedade, inimigo da pena "), ou o inglês John Hawkw ood,
filho de curtidor, que, de 1360 até sua morte em 1394, serviu sucessi-
vamente ao conde de Sav óia, a Pisa , ao papa e por fim a Florença ,
que lhe pagou por serviços pre stad os. Depois a pre fer ência foi dad a
a italianos, como Micheletto degli Attendoli. Na França, os Valois.
que continuavam a recorrer ao serviço feudal, também engajaram
besteiros genoveses e depois multiplic aram os contratos de " coman-
do" com os dirigentes das Grandes Companhias. No século XV ,
espalhou-se por toda part e a fama dos suíços, admiráveis comba-
tentes, duros e sem medo , e muito bem organizado s (Olivier de la
Manch e constata isso por volta de 1470: "Eram em geral três suíços
juntos , um lanceiro , um manobreiro de colubrina e um bestei ro ,
e .. . socorriam um ao outro em caso de necessidade").
Contudo quanto mal essa gente de guerra causava às populações!
Deviam não só pagar o impo sto para seu engajamento , mas além
disso, e com muit a freqü ência, sofriam suas pilhagens. Em razão
das espoliações cometidas na Itália , passou a ser dada preferência
aos italianos: esses amontoados de grosseirões pilhavam sistemati-
camente os territórios. E o que dizer da infeliz França? Os ingleses
não se importavam muito com a qualidade moral dos homens que
enviavam par a lá: " Na maioria dos exércitos ingleses desse período
(1346 a 1360), é provável que a proporção dos fora-da-lei estivesse
! entre 2 e 12%" (J . Hewitt) . Mas os infelizes habitantes não tinham
mais que se rejubilar com as tropas francesas; vagabundos e ladrões
engajavam-se facilmente . A situação ficou pior quando a monarquia
enfraquecida tornou-se incapaz de dissolver os bandos nos períodos
de paz . Isso se deu particularmente em dois momentos. Em 1360,
os routiers (de ruttae, do latim rumpere: frações de bandos) resolve-
ram viver no país, e Carlos V, com a ajuda de Duguesclin , teve
muita dificuldade para enviar tantos quanto possível para serem mor-
tos em Castela e na Prússia. Em 1435, a paz de Arras seguiu-se
das deva stações dos Escorchadores, sinistros bandos conduzidos por
homens tais como o castelhano Rodrigue de Villandrando , mas tam-
bém pelos capitães franceses, antigos companheiros de Joana d'Arc,
La Hire , Xaintrailles... Segundo Monstrelet , eram qualificados de
Escorchadores porque "todas as pessoas que com eles encontra-
vam .. . eram despidas de suas roupas até a camisa " . Pilhavam , mata-
vam, estupravam , destruíam as plantações de trigo ainda verdes ,
espoliavam o país . ..
\\ A França, porque sofrera , sem dúvida , as piore s desgraças da guer-
\\ ra . realizou alguns dos passos decisivos em dire ção à formação de
um exército permanent e, noção cujo sentido é importante discernir
48 OUTONO DA IDADE MÉDIA
Quando?
Por quê?
XIII) . A maior parte desses ganhos foi obtida às custas da flore sta,
até o momento em que se rompeu o equilíbrio, em meados do século
XIII, e em que os senhores florestais começaram a se defender dos
arroteadores. Muito menos numerosas foram as reduções de pânta-
nos, mas houve: o mais belo exemplo ainda pode ser visto no Langue -
doe, é a " estrela de Montady", que pode ser admirada das alturas
da Ensérune -os arroteadores avançaram pouco a pouco em direção
ao centro do lago .
Seríamos tentados a perguntar: qual desses dois movimentos come-
çou primeiro? E porque cultivava-se melhor o solo que os bebês
foram melhor alimentados, que sua "esperança de vida" aumen-
tou, e que os homens tornaram-se mais numerosos? Ou é porque
se multiplicaram que se esforçaram em responder a suas necessi-
dades crescentes? A primeira solução é a que vem naturalmente
ao espírito . É preciso sempre desconfiar do que vem naturalmente ao
espírito . De fato , as duas séries devem ter crescido juntas - apoiadas
uma na outra, se ouso escrever.
Seja como for - e , hoje. ° que não nos faltam são exemplos
disso - chegou um l1!0mento em que a produção agrícola não mais
satisfazia a procura. E mais fácil ter filhos do que alimentá-los! Por
volta de 1270. na Inglaterra. país em que a documentação é mais
rica (164), e onde o crescimento demográfico foi particularmente
forte , sinais de subalimentação surgem na parte mais pobre da popu-
lação . Isso eu já disse . Pode-se pensar que aconteceu a mesma coisa
praticamente em todos os lugares. De qualquer modo , é um pouco
por toda parte que penúrias e fomes - se bem que diferindo os
anos segundo os climas - multiplicam-se desde o início do século
XIV . E, portanto, uma população subalimentada que é atacada pela
grande peste de 1348. Desde então , o equilíbrio foi rompido. Certa-
mente, há menos bocas para alimentar. Mas há ainda menos braços
para produzir, pois a fuga foi tanto quanto a morte um efeito da
epidemia. Era até mesmo recomendada como único remédio eficaz .
Muitos camponeses foram então desenraizados: são eles que vão
engrossar as companhias de tropas mercenárias. Colheitas apodre-
ceram no pé. Campos foram abandonados.. . O equilíbrio só irá se
restaurar progressivamente durante o século XV .
Inúmeros foram os discípulos de Michael Postan . Acham-se seus
nomes - pelo menos os principais - na bibliografia final. Portanto ,
não insisto nisso .
Mais raros foram os defensores de uma segunda explicação: pela
moeda. Num art igo da Economic Histor y Review de 1959 (307), W.
C. Robinson recusava-se a atribuir a essa pressão demográfica um
papel constrangedor comparável ao que ele representa hoje nos paí-
AS QUESTÕES QUE RESTAM 57
Campos e cidades
cima, que é feita de pano grosseiro e chama-se blu sa. Suas polainas
são do mesmo pano e não ultrapassam os joelhos, onde.são amar-
radas por uma jarreteira; as coxas ficam nuas. Sua s mulheres e crian-
ças andam com os pés descalços. El es não podem viver de outra
maneira, pois os rendeiros que deviam pagar um escudo por ano,
pela terra , ao senhor, agora pagam, além disso , cinco escudos ao
rei . São de tal modo constrangidos por necessidade a velar , arar ,
arrotear a terra para sua subsistência, que suas forças são consumidas
nisso, sua espécie reduzida a nada . Vivem na mais extrema miséria ,
apesar de habitarem o reino mais fértil do mundo ."
Tanta precisão impede-nos de considerar esse testemunho como
possível de ser desprezado. Mas uma dupla preocupação patriótica
e literária transparece tão claramente que não podemos confiar com-
pletamente nele . Commynes, um bom observador , descreve em ter-
mos bem diferentes essa mesma região percorrida na mesma época.
A lição que guardamos disso é que só se deve confiar realmente
em testemunhos estritamente localizados: em tal lugar, em tal data.
É assim, com efeito, que de uma maneira geral procederam os erudi-
tos (47) . Yvonne Bézard, ao estudar o Hurepoix, de acordo com
o registro das inspeções do arcediago de Josas, chegou a conclusões
desoladoras (203): perto de Chevreuse , a aldeia de Magny-les-Ha-
meaux ficou sem habitantes durante mais de vinte anos, de 1431
a 1455, quando instalaram-se três imigrantes normandos. A própria
Chevreuse tinha chegado a 300 paroquianos, era uma aglomeração
importante: em 1458, tinha apenas 28. O destino de Bi êvres é quase
paralelo, dois terços abaixo: 100 lares outrora, 8 almas em 1458.
Entretanto, mesmo aqui, a crítica histórica não perde se us direitos:
desde antes da guerra, o Hurepoix era uma região relativamente
pobre, sua densidade de população só chegava a um terço ou à
metade daquela de que podia se gabar o conjunto do prebostado
de Paris .
Se passamos para zonas ricas, o quadro muda: em Saint-Denis
e arredores, em Corbeil e redondezas, os estragos são muito locali-
zados e raramente totais. O senhor de Meudon mandou transcrever
num cartulário todos os contratos de restabelecimento do censo que
ele autorizara de 1445 a 1520; concernem a 59 arpentes* dos 210
que compunham o território sujeito ao censo ; menos de 30% do
solo tinha , portanto , sido submetido a um abandono duradouro . Pa-
rece que as regiões ricas eram as melhor armadas: mai s povoadas,
As vilas perdidas
• Po rçã o de terren o que . nesses temp os. se julgava necessário par a um homem
viver co m sua fa m fli a . (N .T .)
UMA TRISTE PAISAGEM 71
terras retomadas por outras vilas vizinhas . Mas isso não significa
esquecer os Wüste Fluren que apesar de tudo existiram? De outra
parte, a maioria das vilas desaparecidas estavam, no fim do século
XV, num estado lamentável que não lhes teria permitido empreender
o cultivo de duas terras. Tomou-se como bode expiatório o êxodo
rural em direção às cidades : mas ele tinha sido , sem dúvida , mais
intenso nos séculos XII e XIII, em que, entretanto , as vilas se multi-
plicaram , mas num clima de crescimento demográfico geral. Esse
êxodo subsistiu aos séculos XIV e XV, mas no interior de zonas
menores, e, por outro lado , foi ineficaz para deter o declínio das
cidades, onde a mortalidade era grande .
De qualquer maneira, é com o recuo demográfico geral que deve
ser concebido esse fenômeno das vilas desaparecidas. Números preci-
sos mostram que ele atingia todas as aglomerações : as cidades decli-
nayam, as aldeias vegetavam , as vilas mais frágeis desapareciam.
As vezes esse movimento fez-se acompanhar de um progresso da
criação de animais. Mas esse progresso é apenas uma conseqüência:
os camponeses voltavam-se para a criação porque havia falta de bra-
ços para a lavoura . Não é uma causa: não é porque a criação desenvol-
via-se que as vilas desapareciam .
2. O caso da Inglaterra é bem diferente (26,105-106) . Em primeiro
lugar porque a extensão do fenômeno só foi reconhecida muito recen -
temente: em 1946, sir John Clapham - historiador de primeira linha
- declarava negligentemente que na Inglaterra as vilas perdidas
eram "singularly rare " . De fato , a documentação, dessa vez , era
superabundante: arquivos judiciários notavelmente ricos, processos
intentados por foreiros livres ameaçados de evicção, petições de co-
munidades (219); em 1517 uma comissão de investigação toma conta
do fenômeno das enclosures que marcava os desaparecimentos de
vilas. Essa abundância não desencorajou um intrépido aventureiro,
Maurice Beresford, que escrutou a riqueza , e mandou realizar as
admiráveis fotografias aéreas (há um atlas), que foram imitadas por
toda parte , e suscitaram muitas escavações.
A partir daí, a colheita parece "singularmente" rica. Cerca de
2.000 sítios de vilas desaparecidas foram localizados, sobretudo nas
Midlands, nas Lowlands do Sul e do Sudeste, nas planícies setentrio-
nais - isto é, nas melhores terras cerealíferas.
Como se procede? Um exemplo permitirá julgar, o de East Lilling
em Yorkshire . Uma investigação feita em 1625 sobre os bens. da
Coroa revelou a existência antiga de uma importante vila com esse
nome, da qual só restava uma residência e alguns lanços de casas .
O mapa atual traz a indicação de uma paróquia chamada "Lilling
Ambo" (isto é, os dois Lilling), mas só aparecem a vilazinha de
72 OUTONO DA IDADE M ÉD IA
s; 39" ~
" I (
40
' 70
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Ii i C
11
+ 11 Praza ~4 G ênova
1.3 Crecóvta 25 Milão
I Roma 14 Vars óvia 26 Flo rença
~ Assis 15 Nurcrnbera 27 P i ~a
3 Bolo nha 16 Co ló nia - 2R Palermo
-t Jerusalém 1i Bruxe las 2Y Barcelona
5 A vianon IR Lon d res 30 Vale nça
6 Co mpostel a 19 Pa r i ~ 31 Mar selha
7 Ar le s 20 Bou raes 32 Mo ntpellie r
XCant er bur v 21 To ulo use 33 Na rbonn e
o Yor k . 22 Aix 3-t Bruaes
35 Ypre s
{:,
36 Ga nd
C 37 Antu érp ia
I II Bizáncio 23 Ven eza
II Náp o les
+ Centro s principalmente religio so s.
O Cent ros p rincipalme nte políticos.
b. Cen tros principalmente comerciais,
• Ce ntros principalmente ind ust riais.
O Principa is feira s.
~.... .
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?---~
2 ••
S7
Cultivar melhor
É o caso da demanda urb ana , pois a popul ação das cida des reclam a
uma alime ntação mais variad a: não mais apenas o compa nagium,
o pão acompanh ado de diver sos ingredien tes - às vezes passado
no alho - ou as sopas variadas a part ir de cer eais. carnes rar as
com o pred omín io do por co. ovos e frangos mais ou menos magros,
peixes secos ou salgados . Doravant e a gam a de necessidades se enri-
quece muit o (256. 291).
Nad a é mais surpree ndente que a pro cura cresce nte de carne , sa-
lient ada por Wilhelm Ab el na Alemanh a (196) , como por Ch arles
de la Ronci êre em Florença (73), por Lou is Stou ff em Proven ça (82) ,
por mim mesmo em Toul ouse (99) ... Wilhelm Abel consta to u que ,
na Alemanh a , mesmo os simples assalariados comiam carn e du as
vezes por dia. Criavam-se mu itos por cos e carne iros . Na região de
Moselle , impo rta vam-se carn eiros gar anh ões de Gotland e da Ingla-
terra , para melhorar as raças. Tive um a impr essão parecida em rela-
ção a Toulouse ; em 1322, temos um a lista de 177 aço ugue iros. ou
CU L TIVA R ME L HO R 83
seja, 1 par a 226 habitantes, para uma popul ação máxim a de 40.000
almas - cerca de dua s ou três vezes mais que hoje ; e alguns figura -
vam entre os com erciant es mais ricos da cidad e . Para que estende r
essa lista de refer ências?
Toda uma alimentação difer enciada em carn es surge em Flore nça
como bem o mostrou Ch arles de la Ronci êre , ao analisar principal-
mente as contas do hospit al Sant a Mar ia Nuova. Ele anota: " O cab ri-
to figura tradicio na lmente na refeição pascal e é o prat o das gra ndes
festas (que m o experime nto u compree nde bem ). Em comp en sação ,
o carneiro é a carne de consumo corre nte, e o hospital nunc a compra
carneiro vivo." Q uant o a por cos, "o hospital, que cria seus animais
ou os compra vivos, só compra carne de porco em quantidad es médias
e irreg ularme nte . Suas compras acontecem sobretudo no invern o ;
antes da pes te são mesmo excepcionais fora dessa estação" . E , final-
men te, as novilhas constitue m " um pr ato de luxo que é reser vado
para as gra ndes festas" . E possível que tenha havido mudança de
háb ito dep ois da peste de 1348.
Com o obte r esses animais? Criando-os, é claro. Era uma da s ativi-
dade s dos açougueiros, e mostre i, a propósito dos macelliers de Tou-
louse , como eles tr aziam seus anim ais do Maciço Central , prevendo
par adas para o rep ouso e a engorda , e praticando até mesmo a inver-
nad a final. H avia també m agasalha - contrato de parc eria pecuária
- que se multiplicava por tod a part e , sob divers as forma s, a qual ,
aliás, já tive opo rtunidade de analisar detid amente . É a associação
do capita lista urb ano com o campon ês criador - sem que o primeiro
fornecesse forçosamente tod o o capita l - , com um a divisão variada
dos lucros e perdas . Verdadeira infusão de capitais urbanos no seio
dos campos.
Os cereais continuam assim mesmo a ser a base da alimentação.
Sua gama torna-se mais variada. Introduzido na Europa oriental a
partir do império mon gol , o trigo- sarraceno ou trigo negro chega
à No rmandia e, no fim do século XV , à Bretanha, onde sua boa
adaptação às terras pobres o torn a precioso , alcançando um sucesso
not ór io. Aos cer eais podemos acrescentar o arroz , cuja cultura, prati-
cada em vár ias regiões da E spanh a outrora muçulmana , também
surge na It ália setentrional, na baixa planície do PÓ. Ainda faltam
o milho e a batat a.
Penúrias e fome s atingem sobretudo essa 'base da alimentação .
O eco nomista inglês Gregory King (1650-1710) estabelecera uma re-
lação entre uma colheita insuficiente e a alta do preço dos cereais .
Se a colheita era inferior de 1/10 da normal, os preços subiam 3/10
acima da normal ; de 3/10, elevavam-se de 16/10; de 5/10, ascendiam
de 45/10. Essa " lei" . qu e cert ament e pod emos discutir , só funcion ava
84 OUTONO DA IDADE MÉDIA
depois de uma curta baixa , recomeçou a aum entar após 1350, princi-
palmente os oriundos do frumento . Pelo menos a met ade dos domí-
nios que tinham "rendido" mais ent re 1325 e 1349 ainda melhoraram
seu desempenho de 1381 a 1410. Parece que isso pode se explicar
pelo espaço cada vez mais ampl o consagrado às leguminosas (por
volta de 1390, em cinco propriedades, é mais de 15% do solo), por
um progresso consecutivo do adubo anual, pelo melhoramento das
sementes. Mas não nos entusiasmem os! A maior parte tem dificul -
dade para seguir. Comparados aos de nossos dia s, os resultados mé-
dios são medíocres .
Voltemo-nos agora para o Norte. R . A . Lom as escreveu um artigo
sobre os domínios do bispo de Durham , cuj as conclusões merecem
atenção. Um fato importante, que ainda não mencionei, é que pouco
a pouco os senhores pararam de pr at icar a exploração direta da parte
que se "reservavam" de suas propri edades. Na Inglaterra setentrional,
os Percies arrendam desde o começo do século XIV a totalidade
de seus domínios de Northumberlan d . Fazem o mesmo em Yorkshire
somente em 1416 (201). O bispo de D ur ham pára de arrendar a
partir de 1387. Por que essa evolu ção ger al? O que se tornam os
domínios arrendados? Eis uma sondagem que nos pode ser esclare-
cedora. Por quê? Alta dos salários e queda ,dos preços , má vontade
dos foreiros, foi dito . Tudo isso não é falso . E preciso pensar também
na comutação em espécie que muitos senhores , instados pela necessi-
dade , concediam de suas corvéias a muitos de se us foreiros. Geral-
mente, ou as parcelas da antiga reserva ter ão a mesma sorte das
parcelas a que estavam misturadas; os arrendat ários , pequenos no-
bres e burgueses quando é preciso , mas sobretudo camponeses mé-
dios, terão pressa em combinar a criação ovina com a cultura de
cereais, e poderão assim participar da exportação da lã. Em todo
caso, é importante lembrar que a política dominial, principalmente
a dos senhores eclesiásticos , só até certo ponto obedecia a conside-
rações económicas: era preciso conservar da melhor maneira possível
a propriedade do santo! Mas uma Igreja , apesar de tudo , não era
uma empresa; seus desígnios eram acima de tudo religiosos e litúr-
gicos.
Quid do resto da Inglaterra? perguntava eu . O Norfolk parece,
assim mesmo, ser a exceção. Os resultados de conjunto permanecem
inferiores aos dos Paíse s Baixos (86). De qualquer modo , todos foram
dignos de um tratamento aritmético, que me parece um pouco artifi-
ciai. Mas como os leitores podem julgar isso se eu não apresentá-lo
pelo menos rapidamente?
A "tese" de Tits-Dieuaide (243) já dera o exemplo de um bom
trabalho , fundado em métodos apurados. Hugues Neveux lembrou-o
96 OUTONO DA IDADE MÉDIA
Fabricar melhor
Enea Silvio Piccolomini, futuro papa Pio II, observa que a metade
das casas de Viena usa o vidro. Os Países Baixos usam estufas para
certas culturas: em Bois-le-Duc, como revela uma carta de 1385,
" eles fazem flores nascerem em pavilhões de vidro, voltados para
o Sul". A importância do vidro cresce entre os utensílios domésticos.
Com o vidro produzem-se recipientes que resistem à ação dos ácidos
que os químicos aprendem a isolar. Dos óculos convexos, e sob o
efeito da necessidade de leitura aumentada pela imprensa, passa-se
no fim do século XV aos óculos côncavos, que corrigem a miopia .
É interessante observar a representação do homem de óculos pelos
pintores. O espelho é um objeto bem raro , de pequenas dimensões:
para forrar o vidro, o estanho substitui o chumbo. A expansão do
espelho, que acontecerá sobretudo depois do século XVI, é muitas
vezes relacionada com um gosto crescente pela observação de si mes-
mo. As indústrias da vidraria alargam então suas perspectivas. São
principalmente indústrias rurais , fixadas pela madeira e areia neces-
sárias ao seu funcionamento. Desenvolvem-se amiúde nos quadros
da senhoria rural, e isso explica o surgimento dos fidalgos-vidreiros.
É bem possível que esse sistema tenha sido imaginado por Johannes
Thurzo , que fora chamado pelas sete cidades mineiras da Eslováquia
para dirigir sua instalação. Por salvar minas inundadas, é ele que
encontramos em Rammelsberg , no Harz, em 1486, e muito mais
tarde , em 1513, no sítio das minas de ouro de Nagybánya na Eslová-
quia oriental, onde uma " Kerrad" de 10 metros de diâmetro foi insta-
lada a 65 metros sob a terra . Ela deveria secar uma rede mineira
que descia a 280 metros. Posta em movimento por uma queda d'água
com a altura de 110 metros, girou tão rápido, segundo testemunhas
oculares, que a madeira molhada ameaçou pegar fogo. Para alimen-
tar essa queda d'água, uma série de lagos de barragem foi construída
na montanha, primeira vez na história das minas européias , a aproxima-
damente 15 quilômetros do sítio. Enorme plano de salvamento, conce-
bido e construído por Thurzo com o eficaz apoio do rei da Hungria,
mas as condições climáticas fizeram-no fracassar: os períodos de seca
continental e os rigores do inverno permitiam que funcionasse de modo
efetivo somente durante metade do ano. Foi necessário então organizar
duas campanhas de drenagem total das minas, de 15 dias cada , para
o reinício dos trabalhos no fim do inverno e por ocasião das primeiras
chuvas de outono , o que reduzia ainda mais o número real de dias.
Esse reinício dos trabalhos foi efetuado muitas vezes sobre os rastos
de trabalhadores ante riores, nas minas exploradas sob o Imp ério
Romano. Pelo menos com a mesma freqüência , alcançou novos sí-
tios , no que a Europa central se mostrava particularmente rica: Al-
pes, Boêmia , montes Metalíferos (Erzgebirge), Silésia, Hungria ...
Muitas dessas minas encontravam-se em países de montanhas (daí
a palavra alem ã que serve para designar as minas : Bergwerk). Geral-
mente , essas montanhas ainda eram zonas pouco exploradas , servin-
do no máximo para pastagem de rebanhos ; não havia proprietário
que pudesse , com alguma eficácia, defender seus direitos sobre o
subsolo". Os soberanos puderam aproveitar isso para fazer valer seu
direito de regalia: o divórcio entre o uso do solo e a propriedade
do subsolo é uma característica do direito medieval. É verdade que
os soberanos só se deram ao trabalho de reivindicar sua regalia para
os minérios mais preciosos. Os minérios vis, como o de ferro , eram
explorados por eles apenas quando encontravam-se em seu domínio.
Também é verdade que , se os reis da Inglaterra impuseram sua rega-
lia bem cedo e os soberanos da França mais tarde (sobretudo no
século XV), os imperadores a legaram pela Bula de Ouro " de 1356
• De creto promulg ado em 1356. marcado pela cápsula de ouro do selo imperial
de Carlos IV, regulamentando a eleição para a Coro a do Sacro Império Romano-
Germ ânico . Suprimia qualquer ingerência do papa na eleição imperial. (N.T .)
FABRICAR MELHOR 105
pro vocaria a rep etição de erros em série), mas todas sobre um exem-
plar de base, dividido em pequen os cade rnos para permitir a vários
escribas tra balha rem ao mesmo tempo . Nos atel iês , o trab alh o era
especializado: prep aro final do per gamin ho , cópia do texto propria-
mente dito , dese nho das rubricas e das iniciais ornadas, pint ura das
miniaturas... No começo do século XV, um livreiro atacadista podia
encome ndar simultaneame nte, a um mesmo ateli é, de três man uais
utilizados nas Fac uldades de artes , repectivamente 200 , 300 e 400
exemplares . Apesar de tud o . essa produção em sé rie saía cara e ainda
não cobria as nece ssida des crescentes, pois. à procura das Universi-
dades, do clero, da s Cortes , dos nobres , somava-se a dos burgueses,
dos artesãos, ent re os quais aume ntava a instrução: ob ras pro fissio-
nais, livros re ligiosos , textos de vulgarização e de dist ração ... A im-
pren sa será a resposta a essa questão. mas apenas depois de longo s
ensaios é qu e se chega rá a sua realização , os qua is mostram bem
a inter ação dos diversos tipos de progresso .
O per gaminho constituía par a os manu scritos um suporte dequali-
dad e sólido e durável. Par a a impren sa, ele não convinha . Só o velino .
ou pele de bezer ro natimorto , ra ro e caro, era suficiente me nte fino
e maleável para passa r n as prensas . No com eço, as con dições ofere -
cidas pelo p ap el não par eciam mu ito boas . Es pesso, flocoso , per -
me ável à tin ta, frági l, só servia mesmo para textos que não eram
destin ad os a dur ar. Fel izm ente , a ind úst ria pap eleira realizou , so -
br etudo e m Fab ria no. na It áli a , um a série de p rogressos que me-
lhorou a qu ali dad e do pap el. ao mesm o te mpo em que dimin uiu
se u pr eço .
A melh or trans missão da energia per mitiu que a mó substi tuísse
os maços no esmagar e tr iturar o "trapo", ma té ria-pri ma do papel:
o rendimen to cresce u muit o . O aperfe içoa mento da pr ep aração final.
at ravés do uso de colas animais (e não mais vegetais) . para uma
" acetinação" mais cuida dosa, de u ao pap el um aspe cto mais liso .
E , pri ncip almen te, o au me nto do cultivo do linh o e do cânhamo
e a genera lização do pan o par a a roupa forneceram às fáb ricas de
pap el. desde o séc ulo XI, tr ap os mais ab undantes e adequa dos à
tran sformação e m pap el. Ao invés de se tra nsportar par a Fabriano
os tra pc s de toda a E uro pa , as fábricas de papel italia nas fora m
evide nte me nte levad as a se dispe rsar. Técnicos ita liano s asseg uravam
o funcion am ent o de moinhos de pap el cada vez mais num e rosos.
na pr ópria It áli a , e m torno de Av igno n , e m Cha mpagne e na região
parisien se , dep ois e m Auvergne - po r tod a parte o nde hou vesse
ao mesmo tempo água pura, tr ap os e m ab undâ ncia e p roximid ade
de ce ntros inte lectua is . Nã o esqueçamos Xat iva , no sul da Espa-
nh a .
112 OUTONO DA IDADE MÉDIA
aos hom ens instruídos: a expansão rápida da langu e d 'oil não se expli-
ca de ou tra form a. " Não foi Simon de Montfort mas sim Gutenberg
quem afran cesou o Languedoc" (E. Le Roy Ladurie).
De qualquer modo , a imprensa serve às línguas vulgares muito
mais que ao latim . Cert amen te num erosas obras em latim são impres-
sas; as prens as das cida des universitárias, como Bolonha e Roma ,
consagram-se part icularm ente a isso, para satisfazer as necessidade s
do públ ico esco lar. Mas estas já tinh am suscitado a cópia manuscrita
de textos num a quantidade relativamente import ant e. Antes da im-
prensa, os manu scritos latin os eram de longe aqueles que atingiam
os núm eros mais eleva dos de cópias, que tamb ém custavam mais
barato . Foi essa proporção que a imprensa derrubou . As novas cond i-
ções de rentabilidade permitem que se imprimam para um público
simplesme nte cultivado obras liter árias em língua " vulgar" : em 1472,
a Di vina Comé dia já tinh a sido edita da três vezes!
A influência da imprensa não se exercerá plenamente senão no
século XVI. Por volta de 1500, a leitura já ocupava, ent retanto, um
número incalculável de pessoas. Nelas se produzia a revolução inte -
lectual que a crianç a vivencia quando a ação da palavra lida come ça
a exe rcer-se em seu espírito. A língua literária conquista um poder
novo. A impre nsa coroa a obra de fixação, de esclarecimento e de
normalização que prepa rava, não sem hesitações nem confusões, a
evolução lingüística geral.
Língua , pensament o , religião , tudo entrava em jogo com essa revo-
lução da imprensa. Mais uma vez, o con junto do cérebro hum ano
e a evolução da eco nomia esta vam associados!
9
Fazer negócios
melh or con strução dos navios, o melh or amen to dos portos, a defe sa
cont ra o corso e a pir at ari a permitiram reduzir os riscos . Segundo
o Manual de comé rcio de Uzzan o, por vo lta de 1440. o seguro de
Bruges a Ve neza custava ent re 12 e 15 % . Dimin uiu muito ainda ,
co mo inform a um reg istro ge novês de 1485: uma taxa, a " gab el a
de seg urança" . acabava de ser institu ída para armar doze galés contra
o rei de A ragão . E ra co brada sobre os contratos de tr an spo rte. e
hou ve 410 naqu ele ano. A taxa do prêmio de seguro garantindo o
tr an sporte em qu estão é indica da a cada vez . Pod emos então avan çar
- se mpre com cautel a , pois , afi nal trata-se apenas de um ano, e
de 410 contrat os some nte . O seg uro raram en te incidia sobre o próprio
navio ; e ra muito baixo então (8 a 12% ) sob re os grandes navios
qu e faziam lon gas viage ns, e qu e no rmalm en te e ram seg urados po r
ano ; e ra muito mais pesad o (20 a 30%) so bre os pequen os navios .
Versava com muito mais freqüên cia sobre as mercadorias; sua taxa
em ge ra l era mod est a , raramente supe rio r a 10% . Não era propor-
cion aI à distân cia - 6% de G ênova à Sardenha , e ape nas 10% de
Quios a Flandres. Os riscos vari avam mu ito con form e as zonas. De
fat o , é pr eciso distinguir do is tipos de tráfico: o tr áfico regional, vul-
ner ável, co m pr êmi os rel at ivam ente im porta ntes (5 a 6%) ; e o gra nd e
comé rcio inte rnacio na l, que se fazia e m gra ndes navios, e pe lo qual
o seg uro, rel ati vamente , não e ra caro (e m média 8,5 de Gênova
à Inglat erra ; 3,6 de G ên ova a Quios) . É prec iso também fazer exce-
ção ao tr áf ico de tr igo da Sicília , em que se pediam prêmios muit o
baixos (2 a 2,5 %) , a fim de favorecê-lo.
O seg uro foi difundido no séc ulo XV, mas ain da não foi feito
o estudo dessa difu são . Pr et endo chegar a duas constatações finai s ,
esse ncia is: no séc ulo XVI, a E sp anh a sucederá a Gênova como me r-
cado mundial do seg uro, enquanto irá se an unciar a predominância
inglesa e holandesa. Sobret udo, no século XVII, o cálcu lo das proba -
bilidades dar á a ba se sóli da que fa ltava ao edifício . Que este tenha
podido ergue r-se se m essa base , eis aí , ta lvez , a maior manifestaçã o
dos pro gressos realizad os nos séc ulos XIV e XV !
dos créditos e dos débitos. À medida que crescia o porte das empre-
sas, essas contabilidades eram cada vez mais complexas. Impunha-se
a necessidade da fixação de regras simples e automáticas para a manu-
tenção das contas. Foi da procura dessas regras que nasceu a "conta-
bilidade de partida dobrada".
Partamos de uma operação simples . Dois clientes de um mesmo
cambista ou "trocador" querem pagar-se por transferência; o cliente
A ordena para pagar 100 libras ao cliente B. Tudo se resolve através
de um jogo de escriturações: B é creditado da soma , A é debitado,
o que se traduz assim:
Débito A Crédito
data; 100 libras
Débito B Crédito
Débito C Crédito
religiosa s - daí seu nome , que vem de feria, isto é, " dia de festa ";
em alemão, "Messe" quer dizer ao mesmo tempo missa e feira. É
importante distingui-la do simples mercado; ela realizava-se , não to-
das as semanas como ele , mas uma ou duas vezes por ano; seu pres-
tígio não era apenas local , mas regional ou até mesmo internacional.
Era antes de tudo um encontro de mercadores, operando no atacado,
ou pelo menos no semi-atacado , e não se via ali normalmente clien-
tela privada. As transações concerniam a mercadorias muito varia-
das, e não apenas de consumo local.
Algumas características originais destacam-se de sua organização.
As feiras eram estabelecidas em grandes rotas de passagem, ou próxi-
mas dos principais centros de produção - e não forçosamente dentro
ou perto de cidades importantes. A existência de centros sedentários
não acrescentava muita coisa a esse fenômeno seminômade . Várias
cidades grandes não tiveram feiras not áveis. Com efeito, a instalação
era sumária : às vezes , era apenas um campo provisório de tendas
e de barracas , num local aberto (assim foi no começo em Lyon ,
às margens do Saône) . Apesar de utilizadas apenas de modo intermi-
tente , as instalações podiam ser próprias e duráveis, como em Gêno-
va. A seqüência dos acontecimentos no tempo era sempre resolvida
de maneira bastante estrita: havia alguns dias de entrada, durante
os quais os mercadores instal avam-se ; depois davam-se , por ordem,
as vendas especializadas , tecidos, couros, " avoir-du-poids" (isto é ,
especiarias vendidas a peso) . Finalmente , efetuavarn-se os pagamen-
tos e est abeleciam-se as letras de feira. Muitas vezes, vária s feiras
sucediam-se nos lugares vizinhos durante a maior parte do ano.
Várias instituições eram próprias das feiras . Em primeiro lugar
a " paz da feira", salvo-conduto que protegia os mercadores na estra-
da que levava à feira , e cujo valor era dado pela autoridade do senhor
ou soberano que a concedera . No próprio lugar da feira, materiali-
zava-se numa grande cruz . Na França, existia amiúde uma jurisdição
especial encarregada de assegurar essa paz ; nos Países Baixos ou
na Alemanha, recorria-se ao tribunal ordinário da cidade , que adota-
va um processo mais rápido, para não atrasar os mercadores. Tam-
bém existiam disposições especiais de direito: franquias. como a su-
pressão das represálias exercidas em caso de delitos de um concida-
dão, isençõe s fiscais; e privilégios , como a agrav ação da s penas con-
cern entes a certos delitos que , desse modo, se procurava evitar.
a papel das feiras podia ser múltiplo. Comercialmente, punham
em cantata mercadores de regiões muito diver sas, aos quais essas
reuniões periódicas certamente possibilitavam novos encontros ; mui-
tas vezes também ofereciam um mercado cômodo para uma grande
região de produção - isso era da maior importância para a manu-
134 OUTONO DA IDAD E MÉDIA
• E ntre posto e hosped ar ia dos mer cador es. em país muçulm ano . (N.T. )
FA Z ER NEGÓCIOS 139
Resta ainda de sculpar-me por ter tomado tanto tempo dos leitores
com todas essas inovações comerciais. Na verdade só interessam dire-
tamente a um pequeno número de pe ssoas - mesmo se sua existê ncia
tem con seqüênci as sobre a vida de um maior núm ero . Mas, com
a imprensa e a transformação do na vio , elas são particularmente
espeta culares .
10
Transportar melhor
Em terra (325)
em Jougne , no Jura, ped ágio bem conh ecido graças às contas que
chegaram às nossas mãos. a circulação er a feit a, até o século XV ,
quase que unicame nte por carava nas de cavalos e de mulos; do mes-
mo mod o , por volta do fim do século XV, o tráfic o do sal de Provença
pelo Mo nte Viso em direção ao Piemont e exigia mais de 21.000 passa-
gens de bestas por ano (332).
Aloys Schult e (78) obteve nos Arquivos da Câmara de Com ércio
de Milão um documento muit o sugestivo - publicado por ele -
em qu e são enumera das as cargas levadas de Constança a Bellinzona ,
prevendo o tr ansporte , entre as duas cidades, dos fardos de lã vindos
da Inglaterra , destinados finalme nte a Milão. T rata-se de uma pes-
quisa feita por volta de 1390 por aq uela Câm ara de Com ércio e que
se refere à part e evide nte mente mais delicada desse tr ajeto . Vamos
resumir os dados.
De Constança a Rheineck , a pista ladeia as margen s do lago ; os
mula s seguiam-na tranqüilamente; no máximo , havia algun s ped ágios
para pagar. Dep ois tomavam a estrada do Lukmanier, mais longa
e difícil do que a do Saint-Goth ard , mas er a de domínio da cidade
de Lucerna , e Milão entendia-se mal com Lucerna . Em Rh eineck
fazia-se um pr imeiro descarregamento. O trajeto pro ssegui a até Coi-
re , ao longo do vale do Reno , na margem esquerda em primeiro
lugar , com paradas em Blatt en e Saint-Pierre - em dois dias. Atra-
vessava -se o rio em Werdenberg , e os mulo s caminhavam até Schaan.
Nova par ad a. O tr ajeto cont inuava então na margem direita , com
pausas notu rnas em Balzers, Mayenfeld , Zizer s. Em Coire , os fardo s
eram postos no chão, pesados e novament e rep art idos entre os mula s,
que ret omavam um caminho dor avant e mais montanhoso , até Trins,
dep ois Laax - que se alcançava por um desfiladeiro de 1.150 metros,
afasta ndo -se do vale que nesse trecho tornava-se estreito. Por Ilanz ,
a carava na descia mais uma vez ao vale , depoi s alcançava Rui s -
e de lá , em três dias, Caraccia. As dificuldades mult iplicavam-se:
seguia -se bem o vale do Reno até Disenti s, depo is iniciava-se a verda-
deira mont anh a , com um desfiladeiro de 1.916 metros ; era m neces-
sárias não menos de três par adas par a esses 50 quilôm etros, sendo
a te rceira em Casaccia. A partir de então, a descida era muito vertigi-
nosa (mas os mula s, como se sabe , não têm vertige m) : faltava m
apenas 300 metros para Biasca ! Era o Vale Santa Maria , e a estrada
cont inuava, mais fácil daí por diant e , até Bellinzona. A o todo , per-
corriam-se aproxi mada mente 322 quilômetro s em 20 dias, ou seja,
uma média de cerca de 16 qu ilômetros por dia.
E as despesas? Em primeiro lugar, as do tr ansporte propriament e
dito . Dessa seca contab ilidade ressalta a diferença entre dois mundos
econ ómicos e mentais. Na verte nte germano- suíça , em virtude do
146 OUTON O DA IDAD E M ÉD IA
cidades costeiras - até certo ponto pelo menos, pois os navios nem
sempre são representados ali com exatidão.
Por fim, é preciso notar que a construção dos navios de comércio
não obedecia apenas à preocupação de aumentar a capacidade de
transporte . Buscava-se também a velocidade, pela forma da carena
(parte imersa do casco), pelo modo da enx ãrcia, pela procura de
outras forças de propulsão além do vento . Visava-se também à estabi-
lidade, que era assegurada por um centro de gravidade situado na
parte baixa. Mas, na época, o balanço era duro; também tentava-se
atenuá-lo através de um estudo cuidadoso das formas.
Os historiadores geralmente distinguem a navegação mediterrâ-
nica, em parte a remos (barcas, galés), da navegação oceânica, unica-
mente à vela . Entretanto , sobretudo a partir do século XIII , houve
numerosas trocas entre as duas zonas: assim os bascos introduziram
a nave no Mediterrâneo; no século XV, os velames mediterrânicos
fragmentados propagam-se no Atlântico. Há , portanto , uma certa
unificação .
Dito isso, citemos os principais tipos de navios:
1. A galé. Em Veneza (327) , em Pisa e em Florença, a partir do
século XV , havia: A galé "sutil", navio de guerra de 125 a 130 metros
de comprimento , com largura máxima de cinco metros, tendo dois
metros de calado. Delgada, manobrava bem, podia bater com o espo-
rão no inimigo, mas tinha uma capacidade de carga reduzida. Tam-
bém havia a grande galé, comprimento de cerca de 130 metros, largu-
ra de 6.30 metros, com três metros de calado . Seu perfil era , portanto,
mais redondo, oferecia mais espaço para as mercadorias e resistia
melhor às tempestades. Possuía dois ou três mastros, em vez de
um ou dois.
Essas galés eram trirremes, isto é, em cada banco havia três ho-
mens , cada um munido de um remo . Os bancos eram dispostos obli-
quamente, e os remos eram de comprimentos diferentes: 9,50 metros
a 10,70 metros . Pesavam até 50 quilos. Havia de cada lado 25 a
28 bancos, tendo, ao todo, entre 150 e 168 remadores. Mas os remos
só eram utilizados para entrar ou sair dos portos, o que exigia mano-
bra s precisas; ou então em calmaria, ou para avançar contra o vento .
Em geral, apenas um terço dos remadores trabalhava ao mesmo tempo .
Os remadores via de regra eram homens livres, que se armavam
para resistir aos ataques eventuais; eram relativamente bem pagos.
Entretanto, sua vida era muito dura. devido ao esforço que deviam
fazer e à obrigação que tinham de permanecer em seu banco (para
comer ou dormir, até mesmo durante as tempestades).
Havia, além disso, entre 50 a 70 oficiais e marujos . Podia-se carre-
gar bombardas para a defesa eventual. O lugar das mercadorias era ,
148 OUTONO DA IDADE M ÉDIA
A terra ou a água ?
e pelas rese rvas de forr agem ; na Lorn bar dia , F ra ncisco Sforza o rgani-
zava a est rada G ên ova-Milão . O obstáculo co nt inuava sendo a multi-
plicidad e das autoridades e dos int eresses . Nas estradas alpestres,
acabamo s de ver, subsis tia o siste ma da " Ro dfu hr", em vir tude do
qua l as mercadorias deviam ser descarregadas e recarregadas sobre
outros animais , a cada pou sad a de etapa.
Em ge ra l, portanto , a via terrestre saía mu ito mais cara. No século
XV , o fa rdo de pastel- dos-tintur eiro s custava tanto para ir por terra
de A lessand ria (Itália) ou Voghera a Gênova (80 e 100 qui l ômetros),
qu anto por mar de G ênova à Inglaterra . O co nde de H ainau t , que
devia ma nda r trazer se us vinhos por terra, pagava no século XIV,
pelos vinhos de " F rança" (Ile-de-France) e do Laonnais, um frete
qu e re presentava entre 35 a 40 % do pr eço (mais 12 a 20 % de taxas);
no séc ulo XV, par a os vinhos de Bo rgo nh a , 61% (ma is 11% de despe-
sas diversas) . No Norte, segundo Michael Postan , o transporte de
um to nel de vinh o gascão até Hull não custava se que r 10% do preço
de co mpra em Bo rde au x; o da lã , de Londres a Ca lais, incluídas
as despesas de comboio, saía por menos de 2% do p reço de custo
e m Lond res.
H avia , na med id a do poss ível, es pecialização das vias: o mar serv ia
sobretudo para os grandes tráficos, os produtos baratos; a via terres-
tre gua rdava a predomin ân cia par a os homens (assim, os mercadore s
italianos ca va lgava m com fre qüê ncia de Flandres por A vigno n), para
os pro du to s leves e caros , os metais precio sos. O ra . uma rea l concor-
rê ncia podia exis tir: assi m a o rganização da via ma rítima da Itá lia
até Flandres no fin al do séc ulo XII I é uma das ra zões do declínio
das fei ras de Cha mpagne; ainda no co meço do séc ulo XIV. a lã muitas
vezes via java por te rra, a da In glate rr a chegava a Gênova por Milão;
vimos de que man eira , no sé culo XV, aco nte ce o co ntrário.
E ntre ta nto, esses fat ores de ren tabilid ad e não era m os únicos que
co ntavam: em caso de pen úria , man dava- se traze r trigo de qualquer
man eira ; podia-se ta m bé m preferir o transporte terrest re devido aos
riscos de um idad e , qu e podia de teriora r a lã, os tecidos, os couro s.
que seus membros tivesse m receb ido as suas . Esse exemp lo devia
ser largamente seguido .
Pa ra concluir, nun ca ser ia de mais insistir na importância dessa
circulação de cartas , que para o comércio internacion al foi compa -
rável ao que é para um organismo a circulação do sangue. Deve-se
também colocar o pro blema das relações entre eco no mia e tran s-
portes em gera l. Não era simples . Pode-se dizer qu e as trocas intern a-
cion ais continuavam com um fraco volume porque o siste ma de trans-
porte er a bastante rudimen tar. Mas, do mesmo modo pod e-se suste n-
.tar que as necessidades econ ómicas fizera m esse sistema evoluir: isso
foi ob serv ado a propósito do pr ogresso dos navios, da diferen ciação
dos fre tes . Então é possível que. até certo pon to . esse sistem a de
transportes tenha continuado rudiment ar na medid a em que as neces-
sida des econ ómicas não exerciam uma pressão suficiente para provo-
car sua tran sforma ção. Isso será visto. no século XIX, com a revol u-
ção das estradas de ferro .
11
Per numeras ad homines (pe los núm ero s em direção aos ho-
mens)... To da históri a econ ómica qu e se respeita deve basear- se no
homem . artesão. per sonag em e testemunha da evolução mat erial.
E o qu e procur aremos fazer neste difícil capítu lo. Como vimos várias
vezes. nenhum dos progressos realizados durante esses séculos teri a
sido possível sem uma pro fund a tr ansform ação intelectu al. Mas esses
progressos tamb ém não se realizaram sem provocar deb ates inter io-
res. inqui et ações e dr amas, entre hom ens ligados a uma mor al tradi -
ciona l e, ao mesmo tempo . espect ador es de tantos horrores. O pro-
blema é , portanto, intel ectu al e mor al. Tent emos examiná -lo sob
esses dois aspect os.
Leon Batti sta degli Alberti (333. 339) pert encia a uma família esta-
belecida em Florença. no começo do século XIII. Os Alberti forne-
ceram not ário s e depois camb istas. Também participaram da vida
polít ica. o qu e lhes custou o exílio em 1402 por ocasião de uma guerra
cont ra Milão . Entre eles havia um certo Lorenzo qu e , em 1404. teve
um filho chamad o Leon Battista, for a dos laços do casament o . A
juventud e de Leon desenrolou-se em Gênova . depoi s em Veneza ,
e deix ou-lh e muit as lembranças. esparsas em seus escrit os. Como
era frágil. seu pai fez com que praticasse diversos esportes: a corrida.
o lançamento da pa lia (ou jogo da p él a), equitação. Sua instru ção
não foi menos cuidadosa : alé m das artes liber ais, apre nde u grego .
italiano e matem ática. na escola da Barsizza (da qu al saíram letrados
famosos. como Filelfo), a qual freqüentou durante dois ano s. Depois
estudou direito em Bolonha. .
Em 1421. com dezessete ano s, teve a infelicidad e de perd er seu
pai . Sua famíli a qu is que pr aticasse os negócios. com o er a costume .
Mas Leon . que não queria aba ndonar seus estudos . teve seu suste nto
corta do . Seguem-se anos de intensa ativid ade , pois trabalhava du-
rante o dia para sobreviver e estudava à noite . Mesmo assim. ainda
encontrava tempo para apaixonar-se. Esse ardor devorante obrigou-o
a parar tudo por algum tempo . Ap esar disso , em 1428. conseguiu
sua licenciatu ra em direito can ónico, aos vinte e quatro anos.
Datam de então suas primeiras obras, sobretudo poétic as - seja
em lat im. De com mo dis litterarum arque incommodis, onde evoca
seu gosto pelo estudo. suas ilusões . suas privações. ou a com édia
Philod oxeos , atribuída por ele a um códex antigo de Lépido. e que
teve um imenso sucesso - seja em italiano. como as éclogas Corimbo
e Mirza . em que exprime o amor pela mulher . pela paz e pela liber-
dade . e Ecatomfilea, em que . inspira do por Ovídio, faz uma jovem
dissert ar sobre a arte do amor .
Nada disso era especialmente religioso: entretanto . nesse mesmo
ano de 1428. Leon passou a servir o cardeal Alb ergati, mecenas,
a qu em acompanho u em Borgonh a , Picard ia e Alemanha - países
que lhe interessar am vivamente - ; depoi s. em 1431, serviu o chan-
celer pontifical Biaggio Molin . Logo. tornou-se compendiador apo s-
tólico na cort e do papa Eug ênio IV . A visão da Roma antiga. em
ruínas ainda desarran jadas marcou-o profundamente. Em seu tempo
livre. estudava os monumentos. pro cur ava reconstruí-los através de
desenhos, iniciava-se nos métodos dos arquitetos antigos.
Em junho de 1434. expul so de Roma pelo s Colonna, Eugênio IV
refugiou -se em Florença ,onde então Leon pôde entrar. No convento
dos Anjos, freqüentou os mais famosos letrados da época, Cosme
de Mediei e Lorenzo, o Magnífic o. o barb eiro poeta Burchiello , o
RUMO A UMA NOVA REVOLUÇÃ O DO ES PÍR I TO 161
Por essa época, Leo nar do da Vinci (338 , 340 . 342) chegava aos
vinte ano s. Ta mbém era filho natural: se u pai , o notár io Piero da
Vinci (Vinci era um povoad o próximo de Floren ça) colocou-o -
e Leonardo irá se lemb ra r disso ! - num a espéc ie de o rfa na to . A
proteção dos Medi ei permitiu-lh e felizmente estuda r pintura na esco -
la de Andrea deI Ve rocc hio , co m Sandro Botticelli . Seu s pro gressos
sur preende ntes são ates ta dos por um a pequen a pred el a da Anun-
ciação , co nservada PO Mu seu do Lou vre . Entretanto as partidas de
Verocchio , de Botticelli e de Perugino deixavam-no desampar ad o.
suje ito a um a sensação de isolamento . Essa é a razão pela qu al.
em 1482 ou 1483, e nviado talv ez por Lorenzo , o Magn ífico , Leonardo
seguiu para Milão , onde se apresentou a Ludovico, o Mouro . Como
esse Sforza e ra um príncipe guerreiro, foi co mo enge nhe iro que D a
Vin ci lhe foi recomendado . O fato de ocupa r tal fun ção não o impediu
de cont ribuir para a construção das cated rais de Milão e de Pavia. de
decorar o Castelo de Milão , de pin tar os ret ratos do Mouro e de
sua corte , assim co mo a Ceia (na igrej a Sant a Maria delle Grazie ) ,
de real izar uma gigantes ca maquet e de cavalo par a o túmulo de Fr an-
cesco Sforza, de org anizar vári as festa s da corte e de se dedicar a
pesqui sas anatô micas .
E m 1499, aproveita ndo-se de uma ausê ncia do Mouro , os milane-
ses abrira m suas portas ao rei de Fr ança Lu ís XII, e esse período
central da vida de Leon ar do foi su bstit uído por um a exis tê ncia er ra n-
te entre Ferrar a , Flor e nca , Ve neza, Milão, Mân tu a e R om a ... Em
1502-1503, colocou suas ~tividades de engenhe iro a serviço de César
Borgia e de seus empree ndime ntos militar es na It ália central. Foi
então qu e travou rela ções com Maquiavel. Trabalhou para tornar
o Arno navegável até Flore nça . Por fim , as promessas do rei Fran-
cisco I atra íram-no par a a Fra nça . Ve io a morrer na casa de Lu ísa
de Sav óia , mãe de Fr an cisco 1, perto de A rnbo ise, no castelo de
Clo s-Luc é, e m 2 de maio de 1519.
A amplidão de sua o bra ainda é mal co nheci da, e a auto ria de
vários dos quadros atribuídos a ele aind a é discutível. A parte mais
segura de sua obra são os extrao rdiná rios desenhos, legados por ele
com se us pap éis a se u alun o Francesco Melzi, e que . tomad os pelas
RUM O A UMA NOVA REVOLUÇÃO DO EspíRITO 163
- O prim eiro , por suas relações com sua própri a família assim com o
com Giovanni Ru ccellai : o segundo . por sua atividade de engenheiro .
Neles combinam-se a ciência. a arte e o pensa mento . São gênios
univer sais - e não con vém fazer mos generalizações a partir deles.
En tret ant o , participam de um movimento conjunto. ao qual é preciso
correlacion ar as inovações enume rad as nos capítulos preced entes,
e qu e ago ra tenta remos analisar.
Um mod elo mu ito mais corre nte nos é fornec ido pelos hom en s
de negócios da Itália , já bem mais numerosos. Qu an tos? O saudoso
Yves Ren ou ard pelo me nos sugeriu ordens de gra ndeza: " As listas
dos sócios e corretores das compa nhias dos Bardi e dos Peruzzi atua l-
ment e conhecidos referentes aos anos 1310-1345 compree nde m, a
prim eira 346, a segunda 142 nom es; e o pessoal da companhia dos
Acciaiuoli também devia ser muito num eroso ." E , mais adiante: " Os
dados num éricos qu e nos restam referent es a Florença e a Veneza
perm item estima r seu núm ero , nessas duas cidades, em 2% da popu-
lação. Juntand o tod os os membros da família, mulheres. crian ças,
velhos , qu e participam da mesma ética, chega-se a um número equi-
valente a 5 e até a 10% da população tot al. " Se considerarmos as
quatro grandes cidades . Florença e Gênova. Milão e Veneza . cada
uma com aproximada mente 100.000 habitant es, isso representa entre
30.000 e 40.000 pessoas.
" O ra , essa minoria é a part e essencial da popul ação urbana: são
os homens de negócios que, ao suscita rem para seu com ércio o desen -
volvimento da indústria, fazem das cida des onde residem grandes
aglome rações; são eles que exercem o poder político e têm a prep on-
der ância econômica. Tamb ém sua maneira de pen sar, de viver e
de agir tend e a se to rnar, pelo própri o fato de sua preemin ência
socia l, um dos eleme ntos dessa civilização ur bana qu e eles, mais
do qu e ninguém , contr ibuíram para form ar , e na qu al as cidades
têm um papel cada vez mais importante. " (71)
Assim, ao ana lisarmos as maneiras de sentir e de pensar desses
homens, que tanto se encontravam em Rom a , em tantas outras
cidades italianas, como tamb ém em Avignon , Montpellier. Barce-
lona , Par is, Bru ges e Londres, ... poder emos chegar a conclusões
de alcance mais geral.
Esses hom en s de negócios tinham-se sede nta rizado . Não que tives-
sem renunciado a viaj ar quando havia oportunidad e: diri giam-se fre-
qüentement e aos principais lugares de sua ativida de , onde mant i-
nham sucursais ou escritórios comerciai s. Residiam ali por longo tem-
po . dirigindo seus pequ enos "i mpé rios" . como se fosse do centro .
Mas em todos os lugare s utilizavam os mesmos métodos: eram ho-
men s de escritó rio . que mantinham uma correspondência abunda nte.
RUMOA UMA NOVA REVOLUÇÃO DO ESPÍRITO 165
depois envie as cartas que vier am junto com as suas. Mas nunca
as envie sem que antes tenha feito os seu s negócios , pois essas cartas
poderiam conter indicações qu e criariam empecilhos para seus negó-
cios, e o serviço que você teria pr estado a um amigo, a um vizinho
ou a um estranho , ao entregar-lhe suas cartas seria em seu grande
detrimento : ora, você não deve se rvir ao próximo para se prejudicar
em seus próprios negócios. "
Gostavam da s representaçõe s exat as. Sabiam fazer cálculos, com
a ajuda do ábaco , ma s também do seu cérebro ; e os cálculos que
nos proporcionam tão gene ros ame nte os escritos daquela época
eram , ao menos na s regiões de senvolvidas , de uma exatidão sur-
preendente . Falavam várias línguas estrangeiras. Gostavam de ter
um a idéia tão ju st a quanto po ssível tanto do tempo como do esp aço .
Não se satisfaziam ma is com as medidas tradicionais do tempo nem
com o fato de que o ano começasse em datas diferentes conforme
os lugares, sendo Natal, Anunciação ou Páscoa, que além de tudo
é uma festa móvel , todas inspiradas no cômputo eclesiástico , ou de
que as horas fossem mais curtas no verão do que no inverno , segundo
o costume herdado do s romanos. Como o sábio já o fazia mu ito
antes , passaram a se basear num siste ma de horas iguais , qu e os
relógios públicos - mai s numerosos precisamente a partir do século
XIV - ajudavam a contar, poi s a necessidade po ssibilitara sua cria-
ção. Eram apaixonados por uma representação exata do espaço , con-
forme as leis cada vez mais conhecidas da perspectiva; do homem ,
com a diversidade de suas feiçõe s, a cor de sua pel e , a an atomia
exata de seu corpo; e , finalmente , do mundo , graças a uma cart o-
grafia , para cujo progresso contribuíram mu ito os catalões.
Em todas essas manifestações surgiu e desenvolveu- se um ind ivi-
dualismo que devemos reconhecer como a principal característica
desses homens. Sua ética era, sem dúvida , " capitalista" (338) : trata-
va-se , para eles , de " e ncontrar os meio s ma is eficaz es de obter riqu e-
zas e de utilizá-las segundo um princípio de usufruto ind ividu alista " .
Contudo , viviam no seio de um mundo cristão, cujos pr incíp ios era m
outros.
Reflexões e angústias
• Moed a cunhada em Paris. que valia um qu art o a mais do 'l ue a moed a cunh ad a
e m To urs. Daí libr a par isis e libra torn esa. (N.T .)
R UM O A UM A NO VA R EV OL UÇÃ O DO ES PÍR ITO 171
como seus "verdadeiros e leais herde iro s" . Adivinha-se uma fortuna
co nside ráv el. Mas a retirad a é muito fort e . E é um fato geral , qu e
freia a acumulação dos capi tais. Nesse mundo que comprovad amente
se tornara capitalista so b mu itos pon tos de vist a , sob ra uma gr ande
forç a oposta ao cap italismo . a re ligião .
Sem dúvida, depois de Philippe Ari ês. a histó ria da morte pr eocu -
pou muito os nosso s escritores. Há trinta anos, inspira muitas obras
de primeira ordem . Num domínio vizinho , ainda está por se r escrita
um a história do suicídio . Por mu ito tempo acre dite i qu e na Idade
Média não hou vesse suicídios - salvo em caso de loucura - , porque
era m séculos cristãos, e a rel igião cristã proíbe o suicídio . Não esto u
mais tão seg uro ago ra. como o leit or ter á ob servad o.
Na verdade . é a histór ia de to das as paixões , de tod os os senti-
mentos hum anos que dever ia se r abo rda da. Mu itos desses se ntime n-
tos dissimulam- se por tr ás da seca demografia! A história do nasci-
mento e da s festas qu e o marc am . A história do casamento e de
se us ritos. A históri a da família .. . Todas distintas e todas ligadas.
Ligadas também à história econ ómica, uma vez qu e é ela que con s-
titui nossa matéria.
Um outro grave problema moral é o da usura e do capitalismo .
A igreja impunha, como vimo s, uma moral tradicional , qu e rev ela va
um estado de espírito. Eis que os tempos novos traziam prátic as
e pr eocupações que lhe pareci am muito estranhas, senão contrárias .
Desse conflito , nenhum te stemunho é mai s revelador talvez do que
a correspondência dirigida a Fr ancesco Datini , de Prato , um dos
cap ital istas que melhor se conhece de ssa época, por seu notário ,
Ser Lapo Mazei , sinceramente cristão e tradicionalista . Segue a tra-
dução do que Mazei escreveu-lhe em 24 de junho de 1391 (341):
"Já soube através de suas cartas, de suas atribulações e dos impedi-
mentos que lhe causam as coisas de ste mundo; mas, agora que as
vi com meus próprios olho s, sei que são bem maiores do que e u
pensava. Quando pen so nas pr eocupações que lhe causam a casa
que o senhor constrói , seus armazé ns nos países afastados, se us ban -
qu et es e suas contas, e mu itos outros ne gócio s, parecem-me bem
supe riores ao que é ne cessário, e compreendo qu e o senho r não
possa subtrair um a hora ao mundo e a suas arma dilha s. Entre tanto,
Deus conced eu -lhe um a abundân cia de ben s materiais e deu-lhe mil
avisos a fim de despertá-lo . Ei-Io com a idade de quase sesse nta
anos e livre de pr eocupaçõe s com filho s - irá entã o agua dar até
seu leito de morte, qu ando o ferrolho da porta da morte será levan-
tado, para mudar seu s sentimentos? .
" E m suma, queri a qu e o senhor terminas se muitos de se us negócios
qu e , diz o senhor, estão em ordem, que parasse de construir e ainda
172 OUTONO DA IDADE MÉDIA
É só uma satisfação concedida pelo papa " àqueles que estão contritos
e confessados" . Mas as instituições têm seu peso , e um verdadeiro
tráfico de indulgências desenvolveu-se . Esses homens são insensíveis
ao escândalo de uma sociedade tão correntemente refratária ao Evan-
gelho , ligada a costumes propriamente pagãos - prostituição, escra-
vagismo , imoralidade conjugal-e crêem que observâncias , seguidas
corretamente , conforme o direito , bastavam para garantir a salvação.
Entendem as coisas da religião com um valor absoluto, o mesmo
para todo s, qualquer que seja o compo rtamento pessoal.
* Epic uri de grege porcus , exp . lat. signo porco do reb anh o de Epic uro. Frase
com qu e Horácio (E pístolas. 1, 4, 16). por iro nia, classifica a si mesmo, ao critica r
a linguagem dos estóicos , cuj a austeridade excedia o razoáve l ante os princípios da
sua filosofia . Por ca usa de se u pito resco , a expre ssão ficou par a designar qualque r
hom em grosse irame nte sen sual. (G rande Encic lopéd ia Delta Larou sse. 1975) (N .T.)
176 OUTONO DA IDADE MÉDIA
TENTATIVA DE
BALANÇO
12
suas opiniões nos Conselhos , ma s não pode impô -las . Também est á
obrigado pelo juramento solene que pronunciou qu ando de sua ele-
vação . Alguém escreveu que ele tem "a majestade de um príncipe
e os deveres de um cidadão" . Em geral , aceita esse " jugo dourado ".
Deve fazê-lo . Francesco Foscari será ,deposto em 1457 pel as simples
suspe itas qu e sua atitude de spertar á. E assistid o pelo Col égio. Parale-
lamente existe o siste ma co mplexo do s Con selh os. O Grande Co nse -
lho possui uma competênci a uni versal. No fim do séc ulo XIII, foi
"fecha do" ; em 1325, crio u-se até mesmo um livro , on de estavam
inscritas as famílias que fazia m par te desse Con selh o . D esse mod o,
achava-se definida e delim itad a a nobreza . Mesmo assim é muito
num erosa - cerca de 1.300 membros. Mas é o Sen ad o (120 mem-
bros) que representa o papel esse ncial: dirige a polít ica estrangeira,
nom eia os embaixa do res; diri ge a gue rra, designa eventua lme nte um
capitão geral do mar e um da te rra; organiza a vida eco nômica, no-
meia numerosos tit ula res de funções; tem um papel legislativo, divi-
dindo com o G ra nde Con selh o o exame das prop osições de lei or iun-
das do Co légio. O Co nse lho dos D ez, instituído provisori am ente ,
torn ou -se defin itivo e m 1355 e nele juntar am-se o doge e seus co nse -
lhei ros. H avia tam bém um advogado da Comuna , que pod ia defen-
der os acusa dos , Seu papel con sistia em dirigir a po lícia e prot eger
o Estado . E ele qu em , em 1457, dep orá Foscari.
O G ran de Conse lho part icipava da eleição pa ra todas as magistra-
turas, tempor ár ias e coletivas, com pod e res cuida dosame nte deli mi-
ta dos: os procur ad ores de São Marc os, que tinham postos vitalícios,
dirigiam a ad ministração fina nce ira ; aos advoga dos da Comuna era
atr ibuído um papel sob re tudo judiciár io , além de con serv arem o Li-
vro de Ouro da nobrez a ; o Grand e Ch anceler, não-patrício , esc rev ia
e conservava as atas pú blicas, etc .. .
Podem os te ntar, co mo fizemos com Florença, ava liar essa organi-
zação? Numerosa e, se m dúvida, eficaz , intervinha e m todos os cam -
pos ge ra lme nte de mane ira minu ciosa. Podemos notar também seu
caráter bastante ari stocrático. q ue e nt regava todo o po der aos patrí-
cios , e seu ca ráte r policial. marcado por prisões e assassinatos . Pelo
men os mant inh a-se a paz pública. favo ráve l ao desen volviment o dos
negócios.
Podem os perfeit am en te reco nstitu ir as ca rreiras norma is dos patrí-
cios . D epois dos est udo s de gra mática e de cálc ulo, feitos sob a dire-
São de um precepto r particu lar, havia o aprendizado no exército
ou na marinha (es pec ialme nte nas galés), e o início de um a ativ ida de
comercial. A juve ntude era passad a em viage ns nos navios da famíl ia :
o jo vem nobre aco mpa nhava a ca rga, negociava as vendas e as com-
pra s... Isso se alte rnava com lon gas estadas no ex terior - no Levan-
190 OUTONO DA IDADE M ÉDIA
prietário de cem var as cultiva sse pelo menos cinco amoreiras (" mo-
ron " em patoá : daí o cognome More [Mouro] que será dado a Ludo-
vico, filho e sucessor de Francesco) . Do mesmo modo , o cultivo
do arroz propagou-se - começou a fazer parte do card ápio das tropas
por volta de 1500. E também os minérios passam a ser procurados
nos vales lombardos dos Alpes. A imprensa foi adotada em 1471.
A importância das colônias estrangeiras crescia : havia alemães (os
Fugger de Augsburgo , em particular), franceses , flamengos, ingle-
ses ...
Os Sforza mandaram executar grandes obras em Milão , com a
ajuda de notáveis arquite tos como Bramante . Contruiu-se o castelo
da porta Giovi a. Ergueu-se um hospital ger al, unificando-se todo s
os asilos anteriores. As obras da catedral pros seguiram. Lud ovico
recorreu a hum anistas, a sábios, a músicos. Leonard o da Vinci, como
vimos, veio organizar os prazeres de sua Corte.
Pena que Lodovico tenha se deixado levar pela ambição de criar
uma monarquia hereditária, suscitando assim oposições! Em 1492,
a morte de Lorenzo, ii Magnif ico, privou-o de seu melhor aliado .
Quando Luís XII de França interveio , em 1498, não pôde resistir-lhe ,
morrendo miserav elmente em Loches. Contudo , continuou sendo
um centro notável:
sores igualme nte eleitos nesses terços, com a existência de uma caixa
alimentada pe las multas e pelo Schoss (taxa de 0,14% sob re o câm-
bio). Q uando o Kontor dive rgia das autor idades mun icipais sob re
as condições estabelecidas para o comé rcio, chegava a abandonar
a cidade e se insta lar noutro lugar dura nte alguns anos.
Em seguida vêm os italianos, divididos um po uco antes de 1400
em "Naç ões" : Bolonha , Flor en ça , Gê nova , Lucca, Milão , Piacenza ,
Siena e Ve neza. Tod as se be neficiavam pr aticament e dos mesmos
privilégios, definidos pelos tr atados que o conde de Flandres firmara
com as cidades inter essadas. Par a dar um exe mplo, pod emos exa mi-
nar o que Gê nova ob teve em 1396: nenhum seqüestro de bens pod e-
ria ser feito em rep resá lia pelos prej uízos de guer ra devidos a outros
genoveses. Seria dado um aviso prévio de oito meses, caso o conde
de Flandres decidisse exp ulsar os geno veses. Os marinheiros geno-
veses conse rvariam todos os seus direitos sob re seus navios fundea dos
em Sluis. Os genoveses não teriam mais nenhu ma taxa a pagar sobre
suas mercadorias além daque las que fossem especificadas por aco rdo .
Todas eram submetidas às mesmas restrições: exclusão do comé rcio
varej ista, ob rigação de sem pre passa r po r um corretor , proibição
de comprar produt os locais para revend ê-los no mesmo lugar. A
Nação , dirigida por um Com itê eleito (com um côns ul) , er a ao mesmo
tempo uma associação comercia l, um círculo socia l (pa rticipa ndo
também das festas urbanas) , e uma confraria religiosa prov ida de
uma capela. Per tencer a ela era uma obrigação . Mas o núme ro de
membros era variável : 35 na Nação lucqu esa , em 1378. Havia casas
consulares, várias delas instaladas na praça da Bolsa, assim cha mada
porq ue ali enco nt ra-se um hotel de propriedade da família Va n der
Beurse. Essa praça era o pon to de encontro favo rito dos italianos.
Essa é a origem do termo " Bolsa" , fada do a um tal sucesso .
Ta mbém havia ingleses, espa nhóis, portugueses, mas muito pou-
cos franceses, por qu e o rei de França estava freqüentemente em
conflito, ora com o conde, ora com as cidades de Flandres. Não
é de se sur pree nde r que man uais de conve rsação bilíngüe tenh am
sido com postos em Bru ges.
A organização do crédito e do ba nco em Bruges já foi est uda da
(pp. 124-5) (74). Havia ali três setores economica mente bem distintos.
Correspondiam a três meios sociais não menos diferentes, que ainda
nos falta evocar. Os "lornbardo s" eram em gera l originá rios de Asti
e Chieri no Piem on te . E ram pessoas de fortuna bastante razoáve l,
cuidadosamente man tidos à distâ ncia da boa sociedade , que to lerava
suas at ivida des como um mal necessár io . Assim, seus estabelcime ntos
situavam-se no Qua i L ong ; num bairro tr anq üilo, relativamen te afas-
tado do centro . Não pa rticipa vam das festas. Casa vam-se entre si.
ESBOÇO DA NOVA EURO PA 205
A vertente atlântica
os países de língua d' oil: buscava nos Paíse s Baixos uma parte dos
tecidos de lã procurados por seus habitantes - tecidos flamengos
no começo do século XIV. depois tecidos médios de Wervick e de
Courtrai , e também os tecidos de luxo do Brabant e depois os da
Normandia (Montivill iers) . O principal caminho, em direção a esses
países, era a via terrestre pelo vale do Ródano e Paris; não havia
nada equivalente a Oeste do Maciço Central. Uma via mais aciden-
tada. porém menos repleta de pedágios e menos freqüentada pelas
companhias de mercenários, chegava a Lyon, atravessando o Maciço
Central por Rodez e Puy . No século XV , desenvolveram-se as rela-
ções com as feira s de Gênova . Os tolo sanos compravam ali aviamen-
tos, sedas e talvez especiarias. É preciso insistir também nas relações
com a Inglaterra, já atestadas no século XIII: vinhos do " haut pays"
contra lãs. Nos séculos XIV e XV, apesar do obstáculo (intermitente)
das guerras, o comércio diversificou-se : os tolosanos mandavam tra-
zer arenques salgados, peles, estanho, trigo e principalmente tecidos
(de qualidade média); expediam pastel-dos-tintureiros. Mas essas re-
lações não eram mais diretas: eram feita s pelo vale da Garonne ,
repleto de ped ágios e ameaçado pelas operações militares; também,
para Bordeaux, geralmente fazia-se um desvio por Condom. Por
interm édio dos bearneses neutros, arrieiros e mercadores, organi-
zou-se uma via terrestre para Bayonne , por Tarbes e Pau.
Uma regulamentação preci sa e minuciosa dominava o artesanato
e o comércio. Quase todos os ofícios eram organizados - ao contrá-
rio do grande comércio e do câmbio, que permanecem livres. Tou-
louse possuía feiras e mercados . Os mercadores tolosanos freqüen-
tavam também uma rede de pequenas feiras regionais , Moissac e
Agen, Muret e Pamiers, Avignonet e Castelnaudary. Tanto os corre -
tores, verdadeiros funcionários públicos, que eram encarregados de
pôr em contato compradores e vendedores, quanto os hospedeiros,
que notificavam seus clientes dos estatutos em vigor e fiscalizavam
as transaç ões, intervinham em toda a vida econômica . As técnicas
eram extremamente rud imentares: não havia sistema de seguros, era
lenta a penetração da letra de câmbio , as contabilidades eram bas-
tante simples, e havia exclusivamente as associaçõe s sumárias, que
agrupavam dois ou tr ês associados pelo curto período de um a três
anos. Em meados do século XV , e sob influências italianas, o banco
começou a dar os seus primeiros passos.
Não se deve acreditar que os mercadores tivessem a exclusivid ade
das funções comerciais: not ários, médicos, etc., também negocia-
vam . Em período de penúria, a especulação com o trigo era feita
por todos aqueles que poderiam consegu ir algum estoque. A maioria
dos tolosanos tinha condições de se auto-abastecer com suas proprie-
216 O UTONO DA IDAD E M ÉD IA
tico, por onde seus metais eram enviados para Veneza . Houve um
desenvolvimento considerável da produção , que concorria com o co-
bre do Tirol, a ponto de se chegar a uma verdadeira superprodução.
A crise foi desfeita pela expansão portuguesa: Antuérpia tornou-se
o mercado principal onde as especiarias trazidas pelos mercadores
portugueses eram trocadas pelo cobre procurado na África .
O mais belo período da vida- de Jacob Fugger iria pertencer ao
século XVI. Em 1519, graças à sua prata, Carlos Quinto , neto de
Maximiliano , foi eleito imperador vencendo Francisco I , rei de Fran-
ça. Morreu em 1525, sem filhos. Seu exemplo ilustra bem a passagem
da Idade Média ao que chamamos os Tempos Modernos.
essas zonas tão desiguais. Quer se trate das ligações entre países
mediterrânicos e setentrionais, ou entre regiões ocidentais e orien -
tais, seu desenvolvimento dificilmente pode ser negado . Assim emer-
gia, com efeito , uma nova Europa.
13
Hoje e amanhã...
!
Por toda parte, a metade do século XV foi marcada por um vigo-
roso esforço de reerguimento. Foram criadas as bases do exército
permanente na França. O acordo de Castillon (julho de 1453) pratica-
mente pôs fim à Gu erra dos Cem Anos. A " reconstrução" desenvol-
ve u-se em todos os lugare s. O crescim ento demográfico começou
l a se generalizar.
Devemos nos espantar por quase não ser possível, diante desse
quadro , fazer o levantamento dos progressos , aperfeiçoamentos e
inovações realizados durante essa época? Não, pelas razões que já
tram-se nos países que seguiam o velho direito romano (Itália, Espa-
nha, França meridional). Em outros lugares , os atos privados eram
registrados pelas municipalidades ou por alguns tribunais (eclesiás-
ticos, em particular). Restaram-nos poucos deles. O notariado só
estendeu-se pouco a pouco para o Norte , durante os séculos XV
e XVI (99).
Isso nos leva a falar sobre a documentação oficial. A atividade
dos camponeses, como a dos artesãos e dos mercadores, manifes-
tava-se no quadro de diversas autoridades; portanto, deixou vestígios
nos arquivos de suas administrações. Censualistas e cartulários, so-
bretudo eclesiásticos, para as estruturas agrárias e o trabalho campo-
nês. Os artesãos e mercadores eram habitantes de cidades: era delas
que emanava a legislação econômica que deviam obedecer. Contudo,
muito cedo na Inglaterra, a partir do século XIII na França, no século
XIV nos Estados borguinh ões, a autoridade do soberano passa à
frente da autoridade das cidades. Cada vez mais, é o Estado que
legisla e controla a vida econômica . Entretanto , na Itália e na Alema-
nha , são as cidades que, sob um imperador fantasmático , são pratica-
mente a única autoridade : pode-se falar de cidades-Estados. Assina-
lemos finalmente alguns senhores portageiros , dos tribunais eclesiás-
ticos.
Que tipos de documentos fornecem esses acervos? Em primeiro
lugar atos legislativos e regulamentos: costumes senhoriais , decretos
reais ou editos municipais , estatutos de ofícios, etc . Serão confron-
tados com a legislação eclesiástica sobre a usura , o justo preço . E
evidentemente uma fonte indispensável de informação. Porém , ela
descreve um ideal, e coloca-se sempre o problema de sua eficácia.
Quando as mesmas regras são repetidas muitas vezes, com sanções
agravadas , é sinal de que não são respeitadas. Podemos somar a
isso as deliberações dos corpos encarregados da elaboração e da apli-
cação dessas regras, por exemplo , os corpos municipais . É inútil ex-
plicar por que eles são mais confiáveis.
Disso também emanam contas, que podem ser muito variadas.
Direi apenas alguns exemplos . Já falei das contas senhoriais . As con-
tas de hospitais são preciosas tanto para o estudo da alimentação
quanto para o dos preços (221). Também há as tarifas e as contas
de pedágios cobrados nas cidades e nas estradas; elas se esclareciam
mutuamente. Há as contas de duanas: as mais notávei s são as Cus-
toms Accounts inglesas: 7.500 rolos nos quais se encontra consignada
a percepção dos direitos estabelecidos a partir do final do século
XIII, sobre a importação do vinho , e sobre a exportação de lã e
pano (69). Há também contas particulares dos diversos portos, e,
de outra parte, os resumos e totais estab elecidos no Echiquier (isto
PROBLEMAS DE FONTES E DE MÉTODOS 247
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(A observação rigorosa dos prazos de navegação era capital pa ra o
co mé rcio ven eziano ; ora , ela é cada vez menos assegurada no século
XV , fato que a col oc a em relação com a transformação dos interesses
da aristocracia, que se volta para a exploração da terra firme .) .
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(Bom estudo das con seqüências para as finanças urbanas d a necessidade
de con servar as muralh as, e m ligação co m a gue rr a .)