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© momento, grande quantidade de pesquisa bésica ¢ aplica- da, 0 que, 9 partir dos anos cinglienta aproximadamente, pernitiu a elaboragao de uma tecnologia de ensino, que, por sua vez, tem fornecido dados para a propria andlise com- portamental, ‘Como conseqiiéneia dessa abordagem, fica claro que 0 que nao € programado nao ¢ desejével. Tal como na abordagem tradicional, encontrase aqui énfase no produto obtido, na transmissio cultural, na in- fluéneia do melo, no diretivismo, por parte do centro deci- s6rio, sobre 0 que seré aprendido © o que deveré ser trans- mitido as novas geragdes. Esta abordagem se basela, no entanto, néo em uma prética cristalizada através dos tem- Pos, mas em resultados experimentais do planejamento de contingéncias de reforgo. A énfase dada & transmisséo de informagées, & apresen- tagéo de demonstragdes do professor a0 ver e escutar do aluno na abordagem tradicional, é substituida pela direoao mais eficiente do ensino fornecida pela programacdo. Em ambas as formas, no entanto, nota-se diretivismo e decisdes tomadas para o aluno. ‘As relagdes duais simultaneas temporalmente e justa- pos.as espacialmente da abordagem tradicional continuam nesta abordagem duals, onde a cooperacso entre os altunos néo é enfatizada. Essas relagdes duais so mediadas pela programagio do ensino, e esta mediacéo permite, porém, a consideracao de cada aluno em particular, da individualiza- Go do ensino, o que nao era possivel na abordagem ante- rior. Capitulo 3 Abordagem humanista 3.1, Caracteristicas gerais Nesta abordagem, consideram-se as tendéncias ou enfo. ques encontrados predominantemente no sujeito, sem que, todavia, essa’ énfase signifique nativismo ou apriorismo pu Tos. Isso no quer dizer, no entanto, que essas tendéncias nao sejam, de certa forma, interacionistas, na andlise do desenvolvimento humano e do conhecimento. Considerando-se a literatura mais difundida e estudada no Brasil, tem-se dois enfoques predominantes: o de C. Ro- gers e 0 de A. Neill. Embora Neill seja classificado comumente como “es. pontanefsta” (prope que a crianga se desenvolva sem inter- vengGes) e sua obra consista muito mais num relato de uma experiéncia e na exposigio de icéias sobre homem, educacéo © vida, do que uma proposta sistematizada, incluem-se aqui algumas das suas concepgdes, dada a énfase no papel do sujeito como principal elaborador do conhecimento humano. A proposta rogeriana é identificada como representati- va da psicologia humanista, a denominada terceira forca em psicologia. © “ensino centrado no alo” é derivado da teoria, também rogeriana, sobre personalidade e conduta. Essa abordagem dé énfase a relagOes interpessoais e 20 crescimento que delas resulta, centrado no desenvolvimento 37 4a personalidade do individu, em seus processos de cons- trugéo e organizagéo pessoal da realidade, e em sua capaci- dade de atuar, como uma pessoa integrada. Dé-se igualmen- te énfase a vida psicoldgica e emocional do individuo e 8 ‘preocupacio com a sua orientagio interna, com o autocon- ceito, com o desenvolvimento de uma viséo auténtica de si mesmo, orientada para a realidade individual e grupal. (© professor em si nao transmite contetido, dé assistén- cia, sendo um facilitador da aprendizagem. O contetido advém das proprias experiéncias dos alunos. A atividade é consi- derada um processo natural que se realiza através da inte- ragdo com o meio. O contetido da educacéo deveria consis- tir em experiéncias que o aluno reconstréi. O professor nao ensina: apenas cria condiedes para que os alunos aprendam. 32, Homem © homem 6 considerado como uma pessoa situada no mundo. E tnico, quer em sua vida interior, quer em suas parcepges e avaliagdes do mundo. A pessoa é considerada em processo continuo de descoberta de seu proprio ser, It gando-se a outras pessoas e grupos. Quanto & epistemologia subjacente a essa posigio, a experiéncia pessoal e subjetiva é 0 fundamento sobre o qual ‘0 conhecimento abstrato € construido. Nao existem, portan- to, modelos prontos nem regras a seguir, mas um proceso de vira-ser. O objetivo tiltimo do ser humano é a auto-rea- lizaefio ou o uso pleno de suas potencialidades e capacida- des, © homem nao nasce com um fim determinado, mas go- za de liberdade plena e se apresenta como um projeto per- manente e inacabado. Nao 6 um resultado, criase a si pro- prio. %, portanto, possuidor de uma existéncia néo condi- cionada @ priori. ‘Segundo Puente (1978, p. 53), na abordagem rogeriana, ser humano significa: * 1, Ser uma totalidade, um organismo em processo de integracdo; ser independente, diferente, auténomo e, como tal, devendo ser aceito e respeitado, 38 2, Ser uma pessoa na qual os sentimentos e as expe- riéncias exercam um papel muito importante, como fator de crescimento. 3. Ser uma pessoa que possui uma capacidade, uma tendéncia a desenvolver-se, a autodirigir-se, a reajustar-se, tendéncia e capacidade estas que devem ser liberadas nao iretivamente. : 4. Ser uma pessoa considerada num presente imedia- to, aqui e agora. 5. Ser uma pessoa interagindo com outras pessoas, com: preendida e aceita como tal, por parte de quem a ajuda. A crenga na £6 e a confianca (termos de Rogers) na capa- cidade da pessoa, em seu proprio crescimento, constituem 0 pressuposto basico da teoria rogeriana. Em Terapia Centrada no Paciente (p. 467-506), Rogers coloca suas proposigdes acerca do homem e das possibili- dades que esse homem tem de tratar de forma construtiva a sua situacdo vital: 1. Todo o individuo existe ‘num mundo de experiéncla do qual 6 0 centro e que esté em permanente mudanga. 2. © organismo reage 20 campo perceptivo tal como este ¢ experimentado e apreendida. Este campo 6, para o individuo, “realidade”, 3. © organismo reage ao seu campo fenomenal como um todo organizado. 4. © organismo tem uma tendéncia de base: realizar, man- ter e realcar a experiéncis organtsmica. 5. A conduta ¢ fundamentalmente o esforgo dirlgido a um fim do organismo para satisfazer as suas necessidades tal como fas experimentadas no campo apreendido. 6, A emogo acompanha, e de modo geral facilits, a con- ute dirigida para um tim, 7. © melhor ngulo para a compreensio da conduta é a partir do quadro de referéacia interno do préprio individuo. 8, Uma parte do campo total da pereepeio vai-se diferen- clando gradualmente como “ego”. 98. Como um resultado da interagio com 0 ambiente e de modo particular como resultado da interagio valorativa com (05 outros, formase a estrutura do ego — um modelo concei- tual, organizado, fluido, mas consistente, de percepgdes, de ca racteristicas e relag6es do “eu” ou de “mim”, juntamente com valores ligados a esses conceitos. 39 40 10. Os valores ligados & experiéncia © os valores que sio ‘uma parte da estrutura do ego so, em alguns casos, valores ex: perimentados diretamente pelo organismo, e em outros casos, sto valores introjetados ou pedidos @ outros, mas captados de uma forma distorcida, como se fossem experimentados direta- mente. 11. A medida que vio ocorrendo experitnelae na vida do ‘um individuo, estas a) simbolizadas, apreendidas ¢ orga- nieadas numa certa relagéo com 0 ego; b) ignoradas porque nio se capta a relacdo com a estrutura do ego; ¢) recusadas simbolizac&o ou simbolizadas de uma forma distoreida por. ‘que a experiéneia ¢ incoerente com a estrutura do ego. 42, A maior parte das formas de conduta adotadas pelo organismo sio as consistentes com 0 conceito do ego. 13. A conduta pode surgir em alguns casos de experién- las orginicas de necessidades que nfo foram simbollzadas. Essa conduta pode ser incoerente com a estrutura do ego, mas nesses casos a conduta nfo é “apropriada” pelo individuo, 14. A desadaptago psicoldgica existe quando o organismo rejelta, da consciéncia, experiéncias sensorials e viscerais im- portantes que, por conseguinte, nfo se simbollzam nem se or- genizam na “Gestall” da estrutura do ego. Quando se verifica es'a situacdo, hé uma tensio psicolégica de base ou potencial. 15. A adaptacéo psicoldgica existe quando 0 coneeito do eg 6 tal que todas as experiéncias viscerais e sensoriais do or- ganismo sio, ow podem ser, assimiladas de uma forma simbo- lica dentro do conceito do ego. 36. Qualquer experiéncia que seja inconsistente com a or- ganizacio ou estrutuura do ego pode ser apreendida como uma ameage e, quanto mais numerosas forem essas percepcdes, mais rigidamente a estrutura do ego se organiza de modo @ manter- se a si mesma, 4%. Em determinadas condigSes que smpliquem, prinefpal- mente, a total auséncia de qualquer amonga & estrutura do ego, podem captar-se e analisar-se experiéncias que sio coerentes ‘com essa estrutura e esta pode ser revista de mancira a assi- milar © a incluir tais experiénoies, 36. Quando 0 individuo apreende e aceita, num sistema coe. Tente ¢ integrado, todas as suas experiéncias viscerais e senso- riais, necessariamente compreende melhor os outros e aceita os mais como pessoas distintas, 4 19. A medida que 0 individuo apreende e aceita na estru: tura do ego um maior mimero de experiéncias orginicas, des- cobre que esté a substituir o seu atual sistema de valores — bpaseado em larga medida em introjecdes que foram simboliza- das de uma forma distoreida — por um processo continuo de valorizacéo organismica, Como bisico na concepcio de homem, tem-se 0 con- ceito de tendéncia atualizante, que consiste na aceitagsio do pressuposto de que a pessoa pode dosenvolver-se, crescer. Essa tendéncia é comum a todos os viventes e constitui o sistema motor da personalidade humana, Na terminologia rogeriana, o homem 6 o “arquiteto de si mesmo”. # consciente da sua incompletude tanto no que se refere a mundo interior (self) quanto ao mundo exte- rior, a0 mesmo tempo que sabe que é um ser em transfor- magio e um agente transformador da realidade. Apesar da énfase dada ao sujeito, nao se pode dicoto- mizar rigidamente homem e mundo. O homem esté num constante processo de atualizagio e se atualiza no mundo. 3.3, Mundo Para Rogers a realidade é um fendmeno subjetivo, pois © ser humano reconstréi em si o mundo exterior, partindo de sua percepeio, recebendo os estimulos, as experiéncias, atribuindo-lhes significado. Em cada individuo, ha uma cons- ciéncia autonéma e interna que lhe permite significar e optar, © a educagio deveré criar condigbes para que essa conscléneia se preserve e cresca. © munéo ¢ algo produzido pelo homem diante de si mesmo. O homem é 0 seu configurador, que faz com que ele se historicize: 6 0 mundo, o projeto humano em relac&o a outros homens e &s coisas que ganha historicidade numa temporalidade. O mundo teria o papel fundamental de criar condigées de expresso para a pessoa, cuja tarefa vital con- siste no pleno desenvolvimento de seu potencial inerente. % necessdrio considerar que nem sempre hé coincidén. cia entre a interpretacdo pesscal do mundo e 0 mundo obje- tivo, se é que se pode dizer que hé algo totalmente objetivo. Na Tealidade, cada representacéo/interpretagéo individual tem seu grau mais préximo ou mais distante de aproxima- Ho com 0 objetivo, 41

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