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AUTORIA COMO REALIZACAO DO TIPO: UMA INTRODUCAO A IDEIA DE DOMINIO DO FATO COMO O FUNDAMENTO CENTRAL DA AUTORIA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO Luis Greco e AbRIANO TEIXEIRA ‘Suwnto: A. Consideragdes introdutorias: 1. Primeiras consideragaes: TL A hipétese simples ¢ complex ~ B. Autoria como realizagao do tipo: 1. Autoria izaga0 do tipo) come causucao: Hl. Autoria (= realizagéo do tipo) como aco: |, Concepgao formal: 2. Concepcae material; 3. Consequéncias: a) Autoria como dominio sabre a propria aco; b) Autoria come dominio sobre um terceiro: ©) Autoria como dominio conjunto; 4. Conclusao intermediéria; I]. Autoria (=realizagio do tipo) como violagao de um deer; IV. Autoria como eriagao de um isco juridicamemte desaprovados iolagio do dever de cuidudo objetivo (delitos culposos): V. Participagaw con C0 do tipo, come ccontribuicao sem dominio - C. Conclu cdidria: superio Go conceito restritiva/dominio do fato — D. Direito positive: LD alemao: I. Dircito brasileiro; 1. Os dispositivos do CP: a) Art. 2 caput: Existe possibilid a ) Participagao de m sentido estrito?: ©) A chamada pacticip: istinta (art 29, § 2", CP): d) Comunicabitidade de circunsténcias (art. 30, CP ©) Tentativa da participacdo (art. 31); £) A participacao em autolesdes (arts. 121, 122, 129, CP) g) Simese: 2. Consider Conelusi parcial es materiais: 3 a8 AP TORIA COMO DOMINIO DO FATO A, CONSIDERAGOES INTRODUTORIAS 1 PRIMBIRAS CONSIDERAGOES presente estudo pretende iniroduzir © pablico brasileiro as estruturas fundamentais da dogmtica do concurso de pessoas ¢ & ideia de dominio do ato, No artigo «O que ¢ € 0 que nao € a teoria do dominio do fato», escrito por Luis Greco em conjunto com Alaor Leite,’ tinha-se, em parte, o mesmo objetive, mas com uma diferenca de enfoque. Ali buscou-se fornecer uma deserigao de carter histérico-dogmiético, isto é, apresentar ao leitor brasileiro a teor de certas ideias, tais como clas foram desenvolvidas pelos autores que a formularam, ¢ de desfazer mal-entendidos em curso na dogmitica penal brasi leira, No presente estudo. por sua vez, o enfoque € de cariter légico-dedutivo. O trabalho tentard introduzir o leitor na dogmatica da autoria e do concurso de pessoas c também na teoria do dominio do fato, esclarecendo, primeiramente, ruquilo de que se trata quando se discute a autoria no diteito penal; em segundo lugar, fundamentando a ideta de que autoria é domfnio do fato; e, em terceiro lugar, analisando em que medida 0 direito positivo brasileiro é passivel de ser interpretado com base nessa «nova» teria Comegaremos com uma hipétese a um tempo simples e complexa, com UL. A HIPOTESE SIMPLES E COMPLEXA © caso apresentado @ seguir pode ser considerado simples. porque se colocam poucos problemas juridicos; sua aparente complexidade decorre apenas da circunstaneia de que ha varios intervenientes. Seis pessoas: A, B.C, D, Ee F. A desfere uma punhalada no coragao da vitima V, matando-a instantaneamente. B a segura ¢ a mantém imével para gue A possa aplicar esse golpe de punhal. O punhal de que se valeu A the foi emprestado por C, que assim agiu em plena consciéncia a respeito de o que deveria ocorrer. D & quem se dirigiu a A, oferecendo-Ihe mil reais para que esse «um sumigor em V’. E € 0 seguranga de A, um ex-lutador peso pesado que, apesar de estar em condigies de facilmente salvar V, nada faz. F, por sua Neste volume Gavco/Lre. O que & € 6 que nis é a teoria do dominio de fato, Sobre a disringao entre autor e participe ne-direita penal, p. 19 ¢ Vide ja Lanor, Der moderne Taterbegriff und der deutsche Strafgesetzentwvrf, Betin! ips, 1935, p. 7; entre n6s Bauso, Direito Penal. Parte Geral, Tomo 2, 3. ed. Rio 8e Janeiro, :P. 267, nota 7: «O espa que acupa no conceto de erime a tipicidade da ago exize que 4 nogdo de autor se restrinja Aquele que Tealia 4 aglotipican, LUIS GRECO | ADRIANO TEIXEIRA 49 sez, é comerciante em uma loja de ferragens; ele vendeu, dois anos atras, 0 puta C. Inagine-se, ademais, que nio dispomos de um e6digo penal com urna. parte geral, mas apenas de uma dnica lei penal com um tnico dispositive, de ‘eor idéntico a0 do atual art. 121, caput, do CP: «Matar alguém. Pena: ...» Sera possivel punir A, B, C e D de acardo com o nosso cédigo imagindrio? EE, 0 seguranga? E F, 0 vendedor do punhal’? Esse ‘emtaremos demonstrar. etn primeiro lugar. qu (que hd, portanto. uma estreita correlagao entre 0 de auioria e 0 conceito de tipo.” ameeite B. AUTORIA COMO REALIZACAO DO TIPO | AUTORIA (= REALIZACAO DO TIPO) COMO CAUSACAO A concepeaio mais tradicional de tipo baseia-se na ideia de que 0 tipo & ‘a causaggo de um resultado, Matar é causar a morte de alguém, No entanto, ‘oque € causar alguma coisa? A maneira mais natural de se determinar o que é causagio € aplicar a teoria da equivaléncia dos antecedentes. segundo a ndigdo é causa do resultado. ‘Ao se adotar essa concepeao causal de tipo, chega-se & u quem coatsibui de forma causal para o resultado € autor, nav importendo 0 modo € aintensidade da contribuigio. Autoria ~ realizacio do tipo ~ é © mesmo que causacio, ‘Com base nesse critério causal. o que se poderia dizer dos 6 agentes de rosso exemplo? Se A nio tivesse apunhatado V. este no teria morrido. Se B to tivesse segurado V, tampouco teria se dado a morte. Se C nao houvesse Rewmonsnl, Nommbegrlinding und Zurechnung - Grundlagen eines resiriksiven Tashegrif. p2(amigo ainda nto publicado, gentilmente cedido pelo autor. correspondente x conterencia fsoferda em Barcelona, dezemteo de 2013). diz expressa c veementersente: «Toda tearia do oncrss de pessoas comeca com 3 tipo» OC pioneiamente Von Bunt, Ciber Kausaitar und deren Verantwortung Lipcig. 1873, pf ese naatvaitdade, por ex. RENGIC, Srafrecht Allgemeiner Teil ed. Munigue. 2013. p. 4 (Gato Dos Sastos, Dretta penal, Parte Geral, CusitibaRio de Janeiro. 2006, p. 120: Busiro. Direto penal. Parte Geral, So Paulo, 2013. p. 325. (C.com toda a clareza Von Bun, Die Cuusclitar und ire Strafrechlichen Besiefnangen. Suan, 1985, p. 38 e ss. A intradugao desca nomenclatura é atnbuida a Zaswen., Grundsate lches 2 Teiinahmetehre, 297 49 (1929), p. 40; ef, também Bawa, Restikiver und extensiver Tterschafsbegrif. Bresiau-Neukirch. 1933. p. 14 ess. que fla em inerpretagao extensiva e restiva das ipos da parte especial & : pe

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