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A agricultura de conservação e o seu papel na manutenção da

sustentabilidade

A agricultura convencional recorre a práticas de preparação do solo para a


instalação das culturas consideradas prejudiciais para o meio ambiente, tais como a
queima de restolhos e o reviramento de horizontes do solo (mobilização de inversão).
Este tipo de agricultura é responsável por aumentar consideravelmente a erosão e a
compactação do solo provocando muitas vezes a contaminação das águas superficiais
com fertilizantes e pesticidas provenientes das atividades agrícolas, entre outras
consequências nefastas. A agricultura de conservação consiste na utilização de diversas
práticas que permitem um uso do solo para fins agrícolas, alterando o menos possível a
sua estrutura e biodiversidade, minimizando efeitos como a erosão e degradação do solo.

Medidas da agricultura de conservação:


➢ A preparação do solo em agricultura de conservação consiste na diminuição da
intensidade ou eliminação da mobilização do solo. Inclui a sementeira direta (não
mobilização) e a mobilização mínima (onde não se incorporam ou incorporam
superficialmente os resíduos da colheita) podendo cada uma delas ter diferentes
modalidades.
➢ Estabelecimento de coberturas vegetais entre as culturas anuais sucessivas ou na
entrelinha de culturas lenhosas (vinhas, pomares).
➢ Instalação de culturas segunda as curvas de nível, em faixas alternadas.
➢ Estabelecimento de pastagens permanentes com pastoreio adequado.
➢ Medidas hidráulicas que reduzem o efeito da erosão pela alteração do
comprimento excessivo da parcela ou recorrendo ao terraceamento que para além
do comprimento da parcela diminui o declive.

Em termos gerais, com as técnicas de conservação, o solo fica protegido da erosão


e do escorrimento superficial, promovendo a formação natural de agregados do solo e
aumentando a conservação da matéria orgânica. Por outro lado, a agricultura de
conservação diminui a compactação originada pelo tráfego de máquinas agrícolas
pesadas. Além disso, há uma menor contaminação das águas superficiais, reduzindo as
emissões de dióxido de carbono e aumentando a biodiversidade.
Mobilização tradicional versus Mobilização de conservação
Mobilização tradicional
➢ Trabalho do solo intenso e dispendioso (utilizado na maioria dos casos charrua
de aivecas e grades de disco que contribuem para a inversão de camadas do solo,
complementada com outras máquinas agrícolas como fresa, escarificadores e
rolos).
➢ <15% da superfície com proteção do restolho.
➢ A retirada do restolho (enterramento ou queima) pode originar problemas
nomeadamente: menor proteção da estrutura do solo, alteração da fauna edáfica,
menor incorporação de matéria orgânica, maiores emissões de dióxido de carbono
e destruição de raízes.
(A queima do restolho é uma prática usual na mobilização do solo
tradicional, mas que acarreta muitos riscos e deve ser por isso evitada. Por vezes
os agricultores queimam o restolho para eliminar as plantas infestantes infiltradas
no meio das colheitas e para que as cinzas caiam ao solo, já que estas ao serem
ácidas tornam o solo mais permeável. No entanto, perde-se muita matéria orgânica
e nos últimos anos diversos estudos recomendam o fim da queima de restolho
tanto para evitar a erosão e desertificação como para evitar incêndios
involuntários provocados pelo vento que leva as fibras incandescentes a lugares
próximos de forma incontrolada.)

Mobilização de conservação
➢ >30% da superfície protegida com resíduos;
➢ queima de restolho está interdita;
➢ Menor intensidade da mobilização do solo ou eliminação da mobilização do solo
(seleção criteriosa do número de passagens, n da profundidade de trabalho e do
tipo de alfaia a utilizar nomeadamente peso e área de contacto solo-alfaia).
➢ Modalidades de preparação do solo: “mobilização mínima” e “sementeira direta”.
Agricultura de conservação: Mobilização mínima
A mobilização mínima (reduzida) pode ser:

1. Temporal: menor número de passagens.


2. Espacial: Menor quantidade de solo mobilizado (profundidade e/ou superfície).
3. A mobilização em toda a superfície é pouco intensa e caracteriza-se por não ter
inversão de camadas (evita a utilização de herbicidas). A grade de discos é apenas
utilizada em situações excecionais e a mobilização do solo realizada é muito
superficial (grande largura de trabalho e menor tempo de execução). Neste tipo
de mobilização é possível verificar uma apreciável quantidade de resíduos e estão
interditas máquinas agrícolas como charruas e fresas. Na mobilização mínima
utilizam-se maioritariamente alfaias de mobilização vertical como por exemplo
escarificadores como o chísel (molas trabalham á compressão, maior desafogo e
trabalho com restolho).
A mobilização na zona é realizada apenas nas faixas para a sementeira (é utilizado
ainda herbicida na entre-linha). A época de mobilização é essencialmente antes da
sementeira ou em simultâneo com esta fase cultural. Não existe limitação relativamente
ao tipo de alfaias a utilizar, uma vez que a cobertura do solo com resíduos (+30%) fica
garantida pelas zonas não mobilizadas (normalmente utilizadas fresas com 20cm de
largura de trabalho).

Agricultura de conservação: Sementeira directa


Neste tipo de modo de preparação do solo não existe mobilização prévia do solo. São
abertos sulcos no solo apenas para a introdução e enterramento da semente e, eventualmente
fertilizantes. Os semeadores utilizados na sementeira directa são especiais (colocação da
semente e incorporação dos fertilizantes, sanidade do solo e trituração do restolho).
Relativamente ao controlo dos infestantes. Este é feito com herbicida total de baixo impacto
ambiental em pré-sementeira ou pré-emergência.
Etapas da sementeira directa:
1. Triturar e espalhar o restolho da cultura anterior;
2. Pasto do gado, se este não tiver encharcado;
3. Esperar pelas primeiras chuvas;
4. Esperar pela emergência das infestantes;
5. Aplicar herbicida com baixo impacto;
6. Efetuar a sementeira seguidamente à aplicação do herbicida (normalmente no dia
seguinte);
7. Por essa razão, defendo o recurso a técnicas de conservação, que, por
minimizarem os efeitos na estrutura natural do solo (recordo que este é um recurso
não renovável), protegem-no contra a erosão e a compactação. O nível da matéria
orgânica e a fertilização aumentam naturalmente, além de se verificar uma
diminuição das emissões de CO2.

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