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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO

DE OFICIAIS DA AERONÁUTICA

DIVISÃO DE ENSINO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

A implantação de mídias digitais como forma de promover


a construção da aprendizagem significativa na formação
do Sargento Especialista em Eletrônica.
TÍTULO DO TRABALHO

FORMAÇÃO E ESPECIALIZAÇÃO DE PESSOAL

LINHA DE PESQUISA

CARLOS ROGERIO DE SOUSA BRIZON CAP QOECOM


ALUNO

CAP 2/2014
Curso e Ano
PROJETO DE PESQUISA

A implantação de mídias digitais como forma de promover


a construção da aprendizagem significativa na formação
do Sargento Especialista em Eletrônica.
TÍTULO DO TRABALHO

FORMAÇÃO E ESPECIALIZAÇÃO DE PESSOAL


LINHA DE PESQUISA

CARLOS ROGERIO DE SOUSA BRIZON CAP QOECOM


ALUNO

ANDRÉ DA COSTA GONÇALVES Prof. Mestre


INSTRUTOR ORIENTADOR

17/NOVEMBRO/2014
DATA

CAP 2/2014

Curso e Ano

Este documento é o resultado dos trabalhos do aluno do Curso de


Aperfeiçoamento da EAOAR. Seu conteúdo reflete a opinião do autor, quando
não for citada a fonte da matéria, não representando, necessariamente, a
política ou prática da EAOAR e do Comando da Aeronáutica.
1

1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR) é Organização Militar


de Ensino pertencente ao Comando da Aeronáutica, que tem como missão a
formação e o aperfeiçoamento dos Graduados da Força Aérea Brasileira.
Atualmente, a EEAR forma graduados em vinte e oito diferentes
especialidades, dentre elas, por meio do Estágio de Adaptação à Graduação de
Sargento - EAGS, a especialidade eletrônica.
Cabe salientar que para a realização deste Curso, são selecionados
cidadãos brasileiros de ambos os sexos que já possuem a titulação técnica para
cursar na EEAR uma adaptação voltada para a atuação específica às necessidades
do Comando da Aeronáutica.
Conforme preconiza seu Currículo Mínimo “... o Estágio de Adaptação à
Graduação de Sargento – Modalidade Especial (EAGS-ME-BET) tem por objetivo
preparar civis e militares com curso técnico-profissionalizante na área de Eletrônica
(BET), para o exercício de funções técnicas e militares nas diferentes Organizações
Militares do Comando da Aeronáutica (ICA 37-498, 2014, p. 9).
Como o conteúdo programático presente no Currículo Mínimo da
especialidade Eletrônica contempla assuntos complexos e imprescindíveis para
atuação do graduado na referida especialidade, estes precisam ser aprendidos de
forma significativa no decorrer do EAGS. Para isso, é muito importante otimizar o
tempo disponível, lançando mão da tecnologia avançada de nossos dias, para
beneficiar o processo ensino-aprendizagem desses alunos.
Aulas contextualizadas e interativas certamente constituem um fator
facilitador da assimilação dos assuntos abstratos que permeiam o Currículo Mínimo
da especialidade Eletrônica, podendo promover uma aprendizagem eficiente e
significativa.
Registra-se que os alunos, após o período de formação, são classificados
nas diversas unidades militares do Comando da Aeronáutica, distribuídas em todo
território nacional. Os graduados recém-formados poderão ser designados para
atuarem em Organizações Militares que são constituídas por um grande número de
militares, ou então em unidades destacadas com efetivo reduzido. Existem
Destacamentos de Controle do Espaço Aéreo que têm em sua dotação apenas um
graduado especialista em eletrônica, que deve ser capaz de suprir todas as
2

demandas que surgirem em sua área de atuação. Cabe ressaltar que em certas
regiões como a Amazônia, caso o militar destacado não seja capaz de solucionar o
problema, uma grande logística precisa ser colocada em ação para que o apoio
técnico necessário seja prestado. Devido as características da região, torna-se
imperativo a utilização de meios aéreos ou fluviais para deslocamento dessa equipe
de apoio, o que implica em um aumento considerável no tempo de resposta para
restabelecimento de equipamentos e sistemas fundamentais para o Sistema de
Controle do Espaço Aéreo Brasileiro. Diante disso, o processo ensino-aprendizagem
utilizado para a formação dos graduados especialistas em eletrônica na EEAR se
reveste de especial importância.
Este trabalho motiva-se pela inquietação do autor em constatar que as
instruções atualmente ministradas em organizações de ensino do Comando da
Aeronáutica são baseadas em um conceito de aprendizagem mecânica ou
memorística. É fato que um conteúdo apenas memorizado (aprendizagem
mecânica) não se traduz em um conhecimento duradouro, sendo necessário
implantar metodologias eficientes para que o aluno construa o conhecimento
adequado para o exercício de suas funções no período de pós-formação.
Acompanhando o desenvolvimento tecnológico, surge a possibilidade das
mídias digitais serem utilizadas como uma eficiente ferramenta de apoio aos alunos,
uma vez que podem ser consideradas como um material potencialmente
significativo.
Surge, então, o seguinte problema de pesquisa: O uso das mídias digitais
pode contribuir para a construção da aprendizagem significativa na formação do
sargento especialista em eletrônica?
Para que esse questionamento seja respondido, foram formuladas as
seguintes questões norteadoras (QN):
QN1 - Como está estruturado o processo ensino-aprendizagem do curso
de eletrônica da EEAR?
QN2 - Quais modelos didáticos são aplicados pelos instrutores do curso
de eletrônica da EEAR?
QN3 - Qual é o padrão de desempenho previsto pela Força Aérea
Brasileira para o graduado especialista em eletrônica?
3

QN4 - Quais características apresentadas pelas mídias digitais podem ser


exploradas de forma a viabilizar seu uso como recurso didático do curso de
eletrônica da EEAR?
Aliando-se o problema levantado anteriormente às questões norteadoras,
foi estabelecido como objetivo geral do presente trabalho verificar a aplicabilidade
dos recursos tecnológicos conhecidos como mídias digitais na construção da
aprendizagem significativa na formação do sargento especialista em eletrônica.
A fim de orientar as ações de pesquisa para o alcance do objetivo geral,
foram delimitados os seguintes objetivos específicos (OE) , a saber:
OE1 - Identificar como está estruturado o processo ensino-aprendizagem
do curso de eletrônica da EEAR.
OE2 - Identificar quais modelos didáticos são aplicados pelos instrutores
do curso de eletrônica da EEAR.
OE3 - Identificar o padrão de desempenho previsto pela Força Aérea
Brasileira para o graduado especialista em eletrônica.
OE4 - Verificar quais características apresentadas pelas mídias digitais
podem ser exploradas de forma a viabilizar seu uso como recurso didático do curso
de eletrônica da EEAR.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O trabalho realizado será baseado na teoria da aprendizagem


significativa, desenvolvida por David Paul Ausubel, representante da linha
pedagógica cognitivista, definida por MOREIRA e MASINI:

Para Ausubel, aprendizagem significativa é um processo pelo qual uma


nova informação se relaciona com o aspecto relevante da estrutura de
conhecimento do indivíduo. Ou seja, neste processo a nova informação
interage com uma estrutura de conhecimento específica, a qual Ausubel
define como conceito subsunçor ou, simplesmente, subsunçores
(subsumer), existentes na estrutura cognitiva do indivíduo. A aprendizagem
significativa ocorre quando a nova informação ancora-se em subsunçores
relevantes preexistentes na estrutura cognitiva de quem aprende.
(MOREIRA e MASINI, 2001, p.17)

De acordo com Pozo (1998), também é possível visualizar as


considerações de Ausubel com relação às situações de aprendizagem, ao organizar
4

suas ideias em duas dimensões que são constituídas por dois eixos (um vertical e
um horizontal):

O contínuo vertical faz referência ao tipo de aprendizagem realizada pelo


aluno, isto é, aos processos mediante os quais codifica, transforma e
guarda a informação, e passaria da aprendizagem simplesmente
mnemônica ou repetitiva – de um número telefônico ou da forma de obter
comida quando se está fechado em uma caixa de Skinner – à
aprendizagem plenamente “significativa” – do conceito de entropia ou da
teoria piagetiana da equilibração. O contínuo horizontal faz referência à
estratégia de instrução planejada para estimular essa aprendizagem, que
iria do ensino puramente receptivo, no qual o professor ou instrutor expõe
de maneira explícita o que o aluno deve aprender – incluindo a clássica
“aula magistral”, como também a leitura compreensiva de um texto – ao
ensino baseado exclusivamente no descobrimento espontâneo por parte do
aluno. (POZO, 1998, p. 209)

Segundo Ausubel, as aprendizagens repetitiva e significativa são


independentes e, portanto, diferentes.
Moreira e Masini (2001) destacam as ideias do psicólogo David Paul
Ausubel, que defende a teoria da aprendizagem significativa. Para Ausubel existem
duas formas de aprendizagem: a mecânica (o aluno absorve novas informações sem
associá-las a conceitos já existentes na estrutura cognitiva) e a significativa (o novo
conteúdo ou informação é relacionado a outros conceitos já existentes na estrutura
cognitiva).
A relação que se processa com outros conhecimentos adquiridos
anteriormente é chamada de ponto de ancoragem, e trata-se de um fator primordial
para a aprendizagem significativa.
Cabe ressaltar que além das diferenças cognitivas, as aprendizagens
significativas e mnemônicas ou repetitivas também se diferenciam pelo tipo de
motivação que servem de estímulo às atitudes do aluno frente a uma situação de
aprendizagem.
Novak e Gowin (1984) apud Pozo (1998) destacam as diferenças
fundamentais entre a aprendizagem significativa e a aprendizagem mnemônica ou
repetitiva:

Aprendizagem Significativa: incorporação substantiva, não arbitrária e


não-verbal de novos conhecimentos à estrutura cognitiva. Esforço
deliberado para relacionar os novos conhecimentos com conceitos de nível
superior, já existentes na estrutura cognitiva, Aprendizagem relacionada
com experiências, fatos ou objetos. Envolvimento afetivo para relacionar os
novos conhecimentos com aprendizagens anteriores. Aprendizagem
mnemônica: incorporação não substantiva, arbitrária e verbal de novos
conhecimentos à estrutura cognitiva. Nenhum esforço para integrar os
5

novos conhecimentos a conceitos já existentes na estrutura cognitiva.


Aprendizagem não relacionada com experiências, fatos ou objetos.
Nenhuma implicação efetivamente relacionando os novos conhecimentos às
aprendizagens anteriores. (POZO, 1998, p. 211)

A aprendizagem significativa apresenta notáveis vantagens quando é


comparada à aprendizagem repetitiva. Estas vantagens podem ser destacadas
como enriquecimento da estrutura cognitiva do aluno ao aumentar sua capacidade
de aprender outros assuntos. Além disso, aumenta também a capacidade de
lembrança posterior do conteúdo estudado (o assunto é retido e lembrado por mais
tempo) e quando o conteúdo é esquecido, facilita nova aprendizagem
(reaprendizagem). Esta é certamente a aprendizagem mais adequada para ser
promovida entre os alunos.
A aprendizagem significativa pode ser desenvolvida tanto por meio da
descoberta como por meio da repetição, e estas devem ser desenvolvidas de acordo
com as peculiaridades do conteúdo a ser estudado.
Quando não existe o ponto de ancoragem no processo de aprendizagem,
surge a dificuldade de compreender o conhecimento a ser adquirido. Para minimizar
essa dificuldade, são fornecidas novas informações para que estas se transformem
na base tão importante em que se apoiará a compreensão do aprendente. As novas
informações que o professor deve disponibilizar no caso do aluno apresentar
dificuldades de compreensão, não podem representar a mera repetição do já foi
abordado, mas deve ser exposta uma outra forma de explicar, para que o aluno ao
“analisar mentalmente” o novo conteúdo possa encontrar outras associações
cerebrais, alcançando finalmente a compreensão do assunto estudado. Segundo
Ausubel (1982), a busca do professor em encontrar novas formas de explicar aos
alunos conteúdos não compreendidos é denominada Substantividade. Esse conceito
descreve como um conhecimento novo deve ser incorporado à estrutura cognitiva de
uma pessoa.
Na busca de uma aprendizagem significativa o papel do professor ou
instrutor é essencial. A intervenção educativa precisa, portanto, de uma mudança
substancial, na qual não somente abranja o saber, mas também o saber fazer, não
tanto o aprender, como também o “aprender a aprender”. Para isso, é necessário
que os rumos da ação educativa incorporem em sua trajetória um conjunto de novas
intenções.
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De acordo com Ausubel (1982), para que uma aprendizagem significativa


aconteça, é importante partir do nível de desenvolvimento do aluno, o que quer dizer
que os conhecimentos prévios dos estudantes deverão ser explorados para que
possam servir de base para as novas aprendizagens.
Os conhecimentos que os alunos já possuem, chamados de pontos de
ancoragem, servem como pilares para a nova aprendizagem e esta acontece
efetivamente quando ocorre a conexão entre o conhecimento já internalizado com o
novo.
É importante que os alunos “realizem aprendizagens significativas por si
próprios”, pois assim, garantem-se a compreensão e a facilitação de novas
aprendizagens ao desenvolver um suporte básico na estrutura cognitiva prévia
construída pelo sujeito.
Finalmente, como resultado da aprendizagem significativa, acontece a
modificação dos esquemas do sujeito.
De acordo com Piaget (1997), uma maneira adequada de modificar as
estruturas do aluno é provocar conflitos cognitivos que causem desequilíbrios a
partir dos quais o aluno consiga reequilibrar-se, superando a discordância e
reconstruindo o conhecimento.
Diante disso, é importante que as aprendizagens sugeridas não sejam
excessivamente simples, pois isso provocaria frustração no aluno. É necessário,
portanto, que sejam apresentados ao aprendiz desafios de aprendizagem
motivadores e possíveis de serem enfrentados. Na busca da compreensão dos
novos conceitos, o aluno será o construtor de seu conhecimento.
Diante disso, pode-se afirmar que, para que a aprendizagem significativa
ocorra, é necessário que o material a ser assimilado seja potencialmente
significativo. Dessa forma, o aluno poderá estabelecer os importantes pontos de
ancoragem fundamentais à construção da aprendizagem significativa.
Embora David Ausubel tenha sido a primeira pessoa a utilizar o termo
conhecimento prévio, foi Jean Piaget (1997) o primeiro a se preocupar com o
assunto, ao realizar investigações sob a perspectiva do desenvolvimento intelectual.
Procurando entender como o indivíduo passava de um conhecimento
mais simples a outro mais complexo, Piaget realizou um árduo trabalho de observar
como as crianças comparavam, classificavam, ordenavam e relacionavam diferentes
objetos.
7

Ao final de seus estudos Piaget compreendeu que a inteligência se


desenvolve por um processo de sucessivas fases e dependendo da qualidade das
interações de cada sujeito com o meio, as estruturas mentais (condições prévias
para o aprendizado) vão se tornando mais complexas até o fim da vida.
Diante disso é possível afirmar que todos são capazes de aprender,
mesmo que essa aprendizagem aconteça em tempos e de maneiras diferentes.
Pode-se concluir então que as ideias de Piaget e Ausubel são
complementares, ao defenderem que para aprender algo são necessárias estruturas
mentais que deem conta de novas complexidades e também conteúdos anteriores
que ajudem a assimilar novos saberes.
Os conteúdos ministrados aos alunos de eletrônica da EEAR estão
diretamente ligados a alta tecnologia tais como: sistema de Radiodeterminação
(RADARES), sistemas de comunicação Terra-Ar, eletrônica aeroembarcada, etc. Em
virtude das características técnicas de alta complexidade e elevado custo agregado
inerentes aos sistemas mencionados, é fundamental que o graduado especialista
em eletrônica tenha plenas condições de desempenhar suas funções de forma
eficiente. Conclui-se, portanto, que as técnicas de ensino utilizadas para a formação
desse graduado sejam tais que produzam uma aprendizagem significativa e
duradoura.
Dentre uma das condições para que ocorra a aprendizagem significativa,
Ausubel (1982) destaca a necessidade de que o material a ser utilizado no processo
seja potencialmente significativo. Esse pressuposto indica que a escolha do material
didático adequado pode contribuir para a construção ou aperfeiçoamento dos
subsunçores, que segundo Moreira e Masini (2001, p.45) possibilita que esses
subsunçores "vão ficando cada vez mais elaborados e mais capazes de ancorar
novas informações". Conforme MOREIRA e MASINI:

A aprendizagem significativa pressupõe que: a) o material a ser aprendido


seja potencialmente significativo para o aprendiz, ou seja, relacionável a sua
estrutura de conhecimento de forma não-arbitrária e não-literal
(substantiva). (MOREIRA e MASINI, 2001, p.23)

Considerando a complexidade característica do curso de eletrônica


ministrado pela EEAR, a teoria da aprendizagem significativa apresenta-se como
uma importante ferramenta que pode ser aplicada para a melhoria do processo
ensino-aprendizagem. A aprendizagem significativa mostra-se mais eficiente que a
8

aprendizagem mecânica, uma vez que proporciona ao aluno um conhecimento mais


duradouro. Essa característica é fundamental para a formação do graduado
especialista em eletrônica que irá operar com equipamentos de alta complexidade e
alto custo. Caso o modelo de aprendizagem utilizado durante o curso esteja voltado
apenas à simples memorização, corre-se o risco de que o conhecimento adquirido
seja superficial a ponto de dificultar sua aplicação em situações reais no período de
pós-formação. O material potencialmente significativo é apresentado por Ausubel
(1982) como elemento básico para a aplicação da teoria da aprendizagem
significativa. Baseado nessa condição, pretende-se averiguar com a presente
pesquisa se o uso das mídias digitais (analisado como material potencialmente
significativo) é capaz de promover a construção da aprendizagem significativa na
formação do Sargento Especialista em Eletrônica.

3 METODOLOGIA

Seria inviável realizar o trabalho de pesquisa considerando as variáveis


de todas as especialidades, por isso o foco do presente artigo foi delimitado para
possibilitar uma análise mais detalhada de apenas uma das vinte e oito
especialidades existentes na EEAR. A especialidade escolhida foi “Eletrônica”,
ofertada através do Estágio de Adaptação à Graduação de Sargento – Modalidade
Especial, com duração de 41 semanas e carga horária total de 1404 tempos. A
escolha da referida especialidade como foco desse estudo deve-se a algumas
características julgadas pertinentes para a implantação das mídias digitais no âmbito
da Escola de Especialistas de Aeronáutica. O curso de eletrônica tem como principal
objetivo, o estudo de conceitos da física aplicada, tornando difícil a assimilação de
certos conteúdos por parte dos alunos. Essa dificuldade de assimilação ocorre
porque os alunos conseguem observar apenas os efeitos provocados pela ação dos
elétrons (resultados), não sendo possível demonstrar na prática como esses efeitos
ocorrem (processos). Com a metodologia adequada, aliada ao uso de aplicativos
digitais de imagem e vídeo, pode-se criar um ambiente virtual favorável, onde o
aluno consiga visualizar tanto a ação quanto os efeitos provocados pelos elétrons
quando aplicados nos circuitos eletrônicos estudados.
9

O tipo da pesquisa apresentada, segundo Gil (2008), será do tipo


qualitativa descritiva, uma vez que será verificado a existência de relações entre
variáveis. Pretende-se verificar com essa pesquisa se existe relação entre a
utilização das mídias digitais e a construção da aprendizagem significativa na
formação do sargento especialista em eletrônica.
No intuito de proporcionar subsídios ao trabalho serão utilizados dois
instrumentos de coleta de dados: a observação e a entrevista.
Pretende-se com a entrevista, definida por Gil (2008), obter junto aos
instrutores do curso de eletrônica da EEAR, informações referentes aos métodos
didáticos utilizados nas instruções. Os dados levantados possibilitarão verificar se as
instruções ministradas tendem a conduzir os alunos a uma aprendizagem mecânica
ou significativa. A fim de tornar o levantamento de dados mais natural, o tipo de
entrevista utilizada será a do tipo focalizada (não estruturada). Conforme Gil (2008),
esse tipo de entrevista será utilizada na pesquisa por permitir aos instrutores falar
livremente sobre os métodos didáticos utilizados nas instruções. Não serão
formuladas perguntas específicas, o que possibilitará aos instrutores a livre
explanação de como são conduzidas as instruções ministradas aos alunos de
eletrônica da EEAR. O curso de eletrônica realizado atualmente na EEAR é
ministrado por apenas quatro instrutores, razão pela qual será possível ao
pesquisador entrevistar a todos eles.
Ainda como técnica de coleta de dados, será procedida a observação
das técnicas e métodos utilizados pelos instrutores em sala de aula na EEAR. O tipo
de observação a ser utilizada é definido por Gil (2008) como observação simples,
pois não haverá interação do observador com o meio a ser observado (sala de aula).
A observação será realizada em quatro tempos de aula de cinquenta minutos cada
(um tempo por instrutor), tendo como objetivo a análise da metodologia utilizada
pelos instrutores no curso de eletrônica da EEAR.
Com o reduzido tempo disponível para levantamento de dados da
presente pesquisa, ficou estabelecido que a observação será procedida em apenas
um tempo de aula por instrutor, o que pode ser considerado como uma possível
limitação da metodologia utilizada.
Por meio de pesquisas documentais serão analisadas as informações
contidas no Padrão de Desempenho de Especialidade - PDE (MMA 39-1, 1993, p.
10

24), Currículo Mínimo - CM da especialidade eletrônica e Plano de Unidades


Didáticas - PUD.
A análise das informações contidas no PDE da especialidade Eletrônica,
possibilitará verificar quais atribuições básicas a Força Aérea Brasileira espera de
um graduado especialista em Eletrônica formado pela EEAR.
Pretende-se com os dados obtidos no Currículo Mínimo e Planos de
Unidades Didáticas da especialidade eletrônica verificar os conteúdos ministrados
no curso, bem como as metodologias previstas para serem desenvolvidas pelos
instrutores em sala de aula.
Segundo Ausubel (1982), a aprendizagem significativa está relacionada a
duas características básicas: a não-arbitrariedade e a substantividade. Diante disso,
a seguinte análise será realizada com os dados obtidos:
1) entrevistas com os instrutores - será verificado se os instrutores
exploram os conhecimentos prévios dos alunos (pontos de ancoragem), durante as
instruções;
2) observação - será verificado se os conteúdos ministrados são
apresentados aos alunos de forma substantiva (ou não literal); e
3) análise das documentações (PDE, CM e PUD) - serão verificados,
quais são os níveis de conhecimento exigidos do graduado especialista em
eletrônica durante sua formação e também pós-formação.
A presente pesquisa pretende ainda analisar as mídias digitais como um
material potencialmente significativo. Ausubel (1982) é enfático quando declara que,
para que a aprendizagem significativa ocorra, é fundamental que o material a ser
apresentado ao aluno seja potencialmente significativo. O grande diferencial das
mídias digitais quando comparadas ao material didático comumente utilizado (livros
impressos, apostilas, etc), está relacionado à possibilidade de ser apresentado aos
alunos, conteúdos interativos tais como: vídeos, fotografias em alta resolução e
acesso à internet. Diante disso, serão levantadas quais características apresentadas
pelas mídias digitais são utilizadas atualmente como ferramenta pedagógica e os
resultados práticos da aplicação desse recurso. Será verificado, ainda, de que forma
as mídias digitais podem ser aplicadas como recurso didático nas instruções
ministradas aos alunos de eletrônica da EEAR. Finalmente, de posse das análises
realizadas, será verificado se a utilização das mídias digitais contribui para a
11

construção da aprendizagem significativa na formação do sargento especialista em


eletrônica.
ARTIGO CIENTÍFICO

A implantação de mídias digitais como forma de promover


a construção da aprendizagem significativa na formação
do Sargento Especialista em Eletrônica.
TÍTULO DO ARTIGO

FORMAÇÃO E ESPECIALIZAÇÃO DE PESSOAL


LINHA DE PESQUISA

CARLOS ROGERIO DE SOUSA BRIZON CAP QOECOM


NOME

17/NOVEMBRO/2014
DATA

CAP2/2014

Curso e Ano

Este documento é o resultado dos trabalhos do aluno do Curso de


Aperfeiçoamento da EAOAR. Seu conteúdo reflete a opinião do autor, quando
não for citada a fonte da matéria, não representando, necessariamente, a
política ou prática da EAOAR e do Comando da Aeronáutica.
2

A implantação de mídias digitais como forma de promover a


construção da aprendizagem significativa na formação do
Sargento Especialista em Eletrônica.

RESUMO
A Escola de Especialistas de Aeronáutica é a Organização Militar pertencente ao
Comando da Aeronáutica responsável pela formação e aperfeiçoamento dos
graduados para a Força Aérea Brasileira. As recentes aquisições de modernos
equipamentos e dispositivos de combate desenvolvidos com alta tecnologia,
atribuíram especial destaque à formação dos sargentos especialistas em eletrônica.
Uma vez formados, esses graduados passarão a operar e manter equipamentos de
alta complexidade, sendo fundamental que as instruções ministradas durante o
curso sejam balizadas por modernos processos de ensino-aprendizagem. Isto gerou
uma inquietação em se verificar o potencial das mídias digitais como forma de
promover a construção da aprendizagem significativa na formação do Sargento
Especialista em Eletrônica. Este trabalho foi realizado em duas fases: a primeira
baseada na apresentação das conceituações propostas pelo referencial teórico e a
segunda em pesquisa realizada junto aos instrutores e documentações que norteiam
o curso em questão. Buscou-se analisá-los com base no modelo proposto por David
Paul Ausubel, para se verificar a existência de um aprendizado mais eficiente e
duradouro. Concluiu-se que os princípios da teoria de Ausubel não são aplicados
aos alunos do curso de eletrônica, porém, a implementação das mídias digitais
permite que a aprendizagem significativa seja facilitada.
Palavras-chave: Aprendizagem significativa. EEAR. Graduado. Eletrônica. Mídias digitais.

ABSTRACT
The Escola de Especialistas de Aeronáutica is the Military organization that belongs
to Aeronautics Command and this is responsible for training and development of the
sergeants for Brazilian Air Force. The current acquisitions of modern equipment and
combat devices developed with high tech assigned special emphasis for electronics
specialist sergeants. Once graduated , these sergeants will operate and maintain
complex high equipment and it´s essential that the instructions given during the
course should be trivialized by modern processes of teaching and learning. This
resulted a concern in check potential digital medias in order to promote the
construction of meaningful learning in the formation of Eletronic Specialist
Sergeants. This research was conducted in two phases: the first based on the
presentation of the concepts proposed by the theoretical framework and the second
study, conducted by the instructors and documentation that guide the course in
question. We attempted to analyze them on the basis proposed by David Paul
Ausubel model, to verify the existence the most efficient and durable learning. It was
concluded that the Ausubel's principles theory are not applied to students from the
course of eletronic , however, the implementation of digital media allows meaningful
learning is facilitated.

Palavras-chave: Meaningful learning. EEAR. Graduate. Eletronic. Digital Media.


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1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR) é Organização Militar


de Ensino pertencente ao Comando da Aeronáutica, que tem como missão a
formação e o aperfeiçoamento dos Graduados da Força Aérea Brasileira.
Atualmente, a EEAR forma graduados em vinte e oito diferentes
especialidades, dentre elas, por meio do Estágio de Adaptação à Graduação de
Sargento - EAGS, a especialidade eletrônica.
Cabe salientar que para a realização deste Curso, são selecionados
cidadãos brasileiros de ambos os sexos que já possuem a titulação técnica para
cursar na EEAR uma adaptação voltada para a atuação específica às necessidades
do Comando da Aeronáutica.
Conforme preconiza seu Currículo Mínimo “... o Estágio de Adaptação à
Graduação de Sargento – Modalidade Especial (EAGS-ME-BET) tem por objetivo
preparar civis e militares com curso técnico-profissionalizante na área de Eletrônica,
para o exercício de funções técnicas e militares nas diferentes Organizações do
Comando da Aeronáutica (ICA 37-498, 2014, p. 9).
Como o conteúdo programático presente no Currículo Mínimo da
especialidade Eletrônica contempla assuntos complexos e imprescindíveis para
atuação do graduado na referida especialidade, estes precisam ser aprendidos de
forma significativa no decorrer do EAGS. Para isso, é muito importante otimizar o
tempo disponível, lançando mão da tecnologia avançada, para beneficiar o processo
ensino-aprendizagem desses alunos.
Aulas contextualizadas e interativas certamente constituem um fator
facilitador da assimilação dos assuntos abstratos que permeiam o Currículo Mínimo
da especialidade Eletrônica, podendo promover uma aprendizagem eficiente e
significativa.
Registra-se que os alunos, após o período de formação, são classificados
nas diversas Organizações Militares, distribuídas em todo território nacional. Os
graduados recém-formados poderão ser designados para atuarem em unidades que
são constituídas por um grande número de militares, ou então em localidades
destacadas com efetivo reduzido. Existem Destacamentos de Controle do Espaço
Aéreo que têm em sua dotação apenas um graduado especialista em eletrônica, que
deve ser capaz de suprir todas as demandas que surgirem em sua área de atuação.
4

Cabe ressaltar que em certas regiões como a Amazônia, caso o militar destacado
não seja capaz de solucionar o problema, uma grande logística precisa ser colocada
em ação para que o apoio técnico necessário seja prestado. Devido as
características da região, torna-se imperativo a utilização de meios aéreos ou fluviais
para deslocamento dessa equipe de apoio, o que implica em um aumento
considerável no tempo de resposta para restabelecimento de equipamentos e
sistemas fundamentais para o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro.
Diante disso, o processo ensino-aprendizagem utilizado para a formação dos
graduados especialistas em eletrônica na EEAR se reveste de especial importância.
Este trabalho motiva-se pela inquietação do autor em constatar que as
instruções atualmente ministradas em organizações de ensino do Comando da
Aeronáutica são baseadas em um conceito de aprendizagem mecânica ou
memorística. É fato que um conteúdo apenas memorizado (aprendizagem
mecânica) não se traduz em um conhecimento duradouro, sendo necessário
implantar metodologias eficientes para que o aluno construa o conhecimento
adequado para o exercício de suas funções no período de pós-formação.
Acompanhando o desenvolvimento tecnológico, surge a possibilidade das
mídias digitais serem utilizadas como uma eficiente ferramenta de apoio, uma vez
que podem ser consideradas como um material potencialmente significativo.
Surge, então, o seguinte problema de pesquisa: O uso das mídias digitais
pode contribuir para a construção da aprendizagem significativa na formação do
sargento especialista em eletrônica?
Para que esse questionamento seja respondido, foram formuladas as
seguintes questões norteadoras (QN):
QN1 - Como está estruturado o processo ensino-aprendizagem do curso
de eletrônica da EEAR?
QN2 - Quais modelos didáticos são aplicados pelos instrutores do curso
de eletrônica da EEAR?
QN3 - Qual é o padrão de desempenho previsto pela Força Aérea
Brasileira para o graduado especialista em eletrônica?
QN4 - Quais características apresentadas pelas mídias digitais podem ser
exploradas de forma a viabilizar seu uso como recurso didático do curso de
eletrônica da EEAR?
5

Aliando-se o problema levantado anteriormente às questões norteadoras,


foi estabelecido como objetivo geral do presente trabalho verificar a aplicabilidade
dos recursos tecnológicos conhecidos como mídias digitais na construção da
aprendizagem significativa na formação do sargento especialista em eletrônica.
A fim de orientar as ações de pesquisa para o alcance do objetivo geral,
foram delimitados os seguintes objetivos específicos (OE) , a saber:
OE1 - Identificar como está estruturado o processo ensino-aprendizagem
do curso de eletrônica da EEAR.
OE2 - Identificar quais modelos didáticos são aplicados pelos instrutores
do curso de eletrônica da EEAR.
OE3 - Identificar o padrão de desempenho previsto pela Força Aérea
Brasileira para o graduado especialista em eletrônica.
OE4 - Verificar quais características apresentadas pelas mídias digitais
podem ser exploradas de forma a viabilizar seu uso como recurso didático do curso
de eletrônica da EEAR.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O trabalho realizado está baseado na teoria da aprendizagem


significativa, desenvolvida por David Paul Ausubel, representante da linha
pedagógica cognitivista, definida por MOREIRA e MASINI:

Para Ausubel, aprendizagem significativa é um processo pelo qual uma


nova informação se relaciona com o aspecto relevante da estrutura de
conhecimento do indivíduo. Ou seja, neste processo a nova informação
interage com uma estrutura de conhecimento específica, a qual Ausubel
define como conceito subsunçor ou, simplesmente, subsunçores
(subsumer), existentes na estrutura cognitiva do indivíduo. A aprendizagem
significativa ocorre quando a nova informação ancora-se em subsunçores
relevantes preexistentes na estrutura cognitiva de quem aprende.
(MOREIRA e MASINI, 2001, p.17)

De acordo com Pozo (1998), também é possível visualizar as


considerações de Ausubel com relação às situações de aprendizagem, ao organizar
suas ideias em duas dimensões que são constituídas por dois eixos (um vertical e
um horizontal):

O contínuo vertical faz referência ao tipo de aprendizagem realizada pelo


aluno, isto é, aos processos mediante os quais codifica, transforma e
guarda a informação, e passaria da aprendizagem simplesmente
6
mnemônica ou repetitiva – de um número telefônico ou da forma de obter
comida quando se está fechado em uma caixa de Skinner – à
aprendizagem plenamente “significativa” – do conceito de entropia ou da
teoria piagetiana da equilibração. O contínuo horizontal faz referência à
estratégia de instrução planejada para estimular essa aprendizagem, que
iria do ensino puramente receptivo, no qual o professor ou instrutor expõe
de maneira explícita o que o aluno deve aprender – incluindo a clássica
“aula magistral”, como também a leitura compreensiva de um texto – ao
ensino baseado exclusivamente no descobrimento espontâneo por parte do
aluno. (POZO, 1998, p. 209)

Segundo Ausubel, as aprendizagens repetitiva e significativa são


independentes e, portanto, diferentes.
Moreira e Masini (2001) destacam as ideias do psicólogo David Paul
Ausubel, que defende a teoria da aprendizagem significativa. Para Ausubel existem
duas formas de aprendizagem: a mecânica (o aluno absorve novas informações sem
associá-las a conceitos já existentes na estrutura cognitiva) e a significativa (o novo
conteúdo ou informação é relacionado a outros conceitos já existentes na estrutura
cognitiva).
A relação que se processa com outros conhecimentos adquiridos
anteriormente é chamada de ponto de ancoragem, e trata-se de um fator primordial
para a aprendizagem significativa.
Cabe ressaltar que além das diferenças cognitivas, as aprendizagens
significativas e mnemônicas ou repetitivas também se diferenciam pelo tipo de
motivação que servem de estímulo às atitudes do aluno frente a uma situação de
aprendizagem.
Novak e Gowin (1984) apud Pozo (1998) destacam as diferenças
fundamentais entre a aprendizagem significativa e a aprendizagem mnemônica ou
repetitiva:

Aprendizagem Significativa: incorporação substantiva, não arbitrária e


não-verbal de novos conhecimentos à estrutura cognitiva. Esforço
deliberado para relacionar os novos conhecimentos com conceitos de nível
superior, já existentes na estrutura cognitiva. Aprendizagem relacionada
com experiências, fatos ou objetos. Envolvimento afetivo para relacionar os
novos conhecimentos com aprendizagens anteriores. Aprendizagem
mnemônica: incorporação não substantiva, arbitrária e verbal de novos
conhecimentos à estrutura cognitiva. Nenhum esforço para integrar os
novos conhecimentos a conceitos já existentes na estrutura cognitiva.
Aprendizagem não relacionada com experiências, fatos ou objetos.
Nenhuma implicação efetivamente relacionando os novos conhecimentos às
aprendizagens anteriores. (POZO, 1998, p. 211)

A aprendizagem significativa apresenta notáveis vantagens quando é


comparada à aprendizagem repetitiva. Estas vantagens podem ser destacadas
7

como enriquecimento da estrutura cognitiva do aluno ao aumentar sua capacidade


de aprender outros assuntos. Além disso, aumenta também a capacidade de
lembrança posterior do conteúdo estudado (o assunto é retido e lembrado por mais
tempo) e quando o conteúdo é esquecido, facilita nova aprendizagem
(reaprendizagem). Esta é certamente a aprendizagem mais adequada para ser
promovida entre os alunos.
A aprendizagem significativa pode ser desenvolvida tanto por meio da
descoberta como por meio da repetição, e estas devem ser desenvolvidas de acordo
com as peculiaridades do conteúdo a ser estudado.
Quando não existe o ponto de ancoragem no processo de aprendizagem,
surge a dificuldade de compreender o conhecimento a ser adquirido. Para minimizar
essa dificuldade, são fornecidas novas informações para que estas se transformem
na base tão importante em que se apoiará a compreensão do aprendente. As novas
informações que o professor deve disponibilizar no caso do aluno apresentar
dificuldades de compreensão, não podem representar a mera repetição do já foi
abordado, mas deve ser exposta uma outra forma de explicar, para que o aluno ao
“analisar mentalmente” o novo conteúdo possa encontrar outras associações
cerebrais, alcançando finalmente a compreensão do assunto estudado. Segundo
Ausubel (1982), a busca do professor em encontrar novas formas de explicar aos
alunos conteúdos não compreendidos é denominada Substantividade. Esse conceito
descreve como um conhecimento novo deve ser incorporado à estrutura cognitiva de
uma pessoa.
Na busca de uma aprendizagem significativa o papel do professor ou
instrutor é essencial. A intervenção educativa precisa, portanto, de uma mudança
substancial, na qual não somente abranja o saber, mas também o saber fazer, não
tanto o aprender, como também o “aprender a aprender”. Para isso, é necessário
que os rumos da ação educativa incorporem em sua trajetória um conjunto de novas
intenções.
De acordo com Ausubel (1982), para que uma aprendizagem significativa
aconteça, é importante partir do nível de desenvolvimento do aluno, o que quer dizer
que os conhecimentos prévios dos estudantes deverão ser explorados para que
possam servir de base para as novas aprendizagens.
Os conhecimentos que os alunos já possuem, chamados de pontos de
ancoragem, servem como pilares para a nova aprendizagem e esta acontece
8

efetivamente quando ocorre a conexão entre o conhecimento já internalizado com o


novo.
É importante que os alunos “realizem aprendizagens significativas por si
próprios”, pois assim, garantem-se a compreensão e a facilitação de novas
aprendizagens ao desenvolver um suporte básico na estrutura cognitiva prévia
construída pelo sujeito.
Finalmente, como resultado da aprendizagem significativa, acontece a
modificação dos esquemas do sujeito.
De acordo com Piaget (1997), uma maneira adequada de modificar as
estruturas do aluno é provocar conflitos cognitivos que causem desequilíbrios a
partir dos quais o aluno consiga reequilibrar-se, superando a discordância e
reconstruindo o conhecimento.
Diante disso, é importante que as aprendizagens sugeridas não sejam
excessivamente simples, pois isso provocaria frustração no aluno. É necessário,
portanto, que sejam apresentados ao aprendiz desafios de aprendizagem
motivadores e possíveis de serem enfrentados. Na busca da compreensão dos
novos conceitos, o aluno será o construtor de seu conhecimento.
Diante disso, pode-se afirmar que, para que a aprendizagem significativa
ocorra, é necessário que o material a ser assimilado seja potencialmente
significativo. Dessa forma, o aluno poderá estabelecer os importantes pontos de
ancoragem fundamentais à construção da aprendizagem significativa.
Embora David Ausubel tenha sido a primeira pessoa a utilizar o termo
conhecimento prévio, foi Jean Piaget (1997) o primeiro a se preocupar com o
assunto, ao realizar investigações sob a perspectiva do desenvolvimento intelectual.
Procurando entender como o indivíduo passava de um conhecimento
mais simples a outro mais complexo, Piaget realizou um árduo trabalho de observar
como as crianças comparavam, classificavam, ordenavam e relacionavam diferentes
objetos.
Ao final de seus estudos Piaget compreendeu que a inteligência se
desenvolve por um processo de sucessivas fases e dependendo da qualidade das
interações de cada sujeito com o meio, as estruturas mentais (condições prévias
para o aprendizado) vão se tornando mais complexas até o fim da vida.
Diante disso é possível afirmar que todos são capazes de aprender,
mesmo que essa aprendizagem aconteça em tempos e de maneiras diferentes.
9

Pode-se concluir então que as ideias de Piaget e Ausubel são


complementares, ao defenderem que para aprender algo são necessárias estruturas
mentais que deem conta de novas complexidades e também conteúdos anteriores
que ajudem a assimilar novos saberes.
Os conteúdos ministrados aos alunos de eletrônica da EEAR estão
diretamente ligados a alta tecnologia tais como: sistema de Radiodeterminação
(RADARES), sistemas de comunicação Terra-Ar, eletrônica aeroembarcada, etc. Em
virtude das características técnicas de alta complexidade e elevado custo agregado
inerentes aos sistemas mencionados, é fundamental que o graduado especialista
em eletrônica tenha plenas condições de desempenhar suas funções de forma
eficiente. Conclui-se, portanto, que as técnicas de ensino utilizadas para a formação
desse graduado sejam tais que produzam uma aprendizagem significativa e
duradoura.
Dentre uma das condições para que ocorra a aprendizagem significativa,
Ausubel (1982) destaca a necessidade de que o material a ser utilizado no processo
seja potencialmente significativo. Esse pressuposto indica que a escolha do material
didático adequado pode contribuir para a construção ou aperfeiçoamento dos
subsunçores, que segundo Moreira e Masini (2001, p.45) possibilita que esses
subsunçores "vão ficando cada vez mais elaborados e mais capazes de ancorar
novas informações". Conforme MOREIRA e MASINI:

A aprendizagem significativa pressupõe que: a) o material a ser aprendido


seja potencialmente significativo para o aprendiz, ou seja, relacionável a sua
estrutura de conhecimento de forma não-arbitrária e não-literal
(substantiva). (MOREIRA e MASINI, 2001, p.23)

A aprendizagem significativa mostra-se mais eficiente que a


aprendizagem mecânica, uma vez que proporciona ao aluno um conhecimento mais
duradouro. Essa característica é fundamental para a formação do graduado
especialista em eletrônica que irá operar com equipamentos de alta complexidade e
alto custo. Caso o modelo de aprendizagem utilizado durante o curso esteja voltado
apenas à simples memorização, corre-se o risco de que o conhecimento adquirido
seja superficial a ponto de dificultar sua aplicação em situações reais no período de
pós-formação. O material potencialmente significativo é apresentado por Ausubel
(1982) como elemento básico para a aplicação da teoria da aprendizagem
significativa. Baseado nessa condição, pretende-se averiguar com a presente
pesquisa se o uso das mídias digitais (analisado como material potencialmente
10

significativo) é capaz de promover a construção da aprendizagem significativa na


formação do Sargento Especialista em Eletrônica.

3 METODOLOGIA

Seria inviável realizar o trabalho de pesquisa considerando as variáveis


de todas as especialidades, por isso o foco do presente artigo foi delimitado para
possibilitar uma análise mais detalhada de apenas uma das vinte e oito
especialidades existentes na EEAR. A especialidade escolhida foi “Eletrônica”,
ofertada através do Estágio de Adaptação à Graduação de Sargento – Modalidade
Especial, com duração de 41 semanas e carga horária total de 1404 tempos. A
escolha da referida especialidade como foco desse estudo deve-se a algumas
características julgadas pertinentes para a implantação das mídias digitais no âmbito
da Escola de Especialistas de Aeronáutica. O curso de eletrônica tem como principal
objetivo, o estudo de conceitos da física aplicada, tornando difícil a assimilação de
certos conteúdos por parte dos alunos. Essa dificuldade de assimilação ocorre
porque os alunos conseguem observar apenas os efeitos provocados pela ação dos
elétrons (resultados), não sendo possível demonstrar na prática como esses efeitos
ocorrem (processos). Com a metodologia adequada, aliada ao uso de aplicativos
digitais de imagem e vídeo, pode-se criar um ambiente virtual favorável, onde o
aluno consiga visualizar tanto a ação quanto os efeitos provocados pelos elétrons
quando aplicados nos circuitos eletrônicos estudados.
O tipo da pesquisa apresentada, segundo Gil (2008), é do tipo qualitativa
descritiva, pois foi verificado a existência de relações entre variáveis. Verificou-se
com essa pesquisa a existência de relação entre a utilização das mídias digitais e a
construção da aprendizagem significativa na formação do sargento especialista em
eletrônica.
No intuito de proporcionar subsídios ao trabalho foram utilizados dois
instrumentos de coleta de dados: a observação e a entrevista.
Com a aplicação da entrevista, definida por Gil (2008), foram obtidas junto
aos instrutores do curso de eletrônica da EEAR, informações referentes aos
métodos didáticos utilizados nas instruções. Os dados levantados possibilitaram
verificar se as instruções ministradas conduzem os alunos a uma aprendizagem
mecânica ou significativa. A fim de tornar o levantamento de dados mais natural, o
11

tipo de entrevista utilizada foi a do tipo focalizada (não estruturada). Conforme Gil
(2008), esse tipo de entrevista foi utilizada na pesquisa por permitir aos instrutores
falar livremente sobre os métodos didáticos utilizados nas instruções. O curso de
eletrônica realizado atualmente na EEAR é ministrado por apenas quatro instrutores,
razão pela qual foi possível ao pesquisador entrevistar a todos eles.
Ainda como técnica de coleta de dados, foi procedida a observação das
técnicas e métodos utilizados pelos instrutores em sala de aula na EEAR. O tipo de
observação utilizada é definido por Gil (2008) como observação simples, pois não
houve interação do observador com o meio observado (sala de aula). A observação
foi realizada em quatro tempos de aula de cinquenta minutos cada (um tempo por
instrutor), tendo como objetivo a análise da metodologia utilizada pelos instrutores
no curso de eletrônica da EEAR.
Com o reduzido tempo disponível para levantamento de dados da
presente pesquisa, ficou estabelecido a observação em apenas um tempo de aula
por instrutor, o que foi considerado como uma limitação da metodologia utilizada.
Por meio de pesquisas documentais foram analisadas as informações
contidas no Padrão de Desempenho de Especialidade - PDE (MMA 39-1, 1993, p.
24), Currículo Mínimo da especialidade eletrônica e Plano de Unidades Didáticas.
A análise das informações contidas no PDE da especialidade Eletrônica,
possibilitou verificar quais atribuições básicas a Força Aérea Brasileira espera de um
graduado especialista em Eletrônica formado pela EEAR.
Com os dados obtidos no Currículo Mínimo e Planos de Unidades
Didáticas da especialidade eletrônica verificou-se os conteúdos ministrados no
curso, bem como as metodologias previstas para desenvolvimento dos instrutores
em sala de aula.
Segundo Ausubel (1982), a aprendizagem significativa está relacionada a
duas características básicas: a não-arbitrariedade e a substantividade. Diante disso,
a seguinte análise foi realizada com os dados obtidos:
1) entrevistas com os instrutores - foi verificado se os instrutores exploram
os conhecimentos prévios dos alunos (pontos de ancoragem), durante as instruções;
2) observação - foi verificado se os conteúdos ministrados são
apresentados aos alunos de forma substantiva (ou não literal); e
12

3) análise das documentações - foram verificados, quais são os níveis de


conhecimento exigidos do graduado especialista em eletrônica durante sua
formação e também pós-formação.
A presente pesquisa analisou ainda o uso das mídias digitais como um
material potencialmente significativo. Ausubel (1982) é enfático quando declara que,
para que a aprendizagem significativa ocorra, é fundamental que o material a ser
apresentado ao aluno seja potencialmente significativo. O grande diferencial das
mídias digitais quando comparadas ao material didático comumente utilizado (livros
impressos, apostilas, etc), está relacionado à possibilidade de ser apresentado aos
alunos, conteúdos interativos tais como: vídeos, fotografias em alta resolução e
acesso à internet. Diante disso, foram levantadas quais características apresentadas
pelas mídias digitais são utilizadas atualmente como ferramenta pedagógica e os
resultados práticos da aplicação desse recurso. Foi verificado, ainda, as formas
como as mídias digitais podem ser aplicadas como recurso didático nas instruções
ministradas aos alunos de eletrônica da EEAR. Finalmente, de posse das análises
realizadas, foi verificado que a utilização das mídias digitais contribui para a
construção da aprendizagem significativa na formação do sargento especialista em
eletrônica.

4 DISCUSSÕES E ANÁLISES

O mundo globalizado do século XXI, vem experimentando uma era de


grandes descobertas e inovações tecnológicas. A velocidade com que equipamentos
e sistemas se tornam obsoletos muitas vezes é mais rápida do que a capacidade do
mercado em consumi-los. Áreas relacionadas às telecomunicações e à eletrônica
digital tem se tornado um mercado em constante evolução, desafiando engenheiros
e técnicos a acompanhar essa crescente tendência.
Diante do cenário apresentado, a Escola de Especialistas de Aeronáutica
viu-se obrigada a manter em constante atualização os conteúdos a serem
ministrados aos alunos do curso de eletrônica, como pode ser observado no
currículo mínimo da referida especialidade (ICA 37-498). O documento em questão é
elaborado por uma equipe de pedagogos e instrutores técnicos com ampla
experiência na área de ensino. O currículo mínimo é atualizado anualmente, e
descreve com riqueza de detalhes, os conteúdos a serem trabalhados em sala de
13

aula.
No intuito de atender ao OE1, conforme pesquisa documental realizada, os
conteúdos ministrados aos alunos do curso de eletrônica estão divididos em três
grandes áreas do conhecimento: Engenharias, Ciências Aeronáuticas e Tecnologia
da Informação. O Estágio de Adaptação à Graduação de Sargentos prevê um total
de 750 (setecentos e cinquenta) tempos dedicados às instruções relativas ao Campo
Técnico-Especializado, distribuídos de acordo com a tabela 1:

Tabela 1: Áreas de conhecimento ministradas no curso de eletrônica da EEAR.

CARGA HORÁRIA
ÁREA DISCIPLINA

EQUIPAMENTOS DE 92
TELECOMUNICAÇÃO
TÉCNICAS DE 97
MANUTENÇÃO
RADAR 113
ENGENHARIAS
LINHAS DE
TRANSMISSÃO E
DISPOSITIVOS DE 83
MICRO-ONDAS

INTRODUÇÃO À GUERRA
ELETRÔNICA 56

SISTEMAS DE
81
NAVEGAÇÃO AÉREA
CIÊNCIAS METROLOGIA,
AERONÁUTICAS CONTROLE DE
ESTOQUE E 41
PUBLICAÇÕES

INGLÊS TÉCNICO DE 52
ELETRÔNICA
SILOMS 45
SISTEMAS
TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO OPERACIONAIS E
REDES DE 90
COMPUTADORES

Fonte: ICA 37-498

A ICA 37-498 aplica a Taxonomia de Bloom como instrumento para o


acompanhamento do desenvolvimento da aprendizagem. De acordo com essa
taxonomia, os objetivos específicos de determinada disciplina que será integrada a
14

estrutura cognitiva do aluno poderão ser enquadrados em uma das seguintes


categorias: Conhecimento, Compreensão, Aplicação, Análise, Síntese e Avaliação.
Cada uma das categorias mencionadas exige níveis de aprendizagem distintos,
definindo portanto a capacidade esperada de cada aprendente ao término do
período de aprendizagem. Os Objetivos Específicos previstos na ICA 37-498 estão
estabelecidos da seguinte forma: 40% - nível Conhecimento, 42% - nível
Compreensão, 12% - nível Aplicação e 6% - nível Análise. Para os Objetivos
Específicos enquadrados na categoria Conhecimento, espera-se que o aluno tenha
condições apenas de se lembrar de conteúdos ensinados. Nos casos em que os
Objetivos Específicos se enquadrem na categoria compreensão, o aluno deve ser
capaz de entender os conteúdos ministrados e utilizá-los em contextos diferentes.
Para os Objetivos Específicos enquadrados na categoria Aplicação, o aluno deve ser
capaz de utilizar os conteúdos ministrados em novas situações concretas. Nos
casos em que os Objetivos Específicos refiram-se a categoria Análise, o aluno deve
ser capaz de entender toda a estrutura do conteúdo ministrado, além de realizar
relacionamentos entre partes interdependentes dos conteúdos aprendidos. Observa-
se dessa forma, que 60% dos Objetivos Específicos previstos para a formação do
sargento especialista em eletrônica exigem do aluno uma capacidade de
aprendizado que vai além de uma simples memorização. Por questões definidas
pelas necessidades da Força Aérea Brasileira, é esperado que o graduado
especialista em eletrônica tenha condições de compreender conceitos, aplicar
conhecimentos e analisar circuitos eletrônicos utilizados por aeronaves,
equipamentos e sistemas distribuídos por todo o território nacional.
Analisando as categorias presentes da Taxonomia de Bloom utilizadas para
a elaboração do Currículo Mínimo de eletrônica, verifica-se o elevado índice de
dificuldade do curso quando comparado a outros cursos ministrados na EEAR. Para
corroborar com essa assertiva foram levantados dados relativos aos graus obtidos
pelos alunos dos Estágios de Adaptação à Graduação de Sargentos da 12ª à 20ª
turma. Na tabela 2 foram inseridos dados referentes as médias dos graus dos alunos
do EAGS (excetuando-se a especialidade eletrônica) e a média dos alunos do curso
de eletrônica. Os dados foram obtidos junto a Subdivisão de Avaliação da EEAR. De
acordo com essa tabela, pode-se observar que a média dos alunos do curso de
eletrônica é visivelmente mais baixa quando comparada com a média dos alunos
dos demais cursos ministrados pela EEAR.
15

Tabela 2 - Comparação das médias entre os alunos do EAGS e alunos do curso de eletrônica.
Média dos alunos do EAGS
Média dos alunos do curso de
Curso (excluídos os alunos de
eletrônica
eletrônica)
12° EAGS 8,41 7,96
13° EAGS 8,66 8,22
14° EAGS 8,32 7,91
15° EAGS 8,27 8,23
16° EAGS 8,35 8,2
17° EAGS 8,48 8,25
18° EAGS 8,59 8,21
19° EAGS 8,55 7,82
20° EAGS 8,47 8,34
Fonte: O autor (2014).

A situação em questão deve-se ao fato de que os conteúdos das disciplinas


do curso de eletrônica deveriam ser assimilados significativamente, o que
proporcionaria melhores resultados no desempenho da turma. Os conteúdos
assimilados dessa forma seriam mais duradouros, o que culminaria em graduados
mais bem preparados para emprego da Força Aérea.

Figura 1: Comparação entre as médias dos alunos de eletrônica e demais alunos do EAGS.

A fim de atender ao OE2, foram utilizados dois métodos de coleta de dados.


O primeiro deles refere-se a entrevista não estruturada realizada com os instrutores
que ministram aulas de eletrônica no curso. Foi observado que os instrutores
16

seguem fielmente a estrutura prevista no Currículo Mínimo da especialidade,


preparam suas instruções com capricho, dominam os assuntos técnicos a serem
abordados, porém nenhum deles conhecia a Teoria da Aprendizagem Significativa.
Em virtude disso, as instruções ministradas se aproximam da assimilação que
tendem a métodos de memorização ou de repetições, o que resulta em uma
aprendizagem real, mas não duradoura. Seguindo a metodologia planejada, foi
procedida a observação das aulas. Adequando as disponibilidades do observador e
também da programação de aulas do curso em questão, foram utilizadas para esse
segundo método de coleta de dados, as instruções de prática RADAR. Os
instrutores adotaram uma técnica eficiente ao dividirem a turma em pequenos
grupos, de forma a facilitar a interação com todos os alunos, porém não
simultaneamente. Foi observado um grande conhecimento por parte dos instrutores,
além de uma excelente didática. Como os mesmos não conheciam os conceitos
sobre a aprendizagem significativa, não foi observado durante as instruções
qualquer tentativa de se associar os conteúdos ministrados com pontos de
ancoragem que proporcionasse uma aprendizagem significativa. Os alunos foram
instruídos, e todas as dúvidas levantadas foram respondidas porém, não foi
observado uma preocupação em integrar os novos conhecimentos à estrutura
cognitiva dos alunos de forma substantiva e não-arbitrária. De acordo com a Teoria
da Aprendizagem Significativa desenvolvida por Ausubel, é fundamental que os
novos conhecimentos sejam ancorados em conceitos anteriores, conhecidos como
subsunçores, existentes na estrutura cognitiva dos alunos.
Para atender ao EO3 foi procedida pesquisa documental, a fim de ser
identificado o Padrão de Desempenho que a Força Aérea espera do graduado
especialista em eletrônica. A MMA 39-1 que trata do Padrão de Desempenho de
Especialidade dos graduados da Aeronáutica, estabelece as seguintes áreas de
atuação para o especialista em eletrônica:
1. conhecer técnicas digitais, semicondutores, microprocessadores,
servomecanismos, sistemas síncronos e assíncronos;
2. conhecer diagramas elétricos e eletrônicos;
3. conhecer equipamentos e processos para a confecção e manutenção de
circuitos impressos;
4. conhecer produtos químicos para limpeza, proteção e lubrificação de
equipamentos eletrônicos;
17

5. compreender as normas e técnicas de trabalho em áreas com controle


ambiental;
6. conhecer aparelhos eletrônicos de medidas;
7. conhecer os aparelhos eletrônicos de bordo de aeronaves;
8. conhecer os aparelhos eletrônicos de solo;
9. conhecer as publicações técnicas inerentes à sua área e especialidade;
10. conhecer o ferramental e os equipamentos da especialidade, adequados ao
serviço de manutenção;
11. conhecer metrologia;
12. conhecer a teoria de microondas e multiplexação;
13. compreender inglês técnico;
14. conhecer as normas de controle de suprimento e manutenção;
15. conhecer as normas de higiene e segurança no trabalho.
Nota-se que existe uma diferença entre o que é previsto no Padrão de
Desempenho de Especialidade e o Currículo Mínimo de eletrônica ministrado pela
EEAR. A MMA 39-1 especifica que 86% das atribuições exigidas do graduado em
eletrônica estejam enquadradas na categoria conhecimento segundo a Taxonomia
de Bloom. Conforme foi descrito anteriormente, os conteúdos ministrados
atualmente no curso de eletrônica da EEAR possuem 60% dos Objetivos
Específicos enquadrados entre as categorias de compreensão, aplicação e análise.
Em atendimento ao OE4, foram verificadas as características apresentadas
pelas mídias digitais, que podem ser exploradas de forma a viabilizar seu uso como
recurso didático. Conforme Ausubel, para que ocorra a aprendizagem significativa,
os conteúdos devem ser assimilados de forma substantiva e não-arbitrária, além de
contar também com um material didático potencialmente significativo. Como foi
observado, o curso de eletrônica exige a compreensão de conceitos caracterizados
pelo elevado índice de dificuldade, e o uso das técnicas pedagógicas modernas é
fundamental para que o graduado seja bem formado. Surge então a possibilidade
das mídias digitais serem implantadas como ferramenta facilitadora da
aprendizagem através de dispositivos de Tecnologia da Informação e Comunicação
- TIC, tais como: notebooks, tablets, netbooks, iPads etc. A utilização dos recursos
didáticos aplicados pelo uso das mídias digitais depende apenas da criatividade dos
instrutores. Os conteúdos que exigem grandes textos explicativos e que demandem
dos instrutores um poder de oratória diferenciado, podem ser substituídos por
18

imagens em alta resolução, animações desenvolvidas especificamente para esse


fim, vídeos, etc. Ressalta-se que hoje em dia, todos os TIC são equipados com
dispositivos de acesso à internet, que possibilitam ao aluno uma pesquisa em tempo
real sobre os conteúdos que não foram totalmente assimilados.
Nesse contexto podem ser inseridas também, ferramentas utilizadas por
bibliotecas digitais, onde o aluno pode navegar por todo o texto e, em caso de
dúvida, novos conteúdos podem ser acessados ao se clicar na palavra ou figura
desejada. Esse tipo de ferramenta é extremamente eficiente, uma vez que o aluno
aprende por meio de descobertas, não apenas introjetando conteúdos transmitidos
pelos instrutores.
O uso das mídias digitais como material potencialmente significativo permite
ainda que o material didático (apostilas) seja disponibilizado eletronicamente aos
alunos. É fato que materiais didáticos impressos de forma colorida são raros em
virtude do elevado custo de produção. As apostilas utilizadas no curso de eletrônica
são impressas de forma monocromática, apesar da matriz original ser elaborada em
cores e com alta qualidade. As impressões em preto e branco dificultam a
aprendizagem e o aluno muitas vezes precisa contar com uma imaginação bastante
fértil para identificar certas figuras, peças ou circuitos.
Existem muitas pesquisas realizadas a respeito do aumento da capacidade
de aprender do aluno por meio do uso das mídias digitais. Como exemplo registra-se
a experiência realizada por pesquisadores norte-americanos do Centro de
Astrofísica Harvard-Smithsonian, que implantaram mídias digitais como tablets e
iPads a fim de possibilitar os alunos uma maior compreensão sobre assuntos
relacionados à lógica de funcionamento da escala do sistema solar. O desempenho
apresentado pelos alunos que tiveram acesso as mídias digitais foi superior àqueles
que foram submetidos a abordagens mais tradicionais, com a explicação sobre o
mesmo assunto em sala de aula.

5 CONCLUSÃO

Diante da inquietação inicial a respeito do fato de que as instruções


atualmente ministradas em organizações de ensino do Comando da Aeronáutica são
baseadas em um conceito de aprendizagem mecânica ou memorística, este trabalho
propôs-se a responder ao seguinte questionamento: O uso das mídias digitais pode
19

contribuir para a construção da aprendizagem significativa na formação do sargento


especialista em eletrônica?
Após analisar a estruturação do curso de eletrônica ministrado na EEAR por
meio do Estágio de Adaptação à Graduação de Sargentos, verificou-se a
necessidade dos conteúdos serem transmitidos com base na Teoria da
Aprendizagem Significativa. Essa necessidade é decorrente do fato de que as
informações a serem transmitidas demandarem grande capacidade de compreensão
por parte dos alunos, sendo que a aplicação da Teoria da Aprendizagem
Significativa garante uma aprendizado mais duradouro e eficiente.
Com relação a prática de ensino, verificou-se que nenhum instrutor do curso
de eletrônica conhecia a Teoria da Aprendizagem Significativa, razão pela qual seus
princípios não são aplicados atualmente no curso de eletrônica da EEAR.
Verificou-se ainda que existe a necessidade de atualização do Padrão de
Desempenho de Especialidade, uma vez que o referido documento data de 8 março
de 1993, e apresenta diferenças de conteúdo quando comparado à ICA 37-498, que
trata do Currículo Mínimo da Especialidade Eletrônica.
Pode-se verificar também que as mídias digitais tais como notebooks,
tablets, netbooks, iPads, etc podem contribuir para a construção da aprendizagem
significativa dos alunos do curso de eletrônica da EEAR. As mídias digitais se
enquadram como material potencialmente significativo, definido por Ausubel como
uma das condicionantes para que haja a aprendizagem significativa. Por meio de
ferramentas características inerentes a esse tipo de mídia, os instrutores podem
estabelecer pontos de ancoragem, ou subsunçores que resultarão aprendizagens
eficazes e duradouras.
20

REFERÊNCIAS

AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São


Paulo: Moraes, 1982.

BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Comando-Geral do Pessoal. Manual do


Ministério da Aeronáutica. MMA 39-1, Brasília, DF, 1993.

______. Comando da Aeronáutica. Departamento de Ensino da Aeronáutica.


Instrução do Comando da Aeronáutica. ICA 37-498. Brasília, DF, 2014.

______. Comando da Aeronáutica. Escola de Especialistas de Aeronáutica. Plano


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Modalidade Especial, Especialidade Eletrônica, aprovado pela Portaria n°
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JONASSEN, D. O uso das tecnologias na Educação a Distância e a aprendizagem
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PIAGET, J. W. F. O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio.


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SANTOS, C. H. A sistemática de planejamento de cursos na modalidade EAD


online aliada à construção da aprendizagem significativa. Rio de Janeiro, p.01-
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