Relatório referente aos estágios na Escola EDEM e na orquestra de
viola Caipirando.
Escola EDEM
A EDEM, localizada no bairro das Laranjeiras, é uma escola de classe
média alta que integra formação acadêmica, ético-política, estética e cultural, com o objetivo de favorecer o crescimento pessoal de cada aluno/aluna e a construção de uma sociedade mais solidária. No que tange a formação musical da EDEM, a escola possui uma infraestrutura completa, com baterias, guitarras, baixos, teclados, microfones, vários instrumentos de percussão, além de contar também com xilofones e instrumentos reciclados. Também possui internet banda larga e acesso a um acervo imenso de discos. Dentro de um ambiente rico de possibilidades musicais, o que mais se destaca é a forma como são conduzidas as aulas pelo professor Gustavo. Ele trabalha com o gosto musical dos alunos, sempre valorizando a participação e a opinião dos alunos, o que incrementa bastante a aderência deles em suas aulas. Cada projeto iniciado começa com a seleção do repertório que irá desembocar nas atividades culturais da escola. Nas aulas, é pedido para que os alunos selecionem as músicas que irão compor o repertório. Com essa pré seleção em mãos, o professor, ciente das possibilidades exequíveis da turma, refina o repertório de acordo com o que, dentro do tempo disponível de ensaios seria possível. Sempre em um ambiente de informalidade aparente, os alunos sentam no chão e a aula se desdobra como uma conversa entre amigos. A turma é agraciada com vários estagiários, o que contribui ainda mais para a otimização do processo musical. Em um dado momento, os estagiários assumem funções pontuais, dando atenção individualizada aos grupos formados, o que agiliza e contribui para uma melhor performance. A experiência na escola EDEM me fez refletir bastante sobre a prática docente, pois em contraste com lugares menos favorecidos, se pode transferir muito do que aprendi lá. Um aprofundamento nos gostos pessoais dos alunos faz toda diferença no resultado final. Um contato mais empático com os alunos, tratando-os com respeito e igualdade, valorizando o que cada um tem de melhor, e reforço positivo a cada passo dado, acelera e desenvolve nos alunos respeito mútuo. Nessas condições - claro que fora da realidade da maiorias escolas brasileiras - os ensaios se desenvolveram com grande facilidade e alegria. Claro que problemas de outras ordens surgiram - tais como alunos em conflito - mas era resolvido em outra instância que não tive oportunidade de entrar em contato, mas percebi que existe um cuidado muito grande com o bem estar e harmonia entre todos, tanto por parte dos professores, quanto pela parte do corpo geral da EDEM.
Caipirando
Orquestra de violas liderada por Henrique Bonna, com ensaios
realizados na Escola Livre de Aprendizagem Musical(ELAM) e em sua própria residência, ambos localizados no bairro de Jacarepaguá. O Caipirando é um projeto que já contabiliza, mais ou menos, dez anos de existência e promove a interação de mais de quarenta violeiros, todos em condições muito singulares de idade e desenvolvimento musical. Dentro desse quadro, o professor consegue, de forma bem simples, com uma escrita musical adaptada às condições técnicas dos alunos, promover, pelo menos, uma apresentação por mês. O que mais me chamou atenção nesse projeto não foi a qualidade técnica das apresentações, mas sim a comunidade que se formou por causa da paixão pela viola. Tive a oportunidade de ser incluído no grupo de whatsapp do Caipirando e tudo se desenrola com grande harmonia e sincronicidade, digna dos cardumes e revoadas. Muito além da música, o respeito, o carinho e a atenção aos alunos me emocionaram. Muitos deles em idade avançada, passaram, nesse período, por problemas de saúde e morte, o que, dentro de uma histeria emocional, só aumentou o amálgama do coletivo. Todos se sensibilizavam e se doavam no que podiam. A conclusão que tiro desses dois projetos é que, como já dizia Belchior: “qualquer canto é menor que a vida de qualquer pessoa”. Muitas empreitadas musicais se pautam na exímia apresentação, mas quando nos deparamos com o afeto, o respeito, a valorização das pessoa acima de julgamentos e preconceitos, podemos ver a magia de fazer parte de algo maior que o indivíduo, tornando o ofício de professor uma missão de amor ao próximo.