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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

Campus de Poços de Caldas - MG


Instituto de Ciência e Tecnologia

Danilo Mazer Pignata


Fernanda Forin de Souza
Guilherme Andrade de Pádua Paula
João Guilherme Moreira de Carvalho
Luciano Kobo Pereira Pinto
Marcos Vinícius Rocha Miranda
Nathália Alvim Figueiredo

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA OCUPAÇÃO URBANA SOBRE A QUALIDADE


DA ÁGUA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO VAI E VOLTA,
MANANCIAL DE POÇOS DE CALDAS (MG)

Poços de Caldas - MG
Dezembro/2014
Danilo Mazer Pignata
Fernanda Forin de Souza
Guilherme Andrade de Pádua Paula
João Guilherme Moreira de Carvalho
Luciano Kobo Pereira Pinto
Marcos Vinícius Rocha Miranda
Nathália Alvim Figueiredo

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA OCUPAÇÃO URBANA SOBRE A QUALIDADE


DA ÁGUA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO VAI E VOLTA,
MANANCIAL DE POÇOS DE CALDAS (MG)

Pesquisa apresentada como parte dos requisitos


da aprovação na unidade curricular Projeto
Multidisciplinar V (ICT 56) do curso de
Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e
Tecnologia, equivalendo-se ao Trabalho de
Conclusão de Curso, pelo Instituto de Ciência e
Tecnologia da Universidade Federal de Alfenas,
campus Poços de Caldas.
Docente Responsável: Prof. Dr. Alencar José de
Faria.
Docente Orientador: Prof. Dr. Antônio Donizetti
Gonçalves de Souza.

Poços de Caldas – MG
Dezembro/2014
RESUMO

Uma bacia hidrográfica é a área delimitada pelos divisores topográficos ao redor de


um curso d’água, chamada área de drenagem. Tal delimitação é comporta um
sistema biofísico e socioeconômico, integrado e interdependente. Este estudo tem
como objetivo principal avaliar a influência da ocupação urbana na qualidade da
água na Bacia Hidrográfica do Córrego Vai e Volta, manancial de Poços de Caldas
(MG). Foram levantados dados sobre os recursos hídricos e suas utilizações, bem
como os padrões de qualidade dos mesmos segundo a legislação vigente. Dados
secundários do Córrego Vai e Volta, como as cartas topográficas e morfometria,
foram coletados. Estabeleceu-se 4 estações representativas de amostragem.
Realizou-se coletas de amostras em período chuvoso e também de estiagem.
Analisou-se, no laboratório do DMAE, na UNIFAL-MG e também em campo, os
parâmetros temperatura, pH, turbidez, condutividade elétrica, sólidos totais
dissolvidos, oxigênio dissolvido, coliformes totais e termotolerantes e Escherichia
coli. Através de gráficos e da metodologia IQA (Índice de Qualidade das Águas)
pode-se fazer as devidas análises e discussões, comparando os resultados obtidos
na variação espaço-temporal. Os resultados indicam influência progressivamente
negativa da ocupação urbana sobre a qualidade da água. Os resultados
microbiológicos evidenciaram a contaminação difusa por fezes de animais e seres
humanos, e, possivelmente, por despejos de esgoto doméstico e fossas irregulares.
Sugere-se que sejam tomadas medidas que possam sanar ou reduzir as
contaminações, e também que possam garantir a preservação da utilização nobre
do córrego, que é o manancial de abastecimento público.

Palavras-chave: Qualidade da água. Bacia hidrográfica. IQA.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
2. OBJETIVOS............................................................................................................ 5
2.1. Objetivo Geral ..................................................................................................... 5
2.2. Objetivos Específicos.........................................................................................5
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................... 6
4. METODOLOGIA ................................................................................................... 19
4.1. Caracterização Geral da Bacia Hidrográfica do Córrego Vai e Volta ........... 19
4.2. Avaliação da Qualidade de Água ..................................................................... 23
4.3. Aplicação do Índice de Qualidade da Água (IQA) .......................................... 25
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 26
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 34
4

1. INTRODUÇÃO

Para as mais diversas utilidades os recursos hídricos são utilizados, podendo


destacar atividades como, o abastecimento humano e animal, irrigação, uso na
agricultura e geração de energia. Portanto é um bem que requer toda preocupação
da humanidade, que vem, nos dias de hoje, se sensibilizando mais, refletindo sobre
ações indevidas com relação ao uso da água, o qual resulta em inúmeros prejuízos
para a sociedade.
Partindo desse contexto, se viu necessário legislar sobre esta temática, sendo
criada Lei Federal n° 9.433/97, Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), a
chamada “Lei das Águas”, que visa programar uma gestão descentralizada e
participativa desse bem comum, contando com a ação do Poder Público, da
comunidade e de todos os usuários em geral, criando assim uma parceria que irá
atuar plenamente em ambos processos (BRASIL, 1997).
Segundo a PNRH, a água é um bem de domínio público a qual não pertence
ao estado, mas sim de toda comunidade. É um bem natural, porém limitado, por isso
é dotado de certo valor econômico, dando preferências ao uso humano e animal, em
caso de escassez.
Para que haja uma forma sustentável de uso da água visando equilibrar o
desenvolvimento econômico e as disponibilidades dos recursos hídricos, é
indispensável a ação de programas de monitoramentos hídricos, que possa fornecer
informações físicas, químicas e biológicas, que irão diagnosticar a presente situação
para posteriormente avaliar as condições do ecossistema aquáticos, podendo assim
tomar decisões para melhorar o gerenciamento dos recursos hídricos.
Portanto por se tratar de um assunto de suma importância, é necessária uma
visão holística, porém em um campo de estudo mais particularizado, isto é, o
entendimento das inter-relações dos corpos hídricos se revela mais inteligível
tomando como objeto de estudo uma bacia hidrográfica.
O presente projeto irá levantar questões relacionadas à Bacia Hidrográfica do
Córrego Vai e Volta, situada no município de Poços de Caldas (MG), sendo sua
principal utilização como manancial de abastecimento público.
5

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

O presente estudo tem como objetivo geral avaliar a influência da ocupação


urbana sobre a qualidade da água na Bacia Hidrográfica do Córrego Vai e Volta,
manancial da cidade de Poços de Caldas – MG.

2.2. Objetivos específicos

O estudo apresenta os seguintes objetivos específicos:


a) Avaliar a qualidade da água no curso principal do Córrego Vai e Volta no
gradiente espacial e temporal;
b) Inter-relacionar as variações espaço/temporais da qualidade da água com as
influências antrópicas da ocupação urbana existentes na bacia;
c) Propor medidas preventivas e corretivas visando o fornecer subsídios ao
planejamento ambiental da Bacia.
6

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Usos dos Recursos Hídricos

A água é uma das substâncias mais comuns existentes no planeta Terra,


cobrindo cerca de 70% de sua superfície, é essencial na manutenção da vida de
todos os organismos e na natureza pode ser encontrada sob diversas formas e
estados físicos, conforme exposto na Tabela 1. Estima-se que a massa de toda a
água existente no planeta seja em torno de 265.400 trilhões de toneladas (BRAGA
et al., 2005).

Tabela 1: Distribuição percentual da massa de água no planeta.

Porcentagem da Porcentagem da
Localização Área (106 km2) Volume (106 km3)
água total (%) água doce (%)
Oceanos 361,3 1338 96,5
Água subterrânea 134,8 23,4 1,7
Doce 10,53 0,76 0,55
Umidade do solo 0,016 0,0012 0,05
Calotas Polares 16,2 24,1 1,74 68,9
Geleiras 0,22 0,041 0,003 0,12
Lagos 2,06 0,176 0,013 0,26
Doce 1,24 0,091 0,007
Salgado 0,82 0,085 0,006
Pântanos 2,7 0,011 0,0008 0,03
Rios 14,88 0,002 0,0002 0,006
Biomassa 0,001 0,0001 0,003
Vapor na
0,013 0,001 0,04
atmosfera
Total de água
35 2,53 100
doce
Total 510,0 1386 100
Fonte: Braga et al. (2005, p. 73).

De toda a água que se encontra no planeta apenas 0,8% possui características


adequadas para ser mais facilmente utilizada para o abastecimento público, e dessa
fração apenas 3% apresentam-se na superfície da Terra, de extração mais fácil
(VON SPERLING, 2005). Nesse sentido, o Brasil pode ser considerado como um
país privilegiado, visto que a vazão média anual dos rios em território brasileiro é de
7

cerca de 180.000 m3/s, valor que representa aproximadamente 12% da


disponibilidade mundial, de acordo com a Figura 1 (BRASIL, 2007).

Figura 1: Distribuição da água doce superficial no mundo.


Fonte: Brasil (2007, p. 20).

É de interesse de toda população mundial a disponibilidade da água em estado


líquido e em quantidade e qualidade satisfatórias, neste caso é considerada como
recurso hídrico e é por meio do ciclo hidrológico que se torna um recurso renovável
(BRAGA et al., 2005).

Figura 2: Ciclo Hidrológico.


Fonte: Cecílio e Reis (2006).

O ciclo hidrológico, ilustrado na Figura 2, é o fenômeno de circulação da água


entre a superfície terrestre e sua atmosfera. É causado principalmente pela energia
solar, ação da gravidade e rotação da Terra e envolve mudanças do estado físico da
8

água, sendo influenciado pelas condições meteorológicas, relevo, tipo do solo e da


cobertura vegetal, bem como pelas ações antrópicas que podem exercer grandes
impactos na magnitude em que ocorrem estes fenômenos. É um ciclo fechado
quando considerado em caráter global, porém na hidrologia o seu estudo acontece
principalmente em sua fase terrestre (CECÍLIO; REIS, 2006).
As águas doces superficiais por serem de fácil acesso, contribuem para
diversas atividades e necessidades humanas. De acordo com Braga et al (2005)
podemos listar os nove principais usos dos recursos hídricos superficiais:
Abastecimento Humano: Pode-se observar que os usos para água são os mais
variados e a qualidade desejável varia na mesma proporção. Porém o uso mais
nobre para um recurso hídrico é o abastecimento humano, assim sendo, a água
deve ser própria para consumo, ou seja, que atenda os padrões de potabilidade
estabelecidos pelos órgãos responsáveis é de extrema importância, já que o homem
depende de uma oferta adequada de água para a sobrevivência e o controle da
qualidade dessa água está diretamente ligado à qualidade de vida dos seres
humanos. A água deve ser mantida livre da presença de micro-organismos
patogênicos capazes de causar doenças e até mesmo epidemias ou de substâncias
químicas que façam mal a saúde dos seres humanos.
Irrigação: As características de qualidade da água necessárias para irrigação
variam de acordo com a cultura ser irrigada. Como no caso dos vegetais, que são
consumidos. Além disso, é de fundamental importância o teor de sais dissolvidos na
água, pois o excesso de sais compromete o desenvolvimento das plantas, reduz a
permeabilidade e saliniza o solo. A irrigação é a atividade que mais consome
recursos hídricos no mundo, sendo responsável por aproximadamente 70% do
consumo de água doce. Essa atividade também pode acarretar um grave dano
ambiental, que é o carregamento de fertilizantes sintéticos e defensivos agrícolas
das plantações para corpos de água superficiais e subterrâneos.
Geração de Energia: A água é usada sobre diferentes formas na geração de
energia elétrica, geração de vapor nas usinas termoelétricas e pelo aproveitamento
da energia cinética ou potencial da água, sendo que em ambos os casos os
requisitos de qualidade da água são mínimos, baseados apenas no controle de
substancias que possam afetar a durabilidade e a manutenção dos equipamentos.
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O uso da água para geração de energia pode produzir uma serie de impactos
ambientais, dentre eles o despejo de calor em corpos de água pelas termoelétricas e
a construção de barragens de hidroelétricas, que modificam o ecossistema aquático.
Navegação: Transporte de cargas e passageiros por rios, lagos e mares é uma
alternativa extremamente viável sob o ponto de vista econômico. Para isso a água
não deve conter substâncias agressivas ao casco e os condutos de refrigeração do
navio ou até mesmo que propiciem a proliferação de excessiva de vegetação que
possam causar inconvenientes à navegação. Porém essa atividade de fundamental
importância para economia mundial causa inúmeros impactos ambientais, como por
exemplo, o despejo de substancias poluidoras das embarcações e portos, seja de
modo proposital ou acidentalmente, além de acidentes que possam ocorrer em
terminais petrolíferos, acarretando em vazamentos de petróleo para o meio aquático.
Além disso, a para implantação da navegação pluvial, às vezes se torna necessário
a construção de barragens e eclusas, alterando completamente o ecossistema
aquático em questão.
Assimilação e Transporte de Poluentes: Razão de diluição: relação entre a
vazão do rio e a vazão do despejo; Características físicas, químicas e biológicas e
da natureza das substancias lançadas.
Preservação da Fauna e da Flora: Visando manter o equilíbrio ecológico do
meio aquático algumas características essenciais para a manutenção da vida
marinha devem ser mantidas independentes dos usos que se façam dos corpos
d’água, dentre elas a concentração mínima de oxigênio e sais nutrientes na água e a
manutenção dos níveis de substancias toxicas abaixo da concentração critica para
organismos aquáticos.
Aquicultura: Padrões de qualidade similares aos necessários para a
preservação da fauna e flora, diferindo apenas em algumas características que
favoreçam a proliferação de certas espécies.
Recreação: Entre os diversos usos da água a recreação é uma pratica comum
em praticamente todo mundo, para tal finalidade os corpos de água também devem
apresentar características especificas que permitam o contato dos banhistas e
esportistas com a mesma, sem danos a saúde. A estética da água também tem
grande importância, pois a turbidez excessiva, presença de substâncias flutuantes e
a liberação de odores desagradáveis, consequentemente, provocam a
desvalorização dos imóveis localizados próximos a esses corpos d’água.
10

Abastecimento Industrial: Para essa aplicação não existe um requisito de


qualidade genérico, ou seja, cada aplicação especifica apresenta requisitos
particulares. Em uma regra geral a agua deve ser isenta de substâncias que causem
o aparecimento de incrustações e corrosão nos condutos.

3.2. Bacias Hidrográficas

Para se estudar as relações que o corpo d’água tem com o meio em que está
inserido e como este último interfere na qualidade da água considera-se a região
denominada bacia hidrográfica. Uma bacia hidrográfica é o espaço físico ao entorno
dos cursos d’água no qual a água escoa para um único ponto de saída, sendo seus
limites definidos topograficamente pelos chamados divisores de água, que são os
pontos de maior altitude ao redor do curso principal.
A linha que passará ortogonalmente por estes pontos irá formar o polígono
correspondente à área da bacia hidrográfica. Tal delimitação comporta um sistema
biofísico e socioeconômico, integrado e interdependente, isto é, inclui além das
nascentes rios, córregos, riachos, lagoas e represas, as formações vegetais em
geral, bem como as atividades, agrícolas, industriais entre outros tipos de ocupações
urbanas e rurais. Uma bacia hidrográfica é uma unidade funcional em que suas
interações ecológicas e processos podem ser quantificados estruturalmente e
matematicamente modelados.
O estudo de uma bacia hidrográfica pode ser realizado em macro ou micro
escala, onde os cursos considerados são grandes rios ou pequenos córregos,
respectivamente. (ROCHA et al, 2000)
Destacam-se os seguintes elementos fisiográficos em uma bacia hidrográfica:
 Divisores de Água: linha que representa os limites da bacia, determinando o
sentido de fluxo da rede de drenagem e a própria área de captação da bacia
hidrográfica (ROCHA et al, 2000);
 Seção de Controle: local por onde toda a água captada na bacia (enxurrada e
corpos d’água) é drenada (ROCHA et al, 2000);
 Cobertura vegetal e classe de solo: são ambas fundamentais para
caracterização do ambiente e controlam a dinâmica da água dentro da bacia
hidrográfica. Cada cobertura vegetal exerce uma influência diferente no
tocante às características de evapotranspiração e de retenção da
11

precipitação. Da mesma forma, os tipos de solo, que além do aspecto


evaporativo, interferem decisivamente nos processos de infiltração de água
e por consequência direta, nas características do escoamento superficial e
transporte de sedimentos (CECÍLIO; REIS, 2006).
 Forma: Bacias hidrográficas geralmente apresentam dois formatos básicos,
com tendência a serem circulares ou elípticas (alongadas). As formas têm
importância especial no comportamento das cheias. As primeiras têm
tendência de promover maior concentração da enxurrada num trecho menor
do canal principal da bacia, promovendo vazões maiores e adiantadas,
relativamente às bacias alongadas, que produzem maior distribuição da
enxurrada ao longo do canal principal, amenizando, portanto, as vazões e
retardando as vazões máximas (CECÍLIO; REIS, 2006).
 Rede de Drenagem: constitui-se de todos os corpos d’água da bacia e canais
de escoamento, estes não necessariamente perenes. São canais perenes
aqueles em regime permanente de fluxo. São considerados intermitentes os
corpos d’água que fluem somente na época das chuvas, ou seja, quando as
nascentes (aquíferos) estão abastecidas. Com a estação de déficit hídrico,
tais canais podem vir a secar; e são efêmeros os canais pelos quais flui
água somente quando ocorre escoamento originado de precipitação, ou
seja, a enxurrada. Quando a precipitação termina, o fluxo cessa em pouco
tempo. A rede de drenagem é extremamente importante para caracterização
e manejo das bacias hidrográficas, determinando suas características de
escoamento superficial e o potencial de produção e transporte de
sedimentos (CECÍLIO; REIS, 2006).
Observa-se que estas propriedades hidrológicas são de grande importância
para o manejo da bacia, especialmente no contexto ambiental, e são diretamente
influenciadas pelas características da rede de drenagem, o que torna necessário a
caracterização do uso e ocupação do para que se possa analisar os fatores que
determinam a qualidade da água escoada, conforme a Figura 3 (VON SPERLING,
2005).
12

Figura 3: Exemplo de uso e ocupação do solo em uma bacia hidrográfica e seus


impactos na qualidade da água.
Fonte: von Sperling (2005, p.16).

3.3. Qualidade da água e o IQA (Índice de Qualidade da Água)

É de grande relevância o conhecimento qualidade dá água a ser utilizada. No


entanto, observando os diversos usos citados acima, pode-se dizer que a qualidade
desejável pode ser diferente da qualidade existente do recurso hídrico (VON
SPERLING, 2005).
A Resolução nº 357 de 17 de março de 2005 da Comissão Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento através de valores padrões para variáveis
observáveis nas águas doces, bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências.
A Tabela 2 descreve as classes de água doce com os usos preponderantes
previstos neste normativo.
13

Tabela 2: Usos das águas doces segundo a classificação estabelecida na Resolução CONAMA
357/05.

CLASSIFICAÇÃO USO PRINCIPAL

Abastecimento para consumo humano após


Especial desinfecção; preservação dos ambientes
aquáticos

Abastecimento para consumo humano após


tratamento simplificado; recreação de contato
1
primário; irrigação de hortaliças e frutas;
proteção das comunidades aquáticas

Abastecimento para consumo humano após


2 tratamento convencional; recreação e contato
primário; irrigação; aquicultura e pesca

Abastecimento para consumo humano após


tratamento avançado; recreação de contato
3
secundário; irrigação; pesca amadora;
dessedentação de animais

4 Navegação e harmonia paisagística

Fonte: Brasil (2005)

A Resolução 357/05 estabelece em seu Artigo 42 que enquanto não houver o


enquadramento da água doce em determinada classificação, a mesma será
considerada classe 2.
Na Tabela 3 estão as condições e os valores padrões, previstos para diversos
parâmetros, referentes à Classe 2, de acordo com a resolução mencionada.

Tabela 3: Condições e Padrões de qualidade para águas doces Classe 2 estabelecidos na


Resolução CONAMA 357/05 (BRASIL, 2005).

VARIÁVEIS VALOR MÁXIMO


Coliformes Termotolerantes Até 1000 UFC/100 ml
Ausência comprovada pela realização de
Efeito tóxico crônico a organismos
ensaio ecotoxicológico
Clorofila a Até 30 µg/L
Densidade de cianobactérias 50.000 cel/mL ou 5 mm³/L
Sólidos dissolvidos totais 500mg/L
Substâncias que comuniquem gosto ou
Virtualmente ausentes
odor
Corantes provenientes de fontes
Virtualmente ausentes
antrópicas
Cor verdadeira até 75 mg Pt/L
Fonte: Brasil (2005)
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CONTINUAÇÂO Tabela 3: Condições e Padrões de qualidade para águas doces Classe 2


estabelecidos na Resolução CONAMA 357/05 (BRASIL, 2005).

VARIÁVEIS VALOR MÁXIMO


Óleos e graxas Virtualmente ausentes
Resíduos sólidos objetáveis Virtualmente ausentes
DBO 5 dias a 20°C Até 5 mg/L O2
OD, em qualquer amostra Não inferior a 5 mg/L O2
Até 100 unidades nefelométrica de turbidez
Turbidez
(UNT);
pH 6,0 a 9,0
Bário total 0,7 m g/L Ba
Berílio total 0,04 m g/L Be
Boro total 0,5 m g/L B
Cádmio total 0,001 m g/L Cd
Chumbo total 0,01 m g/L Pb
Cianeto livre 0,005 m g/L CN
Cloreto total 250 m g/L Cl
Cloro residual total ( combi nado +
0,01 m g/L Cl
livre)
Cobalto total 0,05 m g/L Co
Cobre dissolvido 0,009 m g/L Cu
Cromo total 0,05 m g/L Cr
Ferro dissolvido 0,3 m g/L Fe
Fluoreto total 1,4 m g/L F
Fósforo total (ambiente lêntico) 0,03 m g/L P
Fósforo total (ambiente
intermediário, com t empo de
residência entre 2 e 40 dias, e 0,05 m g/L P
tributários diretos de ambiente
lêntico)
Fosfato total ( ambiente lótico e
tributários de ambientes 0,1 m g/L P
intermediários)
Lítio total 2,5 m g/L Li
M anganês total 0,1 m g/L Mn
M ercúrio total 0,0002 m g/L Hg
Níquel tot al 0,025 m g/L Ni
Nitrato 10 m g/L N
Nitrito 1,0 m g/L N
3,7 m g/L N, para pH ≤ 7,5
2,0 m g/L N, para 7,5 < pH ≤ 8,0
Nitrogênio amonical t otal
1,0 m g/L N, para 8,0 < pH ≤ 8,5
0,5 m g/L N, para pH > 8,5
Prata total 0,01 m g/L Ag
Sêlenio total 0,01 m g/L Se
Sulfato total 250 m g/L SO 4
Sulfeto (H 2 S não dissociado) 0,002 m g/L S
Urânio total 0,02 m g/L U
Vanádio total 0,1 m g/L V
Zinco total 0,18 m g/L Zn
Fonte: Brasil (2005)

Cada uma dessas variáveis de qualidade representa uma característica física,


química ou biológica do corpo d’água e possui suas propriedades que permitem uma
avaliação e interpretação do resultado em relação à condição do recurso hídrico.
15

Alterações na qualidade e quantidade da água podem ser geradas por diversas


ações antrópicas, sendo uma das principais delas a ocupação urbana. O
desenvolvimento urbano próximo aos cursos d’água altera a cobertura vegetal
presente, ocasionando efeitos que comprometem o ciclo natural hidrológico. Esse
movimento, principalmente desordenado da urbanização, acarreta a entrada de
materiais que comprometem a infiltração no solo, dessa forma o volume de água
que não é absorvido pelo solo, continua na superfície e aumenta o escoamento
superficial. Esse aumento torna mais rápido o escoamento e reduz o tempo de
deslocamento da agua na superfície. Desta forma as vazões aumentam e
juntamente à diminuição da infiltração, o nível do lençol freático diminui por falta da
alimentação correta. Devido a substituição da cobertura natural observa-se uma
redução da evapotranspiração e como a superfície urbana não retém agua
facilmente, é freada a evapotranspiração do solo e de folhagens. (TUCCI, 1997)
Com a urbanização, elementos antrópicos são introduzidos nas bacias
hidrográficas e atuam sobre elas de forma negativa. O aumento da temperatura, de
sedimentos produzidos pela construção civil e demais descartes irregulares, a
presença de contaminantes químicos e biológicos oriundos de atividades como
agricultura e criação de animais, além de despejos de esgotos doméstico e
industrial, são elementos que trazem riscos para a preservação e manutenção dos
cursos d’água de bacias presentes nas proximidades das áreas urbanas. (VON
SPERLING, 2005)
Como visto anteriormente, a qualidade da água dos recursos hídricos
superficiais pode ser comparada e classificada por meio dos parâmetros e seus
respectivos valores padrões regulamentados pela legislação vigente. No entanto
estes resultados isoladamente geram certa dificuldade quando se deseja uma
identificação e avaliação de modo geral sobre qualidade de um corpo hídrico. Por
este motivo e para facilitar a avaliação e divulgação de resultados para a população
foram criados índices que atribuem valores ou notas de acordo com cálculos
realizados a partir de resultados obtidos em análises de determinados parâmetros. O
IQA, desenvolvido pela National Sanitation Foundation (NSF) dos Estados Unidos da
América, é calculado através de um produto de nove parâmetros considerados mais
relevantes, que são: coliformes termotolerantes, pH, demanda bioquímica de
oxigênio, nitrato, fosfato total, temperatura da água, turbidez, sólidos totais e
oxigênio dissolvido (no Brasil o nitrato foi substituído por nitrogênio total pela
16

Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, a CETESB); elevados aos seus


respectivos pesos. Os resultados do índice variam de 0 a 100 (VON SPERLING,
2007).
A equação do IQA é:

(1)
Em que:
 IQA: varia entre os valore 0 e 100;
 qi: qualidade do i-ésimo parâmetro (valor entre 0 e 100, obtido da respectiva
“curva média de variação de qualidade”, em função de sua concentração ou
medida);
 wi: peso correspondente ao i-ésimo parâmetro (valor entre 0 e 1, atribuído em
função da sua importância para a conformação global de qualidade);
 i: número do parâmetro variando de 1 a 9 (LIBÂNIO, 2010).

Para se obter os valores de ‘qi ’ , estes foram relacionados aos resultados das
análises da água de diferentes maneiras a cada variável. A Figura 4 exibe as curvas
de qualidade da água para cada parâmetro utilizado, que foram elaboradas pelo
NSF.
17

Figura 4: Exemplos de curvas de qualidade de água elaboradas por meio do método NSF.
Fonte: von Sperling (2007, p. 254)

Os pesos (w1 a w9) apresentados na Figura 5 foram elaborados pelos


especialistas que desenvolveram o IQA-NSF e traduzem a importância relativa de
cada parâmetro.
18

Figura 5: Parâmetros relacionados com os respectivos pesos de determinação do IQA-NSF.

Portanto, utilizando-se as curvas do IQA da Figura 4, para cada parâmetro, e


ponderando-se o resultado obtido, pelos pesos exibidos na Figura 5, nos cálculos
através da equação 1, chega-se a uma nota variando de 0 a 100, e esta é
classificada em níveis excelente, bom, regular, ruim ou muito ruim, além de receber
uma coloração ilustrativa, conforme a Tabela 4.

Tabela 4: Classificação da qualidade da água segundo o IQA-NSF

NÍVEL COR Faixa de IQA


Excelente Azul 90 < IQA ≤ 100
Bom Verde 70 < IQA ≤ 90

Médio Amarela 50 < IQA ≤ 70


Ruim Laranja 25 < IQA ≤ 50
Muito Ruim Vermelha 0 < IQA ≤ 25

Fonte: von Sperling (2007, p. 257)


19

4. METODOLOGIA

4.1. Caracterização Geral da Bacia Hidrográfica do Córrego Vai e Volta

O município de Poços de Caldas está situado na região do Planalto do Sul de


Minas Gerais, componente da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná, margeado pelo Rio
Pardo. De acordo com o IBGE (2010) a cidade possui cerca de 150 mil habitantes
com um índice de urbanização de 97%.
O Córrego Vai e Volta é tributário do Ribeirão de Caldas, que após a
confluência com o Ribeirão da Serra formam o Ribeirão de Poços, que é afluente do
Ribeirão das Antas.
A área da Bacia Hidrográfica do Córrego Vai e Volta está assentada em rochas
alcalinas intrusivas muito consistentes, fraturadas e com pouca decomposição. É
considerada uma área de significativo potencial de exploração hídrica no que diz
respeito ao aproveitamento de reservas subterrâneas em zonas fraturadas. A
elevada pluviosidade e os pequenos períodos de estiagem absoluta garantem o
abastecimento do curso principal o ano todo.
O córrego é contido por uma barragem de captação de água da Estação de
Tratamento de Água 3 (ETA 3) do Departamento Municipal de Água e Esgoto de
Poços de Caldas (DMAE) a uma taxa que varia entre 9 e 10 litros por segundo,
contribuindo com o abastecimento de água da cidade, antes de escoar para a região
sul da área urbana central (FERRAZ; LIMA; BALLERINI, 2002).
Conforme a Lei Municipal 2.647/78 a nascente do Córrego Vai e Volta foi
considerado como área de proteção, devido a sua utilização como manancial de
abastecimento, onde os possíveis usos e ocupações do solo foram regulamentados
de maneira a garantir a preservação da região de drenagem deste manancial
(POÇOS DE CALDAS, 1978).
A Tabela 5 apresenta resultados obtidos por Oliveira et al. (2011) em uma
caracterização ambiental preliminar realizada na Bacia Hidrográfica do Córrego Vai
e Volta. Nesse estudo também foram produzidas cartas gráficas através de recursos
computacionais para Topografia e Ocupação Urbana, nas Figuras 6 e 7,
respectivamente.
20

Tabela 5: Morfometria da Rede de Drenagem da Bacia Hidrográfica do Córrego Vai e Volta

DADOS RESULTADOS
Área (A) 4,96 km²
Perímetro (P) 10,810 km
Raio 1,256 km
Diâmetro 2,513 km
Número de cursos d’água 35 cursos
Fator de forma (Kf) 0,242 adimensional
Relação de elongação (Re) 0,556 adimensional
Relação de relevo (Rr) 0,068 adimensional
Densidade hidrográfica 7,258 canais/km²
Densidade de drenagem (Dd) 3,346 Km.km-2
Coeficiente de compacidade (Kc) 1,359 adimensional
Comprimento Axial (L) 4,522 km

Fonte: Oliveira et. al. (2011, p.25)

Figura 6: Carta gráfica de topografia da área de drenagem da bacia hidrográfica


do Córrego Vai e Volta
Fonte: Oliveira et. al. (2011, p.22)
21

Figura 7: Carta gráfica de ocupação urbana da área de drenagem da bacia


hidrográfica do Córrego Vai e Volta
Fonte: Oliveira et. al. (2011, p.23)

As Figuras 8 e 9 são imagens de satélite da bacia e uma delimitação da região da


mesma, respectivamente. Nessas imagens pode-se observar o ambiente
contrastante entre meio urbanizado e não urbanizado dentro da área da bacia.
22

Figura 8: Imagem de satélite da bacia hidrográfica do Córrego Vai e Volta


Fonte: Google Maps (adaptado)

Figura 9: Imagem da bacia hidrográfica do Córrego Vai e Volta, delimitada em


vermelho
Fonte: Arquivo pessoal de Marcos Vinícius Rocha Miranda
23

4.2. Avaliação da Qualidade de Água

Foram estabelecidos quatro pontos de coleta ao longo do Vai e Volta a fim de


constatarem perímetros urbanos e zona rural, denominados P1, P2, P3 e P4, cujos
dados e informações relevantes estão expressos na Tabela 6 e ilustrados na Figura
10.

Tabela 6: Dados dos pontos amostrais na Bacia do Vai e Volta.

Descrição do local
Ponto Endereço Latitude* Longitude* Altitude (m)
de coleta

Av. Fosco Pardini, n° 3590 Barragem de captação de


P1 Bairro São José água do DMAE 337606 7587196 1272

Estrada de terra,
acesso pela R. Frederico Passarela de madeira sobre
P2 Laier, próximo ao n° 166 o córrego ao final do escadão 337606 7587926 1232
Jardim Victória I

R. Dovílio Taconi, próximo De frente para o ginásio


P3 ao n° 575 poliesportivo 337642 7588296 1210
Jardim Quisisana

R. Rio Grande do Norte,


Ponte sobre o córrego ao
P4 próximo ao n° 75
lado da Coopoços 337783 7589342 1200
Centro

* Dados GPS em UTM (zona 23K)

Figura 10: Imagem de satélite dos pontos de amostragem na bacia hidrográfica


do Córrego Vai e Volta
Fonte: Google Maps (adaptado)
24

As coletas de amostras nos pontos acima citados foram realizadas em duas


datas, nos períodos de estiagem e chuvoso. A primeira realizou-se nos dias 9 e 10
de dezembro de 2013, período chuvoso, onde foram analisadas as amostras apenas
dos pontos P1, P2 e P4. A segunda amostragem aconteceu no dia 19 de maio de
2014 onde foram analisadas amostras de todos os pontos.
Na primeira coleta (dezembro/2013), as amostras foram encaminhadas ao
laboratório do DMAE, onde analisaram-se parâmetros físico-químicos e
microbiológicos, conforme a Tabela 7

Tabela 7: Variáveis analisadas pelo laboratório do DMAE e os respectivos métodos

Variável Método
pH Potenciométrico
Condutividade Potenciométrico
Turbidez Nefelométrico
Oxigênio dissolvido Oxímetro
Sólidos totais dissolvidos Gravimétrico
Coliformes Totais Tubos múltiplos
Coliformes Termotolerantes Tubos múltiplos

Na segunda coleta das amostras (maio/2014), período de estiagem, as


análises físico-químicas foram realizadas em campo com um equipamento
multiparâmeto marca HORIBA U-53 (que possui um sistema de análise da qualidade
da água com precisão de laboratório) este equipamento apresenta duas
extremidades, uma formada por uma série de sensores que analisam 11 variáveis e
outra que apresenta um pequeno monitor, pelo qual é possível ver tais variáveis
medidas, as variáveis analisadas foram: pH, Temperatura (ºC), Turbidez (NTU),
Sólidos totais dissolvidos (mg/L), Oxigênio dissolvido (mg/L), Condutividade (uS/cm),
no laboratório da UNIFAL-MG também foram feitas análises de Coliforme Totais e
Escherichia coli através do método da Membrana Filtrante.
25

4.3. Aplicação do Índice de Qualidade da Água (IQA)

No presente estudo aplicou-se o IQA para a avaliação da qualidade da água ao


longo do Córrego Vai e Volta, amostrado na segunda campanha de coleta, realizada
em maio de 2014.
Partindo dos resultados das análises dessas amostras, realizadas pelo DMAE,
em campo, e pelo laboratório da UNIFAL-MG, utilizou-se a ferramenta
computacional “IQAData”, desenvolvido por Selt e Costa, 2010. Este aplicativo além
de utilizar a base da NSF, permite também que se crie uma base de cálculos
específica, inserindo novos pesos para os parâmetros, nos quais se deseja analisar
a qualidade da água.
Para a análise do IQA, o software IQAData recebeu os resultados de 6 das
variáveis utilizadas. Para resultados coerentes alterou-se os pesos de cada variável,
porém manteve-se proporcionalmente a mesma representatividade que cada
variável possuía no método IQA-NSF (Figura 5). As variáveis incluídas no software e
os respectivos pesos estão na Tabela 8.

Tabela 8: Variáveis utilizadas e seus respectivos pesos para o cálculo do IQA nas amostras
coletadas
Variável Unidade Peso
Sólidos totais dissolvidos mg/L 0,10
Turbidez NTU 0,12
Temperatura °C 0,14
pH - 0,16
Coliformes
NMP ou UFC
Termotolerantes ou 0,23
/100 mL
Escherichia coli
Oxigênio dissolvido mg/L 0,25
Total - 1,00

Dessa maneira, após a inserção dos resultados dos parâmetros acima no


IQAData, e o software automaticamente retornou uma nota do IQA para cada ponto
amostrado, gerando gráficos para melhor análise.
26

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Avaliação da Qualidade da Água

Os resultados das duas amostragens foram organizados na Tabela 9.

Tabela 9: Resultado das análises, em campo e laboratório, da primeira coleta (9 e 10 de dezembro de 2013) e da segunda coleta (19 de maio de 2014)

PARÂMETROS
D
A T. do T. da
TEMPO PONTO Turb. Cond. STD O.D. Colif. Totais Coli. Termo. Coli. Totais E. coli
T Hora ar água pH
A (NTU) (μS/cm) (mg/L) (mg/L) (NMP/100 ml) (NMP/100 ml) (UFC/100 ml) (UFC/100 ml)
(°C) (°C)

9e Chuva P1 08:40 20 19,2 6,50 4,19 - 8 7,26 2,2 x 104 2,2 x 104 - -
10 nas
dez
P2 09:30 20 19,9 6,90 4,73 121,2 57 3,85 5,0 x 105 8,0 x 104 - -
últimas
13
24h P4 09:03 20 20,3 6,88 4,56 105,3 50 7,14 1,6 x 105 2,2 x 104 - -
P1 14:25 23 17,61 6,57 2,4 15 10 7,04 - - 5,4 x 10³ 2,0 x 10²
19 P2 14:05 25 17,41 6,26 1,7 69 45 6,43 - - 5,4 x 104 4,2 x 103
mai Seco
14 P3 13:50 24 17,67 6,18 2,1 76 49 6,30 - - 9,3 x 104 1,9 x 104
P4 14:42 27 18,67 6,45 10,7 113 74 5,40 - - 4,5 x 105 2,0 x 105
27

As Figuras 11 a 20 representam a variação espaço-temporal das variáveis


medidas.

Figura 11: Comparação espaço temporal dos Figura 12: Comparação espaço temporal dos
resultados de análises de temperatura da resultados de análises de Oxigênio
água. Dissolvido.

Figura 13: Comparação espaço temporal dos Figura 14: Comparação espaço temporal dos
resultados de análises de STD. resultados de análises de pH.

Figura 15: Comparação espaço temporal dos Figura 16: Comparação espaço temporal dos
resultados de Condutividade Elétrica. resultados de Turbidez
28

Figura 17: Comparação dos resultados de Figura 18: Comparação dos resultados de
análises de Coliformes Totais em dez/13. análises de Coliformes Totais em maio/14.

Figura 19: Comparação dos resultados de Figura 20: Comparação dos resultados de
análises de Colif. Termotolerantes em dez/13. análises de Escherichia coli em maio/13.

No ponto 1 os resultados obtidos indicam boa qualidade da água. Porém, na


primeira coleta, o parâmetro coliformes termotolerantes teve resultado cerca de vinte
vezes maior que o definido pela Resolução CONAMA 357/05 (Tabela 3).
No ponto 2, percebe-se a queda na qualidade da água. Na primeira coleta, o
resultado de 3,85 mg/L de oxigênio dissolvido está muito abaixo do indicado pela
legislação, que é no mínimo 5 mg/L. A partir deste ponto as variáveis
microbiológicas passaram a sofrer grandes alterações, fato constatado em ambas as
coletas. Também houve aumento significativo dos sólidos totais dissolvidos e da
condutividade elétrica.
O ponto 3, que foi analisado apenas na segunda coleta, apresentou altos
valores nos resultados dos coliformes totais e E. coli, da ordem de dez mil unidades
formadoras de colônia.
O ponto 4, nos resultados da primeira coleta, apresentou manutenção dos
coliformes termotolerantes na mesma ordem de grandeza e uma significativa
29

melhora do oxigênio dissolvido. Já na segunda coleta, observou-se uma grande


queda da qualidade da água em relação aos outros pontos com o aumento da
condutividade elétrica, dos sólidos totais dissolvidos, dos parâmetros microbiológicos
e diminuição do oxigênio dissolvido.
No geral, na variação espaço temporal, a temperatura da água, o pH e a
turbidez resultaram valores dentro dos limites estabelecidos pela legislação.
Em relação à presença de coliformes termotolerantes pode-se analisar
algumas questões. Segundo von Sperling (2007) a presença desse contaminante
tem origem das fezes humanas ou de animais. No ponto 1, onde não há urbanização
à montante pode-se concluir que o resultado se deve à contaminação por fezes de
animais silvestres. E, ao longo do curso d’água, onde houve grande aumento da
presença destes coliformes, pressupõe-se que haja despejo de esgoto doméstico ou
contaminação por fossas irregulares. De acordo com Vasconcelos, Iganci e Ribeiro
(2006), o fato de que no período chuvoso obteve-se maiores valores em relação ao
período de estiagem é devido ao maior arraste dos contaminantes pela ação da
chuva.
De acordo com CETESB (2014), o aumento da condutividade elétrica não
fornece dados quantitativos sobre determinada fonte poluidora, mas índica a
mineralização do corpo d’água e este valor aumenta na medida em que cresce a
presença dos sólidos, que podem ser oriundos de poluição. Essa ocorrência também
foi observada em nossos resultados.
A redução do oxigênio dissolvido se deu na medida em que aumentou-se o
número de coliformes totais e termotolerantes. Conforme levantado por Almeida et al
(2004), um fato está diretamente relacionado ao outro pois, neste caso, o consumo
do oxigênio dissolvido se deve à intensa atividade microbiana. O valor deste
parâmetro encontrado para o ponto 4 na primeira coleta, que foi superior ao
esperado, pode ser devido ao fenômeno da autodepuração, ou ainda pode estar
relacionado à interferência das precipitações na região da bacia, conforme
observado por Mercante (2005).

5.2 IQA – Índice de Qualidade da Água

Os resultados dos cálculos do Índice de Qualidade da Água estão na Tabela 10


e nas Figuras 21 e 22.
30

Tabela 10: IQA calculado para as duas coletas realizadas e as respectivas classificações

DATA DA COLETA PONTO IQA NÌVEL


P1 50,12 MÉDIO
9 e 10/dez/13 P2 37,11 RUIM
P4 51,82 MÉDIO
P1 71,10 BOM
P2 55,31 MÉDIO
19/mai/14
P3 47,92 RUIM
P4 32,69 RUIM

Figura 21: Comparação dos resultados do IQA em dezembro/2013


(P1: Médio; P2: Ruim; P4: Médio.)

Figura 22: Comparação dos resultados do IQA em maio/2014


(P1: Bom; P2: Médio; P3: Ruim; P4: Ruim.)
31

Os resultados do IQA nos fornecem de maneira resumida informações sobre a


qualidade de um corpo d’água. Nas análises de dezembro/2013 pudemos observar
uma queda significativa na qualidade no ponto 2, e depois sendo retomada no ponto
3. Isso pode ser explicado pelo fato de que a baixa concentração de oxigênio
dissolvido nesse ponto foi a principal responsável pela queda na nota. A
recuperação da qualidade da água pode estar ligada a autodepuração do córrego.
Em relação ao IQA de maio/2014 nota-se que a redução do mesmo foi
notavelmente linear. É válido ressaltar que, nessa amostragem, observou-se uma
redução gradativa do oxigênio dissolvido ponto a ponto, ao passo que a presença de
E. coli aumentou exponencialmente, fatores estes que foram quase que
exclusivamente responsáveis pelas notas obtidas. Pode-se observar ainda que estes
índices de qualidade evidenciaram o resultado de uma influência antrópica
acumulativa, visto que o ponto 1 se situa em uma região praticamente rural, no
ponto 2 há o início da urbanização, no ponto 3 se observa uma paisagem quase que
completamente urbanizada, e por fim no ponto 4 o córrego já passou por inúmeras
interferências como canalizações, desvios e despejos.
32

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A qualidade e quantidade de água em uma bacia hidrográfica é resultado de


fatores naturais, como tipo de solo, cobertura vegetal, declividade, volume de
precipitação, entre outros. No entanto, pode, também, ser resultado de interferências
antrópicas.
A bacia hidrográfica do Córrego Vai e Volta é um importante objeto para o
estudo dessas relações, por dois principais motivos: o uso nobre da água do seu
curso principal, que é o abastecimento humano, e também a maneira contrastante
em que se apresenta a área não urbanizada, praticamente rural, próximo às
nascentes e a área de progressiva urbanização em direção à confluência do córrego
com o Ribeirão de Caldas. Foi nesse sentido que se estabeleceu a realização desta
pesquisa, buscando o entendimento das influências da ocupação urbana sobre a
qualidade da água.
As estações representativas de amostragem estabelecidas mostraram além
dos contrastes ambientais entre zona urbana e rural, contrastes socioeconômicos
preocupantes. Os resultados obtidos sugerem contaminação difusa por esgoto
doméstico ao longo de todo o córrego, e este fato é comprovado quando se percebe
a situação precária que vivem muitas famílias à beira do córrego. Nas proximidades
do ponto 2 é possível perceber que não há coleta de lixo adequada e as famílias
convivem com o mau cheiro, vindo do córrego, diariamente, além do transbordo da
água em períodos muito chuvosos, o qual atinge várias casas ao entorno do
córrego. Mais à jusante percebe-se uma melhora nesta situação, principalmente
após o ponto 3 onde há a canalização do córrego e as condições de saneamento
básico são melhores, no entanto a qualidade da água continua em queda.
Portanto, fica evidente a influência da ocupação urbana sobre a qualidade da
água da bacia hidrográfica do córrego vai e volta, na forma de degradação. É
necessário que se procure por medidas que possam sanar ou reduzir as
contaminações ao longo do córrego, como por exemplo, a identificação de possíveis
despejos clandestinos diretamente no córrego, a substituição de possíveis fossas
existentes por redes coletoras de esgoto, a garantia da coleta do lixo doméstico,
principalmente nas proximidades do ponto 2, em conjunto com campanhas de
conscientização, voltada para a população, que aborde esta questão da destinação
correta dos resíduos domésticos. Em relação à captação no manancial, é de
33

utilidade continuar garantindo a preservação da mata ciliar ao redor das nascentes e


incentivar projetos que viabilizem o reflorestamento dessa área.
34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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córrego "Ribeirão dos Porcos" no município Espírito Santo do Pinhal - SP.
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Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do Art. 21 da Constituição Federal, e altera o Art.
1º da Lei Nº 8.001, de 13 de Março de 1990, que modificou a Lei Nº 7.990, de 28 de
Dezembro de 1989. Brasília.

BRASIL. Resolução nº 357, de 17 de janeiro de 2005. Dispõe sobre a classificação


dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como
estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras
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Meio Ambiente; Agência Nacional de Águas, 2007. 60 p.

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35

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POÇOS DE CALDAS (Município). Lei nº 2647, de 27 de janeiro de 1978. Disciplina


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