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refere-se ao estabelecimento Em 2011, TAESA e Bras-

Equipamentos de Alta Tensão – Prospecção e H ierarquização de Inovações Tecnológicas


e aplicação de metodologia norte propuseram o seguinte
de hierarquização aos temas projeto de pesquisa no âmbito

SEP - EQUIPAMENTOS
selecionados, considerando do programa de P&D da Aneel
as dimensões: aumento da – Prospecção e Hierarquiza-
capacidade de transporte, au- ção de Inovações Tecnológicas
mento da confiabilidade, re- Aplicadas a Equipamentos de
dução do impacto ambiental
e redução dos custos.
DE ALTA TENSÃO Alta Tensão em Corrente Al-
ternada. Este projeto denomi-
Durante a realização des- nado de INOVAEQ, teve como
ta pesquisa, surgiu a ideia de
fazer uma atualização do livro
prospecção e Hierarquização objetivo analisar as inovações
aplicadas aos equipamentos
publicado em 1985 – Equipa- de alta tensão, de maneira a
mentos Elétricos, Especificação
e Aplicação em Subestações
de inovações tecnológicas levantar e analisar as tecnolo-
gias empregadas em equipa-
de Alta Tensão – pela Univer- mentos, apresentando aquelas
sidade Federal Fluminense mais promissoras para futuros
em parceria com a empresa desenvolvimentos.
Furnas Centrais Elétricas S.A. Este projeto foi executado
Este livro foi resultado da con- pela Fundação de Empreendi-
solidação dos conhecimentos mentos Científicos e Tecnoló-
de uma equipe de engenheiros gicos (Finatec) da Universida-
que enfrentou diversos desa- de de Brasília (UnB), com uma
fios na implantação do sistema equipe constituída de pro-
de transmissão de Furnas. fessores, bolsistas e alunos
Foi então concebido juntar que participaram de diversas
a missão da atualização do li- etapas do projeto e contribuí-
vro original com os resultados ram de forma relevante para a
do atual projeto de pesquisa. prospecção e hierarquização
Deve-se ressaltar que muitos das inovações tecnológicas
dos autores do livro de 1985, aplicadas aos equipamentos.
ainda atuantes no setor de O projeto foi conduzido
energia elétrica, concordaram em três etapas. Na primeira,
em contribuir para este novo li- foi realizada a contextualiza-
vro, repartindo quando neces- ção do tema a partir da análise
sário esta tarefa com outros dos diversos estudos necessá-
técnicos ligados à indústria de rios para a implantação de um
fabricação de equipamentos. equipamento, da análise do
Formou-se, assim, um sistema de transmissão atual,
grupo de especialistas, pro- da expansão planejada e dos
fessores e alunos que têm indicadores de desempenho.
neste momento a recompen- A segunda etapa refere-se à
sa de entregar uma obra de realização das atividades de
relevante conteúdo que cer- prospecção para a identifica-
tamente irá contribuir para ção e análise dos temas que
o aprimoramento do setor Brasília poderiam conduzir a inova-
elétrico brasileiro. 2013 ções tecnológicas. Já a terceira
JANEIRO 2016
Apoio

44

Capítulo I
Equipamentos para subestações de T&D

Definições e estudos do sistema elétrico que servem de


base para as especificações técnicas dos equipamentos
para subestações de transmissão e distribuição
Por Sergio Feitoza Costa*

Nesta série de fascículos, são Cigré Internacional em dezembro de 2014: especificações técnicas dos equipamentos.
apresentados conceitos de engenharia para o Tools For The Simulation Of The Effects
projeto e especificação de equipamentos de Of The Internal Arc In Transmission And Tensões e correntes aplicadas
subestações de transmissão e distribuição. Distribution Switchgear; nos equipamentos de uma
São abordadas todas as fases do ciclo de vida • Disjuntores, secionadores, painéis subestação
dos equipamentos, desde o planejamento e para-raios: especificações técnicas
dos valores de tensões e correntes da futura de equipamentos de subestações por No dia a dia dos equipamentos elétricos
subestação até sua utilização propriamente concessionárias de energia; de uma subestação, além das situações
dita. • Transformadores, reatores, proteção “normais” em regime permanente ocorrem
Para facilitar a compreensão, os contra incêndios: especificações técnicas situações “anormais” como curtos-circuitos
capítulos serão agrupados nos seguintes de equipamentos de subestações por e sobretensões.
temas: concessionárias de energia; Nas situações normais, são aplicadas
• Equipamentos para usos em locais correntes e tensões não superiores aos
• Definições e estudos do sistema elétrico especiais (atmosferas explosivas, alta valores nominais dos equipamentos.
que servem de base para as especificações salinidade, poluição): técnicas de projeto, Pode-se dizer que um equipamento que foi
técnicas dos equipamentos; ensaios e normas; projetado para operar durante uma certa
• Curtos-circuitos, ampacidades, sobrecargas • Normas técnicas sobre painéis de baixa vida útil, se for utilizado até seus valores
e contatos elétricos (fundamentos do projeto tensão: conceitos, regras de projeto e nominais terá um envelhecimento normal.
para elevação de temperatura, forças e oportunidades para evitar a repetição de Neste caso, as elevações de temperatura
tensões eletrodinâmicas no curto circuito, ensaios; de partes metálicas, conexões e isolantes não
tensões transitórias de restabelecimento e • Normas técnicas sobre painéis de média e ultrapassam certos limites especificados nas
processos de interrupção e aspectos de arcos alta tensões: conceitos, a nova IEC 62271- normas técnicas para os ensaios de elevação de
de potência); 307 (2015) sobre extensão da validade de temperatura. Da mesma forma, para as tensões,
• Técnicas de ensaios de alta potência, relatórios de ensaios; se os valores não passam muito dos valores
laboratórios de ensaios e fundamentos dos • Técnicas para simulação de ensaios de alta nominais, o isolamento não é prejudicado ou
principais ensaios; potência e aplicações no desenvolvimento e tem seu envelhecimento acelerado.
• Estudos elétricos de sobretensões, coor­ certificação de produtos; As situações “anormais” mais comuns
de­­
nação de isolamento, aterramento, • Tecnologias atuais e futuras para os são:
determinação de efeitos e impactos de principais equipamentos para subestações
campos elétricos e magnéticos; de transmissão e distribuição. • Sobrecorrentes de curta duração causadas
• Particularidades dos arcos de potência por curtos-circuitos (< 3 s);
internos e externos, segurança de pessoas O texto a seguir é o primeiro tema da • Sobrecorrentes de longa duração (dezenas
e instalações e informações sobre a série e trata das definições e estudos do de segundos ou minutos) causadas por
“Brochura Cigré 602”, publicada pelo sistema elétrico que servem de base para as sobrecargas;
Apoio

• Sobretensões de longa duração (s ou dezenas voluntária (PDVs) tiraram prematuramente contatos, terminais, conexões, soldas e 45
de s) causadas por distúrbios no sistema; do trabalho a maior parte do excelente corpo isolantes. Tais partes podem ter limitações
• Sobretensões de curtíssima duração (µs) técnico formado pouco antes. É um erro quanto às máximas temperaturas ou
como as ondas de impulso. grosseiro de planejamento que demonstra elevações de temperaturas permissíveis. Os
falta de interesse no longo prazo. Parece valores são influenciados pelos diferentes
Em consequência destas podem que longo prazo agora é o período de um ciclos de correntes.
ocorrer efeitos elétricos ou mecânicos mandato. Saímos da boa rota de investir Nas normas IEC, base das normas
importantes, conduzindo a falhas mais ou em tecnologia e capacitação para investir brasileiras, os valores de temperaturas e
menos imediatas na instalação. Embora apenas em marketing de realizações que os elevações de temperatura permissíveis
levem sempre a culpa, estes eventos são escândalos e os fatos mostram que não são partem dos princípios de que a temperatura
totalmente previsíveis, não mudaram muito verdade. As seguidas mudanças de modelo do ambiente não excede a 40 °C e seu valor
nos últimos 100 anos e não são os culpados setor elétrico não nos levaram à frente. médio em período de 24h não excede a 35
de apagões e outras anormalidades. Para °C. Se a temperatura do ambiente em que
lidar com estes basta ter bom planejamento Sobrecorrentes de longa duração o equipamento está instalado é superior a
e capacitação técnica. São causadas por sobrecargas de estes 40 °C, os limites de norma, para efeito
Nestes aspectos, em meus 60 anos, dezenas de segundos até alguns minutos. de ensaios de elevação de temperatura,
testemunhei, nos setores elétrico e de energia, A temperatura de partes dos equipamentos devem ser reduzidos.
muitos avanços dos anos 1970 até meados pode tornar-se mais elevada que a Por exemplo, se o limite especificado
dos 1990. Depois entramos em uma trajetória suportabilidade dos materiais isolantes. na norma para a elevação máxima de
descendente. Nos últimos 15 anos, à medida Esta é caracterizada pelos limites que não temperatura de uma conexão é de 75 K e o
que o Brasil crescia, a capacitação técnica e podem ser excedidos aos especificados nas equipamento é instalado em um local em
a disponibilidade de laboratórios de ensaios normas técnicas, para ensaios de elevação que a temperatura máxima do ar ambiente
decresceu. Seguidos planos de demissão de temperatura. São limites aplicáveis a é de 50 °C, o limite a não ultrapassar no
Apoio

46 ensaio de elevação de temperatura será de Tabela 1 – Alguns valores das máximas temperaturas e elevações permitidas nas normas IEC
75 - 10 = 65 K ao invés de 75 K. Um ótimo
Equipamentos para subestações de T&D

documento para entender melhor estes


conceitos é a IEC/TR 60943: Guidance
concerning the permissible temperature
rise for parts of electrical equipment, in
particular for terminals (ver Tabela 1).
Se estes limites são excedidos no dia
a dia da utilização dos equipamentos,
por exemplo, nas sobrecargas das horas
de ponta, o equipamento tem seu
envelhecimento normal acelerado de forma
calculável. Por exemplo, considere que se
aplica uma sobrecarga e a temperatura do
fluido envolvendo um contato ou terminal
passa de Te1 para Te2 e que a elevação de
temperatura naquele passa de ΔTi1 para
ΔTi2. De acordo com expressão de cálculo
mostrada na IEC 60943, a vida útil do
componente é multiplicada por um fator de
envelhecimento K expresso por:

K = 2 [(ΔTi1- ΔTi2) / Δi + (Te1-Te2)/ Δe]

ΔTi1 e ΔTi2 são as elevações de temperatura


do componente nas condições normais e de
sobrecarga. Te1 e Te2 são as temperaturas
do fluido em torno do componente nas
mesmas condições.
Com base nesta expressão, se um
contato de cobre tem máxima elevação
de temperatura permitida pela norma de
ΔTi = 35K e é utilizado regularmente com Figura 1 – Elevação de temperatura durante circuitos.

elevação de temperatura de ΔTi2 = 35K +


6,5 = 41,5 K sua vida útil é reduzida em algo Sobrecorrentes de curta duração nos momentos iniciais da circulação das
da ordem de 50%. São causadas por curtos circuitos correntes. Na norma IEC 61117: Method
Os limites máximos de elevação havendo dois efeitos importantes a for assessing the short-circuit withstand
de temperatura das normas levam em considerar: strength of partially type-tested assemblies
conta dois grupos de valores. O primeiro (PTTA), são mostrados os métodos de
corresponde a partes de componentes • Superelevações adiabáticas de temperatura cálculo, considerando-se, inclusive, os
cujas temperaturas não devem exceder que podem chegar a recozer peças de cobre efeitos de ressonâncias. No fascículo sobre
certo valor que ocasionaria muito rápida ou mesmo fundir componentes. A Figura 1 simulações de ensaios de alta potência,
ou imediata destruição. Esta é a situação mostra a equação base de cálculo; serão mostrados exemplos detalhados
de materiais isolantes, contatos estanhados • Os efeitos eletrodinâmicos das correntes extraídos do documento “Validação da
e molas. O segundo grupo diz respeito a de curto-circuito podem implicar em Simulação de Ensaios de Alta Potência”,
componentes suscetíveis a envelhecimento esforços da ordem de toneladas em que pode ser baixado em: http://
gradual, mas cuja temperatura de destruição isoladores e peças metálicas. www.cognitor.com.br/TR_071_ENG_
rápida é elevada. Um exemplo é a elevação ValidationSwitchgear.pdf
de temperatura dos contatos de cobre nu As elevadas correntes de curto-circuito Devido ao grande número de
limitada a 35 K. produzem esforços mecânicos elevados variáveis envolvidas, mesmo para sistemas
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48 relativamente simples, é necessário o uso de


softwares específicos. No dimensionamento
Equipamentos para subestações de T&D

de barramentos e cubículos é um cálculo


imprescindível. Há detalhes no livro “Painéis,
Barramentos E Secionadores e Equipamentos
de Subestações”, de autoria de Sergio Feitoza.
Download livre em: http://www.cognitor.
com.br/Book_SE_SW_2013_POR.pdf
Há ainda dois outros aspectos
importantes associados a curtos circuitos que
serão tratadas em outro fascículo desta série. É
o caso dos arcos de potência. O caso típico dos
arcos internos é o que ocorre em cubículos
de médias e baixas tensões quando tal
equipamento é energizado e alguém esqueceu
uma ferramenta dentro. O outro caso é o de
Figura 2 – Configuração básica para cálculo de esforços eletrodinâmicos.
arcos de potência em cadeias de isoladores
que ocorrem em torres de transmissão. Estes
podem derreter peças mecânicas importantes
fazendo até mesmo que haja queda do
cabo. Um outro tipo de arco interno é o que
ocorre em falhas de transformadores de
transformadores. Existe a norma ABNT NBR
8222 - Execução de sistemas de prevenção
contra explosão e incêndio, por evitar
sobrepressões decorrentes de arcos elétricos
internos em transformadores e reatores de
potência, única no mundo, que trata deste
assunto. Foi publicada em dezembro de
2014 a brochura Cigré 602 “Tools for the
simulation of the effects of internal arc in
transmission and distribution switchgear”,
elaborada por grupos de trabalho – dos quais
Figura 3 – Forças ao longo do tempo.
eu participei – nos âmbitos, respectivamente,
do CB-24 da ABNT e do WG A3-24 do Cigré
internacional.

Sobretensões de longa duração


Estas sobretensões ocorrem com
relativa frequência, por exemplo, quando
em circuitos trifásicos, uma das fases é
aberta durante uma falta permanecendo
as demais fechadas. São sobretensões da
ordem de até 150% da tensão da rede e
na frequência da rede ou próxima dela.
Associadas a estas ocorrências existe o
ensaio de tensão aplicada a frequência
industrial a seco ou sob chuva conforme
será detalhado no próximo fascículo sobre
Figura 4 – Sobretensões x ensaios. ensaios (Figura 4).
Apoio

Sobretensões de curta duração atender a uma necessidade de energia ou Estudos de fluxo de potência ou de carga 49
As principais ocorrências nas tráfego de energia em uma certa região. Estudos fornecem informações e definem
redes elétricas são devido às descargas A própria existência da subestação pode os parâmetros do funcionamento do sistema
atmosféricas e os chamados impulsos ser um fator de motivação para o futuro e da subestação em regime permanente desde
de manobra. Os impulsos de manobra aumento da carga e desenvolvimento na as horas de carga leve até as horas de ponta.
surgem devido à abertura e fechamento sob região. Por isso, os estudos realizados Um equipamento da subestação, ao longo
tensão dos disjuntores e secionadores. São procuram visualizar um horizonte de pelo de um dia, pode estar sendo utilizado com
simulados em laboratório por impulsos de menos uns 15 a 20 anos. Nos anos iniciais, correntes permanentes que variam de 30% a
tensão com uma forma de onda de 250 µs x os equipamentos trabalharão com pouca 130% dos valores nominais.
2500 µs, sendo o primeiro valor o tempo de carga e com menores níveis de curto- Nestes estudos, serão definidos, em função
frente e o segundo associado ao tempo de circuito. O passar do tempo fará estes de outras subestações vizinhas à nova, valores
cauda. As descargas atmosféricas provocam valores crescerem. Por exemplo, quando se como: a) o carregamento de linhas, geradores
sobretensões elevadas que, em laboratório, adquire um disjuntor de 31,5 kA – 145 kV e transformadores, b) as perdas de transmissão,
são representadas por impulsos de tensão para uma nova subestação ele pode nos anos c) os módulos e ângulos de fase das tensões
com forma de onda 1,2 / 50 µs. iniciais precisar abrir correntes de apenas nas barras, d) as potências ativas e reativas nas
30% ou 60% de suas possibilidades. Este é linhas de transmissão.
Especificação dos valores de um dos motivos pelos quais os ensaios de A partir das possíveis configurações com
tensão e corrente em uma nova interrupção em disjuntores são feitos para base na experiência anterior e em práticas
subestação 100%, 60%, 30% e 10% da plena capacidade do setor, calculam-se quais as maiores
de interrupção. correntes permanentes que circularão nas
Quando uma concessionária de energia Os principais estudos feitos para a barras, secionadores, disjuntores e outros
ou o operador do sistema elétrico vai definição dos valores da subestação são: (a) equipamentos. Isto é feito com base no tipo
definir os valores de uma futura subestação Estudos de fluxo de carga, (b) Estudos de de arranjo, por exemplo, disjuntor e meio,
de energia, em geral, parte da premissa de curto circuito e (c) Estudos de estabilidade. varra dupla etc. (ver Figura 5).
Apoio

50
Equipamentos para subestações de T&D

Figura 5 – Estudo de fluxo de carga.

Depois de calculados os valores Nestes estudos, são obtidos os de cálculo como o ATP / EMTP –
máximos que podem ocorrer nos vários valores das correntes suportáveis de ATPDRAW, entre outros. A partir das
setores da subestação, são definidos os curta duração e de crista e também as alternativas de configurações com
valores reais, selecionando-se um dos durações máximas destas correntes. Para base na experiência anterior e práticas
valores padrão imediatamente superior disjuntores e fusíveis são ainda obtidos no setor, calculam-se quais as maiores
mostrados na norma técnica, por os valores de X/R, parâmetros da tensão correntes permanentes que circularão
exemplo, 1.250 A e 1.600 A. Depois desta de restabelecimento transitória (TRT) e nas barras, secionadores, disjuntores e
seleção, pode-se decidir por exemplo componentes CA e CC no momento da outros equipamentos. Isto é feito com
padronizar todos os equipamentos pelo separação dos contatos dos disjuntores. base no tipo de arranjo, por exemplo
valor máximo, evitando ter dois valores Com base nos estudos se pode, disjuntor e meio, varra dupla etc.
diferentes na mesma subestação. Isto é a título de exemplo, definir que será
decidido caso a caso e de acordo com as usado um secionador com capacidade Estudos de estabilidade
práticas de que está implantando ou vai de 40 kA eficaz durante 1 segundo com eletromecânica, flutuação de
operar a subestação. Evitar exageros em valor da primeira crista igual a 2,6 x 40 tensão e impactos no sistema
especificações aumenta a eficiência da = 104 kAcr. Para que uma nova subestação seja
empresa sem perda de qualidade. O procedimento é parecido com conectada à rede elétrica, devem ser
o dos estudos de fluxo de carga já cumpridos requisitos estabelecidos
Estudos de curtos-circuitos descritos. Porém, são usados programas pelo Operador Nacional do Sistema

Figura 6 – Estudos de curto-circuito.


Apoio

52 (Procedimentos de Rede). Há vários


módulos que devem ser seguidos,
Equipamentos para subestações de T&D

por exemplo, o 3.6, que estabelece os


requisitos técnicos mínimos para a
conexão à rede básica.
Nestes estudos, devem ser listados os
tipos de cargas a utilizar e os impactos
que podem ser causados no sistema
pelas operações feitas na subestação.
Dependendo da situação, são requeridos
estudos de proteção, flutuação de tensão,
penetração harmônica, estabilidade
Figura 7 – Campo magnético próximo a dois condutores.
eletromecânica, em que são verificados
aspectos como as variações de tensão de
curta duração que ocorrem nos curtos- Tabela 2 – Níveis de referência para campos elétrico e magnéticos (60 Hz).
circuitos.
Instalação em 60Hz
A título de exemplo, se em um ponto
do sistema ocorre uma manobra ou curto Campo Elétrico (kV/m) Campo Magnético (μT)

que produz uma queda de tensão de 5% Público em geral 4,17 200,00

nas subestações próximas, este evento População 8,33 1000,00

provavelmente não terá impacto ou nem Ocupacional

será percebido. Se ocorre uma queda de


tensão de, digamos 12% durante 0,2s,
típica de um pequeno curto-circuito na
rede ou um ensaio de alta potência em
laboratório, para um observador atento,
esperando pelo evento, isto pode ser
percebido como uma pequena piscada
na luz não suficiente para atuar relés de
subtensão nas subestações.
Se ocorrem, entretanto, subtensões
com de mais de 20% e, particularmente,
se houver religamentos (evento
frequente na residência deste autor ao
longo de muitos anos e reclamações
à concessionária), isto pode causar
queima de aparelhos, computadores ou
mesmo desligar cargas importantes do
sistema.
Figura 8 – Imagens mostram a pequena distância entre os equipamentos e uma residência.
Estudos de campos elétricos e
magnéticos e magnéticos, cabe mencionar alguns intensidade de corrente elétrica.
Depois de definida a subestação, são aspectos dos campos magnéticos. Diminuem ao aumentar a distância
necessários estudos adicionais para o A circulação de correntes do condutor por onde a corrente está
projeto detalhado. Estes incluem desde permanentes elevadas produz campos circulando. A indução magnética (B),
cálculos para definir as malhas de terra, magnéticos que, se ficarem acima de produzida a uma distância (r) de um
potenciais de passo, tensões induzidas certos níveis, podem ser prejudiciais condutor em que passa uma corrente
e medidas de segurança elétrica até os a pessoas (saúde) e a instalações (I), pode ser calculada pela expressão
estudos de campos eletromagnéticos. (aquecimentos indevidos). Os campos B = (μ * I) / (2.π.r), em que B mede-se
Para os estudos de campos elétricos magnéticos são proporcionais à em Tesla, a corrente I em Amperes e
Apoio

a distância r em metros. Suponha que Entretanto, as regras para redes de média • Disjuntores e Chaves – Aplicação em 53
tivéssemos dois fios, por exemplo, tensão com instalações próximas a Sistemas de Potência – CE 13 do Cigré -
as duas fases do secundário de um prédios, nos meios das grandes cidades, Brasil em parceria com Furnas / UFF, 1996.
transformador de distribuição 225 kVA não são bem definidas. Vejam na Figura • Transients in Power Systems – Lou Van de
13,8/220V em que circulassem 600 A 8 duas fotos que mostram a distância Sluis - John Wiley & Sons Ltd. ISBN 0471486
como na Figura 7. Usando a expressão entre os transformadores e as chaves 396.
mencionada, teríamos a 1 metro de fusíveis da janela do apartamento. Estas • ABB Switchgear Manual -
distância um campo magnético da não estão localizadas em favelas, estão http://www.4shared.com/office/
ordem de grandeza de 240 micro Tesla. em áreas de alto valor de IPTU, perto ErozeZWB/20269998-5068033-ABB-Switch-
Os campos magnéticos produzidos da residência do autor deste artigo. Ge.html.
nas imediações da subestação não É difícil imaginar o que aconteceria • “Painéis, barramentos, seccionadores e
podem ser superiores aos limites se uma criança esticasse um cabo de equipamentos de subestações de transmissão
impostos pela legislação para a vassoura para tocar nos fios? Se isto não e distribuição”, livro de Sérgio Feitoza Costa.
exposição de pessoas. Informações é admissível em um país do primeiro Livre download em: http://www.cognitor.
a este respeito são encontradas em mundo por que é tão comum aqui? com.br/Book_SE_SW_2013_POR.pdf.
documentos como a norma ABNT Referências
NBR 15415, a Lei Federal 11.934, de Referências
5/5/2009, as Resoluções Aneel 398, de
23/03/2010, e 616, de 01/07/2014. Na • Equipamentos Elétricos – Especificação
Resolução Aneel 616/2014, estes valores e Aplicação em Subestações de Corrente
são como na Tabela 2. Alternada – Furnas / UFF, 1985.
As regras para subestações de alta • Transitórios Elétricos e Coordenação de
tensão são razoavelmente claras e Isolamento – Aplicação em Sistemas Elétricos
com base nas normas internacionais. de Alta tensão – Furnas / UFF, 1987.
Apoio

46
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo II

Curtos-circuitos, ampacidades,
sobrecargas e contatos elétricos

No capítulo anterior, foram abordados por exemplo, 87°. Já a carga, para atender mais caro.
aspectos dos estudos do sistema aos requisitos da concessionária, deve ter Utilizamos os termos tensão e
elétrico que servem de base para as um ângulo de fase próximo de zero (por corrente eficazes (138 kVef e 40 kAef),
especificações técnicas dos equipamentos exemplo, fator de potência > 0,92). Na assim como o termo corrente instantânea
para subestações de transmissão e carga, o consumidor deve, se necessário, (2,5 x 40 kAef = 100 kAcr na primeira
distribuição de energia elétrica. Este colocar capacitores em paralelo com as crista de uma corrente de curto-circuito)
capítulo tratará de curtos-circuitos, indutâncias, por exemplo, de motores da forma como mostrado na Figura 2.
ampacidades, sobrecargas e contatos para que a reatância seja mínima e o Uma típica situação de subestação
elétricos – fundamentos do projeto para fator de potência seja atendido. Na linha é como na Figura 3. Em regime
elevação de temperatura, forças e tensões de transmissão, a concessionaria deve normal, uma corrente menor ou igual à
eletrodinâmicas no curto-circuito, fazer o necessário para que as perdas corrente nominal (IN) chega às cargas
tensões transitórias de restabelecimento e sejam mínimas e a potência produzida no alimentadas (XL e RL, em que XL <<
processos de interrupção. gerador chegue, quase toda, na carga. RL). Quando ocorre um curto-circuito
Ainda na Figura 1, quanto mais baixo perto da subestação, a tensão da fonte
Alguns termos, conceitos e o fator de potência da carga (<0,92) passa a alimentar apenas as reatâncias e
definições maior precisaria ser a tensão do gerador resistências da fonte (Xf e Rf onde Xf >>
para fazer circular o mesmo 1 A na carga. Rf) e, por este motivo, a corrente cresce
Um sistema elétrico em geral é Ter-se-ia, neste caso, um gerador maior e muito. Uma típica corrente de curto-
formado por geradores, linhas de
transmissão e cargas supridas pelo sistema
de distribuição. No exemplo da Figura 1,
apenas para mostrar a relação entre cada
parte, colocamos um gerador que produz
uma tensão eficaz de V e impedâncias
do sistema que somam Ω (uma reatância
de 1 Ω e uma resistência de 1 Ω). Por este
circuito circularia uma corrente da fonte
para a carga de 1 A.
Em um sistema elétrico, a linha de
transmissão corresponde a uma reatância
muito grande e uma resistência dos cabos
muito pequena em relação à reatância.
O ângulo de fase entre a reatância e a
resistência da linha é algo próximo de 90°, Figura 1 – Sistema elétrico simplificado.
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controle. Os sincronizadores agregam um 47


certo custo ao disjuntor, mas produzem
benefícios muito maiores que este custo.
Nas subestações de tensões superiores
a 245 kV, eles são muito utilizados. Nas
redes de alta tensão de 138 kV, 69 kV
e menos são pouco utilizados devido
à visão incorreta de que encarecem o
disjuntor.
Nos países desenvolvidos, em que
a cultura de economia e mais forte e os
desperdícios muito menores a utilização
é maior. Em países de baixo nível médio
de educação como o Brasil, é muito
Figura 2 – Ângulo de fechamento de curto-circuito.
difícil falar seriamente de economias,
circuito varia entre 4 e 25 vezes a corrente de sincronizadores, que permitem fazer otimizações, planejamento e eficiência
nominal. certas operações de fechamento e abertura energética porque os desperdícios técnicos
No momento em que ocorre um de disjuntores de subestação segundo um e não técnicos são muito grandes. De que
curto-circuito causado, por exemplo, ângulo controlado. adianta ficar anos planejando e fazendo
por um galho de árvore tocando um dos Ao se controlar estes ângulos de estudos de viabilidade econômica para a
cabos, a onda de tensão (Figura 4) pode fechamento ou abertura pode forçar que escolha da próxima usina mais econômica
estar passando por qualquer ponto da as sobretensões ou sobrecorrentes de se depois, no mundo real, aquele gasto
onda de tensão (ângulo de fechamento uma determinada operação de manobra estimado vai ser quatro ou mais vezes
Ø). Existem equipamentos chamados sejam inferiores às que ocorreriam sem maior?
Apoio

48 disjuntores, religadores e fusíveis é a


tensão de restabelecimento transitória
Equipamentos para subestações de T&D

(TRT). Quando ocorre um curto-circuito


na rede, que pode até mesmo originar
um apagão, temos uma disputa entre o
disjuntor tentando abrir o circuito o mais
rápido possível e a chamada TRT, que é
uma reação provocada pelas indutâncias,
capacitâncias e resistências do sistema
tentando manter a situação anterior.
O processo é mostrado na Figura 6.
A linha vermelha é a suportabilidade
Figura 3 – Típica subestação, correntes nominais e de curto-circuito. do disjuntor à TRT, no período após
a tentativa de interrupção no zero de
corrente. Quanto mais o tempo passa e
os contatos se afastam, maior torna-se a
suportabilidade dielétrica até que chegue
ao fim do curso e a linha fique horizontal.
A linha oscilante preta é a TRT que
depende das características elétricas
do sistema e (quase) não depende
do disjuntor a menos que este tenha
resistores ou capacitores especiais que se
somam aos valores da rede para facilitar a
interrupção. Se a linha preta passa a ficar
acima da linha vermelha, o disjuntor não
consegue mais isolar a falta e ocorre uma
reignição, restabelecendo-se a corrente de
curto-circuito.
Figura 4 – Ângulo de fechamento e corrente instantânea de curto-circuito.
O formato das máximas TRTs que
O ângulo de fechamento sobre a transitórias e subtransitórias são bem podem ser produzidas pelo sistema está
onda de tensão no momento do curto- menores do que as de regime permanente. descrito nas normas da Internacional
circuito afeta o valor da primeira crista Um fator crítico na especificação Electrotechnical Commission (IEC) e
de corrente que vai acontecer. Os valores de dispositivos de interrupção como normas nacionais delas derivadas. Estes
de reatâncias e resistências mostrados
na equação da Figura 4 fazem que a
primeira crista de corrente, quando não
estamos muito próximos a geradores,
seja da ordem de 2,5 a 2,6 vezes o valor
da corrente eficaz. A título de exemplo,
é comum ver a seguinte especificação
de um disjuntor 145 kVef para corrente
de curto-circuito simétrica 40 kAef e
primeira crista da corrente 2,5x40 = 100
kAcr de crista.
Quando o curto-circuito ocorre
próximo a geradores, o chamado fator de
assimetria pode ter valores bem maiores
que 2,6 (Figura 5). Isso ocorre porque nos
momentos iniciais do curto, as reatâncias Figura 5 – Corrente de curto-circuito perto ou longe de geradores.
Apoio

50 valores são estabelecidos pela IEC a partir


de enquetes feitas, em geral, nos grupos
Equipamentos para subestações de T&D

de trabalho do International Council on


Large Electric Systems (Cigré). Nestas
enquetes são consultados países de todo
o mundo.
As formas de onda da TRT têm
frequências e amplitudes diferentes
dependendo do maior ou menor valor
da corrente interrompida (Figura 7). Se
o curto-circuito ocorre mais próximo ou
mais distante do disjuntor são diferentes
as capacitâncias e as indutâncias e estas
afetam o valor da corrente e forma de
onda da TRT.
Figura 6 – Tensão de restabelecimento transitório. Nas normas, as formas de onda da
TRT são representadas a dois parâmetros
(Figura 8) ou a quatro parâmetros
dependendo do nível de tensão do sistema.
A representação a quatro parâmetros é
utilizada por disjuntores acima da faixa
de 245 kV e é uma representação mais
refinada da forma de onda. Outro fator
necessário na especificação é o fator de
primeiro polo (Figura 9). Este fator é
relacionado ao fato de que as correntes
de curto-circuito em cada uma das três
fases estão defasadas em 120 graus.
Portanto, a interrupção em uma das fases
acontece antes da interrupção simultânea
nas outras duas. Pode-se mostrar por
calculo que a tensão na primeira fase a
Figura 7 – Interrupção de correntes baixas e elevadas. interromper é algo da ordem de 1,4 a 1,6
vezes a que ocorrerá nas duas seguintes.
Para os disjuntores de maior potência,
digamos acima de 8.000 MVA (por
exemplo, 145 kV – 40kAef) mesmo os
maiores do mundo não podem ensaiar
as três fases simultaneamente. O ensaio é
feito em apenas um polo com a corrente
de curto-circuito plena e uma tensão na
interrupção igual atenção fase terra vezes
o fator de primeiro polo.
Quanto à capacidade dos equipamentos
da subestação de conduzir as correntes
normais (ampacidades), o principal fator
a considerar são as temperaturas de certas
partes do equipamento que não podem
ser excedidas em regime permanente
Figura 8 – Representação da TRT a dois parâmetros. sob o risco de provocar envelhecimento
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prematura ou danos imediatos. anos seria preciso comprar três contatos digamos, uns 1.800 A, a elevação de 51
Como mencionamos no fascículo ao invés de apenas um. temperatura em todos os seus pontos
anterior, a temperatura de partes Os principais vilões provocadores seria algo da ordem de 30 K acima do
condutoras ou isolantes não pode ir das altas temperaturas são os inevitáveis ar ambiente. Se, entretanto, serrássemos
além dos limites de suportabilidade dos contatos e conexões elétricas. Imagine a barra e fizéssemos uma união
materiais. Estes limites são especificados que tivéssemos uma barra de cobre com aparafusada no ponto de corte, a elevação
nas normas técnicas para serem 10 metros de comprimentos e nenhuma de temperatura próxima a esta conexão
utilizados nos ensaios de elevação de emenda. Ao passar uma corrente de, passaria a ser da ordem de 40 K.
temperatura. São limites aplicáveis a
contatos, terminais, conexões, soldas
e isolantes. Por exemplo, a elevação de
temperatura de uma conexão prateada,
medida no ensaio não pode ir além de 75
K. Imaginando que a temperatura do ar
ambiente envolvendo esta conexão fosse
de 40 °C, o que a norma quer dizer é que a
temperatura média de trabalho em longos
períodos não pode ser superior a 40 + 75 =
115 °C. Os métodos de cálculo mostrados
no documento IEC 60943 permitem
estimar que, se um contato trabalha
com uma temperatura de 10 °C acima
do limite, sua vida útil será reduzida em
67%. Por exemplo, em um período de dez Figura 9 – Fator de primeiro polo na interrupção.
Apoio

52 • Velocidade do fluido, tipo e área de


ventilação;
Equipamentos para subestações de T&D

• Seção reta e posição geométrica das


barras (vertical, horizontal);
• Materiais das barras e seus
revestimentos;
• Interligações do fluido entre
compartimentos.

As normas IEC não tratam da relação


entre os ensaios de elevação e de arco
interno e não explicitam tudo que deve
ser registrado nos relatórios de ensaios.

Figura 10 – Elevação de temperatura próxima a um contato elétrico (ver IEC 60943).


Por exemplo, as normas de painéis de
média e de baixa tensão deveriam pedir
- mas não pedem - para registrar no
relatório de ensaios os fatores acima.
No que diz respeito aos esforços
eletrodinâmicos que ocorrem durante
um curto-circuito, na Figura 12 são
mostrados os conceitos principais.
Quando circula uma corrente por
um condutor, é produzido um
campo magnético que atua sobre os
condutores vizinhos produzindo forças
nos condutores, tendendo a dobrá-
los (Referência [1]). Estas forças serão
transmitidas a isoladores e suportes. A
IEC 61117 mostra detalhadamente um
Figura 11 – Cálculo da resistência de um contato elétrico (ver IEC 60943).
método de cálculo. Este método consiste
As resistências de contato, de o resultado dos ensaios de elevação de em:
conexões e de junções de barramentos temperatura são:
podem ser calculadas a partir de • As resistências de contatos e conexões • Calcular distribuições de forças
expressões como a mostrada na Figura (e não apenas a resistência total por estáticas pelas equações;
11. A IEC 60943 mostra uma série de fase); • Converter forças estáticas em “dinâmicas”;
particularidades sobre este tema. Para
transformadores, os conceitos são de
mesma natureza e os limites de elevação
de temperatura seguem princípios
similares. O foco neste caso está em que
não sejam ultrapassadas as temperaturas
que provocariam envelhecimento
acelerado do papel isolante ou que
poderiam iniciar um processo de
deterioração e formação de bolhas no
óleo isolante. Isso se aplica inclusive nos
pedidos das sobrecargas dos horários de
ponta.

Os principais parâmetros que afetam Figura 12 – Esforços eletrodinâmicos.


Apoio

54
Equipamentos para subestações de T&D

Figura 13 – Cálculo de forças nos isoladores e tensões mecânicas nos condutores.

• Calcular forças nos isoladores, forças que, para o cobre, devem permanecer Sluis (NL), P. Vinson (FR), D. Yos hida
cortantes e diagrama de momentos inferiores a um valor da ordem de 250 (JP) ***** CIGRE WG A3.24 ****Brochure
fletores; N/mm2. 602 / 2014: “Tools for the simulation of the
• Calcular tensões mecânicas nos Referências effects of the internal arc in transmission
condutores (momento fletor / momento and distribution switchgear”
[1] Livro “Painéis, barramentos e [5] Proposal for IEC Guidelines for the use
resistente).
secionadores e equipamentos de of simulations and calculations to replace
subestações de transmissão e distribuição”. some tests specified in international
Os principais parâmetros que afetam
Autor: Sergio Feitoza Costa. Disponível standards". Autor Sergio Feitoza Costa.
o resultado dos ensaios de esforços
em: http://www.cognitor.com.br/Book_ Este documento é referenciado na
eletrodinâmicos são: Brochure 602 / 2014 indicada acima.
SE_SW_2013_POR.pdf.

• Geometria e distâncias entre fases; [6] M. Kriegel, X. Zhu, H. Digard, S.


[2] IEC/TR 60943: Guidance concerning
• Materiais utilizados e suas propriedades Feitoza Costa, M. Glinkowski, A. Grund,
the permissible temperature rise for parts
elétricas e mecânicas; of electrical equipment, in particular for H.K. Kim, J. Lopez-Roldan, P. Robin-
• Valores das correntes de curto-circuito terminais. Jouan, L. Van der Sluis, R.P.P. Smeets,
e sua assimetria; T. Uchil, D. Yoshida, ***** Simulations
• Suportabilidade (tração, compressão e [3] IEC 61117: Method for assessing and calculations as verification tools for
flexão) e distância entre isoladores. the short-circuit withstand strength of design and performance of high-voltage
partially type-tested assemblies (PTTA). equipment, CIGRE WG A3.20, CIGRE
session Paris, paper A3.210, 2008.
A Figura 13 exibe uma típica folha
de resultados de análise de esforços [4] N. Uzelac, (US) M. Glinkowski, (US),
eletrodinâmicos para projeto de painéis L. del Rio (ES), M. Kriegelr (CH), J.
Douchin (FR), E. Dullni (DE), S. Feitoza
e barramento (SwitchgearDesign).
Costa (BR), E. Fjeld (NO), H-K. Kim
Na parte superior, estão as forças nos
(KR), J. Lopez-Roldan (AU), R. Pater
isoladores que não podem superar
(CA), G. Pietsch (DE), T. Reiher (DE),
os valores limites especificados pelo
G. Schoonenberg (NL), S. Singh (DE), R.
fabricante do isolador. Na parte inferior Smeets (NL), T. Uchii (JP), L. Van der
da figura aparecem as tensões mecânicas
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48
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo III

Técnicas de ensaios de alta potência, laboratórios e


fundamentos dos principais ensaios

Laboratórios de ensaios e o natural (Gasoduto Brasil Bolívia) e carvão equipes que resolviam bem os problemas
desenvolvimento da indústria mineral. do setor elétrico. O nível de educação no
elétrica brasileira Para falar da importância dos Brasil, na média, era insuficiente mas
laboratórios de ensaios para a indústria avançava positivamente.
Os países líderes na produção de elétrica brasileira, vale lembrar três Antes da criação dos grandes
equipamentos e tecnologias de produtos períodos distintos do setor elétrico. No laboratórios de testes no Brasil, quase nada
para o setor elétrico têm em comum um primeiro, de meados dos anos 1970 até de novo era produzido em tecnologias e
planejamento setorial implementado 1995 havia a construção de Itaipu e outras produtos elétricos. Para fazer testes era
com pouca interferência política, um grandes usinas e subestações. O segundo necessário enviar o equipamento para o
bom sistema de normas técnicas, a vai até por volta de 2004, incluindo o exterior. O transporte e as despesas com
disponibilidade de laboratórios e centros racionamento de energia de 2001 e a o pessoal para acompanhar os ensaios
de pesquisa, além de um nível crescente RESEB – reestruturação do setor elétrico. faziam o teste no exterior custar uns 40%
de educação da população. Entre os O terceiro é o que vem após 2005 com a mais do que fazê-lo no Brasil.
exemplos mais recentes estão os países outras mudanças no setor elétrico. O sistema de normalização técnica era
do leste asiático, como a China e a Coreia No primeiro período, o setor tinha deficiente sendo as normas uma mistura
do Sul. Boa parte de seu sucesso se deve um modelo centralizado. Havia um de normas americanas ANSI e UL com
a fortes investimentos na educação que é competente processo de planejamento normas IEC. Neste período houve grande
algo que ainda não começamos a praticar de longo prazo da expansão conduzido avanço no sistema de normalização,
no Brasil. principalmente por técnicos da as concessionárias não competiam
Acompanho o setor elétrico Eletrobras. Quase tudo que era planejado entre si e isto permitia normas e regras
brasileiro desde 1976, quando me formei pelos técnicos tinha suporte político e homogêneas. A Eletrobras colocava
engenheiro eletricista. Trabalhei 21 anos era construído. Fazia-se um ranking das recursos na normalização e participava
no projeto, implantação, operação e próximas plantas de energia a construir. da condução da normalização. Estes
coordenação dos laboratórios de ensaios O valor da planta construída não era tão avanços deram base para a certificação de
do Cepel. Participei alguns anos das diferente do planejado como é hoje e isto produtos (Inmetro).
reuniões de planejamento da expansão dava credibilidade ao planejamento. Isto No segundo período, houve a busca
do setor elétrico na época do Grupo era possível porque a influência política de um modelo com maior participação
Coordenador do Planejamento dos nas empresas e concessionárias era muito da iniciativa privada nos investimentos.
Sistemas Elétricos (GCPS) em contato menor que hoje. A ideia era boa e representava uma
com a Eletrobras e com a Secretaria de Foram criados centros de pesquisa tendência mundial. Foi perceptível
Energia do Ministério de Minas e Energia e bons laboratórios de ensaios. Havia a intenção de áreas do governo de
(MME). Ali se tratavam projetos como o a visão de que o mais importante era a enfraquecer o excelente planejamento
PNCE, o Proinfa (fontes alternativas) e o formação de bons especialistas e não as setorial conduzido pela Eletrobras.
planejamento de usinas hidrelétricas, gás caras instalações. Formaram-se excelentes Este período foi curto e os conceitos
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não chegaram a ser implementados. empresas ligadas ao governo. e aperfeiçoados. Quando a economia 49
AEletrobras parou de colocar recursos No terceiro período, a boa capacitação brasileira entrou em ordem, saindo da
e participar do gerenciamento do técnica anterior foi quase dizimada inflação, o Brasil começou acrescer e
sistema de normalização técnica e isto pelos PDVs. O planejamento técnico da se pode perceber que não havia mais
o enfraqueceu. As concessionárias expansão existe, mas há uma questão capacidade de atendimento suficiente
reduziram sua participação nas normas de credibilidade. O que adianta ter um nos laboratórios brasileiros. Hoje as filas
técnicas ao mínimo necessário. Programas ranking das plantas mais econômicas a de espera para fazer um ensaio são mais
de aperfeiçoamento de produtos bem- implantar, do ponto de vista da sociedade, demoradas que o aceitável pela indústria
sucedidos, como o Proquip, do período se no final, como mostrado na mídia, a elétrica. Por este motivo, há empresas que
anterior, pararam de acontecer. Estes planta acaba custando dez vezes. têm necessitado levar equipamentos ao
eram baseados em trazer para as normas A existência de laboratórios próximos exterior para testar, como ocorria há 30
a experiência de ensaios em produtos é que motiva a indústria elétrica a anos.
que falhavam muito no campo, como melhorar seus produtos e criar produtos Felizmente, uma iniciativa da CNI,
chaves e elos fusíveis de distribuição, novos. Pode-se perceber claramente isto FIEMG e SINAEES avançou e está no
reles fotoelétricos, para-raios, entre no período que veio após a criação dos início da construção do novo complexo
outros. Naquela época, algumas normas laboratórios do Cepel até por volta do de grandes laboratórios em Itajubá (MG).
técnicas brasileiras eram o estado da arte ano 2000. Várias empresas desenvolveram O Instituto Senai de Inovação – Centro de
e, por exemplo, a ABNT NBR 7282 foi equipamentos muito competentes, por Desenvolvimento Empresarial e Inovação
a base da revisão da IEC 60282-2 (High exemplo, secionadores de 362 kV e 550 da Indústria Elétrica e Eletrônica
VoltageExpulsionTypeFuses), publicada kV para correntes de curto-circuito até 63 (ISI-CEDIIEE) – terá laboratórios de
pela IEC em 1989. Neste segundo período, kAef. alta potência, alta tensão, elevação
começaram os planos de demissões Muitos equipamentos de distribuição de temperatura, grau de proteção e
voluntárias (PDVs) nas concessionárias e e de baixa tensão foram desenvolvidos atmosferas explosivas, para-raios,
Apoio

50
e atmosferas explosivas incluem, entre
muitos outros, os de grau de proteção de
Equipamentos para subestações de T&D

invólucros primeiro e segundo numerais


(sólidos IP1 a 6, líquidos IPX1 a 8), ensaios
com aparelho de faiscamento padrão,
ensaio do sistema de pressurização e
sistema de proteção, sobre pressão do
meio de pressurização, e análise de

Figura 1 – Novos laboratorios de ensaios em Itajubá (MG).


equipamentos com segurança aumentada.
Há ainda ensaios de compatibilidade
compatibilidade eletromagnética, ensaios • Ensaios de curto-circuito; eletromagnética (CEM) como os de
mecânicos, óleos isolantes e calibração. • Interrupção e estabelecimento de curto- verificação de limites de emissão radiada
Estes laboratórios estão sendo projetados circuito; econduzida e imunidade a campos
e construídos para atender às demandas • Arcos de potência internos e externos; magnéticos. No Laboratório de Para-
oriundas do crescimento da indústria • Ensaios de interrupção e manobras de Raios, os ensaios típicos são os de
elétrica brasileira (veja a Figura 1). cargas ativas, indutivas e capacitivas; corrente suportável de impulso até 100
• Ensaios de correntes suportáveis de KA (elevada, retangular e descarga de
Principais ensaios realizados curta duração até 220 kAe/575 kAcr linha), os de ciclo de operação e impulsos
em laboratórios (esforços eletrodinâmicos). de corrente.

A lista dos ensaios que poderão ser No laboratório de alta tensão, os Fundamentos dos ensaios de
realizados nos novos laboratórios do ensaios dielétricos para equipamentos até alta potência, de alta tensão
ISI-CEDIIEE (Itajubá) é típica do que é a classe de tensão 550 kV serão: e de elevação de temperatura
feito em outros laboratórios como KEMA
(Holanda e Estados Unidos), CESI (Itália), • Tensão aplicada sob frequência Nos capítulos 1 e 2 deste fascículo,
KERI (Coreia do Sul), CPRI (Índia), JSTC industrial a seco e sob chuva; mostramos alguns dos fundamentos
(Japão) e o Cepel. • Impulso atmosférico e de manobra a dos principais ensaios realizados em
São ensaios aplicados em seco e sob chuva; laboratórios e que são complementados
equipamentos como transformadores de • Tensões combinadas (bias); nas linhas a seguir. Uma grande
potência, reatores, painéis, disjuntores, • Medições de descargas parciais, radio- quantidade de informações e detalhes é
secionadores, fusíveis limitadores de interferência, capacitância e tangente mostrada no livro “Painéis, barramentos
corrente e do tipo expulsão, chaves delta e ruído audível. e seccionadores e equipamentos de
de abertura sob carga, religadores, subestações” (ver referências).
contadores, para-raios, entre outros. Para o laboratório de elevação de Ensaios de interrupção são aplicáveis
Os equipamentos podem ser de alta temperatura, os ensaios típicos são os de a equipamentos de baixas a altas
tensão e de baixa tensão, além de os ensaios elevação de temperatura, ciclos térmicos, tensões. Visam verificar a capacidade de
relevantes são especificados nas normas continuidade elétrica, sobrecorrentes e disjuntores, fusíveis, chaves e religadores
de produtos da IEC, ABNT, entre outras. durabilidade elétrica. Serão realizáveis de interromper adequadamente
Em geral, os ensaios são classificados para equipamentos em geral de até 25.000 correntes, desde valores da ordem de
como de alta potência, quando envolvem A e também para transformadores de grandeza da corrente nominal até as
correntes, potências elevadas e ensaios distribuição. correntes de curto-circuito. Os fatores
dielétricos de alta tensão. Estes últimos Associados aos acima estão ensaios que mais impactam nos resultados foram
envolvem tensões elevadas, mas potência realizáveis no Laboratório de Ensaios mostrados no capítulo anterior e incluem
e energias relativamente baixas. Há ainda Mecânicos, tais como operação a tensão de restabelecimento transitória,
ensaios de elevação de temperatura mecânica, durabilidade mecânica, a corrente interrompida e o fator de
que envolvem correntes elevadas, mas proteção contra choques elétricos, primeiro polo (Figura 2).
potências baixas. resistência do material isolante ao calor São simulados diferentes tipos de
A título de exemplo, os ensaios que anormal, ao fogo e corrente de fuga e de solicitações impostas pela rede elétrica.
serão realizados no laboratório de alta resistência mecânica. Os valores aplicados são especificados nas
potência com geradores de 2.500 MVA são: Os ensaios típicos de grau de proteção normas técnicas.
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52 As forças devem permanecer abaixo


dos limites especificados pelo fabricante
Equipamentos para subestações de T&D

do isolador para não danificá-lo. As


tensões mecânicas nos condutores
devem ser mantidas abaixo de certos
limites (por exemplo, 200 N/mm² para
o cobre), caso contrário, o barramento
sofrerá uma deformação permanente
e visível. Os resultados são afetados
pela corrente de curto-circuito, pelos
materiais utilizados e pela geometria do
Figura 2 – Ensaios de interrupção. sistema de condutores e isoladores. O
bom desempenho no ensaio é verificado
Ensaios de elevação de temperatura não de aberturas de ventilação. As por inspeção visual e, dependendo
são aplicáveis a equipamentos de baixas a resistências de contato e a área de do equipamento, por medidas das
altas tensões. O equipamento é instalado ventilação são fatores essenciais para o resistências elétricas antes e depois do
em uma sala livre de correntes de ar e a bom desempenho do equipamento. Se ensaio (Figura 3).
corrente nominal é aplicada durante um esta resistência não está registrada no Ensaios de arco interno também são
tempo suficiente para a estabilização relatório de ensaio, o ensaio não tem aplicáveis a equipamentos de baixas a altas
das temperaturas dos pontos medidos. reprodutibilidade. As normas de painéis tensões. A ideia é criar um arco durante
A elevação de temperatura medida e barramentos pedem para medir apenas certo período de tempo. Os efeitos das
não deve ir além de certos limites a resistência total por fase e não também sobrepressões provocadas são observados.
especificados nas normas técnicas. Estes a resistência do disjuntor ou chave por Os requisitos para aprovação nos testes
limites tem relação direta com a vida fase vista a partir dos terminais. incluem que as portas não devem abrir
útil do equipamento. Se os limites são Ensaios de corrente suportáveis de permitindo a saída dos gases quentes e os
ultrapassados no dia a dia, a vida util é curta duração e de crista são feitos para gases expelidos através dos dispositivos
reduzida de forma calculável. verificar os efeitos das forças e as altas de alívio de pressão não podem queimar
Os resultados do ensaio de elevação temperaturas atuantes em isoladores e os indicadores de algodão colocados
de temperatura são influenciados condutores durante um curto-circuito. perto das partes acessíveis e que simulam
pela corrente aplicada, tipo de As forças mecânicas nos isoladores a pele de uma pessoa. Buracos causados
materiais, as resistências de contato, a (tração, compressão e flexão) e as pelo arco nas paredes externas não são
temperatura do fluido, a geometria dos tensões mecânicas nos condutores são permitidos.
condutores, o volume interno líquido calculáveis por expressões mostradas na Em conjuntos de manobra isolados
do compartimento e a existência ou referência ao final deste artigo. a ar, a principal causa de falhas durante

Figura 3 – Ensaio de correntes de curta duração. Figura 4 – Ensaio de arco interno.


Apoio

os testes é a queima dos indicadores 53


de algodão horizontais após reflexões
dos gases quentes no teto. Os principais
fatores que influenciam os resultados são
a tensão, a corrente, o volume líquido
interno do compartimento, o tempo
de resposta e a área dos dispositivos
de alívio de pressão. As aberturas de
ventilação, que causam impacto positivo
nos resultados dos ensaios de elevação de
temperatura, são um caminho de saída
de gases quentes que podem queimar os
indicadores de algodão e provocar falha
Figura 5 – Tensão suportável à frequência industrial.
no ensaio.
A Figura 4 dá uma ideia dos 61641 está virando uma especificação e mesmo em condições que simulam
fundamentos. Os indicadores de algodão regular dos compradores. poluição (Figura 5).
representam a pele das pessoas próximas Tensão aplicada sob frequência Impulso atmosférico e de manobra a
que não podem ser queimadas pelos industrial a seco e sob chuva são seco e sob chuva e tensões combinadas
gases quentes provenientes do interior. aplicados a equipamentos de alta (BIAS) buscam simular em laboratório a
Este teste ainda não é um ensaio de tipo tensão e visam simular as condições ocorrência se sobretensões de durações
para painéis de baixa tensão. Como os de tensões temporárias que acontecem da ordem de microssegundos, mas que
riscos e níveis de energia em instalações nas subestações e podem ter durações podem chegar a valores de pico da ordem
acima de 40 kA são consideráveis, o que da ordem de dezenas de segundos. de seis vezes a tensão normal do sistema.
está prescrito no documento IEC TR Podem ser realizados a seco e sob chuva Os impulsos atmosféricos representam a
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54
Equipamentos para subestações de T&D

Figura 6 – Ensaio de impulso e ensaio de BIAS.

Figura 7 – Ensaio de radio-inteferência.

queda de raios. Os impulsos de manobra e que se propagam por condutores. Podem equipamentos de subestações de
representam as sobretensões causadas interferir nas rádios, especialmente na transmissão e distribuição. Disponível
por operações como abertura de linhas, faixa AM. Estes pulsos alcançam valores em: <http://www.cognitor.com.br/
de transmissão, reatores e bancos de da ordem de grandeza de 50 µVa 1500 µV Book_SE_SW_2013_POR.pdf>.
capacitores (Figura 6). O ensaio de BIAS em função da distância. Em laboratório, a
simula a condição de ocorrência de uma ideia é medir as ondas “conduzidas”. Em
sobretensão de impulso em um lado do linhas de transmissão, podem-se medir as
equipamento estando outro lado também componentes irradiadas.
energizado a 60 Hz.
Medições de radiointerferência são Referência
feitas para medir a magnitude de pulsos de [1] COSTA, Sergio Feitosa. Painéis,
alta frequência gerados por equipamentos barramentos e secionadores e
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48
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo IV

Estudos elétricos de sobretensões,


coordenação de isolamento e impactos
de campos elétricos e magnéticos

Nesta série de fascículos são coordenação de isolamento e impactos de As sobretensões que acontecem em
apresentados conceitos de engenharia para campos elétricos e magnéticos”. uma rede elétrica podem ser classificadas
o projeto e a especificação de equipamentos como “longa duração”, quando duram
de subestações de transmissão e distribuição. Estudos elétricos de até dezenas de segundos e as de “curta
O primeiro capítulo desta série cobriu sobretensões duração”, que são da ordem de grandeza
aspectos dos estudos do sistema elétrico de 100 a 3.000 microssegundos. Uma típica
que servem de base para as especificações Da mesma forma como são realizados sobretensão de longa duração é a que ocorre
técnicas dos equipamentos. O segundo estudos relacionados à circulação de quando, durante um temporal, um galho de
cobriu conceitos sobre curtos-circuitos, correntes de curto-circuito e correntes árvore toca o cabo de uma das três fases do
ampacidades, sobrecargas e contatos nominais, que foram descritos no segundo circuito e provoca um curto fase terra que
elétricos. Já o terceiro capítulo abordou capítulo desta série, são realizados abre o fusível da chave fusível daquela fase.
as técnicas de ensaios de alta potência, outros estudos relacionados às tensões No momento da interrupção da corrente
laboratórios de ensaios e principais permanentes e transitórias que são aplicadas na fase defeituosa, é provocada uma
ensaios. Este quarto capítulo abordará o aos equipamentos de uma subestação no sobretensão nas duas fases não defeituosas
tema “Estudos elétricos de sobretensões, dia a dia. que pode fazer o valor da tensão subir

Figura 1 – Exemplos das durações das sobretensões.


Apoio

do valor fase terra para algo próximo da comprimento, da potência de curto-circuito valor à estética dos sistemas de distribuição 49
tensão fase-fase e isso é percebido nas casas local e grau de compensação da linha. de energia, é comum encontrar pelas
com a luz ficando mais forte. Se a duração Quanto mais malhado o sistema, menor ruas gambiarras (Figura 2) que seriam
do evento é maior, pode-se queimar será a sobretensão, sendo que, como ordem inaceitáveis em alguns países do primeiro
geladeiras, aparelhos de ar condicionado, de grandeza, estas sobretensões podem mundo.
computadores e outros eletroeletrônicos. variar da ordem de 20% a 95% dependendo Nas zonas mais abastadas, nas quais
As sobretensões de longa duração são da rapidez dos reguladores de velocidade e circulam turistas e moram as autoridades,
de frequência da ordem de 50-60 Hz e do grau de compensação. como a Zona Sul do Rio de Janeiro, a
seus harmônicos. São em geral sustentadas No caso da manobra de correntes estética ainda tem algum valor, mas no
e pouco amortecidas, podendo alcançar capacitivas, a tensão de restabelecimento restante da cidade é comum a existência
amplitudes da ordem de 1,5 P.U. Sua transitória (TRT) nos terminais de cada fase dessas vergonhosas e perigosas instalações.
efetiva duração vai depender do sistema de do disjuntor cresce lentamente, facilitando É usual também encontrar transformadores
controle de tensão do sistema. a interrupção, mas a tensão máxima muito próximos a janelas de apartamentos,
Exemplos de causas destas sobretensões de pico pode chegar a 2 pu e provocar como na foto que foi mostrada no Capítulo
são a perda súbita de carga em sistemas reacendimento do arco se não há suficiente 1 do fascículo. Este tipo de situação tem
radiais, as faltas para a terra desbalanceadas, separação dos contatos, reconectando a sido inclusive motivo de ações judiciais. A
a desconexão de cargas indutivas, a conexão capacitância C à fonte. Neste caso, se uma reportagem exibida no Bom Dia Brasil da
de cargas capacitivas e a energização de nova interrupção acontece próxima do zero TV Globo em 27/09/2012 (que pode ser
linhas em vazio. de corrente, a tensão pode ir duplicando e, encontrada no site da www.globo.com)
A perda súbita de carga ocorre quando inclusive, levar à explosão do disjuntor. retrata bem a questão das “gambiarras” dos
uma linha com a maior parte da energia Um caso frequente e fácil de explicar sistemas aéreos de distribuição brasileiros.
de um gerador é desligada, em que os com um exemplo é o das faltas para A reportagem mostra também a questão
geradores aceleram e a tensão sobe. A a terra desbalanceadas mencionadas dos apagões e as desculpas de que chuvas
magnitude da sobretensão depende de anteriormente. No Brasil, como não se dá e vendavais são os culpados pela operação
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50
Equipamentos para subestações de T&D

Figura 2 – Situações em que é fácil acontecer um curto fase terra durante um temporal causando sobretensões.

deficiente. Cabe notar que os sistemas previsíveis e controláveis, sendo estudadas como as sobretensões mais relevantes.
subterrâneos, embora um pouco mais caros, e monitoradas há muitas décadas e suas Os impulsos de manobra surgem devido
dão muito menos defeitos e não estão expostos formas de onda e valores típicos são à abertura e ao fechamento dos disjuntores,
aos ventos e chuvas. Por isso, são muito usados como mostrados na Figura 3. Os valores a seccionadores e outros dispositivos de manobra
nos países desenvolvidos. Nosso setor elétrico aplicar nos testes de laboratório para classe instalados nos sistemas. As formas de onda
claramente andou para trás nos últimos 15 de tensão são especificados em normas típicas são também mostradas na Figura 3.
anos em todos os aspectos possíveis. técnicas como IEC, ABNT, entre outras. São simulados em laboratório por impulsos de
Considerando estas classificações, as Os testes de laboratório que tensão com uma forma de onda de 250 x 2.500
sobretensões de curta duração são as que visam simular os efeitos das descargas μs, sendo o primeiro valor o tempo de frente e
ocorrem devido às descargas atmosféricas atmosféricas são realizados aplicando-se o segundo associado ao tempo de cauda.
e os chamados impulsos de manobra. Os uma onda padrão de forma de onda 1,2 / As ondas de impulso aplicadas em
impulsos atmosféricos são os nossos “raios”. 50 μs. Estes valores buscam representar um laboratório são produzidas por geradores
Frequentemente, são considerados os vilões certo valor de crista que ocorre nas redes de impulso. Estes são equipamentos
dos apagões, quando não se quer tornar elétricas, assim como os tempos de subida compostos por capacitores, resistores e
claro que houve um erro de manobra ou e de descida da tensão. Para equipamentos centelhadores. Por meio do ajuste dos
de planejamento. Entretanto, as descargas de classe de tensão mais baixa que 230 kV, valores destes componentes, obtém-se as
atmosféricas são um dos eventos mais os impulsos atmosféricos são considerados ondas desejadas.

Figura 3 – Sobretensões de impulso. Figura 4 – Exemplo de uso de sincronizadores.


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52 Para minimizar o efeito das computador, como o ATP / ATPDRAW. como: (a) convencional, quando o número
sobretensões de manobra nas redes elétricas Este programa, que pode ser baixado de descargas toleradas é zero (probabilidade
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de alta tensão, são utilizados dispositivos de livremente na internet, quando utilizado de suportar Pw = 100 %) e (b) estatística,
controle de sobretensões, tais como: por especialistas com certa experiência na quando o número de descargas toleradas
análise de seus resultados, permite simular é relacionado a uma probabilidade de
• Resistores de pré-inserção: usados para os efeitos das condições de configurações suportabilidade especificada, por exemplo,
reduzir sobretensões em manobras de e manobras operativas que vão dar origem 90%.
energização e religamento de linhas (no a sobretensões de curta ou longa duração. Neste segundo caso dos 90%, durante
fechamento). Também são aplicados na Com base nos valores obtidos nestes um teste de impulso atmosférico, o
redução da amplitude das tensões de estudos é que será baseada a coordenação equipamento seria aprovado se, em cada
restabelecimento transitórias de disjuntores do isolamento daquela rede elétrica. série de quinze impulsos, ocorressem, no
(se utilizados na abertura); máximo, duas descargas por polaridade em
• Para-raios: para impedir sobretensões Coordenação de isolamento meio auto-recuperante e nenhuma descarga
superiores àquelas para os quais os em meio não auto-recuperante.
equipamentos foram projetados; Os procedimentos e definições são Também é mostrado como selecionar as
• Capacitores nos terminais de disjuntores: explicados na norma 60071-1 – Coordenação tensões suportáveis e níveis de isolamento
para reduzir taxa de crescimento da TRT; de Isolamento e correspondentes normas nominal do equipamento em função dos
• Blindagem de linhas e subestações contra nacionais. Esta norma começa com uma valores máximos de tensões que podem
descargas atmosféricas (cabos para-raios e série de definições e conceitos, entre ocorrer na rede, obtidos nos estudos de
hastes de proteção): para evitar incidência as quais as classificações dos tipos de sobretensões. Para tal, são apresentadas,
direta nos condutores; isolamentos em: (a) Auto-recuperantes, por nas tabelas da norma, listas de valores para
• Sincronizadores: para redução das exemplo, as distâncias entre fases no ar e a as tensões suportáveis de impulso e para as
sobretensões ou sobrecorrentes por controle parte externa de isoladores (b) Não auto- tensões suportáveis à frequência industrial.
do ângulo de fechamento na tensão. São recuperantes, como o papel impregnado A Figura 5 mostra parte de uma tabela
especialmente úteis na energização de linhas a óleo de transformadores, a parte interna típica, no caso, da ABNT NBR 7282.
em vazio e bancos de capacitores, assim de buchas e a especificação das distâncias Deve-se notar que, para um mesmo
como para evitar correntes de "inrush" em de escoamento (kV / mm) de isolamentos valor de tensão nominal, pode haver
transformadores. A Figura 4 exibe um que são selecionadas com base na tensão mais de uma lista de valores de tensões
exemplo típico de aplicação, mostrando máxima de operação, poluição, umidade e suportáveis. Em algumas normas, estes
como as sobretensões são reduzidas pelo densidade do ar. valores são descritos como isolamento
simples controle do ângulo de fechamento A norma define também as tensões pleno ou isolamento reduzido. Na verdade,
ou abertura da tensão na manobra. suportáveis como aquelas a serem aplicadas o que está atrás das diferentes alternativas
em ensaio durante o qual um número de tensões suportáveis é que representam
Os estudos elétricos de sobretensões específico de descargas destrutivas é práticas em diferentes países ou diferentes
são feitos com o suporte de programas de tolerado. A tensão suportável é designada regiões com suas condições atmosféricas e

Tabela 1 – Níveis de isolamento nominais (série I)

Tensão suportável à frequência industrial Tensão suportável de impulso atmosférico


Tensão nominal durante 1 minuto (eficaz) Um kV(pico)
Ur kV Uc kV (valor eficaz)
(valor eficaz) Valor Comun Através da distância Valor Comum Através da distância
de isolamento de isolamento
17,5 38 45 75 85
95 110
24 50 60 95 110
125 145
36 70 80 145 165
170 195
145 230 265 550 630
275 315 650 750
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de poluição específicas. sobretensões e, eventualmente, reduzir os distâncias elétricas mínimas. Esta norma 53
níveis de isolamento a especificar. vai além disso e explica outros aspectos
A sequência para realizar a coordenação de do projeto eletromecânico, como a
isolamento é, portanto: Outro aspecto a considerar, no caso do questão das distâncias de segurança
projeto de subestações, é a seleção dos entre transformadores e construções,
• Determinar as sobretensões: magnitude, espaçamentos e distâncias de segurança. distâncias relativas a aspectos de incêndios
duração e probabilidade de ocorrência; A norma IEC 61936 sobre instalações de e subestações ou mesmo alguns aspectos
potência de alta tensão é muito didática do aterramento e tensões de passo e toque
• Selecionar os níveis de isolamento no que diz respeito aos conceitos para (Figura 5).
empregando um dos métodos:
• Método convencional considerando as
sobretensões + margem de segurança (por
exemplo 25%).
• Método estatístico: selecionar um certo
risco de falha.

• Especificar nas especificações técnicas


os ensaios dielétricos:
• Frequência industrial.
• Impulso de manobra (250 x 2.500 µ S).
• Impulso atmosférico (1,2 x 50 µ S).

• Onde for aplicável, é necessário prever o


uso de dispositivos de proteção para reduzir
Figura 5 – Distâncias de segurança (IEC 61936).
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54
Equipamentos para subestações de T&D

Figura 6 – Campo magnético (à esquerda) e campo elétrico (à direita).

Efeitos e impactos de campos Em alguns aspectos dos problemas de em algumas regiões, os campos são
elétricos e magnéticos compatibilidade eletromagnética (CEM) reduzidos, mas, em outras, são muito
em subestações, as correntes nominais elevados. Nestas, não se deve colocar
Como foi mostrado no Capítulo 1 também são de interesse. Entretanto, componentes sensíveis, como os
desta série, a circulação de correntes para a CEM, no que diz respeito à eletrônicos, relés, contatores, etc. Estes
permanentes elevadas produz campos imunidade a campos no projeto de resultados foram obtidos com o software
magnéticos que, se ficarem acima de equipamentos, as correntes elevadas de SwitchgearDesign.
certos níveis, podem ser prejudiciais curto-circuito são mais importantes. O Em um dos capítulos finais deste
a pessoas (saúde) e a instalações motivo é que, durante o curto-circuito, fascículo serão mostrados mais detalhes
(aquecimentos indevidos e problemas de os campos magnéticos produzidos sobre a descrição das técnicas para
compatibilidade eletromagnética). são muito elevados e podem interferir simulação de ensaios de alta potência
Do ponto de vista dos impactos no funcionamento de componentes e aplicações no desenvolvimento e
à saúde, há toda uma legislação que eletrônicos, relés e outros tipos de certificação de produtos.
deve ser obedecida durante o projeto componentes usados no comando e
de uma subestação de energia. Esta proteção da subestação.
legislação estabelece um certo limite O bom conhecimento dos campos
para a exposição do público em geral elétricos e magnéticos permite
e de operadores, tanto para campos saber em qual lugar não instalar
magnéticos como para campo elétrico. componentes sensíveis a interferências
Os campos magnéticos são tão eletromagnéticas. Na Figura 6, a título
maiores quanto maiores são as correntes de exemplo, são mostrados os campos
circulantes. Nos aspectos mencionados magnéticos no interior de um painel
de aquecimentos e impactos à saúde, as elétrico submetido a uma corrente
correntes de interesse são as correntes permanente trifásica, assim como o
permanentes / nominais. campo elétrico. É possível notar que,
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60
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo V

Arcos internos em equipamentos de subestações

Nesta série de fascículos, são internos em painéis de médias e baixas traduzida de uma norma IEC já superada
apresentados conceitos de engenharia para tensões. A ideia do texto a seguir não é ser no mercado internacional.
projeto e especificação de equipamentos mais uma repetição do tema, mas convém As únicas exceções a isso são as
de subestações de transmissão e de relembrar um aspecto das normas técnicas. normas atreladas a produtos de certificação
distribuição. O primeiro capítulo da série Ensaios de arcos internos em painéis são compulsória. Tais produtos só podem
cobriu aspectos dos estudos do sistema ensaios de tipo para os painéis de média ser comercializados no país se forem
elétrico que servem de base para as tensão (IEC 62271-200), mas infelizmente certificados pelo Inmetro e, como exemplo,
especificações técnicas dos equipamentos. ainda não são ensaios de tipo para os painéis temos os plugues e tomadas para uso
O segundo abordou conceitos sobre de baixa tensão (IEC 61439). O mercado doméstico, interruptores para instalações
curtos-circuitos, ampacidades, sobrecargas comprador, entretanto, exige cada vez mais, elétricas fixas domésticas, alguns cabos de
e contatos elétricos. O terceiro artigo com fundamento, que os fabricantes de potência de baixa tensão e equipamentos
abordou o tema “Técnicas de ensaios de painéis de baixa tensão comprovem que para atmosferas explosivas. No Inmetro,
alta potência, laboratórios de ensaios e o equipamento foi testado e aprovado no além da certificação compulsória, existe a
principais ensaios”. E o quarto capítulo ensaio da IEC TR 61641. possibilidade de certificar certos produtos
tratou de estudos elétricos de sobretensões, A norma IEC 61439-1:2009, publicada nas modalidades de certificação voluntária
coordenação de isolamento e impactos de há seis anos, encontra-se, na ABNT, há (por exemplo, instalações de baixa tensão)
campos elétricos e magnéticos. dois anos em tradução e adaptação para e em programas de etiquetagem voluntária
Neste quinto capítulo, o tema abordado o português. Seria bem-vindo e original (como transformadores de distribuição em
será “Arcos internos em equipamentos se a comissão da ABNT aproveitasse a óleo) e compulsória (como certos motores
de subestações”, com ênfase na brochura oportunidade para listar o ensaio de arco elétricos e refrigeradores). Nenhuma dessas
Cigré 302 – Ferramentas para a simulação interno nos painéis com correntes de arco possibilidades se aplica a painéis elétricos
dos efeitos de arco interno na transmissão maiores que 40 kAef, como um ensaio de baixa ou média tensão.
e distribuição. Este documento único foi de tipo. Se isso fosse realizado na norma
publicado pelo Cigré Internacional em brasileira, poderia se fazer o mesmo com a Ferramentas para a simulação
dezembro de 2014. O autor deste fascículo, IEC, tendo uma boa chance de sucesso. Fica dos efeitos de arco interno
Sergio Feitoza Costa, participou desde o aqui a ideia! em equipamentos de manobra
início dos grupos de trabalho dos grupos Falando sobre normas, cabe lembrar de transmissão e distribuição
de trabalho Cigré WG A3-20 e WG A3-24, que ninguém é obrigado a utilizar normas (Brochura Cigré 602)
sendo um dos coautores da brochura. brasileiras de painéis e outros produtos pelo
simples fato de serem normas brasileiras. Em dezembro de 2014, foi publicada
Arcos internos e qualificação Normas técnicas são instrumentos que a Brochura Cigré 602 (http://www.e-
de produtos: quais normas servem de referência aos contratos entre cigre.org/Search/resultatREF.asp#), único
técnicas utilizar? comprador e vendedor e estes são livres para documento que foi publicado e detalhado
escolher as normas que bem entenderem. É sobre o assunto. Participaram de sua
Nos últimos anos, vários artigos têm mais razoável usar uma norma IEC recente preparação 21 especialistas de 15 países,
sido publicados no Brasil sobre arcos do que usar uma antiga norma brasileira entre os quais o autor deste fascículo,
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Sergio Feitoza Costa, que participou, desde e alta tensão isolados a SF6 e a ar. montados para analisar os efeitos do arco 61
o início, em 2007, dos grupos de trabalho Há várias normas mundiais sobre interno, pesquisar as ferramentas e modelos
Cigré WG A3-20 e WG A3-24. Em 2007, equipamentos resistentes a arco interno. computacionais disponíveis e aconselhar
para se ter uma ideia, uma das reuniões Algumas, como a IEC 62271-200, que alguns testes possam ser substituídos
do grupo de trabalho aconteceu no Rio de permitem que o SF6 seja substituído por por simulações de computador. Algumas
Janeiro por ocasião do evento internacional ar durante o teste de arco interno. Outras, motivações e resultados específicos foram:
realizado pelo Cigré – SC A3 Technical como a IEEE Std C37.20.7, não tratam de
Colloquium. equipamentos isolados a SF6. Por último, • avaliar os métodos de cálculos de
Reconhecendo o papel crescente do existem normas, como a IEC 62271-203, sobrepressão e fazer análises comparativas
uso de simulações de alguns ensaios, o que permitem a extensão de resultados dos com resultados de testes realizados;
Cigré internacional estabeleceu o grupo testes por métodos de cálculo. A futura IEC • reduzir o número de ensaios de arco
de trabalho WG A3.20, que depois foi 62271-307 tratará da extensão da validade interno por razões ambientais;
substituído pelo WG A3-24. As tarefas de relatórios de ensaios feitos segundo a • verificar os impactos de modificações
iniciais foram de avaliar ferramentas de IEC 62271-200. Esta norma, atualmente em de projeto da por meio de simulações
simulação e em que medida poderiam preparação, terá impacto no mercado de (interpolação de resultados de teste);
ser usadas. Conclui-se que a simulação painéis de média tensão e será tratada em • verificar a validade da substituição de SF6
é uma ferramenta de desenvolvimento um capítulo desta série mais a frente. por ar durante os testes de arco interno.
valiosa e que pode prever o desempenho Na brochura fica claro que a realização
de um equipamento, pelo menos quando desses testes é muito importante do O WG A3.24 começou o trabalho pela
se está comparando alguns resultados com ponto de vista da segurança, embora seja revisão da literatura existente (mais de 100
outros resultados de um projeto já testado econômico e ambientalmente proibitivo artigos e normas técnicas) e pela coleta de
e simulado. O WG A3.24 continuou as testar todas as variações de um determinado dados de teste a partir de inúmeros testes
análises com um foco específico em testes projeto de painel. Nesse sentido, o trabalho de arco interno. Os dados de teste foram
de arco interno em equipamentos de média do WG e a brochura resultante dele foram coletados a partir de mais de 80 casos
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62 diferentes com tamanhos de invólucros que c) Cálculos de energia, evaporação de possibilidade de furar o invólucro e
vão desde volumes de menos de cinco litros metais e ablação de isoladores; fórmulas;
Equipamentos para subestações de T&D

até grandes tanques de GIS (1.200 litros). As d) Misturas de gases em p) Avaliação do tempo de queima em
correntes de falta variaram de 12 kA a 63 compartimentos; invólucros de alumínio e aço;
kA, com durações de falhas que vão desde e) Uso de absorvedores de arco no fluxo q) Avaliação de parâmetros de projeto;
10 ms a 1,2 s. de escape; r) Sensores de pressão e absorção do
Foram analisados desde invólucros f) Velocidades de dispositivo de arco por indicadores;
simples até equipamentos com vários abertura de alívio; s) Efeitos da ligação do neutro durante
compartimentos isolados a SF6 e ar. Ao g) Uso de CFD é utilizado para ensaios.
longo das análises, houve foco nos três simulação de arco interno;
efeitos principais de um arco interno h) Análises de sensibilidade aos diversos No que diz respeito aos modelos de
que são: (a) o aumento de pressão; (b) parâmetros; cálculo utilizados, algumas observações são
as solicitações mecânicas no invólucro, i) Comparação dos efeitos de um mostradas na tabela a seguir. Eles estariam
instalações e paredes causadas pela mesmo arco interno em ar ou no SF6; em um ponto intermediário entre o modelo
sobrepressão interna; e (c) o efeito “burn- j) Normalização técnica e interpretação básico e o de alta complexidade.
through” no sentido de furar o invólucro de resultados de testes (diferenças ar e Um exemplo de software que estaria
quando a corrente de arco estacionaria em SF6); em um ponto intermediário a estes
um certo ponto. k) GIS> 52 kV (IEC 62271-203) e dois é o software Switchgear Design
No grupo de trabalho, as avaliações cubículos ≤ 52 kV (IEC 62271-200, desenvolvido pelo autor deste fascículo.
foram feitas com ferramentas de software -201, IEEE C37.20.7); Entretanto, este não se aplica apenas a
que variaram desde as “feitas em casa” até l) Solicitações mecânicas devido às simulações de ensaios de arco interno, mas
ferramentas CFD complexas e caras. Do sobrepressões nos invólucros e nas permite também simulações de ensaios
ponto de vista do cálculo da sobrepressão paredes da sala; de elevação de temperatura e de forças
pode-se perceber que, mesmo com as m) Construção de paredes, parâmetro eletrodinâmicas, assim como a avaliação
ferramentas mais simples, o pico de crítico no projeto civil e área de abertura de campos magnéticos e elétricos,
pressão foi calculado dentro de 10% a da sala; tensões induzidas, etc. conforme pode ser
20% do pico medido, o que indicou que o n) Critérios para avaliação de estresse observado em http://www.cognitor.com.
uso da ferramenta mais simples deve ser da parede; br/TR_071_ENG_ValidationSwitchgear.
explorado. Considerando esta conclusão, o) “Burn-through: avaliação da pdf
o WG desenvolveu um conjunto de
"equações básicas" que validaram o modelo Tabela 1 – Comparações dos modelos de cálculos utilizados
matemático para mais de 70 casos. Aplicação Limitações
Verificou-se que o cálculo das curvas Para calcular rapidamente Não considera não uniformidade
de pressão no interior do compartimento o aumento da pressão de parâmetros do gás (pressão,
do arco durante uma falha de arco interno Modelo básico dentro de um compartimento temperatura, densidade) no volume;
dá boa concordância entre o teste e a (simplificado) de arco e no volume Não aplicável se a área de abertura do
simulação, desde que a energia do arco seja de escape em painel típico alívio for muito grande em relação ao
conhecida. Estes resultados são descritos de média tensão e volume do compartimento;
detalhadamente na brochura. em aplicações GIS de Os cálculos não se mostraram
Entre os tópicos detalhadamente alta tensão. confiáveis, quando a temperatura do gás
cobertos na brochura estão os seguintes: excede 2.000 K para SF6 e 6.000 K para o ar;
Não considera misturas de
a) Cálculo da pressão por modelo gases no compartimento;
analítico incluindo as equações do Não aplicável a grandes salas de
modelo, parâmetros e limites da instalação (> 50 m³).
aplicação; Modelo CFD Para calcular a distribuição Alto esforço para a modelagem e
b) Aplicação do modelo para casos de (alta complexidade) de pressão espacial e fluxo de malhas para o equipamento e a sala;
teste selecionados em vários arranjos gás em formas de geometria Requer grande capacidade
de ensaios, incluindo painéis de média complexas e em grandes salas. computacional.
tensão e alta tensão isolados a SF6 e a ar;
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64 Os seguintes estudos de caso são detalhados na brochura para painéis de média tensão isolados a ar (dados de entrada).
Equipamentos para subestações de T&D

Tabela 2 – Dados de entrada de painéis de média tensão isolados a ar


Caso número A22 B27 C70 D14
Volume compartimento de arco (V1) 0,509 0,509 0,648 0,27 m³
Volume compartimento exaustão. (V2) >1.000 1.275 >1.000 0,58 m³
Volume da sala de instalação (V3) n/a >1.000 n/a >1.000 m³
Pressão inicial de enchimento do volume 1 150 160 100 120 kPa abs ar
Pressão inicial de enchimento do volume 2 100 100 100 100 kPa abs ar
Área de alívio de pressão entre volumes 1 e 2 0,00456 0,00456 0,0763 0,049 m²
Atuação do dispositivo de alívio 276 285 35,3 220 kPa rel
Área de alívio de pressão entre volumes 2 e 3 0 0,010 0 0,195 m²
Corrente de curto-circuito 14,5 14,5 14,5 38,8 kA ef
Número de fases 1 1 2 3
Tensão média fase-terra 314 424 400 250 V
Fator KP 0,4 0,55 0,7 0,6

Os seguintes casos são detalhados na brochura para painéis de media tensão isolados a SF6 (dados de entrada).
Tabela 3 – Dados de entrada de painéis de média tensão isolados a SF6
Caso número E24 F3 G13
Volume compartimento de arco (V1) 0,509 1.217 0,27 m³
Volume compartimento exaustão. (V2) >1.000 >1.000 0,58 m³
Volume da sala de instalação (V3) NA NA >1.000 m³
Pressão inicial de enchimento do volume 1 150 166 120 kPa abs SF6
Pressão inicial de enchimento do volume 2 100 100 100 kPa abs arr
Área de alívio de pressão entre volumes 1 e 2 0,00456 0,062 0,049 m²
Atuação do dispositivo de alivio 310 1.400 220 kPa rel
Área de alívio de pressão entre volumes 2 e 3 NA NA 0,195 m²
Corrente de curto-circuito 14,2 25 38 kA ef
Número de fases 1 3 3
Tensão média fase-terra 350 1.700 400 V
Fator KP 0,75 0,7 0,76

Figura 1 – Gráficos mostram os resultados das pressões V1 e V2 dos estudos de caso D14 e F3 referenciados nas Tabelas 2 e 3.

Na seção B.4 da brochura é referenciado o specified in international standards", de como uma proposta para a execução
artigo "Guidelines for the use of simulations autoria de Sérgio Feitoza. Este trabalho foi de uma nova norma ABNT chamada
and calculations to replace some tests apresentado em 2010 ao CB-3 da ABNT “Orientações para o uso de simulações
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para extrapolar resultados de alguns os países em desenvolvimento”, que pode nas normas relevantes de produtos e, em 65
ensaios de alta potência especificados nas ser encontrado no site www.cognitor.com. decorrência, estão disponíveis no relatório
normas ABNT”. br, há uma discussão sobre este tema. A de ensaios. Neste sentido, a nova norma
Por razões difíceis de entender, a proposta básica é trabalhar junto à IEC descreveria as medições mínimas e os
ideia não foi aceita pela ABNT, embora no sentido de que ela, ao publicar certas registros fotográficos que devem ser feitos
tivesse o apoio de mais de 20 empresas normas, também sejam publicadas em e registrados em relatórios de ensaios de
que queriam participar das reuniões da português, como já acontece na língua laboratório especificados em normas de
comissão de estudos. Entre os interessados espanhola e alguns outros idiomas. produtos.
estavam 15 fabricantes de equipamentos No caso do texto referenciado na Tais medições e registros fazem
de altas e baixas tensões, principalmente seção B.4 da brochura, o escopo da com que o ensaio seja reprodutível e seu
painéis, laboratórios de ensaios, norma seria apresentar orientações para relatório útil para o posterior uso em
certificadora, concessionárias de energia a sistematização do uso de simulações e simulações. Estas medições e registros
e grandes usuários de equipamentos para cálculos utilizáveis para substituir alguns também ajudam os usuários a identificar se
subestações. ensaios de laboratório em situações em que um produto comercializado é semelhante
No Brasil não se consegue perceber o senso comum mostra ser razoável fazê-lo. ao que foi efetivamente ensaiado em
o erro estratégico que é levar anos O caso mais frequente é a extrapolação de laboratório. Atualmente, existe uma falta
para traduzir normas técnicas IEC que resultados de ensaios feitos em laboratório, de dados para a validação dos resultados
foram publicadas muitos e muitos anos em um certo equipamento, para predizer de simulações em comparação com
antes. Enquanto isso continuamos a os resultados do mesmo ensaio em um resultados de ensaios de laboratório. São
andar para trás na lista dos países em equipamento com características próximas todas medições e registros de baixo custo
desenvolvimento. Há cerca de 15 anos, ao já testado, mas que não foi testado. O e de realização simples.
havia um entendimento bem melhor uso de simulações para substituir ensaios Não seria um objetivo da nova norma
destes aspectos. No artigo “Como podem só é possível quando determinadas apresentar métodos de cálculo para a
as normas IEC ajudar a reduzir o gap entre medições e registros são especificadas simulação de ensaios. Considera-se que um
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66
modelo ou método é aceitável quando ele Tabela 4 – Valores típicos de tolerâncias aceitáveis
Equipamentos para subestações de T&D

produz resultados que podem ser validados Tipo de ensaio Parâmetro a comparar Valores típicos de
dentro das tolerâncias aceitáveis e, além tolerâncias aceitáveis
disso, a validação possa ser demonstrada de Ensaio de elevação de Elevações de temperaturas nas partes 1% a 5%
forma objetiva e transparente aos usuários. temperatura sólidas e fluidas
Embora os conceitos apresentados sejam Ensaio de arco interno Sobrepressão no invólucro acima da 5% a 10%
aplicáveis a qualquer equipamento elétrico, pressão atmosférica (crista e duração)
as aplicações mais visíveis são nos seguintes Ensaio de correntes Forças eletrodinâmicas e tensões 5% a 15%
equipamentos de altas e baixas tensões: suportáveis de curta mecânicas
painéis e quadros, barramentos e dutos duração e de crista
blindados, disjuntores, secionadores,
chaves, religadores automáticos, fusíveis e - Corrente elétrica circulante; Por razões de reprodutibilidade
transformadores. - Materiais utilizados nos condutores e do ensaio, a medição da sobrepressão
Seriam especificadas tolerâncias partes isolantes; ao longo do ensaio deve ser medida
máximas para as diferenças obtidas entre - Fluido que envolve os equipamentos e registrada no relatório de ensaio de
os métodos de simulação e os resultados dentro de um compartimento; laboratório. Os valores dos dados que
que ocorreriam no ensaio de laboratório - Posição e geometria espacial dos afetam o resultado do ensaio devem
especificado na norma do produto relevante. condutores; ser claramente registrados no relatório
Os valores típicos de tolerâncias aceitáveis - Volume do fluido no interior dos de ensaios através de fotografias e/ou
dos resultados obtidos nas simulações, compartimentos; desenhos.
quando comparados com os resultados do - Área dos dispositivos de alívio de Na Figura 2 a seguir, são mostradas
ensaio de laboratório, são mostrados na sobrepressão e sua velocidade de abertura; impressões fotográficas da liberação
Tabela 4. - Entrada e áreas de saída para ventilação, de gases quentes, como resultado da
Para o caso dos ensaios de arco assim como a existência de dispositivos formação de arco em SF6 (coluna da
interno, os dados de entrada mínimos a que as fechem no momento de um arco esquerda) e do ar (coluna da direita)
serem registrados em relatórios de ensaios interno; para uma falha de 14,2 kA, Arc 1 s. As
de arco interno emitidos por laboratórios - Posição relativa dos equipamentos em fotografias são tiradas com um intervalo
são os seguintes: relação às paredes e teto. de 0,2 s.

Figura 2 – Fotografias da liberação de gases quentes a partir de arco elétrico em SF6 (esquerda) e ar (direita).
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46
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo VI

Especificações técnicas de disjuntores,


secionadores, painéis e para-raios feitas
por concessionárias de energia

Neste fascículo são apresentados escrever um longo texto, referenciar a laboratório neutro e reconhecido. Entre
conceitos de engenharia para projeto norma técnica IEC ou a norma nacional os ensaios de rotina previstos na norma
e especificação de equipamentos de equivalente, se esta estiver atualizada. os seguintes são exigidos. É um texto
subestações de transmissão e distribuição. Em geral, no Brasil, as normas brasileiras simples, completo e com base em um
O primeiro artigo desta série cobriu estão defasadas em, no mínimo, três documento internacional. Para uma
aspectos de estudos do sistema elétrico anos, com relação às suas normas-base empresa privada é relativamente simples
que servem de base para as especificações da IEC. Isso ocorre, como já explicado seguir este tipo de estratégia.
técnicas dos equipamentos. O segundo em capítulos anteriores, pelo longo tempo Com estas informações e mais um ou
cobriu conceitos sobre curtos-circuitos, que é utilizado para traduzir as normas outro requisito oriundo da experiência
ampacidades, sobrecargas e contatos IEC em inglês para as normas brasileiras da empresa que está comprando o
elétricos. O terceiro abordou o tema em português. Seria bem mais inteligente equipamento, ter-se-ia em mãos uma boa
“técnicas de ensaios de alta potência, se o organismo de normalização especificação. É, entretanto, muito comum
laboratórios de ensaios e principais brasileiro agisse com a IEC como outros que a especificação publicada nas licitações
ensaios”. No quarto capítulo, falou-se países fazem para que pelo menos seja longa e confusa. O erro mais comum
sobre os estudos elétricos de sobretensões, algumas normas IEC fossem, na origem, é copiar na especificação longas partes da
coordenação de isolamento e impactos publicadas também em português. norma técnica de referência, muitas vezes
de campos elétricos e magnéticos. No Utilizando um disjuntor de alta com erros de interpretação dos termos.
capítulo anterior, o tema abordado foi tensão como exemplo, a especificação Para empresas estatais é quase
a recente brochura Cigré 602, sobre técnica ideal de um disjuntor de 145 impossível utilizar especificações simples
simulação de arcos. Já o tema deste sexto kV – 2.000 A – 31,5 kA seria um texto porque precisam atender em seus editais
capítulo são as especificações técnicas muito curto e mais ou menos como: “o a uma série de leis e regulamentos que
de disjuntores, secionadores, painéis e disjuntor, objeto desta especificação, acaba tornando estas empresas ainda
para-raios feitas por concessionárias de deve atender aos requisitos das normas mais pesadas e ineficientes. Foi uma pena
energia. 62271-1 – Equipamentos de Manobra pararmos o processo das privatizações que
de Alta Tensão – Parte 1: Especificações estava em bom andamento antes de 2003.
O que fazer e o que não fazer Comuns e IEC 62271-100 – Disjuntores A esta altura já estaríamos em um patamar
em uma especificação técnica de Alta Tensão de Corrente Alternada”. bem melhor. O resultado desta interrupção
para compra de equipamentos Os dados específicos do disjuntor foi a confusão que virou o setor elétrico
estão na folha de dados a seguir. O com tarifas muito maiores que nos demais
Para criar um referencial, vamos disjuntor deve ter sido submetido a todos países, contando ainda para isso com a
partir do princípio de que a especificação os ensaios de tipo previstos na norma, ajuda de uma carga tributária absurda e sem
técnica mais eficiente é, ao invés de comprovados em relatório emitido por retorno para quem paga os impostos.
Apoio

47
Tabela 1 – Folha de dados
Item Descrição Unidade O que incluir

A3 Local de instalação - Ao tempo

B Condições locais - Coordenadas geográficas, clima,

altitude e grau de poluição do local

C Características do sistema elétrico -


C1 Tensão nominal kV 138

C2 Tensão máxima de operação kV 145

C3 Número de fases - 3

C4 Frequência nominal Hz 60

C5 Tipo de aterramento do neutro - Isolado

C6.1 Alimentação do motor de carregamento da mola V 220 Vca +10%, -20%

D Características gerais do equipamento

D1 Meio isolante - SF6

D2 Religamento (tripolar/monopolar) - Tripolar

D4 Condições de serviço (normais/especiais) - Normais

D6 Desempenho quanto a reacendimento durante chaveamento de correntes capacitivas (classe C1 ou C2) - C1

D7 Classe de durabilidade mecânica (classe M1 ou M2) - M1

D8 Classe de durabilidade elétrica (classe E1 ou E2) - E1

E Características elétricas do equipamento

E5 Níveis de isolamento -
E5.1 Tensão suportável nominal de curta duração à frequência industrial (1 minuto) kVef. 275

E5.2 Tensão suportável nominal de impulso atmosférico kVpico 650

E6 Corrente nominal A 2.000

E7 Número de polos - 3

E9 Ciclo de operação - O-0,3 seg-CO-3 min-CO

E10 Fator de primeiro polo - 1,5

E11 Capacidade de interrupção nominal em curto-circuito kAef. 31,5

E12 Capacidade de interrupção de corrente de magnetização de transformadores A 10

E14 Tensão de restabelecimento transitória para faltas nos terminais, faltas quilométricas e discordância de fases kV Tabela xxx da IEC 62271

E15 Tensão de rádio interferência -


E16 Características para faltas quilométricas - Sim

E17 Duração nominal de curto-circuito seg 1

E18 Chaveamento de correntes capacitivas - Sim

E19 Corrente nominal de interrupção de linhas em vazio A 75

E20 Corrente nominal de interrupção de cabos em vazio A 160

E21 Corrente nominal de interrupção de banco único de capacitores kA Informar

E22 Corrente nominal de interrupção de banco de capacitores em contraposição kA Informar

E23 Corrente nominal de interrupção e estabelecimento em discordância de fases kA Informar

E25.3 Tempo de interrupção ms 50 (3 ciclos)

E25.4 Discrepância máxima entre polos (entre contatos principais) ms 5

F1.1 Mecanismo de operação elétrico a carregamento de molas

F3 Tensão do motor de acionamento das molas (VCA/VCC) V 220 Vca +10% -20%

F4 Tensão nominal das bobinas (VCA/VCC) V 125 Vcv +10%, -20%

Devemos rapidamente voltar a pensar com a corrupção. erros do tipo destes exemplos a seguir,
em privatizar tudo que seja privatizável. Voltando às questões técnicas das extraídos de algumas especificações que
Diminuindo-se a interferência dos governos especificações, quando se reescreve na tenho lido:
e partidos políticos nas empresas estatais especificação partes de textos das normas
diminuirão as perdas com a ineficiência e técnicas, corre-se o risco de inserir no texto • Errado: A elevação de temperatura dos
Apoio

48 contatos deve ser 53 °C. É uma frase sem especificações são os clássicos, detalhados são relacionados com ensaios como:
Equipamentos para subestações de T&D

sentido e o correto seria dizer que devem nos capítulos anteriores desta série ou seja:
ser atendidos no ensaio de elevação • Tensão suportável no invólucro sem a
de temperatura os limites máximos • Ensaios de interrupção e estabelecimento parte interna ativa;
especificados na norma IEC-62271-1; em curto-circuito; • Tensão residual para impulso de corrente
• Errado: O projeto dos contatos deve ser • Tensão suportável a impulso atmosférico; íngreme, impulso atmosférico e de
feito de modo que as forças eletromecânicas • Tensão suportável a impulso de manobra manobra;
não possam abri-lo. Esta é também uma a seco e sob chuva; • Corrente suportável de impulso retangular
frase sem nenhum efeito prático efeito. • Tensão suportável a frequência industrial, de longa duração e de descarga de linhas de
O correto seria especificar o ensaio de a seco (1 min), sob chuva (10 s); transmissão;
correntes suportável de curta duração e de • Elevação de temperatura; • Ciclo de operação (impulso de corrente
crista que existe nas normas exatamente • Corrente suportável nominal de curta elevada e de manobra);
para comprovar se o equipamento suporta duração e crista; • Característica "tensão de frequência
os efeitos das forças; • Resistência mecânica e operação; industrial x tempo”;
• Errado: Devem ser utilizados materiais • Tensão de rádio-interferência; • Alívio de sobrepressão interna;
da melhor qualidade técnica, novos e de • Ensaio de corona visual. • Tensão de rádio interferência e de
fabricação recente. O correto é especificar ionização interna;
quais normas ABNT, ANSI, IEC, NEMA, Para secionadores de alta tensão, • Ensaios do desligador automático;
ASTM, ou outras, devem ser atendidas nas como são equipamentos que em geral • Poluição artificial;
partes específicas; estão em série com um disjuntor, • Estanqueidade;
• Errado: Qualidade de execução: a mais as especificações são similares às • Medição das descargas parciais;
alta qualidade e em conformidade com as mostradas acima, com exceção dos • Distribuição de corrente, em para-raios
melhores e mais modernas práticas de alta requisitos de capacidade de interrupção multi-colunas.
qualidade. Este tipo de frase não serve para em curto-circuito, que não se aplicam
nada, pois não há um padrão de verificação aos secionadores. A seguir estão algumas características
e vai na direção contrária das normas ISO Para os para-raios, muitos dos extraídas de uma folha de dados de uma
para qualidade. termos utilizados são diferentes daqueles especificação de para-raios para o mesmo
empregados nos disjuntores e secionadores. sistema de 138 kV de onde vieram os dados
Os principais ensaios requeridos nas Os principais aspectos das especificações do disjuntor acima.

Tabela 2 – Folha de dados para para-raios


Item Descrição Unidade Especificado

B Local de instalação
Condições locais - Ao tempo

B1 Condições anormais
locais de serviço diante da IEC 60099-4 - Coordenadas Não
geográficas, clima,

B1.2 Temperatura máxima média anual ºC altitude e grau de42poluição do local

B1.3 Características
Temperatura média
do sistema
diária elétrico
(valor máximo) ºC
- 30

B1.4 Tensão nominal


Umidade relativa média kV
% 80138
a 90

B2 Tensão máxima
Atmosfera ambiente
de operação kV
- 145

B2.1 Número de fases


Corrosivo - Não
3

B2.2 Frequência
Presença denominal
pó Hz
- Sim
60

B2.3 Tipo de aterramento do neutro


Agressivo - Isolado
Sim

B2.4 Alimentação
Atmosfera explosiva
do motor de carregamento da mola V
- 220 Vca Não
+10%, -20%

C Características do
gerais
sistema
do equipamento
elétrico iguais às do disjuntor acima

D Meio isolante gerais do equipamento


Características - SF6

D1 Religamento
Tipo construtivo
(tripolar/monopolar) - Óxido de
Tripolar
zinco (ZnO)

D2 Condições
Tipo de instalação
de serviço (normais/especiais) - Autoportante
Normais

D4 Desempenho
Isolador (porcelana/polimérico)
quanto a reacendimento durante chaveamento de correntes capacitivas (classe C1 ou C2) - Porcelana
C1

D5 Classe de
Altura mínima
durabilidade
da estrutura
mecânica
suporte
(classe M1 ou M2) -
mm ≥ M1
2500

D6 Classededematerial
Tipo durabilidade
dos isoladores
elétrica (classe E1 ou E2) - Porcelana
E1

D8 Características
Esforço máximoelétricas
suportável
do equipamento
nos terminais N Informar
Apoio

50
Item Descrição Unidade Especificado

mm/kV Informar
Equipamentos para subestações de T&D

D9 Distância de escoamento

D10 Terminais de linha (incluídos no escopo de fornecimento) - Barra chata

E Características elétricas do equipamento -


E1 Tensão nominal kV 120

E2 Tensão máxima de operação em regime contínuo (MCOV) kV Mínimo de 92

E3 Máxima sobretensão temporária (TOV) -


E3.1 0,1 segundo pu 1,15

E3.2 1 segundo pu 1,10

E3.3 10 segundos pu 1,05

E4 Corrente nominal de descarga (onda 8/20 µs) kA 10

E5 Capacidade de absorção de energia kJ/kV 4

E6 Classe de descarga da linha de transmissão (1 a 5) - 2

E7 Corrente de alívio de pressão, duração de 0,2 seg kA 63

E9 Alta corrente de curta duração kA 65

E11 Tensões residuais de descarga com onda de 8/20 µs: -


E11.1 5 kA kV 285

E11.2 10 kA kV 300

E11.3 20 kA kV 310

E13 Tensão residual para impulso de manobra 1 KA - onda 30/60 µs kV 240

E13.1 Tensão residual para impulso de manobra 2 KA - onda 30/60 µs kV 250

E14 Tensão suportável nominal do invólucro à freqüência industrial -


E14.1 A seco kV 230

E14.2 Sob chuva kV Informar

E15 A impulso atmosférico com onda de 1,2/50 µs kV 550

E16 Classe (serviço) ou série - Pesado

G Inspeção e testes

G1 Ensaios de rotina - Sim

G1.1 Característica de tensão a frequência industrial x tempo - Sim Rotina

G1.2 Tensão suportável nominal a seco - Sim Rotina

G1.3 Estanqueidade - Sim Rotina

G2 Ensaios de tipo - Sim

G2.1 Execução - Sim

G2.2 Certificado do ensaio de para-raios idênticos - Sim

G2.3 Característica de tensão a frequência industrial x tempo - Sim

G2.4 Tensão suportável nominal de impulso atmosférico - Sim

G2.5 Tensão suportável nominal sob chuva - Sim

G2.5 Tensão suportável nominal a seco - Sim

G2.6 Tensão residual para impulso de corrente íngreme - Sim

G2.7 Tensão residual para impulso de manobra - Sim

G2.8 Corrente suportável de baixa intensidade e curta duração - Sim

G2.9 Corrente suportável de alta intensidade e curta duração - Sim

G2.10 Ciclo de operação - Sim

G2.12 Tensão de rádio-interferência e ionização interna - Sim

G2.13 Estanqueidade - Sim

Para transformadores de corrente (TCs), correntes é igual à da Tabela 2. Há, entretanto, que devem medir com precisão adequada
como são equipamentos em série com o algumas especificações adicionais que se já que os valores medidos serão usados no
disjuntor e o secionador já mencionados, a aplicam apenas aos próprios. Um TC tem faturamento aos usuários da energia da
maior parte das especificações de tensões e núcleos de medição das correntes normais subestação. Para estes núcleos de medição, no
Apoio

52 momento de um curto-circuito, a corrente que deve reproduzir exatamente o que está a relação de transformação sob circuito se
passa no secundário não deve acompanhar acontecendo no primário. Deve ser a mantém em uma faixa aceitável, do ponto
Equipamentos para subestações de T&D

os altos valores das correntes no primário. informação correta para alimentar os relés de vista dos relés de proteção.
Se isso acontecesse, os fios e medidores no de proteção que mandarão a ordem para o A seguir estão algumas características
secundário seriam danificados. disjuntor de proteção abrir a falta. Mesmo extraídas de uma folha de dados de uma
Por este motivo, os núcleos de medição que haja uma variação da frequência da especificação de transformador de corrente
dos TCs são projetados para que, em caso de rede por uma perda de estabilidade, a para o mesmo sistema de 138 kV de onde
um curto-circuito no primário, a corrente no informação do secundário deve ser precisa. vieram os dados do disjuntor acima.
secundário sature e não passe de um certo Para verificar este comportamento, existe As especificações de outros
valor, por exemplo, 50 Aef. Existe um ensaio também um ensaio em que se coloca uma equipamentos, como transformadores
para verificar se este aspecto é atendido. carga no secundário do TC parecida com as de potência e geradores, não serão
Nos núcleos de proteção dos TCs, a cargas que estariam normalmente ligadas abordadas neste texto, pois envolvem
situação é contrária. A corrente secundária e aplica-se um curto-circuito elevado no detalhes mais complexos que neste
no TC, no momento do curto-circuito, primário. O objetivo do ensaio é verificar se espaço não seriam possíveis de detalhar.

Tabela 3 – Folha de dados de transformador de corrente


Item Descrição Unidade Especificado

C Características do sistema elétrico iguais às do texto acima

D Características gerais do equipamento

D2 Tipo de instalação - Auto-portante

D3 Número de polos - Monopolar

D4 Isolador (porcelana / polimérico) - Porcelana

D6 Imersos em óleo / tipo seco - Imerso em óleo

D7 Tipo de óleo - Mineral

D8 Tanque selado - Sim

D9 Câmara de expansão (sim / não) - Sim

D11.1 Proteção IP - 55 - Sim

D11.2 Entrada inferior para eletrodutos - Sim

D11.6 Meios para curto-circuitar os terminais do secundário - Sim

D11.9 Proteção interna contra surtos no primário - Informar

D11.10 Proteção contra surtos no secundário - Informar

E Características Elétricas do Equipamento -


E1 Tensão máxima do equipamento kV 145

E2 Frequência nominal Hz 60

E3 Corrente(s) primária(s) A RM 2000 (300/400/500/800/1.100/1.200/1.500/1.600/2.000)

E4 Corrente(s) secundária(s) A 5-5-5-5

E5 Relações nominais - 400:1 na maior relação de transformação

E6 Quantidade enrolamentos secundários - 4

E7.1 Proteção e medição Un. 3

E7.2 Medição Un. 1

E7.3 Proteção e medição Un. NA

E8 Classe de exatidão e carga nominal -


E8.1 Para proteção - 10B800

E8.2 Para medição - 0,3C100

E8.3 Para proteção e medição - NA

E9 Corrente suportável nominal de curta duração (Ith) kAef 31,5

E10 Corrente suportável nominal dinâmica (2,6 x Ith) kApico 80

E11 Níveis de isolamento -


E11.1 Tensão suportável nominal de impulso atmosférico (1,2 x 50μs) kV 650

E11.2 Tensão suportável nominal de frequência industrial (1 minuto) kV 275


Apoio

53
Item Descrição Unidade Especificado

E12 Fator térmico nominal x In 1,3

E14 Elevação de temperatura - Conforme NBR 6856

E15 Nível máximo de descargas parciais com 1,1x145/√3 (kV) pC 10

E16 Polaridade - Subtrativa

E17 Tensão de rádio interferência Microvolts 250

F3 Dispositivo para alívio de pressão - Sim

H Inspeção e Testes

H1 Ensaios de rotina conforme NBR 6855 - Sim

H2 Ensaios de tipo - Sim

H2.1 Resistência dos enrolamentos - Sim

H2.2 Tensão suportável impulso atmosférico - Sim

H2.3 Tensão suportável de impulso de manobra a seco e sob chuva - Sim

H2.4 Elevação de temperatura - Sim

H2.5 Corrente suportável nominal de curta duração (térmica nominal) - Sim

H2.6 Valor da crista nominal da corrente suportável (dinâmica nominal) - Sim

H2.7 Tensão suportável à frequência industrial sob chuva - Sim

H2.8 Tensão de rádio interferência - Sim

H2.9 Estanqueidade a quente - Sim

H2.10 Tensão de curto-circuito - Sim


Apoio

44
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo VII

Distâncias de segurança de subestações e sistemas


de proteção contra incêndios em subestações

Este fascículo vem apresentando impactos de campos elétricos e magnéticos. ções, há diferentes tipos de distâncias
conceitos de engenharia para projeto No quinto capítulo, o tema abordado foi a de segurança a observar. A primeira
e especificação de equipamentos de recente brochura Cigré 602, sobre simulação delas refere-se às chamadas “distâncias
subestações de transmissão e distribuição. O de arcos, e no anterior, discutimos as dielétricas”. Estas são as distâncias mínimas
primeiro artigo desta série cobriu aspectos especificações técnicas de disjuntores, de projeto necessárias para que, nas partes
de estudos do sistema elétrico que servem secionadores, painéis e para-raios feitas vivas da subestação energizada, não
de base para as especificações técnicas dos por concessionárias de energia. A seguir, aconteçam descargas dielétricas entre estas
equipamentos. O segundo cobriu conceitos trataremos das distâncias de segurança e outros equipamentos, partes vizinhas ou
sobre curtos-circuitos, ampacidades, de subestações e dos sistemas de proteção mesmo pessoas. Exemplos destas distâncias
sobrecargas e contatos elétricos. O terceiro contra incêndios em subestações. de segurança a serem utilizadas em novos
abordou o tema “técnicas de ensaios de projetos são as especificadas na norma IEC
alta potência, laboratórios de ensaios e Distâncias dielétricas de 61936-1 – Power Installations Exceeding 1
principais ensaios”. No quarto capítulo, segurança kV AC – Part 1 – Common Rules. Alguns
falou-se sobre os estudos elétricos de exemplos podem ser vistos na Tabela 1 a
sobretensões, coordenação de isolamento e No projeto e na operação de subesta­ seguir.

Tabela 1 – Distâncias mínimas no ar – Tensões nominais (1 kV < Um ≤ 245 kV)

Tensão nominal Tensão máxima Tensão suportável Tensão nominal


Mínima distância
do sistema do sistema de curta duração suportável de impulso
fase-terra e fase-fase Nc
frequencia industrial atmosférico
Un eficaz Um eficaz eficaz 1,2/50 μs (valor de pico) Instalação abrigada Instalação externa
kV kV kV kV mm mm
3 3,6 10 20 60 120
40 60 120
15 17,5 38 75 120 160
95 160 160
185b 450b 900
132 145 230 550 1.100
275 650 1.300
275b 650b 1.300
325b 750b 1.500
220 245 360 850 1.700
395 950 1.900
460 1.050 2.100
Apoio

O conceito atrás destes valores é que, da compatibilidade magnética de No que diz respeito aos impactos à 45
se uma subestação é projetada utilizando equipamentos e sistemas de subestação. saúde, há regulamentos para o nível máximo
a Tabela 1, ela não precisaria ser “testada” Os campos magnéticos diminuem com o do campo magnético a que as pessoas
do ponto de vista dos ensaios dielétricos aumento da distância à fonte que o produz podem ser expostas. O nível de exposição
de tensão aplicada CA e tensão suportável (ver Figura 1). Se ficarem acima de certos depende do tipo de atividade da pessoa –
de impulso. Não é incomum encontrar níveis, podem ser prejudiciais às pessoas trabalhadores (exposição ocupacional)
subestações mais antigas com distâncias (saúde) e às instalações (aquecimentos ou público em geral. O nível de exposição
menores que estas e funcionando muito indevidos). permitido para o público em geral é menor
bem. Estes valores vão, ao longo do tempo,
sendo aperfeiçoados nas normas com base
na experiência que vai sendo adquirida
e mesmo em padrões de segurança mais
severos para evitar descargas e acidentes.

Distâncias magnéticas de
segurança

O segundo tipo de distância diz respeito


às distâncias magnéticas de segurança.
Os campos magnéticos produzidos por
correntes permanentes mais elevadas
ou pela existência de reatores próximos
podem causar impactos sobre pessoas e
instalações, assim como afetar aspectos Figura 1 – Campo magnético em uma subestação.
Apoio

46 que o permitido para trabalhadores. O aquecimentos indesejados. Os campos Para evitar o primeiro efeito, podem-se
Equipamentos para subestações de T&D

motivo disso é se tratar de pessoas leigas magnéticos causam dois tipos de efeitos utilizar artifícios, como abrir o caminho
que podem permanecer expostas uma que podem produzir aquecimentos. O elétrico em um ponto. O segundo efeito pode
tempo maior por não ter conhecimento primeiro é a geração de tensões induzidas ser apenas minimizado utilizando-se materiais
dos impactos. Os regulamentos da Agência em circuitos metálicos que contenham não magnéticos como o alumínio e alguns
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) espiras. Se estes circuitos forem fechados tipos de aço inox (apenas os da série 300). Em
indicam os seguintes níveis máximos eletricamente, circularão correntes elétricas instalações em que há reatores a núcleo de ar
permitidos de exposição em 60 Hz: que, dependendo do valor da tensão muito próximos de áreas sensíveis, deve-se
induzida, produzirão aquecimentos. evitar o uso de estruturas suporte de ferro.
- Trabalhadores: 1.000 uT Exemplos destes circuitos fechados são Dependendo das características da instalação
- Público em geral: 200 uT os ferros da armação de concreto em um podem ser necessários cuidados especiais
piso ou em um pilar. O campo produzirá com a malha de terra e materiais de caixas
“Público em geral” é, por exemplo, uma uma tensão que fará circular uma corrente metálicas e de medição.
pessoa que passa ou para na rua ao lado da elétrica pelo circuito fechado formado pelos
parede de uma grande subestação urbana. vergalhões que serão então aquecidos. Aspectos ligados a incêndios e
Outro exemplo são pessoas cuja janela de O segundo efeito ocorre se houver na explosões em transformadores
seus apartamentos está próxima de um região do campo magnético uma chapa e outros equipamentos
transformador de distribuição ou de cabos da metálica ou, por exemplo, um parafuso de
rede elétrica, como foi mostrado em uma foto ferro. O campo produz correntes parasitas A já mencionada norma IEC 61936
do primeiro capítulo desta série. De forma geral, (eddy currents), que aquecem as partes estabelece uma série de procedimentos e
“trabalhadores” dentro deste enfoque são as metálicas. É o mesmo princípio usado nos distâncias que devem ser atendidas, por
pessoas não leigas que trabalham na subestação. sistemas industriais de aquecimento por exemplo, entre transformadores isolados
No que diz respeito aos impactos indução para, por exemplo, aquecer ou a óleo mineral e paredes ou construções.
sobre as instalações, os principais são os recozer grandes perfis de aço. O objetivo destas distâncias está ligado
Apoio

aos impactos causados pelo fogo e, em poucos produtos disponíveis neste campo. fixos automáticos de proteção contra 47
menor grau, à eventual explosão de um Não existir uma norma internacional incêndio com água nebulizada para
equipamento, por exemplo, um para-raios implica não se ter ensaios relevantes para transformadores e reatores de potência;
com invólucro de porcelana. verificar a eficácia destes produtos. • ABNT NBR 12232 – Execução dos
Incêndios e explosões em Há muitos anos, existem normas que sistemas fixos automáticos de proteção
transformadores, reatores e outros se aplicam a este tema no Brasil. No ano contra incêndio com gás carbônico, por
equipamentos são sempre motivo de 2000, o autor deste artigo propôs à ABNT inundação total para transformadores e
grande preocupação devido aos impactos a revisão de uma destas normas sobre reatores de potência contendo óleo isolante.
em pessoas e instalações. Estes eventos são sistemas de proteção contra incêndio em
muito mais frequentes do que o público em transformadores e reatores de potência, O autor coordenou esta revisão no
geral percebe. Quando acontecem quase por despressurização. A ABNT aceitou âmbito da ABNT. As reuniões envolveram 47
não são divulgados. a proposição e sugeriu que o grupo de participantes de 21 empresas. Estes números
Não existem normas IEC sobre sistemas trabalho revisasse e atualizasse as normas: mostram uma boa representatividade para
de prevenção contra incêndios e explosões as quatro normas que foram publicadas
em equipamentos de subestações. As • ABNT NBR 13231 – Proteção contra em 2005. Naquela ocasião, além da revisão
normas IEC sobre transformadores de incêndio em subestações elétricas das normas brasileiras, foi preparada
potência não tratam da questão de curtos- convencionais, atendidas e não atendidas, uma proposta de uma nova norma IEC –
circuitos internos e suportabilidade a de sistemas de transmissão – Procedimento; International Electrotechnical Commission
explosões. • ABNT NBR 8222 – Execução de a ser encaminhada àquela instituição com
Este é um ponto fraco e uma sistemas de proteção contra incêndio em base nas novas normas brasileiras.
barreira ao desenvolvimento, utilização transformadores e reatores de potência, por O processo de propor uma nova norma
e comercialização de produtos de despressurização, drenagem e agitação do à IEC é menos complicado do que parece. O
prevenção contra incêndios e explosões em óleo isolante; autor teve uma experiência em 1989, quando
subestações. É a maior causa de existir tão • ABNT NBR 8674 – Execução de sistemas coordenava grupos no COBEI / ABNT e
Apoio

48 coordenava o Technical Committee 32 da • Por despressurização para prevenção • Requisitos das edificações;
IEC (Fuses). Fizemos proposta semelhante à contra explosões e incêndios decorrentes de • Requisitos de equipamentos e instalações
Equipamentos para subestações de T&D

IEC na área de fusíveis de alta tensão. Naquela arcos elétricos internos (ABNT NBR 8222). de pátio;
ocasião, a proposta foi aceita pela IEC. A • Requisitos para outras instalações;
revisão da norma IEC 60282-2 (1989) foi feita Os propósitos destes sistemas são diferentes • Sistemas e equipamentos de proteção
e em boa parte oriunda das normas brasileiras e incluem em maior ou menor grau: contra incêndio.
sobre o assunto feitas naquela ocasião. Este • Prevenção de incêndios: prover meios
trabalho foi coordenado na IEC por este autor. para evitar que o incêndio venha a ocorrer; Os requisitos para equipamentos
Os principais pontos revisados naquelas • Extinção de incêndios: apagar um incêndio e instalações de pátio envolvendo
normas brasileiras de sistemas de prevenção com o uso de meios adequadamente transformadores e reatores de potência
contra incêndios e explosões em equipamentos dimensionados; contemplam, entre outros aspectos:
de subestações foram os seguintes: • Proteção contra exposição: minimizar,
durante certo período de tempo, a influência • As consequências de incêndios e explosões
1) ABNT NBR 13231: e danos consequentes de um incêndio de causadas por arcos elétricos internos e
Procedimento geral determinado equipamento sobre outros sua severidade pela energia envolvida e
O foco da revisão foi adequar a equipamentos e instalações; sobrepressões decorrentes;
formatação do conjunto das quatro normas • Controle de propagação de incêndio: • Considerar a possibilidade de que óleo em
para que pudesse ser melhor percebido prover meios para controlar, durante certo chamas e partes sólidas sejam arremessados
como um conjunto e não como documentos tempo, a intensidade do incêndio; a certa distância na explosão;
isolados. Outros objetivos foram os de • Proteção aprimorada: prover proteções • Que transformadores e reatores de
atualizar as informações sobre todas as adicionais ao projeto do equipamento potência devem ser instalados, de
tecnologias disponíveis e colaborar para uma para que este venha a possuir maior preferência, externamente às edificações,
proposta de norma IEC sobre o assunto. segurança contra a explosão, incêndios sobre bacias de contenção e separados
Neste contexto, a ABNT NBR 13231 é ou riscos associados aos arcos elétricos, fisicamente para prevenir que a queima
a “norma-mãe”, onde estão contemplados sobrecorrentes e curtos-circuitos. de um equipamento cause risco de
aspectos de elaboração de projetos de incêndio a outros equipamentos ou
implantação de instalações, assim como de A norma fixa requisitos de projeto, objetos vizinhos.
projeto, instalação, manutenção e ensaios inclusive, alguns relacionados a distâncias
dos sistemas. As normas ABNT NBR de segurança. Entre estes incluem-se os As Tabelas 2 e 3 mostram algumas
8222, ABNT NBR 12232 e ABNT NBR aplicáveis a: distâncias.
8674 detalham os aspectos de três tipos
Tabela 2 – Distâncias mínimas de separação entre transformadores e reatores a edificações
específicos de sistema.
O objetivo da ABNT NBR 13231 é Tipo do líquido Volume Distância horizontal Distância

fixar requisitos mínimos para proteção isolante do de líquido Edificações Edificações Edificações vertical

contra incêndios em subestações elétricas transformador isolante resistentes ao não combustíveis

convencionais, atendidas, desassistidas, fogo por 2 h combustíveis

teleassistidas, de sistemas de geração, L m m m m

transmissão, subtransmissão e distribuição para: < 2.000 1,5 4,6 7,6 7,6
> 2.000

a) elaboração de projetos de implantação de Óleo mineral e 4,6 7,6 15,2 15,2

instalações; < 20.000

b) projeto, instalação, manutenção e > 20.000 7,6 15,2 30,5 30,5

ensaios dos seguintes tipos de sistemas Fluido resistente < 38.000 1,5 1,5 7,6 7,6

fixos automáticos para transformadores e ao fogo –

reatores de potência: Transformador sem > 38.000 4,6 4,6 15,2 15,2
proteção aprimorada

• De CO2, por inundação total, com Fluido resistente

suprimento de gás em alta pressão por ao fogo – não se 0,9 0,9 0,9 1,5

abafamento (ABNT NBR 12232); Transformador com aplica

• De água nebulizada (ABNT NBR 8674); proteção aprimorada


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consequentemente, os incêndios. 49
Tabela 3 – Distâncias mínimas de separação entre transformadores e reatores a equipamentos
O aspecto mais relevante desta norma
Tipo do líquido isolante Volume de líquido isolante L Distância
é prever as regras básicas para um ensaio
do transformador m
de arco interno em transformadores.
Óleo mineral < 2.000 1,5
Talvez esta seja a única norma atual, em
Óleo mineral < 2.000 1,5
âmbito mundial, que sinaliza para este
Óleo mineral entre 2.000 e 20.000, inclusive 7,6
tipo de ensaio. Por não haver suficiente
Óleo mineral > 20.000 15,2
experiência mundial sobre este tipo de
Fluido resistente ao fogo –
ensaio, a norma fornece um texto de
Transformador sem proteção < 38.000 1,5
referência, mas ainda não o fixa como um
aprimorada
ensaio de tipo formal.
Fluido resistente ao fogo –
O ensaio “ideal” consiste em simular
Transformador sem proteção > 38.000 7,6
em laboratório de alta potência um certo
aprimorada
número – por exemplo três – de curtos-
Fluido resistente ao fogo –
circuitos e arcos no interior de um tanque
Transformador com proteção não se aplica 0,9
de transformador ou reator, para verificar
aprimorada
como se comporta o sistema de prevenção
2) ABNT NBR 8222: sistemas por sobrepressões decorrentes de arcos instalado no equipamento a proteger.
despressurização, drenagem e elétricos internos em transformadores Deve ser aplicada uma corrente de
agitação do óleo e reatores de potência. Complementa valor e duração compatíveis com as que
Esta norma foi o fato motivador os requisitos gerais de projetos de aconteceriam em uma situação real. A
da revisão das demais. Se aplica a instalações na ABNT NBR 13231 e o Tabela 4 criou um referencial inicial
equipamentos para prevenção contra objetivo deste tipo de sistema é evitar a para as revisões futuras da norma. Se
explosões e incêndios por evitar explosão do transformador ou reator e, um equipamento de prevenção falhar
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50 no ensaio e estiver sendo utilizado um Tabela 4 – Ordens de grandeza das correntes de curto-circuito máximas típicas para arcos
transformador com grande volume internos em transformadores e reatores de potência
Equipamentos para subestações de T&D

de óleo, será difícil ao laboratório de Faixa de potência Faixa de tensões Ordem de grandeza Ordem de grandeza
ensaios. Por este motivo, devem ser do transformador no enrolamento de das correntes de das durações das
buscadas alternativas de ensaios para que (MVA) maior tensão (kV) curto-circuito correntes de curto-
a verificação de desempenho se dissemine kA eficazes simétricos circuito(s)
na prática. Até 5 MVA 1 a 15 5 1a2
10 a 50 MVA Em estudos Em estudos Em estudos
3) ABNT NBR 8674: sistemas de > 50 MVA Em estudos Em estudos Em estudos
água nebulizada
Uma das referências normativas
desta norma é a NFPA 15:2001 – São previstos ensaios como: ao mínimo, sendo localizadas de
“Standard for water spray fixed systems preferência no teto, ou próximas a ele, e
for fire protection”. Os requisitos gerais • Ensaios hidrostáticos: toda a tubulação, providas de dispositivos de fechamento
informam com mais clareza que as versões inclusive os anéis de distribuição, deve ser automático;
anteriores deste tipo de sistema pode ser ensaiada com água a uma pressão mínima • Se o fechamento das aberturas for
utilizado com os seguintes propósitos, em igual a 1,5 vez a pressão de projeto do impraticável, deve-se prever uma
diferentes graus e situações para: sistema; quantidade adicional de CO2 para
• Ensaios de escoamento: após ensaiado compensar o vazamento;
• Prevenção de incêndio; hidrostaticamente o sistema deve ser • Se o ambiente protegido se comunicar,
• Extinção de incêndio; submetido a ensaios de escoamento por meio de aberturas que não podem ser
• Proteção contra exposição; para verificar o correto posicionamento fechadas, com outros ambientes onde há
• Controle de combustão. dos bicos de nebulização, a geometria risco potencial de incêndio, estes também
da descarga e a eventual existência de devem ser protegidos;
O sistema deve ser operável obstáculos que interfiram com a descarga; • Portas e janelas devem ser, de preferência,
automaticamente e provido de meios para • Ensaios de operação: os componentes de fechamento automático, atuadas antes
operação manual. As distâncias elétricas do sistema devem ser ensaiados do início da descarga do gás. As portas de
entre as partes do sistema e as partes operacionalmente, para garantir a acesso aos ambientes protegidos devem
energizadas não devem ser menores que confiabilidade de operação. Os ensaios possuir os acessórios necessários para sua
as descritas na ABNT NBR 13231. No de operação devem incluir o sistema de abertura manual.
que diz respeito ao suprimento de água, detecção de incêndio, alarme e sinalização.
ela especifica algumas características Falta o ensaio com fogo real para verificar Estas normas ABNT publicadas em
gerais e indicações para as capacidades até que proporção o incêndio pode ser 2005 significaram um avanço em relação
dos reservatórios de suprimento de apagado. às anteriores, principalmente no que diz
água. Estes devem permitir manter uma respeito ao conteúdo da ABNT NBR 8222
descarga de água para o maior risco 4) ABNT NBR 12232: sistemas (sistemas por despressurização, drenagem
isolado nos valores de projeto de vazão de CO2 por inundação total, por e agitação do óleo) e à reorganização para
e pressão, por um tempo mínimo de 30 abafamento que pudessem ser entendidas como um
minutos. Esta norma fixa os requisitos conjunto de normas e não como textos
O suprimento de água deve ser feito específicos mínimos exigíveis para o isolados.
por uma fonte confiável, tais como: projeto, instalação, manutenção e ensaios
e se aplica apenas aos transformadores
• Reservatório de alimentação por e reatores imersos em óleo isolante
gravidade; instalados em ambientes fechados. Entre
• Reservatório provido de estação de os requisitos gerais e condições gerais de
bombeamento, associado ou não a um utilização estão especificações como:
tanque hidropneumático;
• Dois ou mais tanques hidropneumáticos • O ambiente que contém o equipamento
interligados, com capacidade para atender protegido deve ser o mais fechado
ao sistema por, no mínimo, 10 minutos. possível. As aberturas devem restringir-se
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46
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo VIII

Painéis de média tensão

Este fascículo vem apresentando que tem publicação prevista para 2016. Para com transparência os detalhes do
conceitos de engenharia para projeto os painéis de media tensão, este documento equipamento que foi efetivamente testado.
e especificação de equipamentos de deve ter um impacto da mesma natureza, As informações que devem constar em um
subestações de transmissão e distribuição. porém, mais amplo que a IEC 61439 para completo relatório de ensaios para este tipo
O primeiro artigo desta série cobriu painéis de baixa tensão. de finalidade estão no documento http://
aspectos de estudos do sistema elétrico www.cognitor.com.br/TR_071_ENG_
que servem de base para as especificações Introdução ValidationSwitchgear.pdf. Neste relatório
técnicas dos equipamentos. O segundo técnico IEC, as informações do que deve
cobriu conceitos sobre curtos-circuitos, O documento IEC 62271-307começou constar nos relatórios de ensaios são
ampacidades, sobrecargas e contatos a ser preparado em 2011 e está previsto para ressaltadas e ficarão muito mais claras.
elétricos. O terceiro abordou o tema ser publicado em 2016. Seu título é High- As oportunidades na antiga IEC
“técnicas de ensaios de alta potência, voltage Switchgear and Controlgear – Part 60439 (painéis de baixa tensão) eram
laboratórios de ensaios e principais 307: Guidance for the extension of validity of a possibilidade de substituir os ensaios
ensaios”. No quarto capítulo, falou-se type tests of AC metal and solid-insulation de elevação de temperatura e de curto-
sobre os estudos elétricos de sobretensões, enclosed switchgear and controlgear for circuito (apenas a parte sobre forças
coordenação de isolamento e impactos de rated voltages above 1 kV and up to and eletrodinâmicas) por cálculos baseados
campos elétricos e magnéticos. No quinto including 52 kV. Como membro do grupo na comparação do projeto testado com o
capítulo, o tema abordado foi a recente de trabalho e participante das reuniões projeto derivado não testado. Na norma
brochura Cigré 602 sobre simulação internacionais para a preparação desse IEC 61439, que foi uma evolução muito
de arcos, e no seguinte, discutimos as documento normativo, trouxe o tema para positiva da IEC 60439 foi dado um passo à
especificações técnicas de disjuntores, debate neste fascículo. frente com a criação das chamadas “Regras
seccionadores, painéis e para-raios feitas Este relatório IEC tem foco nos painéis de projeto”, que permitem evitar fazer
por concessionárias de energia. de média tensão das normas IEC 62271- muitos ensaios e até mesmo a evitar os
Na edição anterior, o tema tratado 200 e 62271-201 e, da mesma forma que cálculos que eram pedidos na IEC 60439.
estava relacionado às distâncias de a IEC 61439 e a antiga IEC 60439 (painéis Na Tabela 1 a seguir, estão mostrados os
segurança de subestações e dos sistemas de de baixa tensão), trará uma série de boas fundamentos das regras de projeto. Há
proteção contra incêndios em subestações. oportunidades para evitar a desnecessária muito mais detalhes sobre este tema no
A seguir, este oitavo artigo da série repetição de ensaios onerosos. livro “Painéis, Barramentos e Secionadores
discorrerá sobre alguns conceitos novos Estas oportunidades só poderão ser e Equipamentos de Subestações” (download
que serão utilizados no Relatório Técnico aproveitadas pelos fabricantes que têm em livre em: http://www.cognitor.com.br/
IEC 62271-307 (painéis de media tensão), mãos relatórios de ensaios que descrevam Book_SE_SW_2013_POR.pdf).
Apoio

Tabela 1 – As regras de projeto da IEC 61430 de testes das normas IEC 62271-200 e 47

Item Regras de Projeto (t=temperaturas f=forças eletrodinâmicas p=sobrepressão) T F P


62271-201. Pode ser usado para estender
1 Corrente suportável de curta duração, menor ou igual a do projeto de referência testado? x x testes de tipo realizados em uma amostra
2 Seção transversal do barramento... maiores ou iguais aos do projeto de referência? x com um conjunto definido de classificações
3 Espaçamento dos barramentos... , maiores ou iguais aos do projeto de referência? x x
para outro conjunto de manobra da mesma
4 Suportes de barramentos são do mesmo tipo, forma e material e espaçamentos do barramento x
são iguais ou menores que o do projeto de referência?
família com um conjunto diferente de valores
5 Materiais, propriedades dos materiais e montagem iguais aos do projeto de referência? x x x nominais ou arranjos diferentes. Baseia-se
6 Dispositivos de proteção de curto circuito.... são equivalentes, aos da mesma marca e série? no uso de sólidos princípios técnicos, físicos,
7 Comprimento do condutor vivo desprotegido..... inferior ou igual aos do projeto de referência?
de experiência no setor e cálculos para
8 Se o conjunto tem compartimento, no ensaio do projeto de referência este foi incluído? x x x
9 Compartimento a ser verificado do mesmo modelo, tipo e pelo menos mesmas dimensões? x x estabelecer regras para vários aspectos de
10 Compartimentos de mesma concepção mecânica e dimensões >= do projeto de referência? x x projeto.
"SIM"; a todos os requisitos - sem necessidade de ensaiar Este novo documento IEC contemplará
"NÃO"; a qualquer dos requisitos - verificação adicional por cálculos e simulações é necessária as seguintes seções:
Cognitor

Oportunidades na futura IEC 61439 (e a antiga IEC 60439 TTA/PTTA) -- A utilização, os parametros e a aplicação
62271-307 para evitar ensaios para os de baixa tensão. Permitirá que, dos critérios de extensão e o uso de cálculos;
(painéis de média tensão) atendidas determinadas regras, um relatório -- As informações necessárias para a extensão
de ensaios realizados em um certo tipo de da validade do teste, o que deve constar nos
Nos parágrafos a seguir, serão painel seja utilizado como base para um relatórios de ensaios;
apresentados os principais conceitos e estudo que permitiria substituir ensaios em -- Aspectos específicos para extensão da
novidades deste Relatório Técnico IEC. um painel testado, da mesma família. validade para testes dielétricos, ensaios de
Este documento IEC terá um impacto no O documento inicia mencionando que elevação de temperatura, ensaios mecânicos,
mercado de painéis de média tensão da visa a extensão da validade de relatórios de testes de correntes suportaveis de curta
mesma natureza do que tem a norma IEC ensaios para evitar a desnecessária repetição duração e de crista, ensaios de interrupção e
Apoio

48 de arco interno; realizar ensaios de tipo com todos os no que diz respeito a um tipo de teste, não
-- A extensão da validade de um relatório possíveis conjuntos de manobra. Portanto, o pode ser avaliado por um único valor e um
Equipamentos para subestações de T&D

de ensaio para outras unidades funcionais desempenho de um conjunto particular pode parâmetro de projeto. Por exemplo, a distância
(situação a); ser avaliado em função dos relatórios de testes entre os condutores de cada fase pode variar
-- Validação de uma família pela seleção de de tipo feitos em outras montagens da mesma consideravelmente ao longo do caminho
objetos de teste (situação b); família de conjuntos. No texto do documento da corrente. Dependendo do equipamento
-- Validação de um conjunto de relatórios de são mostrados para cada tipo de tipo de teste e do teste, o uso de um modelo de cálculo
ensaios existentes (situação c); (ou característica) uma lista não exaustiva simples como uma fórmula analítica ou
-- Validação de uma modificação do projeto de parâmetros de projeto, que devem ser empírica pode ser suficiente, mas, por vezes,
(situação d); analisados para a extensão da validade. A para um modelo completo de simulação
-- Justificativa para os critérios de extensão; análise deve se basear em sólidos princípios tridimensional pode ser necessário utilizar
-- Exemplos para a extensão da validade dos técnicos, físicos e cálculos, se for o caso. uma ferramenta numérica complexa. A
ensaios de tipo, tais como: Cada parâmetro de concepção do ferramenta de simulação deve ser consistente
conjunto a ser avaliado, listados nas Tabelas e a simulação reproduzível. A validação de
• Modificação do projeto de um terminal de 2 a 6, deve ser comparado com o parâmetro ferramentas de software e métodos de cálculo
cabo em um conjunto de manobra isolado a de projeto do tipo já testado, aplicando-se os está fora do escopo do documento IEC.
ar (AIS); critérios de admissão previstos nas mesmas.
• Modificação do projeto de uma unidade A afirmação de cada critério de extensão Uso de cálculos para elevação
funcional por adição de transformadores de permite que um teste realizado em uma de temperatura
corrente; montagem com características específicas
• Modificação do projeto de uma chave- seja estendido para outra montagem O documento IEC TR 60890 fornece
fechadura na porta de uma unidade de uma mesma família com diferentes procedimentos de cálculo para os conjuntos
funcional AIS; características. Se qualquer um dos critérios de baixa tensão, que também poderiam
• Extensão dos relatórios de uma “ring main de extensão não puder ser confirmado, é ser aplicados aos conjuntos de manobra de
unit GIS” para unidades funcionais com necessário utilizar outros argumentos como alta tensão, tendo em conta as limitações
largura maior; cálculos, explicações e simulações ou mesmo específicas deste método de cálculo. O
• Extensão de uma família de conjuntos ensaios adicionais. Os cálculos e simulações cálculo é feito em dependência da potência
isolados a gás (GIS) para uma unidade são aplicados em um sentido comparativo. total gerada no interior, da área das paredes
funcional. Cálculos e simulações só podem dos compartimentos e das suas condições
ser aplicados em sentido comparativo de montagem, o número de divisórias
A seção “Uso dos Critérios de Extensão” e a comparação é sempre com base nos horizontais e a área das aberturas de
menciona que, devido à grande variedade parâmetros de projeto e os critérios de ventilação. A temperatura do ar no interior
de tipos de unidades funcionais e possíveis aceitação das Tabelas 2 a 7. Em muitos casos, do compartimento testado é o parâmetro
combinações de componentes, não é prático o desempenho de determinado conjunto, para comparar. Para geometrias complexas,

Tabela 2 – Critérios de extensão para o desempenho quanto à elevação de temperatura

Item Parâmetro de projeto Critério Condição

1 Distancia fase-fase ≥ Só validável para correntes acima de 1.250 A


2 Distancia fase-terra ≥ Apenas validar se a influência sobre os elementos que cercam devido a correntes não pode ser excluída (eddy)
3 Dimensões e volume do compartimento ≥ O invólucro e os compartimentos são da mesma construção
4 Pressão mínima do gás ≥ Mesmo gás; para isolamento a gás
5 Densidade de corrente nos condutores ≤ Os condutores têm a mesma estrutura física
6 Resistência / condutores ≤ Compare material do condutor e seção transversal
7 Área de contato conexões ≥ Igual ou melhor material de contato
8 Força de contato conexões ≥ Igual ou melhor material de contato
9 Temperatura permissível de conexões ≤ Incluindo revestimentos metálicos com <=resistividade
10 Área de ventilação ≥
11 Dissipação de potência componentes ≤ Aqui os principais dispositivos de comutação, fusíveis e transformadores de corrente são considerados
12 Área de barreiras isolantes ≤ Barreiras têm a mesma estrutura física
13 Espessura da cobertura isolante condutor ≤ Resistividade térmica e coeficiente de emissão do revestimento devem ser o mesmo
14 Área transferência térmica invólucro ≥ O coeficiente de emissão do revestimento devem ser o mesmo
15 Classe de temperatura ≥
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50 a comparação pode ser realizada por estesprogramas. Portanto, no estado atual and calculation methods;
métodos CFD ou por metodos de mais facil do software de simulação disponíveis, não -- IEC TR 60865-2, Short-circuit currents –
Equipamentos para subestações de T&D

utilização, como os do SwitchgearDesign307, é recomendado o uso de simulações para Calculation of effects – Part 2: Examples of
detalhados em: http://www.cognitor.com.br/ a extensão da validade dos ensaios de tipo calculation.
TR_071_ENG_ValidationSwitchgear.pdf. mecânicos.
Uso de cálculos da
Uso de cálculos para campos Uso de cálculos de esforços sobrepressão causada pelo arco
elétricos térmicos e eletrodinâmicos interno
durante curto-circuito
O desempenho dielétrico de dois conjuntos A comparação do desempenho de dois
de manobra pode ser avaliado por simulação Os cálculos incluem a determinação conjuntos em suportar o aumento da pressão
do campo elétrico de ambos e comparando as de forças eletromagnéticas mútuas entre para os compartimentos sob investigação
intensidades de campo. Podem ser utilizadas condutores e estresse mecânico resultante é um análise a ser feita. Os cálculos são
ferramentas de software de elementos finitos que é capaz de empenar barras e causar capazes de mostar o aumento de pressão nos
ou volumes finitos que permitem simular danos em isoladores. O estresse mecânico compartimentos, tendo em consideração
geometrias tridimensionais mesmo complexas. sobre barramentos e forças sobre os suportes a abertura dos dispositivos de alívio de
podem ser avaliados pelos programas de pressão. Uma avaliação da força nas paredes
Uso de cálculos de esforços cálculo como o SwitchgearDesign307. Os do painel pode ser feito para geometrias
mecânicos métodos de cálculo utilizados são baseados simples, utilizando uma fórmula de cálculo,
nos seguintes documentos IEC: caso contrário, usa-se a análise de elementos
Existe softwares de simulação para finitos para estresse mecânico.
mecanismos de operação de equipamentos -- IEC 61117, Method for assessing the O fluxo de gases quentes expelido, a
de manobra que podem dar informações short-circuit withstand strength of partially partir do compartimento, pode ser simulado
sobre o estresse mecânico sobrepartes do type-tested assemblies (PTTA); por programas de CFD, no entanto, no
mecanismo. No entanto, não é possível -- IEC 60865-1, Short-circuit currents – momento da publicação do presente
avaliar a resistência mecânica por Calculation of effects – Part 1: Definitions Relatório Técnico, não é possível simular
a ignição de indicadores, que é um critério
Tabela 3 – Critérios de extensão para o desempenho quanto à suportabilidade dielétrica
importante para a aceitação no ensaio de
Critério de
Item Parâmetro de projeto Condição arco interno. Por conseguinte, tais programas
aceitação
1 Distância de isolamento entre fases ≥ têm aplicações limitadas para a extensão da
2 Distância isolamento a terra (clearance) ≥ validade dos ensaios.
3 Distância de escoamento ≥
4 Propriedades dielétricas do isolante ≥ Análise comparativa de 2 materiais pode
ser necessária (CTI)
Informação necessária para a
5 Rugosidade superficial de partes vivas ≤ extensão da validade de ensaios
6 Raio de partes condutivas ≥ Não só o raio de partes vivas, mas também de tipo
de todas as partes condutoras
7 Distância de contatos abertos ≥ Se influenciado pela montagem
8 Distância de isolamento ≥ Se influenciado pela montagem Devem ser colhidas informações do
9 Mínima pressão para isolamento ≥ Mesmo fluido se isolado a gás conjunto de manobra semelhantes às que são

Tabela 4 – Critérios de extensão para o desempenho quanto à suportabilidade mecânica

Critério de
Item Parâmetro de projeto Condição
aceitação
1 Sistemas de obturadores A força da ligação mecânica quando bloqueado, incluindo obturador ≥ Princípio de projeto igual, mas dimensões podem
Massa do obturador ≤ ser diferentes
2 Contatos da parte removível Número de pontos de contato ≤ Os projetos dos contatos, incluindo a base e
Força de contato por contato ≤ material de revestimento, e suportes de móveis e
Aspereza da superfície contato ≤ contatos fixos são os mesmos.
3 Sistema de intertravamento Força da ligação mecânica quando bloqueado ≥ Princípio de projeto do sistema de intertravamento
operado diretamente Torque aplicado na operação ≤ igual, mas dimensões podem ser diferentes.
4 Sistema de intertravamento Princípio de projeto do sistema de
Força da ligação mecânica quando bloqueado ≥
impedindo o acesso aos intertravamento igual, mas dimensões

dispositivos operacionais Força normal de operação podem ser diferentes.
Apoio

necessárias nos ensaios de tipo de acordo com mostradas nas Tabelas 2 a 7 para cada ensaio do conjunto de manobra testado devem ser 51
a IEC 62271-1. Além disso, as informações específico e unidade funcional sob avaliação. fornecidos na medida em que digam respeito
dos parametros relevantes são aquelas Os relatórios de ensaio de tipo aplicáveis à comparação dos dois conjuntos.
Por este motivo recomenda-se que o
Tabela 5 – Critérios de extensão para o desempenho quanto a esforços
térmicos e eletrodinâmicos de curto-circuito fabricante forneça ao laboratório de ensaios e
solicite que sejam incluídos nos relatórios de
Critério de
Item Parâmetro de projeto Condição ensaios (mesmo que a norma do produto não
aceitação
1 Distância fase-fase ≥ o solicite) as informações relevantes sobre
2 Forças eletrodinâmicas ≤ Condutores têm o mesmo arranjo os parâmetros de projeto que estão listados
3 Suportabilidade mecânica dos suportes isolantes ≥
nas Tabelas 2 a 7. Desenhos relevantes e
4 Comprimento não suportado de condutores ≤
5 Seção reta dos condutores ≥ Conexões dos condutores escaladas têm a mesma detalhados fazem parte destas informações.
ou uma maior força de aperto e a área de contato. Devem ser estabelecidos documentos
6 Material dos condutores O mesmo
de rastreabilidade das análises efetuadas.
Classe de temperatura dos isolantes ≥
7 Suportabilidade mecânica do invólucro, ≥
Tais documentos devem ser parte do
8 partições e buchas O mesmo Considere o projeto completo relatório para estender a validade dos
9 Contatos da parte removível ensaios de tipo realizados.

Tabela 6 – Critérios de extensão para ensaios de arco interno


Critério de
Item Parâmetro de projeto Condição
aceitação
1 Distância de isolamento entre fases ≤
2 Distância isolamento a terra (clearance) O mesmo Referente região de início do arco
3 Volume líquido compartimento ≥
4 Pressão nominal do gás isolante se aplicável ≤
5 Seção reta dos condutores ≥ Referente região de início do arco
6 Matéria-prima de condutores (Al ou Cu ou suas ligas) O mesmo Referente região de início do arco
7 Local do ponto de iniciação do arco O mesmo Aplicando regras da IEC 62271 200 ou IEC 62271-201
8 Material isolante exposto ao arco O mesmo
9 Área de exaustão ≥ A posição da saída de gases de escape no compartimento e o trajeto de escoamento de gás são os
mesmos. Áreas das secções transversais maiores só são aceitáveis se um duto de exaustão é usado.
10 Pressão de abertura da exaustão ≤ Aplicável aos compartimentos estanques
11 Suportabilidade mecânica dos elementos a deixar abrir o ≤ Aplicável aos compartimentos não estanques. O dispositivo de alívio e os seus elementos de fixação
dispositivo de alívio (flaps) têm o mesmo design.
12 Suportabilidade mecânica do invólucro e compartimentos ≥ Inclui suportabilidade de partições e buchas
13 Espessura das paredes do invólucro ≥ Mesmo material
14 Suportabilidade mecânica de portas e coberturas ≥
15 Grau de proteção (IP) do invólucro ≥ Relevante para o critério de ignição dos indicadores

Ensaios de interrupção e estabelecimento

Tabela 7 – Critérios de extensão para interrupção e estabelecimento


de correntes de curto-circuito

Critério de
Item Parâmetro de projeto Condição
aceitação
1 Distância de isolamento entre fases ≥
2 Distância isolamento a terra (clearance) ≥
3 Volume do invólucro ou compartimento ≥ Só para ser validado se o fluido (gás
ou líquido) é envolvido no processo de
interrupção ou estabelecimento.
4 Pressão do gás isolante ≥
5 Seção reta dos condutores ≥
6 Forças eletrodinâmicas dos condutores ≤ Só para ser validado se tem impacto no
processo de interrupção ou estabelecimento.
7 Suportabilidade mecânica dos suportes isolantes ≥
8 Suportabilidade mecânica do invólucro, ≥
partições e buchas
9 Comprimento não suportado de condutores ≤
Apoio

50
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo IX

Técnicas para reformar equipamentos de


subestações e adiar investimentos

Este fascículo vem apresentando Introdução mais eficiente, fazendo-se melhoramentos


conceitos de engenharia para projeto relativamente simples. O motivo é que antes
e especificação de equipamentos de Após muitos anos de estagnação destes anos difíceis de agora era comum
subestações de transmissão e distribuição. O econômica e alta inflação, o Brasil começava comprar equipamentos com folga. Às vezes era
primeiro artigo desta série cobriu aspectos a passar por um período de crescimento e por uma visão de que o sistema ia crescer ou
de estudos do sistema elétrico que servem parecia ter, finalmente, encontrado um bom simplesmente por conta de uma especificação
de base para as especificações técnicas dos caminho em direção a um bom nível de exagerada. À medida que o consumo de energia
equipamentos. O segundo cobriu conceitos crescimento social e econômico. A maior e as redes elétricas crescem, rapidamente
sobre curtos-circuitos, ampacidades, parte dos avanços conquistados, às custas os níveis de correntes nominais e de curto-
sobrecargas e contatos elétricos. O terceiro dos altos impostos pagos pela sociedade, circuito crescem também e, assim, partes da
abordou o tema “técnicas de ensaios de foi perdida nestes últimos dez anos. Nosso instalação podem ficar insuficientes. Trocar
alta potência, laboratórios de ensaios e baixo nível de educação, ainda não tratado um painel antigo em uma instalação industrial
principais ensaios”. No quarto capítulo, com seriedade, é um terreno fértil para o com centenas de cabos de controle é uma tarefa
falou-se sobre os estudos elétricos de crescimento da corrupção, da incompetência e difícil. O problema maior nem sempre é o valor
sobretensões, coordenação de isolamento e das propagandas enganosas. Embora políticos do investimento no equipamento novo e sim o
impactos de campos elétricos e magnéticos. mintam, dizendo que as dificuldades passarão grande trabalho e tempo de produção perdido
No quinto capítulo, o tema abordado foi a rápido, serão necessários pelo menos uns oito necessário para a troca.
recente brochura Cigré 602, sobre simulação anos para consertar os estragos. Nestes casos sob análise, a ideia é focar em
de arcos, e no seguinte, discutimos as É neste contexto de redução de faturamento reformas mais simples e que não impliquem
especificações técnicas de disjuntores, das empresas e desemprego crescente que um tempo longo de execução e parada. Para
secionadores, painéis e para-raios feitas surgem oportunidades para utilizar técnicas demonstrar estas técnicas utilizaremos projetos
por concessionárias de energia. Na sexta de reformar equipamentos existentes para o de painéis e barramentos de subestações. A
edição, o tema tratado estava relacionado aumento de sua capacidade, permitindo adiar proposta é apenas mostrar, por cálculos e
às distâncias de segurança de subestações e investimentos em equipamentos novos. É mais simulações, porque funcionam ações como:
dos sistemas de proteção contra incêndios ou menos como reformar o carro antigo ao
em subestações. Na edição anterior, foram invés de comprar um carro novo. Não é o que • Criar ou aumentar a área de ventilação para
apresentados os novos conceitos utilizados se desejava, mas é o possível no momento e usar correntes mais elevadas mantendo ou
no TR IEC 62271-307 (painéis de média melhor do que ficar sem carro. reduzindo as elevações de temperatura de
tensão). Este nono capítulo tratará de Muitos equipamentos elétricos em antes;
técnicas para reformar equipamentos de operação há dez, vinte anos podem ser • Pintar ou revestir barramentos para melhorar
subestações e adiar investimentos. utilizados por mais tempo, e às vezes de maneira a capacidade de dissipação de calor;
Apoio

• Melhorar os contatos elétricos para diminuir suas equipes e esta é uma barreira. O nível de limites especificados nas normas técnicas, 51
a geração indesejável de calor e aumentar a vida conhecimentos de engenharia caiu a níveis o equipamento envelhece prematuramente.
útil; muito menores do que havia nas décadas Por exemplo, o limite de elevação de
• Fazer o direcionamento do fluxo de ar para de 1980 e 1990. Os tempos das obras fáceis temperatura permitido para uma conexão com
pontos mais quentes, reduzindo elevações de está acabando e apenas as empresas que revestimento prateado em um barramento de
temperatura; conseguirem ter alguma capacidade de fazer cobre é de 75 K. Para uma conexão de cobre nu,
• Modificar materiais de algumas partes para uma boa engenharia conseguirão sobreviver sem revestimento, este limite é de 50 K.
reduzir efeitos de aquecimentos por induções no mercado. Em qualquer um dos dois casos, se
magnéticas; Os aspectos de projeto que se devem utilizarmos no barramento uma sobrecarga
• Modificar parâmetros de projeto para considerar na reforma de um equipamento permanente tal que a elevação de temperatura
reduzir campos magnéticos, elétricos e existente são os de elevações de temperatura, seja apenas 6,5 graus acima destes limites,
forças eletrodinâmicas de curto-circuito e de esforços eletrodinâmicos, de arcos internos haverá uma perda de vida útil da ordem de 2/3.
poder aumentar os níveis de curto-circuito e distâncias dielétricas. Todos eles têm a ver Se extrapolarmos este conceito para a vida útil,
suportáveis; com as geometrias e materiais utilizados. Para isto significa adquirir dois a três equipamentos,
• Modificar parâmetros de projeto para entender melhor, vale a pena reler o capítulo ao invés de um, naquele período. Para entender
melhorar ou aumentar a capacidade de oitavo desta série, que tratou dos novos os detalhes, leia as páginas 101 a 116 do livro
suportar arcos internos. conceitos do Relatório Técnico IEC 62271-307, que pode ser baixado livremente em http://
que tem publicação prevista para 2016. www.cognitor.com.br/Book_SE_SW_2013_
Estas técnicas quase não exigem No que diz respeito às elevações de POR.pdf.
investimentos, mas é necessário ter criatividade temperatura, como explicado nos capítulos Cabe explicar os quatro modelos
e bons conhecimentos de cálculos de segundo e terceiro desta série, o parâmetro mostrados nas Figuras 1 a 4. O primeiro
engenharia. No setor elétrico, as fabricantes e de referência são os limites de elevação modelo (Figura 1) corresponde a um painel de
as concessionárias brasileiras pararam, desde o de partes condutoras e isolantes que não baixa tensão muito usado no Brasil e composto
início dos anos 2000, de treinar adequadamente podem ser ultrapassados. Passando-se dos de barramento e um disjuntor de entrada. Os
Apoio

52 valores nominais típicos de tensão nominal,


corrente nominal e corrente suportável de
Equipamentos para subestações de T&D

curta duração, no Brasil, para este tipo, são de


380 V – 3.200 A e 65 kA. Nesta análise, serão
consideradas correntes nominais na faixa de
2.000 A a 3.000 A, dependendo de ter ou não
ventilação. Este tipo de projeto em geral tem
barramentos muito próximos, o que significa
esforços eletrodinâmicos elevados durante
curtos-circuitos. O mercado tem pedido cada
vez mais que este tipo de equipamento tenha a
capacidade de suportar arcos internos.
O segundo modelo (Figura 2) corresponde Figura 1 - Painel baixa tensão – 480 V – 2.000 A – 50 kA.
a um painel de media tensão também de
uso comum no Brasil. É composto de três
compartimentos (cabos, disjuntor e barras).
Os valores nominais típicos de tensão nominal,
corrente nominal e corrente suportável de
curta duração, no Brasil, para este tipo, são de
15 kV – 1.250 A e 40 kA. A classificação de arco
interno é, na maior parte das vezes, requerida e
é frequente ser um painel totalmente fechado
sem aberturas de ventilação.
O terceiro modelo (Figura 3) corresponde
a um duto trifásico de geradores que, em geral,
tem a capa externa de alumínio. Os condutores Figura 2 – Painel media tensão 15 kV – 31,5 kA.
internos em geral são tubulares e podem ser de
alumínio ou cobre. O quarto modelo (Figura
4) é uma subestação de 145 kV convencional
formada por condutores tubulares de alumínio.
As dimensões e materiais utilizados
podem ser vistas do lado direito de cada figura.
Vamos demonstrar as possibilidades de ganhos
simplesmente alterando alguns parâmetros de
projeto mostrados nestas figuras.

Criar ou aumentar a área de


Item
ventilação para alcançar Figura 3 – Barramento de geradores isolado a ar.
as mesmas elevações de
temperatura, porém
utilizando-se correntes mais
elevadas.

Esta é uma alteração de projetado mais


simples de implementar com uma parada
do equipamento de dois a três dias. É mais
simples porque não implica desmontar
partes internas como barramentos e fiações
de controle. Para este exemplo, vamos
utilizar o painel de baixa tensão da Figura 1. Figura 4 – Subestação 145 kV.
Apoio

54 Trata-se de um painel com barras de cobre Tabela 1 – Ganho pelo simples acréscimo de uma área de ventilação
2x127x10 sem aberturas de ventilação e livre com e sem ventilação forçada
Equipamentos para subestações de T&D

(parâmetro = elevação de temperatura permitida de 75 K na conexão - ver Figura 5)


sem revestimento das barras por meio
de pintura ou de material termoplástico. Tipo de construção, Painel original Painel modificado Painel modificado
Tem uma corrente nominal de 2.000 A e, correntes e ganhos sem abertura de onde foi feita onde foi feita
para esta corrente, no ensaio de elevação ventilação abertura de abertura de
de temperatura, apresenta uma elevação ventilação de 168 ventilação de 168
de temperatura no ponto crítico de 72 cm2 cm2
K. Está, portanto, ligeiramente abaixo Sem ventilação Com exaustor de
do limite para passar no teste (conexão forçada 180 m3/h
prateada 75 K). Esta conexão está próxima Corrente utilizada 2.000 A 2.600 A 2.950 A
do disjuntor principal daquela coluna. O Ganho (+ 30 %) (+ 47 %)
disjuntor, que é a principal fonte de calor, Elevação de
tem 20 µΩ de resistência por fase, vista temperatura na 72 K 72 K 73 K
dos terminais. Além deste disjuntor, há conexão
mais 780 W de dissipação de potência em
outros componentes internos.
Tabela 2 – Ganho por pintura ou revestimento das barras
Imagine que, mantendo todos os (Parâmetro = elevação de temperatura)
componentes internos, simplesmente
Tipo de construção, Painel original Painel modificado Painel modificado
abríssemos na parte superior e na parte
correntes e ganhos sem abertura de em que as barras com abertura de
inferior da coluna uma abertura de
ventilação foram pintadas e ventilação de 168
ventilação da ordem de 17X10 cm (área
sem abertura de cm2 mais exaustor
= 170 cm²). Nesta abertura, colocaríamos
ventilação de 180 m3/h e
apenas uma veneziana simples que
pintura de barras
permitisse que a área livre de entrada de
Corrente utilizada 2.000 A 2.200 A 3.100 A
ar fosse pouco reduzida. Não colocaríamos
Ganho (+ 10 %) (+ 55 %)
filtros de ar complicados que bloqueassem
Elevação de
a maior parte da passagem de ar e
temperatura na 72 K 72 K 73 K
eliminassem os ganhos obtidos com o
conexão
trabalho de implantar a abertura. Não se
trata de um painel novo em que todas as
questões associadas ao grau IP precisam simulações de ensaios benfeitas, pode-se corrente. Se somássemos este benefício ao
ser atendidas. estudar, para cada caso específico, a da ventilação, pode-se chegar a valores de
Os resultados obtidos estão na Tabela 1. solução mais promissora. aumento de corrente muito significativos.
Note que, para obter o mesmo desempenho
quanto à elevação de temperatura, poderia Pintura ou revestimento Melhoria dos contatos
se utilizar uma corrente 30% maior de barras para melhorar a elétricos para diminuir a
(2.600 A) simplesmente pela existência capacidade de dissipação de geração de calor e aumentar a
da abertura, sem ventilação forçada. Se calor vida útil
incluíssemos, além da abertura, também Os contatos elétricos do dispositivo
um exaustor de 180 m3/h poderíamos Esta não é uma alteração simples de de manobra, no caso de disjuntores ou
passar uma corrente 47% maior (2.950 A) fazer, pois implicaria em desmontagem chaves e a dissipação de potência, no caso
mantida a mesma elevação de temperatura. dos barramentos e, portanto, parar o de fusíveis, são o fator de maior impacto
Em outras palavras, se fosse um painel equipamento bem mais que os três dias nas temperaturas internas de trabalho.
bem conservado estaríamos colocando-o mencionados na seção anterior. Porém, Dependendo da situação, pode ser uma
em uma situação muito mais confortável, pode ser interessante em algumas situações alteração de projeto simples ou complexa
no que diz respeito a temperaturas de de barramentos de baixa e média tensão. no que diz respeito ao tempo de parada para
trabalho, do que anteriormente. Na tabela 2, são mostrados os impactos sua implantação. Trocar um disjuntor do
Demonstrar isto por meio de ensaios para a mesma situação da Figura 1. Para tipo extraível para tipo fixo pode significar
de laboratório seria oneroso, mas com a pintura de barras, o ganho é de 20% na uma grande redução na potência dissipada.
Apoio

Trocar a marca do disjuntor pode também 55


Tabela 3 – Ganho de corrente por troca do tipo de disjuntor
ter um impacto positivo, mas deve-se ter (Extraível por fixo – Figura 6)

muito cuidado nos aspectos de interrupção. Tipo de construção, Painel original com Painel modificado com
Um disjuntor aprovado em um certo tipo de correntes e ganhos disjuntor de 54 µΩ de disjuntor de 40 µΩ de
painel pode ter desempenho ruim em um resistência por fase resistência por fase
outro tipo de painel porque as geometrias e Corrente utilizada 1.250 A 1.400 A
distâncias são diferentes. Ganho (+ 12 %)
A Figura 2 mostra um painel de média Elevação de temperatura
tensão sem aberturas de ventilação. Na na conexão 72 K 73 K
Tabela 3, estão mostradas as correntes que
poderiam ser aplicadas para obter uma dissipadores de calor locais nas conexões materiais que são usados nas chapas do
mesma elevação de temperatura, caso o aos disjuntores, chaves ou fusíveis, invólucro e nos espaçadores metálicos
disjuntor tivesse originalmente 54 µΩ de podem trazer ganhos consideráveis de dos barramentos. Se são usados materiais
resistência por fase, vista dos terminais, desempenho. Devido ao espaço necessário magnéticos como o aço-carbono ao invés
e fosse trocado por outro com 40 µΩ de para explicações não serão detalhados de não magnéticos, como o alumínio e
resistência por fase. aqui. certos tipos de aços inoxidáveis, os efeitos
de aquecimento por indução podem ser
Direcionamento de fluxo de Modificação de materiais para muito acentuados.
ar para pontos mais quentes, reduzir efeitos de indução No exemplo da Figura 3, está um
reduzindo elevações de magnética barramento de geradores, trifásico e
temperatura isolado a ar. Em geral, estes barramentos
Em painéis e barramentos com conduzem correntes elevadas. A título
Direcionar o fluxo de ar para certas correntes superiores a algo da ordem de mostrar os efeitos de forma didático
conexões, assim como a colocação de de 3.000 A, deve-se ter atenção aos apresentamos na Tabela 4 os valores de
Apoio

56 Tabela 4 – Usos de materiais magnéticos ou não magnéticos em invólucros e espaçadores elevações de temperaturas que seria obtido
(Figura 7) se o invólucro fosse feito de alumínio
Equipamentos para subestações de T&D

Tipo de construção, Painel com invólucro Painel com invólucro ou se fosse feito de aço carbono. No
correntes e ganhos em aço carbono e em alumínio e caso do invólucro de aço-carbono, os
corrente trifásica corrente trifásica efeitos da indução magnética são muito
Corrente trifásica utilizada 1.000 A 1.000 A maiores e isto aquece o invólucro e, por
Elevação de temperatura na conexão 72 K 38 K consequência, o ar interno. É por este
Elevação de temperatura no ar interno 31K 16 K mesmo motivo que espaçadores compostos
Dissipação de potência no invólucro 306 W 9,5 W de materiais isolantes e metálicos usados
por indução magnética em barramentos de painéis de baixa tensão
devem ser motivo de atenção especial.
Como estão muito próximos das barras,
são submetidos a campos magnéticos
muito elevados. Se não for utilizado
material não magnético, acima de certa
corrente, surgirão correntes parasitas que
provocaram grande aquecimento do ar
interno ao painel.

Modificação de parâmetros
de projeto para reduzir
campos magnéticos e forças
eletrodinâmicas de curto-
circuito e aumentar os níveis
de curto suportáveis

Os campos elétricos e magnéticos


causam impactos importantes em aspectos
de projeto como as forças eletrodinâmicas
Figura 5 – Painel baixa tensão – 480 V – 2.000 A – 50 kA.
que atuam em barramentos e seus suportes,
assim como nas distâncias dielétricas e
dimensões gerais de equipamentos e de
subestações inteiras.
No exemplo da Figura 4, há um
exemplo de arranjo de subestação. Vários
ganhos em valores de campos elétricos
e magnéticos podem ser obtidos com
mudanças de posicionamentos e distâncias
dielétricas. Na Figura 7, está mostrado
o mapeamento do campo magnético na
subestação.

Melhoria ou aumento da
capacidade de suportar arcos
internos

Este tema foi detalhado no quinto


capítulo deste fascículo, sob o título “Arcos
internos em equipamentos de subestações,
Figura 6 – Painel de média tensão 15 kV – 31,5 kA. com ênfase na recente brochura Cigré 602 -
Apoio

58 hoje, não investir em capacitação porque


não há tempo de tirar o empregado da
Equipamentos para subestações de T&D

fábrica é a regra, com poucas exceções na


indústria.
Com as fábricas pouco ocupadas, há
tempo para reavaliar erros de estratégia e
capacitar as equipes técnicas para tentar
chegar mais próximos dos países asiáticos
e outros concorrentes diretos nossos. Eles
já nos passaram à frente há muito tempo
exatamente por investir em capacitação e
soluções criativas. Atuo em treinamento de
equipes de engenharia e a triste realidade
é que a cada dez treinamentos que aplico
no exterior, inclusive em outros países da
América do Sul, apenas um é aplicado no
Brasil porque aqui raras empresas pedem.
Nos últimos anos, o Brasil andou
Figura 7 – Barramento de geradores isolados a ar.
para trás na fila dos emergentes. Podemos
reverter isto e, para entender o estágio
onde paramos, vale a pena ler o conto
de Hans Cristian Andersen: “O rei está
nu”, em https://pt.wikipedia.org/wiki/A_
roupa_nova_do_imperador.
Outro ponto a considerar no momento
atual é buscar e identificar as chamadas
“novas tecnologias” em uso no mercado
internacional. Nova tecnologia é um
conceito que varia de país para país e,
pelo menos, nas áreas de média e baixa
tensões, ainda estamos presos ao passado.
Em algum dos próximos capítulos desta
série, abordaremos algumas destas

Figura 8 – Subestação 145 kV – Campo magnético, campo elétrico e temperaturas (SE, sala de
oportunidades tecnológicas.
controle, reatores, transformadores).

Ferramentas para a simulação dos efeitos de interessante poder oferecer soluções para a
arco interno na transmissão e distribuição”. reforma de equipamentos de subestações.
Este documento foi publicado pelo Cigré Isto interessa a quem quer adiar novos
internacional em dezembro de 2014. O investimentos. Este é um mercado atrativo,
autor deste fascículo foi um dos coautores da em especial, para os pequenos fabricantes
brochura que mostra os aspectos relevantes que têm muito mais dificuldade em se
a considerar nas modificações de projetos de manter no mercado.
equipamentos existentes ou novos. Em geral, É melhor projetar equipamentos já
estas modificações são de implementação utilizando as vantagens oriundas destas
relativamente simples e rápidas de fazer. técnicas. Hoje existem facilidades de
cálculos e simulações importantes que
Comentários finais são pouco conhecidas por fabricantes
de equipamentos que não investem no
Nestes tempos de vacas magras é treinamento de suas equipes. No Brasil de
Apoio

46
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo X

Novas tecnologias para sistemas


de até 145 kV

Nesta série de artigos são apresentados O que significa “nova tecnologia” semelhantes. Meu foco naquele caso era
conceitos de engenharia para projeto para um país em desenvolvimento? sobre equipamentos para classes de tensão
e especificação de equipamentos de não superiores a 145 kV, mas a maior parte
subestações de transmissão e distribuição. Há alguns anos, um cliente, fabricante dos conceitos pode ser estendida para
O primeiro capítulo cobriu aspectos dos da indústria elétrica de um país, fora outros sistemas.
estudos do sistema elétrico que servem de da América do Sul, contratou-me para Vivo no Brasil e testemunhei um
base para as especificações técnicas dos criar uma lista priorizada de produtos processo de crescimento no setor elétrico
equipamentos. O segundo cobriu conceitos potencialmente interessantes usando as que aconteceu a partir de 1976. Foi
sobre curtos-circuitos, ampacidades e chamadas "novas tecnologias". Pediu-me induzido, nos primeiros dez anos, por
contatos elétricos. O terceiro artigo abordou que ajudasse a montar um planejamento estratégias de longo prazo, que incluíram
as técnicas de ensaios de alta potência, estratégico para investir recursos humanos a construção de laboratórios de ensaios e
laboratórios de ensaios e principais ensaios. e financeiros, de modo a incluir novos centros de pesquisa, formação de recursos
No quarto, cobriu-se o tema estudos produtos no mercado. Também queria humanos de alto nível, a consolidação
elétricos de sobretensões, coordenação de preparar um pequeno grupo bem treinado de um sistema de normalização e de
isolamento e impactos de campos elétricos de especialistas para o desenvolvimento certificação dos produtos. Nos primeiros
e magnéticos. No quinto capítulo da série, de novas soluções. Seu país não tem 25 anos deste período, pudemos ver como
o tema abordado foi a recente brochura laboratórios de testes de produtos um bom planejamento e ações podem fazer
Cigré 602 sobre simulação de arcos. O sexto para subestações e está considerando a indústria elétrica crescer. Infelizmente,
falou sobre as especificações técnicas de implementar um. nestes últimos 15 anos testemunhamos
disjuntores, secionadores, painéis e para- Foi uma boa oportunidade, já que na como ações desastradas fazem o efeito
raios feitas por concessionárias de energia. minha carreira como pesquisador, consultor contrário.
O sétimo descreveu sistemas de proteção e profissional de laboratorios de testes lidei Para facilitar as explicações abaixo,
contra incêndios em subestações. O oitavo muitas vezes com a avaliação de projetos considerei dois grupos de países com mais
foi sobre elevação de temperatura com foco inovadores. Fiquei muito feliz também acesso ou menos acesso a conhecimentos
nas normas IEC 61439 (baixa tensão) e IEC porque hoje é raro encontrar empresas tecnológicos (poderia também ser o
62271-200 mais a futura IEC 62271-307 para que façam planejamento de médio e longo nível médio de educação). Eu os chamei
média tensão. O nono capítulo tratou de prazos. A maioria das empresas pensa "desenvolvidos" e "em desenvolvimento".
equipamentos para usos em locais especiais apenas no curto período de dois anos. Em minha visão, o Brasil se encaixa no
(atmosferas explosivas, alta salinidade, Neste artigo, descrevo alguns pontos grupo dos “em desenvolvimento”, devido ao
poluição). Este décimo tratará das novas desta experiência, que podem ser úteis seu baixo nível médio de educação e alguns
tecnologias para sistemas de até 145 kV. em outras empresas e países em situações outros aspectos que não cabe entrar no
Apoio

mérito aqui. internacionais dos grupos de trabalho comprados por um grande fabricante 47
Em relação ao estado de da IEC e do Cigré. Grandes fabricantes internacional. A maioria dos pequenos e
desenvolvimento dos "projetos de novas desenvolvem seus produtos fazendo testes médios não faz investimentos na criação
tecnologias", criei uma classificação em três em seus próprios laboratórios de ensaios ou de novos produtos porque não tem pessoas
grupos nomeados (a) projeto de bancada outros próximos de seus países. Nos países com capacitação específica para tal.
("benchmarking"), (b) projeto de protótipo desenvolvidos, há vários laboratórios para Trabalham duro em produtos tradicionais
e (c) projeto comercial . Foi considerado escolher, ao contrário do que acontece nos e adaptando alguns projetos mais recentes
que o tempo para o produto chegar ao países em desenvolvimento. Depois de ter que veem como promissor.
mercado comercial é de, respectivamente, um produto aprovado nos ensaios de tipo No Brasil, a vida é difícil para estes
cerca de quatro anos, dois anos e menos conforme a norma IEC, eles o fabricam, fabricantes. Os impostos são absurdamente
de um ano. Para o porte dos fabricantes, principalmente, em suas fábricas nos países elevados, embora a qualidade dos serviços
dividi no grupo de fabricantes de grande em desenvolvimento. Nestes últimos países, públicos prestados pelos governos seja
porte (internacionais) e outro grupo de os grandes fabricantes não têm grupos muito baixa. As regras e a burocracia
fabricantes de médio e pequeno portes. de tecnologia para o desenvolvimento de tornam a vida difícil para qualquer um
Meu entendimento sobre as tecnologias inovações ou para melhorar os produtos que queira fazer a coisa certa. O Brasil de
para a indústria elétrica é que, nos últimos existentes. hoje é exemplo mais claro, no mundo, de
20 anos, os fabricantes internacionais Os pequenos e médios fabricantes como um país muito rico, não consegue
permaneceram estagnados em seus trabalham para se manter em um manter-se em ascensão por causa do baixo
objetivos tecnológicos. Seus grupos de mercado cada vez mais competitivo. nível médio de educação da população. O
especialistas em desenvolvimento Alguns deles fazem investimentos para baixo nível de educação é o terreno mais
tecnológico são agora pequenos e adquirir conhecimento tecnológico, fértil para o crescimento da corrupção, da
localizados apenas nos países desenvolvidos formando pequenos grupos de engenharia ineficiencia e das decisões políticas de baixo
de origem. Muitas vezes encontro e desenvolvimento. Estes, quase sempre, nível.
alguns destes especialistas nas reuniões alcançam o sucesso e, depois disso, serão Voltando ao foco de nosso tema, a fim
Apoio

48 de atender às necessidades do meu cliente de testes perto, a indústria não consegue fábrica em um país em desenvolvimento,
em “novas tecnologias”, comecei a tentar avançar, pois precisa, pelo menos, testar que o atual é mais do que suficiente e bom.
Equipamentos para subestações de T&D

identificar algo que eu pudesse chamar o equipamento principal da família de No Brasil, somente em 2015, estamos perto
de nova tecnologia. Para mim, uma nova cubículos. de ter a IEC 61439 em uma versão escrita
tecnologia é algo que ainda não usamos Sem um laboratório de testes no em português. Esta norma foi publicada
em larga escala, mas percebemos que vai país, há custos elevados de transporte do na IEC em 2011. São quase cinco anos de
nos ajudar a melhorar a forma atual de equipamento a ser testado. Este transporte atraso. Se as normas IEC fossem publicadas
fazer as coisas. Entendo que o aspecto mais e despesas podem chegar a mais 50% do também em outros idiomas, a diferença de
importante de uma nova tecnologia é que valor que seria gasto se o teste fosse em cinco anos seria reduzida.
deve ser de fácil acesso para utilização na laboratório local. Se o equipamento falhar As lacunas sociais e tecnológicas estão
maioria dos países do mercado global. no ensaio, haverá os custos da repetição. aumentando o já grande fosso entre os
Para um país desenvolvido, um Hoje, a simulação de ensaios reduziu países desenvolvidos e em desenvolvimento
transformador de potência ou um esta barreira, mas ter um laboratório e isso não vai ter um final feliz. Os sinais são
dispositivo limitador de corrente baseado perto permanece absolutamente muito claros como o aumento da violência
em supercondutores é uma nova tecnologia. necessário. Sem o laboratorio próximo às global, o terrorismo e agora a grande
É algo já demonstrado, mas ainda caro para empresas simplesmente não se iniciam o imigração para países desenvolvidos.
produzir porque não há escala aceitável desenvolvimento dos novos produtos. O objetivo deste artigo é mostrar
de demanda. O que faz a nova tecnologia Os conceitos das normas IEC 61439 para a indústria elétrica de países em
avançar é a percepção positiva dos grandes e IEC 62271-307 criam a possibilidade desenvolvimento, como o Brasil, outros
usuários de que a tecnologia está cada vez de substituir ensaios em uma variante na America do Sul, Ásia etc., a visão do
mais perto de uso regular. não testada de uma mesma "família" de autor sobre as oportunidades com "novas
Um fator a considerar é que a equipamentos cujo item principal da tecnologias e procedimentos." A seguir, são
concorrência entre os fabricantes em países família foi testado. As simulações, cálculos e listados alguns exemplos. Na Seção 3, são
desenvolvidos é maior. É por isso que nas regras de projeto podem substituir e enviar mostrados alguns parâmetros que podem
duas últimas décadas eles estão deixando o a repetição desnecessária de muitos testes. ser usados para analisar e priorizar projetos
conforto de suas regiões para tentar vender Nos países em desenvolvimento, isso é para investimento. Na seção 4, listamos
produtos em mercados emergentes como a especialmente útil porque a disponibilidade algumas abordagens sobre a forma de
Ásia e, em menor escala, a América do Sul. de laboratórios de ensaios é pequena (ver induzir novas tecnologias e procedimentos
Grandes fabricantes internacionais sabem artigos em http://www.cognitor.com.br/ no setor elétrico.
que as novas tecnologias, após serem aceitas download.htm).
pelo mercado desenvolvido, irão substituir Normas IEC têm um impacto Exemplos de novas tecnologias e
a anterior naqueles países. A tecnologia, importante na distância entre países em procedimentos
entretanto, continuará sendo fabricada desenvolvimento e desenvolvidos. Isto Ao iniciar o trabalho para o meu
e usada nos países em desenvolvimento é descrito no artigo "Como podem as cliente, fiz uma visita à sua fábrica e ainda
durante muitos anos. normas IEC ajudar a reduzir a distância não sabia como iria identificar as tais “novas
Um exemplo no Brasil são os cubículos entre países desenvolvidos e outros países" tecnologias”. Andei com sua equipe pela
isolados a SF6 em vez de ar (AIS). Aqui que pode ser baixado em http://www. fábrica, que era um ambiente muito limpo
ainda são raramente usados, embora eles cognitor.com.br/ProposalToIEC.pdf. com pessoas motivadas e concentradas
não sejam difíceis de desenvolver. Atualmente, apenas especialistas de países nas tarefas. Meses mais tarde, quando
Para o desenvolvimento de produtos é desenvolvidos, com raras exceções, fazem apliquei um treinamento para sua equipe,
essencial a disponibilidade de laboratórios as normas IEC. As regras são democráticas em técnicas de projeto de equipamentos
de ensaio próximos para testar o protótipo e permitem a participação de todos, mas os para subestações, fiquei impressionado com
e uma clara compreensão das normas países em desenvolvimento praticamente a sua facilidade em assimilar conceitos.
técnicas usadas nos testes. Hoje, existem não participam nos grupos de trabalho Tinham formação técnica muito boa.
normas IEC com aberturas para reduzir IEC e pouco sabem sobre seu modo de Em um ponto da visita, vi um duto de
o número de testes a serem feitos em um funcionamento. barras sendo montado e recordei um caso
determinado produto. Exemplos destas Por isso, é comum que o mesmo similar, anos atrás, em outro país. Era um
normas são a série IEC 61439 (baixa tensão) fabricante internacional que está vendendo duto de corrente nominal 4.000 A, feito de
e a futura IEC 62271-307 (cubículos de alta um produto no mercado europeu, dizendo barras de cobre montadas horizontalmente.
tensão). No entanto, sem um laboratório que a vida será melhor com ele, diz em sua Tinha isoladores epóxi como no lado
Apoio

50 esquerdo da Figura 1. Perguntei sobre o passaria a ser o conhecimento tecnológico o mundo. Mesmo que nosso pequeno ou
nível de corrente de curto-circuito e me da empresa. médio fosse bem-sucedido em todas as
Equipamentos para subestações de T&D

informaram que era de 40 kA com duração Aquele cliente, pouco tempo depois, etapas técnicas e chegasse ao mercado,
de 1 segundo. reavaliando seus produtos, identificou uma a maioria dos usuários preferiria os
O engenheiro de aplicação, no série de otimizações possíveis incluindo tradicionais. Além disso, seria muito difícil
grupo, me disse que tiveram dificuldades o uso de diferentes perfis e materiais competir comercialmente com os grandes
para passar no ensaio de elevação de em painéis, cubículos e barramentos de fabricantes. Os chineses são bons em fazer
temperatura do protótipo, apesar de ter altas e baixas tensões (ver Figura 2). No este tipo de desenvolvimento, mas têm um
passado facilmente no ensaio de correntes artigo "Otimização do projeto de painéis: mercado interno enorme e capacidade de
suportáveis de curta duração e de crista comparação entre o alumínio e o cobre planejamento para direcionar os grandes
(forças eletrodinâmicas). Era visível que e um novo conceito", há informação comparadores para seus produtos nacionais.
a distância entre os isoladores era muito relacionada. O artigo pode ser baixado Nos países em desenvolvimento, existem
menor do que o realmente necessário. livremente em http://www.cognitor.com. muitas possibilidades para produtos nas
Portanto, eles estavam gastando mais com br/DesignOptimization.pdf . classes de tensão menores ou iguais a 145
isoladores do que o necessário. Havia no Para um fabricante médio ou pequeno, kV, que podem ser úteis nos mercados locais,
grupo um jovem engenheiro responsável não se pode imaginar como promissor como mostrado na Tabela 1.
pelo projeto e lhe perguntei por que as barras no Brasil desenvolver um disjuntor Há também oportunidades associadas
eram horizontais. A posição horizontal 245 kV ou 500 kV ou algo do tipo. Os com a substituição dos anti-estéticos e
é boa quando se tem que suportar forças principais fabricantes internacionais já perigosos, por proximidade, sistemas de
eletrodinâmicas altas causadas por altas os desenvolveram e os vendem em todo distribuição aérea (Figura 3). Nas cidades
correntes de curto-circuito. No entanto,
esta posição é ruim para a dissipação de
calor sob altas correntes nominais como
4.000 A. O jovem projetista me disse que
usaram porque estavam seguindo o mesmo
antigo projeto de duto 4.000 A - 65 kA.
Comentei que era possível usar barras de
secção transversal menor se estas fossem
na posição vertical. Isso permitiria que o
projeto usasse menos isoladores e cobre.
Possivelmente haveria uma redução de 30%
no custo dos materiais.
Neste momento, tornou-se claro para
mim que a mais fácil "nova tecnologia" é Figura 1 – A “nova tecnologia” mais simples é a otimização de produtos existentes baseada em
simulações e cálculos precisos.
projetar um produto existente de forma mais
otimizada, com base em sólidos cálculos de
engenharia e conhecendo melhor o que está
escrito nas normas técnicas. Dá resultados
muito melhores do que copiar projetos de
outros sem saber o porquê. Um projetista
treinado pode usar sua experiência mais
ferramentas de software para melhorar o
projeto por meio de simulações, antes de
ir para o laboratório fazer o ensaio final.
No Brasil, há muitos anos, vejo fabricantes
me contratarem para fazer os cálculos para
eles ao invés de me contratarem para que
eu os ensine a fazer os cálculos sozinhos,
e não mais precisar de mim depois. É um
Figura 2 – Uso de diferentes perfis de barras e materiais em painéis, barramentos e quadros
obvio erro de estratégia terceirizar, o que de distribuição.
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brasileiras, infelizmente, ainda são usados 51


inclusive próximos a janelas. Neste caso,
a contribuição possível da indústria
elétrica não é só criar produtos para redes
subterrâneas, mas também divulgar para os
usuários e a sociedade que existem outras
soluções. Esta iniciativa jamais partirá das
concessionarias de energia.
Os argumentos de que os sistemas
subterrâneos são mais caros e que as
considerações estéticas são menos
relevantes em um país em desenvolvimento
são falsas. Quando se instala algo, como na
Figura 3, perto das janelas de uma escola e
da visão das pessoas, você está dando um
mau exemplo óbvio de fazer as coisas. Em Figura 3 – Fusível expulsão tipo IEC 60282-2/ABNT NBR 7282 instalado muito próximo de
uma residência.
nosso país, já bastam os maus exemplos
e malfeitos que vêm de cima e estão de " dutos comuns de serviços" com vários comum. Os argumentos são de que é difícil
todos os dias nos telejornais. Para tirar serviços públicos, como eletricidade, cabos fazer a coordenação entre as empresas que
transformadores e chaves fusíveis perigosos telefônicos e de televisão. Vi muitas vezes prestam os diferentes serviços. No entanto,
de perto de suas janelas, só por meio de nos municípios redes aéreas antigas sendo em bairros mais ricos e nos lugares por onde
ações judiciais. substituídas por outra nova rede aérea passam os turistas, as soluções subterrâneas
Outras oportunidades, com potencial, ao invés de se usar a oportunidade para são utilizadas. Então, por que não expandir
estão ligadas a soluções para a instalação substituir a antiga por um duto subterrâneo o uso para todos?
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52 Tabela 1 - Exemplos de "novas tecnologias e procedimentos" para países em desenvolvimento


Equipamentos para subestações de T&D

Tecnologia ou procedimento Comentários


Manutenção com base em condição (para Serviço amplamente utilizado em países desenvolvidos desde os anos de 1990, mas
subestações, transformadores, disjuntores, com baixo uso em países em desenvolvimento.
cabos, sistemas subterrâneos etc.) Prestar serviços nesta área não requer grandes investimentos materiais e sim
capacitação da equipe técnica.
Painéis de média tensão isolados a SF6 A maioria dos sistemas utilizados nos países em desenvolvimento são isolados a ar.
Aqui está clara oportunidade para fabricantes.
Painéis de média tensão com ventilação forçada Projetos otimizados para passar simultaneamente nos testes de arco interno e de
e classificação IAC elevação de temperatura.
Religadores automáticos e chaves de media Soluções locais.
tensão otimizados
Painéis de baixa tensão à prova de arco interno Projeto otimizado mais leve para altas correntes nominais (> 3.000 A) e de curto
usando perfis de alumínio não convencionais circuito (> 80 kA).
Dispositivos especiais limitadores de curto- Para utilização em locais em que o nível de curto-circuito cresceu acima do nível
circuito, instalações industriais e para correntes dos outros equipamentos da subestação e nenhuma outra solução, como reatores
superiores a 90 kA limitadores, é possível.
Redes subterrâneas de média tensão em média e Sistemas aéreos são inaceitáveis nas cidades de países desenvolvidos.
grandes cidades
Integração dos serviços públicos em "dutos de Tipo de solução óbvia, mas que depende de uma maior pressão da sociedade e um
serviços comuns" mínimo de capacidade de planejamento das prefeituras municipais.
Normas técnicas IEC publicadas em português, Este é um ponto crítico para reduzir a distância para os países desenvolvidos. Como a
no máximo, 1 (um) ano após a publicação da ABNT não consegue fazer traduções rápidas, a solução é pressionar o IEC para criar
norma em inglês na IEC (em vez de quatro a maneiras de publicar, pelo menos as normas principais, em português. Outros países
cinco anos depois como ocorre ainda hoje) já conseguiram isto.
Implementação e disseminação de normas As associações industriais, hoje acomodadas com a demora, devem se concientizar da
técnicas consideradas úteis no Brasil para a qual importância e agir para que isto ocorra.
não haja norma IEC equivalente. Certas normas que são, em certo momento, prioridade no Brasil podem não ser
prioridade na IEC. Para uma norma brasileira, para a qual não existe uma norma IEC
correspondente, se tornar uma norma IEC é necessário que o COBEI / ABNT faça uma
proposta à IEC e esta seja apoiada por outros comitês nacionais. Assim foi feito com a
norma IEC 60282-2 em sua revisão de 1989, oriunda da ABNT NBR 7282. Exemplos
de normas brasileiras que poderiam virar normas IEC são a ABNT NBR 13231 -
proteção contra incêndios em subestações de sistemas de geração de energia elétrica
convencional, transmissão e distribuição e também a ABNT NBR 8222 - Prevenção
de incêndio explosão em transformadores e reatores. Esta última inclui ensaio de
arco interno em transformador para verificar se o sistema de prevenção funciona
corretamente. Um exemplo de norma que seria útil no Brasil e cuja proposta de
execução foi rejeitada no COBEI/ABNT em 2010 foi o “Guia para o uso de simulações
e cálculos para substituir alguns ensaios” (ver fascículos anteriores desta série). O foco
não pode ser apenas em traduzir normas IEC para português.
Projeto especial de salas de controle e Aplicação de engenharia baseada em dutos e espaços de despressurização (ao invés de
manobra para reduzir o impacto de arcos painéis de alta capacidade IAC difíceis de projetar).
internos > 50 kA.
Sincronizadores para disjuntores e A ideia se baseia em estender o uso de sincronizadores aplicados em sistema de
procedimentos para energização e tensões acima de 230 kV para reduzir sobretensões e sobrecorrentes em sistemas de
desenergização em sistemas tensões menores ou iguais a 145 kV.
<= 145 kV
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54 Tabela 2 – Perguntas principais e exemplos de pesos atribuídos


Perguntas sobre diferentes aspectos dos projetos Peso (%)
Equipamentos para subestações de T&D

Tempo necessário para chegar à comercialização 25


Estágio de desenvolvimento (bancada, protótipo, comercial) 15
Existe a possibilidade de uma nova patente? 10
Há concorrentes nos mercados nacionais e internacionais ? 20
Existem parceiros? Privados? Público? 10
Quantidade de investimentos anteriores no projeto 5
Qual a probabilidade de sucesso na opinião de especialistas? 13
Impactos positivos (emprego etc.) 1
Os impactos ambientais são melhores do que a tecnologia atual 1

Como analisar e priorizar empresa para chegar ao produto final; um estudo em profundidade desses
projetos de novas tecnologias • Fazer um estudo de viabilidade pontos é feito quando já existe uma
Para analisar e priorizar um conjunto económica e financeira por meio de garantia razoável de que a maioria das
de projetos de novas tecnologias indicadores. oportunidades e barreiras é clara e
aborda-se questões sobre: • Como avaliar a viabilidade comercial pode ser superada. Pequenas e medias
• O conhecimento e a capacitação em (incluindo comercialização e esquemas empresas na maioria das vezes substituem
engenharia disponíveis na empresa; de comércio); este estudo por decisões intuitivas ou
• A infraestrutura disponível, incluindo • Como considerar os impactos positivos baseadas em estudo simplificado. Em
recursos materiais e humanos; de natureza não financeira; qualquer caso, é comum que, durante
• Fazer uma análise de mercado sobre • Se um protótipo for bem-sucedido, os a análise, usar pesos diferentes para
oportunidades, barreiras, concorrentes e concorrentes podem bloquear a entrada diferentes aspectos da Tabela 2.
o próprio mercado; no mercado? Para cada um destes aspectos, a
• Como verificar a competência da Em uma grande organização, classificação é feita com base na soma dos
Apoio

55
pesos x pontos. Como é difícil comparar é permanecerem governos pequenos, não em dia, é raro ter pelo menos um com
um projeto de bancada com outro em atrapalhar o avanço da indústria elétrica fundamentos como os de http://www.
estágio mais avançado, a análise é feita com políticas confusas, proporcionar cognitor.com.br/Training2015ES.pdf.
separadamente em grada grupo. Para fazer um bom nível médio de educação no – Ter um "plano de metas em novas
uma análise de viabilidade detalhada, país e atuar com seriedade dando bons tecnologias" com as prioridades
podem ser usadas ferramentas como exemplos. Exemplos de ações a tomar por definidas.
o software livre Decidix para avaliar a associações da indústria e diretamente – Ter a cada ano, em curso, pelo menos,
viabilidade de projetos de energia. Este por cada fabricante são: três projetos de "novas tecnologias"
software e instruções completas podem (um projeto de bancada + um projeto
ser baixados em http://www.cognitor.com. • Para associações industriais de protótipo + um projeto comercial).
br/c_ViabilidadeEnergiaEletrica.htm Esta é a maneira de se criar uma cultura
– Continuar trabalhando para de inovação na empresa e manter a
Como induzir e implementar aumentar a disponibilidade de chama acesa.
projetos e procedimentos de laboratórios de ensaios.
novas tecnologias – Pressionar para ter normas IEC
Muitas ações para induzir, para em português até um ano após sua
avaliar e desenvolver projetos de novas publicação na IEC em inglês.
tecnologias podem ser adotadas por
associações da indústria e diretamente • Para fabricantes
por cada fabricante. Alguns exemplos são
listados nas linhas seguintes. Nesta lista – Ter pelo menos dois engenheiros bem
não estão incluídas ações do governo. treinados para cálculos de projeto de
As melhores ações que os governos dos equipamentos e e para entender o que
países em desenvolvimento podem tomar está escrito nas normas técnicas. Hoje
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44
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo XI

Cálculo da elevação de temperatura em


invólucros pela IEC 60890

Nesta série de artigos são apresentados Introdução impactam fortemente no resultado do


conceitos de engenharia para o projeto ensaio. Se a resistência e estes dados não
e especificação de equipamentos de No projeto de produtos elétricos os estão registrados no relatório de ensaio o
subestações de transmissão e distribuição. requisitos principais a atender são (a) as ensaio não tem reprodutibilidade e isso pode
O primeiro fascículo cobriu aspectos dos temperaturas que não podem ser excedidas ser visto como uma falha do laboratório de
estudos do sistema elétrico que servem de em uso normal, (b) a capacidade de suportar ensaios. As normas IEC e suas traduções
base para as especificações técnicas dos as forças eletrodinâmicas de curto-circuito, nas normas brasileiras não tratam da relação
equipamentos. O segundo cobriu conceitos que podem danificar barramentos e entre os ensaios de elevação, o de arco interno
sobre curtos-circuitos, ampacidades, isoladores, (c) suportar a sobrepressão dos e o de grau de proteção e não explicitam tudo
sobrecargas e contatos elétricos. O terceiro arcos internos, (d) as solicitações dielétricas que deve ser registrado nos relatórios de
fascículo abordou o tema “Técnicas de às sobretensões de impulso ou a tensão ensaios. As normas de painéis de média e de
ensaios de alta potência, laboratórios de de frequência nominal, (e) as solicitações baixa tensão deveriam pedir explicitamente
ensaios e principais ensaios”. No quarto mecânicas causadas por operações (mas não pedem) para registrar no relatório
fascículo, cobriu-se o tema “Estudos repetitivas, e (f) a capacidade de evitar a de ensaios os fatores acima.
elétricos de sobretensões, coordenação de penetração de agua e poeiras no invólucro. O conteúdo dos relatórios de ensaios
isolamento e impactos de campos elétricos Como os equipamentos são cada vez emitidos por laboratórios de ensaios não
e magnéticos”. No quinto fascículo, o tema menores e as correntes cada vez mais altas pode ser visto apenas como algo técnico.
abordado foi a recente brochura CIGRÉ 602 é muito mais difícil atender a alguns destes Mais de 80% das vezes o principal objetivo
sobre simulação de arcos. O tema do sexto requisitos, mantendo a segurança das pessoas de quem entra em longas filas de espera e
fascículo foram as especificações técnicas e instalações e otimizando o projeto para o uso depois paga para realizar os onerosos ensaios
de disjuntores, secionadores, painéis e mínimo de cobre, alumínio, suportes das barras é ter um documento neutro que permita a
para raios feitas por concessionarias de e outros componentes. Um dos principais comercialização de seus produtos. Por isso,
energia. O sétimo descreveu distancias de aspectos é o de elevações de temperatura. espera-se que as gerências de laboratórios de
segurança e sistemas de proteção contra Conforme mostrado no fascículo 2 desta ensaios oficiais de terceira parte tenham a
incêndios em subestações. O oitavo foi série, os resultados do ensaio de elevação de visão de que os relatórios de ensaios são um
sobre a futura IEC62271-307. O nono foi temperatura são influenciados pela corrente instrumento comercial poderoso e devem
sobre técnicas para reformar equipamentos aplicada, tipo de materiais, as resistências de ser claros, precisos, identificar muito bem
de subestações e adiar investimentos. O contato, a temperatura do fluido, a geometria o que foi testado e ter conclusões objetivas.
décimo abordou novas tecnologias para o dos condutores, o volume interno líquido É comum encontrar nos relatórios frases
setor elétrico. Este 11º tratará do cálculo do compartimento e a existência ou não de dizendo que os resultados só se aplicam à
da elevação de temperatura em invólucros aberturas de ventilação. As resistências de amostra testada e outras que visam eximir
pela IEC 60890. contato e a área e velocidade de ventilação o laboratório de qualquer responsabilidade
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futura pelo uso do documento. as compras mas aceitam relatórios que não interpretações são difíceis de analisar até 45
Em minha visão, se um laboratório tem dizem se o equipamento passou ou não no mesmo para as equipes do laboratório de
competência técnica para tal, deve emitir ensaio de elevação de temperatura. Muitas ensaios. Exemplos destes são a definição
relatórios de ensaios que identifiquem vezes, o limite máximo permitido na norma da máxima elevação de temperatura que
corretamente o equipamento que foi testado foi ultrapassado e em alguns casos o relatório deve ser atendida em diferentes tipos de
e trazer uma conclusão escrita informando nem mesmo se aplica ao equipamento que conexões e contatos, no ensaio de elevação
se o equipamento testado atendeu ou não está sendo comprado. de temperatura, ou mesmo o número de
os requisitos da norma técnica. Pagar mais Em anos passados, quando eu aplicações de curto-circuito em painéis
barato por ensaios em laboratórios que não coordenava o Comitê Técnico 32 (Fuses) submetidos ao ensaio de arco interno.
atendem a isso é um erro estratégico, à luz da IEC – International Electrotechnical Por este motivo, a IEC publica, além das
das novas normas IEC, como a IEC 62271- Commission, tive a oportunidade de normas, os importantes relatório técnicos.
307, que mencionam explicitamente o que conhecer alguns documentos TR (Technical Nestes últimos, que não têm caráter
deve ser registrado. Reports) da IEC que, embora muito uteis, normativo, é que estão os fundamentos
No caso das elevações de temperatura, são, ainda hoje, muito pouco conhecidos no para os valores utilizados nas normas. Nos
interpretar os resultados e compará-los com mundo. A IEC publica, principalmente, dois treinamentos que aplico para fabricantes,
as normas para saber se o equipamento tipos de documentos: as normas técnicas e concessionárias e empresas de certificação,
passou ou foi reprovado não é uma tarefa os relatórios técnicos. As normas técnicas utilizo muitos destes relatórios técnicos
simples. É preciso conhecer bem as especificam os procedimentos, métodos de IEC. No livro de minha autoria que pode
entrelinhas de normas, como a IEC 62271- ensaios e valores limites que não devem ser ser baixado livremente em http://www.
1, a IEC 62271-200 e as da série IEC 61439. ultrapassados. As normas técnicas raramente cognitor.com.br/Book_SE_SW_2013_POR.
Muitos compradores de equipamentos de descrevem os fundamentos técnicos e pdf, há várias informações extraídas destes
baixa e média tensões são exigentes em trazem as explicações do porquê dos valores documentos TR da IEC.
pedir os relatórios de ensaios para efetivar limites e métodos empregados. Algumas Alguns dos principais relatórios técnicos
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46 IEC úteis no dia a dia de quem projeta e Invólucros vazios destinados a conjunto de elevação de temperatura por cálculos é
especifica equipamentos são: de manobra e controle de baixa tensão baseada neste método.
Equipamentos para subestações de T&D

- Requisitos gerais, permite estabelecer a A ideia central da aplicação do método


• IEC/TR 60890, A method of capacidade de dissipação de potência em da IEC 60890 é que, originalmente, um
temperature-rise verification of low-voltage invólucros vazios usando os métodos da IEC certo painel com tipo construtivo definido
switchgear and controlgear assemblies by 60890. e alguns tipos de componentes internos
calculation No que diz respeito a cálculos foi inicialmente testado e aprovado em
• IEC TR 60943, Guidance concerning completos de elevação de temperatura em laboratório. Suponhamos que temos
the permissible temperature rise for parts equipamentos, a sequência normalmente agora um outro painel do mesmo tipo
of electrical equipment, in particular for adotada é a seguinte. Em primeiro lugar construtivo (da mesma família, mas com
terminals calcula-se a elevação de temperatura do dimensões diferentes do testado) que usa os
• IEC 61117, Method for assessing the ar interno, considerando todos os watts mesmos tipos de componentes, porém em
short-circuit withstand strength of partially dissipados, pelo método da IEC 60890. Em quantidades diferentes. Um exemplo é que
type-tested assemblies (PTTA)1 seguida, calcula-se a elevação de temperatura o painel originalmente testado contava com
• IEC TR 60865-1, Short-circuit currents das barras e conexões, em relação ao ar três disjuntores internos dissipando uma
– Calculation of effects – Part 1: Definitions interno, por um método de elementos certa potência total enquanto o não testado
and calculation methods finitos. Somando-se os dois valores obtém-se tem paredes de dimensões diferentes e tem
• IEC TR 60865-2, Short-circuit currents a elevação de temperatura das partes em cinco disjuntores ao invés de três. Portanto,
– Calculation of effects – Part 2: Examples of relação ao ar externo. Este é o método usado dissipa uma quantidade diferente de watts. A
calculation no software de projeto SwitchgearDesign. ideia é que se pudermos provar por calculo
que a elevação de temperatura do ar interno
Para o tema elevações de temperatura há O método de cálculo da IEC no equipamento não testado é menor do
os documentos IEC TR 60943 e o TR IEC 60890 que aquela do equipamento testado, os
60890. O IEC TR 60943 é o mais completo componentes internos do equipamento
documento que conheço na bibliografia a O método é utilizado para calcular a calculado serão menos solicitados que os
respeito de temperaturas em equipamentos elevação de temperatura do ar no interior de componentes do painel testado. Por isso, não
e materiais condutores e isolantes e seu um invólucro metálico com ou sem aberturas é necessário repetir os ensaios.
impacto na vida útil, além de muitos de ventilação, mas sem ventilação forçada. É um método empírico baseado em
outros aspectos. É um documento que um No SwitchgearDesign foram acrescentadas resultados de ensaios obtidos em um grande
bom projetista ou um bom engenheiro de equações que permitiram estender as número de diferentes tipos de invólucros. Os
laboratório de ensaios deve conhecer nos equações para invólucros com ventilação resultados destes ensaios foram associados
mínimos detalhes para desenvolver um forçada e outros fluidos além do ar como o aos valores das variáveis principais de
projeto competente ou realizar e analisar SF6. Nas antigas normas de painéis de baixa cálculo para criar uma série de curvas que
resultados de testes. tensão IEC 60439 e na mais recente série IEC são utilizadas nos cálculos de cada invólucro
Neste artigo vamos destacar o conteúdo 61439, a possibilidade de substituir o ensaio específico.
do documento IEC/TR 60890. Este apresenta
um método simples, mas muito eficaz para
calcular a elevação de temperatura do ar
dentro de um compartimento de painel
ou barramento blindado ou invólucros em
geral. Se um projetista deseja calcular as
elevações de temperatura que acontecerão
nos barramentos de um painel com várias
fontes de calor internas (conexões das barras,
disjuntores, fusíveis e chaves) pode seguir
um método como o descrito a seguir.
Cabe ainda mencionar que há fabricantes
que produzem invólucros vazios, mas não
produzem o painel ou barramento completo
montado. A norma NBR IEC 60208 - Figura 1 – Configuração de cálculo.
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48 As variáveis de cálculo relevantes são as horizontal deve ser no mínimo 50% da seção destaca o tipo de instalação mostrado na
seguintes (ver Figura 1): reta transversal da coluna. parte superior direita da figura. Este tipo
Equipamentos para subestações de T&D

O método visa determinar a elevação depende da localização do painel dentro


- As dimensões do invólucro: altura / largura de temperatura do ar, ao longo da altura da da sala. Por exemplo, um painel instalado
/ profundidade; coluna do involucro com base na elevação sozinho no centro da sala (curva 1) se
- O tipo de instalação, por exemplo, no de temperatura a 50% da altura e em 100% aquecerá menos que um outro, igual, porém
centro de uma sala ou encostado nas paredes da altura (próximo ao teto). É utilizada a instalado encostado nas paredes e tendo
ou encostado em paredes e outros painéis equação principal mostrada na Figura 2. como vizinhos dois outros painéis aquecidos
quentes; Os fatores K, D e P x que multiplicados (curva 4).
- O projeto do invólucro com ou sem fornecerão a elevação de temperatura do O fator B usado para calcular a área do
aberturas de ventilação; ar interno devido aos watts produzidos involucro efetivamente exposta para efeitos
- O número de partições horizontais internas são obtidos a partir dos dados de entrada de dissipação de calor é obtido a partir dos
(com furos) por onde o ar ascendente deverá mostrados na Figura 3. Entre estes se dados da Figura 4. Note-se que este fator
circular do fundo para o topo do invólucro
- A dissipação efetiva de potência nos
componentes internos do invólucro.

O método vale para invólucros em chapa


de aço, chapas de alumínio, ferro fundido,
material isolante e outros semelhantes. É
aplicável se estiverem reunidas as seguintes
condições:

• Há uma distribuição aproximadamente


uniforme da dissipação de potência no
interior do invólucro. Esta situação na vida
real é rara, mas o método fornece bons
resultados a despeito disso;
• As partições agem de tal maneira que a
circulação do ar é pouco impedida;
• O equipamento instalado é projetado para
Figura 2 – Sequência de cálculo da elevação de temperatura a 50% e 100% da altura do invólucro.
corrente alternada até 60 Hz ou contínua de
valores não superiores a 3.150 A;
• Os condutores elétricos e peças estruturais
são dispostos de tal modo que as perdas por
correntes de Foucault são insignificantes.
Na realidade, para correntes acima de 3.000
A, os efeitos podem ser mais pronunciados
caso sejam utilizados, por exemplo, em
espaçadores de barramentos materiais como
o aço carbono;
• Para invólucros com aberturas de
ventilação, a seção transversal das aberturas
de saída do ar (topo) é de pelo menos 1,1
vezes a seção transversal das aberturas de
entrada de ar (parte de baixo);
• Não há mais de três partições horizontais
na coluna ou seção sob análise;
• Se o invólucro tem aberturas de ventilação,
a área de passagem de ar em cada partição Figura 3 – Dados de entrada e resultados do método.
Apoio

é multiplicado pela área de cada parede 49


Tipo de Instalação Fator de superfície B
específica.
Face do teto exposta 1,4
A soma das áreas de cada parede resulta
Superfície do teto coberta 0,7
na área efetiva Ae que será utilizada como
Faces expostas frente, traseira, lados 0,9
dado de entrada em algumas das demais
Faces laterais cobertas 0,5
figuras deste fascículo. Faces laterais de invólucro central 0,5
O Fator K que aparece na fórmula é Superfície do chão desconsiderada
calculado em função dos valores da área Ae e
Figura 4 – Fator b de cálculo da área exposta.
da área de entrada de ar conforme mostrado
na Figura 5.
A determinação da temperatura no topo
do involucro é feita utilizando-se um fator de
distribuição C como nas Figuras 6 e 7. Este
fator depende de haver ou não aberturas de
ventilação.
O fator D que aparece na formula é
obtido através dos dados da Tabela 1 em
função do número de partições horizontais.
Como é de se esperar, quanto maior o
número de partições mais difícil é para o
ar circular e, portanto, maior é o valor de
D e, consequentemente, da elevação de
temperatura.
Os valores de P e x que aparecem na Figura 5 – Fator K para Ae> 1,25 m2.
Apoio

50 pudesse ser aplicado em situações muito


próximas das descritas nas “condições de
Equipamentos para subestações de T&D

validade”. Entretanto, à medida que fui


utilizando-o em vários e vários projetos
executados para fabricantes de painéis e
barramentos blindados, percebi como os
resultados calculados se aproximam muito
dos valores medidos em ensaios em quase
todas as situações.
Embora este método empírico seja
simples pela facilidade de uso, atrás dele há
a contribuição dos principais fabricantes
mundiais de painéis de baixa tensão. São
eles que atuam nos grupos de trabalho da
IEC que prepararam este documento. Tenho
atuado ao longo dos anos em alguns grupos
de tralho da IEC como o que atualmente
está preparando a nova IEC 62271-307. As
Figura 6 – Fator C para distribuição da elevação ao longo da altura sem aberturas de ventilação.
discussões técnicas são muito ricas.
A utilização deste método de cálculo das
temperaturas do fluido viabilizou, no software
SwitchgearDesign, substituir cálculos pesados
de dinâmica computacional dos fluidos
(CFD), por algumas poucas e simples linhas
de código computacional. Isto pode ser
percebido nos casos validados detalhados
no link mostrado mais acima neste texto. Os
softwares CFD são poderosos porem muito
mais difíceis de comprar, utilizar e modelar.
Além disso, necessitam de um treinamento
do projetista muito mais longo. E aí chega
o problema, pois a grande maioria dos
fabricantes brasileiros simplesmente parou
Figura 7 – Fator C para distribuição da elevação ao longo da altura com Ae > 1,25 m2 e aberturas de investir em treinamento e capacitação de
de ventilação.
pessoal nos últimos anos. Terceirizaram as
formula geral da Figura 2 são a potência nos barramentos, watts gerados por indução atividades de desenvolvimentos de engenharia
dissipada total que há dentro do invólucro e magnética etc. e este é um erro estratégico. É exatamente o
e o fator empírico X mostrado na coluna contrário do que fazem os asiáticos e alguns
da direita da Figura 2. O valor da potência Comentários finais outros países, inclusive na América do Sul,
dissipada deve ser avaliado considerando como a Colômbia e o Chile.
todas as cargas térmicas no interior Na primeira vez que examinei e tentei Vejo muitos brasileiros comentando
do invólucro, tais como resistores de utilizar o método da IEC 60890, há alguns de modo depreciativo que os chineses
aquecimento, disjuntores e chaves, perdas anos, imaginei que por sua simplicidade só conseguem produzir e vender muito, porque
Tabela 1 - Fator D sua mão de obra é muito barata. Este é um
erro grosseiro de avaliação. Foi assim no
Partições = 1 Partições = 2 Partições = 3 Partições = 4
passado, mas os chineses e outros asiáticos
Sem aberturas de ventilação 1,00 1,05 1,15 1,30
passaram a investir bastante em capacitação e
A e > 1,25 m2
hoje fabricam em seus países quase todos os
Com aberturas de ventilação 1,03 1,05 1,10 1,15
produtos que se possa imaginar. A título de
A e > 1,25 m2
exemplo, se uma empresa quisesse comprar
Apoio

equipamentos para montar um grande e são mantidos por governos e instituições bem lá fora, com muito mais facilidade 51
laboratório de ensaios de alta tensão ou de que pensam apenas em se manter no poder poderá vender aqui quando a situação
alta potência poderia comprar todos os itens e não têm nenhuma visão ou interesse no brasileira melhorar. Portanto, recomeçar
na China. Entretanto, aqui no Brasil, não se que acontecerá com o País no médio ou a criar uma cultura de capacitar o pessoal
poderia comprar nenhum dos equipamentos, longo prazos. A culpa também é nossa por técnico e manter equipes competentes para
pois nenhum fabricante os desenvolveu. assistirmos a tudo passivamente. enfrentar novos desafios. Um bom começo
Poderíamos até preferir comprar de um A maior parte de nossa indústria é ter na equipe técnica pelo menos dois bons
fabricante mais tradicional na Europa ou elétrica, que avançava muito bem nas projetistas com visão aberta para inovações;
América do Norte, porém, o fato é que seria décadas de 1980 e 1990, parece que perdeu • Ter um "plano de metas em novas
possível comprar qualquer um deles na China. o foco. Com exceção de uma ou duas regiões tecnologias" com as prioridades definidas.
Se extrapolarmos este raciocínio para trens do Brasil, onde se percebe que há iniciativas Manter em curso, a cada ano, pelo menos
modernos, barcas de transporte de massa, de planejamento e de motivação do setor três projetos de "novos produtos”. Esta é a
navios e outros itens veremos como, no Brasil, industrial, paramos no tempo. maneira de criar uma cultura de inovação na
pensamos curto e estamos desatualizados. Na Para os médios e pequenos fabricantes empresa e manter a chama acesa.
questão dos desenvolvimentos tecnológicos, da indústria elétrica que me procuram para
estamos perdendo de mais de 7 a 1 nos aconselhamentos costumo sugerir algumas
últimos 15 anos. ações como:
Repetindo parte do que escrevi no
fascículo anterior (novas tecnologias), • Focar em produzir e vender 60% para o
passamos por um momento em que as mercado externo e 40% no mercado interno
indústrias do setor elétrico brasileiro estão brasileiro;
perdendo em competitividade. A culpa não é • Competir no mercado externo é mais
só dos procedimentos, impostos e burocracia difícil no primeiro momento, mas muito
excessivos que emperram a indústria elétrica compensador depois. Quem compete
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38
Equipamentos para subestações de T&D

Capítulo XII

Cálculos de engenharia em projetos de


equipamentos para subestações

Este é o último capítulo desta série capítulo anterior, falou-se sobre os cálculos permanentes e transitórios de campos
iniciada em janeiro de 2015, em que foram de elevação de temperatura em invólucros elétricos e campos magnéticos.
apresentados conceitos de engenharia para pela IEC 60890. Este último artigo abordará Quanto mais compacta é a instalação ou
projeto e especificação de equipamentos de os cálculos de engenharia em projetos de o equipamento e quanto mais elevadas são
subestações de transmissão e distribuição. equipamentos para subestações. as correntes e as tensões de operação, mais
O primeiro capítulo cobriu aspectos dos difícil e oneroso é atender a esses requisitos.
estudos do sistema elétrico que servem de Introdução Muitos equipamentos e instalações são
base para as especificações técnicas dos sobre dimensionados, em alguns aspectos e
equipamentos. O segundo cobriu conceitos Mostramos nos capítulos anteriores deficientes em outros devido às incertezas
sobre curtos-circuitos, ampacidades e que, no projeto de subestações e de seus que podem ter os cálculos de projeto.
contatos elétricos. O terceiro artigo abordou equipamentos de potência, tais como Hoje em dia, podem-se utilizar métodos
as técnicas de ensaios de alta potência, barramentos, painéis, equipamentos de e ferramentas de cálculos, com base em
laboratórios de ensaios e principais ensaios. manobra e similares, os requisitos principais conceitos sólidos e técnicas de simulação
No quarto, cobriu-se o tema estudos a atender são: que resultam em projetos mais otimizados e
elétricos de sobretensões, coordenação de econômicos.
isolamento e impactos de campos elétricos • Prover condições para que as temperaturas Para fazer isso é necessário, em
e magnéticos. No quinto capítulo da série, de partes isolantes e condutoras não primeiro lugar, saber que estes métodos
o tema abordado foi a recente brochura ultrapassem certos limites, sem exagerar no existem, entender suas possibilidades e
Cigré 602 sobre simulação de arcos. O sexto uso de materiais; ter treinamento adequado para aplicá-los.
falou sobre as especificações técnicas de • A capacidade de suportar sobrepressões e Este é um ponto fraco em muitas empresas
disjuntores, secionadores, painéis e para- outros efeitos causados por arcos internos ou na indústria elétrica brasileira. Da mesma
raios feitas por concessionárias de energia. externos; forma que, no Brasil, a educação é tratada
O sétimo descreveu sistemas de proteção • Suportar as forças eletrodinâmicas que historicamente sem a vontade política de
contra incêndios em subestações. O oitavo podem danificar isoladores e barramentos criar um Brasil bem preparado, na indústria
foi sobre elevação de temperatura com foco durante curtos-circuitos; elétrica o treinamento de equipes é muito
nas normas IEC 61439 (baixa tensão) e IEC • Utilizar as mínimas distâncias dielétricas limitado ou simplesmente não existe. Não é
62271-200 mais a futura IEC62271-307 para que impeçam a ocorrência de falhas devido uma questão de falta recursos e sim da falta
média tensão. O nono capítulo tratou de a sobretensões; de percepção gerencial de sua importância.
equipamentos para usos em locais especiais • Atender aos requisitos mecânicos para É comum encontrar empresários que dizem
(atmosferas explosivas, alta salinidade, suportar a frequentes e elevadas solicitações; que não vale a pena treinar um funcionário
poluição). O décimo abordou as novas • Atender aos requisitos de compatibilidade que depois de treinado vai procurar um
tecnologias para sistemas de até 145 kV. No eletromagnética, levando em conta os efeitos emprego no concorrente. O fato é que
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estamos ficando cada vez mais para trás na nunca ficava pronto a tempo. Hoje, no meio isolamento; 39
fila dos países desenvolvidos e também dos de tantos escândalos de corrupção e tantas • Cálculos de campos magnéticos, campos
países em desenvolvimento. mostras de absoluta incompetência gerencial elétricos e distancias, do ponto de vista
Nas décadas de 1980 e 1990, estávamos pode-se entender o processo destrutivo dielétrico, de segurança contra explosões,
evoluindo positivamente em capacitar a que estava começando a ocorrer nos vários incêndios e dos efeitos sobre a saúde;
indústria elétrica para voos maiores. Tanto setores brasileiros, inclusive o elétrico, a • Técnicas de ensaios de alta tensão (impulso,
os fabricantes como as concessionárias de partir do início dos anos 2000. Está na hora tensão AC, corona, RIV);
energia e os grandes usuários treinavam de reconhecer estes erros, colocar de novo • Técnicas de ensaios de alta potência
suas equipes e percebia-se um movimento gente competente e bem-intencionada para (interrupção em curto-circuito, elevação
ascendente nos conhecimentos e habilidades gerir o setor e tentar voltar à rota positiva em de temperatura, suportabilidade a forças
do setor. A inauguração de laboratórios de que estávamos há 20 anos. eletrodinâmicas);
ensaios por volta de 1980 dava sustentação Voltando aos cálculos de engenharia, • Conceitos e testes relacionados à redução
a este processo positivo. O sistema de de uma forma geral, na concepção de um do tempo de vida útil, suportabilidade de
normalização técnica acompanhava o projeto de subestação, ou dos equipamentos materiais a condições limites;
movimento e evoluía. O governo federal que a compõe, são necessários estudos e • Técnicas de ventilação e resfriamento de
por meio da Eletrobras tinha envolvimento cálculos passando pelos seguintes temas e equipamentos sob altas cargas térmicas;
direto neste processo, agia e aplicava recursos áreas de conhecimentos: • Forças eletrodinâmicas e resistência
de forma competente. mecânica durante curtos-circuitos;
A partir do início dos anos 2000, o • Estudos de fluxo de carga para definição • Avaliação de tensões de restabelecimento
planejamento de médio e longo prazos, antes das correntes e tensões de operação; transitórias em processos de interrupção
bem executado e razoavelmente cumprido • Estudos de curto-circuito para definição de em disjuntores, chaves, fusíveis e outros
nas grandes obras, tornou-se não confiável. correntes de falta e suas durações; equipamentos de manobra;
A partir dali o que era planejado e orçado, • Cálculos de transitórios de correntes e • O bom conhecimento das especificações
acabava custando de três a cinco vezes mais e tensões inclusive para a coordenação de nas normas técnicas como as das séries IEC
Apoio

40 62271, IEC 61439, IEC 60282, IEC 60076 e as • Livro base de treinamento: http://www. a) Elevação de temperatura
normas brasileiras correspondentes. cognitor.com.br/Book_SE_SW_2013_POR.pdf Os ensaios de elevação de temperatura
Equipamentos para subestações de T&D

• Documento de validação para arcos são a referência de cálculo e são feitos


Cálculos de engenharia de internos e forças eletrodinâmicas: http:// em equipamentos de baixas a extra
projeto e sua validação www.cognitor.com.br/TR_071_ENG_ alta tensões e os procedimentos para
ValidationSwitchgear.pdf todos são mais ou menos os mesmos. O
Os cálculos necessários ao desenvolvi­ • Documento de validação para campos equipamento deve ser instalado em uma
mento de projetos, por serem difíceis de magnéticos, campos elétricos e elevação de sala livre de correntes de ar. Aplica-se a
validar, levam muitas vezes, ao uso de temperatura: http://www.cognitor.com.br/ corrente nominal até que as temperaturas
fatores de segurança elevados. A seguir TR074ENGValidationTempRise.pdf dos pontos medidos se estabilizem. As
são apresentados alguns exemplos de elevações de temperatura dos pontos
validação de cálculos e das metodologias O primeiro passo para a validação dos medidos não devem ultrapassar os limites
utilizadas. Tais exemplos foram baseados cálculos é obter relatórios de ensaios com ditados pelas propriedades dos elementos
no uso da ferramenta computacional resultados e dados de entrada que possam ser condutores e isolantes. Os limites são
SwitchgearDesign utilizada por alguns utilizados nas comparações. Mesmo tendo apresentados nas normas técnicas e, se
fabricantes de nentes
compo­ para em mãos tais relatórios, a validação pode ser excedidos, ocorre envelhecimento precoce
subestações. Há mais detalhes sobre a difícil se o equipamento testado não estiver do equipamento ou mesmo a destruição,
ferramenta e sobre suas aplicações nos suficientemente identificado nos relatórios de em curto prazo.
seguintes documentos e artigos que podem ensaios por fotos, desenhos e medições. Isto é Os dados que afetam os resultados são
ser baixados livremente na internet: o que acontece em mais de 90% dos casos. o valor da corrente elétrica, os materiais
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42 utilizados, as resistências de contato, a – 1s de acordo com a IEC 62271-1. A pressão critérios principais para serem aprovados
temperatura do fluido ambiente, a velocidade interna é o fator mais relevante para que o nos testes:
Equipamentos para subestações de T&D

do fluido e a geometria dos condutores e equipamento passe ou não no ensaio. O


componentes. As resistências de contato alcance dos gases quentes também é decisivo, (a) As portas não devem abrir ou dobrar
são uma variável conhecida, mas podem porém difícil de avaliar por simulações. permitindo que gases quentes saiam;
também ser estimadas em função da força de A classificação de arco interno destina-se (b) Os gases ejetados por partes de alívio de
contato, materiais e revestimentos. Há muitos a oferecer um nível testado de proteção a pressão não devem queimar indicadores de
detalhes sobre este tema na seção 3 do livro de pessoas nas proximidades de um painel algodão localizados perto das partes acessíveis.
treinamento “free” referenciado acima. em que ocorra um arco interno. Os ensaios Esses indicadores simulam a pele das pessoas
A validação da simulação é fácil são aplicáveis a equipamentos de baixas a nas imediações e podem ser queimados pela
porque, para a comprovação, é necessária altas tensões. Para média tensão, o ensaio reflexão de gases nas paredes e no teto.
apenas a medição da temperatura feita no do tipo é definido na IEC 62271-200. Esta
teste de laboratório. Basta fazer, antes do define uma classificação IAC (classificação O critério "portas não devem abrir"
ensaio, a medição das resistências elétricas de arco interno), tendo em conta os tipos de significa que as forças devido à pressão
dos componentes e da geometria e depois acessibilidade (frente, traseira e laterais) e os interna e às tensões mecânicas em placas,
comparar os resultados dos testes com os da efeitos dos gases e partículas ejetadas. parafusos e outros não podem ir além de
simulação. A simulação do ensaio de arco interno certos limites dos materiais. Para as chapas
é uma tarefa complexa, pois envolve a de aço, isso poderia significar que a tensão
b) Sobrepressões de arco interno necessidade de desenvolver não apenas um (σ0,2) não deve ser superior a 1,270 N/mm2
Os conceitos e cálculos pertinentes modelo competente de arco, mas também para evitar uma deformação superior a 0,2%.
foram explicados no capítulo V (maio de para trabalhar com dinâmica de fluidos no O critério "não queimar os indicadores
2015). Nas tabelas a seguir, foram utilizados nível de fluidos compressíveis. Do ponto de de algodão" significa que as partículas
dados de um ensaio de arco interno bem- vista de comparar os resultados dos testes ejetadas (gases quentes) não podem chegar
sucedido em um painel de 15 kV – 31,5 kA com os resultados da simulação, existem dois aos mesmos e isso é difícil de simular. Há
Apoio

técnicas 3D que dão uma ideia se uma certa pressão (como feito para ondas de impulso há orientações sobre como calcular forças e 43
solução tecnológica é melhor que outra. em testes dielétricos); tensões eletrodinâmicas. No docu­mento IEC
Para permitir um uso prático de ✓ A integral de curva de sobrepressão TR 60865-2 – Curto-circuito – Cálculo dos
simulações de arco interno, é necessário criar x tempo ΔP x T (máx. 20 a 40 bar x efeitos – Parte 2: Exemplos de cálculo – há
fatores de comparação que não dependam de milissegundos). exemplos úteis para verificar os resultados da
técnicas sofisticadas, como calcular as linhas metodologia. A comparação exibida a seguir
de fluxo das partículas ejetadas. c) Forças eletrodinâmicas em é o estudo de caso lá mostrado nas páginas
Os dados de entrada para fazer os isoladores e tensões mecânicas em 19 a 27 da IEC 60865-2 (1994).
cálculos são a tensão da fonte, a corrente de condutores durante curtos-circuitos Quando ocorre um curto-circuito em
curto-circuito, as resistências, as indutâncias A validação dos cálculos e simulações equipamentos elétricos consideráveis forças
e capacitâncias do circuito externo (para deste tipo de teste é difícil de fazer. mecânicas são aplicadas nos isoladores e
o modelo de arco), o condutor metálico, Laboratórios não medem as forças durante o condutores. A temperatura dos condutores
os materiais de fluido e geometria do ensaio, pois é complicado e as normas não aumenta muito, pois não há tempo para
compartimento e do dispositivo de alívio pedem. O que é verificado após o ensaio é dissipar a elevada quantidade de calor
de pressão. A geometria inclui a posição apenas o estado físico dos equipamentos oriunda do efeito Joule. Os objetivos do
dos tetos, paredes e indicadores de algodão. e se não há danos. A boa aceitação destas ensaio são os de verificar se após um
No software SwitchgearDesign aplicável simulações é porque os métodos de cálculo curto-circuito não há danos aos isoladores,
a painéis e barramentos são utilizados os são publicados em vários manuais de empenamento de barramentos, quebra de
seguintes parâmetros: engenharia, como os da ABB, Siemens e são peças ou significativa variação da resistência
considerados "comprovados pela prática" há elétrica.
✓ O valor de pico do ΔP da sobrepressão décadas. Nos cálculos para projeto, as forças
(máximo de 70% até 90%); Estes métodos deram origem à norma são calculadas usando expressões como as
✓ O tempo para o pico de sobrepressão; IEC 61117 – Um método para avaliar a indicadas na seção 3 do livro de referência
✓ O tempo para 50% do valor do pico de suportabilidade ao curto-circuito, em que indicado anteriormente. Depois de calcular
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44 as forças "elétricas", é necessário fazer o


cálculo das forças de cisalhamento, os
Equipamentos para subestações de T&D

momentos de flexão e ter em conta as


ressonâncias e outros efeitos.
Os cálculos visam obter o valor das
forças vibratórias agindo em isoladores
(compressão, tração e flexão) e também as
tensões mecânicas agindo nos condutores.
As forças sobre os isoladores deverão ser
inferiores aos limites especificados pelo
fabricante do isolador, de outra forma, o
isolador pode ser destruído. Estes valores
normalmente aparecem nos catálogos do
Tabela 1 - Ponto de medição na fase B (central) e elevações de temperatura (K)
fabricante do isolador. Ensaio (K) Simulação (K)
As tensões mecânicas sobre os condutores Conexão no condutor inicial # 2 72,4 75
devem ficar abaixo de determinados limites Barramento no condutor # 3 84,0 82
(por exemplo, 200 N/mm2 para o cobre), Conexão no condutor central # 4 83,5 84
caso contrário, o barramento sofrerá uma Conexão no condutor final # 7 (ponto de curto-circuito) 66,6 74
permanente e visível de flexão. Lateral do involucro a 50% da altura 30,2 30
Os dados que afetam o teste e os resultados Fluido interior próximo ao teto Não medido 54

de simulações são o valor da corrente de Fluido interior a meia altura Não medido 47
Resistência total por fase = conexões + barras (μΩ) Não medido 31 + 3x7
curto-circuito, os materiais envolvidos, a
Resistência por fase das juntas (μΩ) Não medido 3x7
geometria de condutores e isoladores.

d) Mapeamento dos campos


magnéticos e elétricos para efeitos da
solução de problemas de compatibi­
lidade eletromagnética e de distancias
referentes a impactos sobre a saúde
Este tema está detalhado no capítulo IV
desta série (abril de 2015). O bom conhecimento
dos campos magnéticos e elétricos dentro de
ambiente com correntes elétricas cada vez
maiores e espaços cada vez mais confinados
permite resolver muitos problemas de
compatibilidade eletromagnética.
Tabela 2 - Ponto de medição
Resultado do Resultado da
Validação de cálculos de
ensaio (K) simulação (K)
elevação de temperatura Conexão no condutor # 1 (ponto de curto-circuito) 47 332
Conexão no final do condutor # 3 (disjuntor -baixo) 57 54
3,1) Barramento 4000 A (480 V) – 3 x (150 x Conexão no final do condutor # 4 (disjuntor -baixo) 64 66
10 ) mm – cobre – horizontal – sem ventilação Conexão no final do condutor # 5 (disjuntor - alto) 64 65
Os dados de entrada detalhados são Conexão no final do condutor # 6 (disjuntor - alto) 52 53
mostrados na figura a seguir e a comparação Conexão no final do condutor # 7 (disjuntor - alto) 32 28
de resultados está na Tabela 1. Porta do involucro - disjuntor 5
Fluido 50% altura – compartimento cabos Não medido 13
3,2) Painel de média tensão 15 kV – 2.500 A Fluido 50% altura – compartimento disjuntor Não medido 9
Os dados de entrada detalhados são Fluido 50% altura – compartimento barras 15 15
Resistência total por fase (μΩ) 66 (sem 2x7) 80 (com 2x7)
mostrados na figura a seguir e a comparação
Resistência do disjuntor por fase (μΩ) Não medido 33
de resultados está na Tabela 2.
Apoio
52
Manutenção de transformadores

Capítulo I

Princípios básicos de transformadores


de potência

Em 1885, George Westinghouse Jr. compra com a pressão imposta pelas necessidades
os direitos da patente de Goulard-Gibbs para técnicas e comerciais, como as condições de um
construir transformadores de corrente alternada mercado de energia livre ou pelos esforços em
e encarrega William Stanley dessa tarefa. Stanley manter o fornecimento de energia com qualidade
desenvolveu o primeiro modelo comercial a todos os seus clientes, aumentam as abordagens
do que, naquele momento, nomeou-se de de uma manutenção baseada nas condições do
transformador. O transformador possibilitava equipamento.
a elevação das tensões diminuindo as perdas As equipes envolvidas com comissiona­
na transmissão de energia elétrica, permitida mento e manutenção têm sofrido crescente
pelo uso da corrente alternada, ao contrário da pressão para reduzir custos, mesmo sendo
corrente contínua de Edison. forçadas a manter antigas instalações em
O transformador é um equipamento elétrico, operação por tanto tempo quanto possível.
sem partes necessariamente em movimento, Os equipamentos elétricos instalados em
que transfere energia elétrica de um ou mais subestações podem ser solicitados a operar sob
circuitos (primário) para outro ou outros diversas condições adversas, tais como: altas
circuitos (secundário, terciário), alterando os temperaturas, chuvas, poluição, sobrecarga
valores de tensões e correntes em um circuito e, dessa forma, mesmo tendo uma operação
de corrente alternada, ou modificar os valores e manutenção de qualidade, não se pode
de impedância do circuito elétrico, sem descartar a possibilidade de ocorrerem falhas
alterar a frequência do sistema. A necessidade que deixem indisponíveis as funções de
da utilização de baixos níveis de tensão no transmissão e distribuição de energia elétrica
consumidor e a necessidade de transmitir aos quais pertencem.
energia elétrica com tensões elevadas tornam Entretanto, a checagem regular das condições
muito importante o papel desempenhado pelo de operação desses equipamentos torna-se
transformador de potência. cada vez mais importante. Torna-se imperativa
Os transformadores representam o ativo mais a busca de procedimentos e de ferramentas que
caro da cadeia que conecta a geração até os pontos possibilitem a obtenção de dados das instalações
de utilização de energia elétrica. Atualmente, de forma rápida e precisa. Portanto, para
Apoio
53

subsidiar os artigos futuros sobre aspectos e procedimentos Simplificando-se a lei de Lenz-Faraday, tem-se que,
de manutenção, o presente texto apresenta os princípios sempre que houver movimento relativo entre um campo
básicos de funcionamento de transformadores de potência. magnético e um condutor, será induzida uma tensão
(f.e.m. - força eletromotriz) em seus terminais.
Princípio de funcionamento do Pode-se ainda afirmar que ocorrerá a indução de
transformador monofásico corrente quando uma espira condutora é colocada (imóvel)
O transformador é um aparelho estático, sem partes em uma região onde existe um campo magnético variável
em movimento, que se destina a transferir energia elétrica ou quando um circuito é posto em movimento dentro
de um circuito para outro, ambos de corrente alternada de um campo magnético constante. A Figura 1 mostra
(CA), sem mudança no valor da frequência. O lado que a representação do estabelecimento do fluxo magnético
recebe a potência a ser transferida é chamado de circuito pela bobina primária devido à aplicação da tensão U1.
primário e o lado do transformador que entrega potência Aplicando-se a tensão U1, no primário do transformador,
é chamado de circuito secundário. A transferência é circulará uma pequena corrente denominada “corrente
realizada por indução eletromagnética. em vazio”, representada neste texto por I0. Se a tensão
aplicada é variável no tempo, a corrente I0 também o é.
Fluxo Magnético - ∅ De acordo com a lei de Ampère, tem-se:

Tensão Tensão
Alternada Alternada
de Entrada
U1
de Saída
U2
Em que:
Primário Secundário • H é a intensidade do campo;
• l é o comprimento do circuito magnético;
Figura 1 – Estabelecimento do fluxo entre duas bobinas. • N1I0 é a força magnetomotriz.
Apoio
54

com a lei de Ampère, I2 criará o fluxo de reação φ2 e de


Manutenção de transformadores

dispersão φdisp2, sendo que o primeiro tende a anular φm.


Para que o transformador continue magnetizado, haverá
uma compensação de fluxo no primário, ou seja: para
manter a magnetização, o transformador exigirá da rede
uma corrente suplementar a I0, de modo a compensar φ2;
esta corrente receberá a denominação de I2’, a qual cria
o fluxo φ1. Assim, a corrente primária I1 é:

Figura 2 – Aplicação de tensão no primário do transformador e


estabelecimento da corrente em vazio.

Em que:
A expressão (1) pode ser rescrita como:

Em que: Da expressão (4) é possível concluir que, em


• Re é a relutância do núcleo; qualquer condição de operação do transformador,
• φ é o fluxo magnético. sempre existirá a corrente I 0 e que somente ela
é responsável pela indução de E1 e E2, em outras
Dessa forma, verifica-se que a força magnetomotriz palavras, E1 e E 2 independem do regime de carga.
impulsiona o fluxo magnético pelo núcleo, sendo
limitado pela relutância. Naturalmente, se a corrente Relação de transformação de um
é variável no tempo, o fluxo magnético também transformador monofásico
é. Por outro lado, sabe-se pela lei de Faraday que A relação de transformação das tensões de um
“sempre que houver movimento relativo entre o transformador monofásico é definida de duas formas:
fluxo magnético e um circuito por ele cortado serão
induzidas tensões neste circuito”. Relação de transformação teórica ou relação de espiras
A relação de número de espiras, definida por KN, é
O transformador em operação dada pela relação das quedas de tensão internas nas
Considerando a Figura 3: bobinas do transformador. Assim, tem-se:

Para o transformador operando em vazio, tem-se que:

Devido a este fato, a queda de tensão primária é


mínima; assim:

Figura 3 – Representação do transformador operando em vazio.


Além disto, nesta condição:
Com o transformador operando em vazio, ou sem
carga, a corrente I0 magnetiza o transformador e induz
as tensões E1 e E2. Fechando-se a chave S do circuito
Assim
secundário do transformador, haverá circulação da
corrente I2 em seu enrolamento, cujo valor depende
exclusivamente da carga ZC. Como visto, de acordo
Apoio
56

A expressão (9) é importante, pois E1 e E2 são acessíveis térmico, ocorre a orientação dos domínios magnéticos
Manutenção de transformadores

a uma medição. Assim, utilizando-se um voltímetro permitindo a redução das perdas e da corrente de
no primário, obtêm-se U1 e, no secundário, estando o magnetização e possibilitando alcançar altas densidades
transformador em vazio, U2; desta forma, acha-se a relação de fluxo. A estrutura formada pelas chapas é sustentada
do número de espiras com pequeno erro. por traves metálicas solidamente amarradas por faixas de
fibra de vidro impregnadas com resina.
Relação de transformação real
Ao aplicar uma carga Z C ao secundário, a corrente I2
circula pelo secundário e I1 assume valores superiores
a I0 assim, haverá queda de tensão no primário e no
secundário e, portanto:

Nestas condições, define-se a relação de transformação


real ou a relação entre as tensões primárias e secundárias
quando do transformador em carga, ou seja:
Figura 4 – Representação de um transformador trifásico.

Um sistema trifásico simétrico e equilibrado possui três


correntes com mesmo módulo, porém, defasadas de 120º
Eventualmente, se a queda de tensão secundária
elétricos uma das outras. Pela lei de Ampère, elas originam
for pequena (o que acontece para transformadores bem
fluxos nos núcleos monofásicos, também defasados de
projetados) pode-se supor que:
120º. Analogamente às correntes trifásicas, quando os
fluxos juntarem-se em um ponto, sua soma será nula, o
que ocorre no local de união dos três núcleos. A solução
Observe-se que:
que se adota, em termos práticos, é bastante simples, ou
• se K > 1, o transformador é abaixador; e,
seja: retira-se um dos núcleos, inserindo entre as colunas
• se K < 1, o transformador é elevador.
(ou pernas) laterais, outra com as mesmas dimensões.
O circuito magnético das três fases, neste caso, resulta
Princípio de funcionamento do
desequilibrado. A relutância da coluna central é menor que
transformador trifásico
as outras, originando uma pequena diferença nas correntes
A transformação trifásica pode ser realizada com
de magnetização de cada fase. Existem diversos tipos de
um único transformador destinado a este fim ou por um
núcleo, entretanto o mostrado na Figura 5 é o mais comum
banco de transformadores monofásicos. No caso de um
devido à sua facilidade construtiva e de transporte.
transformador único, o custo inicial é inferior ao uso de
Este tipo de núcleo, em relação a três monofásicos,
bancos, pois existirá apenas uma unidade. Entretanto, exige
apresenta como vantagem o fato de que quaisquer
outro transformador de mesma potência como reserva.
A Figura 4 mostra a representação de um transformador
trifásico com as bobinas de cada fase dispostas em uma
única perna do núcleo magnético. Além de promover a
sustentação mecânica para as bobinas, o núcleo cria o
caminho para a condução do fluxo magnético.

Núcleo
O núcleo do transformador é construído com uso
de chapas de aço-silício, laminadas e cobertas por uma
película isolante. Com laminação a frio e tratamento Figura 5 – Núcleo de um transformador trifásico real.
Apoio
57

desequilíbrios magnéticos causados pelas diferentes Enrolamentos


condições elétricas das três fases, tendem desaparecer Responsável pela condução da corrente de carga, os
graças à interconexão magnética existente entre elas; assim, condutores são enrolados em forma de bobinas cilíndricas
a fluxo de cada perna distribui-se obrigatoriamente pelas e dispostas axialmente nas pernas do núcleo. A Figura 6
outras duas. Além disso, existe a economia de material mostra a disposição dos enrolamentos com ordem crescente
em relação ao uso de três transformadores monofásicos, e de tensão, ou seja, a bobina de tensão inferior é colocada
consequente diminuição das perdas em vazio. próxima ao núcleo e assim por diante.
Como desvantagem, tem-se que as unidades reservas são Os enrolamentos de um transformador trifásico
mais caras, pois deverão ter a potência total do transformador podem ser conectados em estrela (Y), delta (Δ) ou zig-
a ser substituído; o monofásico de reserva, por outro lado, zag, conforme mostra a Figura 7.
pode ter apenas um terço da potência do conjunto. As ligações delta e estrela são as mais comuns.
A ligação zig-zag é tipicamente uma conexão

Figura 6 – Disposição dos enrolamentos montados no núcleo do Figura 7 – Conexões possíveis dos enrolamentos de um transformador
transformador. trifásico: (a) estrela, (b) delta, (c) zig-za
Apoio
58

secundária. A sua característica principal é sempre


Manutenção de transformadores

afetar igual e simultaneamente duas fases primárias,


pois os seus enrolamentos são montados em pernas
distintas seguindo uma ordem de permutação circular. Então:
Naturalmente, este fato a torna mais adequada para ser
utilizada em presença de cargas desequilibradas.
Adotando-se o padrão de designar as ligações Na Figura 8b:
primárias por meio de letras maiúsculas e secundárias
por letras minúsculas, tem-se na Tabela 1 as conexões
dos enrolamentos. O princípio de funcionamento é
basicamente o mesmo do monofásico, tanto em vazio Entretanto, como os enrolamentos podem estar
como em carga. conectados de diversas maneiras, nota-se que para
Tabela 1 – Conexões dos enrolamentos
cada modo de ligação haverá uma diferença entre a
Primário
relação de transformação e a relação do número de
D D D Y Y Y
Secundário d y z d y z
espiras. A Tabela 2 mostra os valores de K em função
de KN para cada ligação:
Relação de transformação de transformadores Tabela 2 – Valores de K em função de KN para as diversas ligações

trifásicos Ligação Dd Dy Dz Yy Yd Yz
Como se sabe, a relação de transformação real é
K
definida como a relação entre as tensões primárias (U1)
e as secundárias (U2), ou seja:
Corrente em vazio
Nos transformadores trifásicos, com a montagem
de núcleo mostrada, as correntes de magnetização
No transformador trifásico a relação de
devem ser iguais entre si, nas fases laterais, e
transformação tem a mesma definição, sendo as tensões
ligeiramente superiores na fase da perna central.
entre fases; porém, devido à conexão dos enrolamentos
Isto se deve ao fato de que as relutâncias das pernas
(E1 e E2 são tensões induzidas entre os terminais dos
correspondentes as laterais são maiores. Dessa
enrolamentos), ela não será, em todos os casos, igual à
forma, adota-se um valor médio para a corrente em
relação de espiras. A Figura 8 mostra duas conexões de
vazio, ou seja:
transformadores trifásicos.

Circuito equivalente e parâmetros do


transformador
De uma forma geral, os sistemas de potência
são representados por apenas uma fase e um
neutro, considerando as restantes como simétricas,
evidentemente, consegue-se isto com a ligação Y. No
caso dos parâmetros percentuais, tal fato é irrelevante,
Figura 8 – Conexões de transformador trifásico.
pois independem das conexões dos enrolamentos,
Sendo assim, as relações de transformação K e KN enquanto nos magnetizantes, ocorre exatamente o
para cada caso seriam: contrário.
Assim no caso do primário em ligação delta,
Na Figura 8a: utiliza-se transformá-la na estrela equivalente. Desta
Sendo (13) e estando o transformador em vazio, tem-se: forma, o transformador trifásico será representado
Apoio
59

pelos parâmetros de uma fase, supondo as conexões


primárias em estrela e carga trifásica simétrica e
equilibrada.

Tipos de transformadores de potência


São classificados como transformadores de
potência em dois grupos:
• Transformadores de potência ou de força, os
quais são utilizados, normalmente, em subestações Figura 9 – Transformadores de distribuição (monofásico e trifásico,
abaixadoras e elevadoras de tensão, empregados para respectivamente).

gerar, transmitir ou distribuir energia elétrica. Podem


ser considerados como transformadores de força
aqueles com potência nominal superior a 500 KVA,
operando com tensão de até 765 KV;
• Transformadores de distribuição, cuja função é
de abaixar a tensão para a distribuição a centros de
consumo e clientes finais das empresas de distribuição.
São normalmente instalados em postes, plataformas
ou câmeras subterrâneas. Possuem potência típicas
Figura 10 – (a) Transformador subterrâneo utilizado em câmaras abaixo
de 30 kVA a 300 kVA. Em alta tensão apresenta de 15
do nível do solo. (b) Transformador enclausurado em que o óleo do
kV ou 24,2 KV, e em baixa tensão de 380 V a 127 V. transformador não tem contato com o exterior.
Apoio
60

Finalidade
Manutenção de transformadores

• De corrente
• De potencial
• De distribuição
• De potência

Função no sistema
• Elevador
Figura 11 – (a) Transformador autoprotegido incorpora componentes • Abaixador
para proteção do sistema de distribuição contra sobrecargas e curto • De interligação
circuitos na rede. (b) Transformador de pedestal (pad-mounted), que,
além dos componentes de proteções contra sobrecargas, curtos-
circuitos e falhas internas, possui características particulares de Sobre os enrolamentos
operação, manutenção e segurança.
• Dois ou mais enrolamentos
A função do isolante em transformadores é garantir o • Autotransformador
isolamento elétrico entre as partes energizadas e permitir
a refrigeração interna. Transformadores utilizam óleo Material do núcleo
mineral derivado de petróleo, óleos sintéticos como • Ferromagnético
óleos de silicones e ascaréis, óleos isolantes de origem • Núcleo a ar
vegetal, isoladamente a base de compostos resinosos a
seco ou isolado a gás SF6 (hexafluoreto de enxofre). Quantidade de fases
A partir da definição do isolante, um transformador • Monofásico
pode ser classificado como: • Polifásico

• Transformador em líquido isolante, cujas partes ativas são Normas técnicas


imersas em óleo isolante mineral, vegetal ou sintético; ou As principais normas da ABNT sobre
• Transformador a seco, geralmente isolados com resinas. transformadores de potência são as seguintes:

• ABNT NBR 5356-1 – Transformadores de potência


– Parte 1: Generalidades;
• ABNT NBR 5356-2 – Transformadores de potência
– Parte 2: Aquecimento;
• ABNT NBR 5356-3 – Transformadores de potência
– Parte 3: Níveis de isolamento, ensaios dielétricos e
espaçamentos externos em ar;
• ABNT NBR 5356-4 – Transformadores de potência –
Parte 4: Guia para ensaio de impulso atmosférico e de
manobra para transformadores e reatores;
Figura 12 – (a) Transformador de força a óleo. (b) Transformador a seco. • ABNT NBR 5356-5 – Transformadores de potência –
Parte 5: Capacidade de resistir a curto circuitos;
Critérios de classificação • ABNT NBR 5416 – Aplicação de cargas em
Vários autores e trabalhos técnicos têm classificado Transformadores de potência – Procedimento;
os transformadores de acordo com sua função no • ABNT NBR 5440 – Transformadores para redes
sistema, com os enrolamentos, com o material do aéreas de distribuição – Requisitos;
núcleo, com a quantidade de fases, dentre outros • ABNT NBR 5458 – Transformadores de potência –
elementos. A seguir são apresentados alguns desses Terminologia;
critérios: • ABNT NBR 7036 – Recebimento, instalação e
Apoio
61

Tabela 3 - Tipos de transformadores em relação ao tipo de subestação

Tipo de subestação Para uso interior Para uso exterior Força Distribuição Subterrâneo Submersível Pedestal
Abrigada em alvenaria X X
Abrigada em cabine metálica X X
Subterrânea estanque X
Subterrânea não estanque X
Ao tempo no nível do solo X X X
Ao tempo acima do nível do solo X X X

manutenção de transformadores de potência para • Transformador para interior: aquele projetado para
distribuição, imersos em líquidos isolantes; ser abrigado permanentemente das intempéries;
• ABNT NBR 7037 – Recebimento, instalação e • Transformador para exterior: aquele projetado para
manutenção de transformadores de potência em óleo suportar exposição permanente às intempéries;
isolante mineral; • Transformador submersível: aquele capaz de
• ABNT NBR 8926 – Guia de aplicação de relés para funcionar normalmente mesmo quando imerso em
proteção de transformadores – Procedimento; água, em condições especificadas;
• ABNT NBR 9368 – Transformadores de potência de • Transformador subterrâneo: aquele construído para
tensões máximas até 145 kV – Características elétricas ser instalado em câmara, abaixo do nível do solo;
e mecânicas; A Tabela 3 indica os tipos de transformadores
• ABNT NBR 9369 – Transformadores subterrâneos – que podem ser utilizados em função dos tipos de
Características elétricas e mecânicas – Padronização; subestações definidos na ABNT NBR 10439.
• ABNT NBR 10022 – Transformadores de potência
com tensão máxima igual ou superior a 72,5 kV – Referências
Características específicas – Padronização; • ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO M. E. C. Manutenção de
• ABNT NBR 10295 – Transformadores de potência transformadores de potência. Curso de Especialização
secos – Especificação; em Manutenção de Sistemas Elétricos – UNIFEI, 2012.
• ABNT NBR 12454 – Transformadores de potência • MILASCH, M. Manutenção de transformadores em
de tensões máximas até 36,2 kV e potência de 225 líquido isolante. São Paulo: Edgard Blucher, 1984.
kVA até 3750 kVA – Padronização; • OLIVEIRA, J. C.; ABREU. J. P. G.; COGO, J. R.
• ABNT NBR 15349 – Óleo mineral isolante – Transformadores: teoria e ensaios. São Paulo: Edgard
Determinação de 2-furfural e seus derivados; Blucher, 1984
• ABNT NBR 15422 – Óleo vegetal isolante para • GUIA O SETOR ELÉTRICO DE NORMAS
equipamentos elétricos. BRASILEIRAS. São Paulo, Atitude Editorial, 2011.

Tipos de transformadores em relação aos


tipos de subestações
Conforme a seção 9 da ABNT NBR 14039
(subestações), os transformadores podem ser
instalados em subestações abrigadas (em alvenaria
ou cabinas metálicas), subterrâneas (em câmaras
estanques ou não à penetração de água) e ao tempo
(no nível do solo ou acima dele).
Neste sentido são definidos na ABNT NBR 5458 os
seguintes tipos de transformadores:
Apoio
46
Manutenção de transformadores

Capítulo II

Considerações sobre manutenção


Aspectos relacionados à manutenção
de equipamentos e de instalações

No estabelecimento de um sistema de Conceito de manutenção


manutenção para um determinado processo A ABNT NBR 5462/94 define a manutenção
produtivo ou um equipamento individual, como “a combinação de ações técnicas
devem-se estabelecer métodos buscando e administrativas, incluindo supervisão,
o desenvolvimento e a melhoria dos meios destinadas a manter ou recolocar um item em
de execução das atividades realizadas pelo um estado no qual possa desempenhar uma
equipamento ou processo. Este texto discute função requerida”. Nestes termos, “manter”
modelos de planejamento de um sistema significa “fazer tudo o que for preciso para
integrado de manutenção, apresentando as assegurar que um equipamento continue
atividades desenvolvidas pelas equipes de a desempenhar as funções para as quais
manutenção e o conceito de manutenção. foi projetado, num nível de desempenho
Deve-se estabelecer uma ideia clara e exigido”.
uniforme dos conceitos e dos princípios em Assim, tem-se que a manutenção
que se baseiam as atividades de manutenção pode ser encarada como um conjunto
e buscar novas tecnologias, equipamentos e de atividades onde se devem estabelecer
ferramentas que facilitem essa atividade. Dessa todas as ações necessárias para manter um
forma, o conceito de manutenção também item em funcionamento, ou restabelecer
tem se aperfeiçoado, no passado era definida seu funcionamento, segundo a finalidade
como o reestabelecimento das condições para qual ele se destina, em condições
originais dos equipamentos/sistemas, hoje se satisfatórias. Este conjunto de atividades se
define como a garantia da disponibilidade caracteriza pela formação de um quadro de
da função dos equipamentos/sistemas com mão de obra qualificada e da implementação
disponibilidade e confiabilidade, segurança de um sistema, o qual integre todas as
e preservação do meio ambiente, sempre ao áreas da empresa, em prol do aumento
menor custo possível. da produtividade e diminuindo os custos
Apoio
47

de produção. Tecnicamente, tem-se a utilização de produção satisfatória, tanto em termos de eficiência


sistemas e equipamentos que facilitem a detecção de quanto em termos de tempo em que estes estarão aptos
problemas. a operar.
Portanto, uma definição mais atual poderia ser: um A Associação Brasileira de Manutenção (Abraman)
conjunto de ações de gestão, técnicas e econômicas, destaca em pesquisa o crescimento, nos últimos
aplicadas ao bem, com o objetivo de mantê-lo, anos, da utilização de métodos de engenharia de
aumentando seu ciclo de vida. Uma comparação entre manutenção, como a Manutenção Centrada em
o conceito de manutenção convencional e o conceito Confiabilidade (MCC) e seis sigmas. A engenharia da
aplicado hoje é descrito por Kardec e Lafraia (2002), manutenção é considerada um tipo de manutenção,
em que “até pouco tempo, o conceito predominante era pois é a adoção de técnicas e ferramentas de gestão
de que a missão da manutenção era de restabelecer as que são aplicados no dia a dia da função. Uma gestão
condições originais dos equipamentos/sistemas. Hoje, estratégica da manutenção avança do nível mais baixo
a missão da manutenção é garantir a disponibilidade de planejamento, ou seja, manutenção corretiva não
da função dos equipamentos e instalações de modo planejada, para o nível mais alto, a engenharia de
a atender a um processo de produção ou de serviço, manutenção. A mesma pesquisa aponta que a relação
com confiabilidade, segurança, preservação do meio entre o custo da manutenção pelo faturamento bruto da
ambiente e custo”. empresa fica em torno de 4% na série histórica de 1999
a 2011. Observa-se tendência de queda na proporção
A importância da manutenção custo total da manutenção/faturamento bruto. Essa é
Na indústria, o capital empregado em máquinas e uma tendência nas empresas brasileiras, à medida que
equipamentos é elevado e, portanto, é interessante se emprega tipos de manutenção mais eficazes, embora
que essas máquinas e equipamentos ofereçam uma o alto custo inicial, a médio e longo prazo, reduz-se
Apoio
48

o comprometimento do faturamento bruto. Entretanto, condições insatisfatórias, ou, se ocorrerem, evitar que se
Manutenção de transformadores

torna-se evidente a importância da manutenção no tomem cumulativas. Resultam em reduzir a necessidade


orçamento empresarial. de se adotarem ações corretivas.
Uma boa manutenção reduz perdas de produção A manutenção sistemática é aquela que se caracteriza
porque visa assegurar a continuidade da produção, sem pela substituição de componentes dos equipamentos
paradas, atrasos, perdas e assim entregar o produto em ou de todo ele. Entretanto, com o desenvolvimento
tempo hábil. Em resumo, a manutenção é de grande da Manutenção Produtiva Total (TPM) inicia-se o
importância, porque: planejamento de um sistema de manutenção integrado
com todo o processo produtivo, onde a manutenção não
• aumenta a confiabilidade, pois a boa manutenção mais figura como uma atividade secundária, e sim como
resulta em menos paradas de máquinas; um sistema onde ocorra uma melhoria na aplicação dos
• melhora a qualidade, já que máquinas e equipamentos diversos métodos de manutenção, buscando aperfeiçoar
mal ajustados têm mais probabilidade de causar erros os fatores técnicos e econômicos da produção.
ou baixo desempenho e podem causar problemas de Na realidade, a nomenclatura não é o mais importante,
qualidade; embora gere confusões, mas, sim, o conceito. Isso
• diminui os custos, devido ao fato de que, quando permite a escolha do tipo mais conveniente para um
bem cuidados, os equipamentos funcionam com maior determinado equipamento, instalação ou sistema. Uma
eficiência; classificação proposta bastante adequada e difundida
• aumenta a vida útil, mesmo com cuidados simples, em relação aos tipos de manutenção é:
como limpeza e lubrificação, garantem a durabilidade
da máquina, reduzindo os pequenos problemas que • Manutenção corretiva não planejada
podem causar desgaste ou deterioração; • Manutenção corretiva planejada
• melhora a segurança, pois máquinas e equipamentos • Manutenção preventiva
bem mantidos têm menos chance de se comportar de • Manutenção preditiva
forma não previsível ou não padronizada, evitando, • Manutenção detectiva
assim, possíveis riscos ao operário. • Engenharia de manutenção

As atividades de manutenção Manutenção corretiva


A divisão clássica das atividades de manutenção A manutenção corretiva é a forma mais primária de
é aquela em que se tem a corretiva, a preventiva, a manutenção. Na realidade, é a reparação de instalações
preditiva e a sistemática. Diversos autores têm oferecido e equipamentos, geralmente de emergência, sendo,
classificações como: normalmente, realizada após a ocorrência de um problema
qualquer, o qual os torna indisponíveis. De acordo com a
• Manutenção corretiva ABNT NBR 5462/94, ela é “a manutenção efetuada após a
• Manutenção preventiva ocorrência de uma pane, destinada a colocar um item em
• Manutenção preditiva condições de executar uma função requerida”.
• Manutenção Produtiva Total (TPM) De qualquer forma, o objetivo é a atuação para
correção da falha ou do desempenho menor que
A manutenção corretiva é a forma mais primária o esperado. Portanto, podemos então definir como
de manutenção é a realizada após a ocorrência de um manutenção corretiva não planejada a correção da
defeito qualquer, o qual, em geral, torna indisponível o falha de maneira aleatória, ou seja, é a correção da
equipamento. Naturalmente, isto implica desligamentos falha ou defeito após a ocorrência do fato. Esse tipo de
fora de previsão, em momentos pouco adequados, manutenção implica em altos custos, pois causa perdas
levando, por vezes, a prejuízos consideráveis. de produção; a extensão dos danos aos equipamentos
A manutenção preventiva é o conjunto de atividades é maior. Naturalmente, isto implica desligamentos fora
desenvolvidas visando à solução para ocorrência de de previsão, em momentos pouco adequados, uma
Apoio
50

extensão maior dos danos aos equipamentos e levando, Naturalmente, as medidas preventivas são
Manutenção de transformadores

por vezes, a prejuízos consideráveis. endereçadas para as causas mais comuns de faltas
A evolução desse processo é a manutenção corretiva dos equipamentos de certa instalação. Nasce então a
planejada. Consiste na atividade de manutenção em necessidade das equipes de manutenção estar dotadas
função de um acompanhamento preditivo, detectivo, de sistemas de teste capazes de simular as causas mais
ou até pela decisão gerencial de se operar até a comuns de faltas e propiciar uma pesquisa sólida de
falha. Consequentemente, esse tipo de manutenção é defeitos, no menor tempo possível.
planejado e, deste modo, acarreta menor custo, mais Quando a manutenção preventiva baseia-se em
segurança e maior rapidez na atuação. intervalos de tempo, é conhecida como Manutenção
A organização, planejamento e controle são fatores Baseada no Tempo (Time Based Maintenance – TBM).
que proporcionam a confiabilidade no investimento Atente-se para o fato de que definir os intervalos
de manutenção, ou seja, são pontos vitais para a entre intervenções em cada equipamento é um dos
sobrevivência da manutenção e seus resultados. aspectos mais problemáticos para uma boa preventiva.
Como há dúvida sobre os tempos mais adequados, há a
Manutenção preventiva tendência de se agir com conservadorismo e, assim, tais
A manutenção preventiva é todo serviço de intervalos, normalmente, são menores que o necessário,
manutenção realizado em máquinas que não estejam implicando em paradas e troca de peças desnecessárias.
em falha, estando com isso em condições operacionais A seguir é transcrito o resultado de pesquisa
ou em estado de defeito. Ainda define-se como a realizada pelo Cigré Brasil com a colaboração de
manutenção efetuada em intervalos predeterminados 12 empresas de transmissão, geração e distribuição
ou de acordo com critérios prescritos, destinada a entre os meses de agosto e setembro de 2012, sobre
reduzir a probabilidade de falha ou a degradação práticas de manutenção baseada no tempo. Os
de um funcionamento de um equipamento. A resultados das práticas de manutenção realizadas
ABNT NBR 5462/94, por sua vez, define como a nestas empresas validaram o apresentado na pesquisa
manutenção efetuada em intervalos pré-determinados, realizada pelo Cigré internacional. Dos resultados
ou de acordo com critérios prescritos, destinada a apresentados nesta pesquisa pode-se destacar que
reduzir a probabilidade de falha ou a degradação do as práticas de manutenção variam significativamente
funcionamento de um item. entre os usuários do transformador. Os fatores
Um plano de manutenção preventiva é um possíveis que podem influenciar nas práticas de
conjunto de ações executadas em intervalos fixos manutenção são:
ou segundo critérios preestabelecidos. Tem como
meta principal a redução ou eliminação de falhas ou • Características e especificações do transformador;
defeitos nos equipamentos ou sistemas, além de evitar • A qualidade dos componentes instalados no
que se tornem cumulativas, resultando em redução transformador;
da necessidade de se adotarem ações corretivas, com • A função exigida do transformador (carga, operação
finalidade de evitar quebras e paradas desnecessárias do CDC);
no processo, tornando-o mais confiável e capaz, com • O ambiente em que o transformador está instalado
maior produtividade e qualidade. Fundamentalmente, (temperatura, umidade);
a manutenção preventiva deve agir com antecedência • O índice histórico de falhas do transformador e tipos
para acabar ou diminuir as causas potenciais de falhas de falha;
nos equipamentos. • O nível de redundância do transformador e as
Para tal, deve conter um conjunto de medições consequências de sua indisponibilidade;
tecnicamente adequadas, as quais devem ser • A modalidade de falha e os seus efeitos na segurança
selecionadas entre uma grande variedade de alternativas; da subestação;
além disto, é necessário que se associe confiabilidade e • A cultura e o foco de companhia baseados na
custo com um programa de atividades compatíveis. manutenção;
Apoio
51

• A disponibilidade e os custos de trabalho; ação realizada no mesmo grupo de transformadores,


• O grau de implementação de tecnologias modernas; dependendo de cada situação particular.
• A presença de um programa de otimização da manutenção. A designação do intervalo de manutenção como
A Tabela 1 resume as práticas de manutenção típicas leve, regular e intensivo refere-se à intensidade da
que foram relatadas na pesquisa. Caberá a cada usuário realização das atividades de manutenção posto
determinar que nível de manutenção seja apropriado que muitos fatores influenciam na política de
dependendo da situação. Pode-se igualmente notar que manutenção. Portanto, a Tabela 2 descreve os três
o nível de manutenção pode ser diferente para cada diferente níveis.
Tabela 1 – Pesquisa do Cigré Internacional: Resultados entre manutenções adotadas (Cigré Brasil, GT A2.05, 2013)
Intervalo de manutenção

Ação Regular Leve Intensivo Comentário


Inspeção visual 6 meses 1 mês 1 ano Em operação

Inspeção visual detalhada 1 ano 3 meses 1 semana Em operação

Análise dos gases dissolvidos 2 anos 1 ano 3 meses A periodicidade pode variar com a instalação de sistema de monitoramento

Teste físico-químico do óleo 6 anos 2 anos 1 ano

Limpeza do sistema de resfriamento Condicional Condicional Qualquer intervalo O desligamento do equipamento poderá ser necessário

Verificação de acessórios 12 anos ou condicional 6 – 8 anos 1 – 2 anos Com desligamento do equipamento

Ensaios elétricos básicos Condicional Condicional Qualquer intervalo Com desligamento do equipamento

Ensaios de isolamento (Fator de potência) Condicional 6 – 8 anos 2 – 4 anos Com desligamento do equipamento

Inspeção interna do CDC 12 anos 6 – 8 anos 4 anos Considerar recomendações do fabricante, número de operações e

tecnologia empregada
Apoio
52

Tabela 2 – Intervalos de manutenções versus características e a Manutenção Baseada na Condição. Isso significa, na
Manutenção de transformadores

(Cigré Brasil, GT A2.05, 2013)


realidade, que a manutenção preditiva pode ser encarada
Intervalos
de Características como uma subárea da manutenção preventiva. No
manutenção
entanto, apresenta algumas características específicas:
Leve • Transformadores equipados com componentes que são conhecidos

por serem muito confiáveis;


• Não é necessário que haja o desligamento do
Baixa carga e baixo número de operações de comutadores de tap;

equipamento para a sua aplicação;
O transformador não opera em um ambiente agressivo;

• Não há o dano do equipamento, como no caso da corretiva;
• Tecnologias avançadas do transformador exigem menos manutenção;
• Não se baseia em informações sobre a durabilidade
Baixas consequências em caso de falha;

de certo componente.
Intensivo • Componentes que são conhecidos por exigirem atenção frequente;

Carga elevada, número elevado de operações do comutador sob



A manutenção preditiva permite maior tempo de
carga;
operação dos equipamentos e o planejamento das
• Transformador que operam em ambiente agressivo;
intervenções de manutenção com base em dados e
Graves consequências em caso de falha inesperada;

não em suposições, promovendo o mínimo de paradas.
Regular Qualquer situação que esteja entre os níveis anteriores.

Entretanto, esse processo necessita de acompanhamentos,
monitoramentos e inspeções periódicas, por meio de
Manutenção preditiva instrumentação específica, além de procedimentos
A manutenção preditiva é composta pelas tarefas de adequados para obtenção de dados. Outro ponto é
manutenção preventiva que visam acompanhar a máquina a necessidade de profissionais especializados para
ou as peças, por monitoramento, por medições ou por execução das atividades. Esse cenário causa aumento
controle estatístico e tentar predizer a proximidade da significativo de custos.
ocorrência da falha. A ABNT NBR 5462/94, por sua vez,
define como “aquela que permite garantir uma qualidade Manutenção detectiva
de serviço desejada, com base na aplicação sistemática de A manutenção detectiva efetua um processo de
técnicas de análise, utilizando-se de meios de supervisão monitoramento dos dados do sistema por meio de
centralizados ou de amostragem para reduzir a um mínimo informações dos sistemas de medida, proteção e comando,
as manutenções corretivas e preventivas”. buscando detectar falhas, defeitos ocultos ou não
A manutenção preditiva é o conceito moderno perceptíveis para o pessoal de operação e manutenção. À
de manutenção, na qual emprega-se um conjunto medida que ocorre o aumento da utilização de dispositivos
de atividades de acompanhamento de determinados eletrônicos inteligentes nos sistemas de proteção, controle
elementos, das variáveis ou parâmetros que indicam o e automação nas instalações, maior será a capacidade
desempenho dos equipamentos, de modo sistemático, de atuação da manutenção detectiva para garantir a
visando definir a necessidade ou não de intervenção. confiabilidade e a manutenção da instalação.
Este tipo de manutenção baseia-se na possibilidade de Uma grande vantagem da manutenção detectiva
predição da ocorrência de uma falha ou defeito, por meio é a verificação do sistema sem parada de operação,
de vários métodos que envolvem desde equipamentos possibilitando uma correção da não conformidade
modernos de medição e análise até a pura observação do encontrada com o sistema em operação. Sua desvantagem
comportamento do equipamento. A manutenção preditiva consiste na necessidade do uso de modernos sistemas de
visa substituir, se possível, a manutenção preventiva, assim controle e automação e a excelência dos profissionais
como, reduzir ao máximo as intervenções corretivas. No com treinamento e com habilitação para execução do
entanto, se os seus resultados indicarem a necessidade, trabalho. Esse tipo de manutenção é novo e, por isso
ocorrerá a Manutenção Baseada na Condição (Condition mesmo, muito pouco mencionado no Brasil.
Based Maintenance – CBM).
Algumas empresas adotam uma classificação em que Engenharia de manutenção
a preventiva engloba a Manutenção Baseada no Tempo Conforme já descrito anteriormente, a Engenharia de
Apoio
54

Manutenção é definida como o conjunto de atividades Os motivos são variados, ou seja, os testes permitem:
Manutenção de transformadores

que permite o aumento de confiabilidade e garantia de


disponibilidade. Basicamente é adotar procedimentos • Verificar se o equipamento não foi danificado no transporte;
para diminuir as atividades corretivas, eliminando • Verificar se o equipamento, quando armazenado à
problemas crônicos, melhorando os padrões e processos, espera de montagem, não sofreu qualquer avaria (corrosão,
além de desenvolver a “manutenibilidade”, ou seja, umidade, danos, etc.);
dotar a instalação de características como facilidade, • Verificar aspectos corretos de montagem e alguns testes
precisão, segurança e economia na execução de ações do fabricante.
de manutenção.
A engenharia de manutenção procura obter soluções Tem-se ainda que os objetivos principais do
definitivas para eliminar ou diminuir o máximo possível comissionamento são:
a ocorrência de defeitos ou falhas no sistema ou
equipamento. Dado um evento, estudam-se as possíveis • Fazer verificações e executar os ensaios que demonstrem
causas e realizam-se ações que resultem em uma estar sendo ligados ao sistema, para operação comercial,
modificação do componente e eliminação do mesmo. A equipamentos e instalações em condições de manter
engenharia de manutenção utiliza os dados obtidos nas o nível de confiabilidade, continuidade e segurança
demais atividades de manutenção para implementação exigidos de acordo com o projeto e funcionamento dentro
das melhorias. das especificações e garantias contratuais;
• Levantar características, aferir e ajustar todos os
Outras atividades relacionadas ao sistema componentes dos diversos circuitos de controle, proteção,
de manutenção medição, supervisão, etc.;
Outras atividades que se relacionam com o conceito • Registrar valores iniciais dos parâmetros determinantes
de manutenção, porém não estão inclusas nas definições de cada equipamento, indispensáveis ao estabelecimento
clássicas, são o comissionamento, a inspeção e a de um sistema confiável de manutenção e controle;
recepção de equipamentos. • Verificar a fidelidade dos desenhos finais e fornecer
A recepção é o conjunto de atividades desenvolvidas subsídios para elaboração dos desenhos “como construído”
para a colocação de uma instalação ou equipamento (As built);
em operação. Tais atividades caracterizam-se pelo • Garantir a segurança do pessoal e dos equipamentos;
acompanhamento e execução dos serviços e encargos • Estabelecer os limites operativos confiáveis para os
referentes às diversas fases por que passa uma instalação, diversos equipamentos;
desde a fase de planejamento até a fase de entrada em • Completar o treinamento específico da equipe técnica
operação comercial. responsável pela operação e manutenção da instalação;
O comissionamento é uma etapa das atividades de • Garantir a segurança da energização inicial;
recepção, que consiste em fazer verificações e executar • Assegurar o fornecimento das peças reservas, acessórios
ensaios que demonstrem estarem todos os equipamentos e e ferramentas especiais previstas em contrato;
instalações de acordo com o projeto e funcionamento dentro • Orientar os órgãos das áreas financeiras quanto aos itens
das garantias contratuais e especificações, antes da entrada a serem capitalizados/patrimoniados;
em operação comercial. Por outro lado, observe-se que, • Transferir para os órgãos responsáveis a responsabilidade
normalmente, os equipamentos comprados são ensaiados na pela guarda, operação e manutenção da instalação.
fábrica e, dependendo do seu grau de importância e custo, é
necessário que o comprador verifique se o fabricante atende Ciclo de operação e manutenção de
as normas e dispositivos contratuais. Assim é necessário transformadores
inspecionar a execução de tais atividades. Caso seja detectada alguma não conformidade no
Nesse sentido, é possível levantar a questão sobre o transformador, técnicas adequadas são utilizadas para
fato de que se o equipamento já foi ensaiado na fábrica, determinar sua extensão ou gravidade. Os resultados
por que testá-los antes da entrada em operação? serão utilizados para subsidiar a decisão de intervenção,
Apoio
55

Figura 1 – Ciclo de operação e de manutenção do equipamento, desde o seu comissionamento até o fim de sua vida útil (Cigré Brasil, GT A2.05, 2013).

manutenção corretiva ou retorno à operação. A Figura Brasileiro de Manutenção, Curitiba, 2011.


1 mostra um fluxograma com o ciclo de operação e • NEPOMUCENO, L. X. Técnicas de manutenção preditiva. São
manutenção de transformadores. Paulo: Edgard Bluche,
v. 1, 501 f., 1989.
• GT A2.05. Guia de manutenção para transformadores de potência.
Referências
CIGRE Brasil – Grupo de Trabalho A2.05, 2013.
• PAULINO M. E. C. Considerações sobre modelos de sistema
• WG A2.34. Guide for transformer maintenance. CIGRE
integrado de manutenção e testes automatizados de proteção
Internacional, Working Group A2.34, 2011.
Elétrica. Congresso Brasileiro de Manutenção – ABRAMAN, 2005.
• BATITUCCI, M. D. Comissionamento a primeira atividade de
• ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO M. E. C. Manutenção de
manutenção. Manutenção,
transformadores de potência. Curso de Especialização em
n. 28, jan./fev. 91, p. 31-38.
Manutenção de Sistemas Elétricos – UNIFEI, 2012.
• FERREIRA, A. B. H. Novo Aurélio – O Dicionário da Língua *Marcelo Eduardo de Carvalho Paulino é engenheiro
Portuguesa – Século XXI. São Paulo: Ed. Nova Fronteira, 2001. eletricista e especialista em manutenção de sistemas
• ABNT NBR 5462. Confiabilidade – terminologia. Associação elétricos pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), 1994. (EFEI). Atualmente, é gerente técnico da Adimarco |
• KARDEC, Alan; LAFRAIA, João. Gestão estratégica e confiabilidade. mecpaulino@yahoo.com.br.
Rio de Janeiro: Qualitymark, ABRAMAN. 80 f., 2002.
• ABRAMAN, Associação Brasileira de Manutenção. A situação da
manutenção no Brasil – documento nacional 2011, 26º Congresso
Apoio
54
Manutenção de transformadores

Capítulo III

Anormalidades em transformadores
de potência

As principais avarias em transformadores componentes. Vale ressaltar que as instalações


dizem respeito a deficiências dos enrolamentos e os transformadores em operação têm
sejam por má compactação das bobinas, envelhecido de uma forma geral, tornando-os
por assimetrias existentes entre primário e suscetíveis a falhas. A seguir são apresentados
secundário ou deformação das bobinas causada alguns dados.
por curto-circuito. São significativas também as
solicitações térmicas e dielétricas, provocando
a alteração das características elétricas e físico-
químicas dos seus materiais isolantes. Isto
implica “envelhecimento” de parte ou de toda
a isolação. Os estágios avançados do processo
produzem sedimentos oriundos da oxidação,
que, em última análise, podem comprometer a
operação do transformador.
A ocorrência de falhas no funcionamento de Figura 1 – Transformadores de 110/220 KV na Alemanha.
um transformador não pode ser eliminada, mas
sim reduzida a um número e a uma intensidade
que não causem danos ao sistema elétrico, por
meio de equipamentos e métodos utilizados
para seu controle.
O bom funcionamento de um transformador
depende de uma série de fatores, os quais
podem ser resumidos na maneira pela
qual é feita a sua manutenção e proteção,
assim como também na qualidade dos seus Figura 2 – Faixa etária de transformadores no Brasil.
Apoio
55

Estatística de ocorrência Estatística de defeito – Estudo de caso 1


Para a definição da estratégia de manutenção a ser Neste trabalho são relacionados e descritos os
adotada é adequada a obtenção de informações referentes principais modos de falha normalmente verificados em
ao estado dos equipamentos da instalação, separados em transformadores, associados ao levantamento estatístico que
classificações que permita a análise dos defeitos e respectivas compõe um banco de dados elaborado a partir de perícias
ocorrências. A seguir serão apresentados diversos estudos realizadas entre os anos de 2000 e 2008 para companhias
que mostram, além dos tipos de falhas, a classificação de seguradoras. É apresentada (por BECHARA) e desenvolvida
ocorrências. Tais estudos são aqui apresentados apenas como uma análise de falhas verificadas em cerca de uma centena
exemplos do estabelecimento do processo de definição das de transformadores com diferentes tipos de aplicação,
anormalidades em transformadores. Informações adicionais classes de tensão e níveis de potência. O objetivo do estudo
devem ser buscadas na referência bibliográfica. é contribuir com um melhor entendimento de causas de
Os trabalhos de diagnóstico foram desenvolvidos falhas e os tipos de transformadores mais suscetíveis a cada
a partir da coleta e da análise de dados acerca dos uma delas. Um extrato desse trabalho é agora apresentado.
registros operacionais dos equipamentos, condições Os transformadores inspecionados são utilizados
circunstanciais das ocorrências, análises de materiais em por concessionárias de energia elétrica do sistema
laboratórios especializados e inspeções realizadas em elétrico brasileiro, tendo sido fabricados por empresas
campo e em fábrica durante o processo de desmontagem nacionais e estrangeiras. A Tabela 1 mostra o conjunto
de cada um deles. Os resultados aqui obtidos visam de equipamentos analisados. Os critérios de arranjo dos
contribuir com o aprimoramento de técnicas para dados da Tabela 1 teve por base a análise dos dados de
diagnóstico e caracterização de falhas de equipamentos, manutenção e resultado de ensaios conforme o roteiro
classificando a suscetibilidade de transformadores de de investigação de cada caso. A Tabela 2 classifica os
diferentes tipos de aplicação e suas falhas. principais tipos de falhas nos transformadores.
Apoio
56

Tabela 1 – Conjunto de transformadores de potência analisados


Manutenção de transformadores

Tipo Classe de tensão (kV) Potência (MVA) Número de unidades


Elevador 69, 138, 230, 345, 440, 550 Até 418,5 23
Transmissão 230, 345, 440, 550, 765 Até 550 22
Subtransmissão 69, 88, 138 Até 60 47
Total 92
Tabela 2 – Levantamento estatístico de falhas em transformadores de potência
Falha  Defeito de Curto Envelhe- Componentes Sobretensões transitórias Manutenção Enxofre Defeito Não

Tipos  fabricação circuito cimento Comutador Buchas Manobra Descarga inexistente corrosivo após reparo apurado
externo VFT Atmosférica inadequada

Elevadores 2 0 4 0 4 6 1 0 2 1 2

Transmissão 4 6 0 3 4 0 0 0 0 2 3

Subtransmissão 1 16 7 8 1 4 1 3 0 2 4

Total 7 22 11 11 9 10 2 3 2 5 9

Com o objetivo de obter parâmetros de referência de A análise do item mais suscetível a falhas é mostrada
falhas para os transformadores analisados, a Figura 3 mostra na Figura 5. Nela pode-se notar que as bobinas são a
os modos de falha mais significativos pela quantidade para maior fonte de problemas no transformador, com 70%
cada tipo de transformador. Vale ressaltar que do conjunto das ocorrências, seguida de comutadores (16,3%) e
de dados em estudo, 50% dos transformadores pertencem buchas (10,9%).
ao sistema de substransmissão. Portanto, a incidência das
falhas nesse sistema terá um peso maior na análise de
todo o conjunto, como a percentagem de curtos-circuitos
externos, conforme mostrado na Figura 4.

Figura 5 – Componente afetado pelas falhas em transformadores.

Estatística de defeito – Estudo de caso 2


O trabalho desenvolvido por Souza teve o objetivo
de estudar as falhas e os defeitos ocorridos em
Figura 3 – Tipos e quantidade de falhas identificadas nos transformadores.
transformadores de potência de 34,5 kV, 69 kV, 138 kV
e 230 kV do sistema elétrico da Companhia Energética
de Goiás (Celg), referente ao período de 28 anos (1979
a 2007). O desenvolvimento da pesquisa baseou-se na
identificação das partes dos transformadores que foram
analisadas e divididas em blocos, na caracterização e
na análise dos pontos de falhas e de defeitos detectados
nestes equipamentos relativos às interrupções. A seguir
são apresentados alguns resultados obtidos.
Souza apresenta neste estudo o registro de 549
interrupções de serviço, no período de dezembro de
1979 a maio de 2007, ocorridas em 255 transformadores
Figura 4 – Porcentagem de falhas em transformadores. e autotransformadores (trifásicos ou bancos trifásicos),
Apoio
58

Tabela 3 – Quantidade de equipamentos por faixa trifásica nominal e por tensão nominal
Manutenção de transformadores

Tensão nominal Número total de equipamentos Potência trifásica

(trifásicos ou bancos) Menor Maior


34,5 kV 106 0,15 12
69 kV 79 1 20
138 kV 53 7 62,5
230 kV 17 36 150

Total 255

ou seja, muitos dos equipamentos sofreram mais de uma (comutadores com carga) e 10% para comutadores sem
ocorrência. tensão.
A seguir são analisados os dados de interrupções de Assim, as interrupções associadas a estes três
serviço, não considerando o sistema de proteção, no componentes representam, juntas, 68% do total, e o item
período de 09/12/1979 a 25/05/2007, ou seja, proteções componente não identificado (11%) refere-se àqueles
não inerentes ao equipamento (relé de distância, relé equipamentos dos quais não se obtiveram registros
de religamento em circuito de CA, relé de frequência, confiáveis e/ou exatos das ocorrências.
relé de sobretensão, relé de sobrecorrente) e proteções
inerentes dos equipamentos (relé de temperatura do óleo,
relé de pressão, relé Bucchholz/gás, relé diferencial, relé
de bloqueio, válvula de alívio, nível de óleo, termômetro
do óleo e termômetro do enrolamento).
A Figura 6 mostra o número absoluto de
transformadores e autotransformadores por ano e por
classe de tensão, pertencentes às classes de tensão de
34,5 kV, 69 kV, 138 kV e 230 kV, na qual se observa que
houve um crescimento do número de equipamentos no
decorrer dos anos.
A Figura 7 apresenta o percentual de interrupções
em transformadores e autotransformadores versus
componentes. A figura evidencia que os componentes
mais atingidos foram os enrolamentos (34%), as buchas Figura 7 – Interrupções em transformadores e autotransformadores
(14%) e os comutadores (20%), sendo 10% para o OLTC versus componentes.

Figura 6 – Número de transformadores e autotransformadores por ano e por classe de tensão.


59

Estatística de defeito – Estudo de caso 3


A título de ilustração, a Figura 8 apresenta um
levantamento estatístico, realizado por um grande
usuário, da incidência de problemas nas diversas partes
do transformador.

Figura 8 – Incidência de problemas em transformadores (em %).

Análise de anormalidades
Analisa-se, a seguir, algumas das anormalidades
de ocorrência mais comuns, seus efeitos e suas
causas básicas. Via de regra, as seguintes condições
são responsáveis pelos problemas a seguir:
• Sobretemperatura: sobretemperaturas podem
ser causadas por sobrecorrentes, sobretensões,
resfriamento insuficiente, nível reduzido do
óleo, depósito de sedimentos no transformador,
temperatura ambiente elevada, ou curto-circuito
entre enrolamentos. Em transformadores a seco,
esta condição pode ser devido a dutos de ventilação
entupidos.
• Falha em contatos internos: o transformador
possui diversas conexões internas interligadas por
elementos fixos, como conectores e parafusos, além
de dispositivos móveis. A falha nesses componentes
resulta na deficiência do contato e aumento da
densidade de corrente nas partes condutoras, com
consequente sobreaquecimento. Causados por
montagem incorreta, baixa qualidade dos materiais
ou solicitações mecânicas devido a eventos de alta
corrente no transformador, essa ocorrência tende a
evoluir de um defeito para uma falha.
• Falha de isolamento: este defeito se constitui
em uma falha do isolamento dos enrolamentos
do transformador; pode envolver faltas fase-terra,
fase-fase, trifásicas com ou sem contato para a
Apoio
60

terra ou curto-circuito entre espiras. A causa destas comutadores sob carga (LTC – Load Tap Changers),
Manutenção de transformadores

falhas de isolamento podem ser curtos-circuitos, falha do núcleo ou contaminação.


descargas atmosféricas, condições de sobrecarga ou • Perda de óleo isolante: a perda de óleo isolante
sobrecorrentes, óleo isolante contendo umidade ou em um transformador pode ocorrer pelos parafusos
contaminantes. de junções, gaxetas, soldas, dispositivos de alivio
• Tensão secundária incorreta: esta condição pode de sobrepressão e outros. As principais causas são:
ser oriunda de relação de transformação imprópria, montagem inadequada de partes mecânicas, filtros
tensão primária anormal e/ou curto-circuito entre impróprios, junções inadequadas, acabamento de
espiras no transformador. superfícies incompatíveis com o grau necessário,
• Descargas internas: descargas internas podem vir a pressão inadequada nas gaxetas, defeitos no material
ser causadas por baixo nível de óleo que resultem na utilizado e falta de rigidez das partes mecânicas.
exposição de partes energizadas, perda de conexões, • Problemas com equipamentos de manobra: muitos
pequenas falhas no dielétrico. Usualmente, descargas transformadores são equipados com LTCs (Load Taps
internas acabam por se tornar audíveis e causam Changers) e outros dispositivos de manobra. Tais
radiointerferência. transformadores podem apresentar problemas extras
• Falhas do núcleo: esta condição pode ser devido a associados a estes dispositivos como, por exemplo,
problemas com parafusos de fixação, abraçadeiras e os oriundos do excessivo desgaste dos contatos fixos
outros. e móveis, sobrepercurso do mecanismo de mudança
• Alta corrente de excitação: usualmente, altas de taps, condensação de umidade no óleo destes
correntes de excitação são devido a núcleo “curto- mecanismos entre outros. O desgaste excessivo
circuitado” ou junções do núcleo abertas. dos contatos pode ser atribuído à perda de pressão
• Falha da bucha: as falhas de buchas podem ser das molas (molas fracas) ou a um tempo de espera
causadas por descargas devido à acumulação de insuficiente durante o percurso. Problemas devido
contaminantes sólidos e a descargas atmosféricas ao sobrepercurso do mecanismo de mudança de
A ocorrência em buchas costuma causar sérios taps são, usualmente, devido a ajustes incorretos
prejuízos com explosões e incêndios, resultando na dos controladores de contatos. A condensação de
contaminação dos enrolamentos e danos generalizados umidade e carbonização deve-se a operação excessiva
em todo transformador. No caso de explosões, ou ausência de filtragem. Outros problemas, como
pedaços de porcelana podem ser lançados com risco queima de fusíveis ou parada do sistema motor, são
de acidentes pessoais e danos dos equipamentos devidos a curtos-circuitos nos circuitos de controle,
adjacentes. Essa ocorrência está diretamente associada travamento de origem mecânica, ou condições de
à perda das propriedades dielétricas do isolamento subtensão no circuito de controle.
da bucha, com envelhecimento ou contaminação
do isolamento óleo e papel (buchas OIP) ou do Em função do exposto verifica-se que uma série de
isolamento óleo e resina (RIP), além de degradação itens e procedimentos deve ser observada ao longo
do corpo de porcelana com trincas e rachaduras. do histórico de operação de um transformador sob
• Baixa rigidez dielétrica: esta condição pode ser pena de comprometer seu funcionamento correto.
causada por condensação e penetração de umidade, Deste modo, as rotinas de inspeção objetivando a
devido à ventilação imprópria em transformadores manutenção preventiva aplicáveis devem possuir um
a seco, nas serpentinas de resfriamento, nos forte vínculo com os problemas de pequena monta e
resfriados a água, ou diafragmas de alívio de pressão defeitos que eventualmente ocorram ao longo da vida
danificados ou, ainda, fugas ao redor dos acessórios útil do equipamento.
do transformador nos demais tipos.
• Descoloração do óleo isolante: a descoloração Referências
do óleo isolante deve-se, principalmente, à
sua carbonização devido a chaveamentos nos • ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO M. E. C. Manutenção
61

de Transformadores de Potência.
Curso de Especialização em
Manutenção de Sistemas Elétricos
– UNIFEI, 2012.
• WECK, K. H. Instandhaltung
von Mittelspannungsnetzen,
Haefely Symposium, Stuttgart
2000.
• SALUM, B. P. Reparar ou
Adquirir um Transformador Novo,
CIGRE A2 – WORKSPOT, Belém,
2008.
• BECHARA, R. Análise de Falhas
em Transformadores de Potência.
Dissertação de Mestrado, Escola
Politécnica da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2010.
• SOUZA, D. C. P. Falhas
e Defeitos Ocorridos em
Transformadores de Potência
do Sistema Elétrico da Celg, nos
Últimos 28 Anos: Um Estudo de
Caso. Dissertação de Mestrado,
Escola de Engenharia Elétrica e
de Computação da Universidade
Federal de Goiás/UFG, Goiânia,
2008.
• SANTOS, F. G. P. S.
Transformadores de Potência
– Inspeção e Manutenção,
Companhia Siderúrgica Nacional,
CSN, Volta Redonda, RJ.
Apoio
58
Manutenção de transformadores

Capítulo IV

Ensaio de resistência ôhmica de enrolamentos


e avaliação do comutador sob carga
Tipos de falhas e defeitos em transformadores
de potência

Este capítulo apresenta os procedimentos assim o cálculo da resistência ôhmica por


de teste de resistência ôhmica e avaliação do meio da lei de Ohm. Após a realização dos
OLTC (comutador sob carga) realizados com testes, além da correção da medida realizada
instrumentos convencionais e os procedimentos para a temperatura de referência, o testador
de teste utilizando o sistema de teste CPC100. deve comparar os valores obtidos no teste
Mostra o método da queda de tensão e o com o histórico do objeto sob teste e os
procedimento de teste avaliando o desempenho resultados de testes anteriores ou mesmos
da comutação do OLTC. dados de fábrica. Essa comparação irá balizar
a análise final do teste. Apresentaremos o
Resistência ôhmica dos método da queda de tensão, consagrado
enrolamentos pelo uso e sugerido por diversas normas
Os procedimentos para a determinação internacionais. Entretanto, outros métodos
de resistências ôhmicas estão entre os mais poderão ser utilizados, dependendo dos
usuais. Consistem geralmente na determinação equipamentos de medida disponíveis para
da resistência elétrica utilizando corrente o testador, como método da ponte (Kelvin e
contínua a uma determinada temperatura. O Wheatstone) ou uso de equipamentos que
testador deverá avaliar o valor da resistência a promovem a automatização do processo de
ser medida para determinar qual método e/ou medida.
equipamentos serão utilizados.
O princípio utilizado por esses métodos Método da queda de tensão
consiste na medição da tensão entre os terminais O método da queda de tensão, também
do objeto sob teste e ao mesmo tempo a medida chamado de método do voltímetro e
da corrente que passa pelo objeto. Efetua-se amperímetro, consiste na medida da
Apoio
59

resistência R percorrida pela corrente I e da tensão sobre resistência do voltímetro, temos as seguintes aplicações:
a resistência sob ensaio V. Respectivamente, a corrente • A montagem à montante, Figura 1, deve ser usada para
I e a tensão V são medidas com um amperímetro e um medir resistências R>>Ra;
voltímetro. • A montagem à jusante, Figura 2, deve ser usada para
medir resistências R<<Rv.
Esquemas de montagem
Existem duas conexões a serem usadas por este Procedimento de teste
método, mostradas nas Figuras 1 e 2: Depois de realizada a conexão de teste, o testador
Sendo Ra a resistência interna do amperímetro e Rv a deve seguir o seguinte procedimento:

Figura 1 – Esquema de ligação no método da queda de tensão – Figura 2 – Esquema de ligação no método da queda de tensão –
montagem à montante. montagem à jusante.
Apoio
60

a) Com a fonte de corrente contínua, o testador aplica Em que:


Manutenção de transformadores

uma tensão correspondente a uma corrente medida pelo • Rθr – resistência elétrica na temperatura de referência;
amperímetro menor que 15% do valor nominal do objeto • Rθe – resistência elétrica na temperatura do ensaio;
sob teste, isto é, a corrente que circula pela resistência • θr – temperatura de referência;
a ser medida não deve ser superior a 15% de seu valor • θe – temperatura dos enrolamentos nas condições do
nominal; ensaio.
b) O tempo de aplicação da corrente de teste não deve Se o enrolamento for de alumínio, utilizar 225 ao invés de
ultrapassar 1 minuto; 234,5 na expressão (2).
c) As indicações dos instrumentos devem estar
estabilizadas para a realização das leituras desses Critérios de avaliação
instrumentos; As resistências obtidas devem ser comparadas com
d) As leituras dos valores medidos pelo voltímetro e pelo resultados anteriores ou com dados do fabricante, tendo-se
amperímetro devem ser realizadas simultaneamente; o cuidado de utilizar as correções de temperatura a uma
e) Utilizando a lei de Ohm, o testador deve calcular a mesma base. Para transformadores, a temperatura de
resistência. Para a Figura 1 temos: referência é normalmente 75 °C, para máquinas girantes
(motores e geradores), a temperatura de referência é
(1) normalmente 40 °C.
Em caso de discordâncias maiores que 5%, devem ser
Em que: pesquisadas a existência de anormalidades tais como:
E – resultado obtido com o voltímetro [V] espiras em curto, número incorreto de espiras, dimensões
I – resultado obtido com o amperímetro [A] incorretas do condutor e outros. Neste sentido, é
Rv – Resistência interna do voltímetro [Ω] importante que haja o histórico das medidas efetuadas.
Por outro lado, a principal causa de diferenças de
f) Utilizando-se a resistência variável, o testador deve medida de resistência ôhmica é o mau contato nos
efetuar de três a cinco leituras com valores de corrente terminais, principalmente naqueles mal prensados.
diferentes. Deve-se então obter a média aritmética e Observa-se que, muitas vezes, a resistência de contato
desprezar os valores com diferenças maiores que 1% do pode apresentar valores significativos se comparada com
valor médio; a dos enrolamentos, principalmente do lado de baixa
g) Dependo dos componentes conectados durante tensão.
o teste (fonte de corrente contínua, enrolamento sob Pelo exposto, é importante que haja o histórico das
teste), o acionamento da fonte de alimentação do medidas efetuadas. O autor recomenda os seguintes valores
circuito pode causar sobretensões importantes, podendo para avaliação de resistência ôhmica de enrolamentos,
danificar os equipamentos de medida. Recomenda-se para medidas na mesma base de temperatura, mostrados
a desconexão do voltímetro antes do acionamento da na Tabela 1.
fonte e a realização de um curto-circuito nos terminais
do amperímetro. Avaliação do comutador sob carga
As resistências do enrolamento são testadas no
Correção de temperatura campo para se detectar perda de conexões, condutores
A resistência elétrica dos enrolamentos varia com a
Tabela 1 – Avaliação de resistência ôhmica de enrolamento
temperatura. Para que se tenha uma base comparativa, a
Diferença entre
resistência elétrica dos enrolamentos devem ser referidas
valor do ensaio e Avaliação
a uma mesma temperatura. Isto pode ser executado pela
valor de referência
expressão (106), ou seja:
ΔR < 3% Resultado aprovado
3% < ΔR < 5% Ensaio deve ser repetido e resultado investigado
(2)
ΔR > 5% Indicação de defeito ou falha
Apoio
62

abertos e alta resistência de contato no comutador. A primeira unidade é o seletor de tape que está localizado
Manutenção de transformadores

Muitos transformadores são equipados com LTCs (Load dentro do tanque do transformador e muda para o próximo
Taps Changers) e outros dispositivos de manobra. Tais tape (maior ou menor) sem condução de corrente. A segunda
transformadores podem apresentar problemas extras unidade é a chave de comutação, que muda sem nenhuma
associados a estes dispositivos como os oriundos interrupção de um tape para o próximo enquanto conduz
do excessivo desgaste dos contatos fixos e móveis, corrente de carga. As resistências de comutação R limitam
sobrepercurso do mecanismo de mudança de taps, a corrente de curto-circuito entre taps que poderiam, por
condensação de umidade no óleo destes mecanismos, outro lado, vir a ser muito alta devido à livre interrupção na
entre outros. mudança dos contatos. O processo de mudança entre dois
O desgaste excessivo dos contatos pode ser atribuído à tapes leva aproximadamente de 40 ms a 80 ms.
perda de pressão das molas (molas fracas) ou a um tempo de A conexão de teste é realizada na configuração a
espera insuficiente durante o percurso. Problemas devido quatro fios, pois as resistências do enrolamento são muito
ao sobrepercurso do mecanismo de mudança de taps são, pequenas. Uma fonte de corrente constante é usada para
usualmente, devido a ajustes incorretos dos controladores alimentar o enrolamento com corrente contínua. Uma
de contatos. A condensação de umidade e carbonização tensão relativamente alta sem carga possibilita uma
deve-se a operação excessiva ou ausência de filtragem. saturação rápida do núcleo e um valor final é alcançado
Outros problemas, como queima de fusíveis ou apenas com variações menores. Consequentemente, na
paradas do sistema motor, são devidos a curtos-circuitos maioria das vezes, o tempo de carregamento por tap é
nos circuitos de controle, travamento de origem mecânica, claramente menor que 30 segundos.
ou condições de subtensão no circuito de controle. Um grande número de medições pode ser executado
Este artigo mostra procedimentos para identificação eficientemente em pouco tempo. Até agora, somente
de problemas em transformadores de potência utilizando a característica estática das resistências de contato são
medidas de resistência ôhmica e adicionalmente levadas em consideração no teste de manutenção. Com a
apresenta a medição da resistência dinâmica. Essa medida da resistência dinâmica, o procedimento dinâmico
resistência dinâmica possibilita uma análise do transitório de mudança da chave de comutação pode ser analisado.
na operação da chave de comutação.
Ensaios realizados com equipamento microprocessado
Testes do comutador sob carga (OLTC) O CPC100 é usado para medir a resistência individual
Para uma melhor compreensão das medidas de dos tapes de um comutador de transformador de potência
resistência, é necessário entender o método de operação e também checa a comutação da comutador sob carga
da mudança de tap. Na maioria dos casos, a mudança (OLTC) sem interrupções. De uma fonte CC de corrente
de tap consiste de duas unidades, conforme mostrada na constante, o CPC100 injeta uma corrente no transformador
Figura 3. de potência. Esta corrente é medida por um amperímetro
também CC. Com esse valor de corrente e a tensão medida
por um voltímetro 10VDC, a resistência do enrolamento é
calculada.
No momento em que o tape é comutado, a entrada
medida de corrente detecta o transitório da comutação, ou
seja, um evento de curta duração registrando os dados da

Figura 4 – Oscilografia da forma de onda da corrente que flui pela


Figura 3 – Representação de um OLTC. comutação.
63

forma de onda da corrente que flui pela comutação. Esta


transição na comutação dos tapes é mostrada na Figura 4.
As características de um comutador trabalhando
apropriadamente diferem de um equipamento com
mau funcionamento, isto é, uma interrupção durante
a comutação é indicada pela variação dos valores de
ripple e do slope (inclinação) da forma de onda da
corrente da comutação. A Figura 5 mostra uma corrente
de comutação oscilografada indicando o ripple e o slope,
cujos valores são indicados na tabela de resultados do
CPC100.

Figura 5 - Ripple e slope na forma de onda da corrente de mutação.

Para a medição da resistência dinâmica, a corrente


de teste deve ser a mais baixa possível. Caso contrário,
pequenas interrupções ou oscilações nos contatos da chave
de comutação não são detectadas. Neste caso, o arco
voltaico introduzido tem o efeito de reduzir a abertura dos
contatos internamente.
Comparações com dados anteriores, os quais foram
coletados quando o equipamento estava em condição (boa)
conhecida, permitem uma análise eficiente. Um detector
mede o pico do ripple e a inclinação (slope) da corrente
medida, visto que estes critérios são importantes para uma
comutação correta (sem bouncing ou outras pequenas
interrupções).
Se o processo de comutação é interrompido, mesmo
por um curto período de tempo, o ripple (=Imax – Imin) e
a inclinação da variação da corrente (di/dt) aumentam. O
valor para todos os tapes e particularmente os valores das
três fases é comparado. Desvios importantes em relação ao
valor médio indicam comutação com falha.

Procedimentos de teste
As conexões são realizadas utilizando-se o equipamento
CPC100 da Omicron montam um circuito de medida a
quatro fios, mostrado na Figura 6.
O procedimento de teste automático devolve para o
Apoio
64
Manutenção de transformadores
I Test: 5.000A
T Meas.: 14.0° C
T ref.: 20.0° C
Results:

Times R meas. Dev. R ref. Ripple Slope IDC VDC


42.000 s 649.7mΩ -0.17% 664.9mΩ 90.45% -8.024mΑ/s 4.9203Α 3.1965V
29.000 s 633.4mΩ 0.10% 648.3mΩ 1.01% -173.3mΑ/s 4.9215Α 3.1175V
31.000 s 622.6mΩ -0.01% 637.2mΩ 0.92% -170.5mΑ/s 4.9215Α 3.0641V
31.000 s 613.2mΩ -0.03% 627.6mΩ 0.92% -151.6mΑ/s 4.9215Α 3.0177V
28.000 s 614.6mΩ -0.07% 629.0mΩ 0.86% -143.5mΑ/s 4.9203Α 3.0238V
33.000 s 610.9mΩ 0.04% 625.2mΩ 0.87% -129.5mΑ/s 4.9191Α 3.0049V
36.000 s 607.0mΩ -0.01% 621.2mΩ 0.88% -123.2mΑ/s 4.9179Α 2.9849V
33.000 s 597.6mΩ 0.01% 611.7mΩ 0.80% -113.1mΑ/s 4.9179Α 2.9391V
47.000 s 594.0mΩ 0.14% 607.9mΩ 0.81% -106.1mΑ/s 4.9179Α 2.9210V
32.000 s 537.0mΩ -0.05% 549.7mΩ 0.74% -92.74mΑ/s 4.9227Α 2.6436V
34.000 s 569.3mΩ -0.03% 582.6mΩ 0.86% -111.7mΑ/s 4.9191Α 2.8002V
34.000 s 560.7mΩ 0.06% 573.9mΩ 0.82% -84.09mΑ/s 4.9179Α 2.7573V
34.000 s 568.8mΩ -0.02% 582.2mΩ 0.80% -85.78mΑ/s 4.9155Α 2.7962V
35.000 s 568.9mΩ -0.03% 582.3mΩ 0.76% -82.80mΑ/s 4.9143Α 2.7958V
42.000 s 555.9mΩ 0.08% 568.9mΩ 0.73% -81.17mΑ/s 4.9143Α 2.7317V
51.000 s 557.4mΩ 0.28% 570.6mΩ 0.76% -68.81mΑ/s 4.9143Α 2.7394V
46.000 s 554.2mΩ 0.10% 567.3mΩ 0.75% -79.97mΑ/s 4.9131Α 2.7230V
51.000 s 548.9mΩ 0.05% 561.8mΩ 0.74% -70.01mΑ/s 4.9131Α 2.6969V
40.000 s 526.6mΩ -0.03% 538.9mΩ 0.78% -70.50mΑ/s 4.9143Α 2.5877V
Figura 7 – Relatório.

testador os resultados de resistência estática e dinâmica. A


Figura 7 mostra um exemplo de relatório exportado para MS
Word com a tabela de dados.
Da tabela de resultados podem ser feitos gráficos
comparando a resistência ôhmica na subida e na descida
dos tapes.
A Figura 8 mostra um exemplo dessa avaliação em

Figura 8 – Transformador de 220/110kV, fabricado em 1961.

um teste realizado em um transformador de 220/110 kV,


fabricado em 1961.
O procedimento de teste automático devolve para o
testador os resultados de resistência estática e dinâmica. A
Figura 7 mostra um exemplo de relatório exportado para MS
Word com a tabela de dados.

Figura 6 – Conexões para teste de OLTC de transformadores de


potência. Medida da resistência de enrolamento e resistência dinâmica
da comutação.
Apoio
68
Manutenção de transformadores

Capítulo V

Polaridade e relação em
transformadores de potência

O objetivo deste capítulo é apresentar os da corrente de circulação no secundário,


conceitos de polaridade e defasamento angular de promovendo uma atuação indevida da proteção
transformadores e as metodologias para a medição ou leitura enganosa, principalmente em circuitos
da relação de transformação de transformadores de medição de energia.
trifásicos (considerando-se todas as conexões No caso de transformadores trifásicos,
padronizadas), a partir do conhecimento prévio apenas o conceito de polaridade é insuficiente
de seu defasamento angular. para apresentar uma relação definida entre as
tensões induzidas nos enrolamentos primário e
Introdução secundário. Isso se deve aos diversos tipos de
O conceito sobre polaridade de transformadores conexões dos enrolamentos (delta, estrela ou
deve ser estabelecido como base para o entendimento ziguezague), como será abordado neste texto.
do funcionamento do transformador, pois, com Nestes casos, utiliza-se a diferença de fases
a instalação de dois ou mais transformadores em (defasamento) ou deslocamento angular entre as
paralelo, as conexões dos secundários formarão tensões dos terminais de tensão inferior e tensão
uma malha. Se todos possuírem a mesma superior.
polaridade, as forças eletromotrizes anulam-se, No caso da verificação da relação do número
ou seja, a tensão resultante será zero. Quando a de espiras dos enrolamentos do transformador, o
soma das forças eletromotrizes resultarem em um mantenedor disporá de um recurso valioso para
valor diferente de zero, surgirá uma corrente de se verificar a existência de espiras em curto-
circulação com valores elevados, pois é limitada circuito, de falhas em comutadores de derivação
apenas pelas impedâncias secundárias. Assim, em carga e ligações erradas de derivações.
tem-se que umas das principais condições para Para determinar a correta relação do
estabelecer o paralelismo de transformadores é a transformador, podem ser utilizados diversos
de possuírem a mesma polaridade. métodos para execução do teste de relação
Nos circuitos de medição e proteção são de espiras ou relação de tensões, sendo que
utilizados transformadores de corrente (TC) e o método do transformador de referência de
transformadores de potencial (TP). A inversão da relação variável, conhecido como TTR, é o mais
polaridade nesses circuitos ocasionará a inversão comum.
69

Polaridade de um transformador
A polaridade de um transformador é a marcação existente
nos terminais dos enrolamentos dos transformadores, indicando
o sentido da circulação de corrente em um determinado
instante em consequência do sentido do fluxo produzido. Em
outras palavras, a polaridade é uma referência determinada pelo
projetista, fabricante ou usuário para determinar a marcação
da polaridade dos terminais dos enrolamentos e a condição
dos enrolamentos conforme sua disposição, isto é, a relação
entre os sentidos momentâneos das forças eletromotrizes nos
enrolamentos primário e secundário.
Portanto, a polaridade depende de como são enroladas as
espiras que formam os enrolamentos primário e secundário. O
sentido da queda de tensão (força eletromotriz) será determinado
pelo sentido do enrolamento e pela marcação realizada.
A Figura 1 mostra duas situações distintas para as tensões
induzidas em um transformador monofásico. Na primeira
figura, as tensões induzidas U1 e U2 dirigem-se para os bornes
adjacentes H1 e X1. Na outra figura, a marcação é feita de
maneira contrária, sendo as tensões induzidas dirigidas para os
bornes invertidos. Nota-se também que, na Figura 1a, as tensões
possuem mesmo sentido (estão em fase) ou “mesma polaridade
instantânea”. Na outra, elas estão em oposição (defasadas de
180o) ou com polaridades opostas.

Figura 1 – Sentidos instantâneos nos terminais do enrolamento de


um transformador monofásico.
Apoio
70

Pelo exposto, a polaridade refere-se ao sentido relativo entre as nas buchas de BT.
Manutenção de transformadores

tensões induzidas nos enrolamentos secundários e primários, ou


à maneira como seus terminais são marcados. Quando ambos os Relação de transformação
enrolamentos possuem a mesma polaridade, o transformador é de A medida da relação de transformação de um transformador
polaridade subtrativa e, em caso contrário, polaridade aditiva. é padronizada como ensaio de rotina e como teste básico em
programas de manutenção preventiva em transformadores
Métodos de ensaios para determinação de polaridade reparados ou submetidos a reformas ou, ainda, no
De acordo com a ABNT NBR 5380, os métodos de ensaio comissionamento das unidades.
usados para a determinação da polaridade de transformadores Os métodos mais frequentemente empregados para a sua
monofásicos são: obtenção são:

• Método do golpe indutivo com corrente contínua; • Método do voltímetro – medida da relação de tensões entre
• Método da corrente alternada; os enrolamentos de AT e BT, obedecendo-se o fechamento
• Método do transformador padrão; do transformador;
• Método do transformador de referência variável. • Método do TTR – medida da relação de espiras por meio de
um equipamento construído especificamente para este fim.
A disponibilidade de um instrumento de teste moderno que
possibilite a medida do defasamento angular entre as tensões Qualquer método utilizado deve oferecer valores
primárias e secundárias já possibilita a determinação da polaridade suficientemente precisos para que seja válido. Para avaliar um
do transformador testado. transformador, os resultados do teste, independentemente do
Descreveremos o método do golpe indutivo devido à sua método aplicado ou dos instrumentos de medição utilizados,
maior aplicabilidade. O esquema de ligações para o método é devem possibilitar medidas com variação máxima admissível é
indicado na Figura 2. ± 0,5%, em todos os tapes de comutação.
O erro percentual é calculado em função da relação medida
e da relação nominal do transformador, sendo:

Em que:
• E% é o erro percentual;
• Rmed é a relação medida, ou seja, o resultado do teste;
• Rnom é a relação teórica ou relação nominal do transformador.

Figura 2 – Determinação da polaridade pelo método do golpe indutivo.


Relação de transformação (tensões) e relação de espiras
Observe que os terminais de tensão superior são ligados Conforme já descrito em capítulos anteriores, a relação do
a uma fonte de corrente contínua. Instala-se um voltímetro de número de espiras (KN) e a de transformação ou de tensões (K)
corrente contínua entre esses terminais, de modo a se obter uma nos transformadores monofásicos são iguais numericamente,
deflexão positiva ao se ligar a fonte CC, ou seja, a polaridade em termos práticos.
positiva do voltímetro ligado no positivo da fonte e esses em H1. Entretanto, nos transformadores trifásicos podem diferir
Em seguida, insere-se o positivo do voltímetro em X1 e o conforme as conexões dos enrolamentos envolvidas, ou seja,
negativo em X2. A chave é fechada, observando-se o sentido como mostrado na Tabela 1.
de deflexão do voltímetro. Quando as duas deflexões são em Assim, qualquer medição da relação do número de espiras para
sentidos opostos, a polaridade é aditiva. Quando no mesmo se obter a de transformação nos transformadores trifásicos deve
sentido, é subtrativa. Tais conclusões baseiam-se na lei de Lenz. considerar tais valores.
O mesmo procedimento é aplicado a transformadores
trifásicos, observando-se os terminais de conexão da fonte nos Determinação da relação de transformação
enrolamentos de AT e analisando-se os resultados observadas O ensaio de relação de tensões realiza-se aplicando a um dos
Apoio
72

Tabela 1 – Valores de K em função de KN para as diversas conexões


Manutenção de transformadores

Ligação Dd Dy Dz Yy Yd Yz

KN 2 2
K= KN KN KN 3K KN
3 3 N
3

enrolamentos uma tensão igual ou menor que a sua tensão nominal, a saber:
bem como a frequência igual ou maior que a nominal.
Para transformadores trifásicos, apresentando fases independentes • A fonte, em grande parte dos casos, apresenta tensões
e com terminais acessíveis, opera-se indiferentemente, usando-se desequilibradas, mascarando os resultados das medições;
corrente monofásica ou trifásica. No caso da utilização de um teste • Se aplicados, por exemplo, três níveis distintos de tensões, mesmo
com correntes monofásicas, o fechamento do transformador deve balanceadas, podem resultar em três valores diferentes de relação
ser observado para realização das conexões de teste, conforme já de transformação.
exposto.
Os métodos usados para o ensaio de relação de tensões são: Em ambas as situações, os erros e as incertezas descaracterizam
os objetivos de se medir a relação de transformação.
• Método do voltímetro; Atualmente, equipamentos de teste microprocessados
• Método do transformador padrão; têm oferecido soluções adequadas para o teste de relação de
• Método do resistor potenciométrico; transformação, com tensões estabilizadas e medidas precisas.
• Método do transformador de referência de relação variável. Entretanto, cabe ao mantenedor e responsável pelo teste a avaliação
de tal instrumentação, antes da realização dos ensaios.
A ABNT NBR 5356 estabelece que este ensaio deve ser A Figura 3 mostra uma aplicação com um equipamento
realizado em todas as derivações, o que se constitui uma boa microprocessado multifuncional (CPC100 Omicron), realizando
prática, principalmente na recepção do transformador. Observa-se um ensaio de relação de transformação utilizando uma fonte de
que as tensões deverão ser sempre dadas para o transformador em tensão alternada e um voltímetro. Adicionalmente, a corrente de
vazio. excitação é medida em amplitude. Também é obtida a diferença de
A citada norma admite uma tolerância igual ao menor valor fase entre as tensões primária e secundária.
entre 10% da tensão de curto-circuito ou
± 0,5% do valor da tensão nominal dos diversos enrolamentos, se TTR
aplicada tensão nominal no primário. A siglaTTR (iniciais deTransformerTurn Ratio) tornou-se sinônimo
A seguir são apresentados os métodos do voltímetro e do de equipamentos para medição da relação de transformação. Em
transformador de referência de relação variável, por serem os mais sua concepção original, incorpora um transformador monofásico
utilizados. padrão com número de espiras variáveis, que é posto em paralelo
com o que se quer medir. Na atualidade, esse modelo tradicional
Método do voltímetro
O princípio deste método é alimentar o transformador com
certa tensão e medi-la juntamente com a induzida no secundário.
A leitura deve ser feita de forma simultânea com dois voltímetros.
Se necessário devem-se utilizar transformadores de potencial.
No caso do uso de instrumentação manual, sem automatismos,
recomenda-se que se faça um grupo de leituras, permutando-se os
instrumentos visando compensar seus eventuais erros. A média das
relações obtidas desta forma é considerada como a do transformador.
Observe que, em geral, por facilidade e segurança, a alimentação
do transformador é feita pelo lado de AT com níveis reduzidos de
tensão em relação nominal do tap considerado.
Tal prática, entretanto, resulta em dois problemas fundamentais, Figura 3 – Medida da relação de tensões com CPC100 Omicron.
73

Figura 4 – TTR, (a) analógico monofásico (MEGGER), (b) trifásico


digital (RAYTECH).

é chamado de TTR “monofásico”, pois existem os “trifásicos” e os


eletrônicos.
No TTR monofásico, quando a relação de seu transformador
monofásico com número de espiras variáveis se iguala à do que se
quer medir, não há diferença de potencial em seus secundários, nem
corrente de circulação. Assim, o valor correto pode ser verificado
em um indicador (microamperímetro) nulo.
A conexão do equipamento às buchas do transformador a ser
testado é executada por meio de quatro conectores, sendo dois
conectores, normalmente do tipo “sargento” para serem ligados aos
enrolamentos de baixa tensão e dois conectores do tipo “jacaré”
para serem ligados aos enrolamentos de alta tensão. As polaridades
destas bobinas possuem grande importância, pois, se estiverem
invertidas, o TTR não fornecerá leitura.
Apesar de a finalidade básica do TTR ser a de fornecer a relação
do número de espiras (KN) com precisão, pode ser empregado para
a obtenção da relação de tensões dos transformadores trifásicos.
Nesse caso, como nem sempre K e KN são iguais, é necessário que
se aplique os fatores da Tabela 1.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO, M. E. C. Manutenção de
transformadores de potência. Curso de Especialização em
Manutenção de Sistemas Elétricos – Unifei, 2012.
Apoio
56
Manutenção de transformadores

Capítulo VI

Avaliação do isolamento em
transformadores de potência

Qualquer máquina ou equipamento elétrico composto principalmente de papel-óleo. Portanto,


deverá suportar campos elétricos, onde determinada este trabalho abordará preferencialmente as
parte de sua estrutura deverá ter uma resistividade características deste tipo de isolamento.
muito alta, assegurando uma oposição à passagem Este artigo descreverá as principais
de corrente elétrica de condução. O elemento que características de um sistema de isolamento, suas
promove tal condição é chamado de dielétrico, propriedades básicas e os tipos de testes e ensaios
sendo chamado de isolante o material que o comumente executados. Os testes apontados serão
constitui. apresentados e discutidos nos próximos capítulos.
A finalidade do dielétrico na indústria elétrica é
realizar o isolamento entre os elementos condutores Características dos sistemas de
do equipamento elétrico, além de modificar o valor isolamento
do campo elétrico existente em determinado local.
Portanto, os sistemas de isolamento constituem Classificação dos materiais dielétricos
um dos principais componentes de um equipamento A classificação dos materiais dielétricos pode
elétrico. Na sua composição são utilizados diferentes ser apresentada como:
tipos de materiais isolantes que são submetidos a
diversos tipos de solicitações dielétricas e térmicas a) Gases (ar, anidrido carbônico, hidrogênio, gases
ao longo de sua vida útil. Tais solicitações podem raros, hexafluoreto de enxofre SF6);
resultar em falhas dos componentes deste isolamento, b) Líquidos (óleos minerais, óleos sintéticos, óleos
resultando em desligamentos e prejuízos. Pode-se vegetais);
afirmar que a vida útil de um equipamento elétrico c) Sólidos (resinas, PVC, polietileno PE, papel Kraft,
qualquer é considerada como a do próprio sistema porcelana, vidro);
de isolamento. A falha da isolação implica na falha d) Vácuo;
do equipamento. e) Compostos ou Híbridos (sistemas papel-óleo,
Conforme descrito no Capítulo 1, um sistema PE-óleo).
de isolamento de equipamentos, como utilizado Propriedades dos dielétricos
principalmente em transformadores, tanto de As principais propriedades dos meios dielétricos
potência e transformadores de instrumentos, é são apresentadas a seguir:
Apoio
57

Permissividade ou constante dielétrica Assim podemos designar, em função da capacitância, a


Dado um campo elétrico aplicado nas extremidades permissividade relativa de um material, definida pela razão
de um material dielétrico, a permissividade elétrica é mostrada a seguir, em que C é a capacitância entre duas
determinada pela capacidade deste material polarizar-se, placas paralelas separadas pelo material isolante e C0 é a
cancelando parcialmente o campo elétrico dentro do material. capacitância das mesmas placas paralelas separadas por
A permissividade ou constante dielétrica (ε) também pode ser vácuo, desprezando-se o efeito de borda.
descrita como a facilidade que o material dielétrico permite o
estabelecimento de linhas de campo em seu interior.
A permissividade ou constante dielétrica para o vácuo (ε0)
é dada por: Normalmente, εr não é um parâmetro fixo, mas depende
da temperatura, da frequência, bem como da estrutura
molecular do material.

Assim, para um outro meio qualquer, pode-se definir a


Polarização
permissividade relativa (εr) por meio de:
A maior parte dos elétrons nos materiais isolantes não
está livre para se movimentar. Quando um campo elétrico é
aplicado, as forças eletrostáticas resultantes criam um nível
de polarização, direcionando as cargas e formando dipolos.
A capacitância de um capacitor de área A e distância
Os tipos de polarização são descritos a seguir.
entre placas d para um dielétrico qualquer, é dada por:
O primeiro tipo de polarização é caracterizado por
polarizações eletrônica e iônica que ocorrem praticamente
instantaneamente sob a ação de um campo elétrico e sem
Apoio
58

dissipação de energia. Caracteriza-se por um deslocamento Rigidez dielétrica


Manutenção de transformadores

elástico de íons ou elétrons ligados ao núcleo de um átomo. A rigidez dielétrica é o máximo valor de campo elétrico
A polarização dipolar difere da eletrônica e da iônica que pode ser aplicado a um material dielétrico sem que este
com relação ao movimento térmico das partículas. As perca suas propriedades isolantes. De outra forma, pode-se
moléculas dipolares, que se encontram em movimento afirmar que após um valor de tensão, designada por tensão
térmico desorganizado inicialmente, orientam-se de ruptura, o material isolante passa a conduzir corrente.
parcialmente pela ação do campo, causando o efeito da Assim, define-se rigidez dielétrica como a capacidade de
polarização. resistir à tensão sem que haja a citada descarga, conforme
A polarização estrutural aparece apenas em corpos a distância entre os dois pontos de aplicação. Este valor é
amorfos e em sólidos cristalinos polares (por exemplo, dado em V/m.
vidro), onde um corpo amorfo é parcialmente constituído
de partículas de íons. Ela se estabelece pela orientação
de estruturas complexas de material, devido à ação de
um campo externo, causando um deslocamento de íons e
dipolos.
A rigidez dielétrica dos isolantes não é constante para
Corrente de fuga cada material, pois depende fundamentalmente da espessura
Nos isolantes sólidos, mesmo caracterizados por do isolante, da pureza do material, do tempo e método de
uma resistividade muito grande, possuem elétrons livres aplicação da tensão, da frequência da tensão aplicada e do
devido, entre outras causas, a impurezas e forças internas tipo de solicitação ao qual o sistema dielétrico é submetido, da
no material, proporcionando uma pequena corrente que temperatura, da umidade, entre outros fatores ambientais.
atravessa o isolante. Entretanto, pela acumulação de poeira
e umidade na superfície do material ou na fronteira entre
dois materiais diferentes, forma-se um novo caminho
para a passagem da corrente elétrica, chamada corrente
superficial. Esses dois eventos caracterizam o aparecimento
da corrente de fuga no isolamento.
Esse efeito pode ser representado, em termos de circuito
elétrico, por um resistor em paralelo com um capacitor,
como mostra a Figura 1. A quantificação da dificuldade de
circulação da corrente de fuga pelo dielétrico é chamada
de resistência de isolamento.

Figura 2 – Cuba de medidor de rigidez dielétrica com eletrodos VDE.

Descargas parciais
Uma Descarga Parcial (DP) é caracterizada como uma
descarga elétrica de pequena intensidade que ocorre em
uma região de imperfeição de um meio dielétrico sujeita
a um campo elétrico, onde o caminho formado pela
descarga não une as duas extremidades dessa região de
Figura 1 – Representação esquemática do dielétrico – corrente de
fuga. forma completa. A ocorrência de descarga parcial depende
Apoio
59

da intensidade do campo aplicado nas extremidades desse normalmente partindo do eletrodo para a superfície.
espaço, além do tipo de tensão de teste aplicada (tensão • Descargas parciais no ar ambiente geralmente são
alternada, tensão contínua, sinal transitório ou impulso). classificadas como descargas externas e frequentemente
A norma IEC 60270 faz referência à medida de descargas chamadas de descargas corona. No início do processo
parciais em sistemas e equipamentos elétricos com tensões de indução da tensão, brilho e correntes de descargas
alternadas de até 400 Hz. Nesses equipamentos tem-se a podem aparecer. Elas ocorrem em gases a partir de
ocorrência de avalanches de elétrons nos espaços vazios. pontas agudas em eletrodos metálicos em partes com
Assim, descargas em dielétricos podem ocorrer somente em pequenos raios de curvatura.
espaços gasosos ou fissuras nos materiais sólidos ou bolhas
no dielétrico líquido. Portanto, descargas parciais são Resistências de isolamento
iniciadas geralmente se a intensidade do campo elétrico Uma vez que o campo elétrico estabelecido não
dentro do espaço vazio exceder a intensidade do campo do ultrapasse o valor da tensão de ruptura, o dielétrico impede
gás contido nesse espaço. a passagem da corrente elétrica. Este evento é dependente
As descargas parciais podem ser classificadas de acordo da natureza e características do dielétrico e de suas
com a natureza da sua origem. Podem ser: condições físicas.
• Descargas internas, que ocorrem nos espaços, Por não se tratar de um dielétrico perfeito, se aplicada
geralmente vazios preenchidos com gás, presentes uma tensão no isolante, ele será atravessado por uma
nos materiais sólidos e líquidos usados em sistemas de corrente. O quociente entre a tensão U e a corrente I é
isolamento. chamada resistência de isolamento. Esta resistência não é
• Descargas superficiais, que ocorrem em gases ou constante, ou seja, os isolantes geralmente não obedecem à
líquidos na superfície de um material dielétrico, lei de Ohm.
Apoio
60
Manutenção de transformadores

Figura 3 – Exemplo de medida de resistência de isolamento - esquema de conexão.

Perdas no sistema de isolamento Ensaios e avaliação do isolamento


Nos dielétricos sujeitos a uma tensão contínua verifica-se A avaliação do sistema de isolamento pode ser realizada
uma perda por efeito Joule tal como nos condutores. A com ensaios elétricos básicos ou avançados, considerando o
corrente de perdas, se bem que muito limitada, dá lugar a grau de complexidade da análise a ser realizada. Os ensaios
um certo aquecimento. Estas perdas não têm importância, a têm por finalidade garantir as condições das características
não ser quando dão lugar a um aquecimento, permitindo, por funcionais do isolamento dos transformadores de tal forma
consequência, maior corrente e maiores perdas. que possam entrar em operação segura todo o equipamento.
Nos dielétricos sujeitos a uma tensão alternada há, da A escolha do teste a ser realizado depende de vários
mesma forma, a perda por efeito Joule, mas surge um outro fatores como o local de realização, testes de aceitação
fenômeno que origina perdas e que tem o nome de histerese em fábrica ou em campo, o tempo disponível para teste,
dielétrica. A energia perdida é também transformada em importância do equipamento, condições operativas, dentre
calor. O nome deste fenômeno é dado pela analogia existente outros.
com a histerese magnética. A explicação física das perdas As características elétricas de um dielétrico podem ser
por histerese dielétrica é dada por consideração da falta de comprovadas em termos práticos por meio de testes ou
homogeneidade do dielétrico. ensaios não destrutivos com aplicação de tensão contínua
A avaliação é realizada pela medida da capacitância, do ou alternada. Dos testes e ensaios elétricos não destrutivos,
Fator de Dissipação (tgδ) ou Fator de Potência (cosφ) obtidos temos:
com ponte Schering e ponte Doble.
• Resistência de isolamento com corrente contínua,
também chamado de teste de absorção de corrente pelo
dielétrico, com aplicação de corrente contínua, obtidos,
normalmente com o medidor de alta resistência, expresso
em MΩ. O ensaio consiste em submeter o isolamento
a uma tensão contínua, normalmente entre 500 V e
10.000 V, provocando circulação de uma pequena
corrente elétrica, na ordem de microampères. Esta
corrente depende da tensão aplicada, da capacitância do
isolamento, da resistência total, das perdas superficiais,
da umidade e da temperatura do material. Conforme já
descrito, podemos afirmar que, para uma mesma tensão,
quanto maior a corrente, menor a resistência.
• Manutenção em fluídos dielétricos, realizada pelo
Figura 4 – Esquema de conexão para medidas Capacitância, do Fator teste de rigidez dielétrica, com aplicação de corrente
de Dissipação (tgδ).
Apoio
61

alternada expresso em termos de tensão disruptiva e a a resposta do meio dielétrico mediante a aplicação dos
análise cromatográfica dos gases dissolvidos nos óleos testes de corrente de polarização e despolarização e
isolantes (cromatografia), que permite detectar eventuais espectroscopia no domínio da frequência.
faltas ou defeitos associados aos dielétricos, inclusive
antes de um eventual dano do equipamento. Os próximos capítulos abordarão cada um dos testes
• Teste de perdas dielétricas expresso por meio dos descritos.
valores de capacitância, do Fator de Dissipação (tgδ)
ou Fator de Potência (cosφ) obtidos com ponte Schering Referências
e ponte Doble, respectivamente, com aplicação de • ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO, M. E. C. Manutenção de
corrente alternada. A avaliação do isolamento é transformadores de potência, Curso de Especialização em
realizada pela análise dos componentes capacitiva e Manutenção de Sistemas Elétricos – UNIFEI, 2012.
resistiva que flui pelo dielétrico. • MILASCH, M. Manutenção de transformadores em líquido
• Análise de descargas parciais realizada com isolante. São Paulo: Ed. EDGARD BLUCHER, 1984.
instrumentos convencionais analógicos, dependentes do • GT A2.05. Guia de manutenção para transformadores de
conhecimento do testador, ou modernos sistemas digitais potência. CIGRE Brasil – Grupo de Trabalho A2.05, 2013.
de medida de descargas parciais que torna possível e mais
eficaz a discriminação entre os eventos, sejam descargas
parciais ou ruídos. Capacita também o sistema de teste
para identificação dos tipos de falhas e sua localização.
• Avaliação da umidade no isolamento papel-óleo por meio
da espectroscopia do dielétrico no domínio do tempo e no
domínio da frequência. Realizada pela medida da umidade
e degradação do isolamento papel-óleo, identificando
Apoio
56
Manutenção de transformadores

Capítulo VII

Ensaios de resistência de
isolamento e de rigidez dielétrica

A avaliação do sistema isolante consiste em características, constata-se que é bastante útil para
uma das principais ferramentas para determinar a a verificação de curtos-circuitos francos, ficando a
condição operacional dos equipamentos elétricos. identificação dos defeitos menos pronunciados a
Assim, este texto analisa os aspectos conceituais cargo dos ensaios com tensão alternada, de tensão
referentes à medida da resistência do isolamento, aplicada e tensão induzida.
os procedimentos para executá-la e avaliar os Para a medição da resistência de isolamento
resultados obtidos. Em relação às propriedades utiliza-se um instrumento denominado megôhmetro
elétricas de um fluido refrigerante e isolante, o ou, popularmente, megger (o que, na realidade, é a
texto abordará o ensaio de rigidez dielétrica do marca de um fabricante). Os megôhmetros atuais são
óleo do transformador. analógicos ou digitais (motorizados ou eletrônicos),
mas, também, podem ser manuais (ou seja, com um
Ensaio de resistência de isolamento "cambito" ou "manivela").
A resistência de isolamento é a medida da
dificuldade oferecida à passagem de corrente
pelos materiais isolantes. Seus valores se alteram
com a umidade e com a sujeira – alterações da
capacitância do isolamento, da resistência total,
das perdas superficiais e da temperatura do material
– constituindo-se em uma boa indicação da
deterioração dos equipamentos elétricos provocada
por estas causas. O ensaio consiste em aplicar no
isolamento uma tensão em corrente contínua, com
valores entre 500 V e 10.000 V. Isso provocará a
circulação de um fluxo pequeno de corrente.
Deve-se observar, entretanto, que as várias
normas sobre este assunto estabelecem que
este ensaio não se constitui em critério para
aprovação ou rejeição do equipamento. Pelas suas Figura 1 – Megôhmetro digital.
Apoio
57

A corrente de deslocamento ou de carga capacitiva (IC) é


aquela que surge no instante inicial da energização e possui a
mesma função que uma corrente de carga de um capacitor devido
ao efeito capacitivo existente entre condutores ou entre condutor
e a terra. Dependendo do tipo e da forma do material isolante.
Note-se que ela assume o valor máximo quando da energização
e decresce rapidamente a um valor desprezível depois que a
isolação foi carregada eletricamente por completo.
A corrente de absorção (IA) é aquela responsável pela
polarização dos dipolos elétricos que constituem a massa do
dielétrico. Em equipamentos de baixa capacitância, a corrente é
Figura 2 – Megôhmetro manual.
alta pelos primeiros segundos e decresce vagarosamente a quase
A resistência resultante medida neste ensaio é a soma da zero. Ao ensaiar equipamentos de alta capacitância ou isolação
resistência interna do condutor (valor pequeno) mais a resistência com teor de umidade elevado e contaminada, não haverá
de isolação, que é dividida em três componentes (subcorrentes) decréscimo na corrente de absorção por um longo período. Um
independentes: exemplo prático desse fenômeno é o ressurgimento de tensão nos
terminais de um capacitor quando se retira o curto empregado para
a) Corrente de deslocamento ou corrente de carga capacitiva (IC); descarregá-lo. Em função deste aspecto, é necessário observar que
b) Corrente de absorção (IA); e ela também assume o seu valor máximo próximo à energização
c) Corrente de dispersão ou corrente de fuga por meio do e decresce a valor desprezível em um intervalo variável entre dez
dielétrico (IL). minutos e várias horas.
Apoio
58

A corrente de dispersão ou de fuga (IL), por meio do dielétrico, em álcool e anotar qualquer irregularidade constatada;
flui pela superfície e pelo interior da massa do dielétrico, entre • Cuidar para que os cabos do megôhmetro não toquem
Manutenção de transformadores

condutores ou de um condutor para a terra e é de caráter em outras partes do equipamento, ou se toquem, para evitar
irreversível. Constitui-se no componente mais importante na alteração na medida da resistência do isolamento;
medição do ensaio de isolamento em corrente contínua quando • Ajustar o megôhmetro segundo especificações do
se deseja avaliar o estado em que se encontra o isolamento. Tal equipamento utilizado;
corrente não varia com o tempo de aplicação de tensão e, nestas • Deve-se nivelar o megôhmetro, nos casos de medidores com
condições, se houver alguma elevação de seu nível é indicativo indicador de ponteiros;
que o isolamento pode vir a falhar. A Figura 3 mostra a corrente • Nos megôhmetros manuais é necessário manter invariável a
total com seus três componentes definidas anteriormente. rotação do cambito na especificada pelo fabricante, para que a
tensão aplicada seja constante;
Resistência de • Deve-se sempre observar cuidadosamente o ponteiro do
Corrente Total Isolação
(IA+IC+IL) (em Megohms) megôhmetro quando em operação. Se ele apresenta oscilação
excessiva é provável que haja mau contato, fugas intermitentes
pela superfície do cabo de ligação ou influência de circuitos
energizados nas proximidades;
• Antes de começar a medição, aciona-se o megôhmetro,
Corrente sem executar qualquer contato entre os terminais e ajustar o
(em μΑ)
ponteiro no “infinito”, girando o botão de ajuste para tal fim;
0 Tempo ∞ • Deve ser obtida a temperatura dos enrolamentos;
(em segundos)
• Selecionar a tensão para teste de acordo com o equipamento
Figura 3 – Componentes de corrente no ensaio de resistência do a ser testado, segundo proposto na Tabela 1.
isolamento DC (CIGRE Brasil, GT A2.05, 2013).

Tabela 1 – Tensões de teste conforme a tensão nominal


Procedimentos de teste do equipamento
A seguir são descritos procedimentos como exemplos para Tensão do equipamento (V) Tensão de teste (V)
realização do teste de resistência de isolamento. Entretanto,
< 1.000 500
tais procedimentos devem ser adequados aos instrumentos
1.000 a 2.500 500 a 1.000
de teste utilizados, obedecendo suas características de uso e 2.501 a 5.000 1.000 a 2.500
aos equipamentos a serem testados. Assim, para o ensaio de 5.001 a 12.000 2.500 a 5.000
resistência de isolamento: > 12.000 10.000

• Deverão ser obedecidos todos os procedimentos relativos às • De forma que as leituras não sofram influências de
recomendações de segurança, segundo as especificações da resistências em paralelo com a que se está avaliando,
instalação ou da empresa. deve-se utilizar do cabo "GUARDA". Assim, os terminais do
• Desenergizar o transformador; megôhmetro deve ser aplicado como mostrado na Tabela 2
• Desconectar os cabos externos. Os ensaios de resistência (exemplo utilizando transformador de dois enrolamentos).
de isolamento devem ser executados com todos os cabos do A Figura 4 mostra um esquema de conexão para medida
transformador desconectados das buchas, inclusive o cabo da de resistência entre os enrolamentos de alta e baixa tensão.
bucha de neutro;
• Caso não seja possível a desconexão dos cabos, deve-se Tabela 2 – Conexões para teste em transformador
de dois enrolamentos
proceder a anotação detalhada do esquema de teste com
Circuitos conectados aos terminais
respectiva descrição;
Resistência entre Line Guard Earth
• Curto-circuitar os terminais das buchas de um mesmo
AT – BT AT Carcaça BT
enrolamento para obter uma melhor distribuição do potencial;
AT – CARCAÇA AT BT Carcaça
• O tanque do transformador deve ser aterrado;
BT – CARCAÇA BT AT Carcaça
• Inspecionar e limpar as buchas com pano seco ou embebido
Apoio
60

• O resultado das medidas deve ser corrigido para a temperatura Tabela 3 – Tabela orientativa para o diagnóstico
Manutenção de transformadores

com os índices IP e IA
de referência.
Condições de Índice de absorção Índice de absorção
isolamento (R1min/R30s) (R10min/R1min)

Pobre < 1,0 < 1,0

Duvidoso 1,0 a 1,4 1,0 a 2,0

Aceitável 1,4 a 1,6 2,0 a 4,0

Bom > 1,6 > 4,0

Basicamente, a degradação do isolamento pode ser avaliada


por meio de testes ao longo do tempo com o ensaio de resistência
de isolamento em CC, e também determinada a condição do
Figura 4 – Conexões para medida de AT-BT em transformadores de isolamento como um teste “passa ou não passa”. Neste caso, a
dois enrolamentos. existência de uma falha grave no isolamento, como um curto-
circuito franco, é evidenciada. Caso contrário, a avaliação deve ser
Critérios de avaliação realizada pelo ensaio de perdas em corrente alternada, ensaios de
A avaliação é realizada pela comparação dos valores de
tensão aplicada e tensão induzida.
resistência de isolamento obtidos ao longo do ensaio, sendo
realizadas medidas em intervalos de 30 segundos a 1 minuto,
Ensaio de rigidez dielétrica
com duração total de geralmente dez minutos. Além da
A rigidez dielétrica é o máximo valor de campo elétrico que
interpretação da curva mostrada na Figura 5, a condição do
pode ser aplicado a um material dielétrico sem que este perca
Índice de Polarização e Índice de Absorção apontarão o estado
suas propriedades isolantes. De outra forma, pode-se afirmar
do isolamento. Assim, na curva da Figura 5, um crescimento
que após um valor de tensão, designada por tensão de ruptura,
contínuo na resistência indica boa isolação, em contrapartida,
o material isolante passa a conduzir corrente. Assim, define-se
uma curva uniforme ou decrescente indica isolação degradada.
rigidez dielétrica como a capacidade de resistir à tensão sem
A Tabela 3 mostra a orientação para o diagnóstico com os índices.
que haja a citada descarga, conforme a distância entre os dois
pontos de aplicação. Este valor é dado em V/m.
Considerações sobre resistência de isolamento
Os resultados obtidos no ensaio de resistência de isolamento
não podem ser considerados um critério exato de avaliação das
condições do isolamento do transformador e de sua capacidade
A rigidez dielétrica dos isolantes não é constante para
operativa. Entretanto, os valores medidos podem ser usados
cada material, pois depende fundamentalmente da espessura
como uma orientação sobre o seu estado, baseando-se na
do isolante, da pureza do material, do tempo e do método
avaliação do histórico do equipamento.
de aplicação da tensão, da frequência da tensão aplicada e do
tipo de solicitação ao qual o sistema dielétrico é submetido, da
boa

isolação
temperatura, da umidade, dentre outros fatores ambientais.
O óleo apresenta alta rigidez dielétrica se possuir baixo teor de
agua e baixo teor de partículas contaminantes. Água e partículas
Resistência sólidas em níveis elevados tendem a migrar para regiões de tensão
(em Megohms)
elétrica elevada e reduzir dramaticamente a rigidez dielétrica.
Portanto, a rigidez dielétrica indica a presença de contaminantes.
isolação

quebrada Um baixo valor da rigidez dielétrica pode indicar que uma ou


ambas estão presentes. Entretanto, uma alta rigidez dielétrica não
0 Tempo 10 minutos indica necessariamente a ausência de todos os contaminantes.
(em minutos)
Como o teste é realizado obtendo-se o valor de tensão
na qual ocorre uma ruptura do fluido entre dois eletrodos
Figura 5 – Comportamento típico de ensaio de Resistência do
Isolamento (CIGRE Brasil, GT A2.05, 2013). posicionados no interior de uma cuba de material isolante
Apoio
61

em condições preestabelecidas, o resultado dependerá das Tabela 4 – Valores recomendado para transformadores
(método ABNT NBR IEC 60156 - CIGRE Brasil, GT A2.05, 2013)
condições em que o teste foi realizado.
Tensão Valores limites
Os procedimentos mais utilizados no Brasil incluem o uso
≤ 72,5 kV ≥ 40 kV
de eletrodos e respectivos espaçamentos em milímetros de
> 72,45 / ≤ 242 kV ≥ 50 kV
formatos ASTM (ou ANSI ou ABNT) e VDE. A Figura 6 mostra a
> 242 kV ≥ 60 kV
cuba de medidor de rigidez dielétrica com eletrodos VDE.
Independentemente do tipo de teste a ser executado, Referências
é importante que a cuba e os eletrodos estejam bem limpos • ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO M. E. C. Manutenção de
e secos antes do enchimento do óleo. A Tabela 4 mostra os transformadores de potência. Curso de Especialização em
Manutenção de Sistemas Elétricos – UNIFEI, 2012.
valores recomendados para transformadores segundo a ABNT
• MILASCH, M. Manutenção de transformadores em líquido
NBR IEC 60156.
isolante. São Paulo: Edgard Blucher, 1984.
• GT A2.05. Guia de manutenção para transformadores de
potência. CIGRE Brasil – Grupo de Trabalho A2.05, 2013.

Figura 6 – Cuba de medidor de rigidez dielétrica com eletrodos VDE.


Apoio
52
Manutenção de transformadores

Capítulo VIII

Avaliação do isolamento em
transformadores de potência
Ensaio de perdas dielétricas e capacitância

A avaliação de equipamentos de subestação procedimentos e ferramentas que possibilitem


tem evoluído com a utilização de procedimentos e a obtenção de dados das instalações de forma
sistemas de teste dotados de técnicas e ferramentas rápida e precisa.
que promovem uma avaliação eficaz e rápida Este trabalho mostra técnicas de avaliação e
desses equipamentos. Essa avaliação deve ser testes de transformadores utilizando varredura de
aprimorada, de forma a garantir o funcionamento frequências. Por meio da observação do fenômeno
contínuo das instalações responsáveis pelo do efeito pelicular e do fenômeno da polarização
suprimento de energia elétrica. do meio dielétrico, o trabalho avalia a condição
Como os equipamentos elétricos instalados do isolamento de transformadores de potência e
em subestações podem ser solicitados a operar buchas de alta tensão.
sob diversas condições adversas, tais como: altas
temperaturas, chuvas, poluição, sobrecarga e, dessa Medida de capacitância, fator de
forma, mesmo tendo uma operação e manutenção potência e fator de dissipação com
de qualidade, não se pode descartar a possibilidade variação de frequência
de ocorrerem falhas que deixem indisponíveis as Medida da Capacitância (C) e Fator de
funções de transmissão e distribuição de energia Dissipação (FD) estão estabelecidos como
elétrica aos quais pertencem. Assim, as atividades importantes métodos de diagnóstico de
de comissionamento e manutenção periódica para isolamento, publicado primeiro por Schering em
verificação regular das condições de operação 1919 e utilizado para esse propósito em 1924.
desses equipamentos tornam-se cada vez mais Em um diagrama simplificado do isolamento, Cp
importante. E torna-se imperativo a busca por representa a capacitância e Rp, às perdas.
Apoio
53

Relações entre o fator de potência e o fator


de dissipação
A relação entre fator de potência (FP), definido como o
cosseno do ângulo entre a corrente total e a tensão aplicada
(cos ϕ), e o fator de dissipação (FD), definido como a tangente
Figura 1 – Diagrama simplificado do isolamento.
do ângulo entre a corrente total e a corrente capacitiva (tan
O fator dissipação é definido como:
δ). Matematicamente, a correlação entre os dois pode ser
escrita como:

(1)

Na Figura 2, C1 e R1 conectados em série representam as


(2)
perdas do objeto em teste, e C2 representa perdas livres do
capacitor de referência.
(3)

Novas aplicações de avaliação do


isolamento com variação de frequência
Até os dias de hoje, o fator de dissipação ou o fator de potência
só foram medidos na frequência da linha. Com a fonte de potência
do equipamento utilizado neste trabalho é possível agora fazer
Figura 2 – Representação de uma Ponte Shering. essas medições de isolamento em uma larga faixa de frequência.
Apoio
54

Além da possibilidade de aplicar uma larga faixa de da conexão das linhas;


frequência, as medições podem ser feitas em frequências • Todos os terminais das buchas de um determinado grupo,
Manutenção de transformadores

diferentes da frequência da linha e seus harmônicos. Com como os terminais A, B, C (e Neutro) do enrolamento de Alta
este princípio, as medições podem ser realizadas também na Tensão; A, B, C (e Neutro) do enrolamento de baixa tensão
presença de alta interferência eletromagnética em subestações e A, B, C (e Neutro) do enrolamento terciário devem ser
de alta tensão. conectados;
A faixa de frequência utilizada varia de 15 Hz a 400 Hz. Os • Os terminais do neutro de todos os enrolamentos conectados
testes podem ser realizados sem problemas, pois, nesta faixa em estrela com ponto aterrado devem ser desconectados do
de frequências, as capacitâncias e as indutâncias do sistema terra (tanque);
elétrico testado são praticamente constantes. Para avaliarmos
o isolamento, devemos considerar que o dielétrico perde sua
capacidade de isolar devido a:

• Movimento de íons e elétrons (corrente de fuga);


• Perdas por causa do efeito da polarização.

Procedimentos gerais
Em linhas gerais, seguem alguns procedimentos para a
realização das medidas de capacitância e fator de potência
Figura 4 – Transformador preparado para teste.
para transformadores de dois enrolamentos. A Figura 3 mostra a
representação esquemática do isolamento para transformadores • Se o transformador tiver um comutador de taps, então ele
de dois enrolamentos. deve ser posto na posição de neutro (0 ou no meio dos taps);
• Conectar os terminais de aterramento do equipamento de
teste no aterramento do transformador (subestação);
• Conectar a saída de alta tensão do equipamento de teste
(fonte) no enrolamento de alta tensão do transformador (de
acordo com as instruções de conexão). Deve-se evitar que
partes desparafusadas ou soltas do cabo de teste de alta
tensão toquem qualquer parte como buchas e o tanque do
transformador. Isto pode causar abertura de arcos (flashovers);
Figura 3 – Representação esquemática do isolamento para
transformadores de dois enrolamentos. • Conecte o cabo de medida (vermelho) no enrolamento
de baixa tensão, e o cabo Guarda (azul) carcaça do
Em que: transformador (de acordo com as instruções de conexão do
• Cab representa o isolamento entre os enrolamentos de Alta equipamento de teste utilizado). Neste caso é realizada a
Tensão (AT) e os enrolamentos de Baixa Tensão (BT); medida:
• Ca representa o isolamento entre os enrolamentos de Alta ♦ UST-A: medida de AT para BT, guardando carcaça
Tensão (AT) e a carcaça; (Cab).
• Cb representa o isolamento entre os enrolamentos de Baixa • Alguns equipamentos de teste possuem a facilidade de
Tensão (BT) e a carcaça. trocarem a função dos cabos, ou seja, o cabo vermelho pode
ser um cabo de medida ou Guarda, dependendo da escolha
Assim: do testador. O mesmo ocorre para o cabo Azul. Assim, com
• O transformador deve estar desenergizado e completamente a mesma conexão é realizada a medida:
isolado do sistema de potência; ♦ GST-A: medida de AT para carcaça, guardando BT (Ca).
• O aterramento adequado do tanque do transformador deve • Para realizar o teste de BT para carcaça, conecte o cabo de
ser checado; medida (vermelho) no enrolamento de alta tensão, e o cabo
• Os terminais das buchas de alta tensão devem ser isolados de saída de alta tensão do equipamento de teste (fonte) no
Apoio
56

enrolamento de baixa tensão. O cabo Guard (azul) continua Tabela 1 – Condições do isolamento pela IEEE Std. 62-1995
Manutenção de transformadores

Condições do isolamento
na carcaça do transformador. É realizada a medida: Transformador
♦ GST-A: medida de BT para carcaça, guardando AT (Cb). Bom Aceitável Deve ser investigado
Novo DF < 0.5% - -

Antigo sob serviço DF < 0.5% 0.5% < DF < 1% DF > 1%


Todos os valores medidos a 20 °C

Neste caso é importante que o testador use o histórico do


equipamento para realizar uma análise adequada.
Com o desenvolvimento de novas técnicas e novos equipamentos
de teste, a avaliação do isolamento pode ser feita com a variação de
frequência da tensão de teste. Assim capacita o testador a realizar
testes sem problemas de interferência eletromagnética e com
maior capacidade de avaliação. Com a variação de frequência, o
resultado mostra uma tendência que pode ser usada para avaliação,
Figura 5 – Esquema de conexão para medidas AT-BT e AT-carcaça. pois à medida que elevamos a frequência, as perdas aumentam, ou
seja, os valores de FP ou FD tendem a aumentar. As Figuras 7 e 8
mostram o comportamento do FP com variação de frequência para
um transformador novo de 69 kV.

Figura 6 – Esquema de conexão para medidas BT-carcaça.

• “Curte-circuite” todos os TCs de bucha, se houver; Figura 7 – Transformador novo de 69 kV.


• Não faça nenhum teste com alta tensão em transformadores
sob vácuo;
• A tensão de teste pode ser alterada respeitando-se a tensão
do enrolamento sob teste;
• Todos os testes devem ser feitos com a temperatura do
óleo próxima a 20 °C. Correções de temperatura podem ser
calculadas usando as curvas de correção, mas elas dependem
em grande parte do material isolante, do conteúdo de água e
de vários outros parâmetros;
• É importante obedecer às determinações registradas nos
manuais dos equipamentos de testes.
Figura 8 – Fator de potência para transformador novo de 69 kV.

Avaliação do ensaio de fator de potência A seguir temos um exemplo de resultado onde é realizada a
Para os testes realizados apenas na frequência da linha comparação das medidas de fator de potência entre as buchas
(60 Hz), o range dos valores de fator de potência para novos das três fases de um banco de reatores ASEA/BROWN BOVERI,
e antigos transformadores são publicados pelas normas e por tipo RM46, 2002, com potência: 40,33 MVAr, tensão HV: 500
outras literaturas. Pela IEEE Std. 62-1995, são determinados kV, corrente HV: 127 A. A Figura 9 mostra um dos reatores e a
os seguintes valores: Figura 10 mostra os valores de FP para as três fases do banco.
Apoio
57

Nota-se que o fator de potência tende a aumentar


com o aumento da frequência, comprovando o descrito
anteriormente. Entretanto, registraram-se picos negativos e
positivos exatamente sobre a frequência de 60 Hz. Isso ocorreu
devido à forte interferência eletromagnética na medida, pois
os reatores avaliados estão instalados ao lado do bay de 500
kV energizado. Vale ressaltar que, se as medidas fossem feitas
apenas com 60 Hz, os resultados anotados certamente estariam
errados, pois não levariam em consideração as condições reais
Figura 9 – Reator ASEA/BROWN BOVERI, tipo RM46 (154 kV-20 kV).
do isolamento sob teste.

Diagnóstico de umidade no isolamento


Para a avaliação do conteúdo de umidade no isolamento
líquido e sólido, o emprego do método Karl Fischer, além de
amplamente utilizado, serve como dado de referência para
outros métodos, tais como os métodos de resposta dielétrica.
Entretanto, este método sempre é afetado por diversas
influências, como o ingresso de umidade do ambiente durante
a coleta, transporte e preparação da amostra. Isso compromete
os resultados e dificulta a comparação com valores referenciais.
Figura 10 – Medidas de fator de potência nas fases A, B e V.
Apoio
58

Buscando uma solução para determinação da umidade,


Manutenção de transformadores
A análise das propriedades dielétricas é dada com a
métodos de diagnóstico de dielétricos foram desenvolvidos para combinação da polarização interfacial no isolamento óleo
deduzir a umidade no papel e realiza a análise das características e papel no transformador de potência, combinando suas
do isolante. Os trabalhos da Força Tarefa D1.01.09 do Cigré características. A resposta dielétrica de isolamento pode ser
mostram a validade desses métodos. Estes trazem a promessa registrada no domínio do tempo ou no domínio frequência.
de dar maior precisão ao diagnóstico e determinação da Uma vez no domínio do tempo tem-se o registro da medida
umidade no isolamento. Métodos de diagnósticos do dielétrico de carga e descarga das correntes pelo isolamento. Este
deduzem o teor de umidade no isolamento sólido empregando procedimento é conhecido como Corrente de Polarização
os mecanismos de estabelecimento de correntes polarização e e Despolarização (Polarization and Depolarization Currents
despolarização, bem como fator de dissipação com variação de – PDC). As medidas no domínio da frequência são obtidas
frequência. A seguir é descrito o método que combina medidas pelas medições de tangente delta, com uma faixa de
no domínio do tempo e medidas no domínio da frequência. Isso frequência maior, especialmente em baixas frequências. Este
possibilita diagnósticos seguros até mesmo para isolamentos procedimento é chamado de Espectroscopia no Domínio
muito antigos. da Frequência (Frequency Domain Spectroscopy – FDS).
A combinação dessas duas técnicas reduz drasticamente a
Medidas das propriedades dielétricas duração do teste comparado com as técnicas existentes.
Sobre as propriedades do dielétrico, o isolamento de um
transformador é composto de espaçamentos preenchidos com Análise das medidas no isolamento e
óleo isolante. Sendo aplicada tensão de teste no enrolamento determinação da umidade
de alta tensão, a corrente flui na isolação principal e é medida A umidade influencia fortemente grandezas como
no instrumento de teste. Essa corrente é medida na ordem de correntes de polarização e despolarização, capacitância e
[nA] e [pA]. As propriedades medidas são a condutividade da fator de dissipação. O fator de dissipação com variação de
celulose e do óleo, além do efeito de polarização interfacial. frequência mostra uma forma de curva típica em formato de
A polarização interfacial ocorre se dois materiais com “S”. Com o aumento do teor de umidade, da temperatura ou
diferente condutividade e permissividade (óleo e papel) estão com o envelhecimento, a curva aumenta para frequências
dentro de um dielétrico. Assim, os íons em óleo viajam para mais elevadas.
o elétrodo oposto e forma uma nuvem de carga que pode
ser medida externamente como um efeito de polarização. A
polarização e a condutividade são afetadas pela geometria do
isolamento e sua composição. A medida do isolamento de um
transformador consiste na medida da superposição de vários
efeitos, tais como as propriedades do papel sozinho e do óleo
isolante, mostradas na Figura 11.

Figura 12 – Interpretação para os dados de domínio da frequência com a


discriminação entre as influências de vários fenômenos físicos.

A seguir estão os resultados do teste em transformador


WEG 230-69-13,8 KV, fabricado em 1981 e reformado em
2010. A Tabela 2 mostra os resultados na frequência de 60
Hz extraídos do teste de PDC+FDS mostrado na Figura 13. A
Figura 11 – Fator de dissipação do papel e do óleo e a sobreposição dos
efeitos na reposta global (óleo + papel). Figura 14 mostra a unidade testada.
Apoio
59

Tabela 2 – Resultado de teste em transformador de 230 KV (60 Hz)


Teste realizado Fator de dissipação Capacitância Umidade

AT – BT (CHL) 0,210% 2,4681 nF 1,2%

BT– massa (CLT) 0,226% 4,6884 nF 1,3%

Figura 14 – Transformador 230-69-13.8 KV sob teste.

• GT A2.05 – Guia de manutenção para transformadores de


potência. Cigre Brasil – Grupo de Trabalho A2.05, 2013.

Figura 13 – Resultados do teste em transformador 230-69-13.8 KV sob teste.

Referências
• ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO M. E. C. Manutenção de
transformadores de potência. Curso de Especialização em
Manutenção de Sistemas Elétricos – Unifei, 2012.
• MILASCH, M. Manutenção de transformadores em líquido
isolante. São Paulo: Edgard Blucher, 1984.
Apoio
48
Manutenção de transformadores

Capítulo IX

Análise de resposta em frequência


Diagnóstico de transformadores de potência
utilizando análise de resposta em frequência
e impedância terminal

Este texto descreve os conceitos e princípios objeto em teste diante da variação de frequência.
da aplicação da análise de resposta em frequência A indústria elétrica usa essa técnica para
e impedância terminal. Mostra a diferença entre avaliar transformadores de potência, por meio da
as duas definições (função de transferência e função de transferência, ou seja, da relação das
impedância terminal). Comumente esses dois tensões de entrada e saída do objeto em teste e
elementos são confundidos e tratados erroneamente por sua impedância terminal. Análise de resposta
como sendo um único elemento. O trabalho em frequência, geralmente conhecida dentro da
também descreve os princípios de avaliação e os indústria como FRA, é uma técnica de teste de
algoritmos utilizados como ferramenta que fornece diagnóstico poderosa. Consiste em medir a função
uma referência numérica e ajuda a equipe de teste de transferência, também conhecida como resposta
na tomada de decisão, eliminando erros na análise em frequência, e a impedância dos enrolamentos.
do resultado. Assim aumenta-se consideravelmente Essas medidas podem ser usadas como um método
a confiabilidade do ensaio. de diagnóstico para a detecção de defeitos elétricos
e mecânicos do transformador em cima de uma
Introdução larga escala de frequências. Para tal é realizada
Da eletrônica temos a designação de análise da a comparação entre a função de transferência
resposta em frequência como o estudo da relação obtida com assinaturas de referência. Diferenças
entre dois sinais alternados com a variação da podem indicar dano ao transformador que pode ser
frequência. Sua representação é realizada em investigado usando outras técnicas ou um exame
notação polar, definindo as funções amplitude e interno.
fase da resposta em frequência, evidenciando a Os transformadores são equipamentos
relação existente entre as amplitudes e a diferença essenciais em sistemas de transmissão e distribuição
entre as fases dos sinais de entrada e saída no objeto de energia elétrica. Na ocorrência de uma falta no
em teste. As representações gráficas das funções sistema, descarga atmosférica ou uma falta dentro
amplitude e fase da resposta em frequência, em do transformador, podem ser geradas altas correntes
escala logarítmica, representam as assinaturas do circulantes nas bobinas e/ou uma alta tensão
Apoio
49

sobre estas. Consequentemente ocasionam danos estruturais, diferenças entre duas assinaturas do FRA. Uma mudança na
deformações nas bobinas e/ou de isolação do equipamento, função de transferência pode ser interpretada como uma
fechando-se curto-circuito entre espiras, entre bobinas ou deformação no enrolamento com relativa facilidade. Entretanto,
destas para a carcaça (ponto de terra). é complicado estimar o correspondente grau de deformação
Danos de transporte também podem ocorrer se os do enrolamento e identificar qual a extensão da variação das
procedimentos forem inadequados, podendo conduzir ao medidas do FRA é aceitável para operação do transformador
movimento do enrolamento e núcleo. O circuito equivalente sem falhas.
de um transformador é complexo e composto de resistências,
indutâncias e capacitâncias provenientes dos enrolamentos, Definições
assim como capacitâncias parasitas entre espiras, entre bobinas Análise de resposta de frequência (Frequency Response
e destas para o tanque. Este circuito possui características únicas Analysis – FRA)
de resposta em frequência para cada transformador, funcionando Análise de resposta de frequência, comumente chamada
como uma impressão digital. Qualquer tipo de dano na sua de FRA, é uma técnica de diagnóstico utilizada para detectar
estrutura interna, tanto na parte ativa (enrolamentos e núcleo) alterações nas características da estrutura de transformadores
como na parte passiva (estrutura, suportes, tanque etc.), afeta de potência, principalmente deformações nas bobinas. Essas
diretamente os parâmetros deste circuito equivalente, o que modificações podem ser resultados de diversos tipos de
altera sensivelmente a resposta em frequência deste circuito, que problemas elétricos ou mecânicos (danos durante o transporte,
comparado à sua resposta original pode claramente evidenciar a perda de fixação de partes internas, esforços mecânicos
a falha. Um problema da análise de resposta em frequência é a causados por curto-circuito, etc.) O teste não é destrutivo e
falta de procedimento padronizado internacional para que seja pode ser usado tanto como uma ferramenta para detectar danos
feita a comparação das análises dos resultados. de enrolamento, quanto uma ferramenta de diagnóstico para
Assim, o problema a ser resolvido é a interpretação das estudo de defeitos observados em outros testes (por exemplo, o
Apoio
50

fator de potência do isolamento, análise de gases dissolvidos,


impedância de curto-circuito, etc.). FRA consiste na medida da
Manutenção de transformadores

função de transferência e na medida da impedância terminal


vista pelo sistema de medida. A medição é feita por uma
ampla gama de frequências e os resultados são comparados à Em que:
assinatura de referência ou "impressão digital" do enrolamento • A(dB): amplitude, em [dB]
para obtenção de um diagnóstico. • Vout: tensão de entrada
• Vin: tensão de saída
Método de varredura de frequência (Sweep Frequency Method)
Consiste na medida direta de uma resposta de frequência Fase da função de transferência
por meio da injeção de um sinal de frequência variável. Este A mudança de ângulo de fase da resposta relativa ao sinal
sinal é injetado em um terminal de entrada e medida a resposta injetado em função da frequência.
no terminal de saída. Também designado por análise de
resposta em frequência por varredura (SFRA – Sweep Frequency Impedância terminal (função impedância)
Response Analysis). Consiste na representação gráfica da impedância própria
de uma bobina ou da impedância vista pelo sistema de
Método de impulso de tensão (Impulse Voltage Method) medida, apresentando a relação entre o sinal de tensão
Consiste na medida indireta de uma resposta de frequência, de entrada e o sinal de corrente de entrada em função da
realizada pela injeção de um ou mais sinais de impulso de frequência, obtendo-se a Função Impedância Ui/Ii (f) e
tensão em um terminal de entrada e medida a resposta no Função Admitância Ii/Ui (f). Sua representação pode ser
terminal de saída. Se mais do que um impulso é utilizado, realizada em forma gráfica como parte real e parte imaginária
as formas de onda são diferentes, de modo a proporcionar ou como módulo e ângulo.
uma densidade mais uniforme do espectro para calcular os
resultados. As medidas, realizadas no domínio do tempo, são Autoadmitância do enrolamento
transformadas para o domínio de frequência. Quando um transformador é posto à prova por um teste de
resposta em frequência, as conexões são configuradas de tal
Amplitude da função de transferência maneira que quatro terminais são usados. Estes quatro terminais
A amplitude da resposta relativa ao sinal injetado determina podem ser divididos em dois pares originais, em um par para
a função de transferência de tensão, geralmente expresso em a entrada e em outro par para a saída. Estes terminais podem
dB. O resultado corresponde à medida sobre a admitância ser modelados em um par de terminais duplos ou em uma
testada, com a relação entre a tensão de entrada e a tensão de configuração como uma rede de duas portas. A Figura 2 mostra
saída, calculado como: esse modelo.

Figura 1 – Esquemas básicos de conexão: (a) Conexão para medida da função de transferência (b) Conexão para medida da impedância terminal.
Apoio
52

Z(jω) deste elemento. A grande maioria dos instrumentos


Manutenção de transformadores

de medida e arranjos de ensaio não fornece a medida da


impedância, eles o calculam em função de uma impedância
de referência. Quando o instrumento utilizado não é capaz
de medir a impedância, utiliza-se o recurso de substituir
uma corrente pela tensão de saída. Os arranjos de teste são
Figura 2 – Representação do quadripolo baseados no circuito apresentado pela Figura 3b, em que
Vfonte é o sinal injetado e Ventrada e Vsaída são as medidas
da tensão de referência e de teste. Zfonte é a impedância
interna do gerador de sinais ou do analisador de redes e
Z(jω) é a impedância do enrolamento. Uma impedância
Na diagonal da matriz [Y], Yii é a autoadmitância do nó
Zfonte é definida como 50 Ω, por exemplo, e incorporada
i, ou seja, é a soma de todas as admitâncias conectadas ao
em H(jω). As equações 3 e 4 mostram o relacionamento de
nó i. Na prática, esta é a admitância medida pela aplicação
Z(jω) a H(jω), com a representação das tensões no domínio
de uma tensão a uma extremidade de um enrolamento e
da frequência.
da medição da corrente por meio da outra extremidade do
enrolamento. Esses resultados são obtidos por meio das
medidas de impedância terminal do transformador sob
teste.

Admitância entre os enrolamentos


Segundo (2), Yij é a admitância entre enrolamentos ou a
admitância de acoplamento entre os nós i e j.

Representação da impedância do elemento em teste Detecção de falhas no transformador


pela função de transferência A impedância do transformador é, principalmente, um
Não se trata da medida de impedância terminal, mas valor combinado da composição do enrolamento (resistências,
apenas da representação gráfica relativa à impedância reatância de fuga e capacitâncias) e os componentes de
vista pelo sistema de medida, segundo os resultados excitação (condutância, susceptância e capacitância). Os
obtidos pela função de transferência. Quando é realizada componentes indutivos (L) e capacitivo (C) são responsáveis
a medida da função de transferência H(jω), não é medida pela característica transitória e pelas de ressonâncias, em que a
a impedância do elemento em teste, ou seja, obtém-se a reatância indutiva é igual a reatância capacitiva. A frequência
relação das tensões de entrada e saída e não a impedância de ressonância fr é dada por (5).

Figura 3 – (a) Princípio básico de conexão para medida do SFRA. (b) Circuito básico para teste.
Apoio
53

medidas do FRA é aceitável para operação do transformador


sem falhas. As análises são feitas por pessoas capacitadas,
porém, há o risco de serem julgadas de maneira subjetiva.
Por isso, a necessidade de um algoritmo que permita a
Conforme descrito, as técnicas de análise de resposta
determinação qualitativa e quantitativa de duas assinaturas
em frequência são capazes de detectar diversos pontos de
de FRA relacionadas com uma determinada faixa de
ressonância. Portanto, é possível estimar as localizações
frequência. Para iniciarmos a discussão sobre os modelos
das alterações locais que não puderam ser detectados por
matemáticos aplicados a análise de falha nos testes de
meio de técnicas de diagnóstico convencionais.
reposta em frequência, definimos FT como função de
transferência.
Algoritmos para análise
Desvio entre funções de transferência
Um problema da análise de resposta em frequência é a falta
O cálculo do desvio ou erro entre uma FT de referência
de procedimento padronizado internacional para que seja
e uma FT de teste é o método mais fácil de mostrar as
feita a comparação das análises dos resultados. Assim, o
diferenças. Chamaremos essa diferença de função erro
problema a ser resolvido é a interpretação das diferenças
representada por Δ0(f).
entre duas assinaturas do FRA. Uma mudança na função de
transferência pode ser interpretada como uma deformação
no enrolamento com relativa facilidade. Entretanto, é
complicado estimar o correspondente grau de deformação A desvantagem deste método é que a função erro
do enrolamento e identificar qual extensão da variação das é calculada de maneira não uniforme pela faixa de
Apoio
54

frequência. É necessário realizar uma normalização da cepp.com.cn da empresa China Electric Power Publishing
Manutenção de transformadores

função erro para ficar independente da resposta da função Co. O algoritmo avalia a similaridade de duas respostas
erro aplicada às funções de transferências consideradas. em frequência de enrolamentos de transformadores (duas
Uma possibilidade é padronizar o valor médio da FT de assinaturas) pelo cálculo dos fatores RLF, RMF e RHF (ver
referência, |FTRef(f)| como mostrado em (5). Com isto, Tabela 1 – Fatores de avaliação de enrolamentos de acordo
o peso da função erro é o mesmo em toda a faixa de com a norma DL/T911-2004). Para entendimento básico do
frequência. A esperança E[Δ1(f)] descreve o erro relativo cálculo que envolve esse algoritmo, o cálculo dos fatores é
médio da FT de teste. Se a FT de teste e a FT de referência mostrado a seguir.
forem idênticas seu valor será zero. Também se Δ0(f) for
zero, isso significará apenas ruído.

O desvio padrão é uma medida da variação do erro que


significa a distribuição estatística dos valores da função erro,
dada pela raiz quadrada positiva da variância. O desvio padrão
é zero para uma diferença constante entre as funções de
transferências.

Fator de correlação cruzada


O fator de correlação é a medida da similaridade entre duas
Em que X(k) e Y(k) são sequências comparáveis da
curvas. No caso de variáveis discretas aleatórias, é definida
resposta em frequência com comprimento N. O fator
como o quociente entre a covariância (Cov) e o desvio padrão
Rxy avalia em diferentes valores das escalas os fatores de
(σ) dessas variáveis.
avaliação do enrolamento, conforme os dados mostrados na
Tabela 1. Usando os fatores de avaliação do enrolamento
apresentados, as condições de deformação do enrolamento
do transformador são definidas na Tabela 2.

O fator de correlação pode assumir valores apenas entre


Tabela 1 – Fatores de avaliação de enrolamentos de acordo com a
-1 e +1. Uma completa correlação linear positiva (negativa) norma DL/T911-2004

de duas variáveis aleatórias é dada por um valor de +1(-1) Fator de avaliação do Escala de frequência
e uma correlação não linear é dada pelo valor do fator enrolamento
RLF 1 kHz ..... 100 kHz
de correlação igual a zero. O fator descreve o nível de
RMF 100 kHz ..... 600 kHz
dependência linear entre duas variáveis aleatórias. Se duas
RHF 600 kHz ..... 1 MHz
variáveis aleatórias são consideradas como dois vetores
N-dimensionais, o fator de correlação pode ser interpretado
como o cosseno do ângulo entre os dois vetores. Tabela 2 – Avaliação de enrolamentos de acordo com a norma DL/
T911-2004
Grau de Deformação do Fator de Avaliação do
Padrão chinês de análise do FRA – Norma DL/T911- Enrolamento Enrolamento
2004 Enrolamento normal (Normal winding) RLF ≥ 2,0 E RMF ≥ 1,0 E RHF ≥ 0,6
Deformação leve (Slight deformation) 2,0 > RLF ≥ 1,0 OU 0,6 ≤ RMF < 1,0
DL/T911-2004 é uma norma para análise da resposta
Deformação óbvia (Obvious deformation) 1,0 > RLF ≥ 0,6 OU RMF < 0,6
em frequência usada na República Popular da China. Para
Deformação severa (Severe deformation) RLF < 0,6
maiores detalhes o usuário pode visitar o website www.
55

A norma chinesa mostra-se uma boa tentativa para


apoiar as avaliações de ensaios de resposta em frequência,
mas atualmente não podemos assegurar sua plena utilização
sem a análise do testador. Uma possível solução seria a
integração de vários algoritmos.

Referências
• PAULINO, M. E. C. Diagnóstico de Transformadores e
Comparações entre Algoritmos para Análise de Resposta
em Frequência. V WORKSPOT- International Workshop on
Power Transformers, Belém, PA, Brasil, 2008.
• CIGRÉ Report 342 WG A2.26. Mechanical condition
assessment of transformer windings: Guidance Technical
Brochure CIGRE Study Committee A2 – Work Group A2.26,
2008.
• PAULINO, M. E. C. et al. Aplicações de Análise de Resposta
em Frequência e Impedância Terminal para Diagnóstico de
Transformadores. XIII ERIAC – Décimo Terceiro Encontro
Regional Ibero-americano do CIGRÉ , Foz do Iguaçu,
Argentina, 2009.
• SANO, T. K. M. Influence of Measurement Parameters on
FRA Characteristics of Power Transformers” Proceedings of
the 2008 International Conference on Condition Monitoring
and Diagnosis. Beijing, China, April 21-24, 2008.
• Frequency Response Analysis on Winding Deformation of
Power Transformers, The Electric Power Industry Standard of
People´s Republic of China, Std. DL/T911-2004, ICS27.100,
F24, 2005.
• IEEE PC57.149/D6, Draft Trial Use Guide for the
Application and Interpretation of Frequency Response
Analysis for Oil Immersed Transformers, april 2009.
Apoio
48
Manutenção de transformadores

Capítulo X

Avaliação de descargas parciais


Uso de medição com sistemas digitais de
múltiplos canais sincronizados para avalição
de transformadores com descargas parciais

Este artigo apresenta definições, descrição dos de procedimentos e ferramentas que possibilitem a
efeitos, além de técnicas para análise de descargas obtenção de dados das instalações de forma rápida
parciais. Mostra um sistema de aquisição síncrono e precisa.
multicanal de descargas parciais, onde é possível A norma IEC 60270 define descargas parciais
obter dados a partir de fontes separadas de descargas como descargas elétricas localizadas na união entre
parciais. No teste de descargas parciais, a separação dois condutores, por meio do isolamento, que pode
de múltiplas fontes de ruídos é importante para uma ou não ocorrer próximo de um condutor. Descarga
análise adequada de descargas parciais. Sistemas parcial é, em geral, a consequência de uma
de medição de múltiplos canais sincronizados concentração de estresses elétricos em isolamentos
fornecem novas e avançadas técnicas de avaliação ou em superfície de isolamentos. A medição
de descargas parciais como 3FREQ, 3PTRD e 3PARD. síncrona de múltiplos canais é uma poderosa
ferramenta na detecção, localização e separação
Introdução de sinais de descargas parciais de ruídos de fundo
A indústria elétrica é forçada a manter as antigas quando da realização de testes em transformadores
instalações em operação devido à crescente pressão trifásicos, motores, geradores e cabos.
para reduzir custos. Além disso, os equipamentos Tal método permite que o mesmo sinal seja
elétricos instalados em subestações podem ser detectado em mais de um medidor simultaneamente.
solicitados a operar sob diversas condições Isto é fundamental para o processo de localização
adversas e não se pode descartar a possibilidade e diferenciação das diversas fontes geradoras de
de ocorrerem falhas que deixem indisponíveis descargas internas que podem ser provenientes
as funções transmissão e distribuição de energia do efeito corona, descargas do tipo superficiais,
elétrica aos quais pertencem. Assim, a verificação descargas geradas em gaps que são comuns
regular das condições desses equipamentos torna-se principalmente em geradores, motores e descargas
cada vez mais importante, seja no comissionamento, provenientes dos próprios elementos do circuito de
nas atividades de manutenção preventiva ou medição como a fonte de tensão que alimenta o
processos de reparo. Torna-se imperativo a busca circuito, filtros, transformadores elevadores, buchas
Apoio
49

capacitivas e capacitores de acoplamento. fontes separadas de descargas parciais, a fim de fazer medições
Neste texto, são apresentadas definições de descargas mais confiáveis.
parciais internas que são geradas devido a contaminação
do isolante, defeito de fabricação de resinas e até mesmo Definição de descargas parciais
deterioração de componentes. Os requisitos de hardware Uma Descarga Parcial (DP) é caracterizada como uma
para o teste visando à realização de medidas adequadas são descarga elétrica de pequena intensidade que ocorre em uma
observados. As características como taxas de amostragens e região de imperfeição de um meio dielétrico sujeita a um
imunidade a ruídos são especialmente tratadas na concepção campo elétrico, em que o caminho formado pela descarga não
do sistema de teste descrito. une as duas extremidades dessa região de forma completa.
Este trabalho apresenta um novo método que trata a A ocorrência de descarga parcial depende da intensidade do
separação entre o sinal medido e o ruído provocado por campo aplicado nas extremidades desse espaço, além do tipo
interferências externas. Assim, é possível separar ruídos de tensão de teste aplicada (tensão alternada, tensão contínua,
de diferentes fontes de descargas parciais localizadas no sinal transitório ou impulso).
mesmo objeto sob teste. Os sinais de descargas parciais são A norma IEC 60270 faz referência à medida de descargas
frequentemente sobrepostos por pulsos de ruído, fato que faz parciais em sistemas e equipamentos elétricos com tensões
uma análise dos dados de DP mais difícil para os especialistas alternadas de até 400 Hz. Nesses equipamentos, tem-se a
e sistemas de software especializados. ocorrência de avalanches de elétrons nos espaços vazios.
Com o desenvolvimento contínuo de unidades de teste e Assim, descargas em dielétricos podem ocorrer somente em
monitoramento de descargas parciais, os sistemas de análise espaços gasosos ou fissuras nos materiais sólidos ou bolhas no
precisam se tornar mais eficazes e automáticos. Esse trabalho dielétrico líquido.
mostra um sistema de aquisição síncrono multicanal de Portanto, descargas parciais são iniciadas geralmente se a
descargas parciais, no qual é possível obter dados a partir de intensidade do campo elétrico dentro do espaço vazio exceder
Apoio
50

a intensidade do campo do gás contido nesse espaço. O pulso isolamentos sólidos podem ocorrer em cavidades capilares
de carga criado geralmente tem valores em torno de alguns pC de gás, em vazios ou trincas, podendo ser estabelecidos em
Manutenção de transformadores

até na ordem de nC, dependendo do aparato que está sendo defeitos da estrutura molecular. Nos isolantes líquidos, as
analisado. descargas parciais podem ocorrer em bolhas de gás devido a
A norma IEC 60270 define Descarga Parcial como: fenômenos térmicos e elétricos e em vapores de água criados
“Descargas elétricas localizadas que simplesmente faz a ligação em regiões de alta intensidade de campo elétrico.
parcial entre dois condutores através do isolamento. Descarga Um tipo particular de descargas internas são as descargas
Parcial é, em geral, a consequência de uma concentração de que ocorrem em arborescências elétricas. A arborescência
tensão elétrica local no isolamento ou sobre uma superfície de (treeing) elétrica é um fenômeno de pré-ruptura que ocorre no
isolamento. Geralmente, tais descargas aparecem como pulsos interior da isolação de equipamentos elétricos, tais como cabos
com a duração menor que 1 μs”. de potência isolados, tendo sua origem devido à ocorrência
As descargas parciais podem ser classificadas de acordo contínua de descargas parciais internas em vazios ou a partir
com a natureza da sua origem. Podem ser do tipo superficial, de uma falha no eletrodo. Este texto considera a partir deste
corona, buraco interno, contaminante em resinas, bolhas de ponto que o termo descarga parcial será sempre utilizado para
gases em dielétricos líquidos, entre outros. designar descarga parcial interna.

Descargas superficiais Sistemas de medidas analógicas de


Elas ocorrem em gases ou líquidos na superfície de um descargas parciais
material dielétrico, normalmente partindo do eletrodo para a As medidas analógicas de descargas parciais começaram na
superfície. Se a componente de campo elétrico que tangencia década de 50 com instrumentos que abriram caminho para a
a superfície excede um determinado valor crítico, o processo medida de carga aparente com pC no lugar das medidas de RIV
de descarga superficial é iniciado. Esse processo é conhecido (Tensão de Rádio Interferência) em µV.
como trilhamento e pode levar à ruptura completa da isolação. Esses instrumentos têm frequência central fixa e com as
frequências de corte inferior e superior ajustadas em etapas.
Descargas externas A largura de banda estabelecida de 100 kHz a 400 kHz.
Descargas parciais no ar ambiente geralmente são Em comparação com os instrumentos de banda estreita, a
classificadas como “descargas externas” e, frequentemente, resolução para medida dos pulsos de descargas parciais foi
chamadas de “descargas corona”. No início do processo de significativamente aperfeiçoada. Geralmente, esses instrumentos
indução da tensão, brilho e correntes de descargas podem analógicos de descargas parciais consistiam em um filtro de
aparecer. Elas ocorrem em gases a partir de pontas agudas em passagem de banda e um indicador de nível de pico.
eletrodos metálicos em partes com pequenos raios de curvatura. Desde que o filtro de passagem de banda extraía pulsos de
Isso forma regiões nas vizinhanças dessas pontas com descargas parciais onde a densidade espectral é constante, o
elevado campo elétrico, ultrapassando o valor de ruptura do pico da resposta do filtro será proporcional à carga aparente do
gás. Esse processo químico desencadeado por descargas no gás pulso de corrente de descargas parciais.
cria subprodutos que são incorporados ao meio gasoso. Assim,
os processos no ar ambiente puro podem ser considerados
como reversíveis e geralmente inofensivos. Entretanto,
descargas corona no ar geram ozônio, causando fissuras na
isolação polimérica. Óxidos de nitrogênio junto com o vapor
d’água podem corroer metais e depositar material condutor em
isoladores. Isso causa o trilhamento do material. Figura 1 – Representação de esquema tradicional de medida de DP.

Descargas internas A saída do filtro de passagem de banda era correlacionada


As descargas internas ocorrem nos espaços geralmente à fase de tensão de corrente alternada e representada pelo
vazios preenchidos com gás, presentes nos materiais sólidos e diagrama de amplitude e fase PRPD (phase-resolved partial
líquidos usados em sistemas de isolamento. As descargas em discharge). O primeiro catálogo para reconhecimento da
Apoio
52

origem de descargas parciais, publicado pelo Cigré em 1969 se


Manutenção de transformadores
O sinal de descargas parciais é filtrado, amplificado e
aproximava muito desses valores. Desde aquele tempo, houve digitalizado em tempo real. O operador do sistema de teste
muito pouco avanço com relação ao conjunto de circuitos de pode escolher livremente a frequência central de medida de
medição, dependendo de conjunto de circuitos analógicos CC a 20 MHz, sendo a largura de banda selecionável de 9
convencionais para o processamento de sinais. kHz a 3 MHz. Isso permite ao operador aperfeiçoar a relação
Com o uso de equipamentos microprocessados na sinal-ruído, mesmo sob ambientes com alta interferência.
medida de descargas parciais, utilizando uma nova interface A sincronização de sinais alternados, bem como a exibição
para gerenciar o teste e obter os resultados, foram realizadas da forma de onda e leitura da amplitude desse sinal CA, é
tentativas de classificação de descargas parciais. Entretanto, realizada por um segundo conversor analógico digital,
esses sistemas tinham poucos parâmetros nos quais se basear, responsável pela digitalização da forma de onda de tensão
com resultados limitados. medida.
Toda a aquisição e pré-processamento de dados são
Sistema de medidas digitais de descargas efetuados na unidade de aquisição, próximo ao local da
parciais medida do sinal. Isso garante um ótimo desempenho em
A introdução de sistemas digitais de medida de velocidade de medida e qualidade de sinal. Um vetor de
descargas parciais resultou na melhoria da sensibilidade e da quatro parâmetros é identificado para cada pulso individual
repetibilidade das medidas de descargas parciais, excedendo de descarga parcial: [n; qi; ji; ti], em que n é o número da
em muito as capacidades daqueles sistemas mais antigos de unidade de aquisição, qi o valor da carga aparente, ji o ângulo
medida de descargas parciais. Os modernos sistemas digitais de fase em tensão CA, e ti o registro de tempo absoluto.
de descargas parciais aplicam processamento síncrono de Paralelamente é feita a amostragem do valor instantâneo da
sinais dessas descargas em múltiplos canais. Isso torna a análise tensão em CA.
estatística muito mais eficiente. Torna possível e mais eficaz a Ao lado de algoritmos matemáticos de análise de descargas
discriminação entre os eventos, sejam descargas parciais ou parciais utilizados em medidas de descargas parciais em um
ruídos, e capacita também o sistema de teste para identificação único canal, podem-se obter enormes vantagens utilizando a
dos tipos de falhas e sua localização. medida síncrona de várias posições em associação. Isso pode
O moderno e avançado sistema digital de medição de ser realizado em cabos de alta tensão de alguns quilômetros
descargas parciais está projetado para efetuar medidas em de comprimento, com medidas de descargas parciais em suas
tempo real de DP contínuas e síncronas em canais múltiplos. conexões ou em um transformador de potência trifásico com
A Figura 2 mostra um exemplo de projeto para um sistema medidas de descargas parciais em cada enrolamento.
de medição de descargas parciais. O projeto desse sistema é Em decorrência dos diferentes locais de origem, os pulsos
modular, constituído de mais de uma unidade de aquisição de de descargas parciais e as interferências se propagam por
dados. Essas unidades podem ser conectadas a um computador, diferentes trajetos até serem requisitados pelo sistema de
e a conexão de fibra ótica permite grandes distâncias entre a medição de descargas parciais. As formas de onda de pulsos
unidade de aquisição e o computador, inclusive entre as outras detectados serão consequentemente diferentes, e assim
unidades conectadas ao sistema sob medida. relações de magnitudes e tempos de chegada do sinal serão
únicas para cada origem de descargas parciais.
As relações entre os diferentes pulsos requisitados por
um sistema multicanal possibilitam a separação distinta dos
pulsos diferentes de descargas parciais e interferência. Para
assegurar a correlação correta de pulsos, o espaço de tempo
da detecção síncrona de descargas parciais deve ser tão curto
quanto possível, tipicamente inferior a 1 µs ou 2 µs.
A Figura 3 apresenta uma vista ilustrativa de um sinal
de descargas parciais dentro da unidade do sistema, desde
a conversão Analógica/Digital do sinal até a extração dos
Figura 2 – Representação de esquema microprocessado de medida
parâmetros do pulso em um sistema de três canais.
de descargas parciais.
Apoio
53

Avaliação dos resultados de descargas


parciais
As medidas de descargas parciais são frequentemente
realizadas sob ruídos. O sinal de descarga parcial é sobreposto
por um ruído, ou mesmo vários ruídos de várias fontes, criando
dificuldades para análise dos resultados. Os filtros de frequência
convencionais não são capazes de eliminar essas perturbações
Figura 3 – Processamento de dados de DP em canais múltiplos com e os sistemas especialistas automatizados têm dificuldades
três unidades de aquisição de DP.
em analisar no caso de ocorrência de falhas múltiplas, com a
superposição dos sinais dessas falhas e de ruídos externos. A
A extração dos parâmetros do pulso possibilita velocidades separação dos sinais é o primeiro passo realizado pelo sistema
de processamento de dados em tempo real de até 1,5x106 apresentado neste trabalho. No futuro, este método se tornará
pulsos por segundo. A essa velocidade, os parâmetros ainda mais importante com o aumento do número de sistemas de
selecionados dos pulsos de três diferentes unidades de monitoramento de descargas parciais instalados na rede elétrica.
aquisição podem ser correlacionados e exibidos em
diferentes diagramas de avaliação: 3PARD, 3PTRD e 3CFRD. Diagrama de relação de amplitude em 3 fases (3 – Phase –
Cada um desses diagramas separa diferentes origens de tipos Amplitude – Relation – Diagram – 3PARD)
de pulsos em agrupamentos. Além disso, cada agrupamento A aquisição síncrona de dados de descargas parciais para
é selecionável para exibir de volta na configuração PRPD, as três fases de um equipamento de alta tensão permite uma
apresentando ao operador uma única origem de descargas comparação da amplitude de cada pulso requisitados. A Figura
parciais para observar. Estes três métodos são descritos a 4 mostra a ocorrência de uma falta interna na fase L1, com a
seguir. propagação dos pulsos para cada fase representados em azul.
Apoio
54
Manutenção de transformadores

Figura 4 – Ocorrência de falha interna em L1 e propagação dos pulsos. Figura 5 – Criação de 3PARD usando sinais de tensão de Descargas
Parciais.
As relações das amplitudes dos pulsos triplos requisitados
são constantes para diferentes fontes de descargas parciais e
para diferentes fontes de ruído. Isso ocorre devido ao caminho
original de propagação de descargas parciais. Para ocorrências
internas específicas no equipamento sob teste, os pulsos
requisitados apresentam diferenças. Assim, a primeira etapa
para a localização de descargas parciais é a separação das
fontes. Durante a medição de DP, em tempo real, são criados
Diagramas Trifásicos de Relação de Amplitude (do inglês 3 –
Phase – Amplitude – Relation – Diagram – 3PARD).
A separação de fonte 3PARD foi usada na prática com
resultados confiáveis, conforme descrito em várias publicações Figura 6 – Representação de 3PARD com a separação dos sinais
individuais.
científicas. Vale ressaltar que a aquisição de dados síncrona de
DP é imprescindível para avaliação dos dados com 3PARD. O Diagrama de relação de tempo em 3 fases (3 – Phase –
sistema utilizado neste trabalho possui um método de medição Time – Relation – Diagram 3 PTRD)
sequencial de três canais múltiplos. A primeira etapa é calcular o Usando o princípio do 3PARD, este método é resultado
logaritmo do valor absoluto de todos os três pulsos das descargas. da avaliação do atraso do pulso triplo de descarga parcial.
Na segunda, cada pulso é transformado em um fasor Similar ao método conhecido pelo teste de descargas
relacionado à sua fase de origem. A Figura 5 mostra o parciais, usado para localização de falhas com cabos de
mecanismo de geração do 3PARD e à direita os sinais de tensão alta tensão, cada fonte de pulso tem uma impressão digital
de cada fase são observados. Quando os fasores relativos a característica com diferenças de tempo devido ao atraso de
cada fase medida são transportados para o diagrama, é obtida cada pulso.
a localização da fonte de descarga parcial interna pela soma Se a origem das descargas parciais estiver distante do
vetorial, conforme mostrado no quadro à esquerda. local da detecção, as amplitudes de pulso de uma descarga
Um único sinal de descarga parcial é representado por parcial tendem a se igualar entre as fases e apresentarão
um ponto. Cada agregação de pontos calculados (clusters) um modo comum de propagação. Consequentemente,
representa a única fonte de descarga parcial. Posteriormente, origens de descargas parciais muito distantes serão exibidas
cada grupo pode ser facilmente separado e mostrado sem efeitos próximas da origem do 3PARD, limitando a capacidade
de sobreposição, transformado em uma PRPD clássica ou de identificar essas origens. Além disso, a propagação distante
qualquer outro diagrama de pulso para avaliação em tempo real. amortece componentes de alta frequência dos sinais de
O sistema de teste utilizado fornece a ferramenta de criação descargas parciais (efeito passa baixa), o que exige o uso
de cluster, ou seja, áreas determinadas no 3PARD de onde são de baixa frequência de medida para manter a sensibilidade
separados os sinais que, a priori, aparecem sobrepostos. A Figura necessária.
6 mostra o 3PARD com a separação dos sinais. Em baixas frequências de medida, os pulsos de descargas
Apoio
56

parciais se propagam em modo lento (propagação pela três pulsos sejam detectados quase ao mesmo tempo, o
Manutenção de transformadores

linha de transmissão). Portanto, a distância de propagação comprimento do vetor seria zero, o que faz o ponto ser
e o tempo de chegada estão diretamente correlacionados, exibido na origem do diagrama (Figura 8, III).
o que pode ser usado para distinguir origens de descargas
parciais muito distantes. Assim, o 3PTRD foi desenvolvido Diagrama de relação de frequências em 3 canais (3 –
para correlacionar tempos de chegada de três sinais de Center – Frequency – Relation – Diagrama – 3 CFRD)
descargas parciais. A Figura 7 mostra a construção lógica O diagrama da relação de frequências correlaciona a
do 3PTRD e o diagrama está dividido em seis seções iguais, medida de descarga parcial realizada em três frequências
em que é apresentada cada uma das seis combinações simultaneamente. A amplitude do sinal é medida em cada
possíveis de pulsos triplos. frequência. Assim, o sinal de saída de três filtros com
A Figura 8 apresenta uma visualização de diferentes frequências centrais e/ou diferentes larguras de banda
diferenças de tempo entre os pulsos de PD detectados nas permite análise do pulso em cada um dos três pontos de
fases L1, L2 e L3. Por exemplo, se a diferença de tempo medida. Isso se deve ao fato de que, devido à descarga
entre os primeiros dois pulsos for muito pequena, então o física, diferentes tipos de descargas parciais ou pulsos de
ponto resultante seria exibido entre os eixos geométricos ruído têm espectros de energia diferentes.
onde esses pulsos são detectados (Figura 8, I). Se os dois Em contraposição aos métodos 3PARD e 3PTRD, a
últimos pulsos ocorrerem quase simultaneamente, o ponto avaliação pelo 3CFRD não exige necessariamente três
resultante seria exibido sobre o eixo geométrico onde o unidades independentes de aquisição, pois pode ser usado
primeiro pulso é detectado (Figura 8, II). Caso todos os com uma única unidade de aquisição. Em geral, o primeiro
filtro de passagem de banda deve ser sintonizado para uma
frequência central baixa, a fim de possibilitar o atendimento
às normas técnicas IEC ou IEEE.
A segunda e terceira passagens de banda são sintonizadas
para frequências mais elevadas, determinadas pelo
responsável pelo teste, em que os efeitos da propagação
dos pulsos causam diferenças já distinguíveis nas respostas
espectrais do sinal de descarga parcial medido. Mediante a
escolha correta das frequências para passagem de banda,
torna-se possível efetuar medições de descargas parciais em
conformidade com as normas técnicas. Ao mesmo tempo se
remove praticamente toda a interferência sobreposta.
O 3CFRD correlaciona a saída dos três filtros de
Figura 7 – Segmentos de visualização de 3PTRD para seis diferentes
ordens de chegada de pulsos.

Figura 8 – Visualização de diferenças de tempo entre os três pulsos de Figura 9 – Exemplo de representação FFT para classificação dos pulsos de
DP dentro do segmento L1. descargas parciais com a determinação de três filtros de passagem de banda.
Apoio
58

passagem de banda de uma maneira semelhante ao 3PARD


Manutenção de transformadores

com a utilização das amplitudes de pulso de três canais


de descarga parcial. A Figura 9 mostra um exemplo de
representação FFT de pulsos de descarga parcial com a
determinação de três filtros de passagem de banda.
Um exemplo de medida evidenciando ruído e corona é
mostrada na Figura 10. Uma vez determinada as frequências,
os resultados de teste de descargas parciais é apresentado
em um 3CFRD. No diagrama pode-se realizar a separação
dos sinais individuais com a marcação de clusters. A Figura Figura 12 – Representação de amplitude e fase (PRPD).

14 mostra um exemplo com a construção de 3CFRD e a


separação de clusters. Considerações finais
Os modernos sistemas digitais de detecção de descargas
parciais utilizam um sistema de aquisição síncrono
multicanal, em que é possível obter dados a partir de fontes
separadas descargas parciais e discriminá-las de outras
origens. No teste de descargas parciais, a separação de
múltiplas fontes de ruídos é importante para uma análise
adequada de descargas parciais. Foi mostrado que, com
técnicas de avaliação de descargas parciais como 3FREQ,
3PTRD e 3PARD, é possível realizar uma análise adicional
e localizar descargas parciais.

Referências
IEC 60270. High-voltage test techniques – partial discharge
measurements. Third edition, 2000.
Figura 10 – Resultados de teste de descargas parciais sobrepostas.
CIGRÉ WG 21.03. Recognition of discharges. Electra
Magazine, n. 11. Paris, 1969.
KOLTUNOWICZ, W.; PLATH, R.; WINTER, P. Developments
in Measurements of Partial Discharge. OMICRON electronics
GmbH. Austria, 2009.
OMICRON ELECTRONICS. MPD 600 User Manual, Version:
MPD600.AE.2. Austria, 2009.
PAULINO, M. E. C. Estado da arte da medição com múltiplos
canais sincronizados para avaliação de descargas parciais.
Proc. 2010 IEEE Power Engineering Society Transmission
and Distribution Conf. São Paulo, 2010.

Figura 11 – Resultados de teste de descargas parciais com a


apresentação de 3CFRD com a separação dos sinais individuais nos
clusters marcados.

Para cada cluster os eventos de descargas parciais podem


ser separados e recalculados em tampo real, provocando uma
limpeza no PRPD (phase-resolved partial discharge). A Figura
12 mostra o resultado para o cluster do diagrama mostrado na
Figura 11.
Apoio
52
Manutenção de transformadores

Capítulo XI

Avaliação da condição de
transformadores de potência
Determinação da Condição de
Transformadores de Potência
para Avaliação da Vida Útil

A avaliação da condição de um transformador devem ser estabelecidos além de critérios de


consiste na realização de um conjunto de testes de avaliação do transformador, um padrão de registro
diagnósticos para análise do estado de operação dos dados para esta avalição, com índices,
deste equipamento e estimar a sua posição atual nomenclaturas e estágios para quantificação. No
em relação ao seu ciclo de vida. Há a necessidade Gerenciamento do Ciclo de Vida de Transformadores
de sistematizar a análise com a combinação de de Potência é definido o processo de Avaliação da
diferentes métodos de diagnósticos e mapear os Condição (AC) com um de seus principais itens.
resultados em um modelo de condição que oriente Na literatura, o termo “Avaliação da Condição” é
o ciclo de vida do transformador de potência. Este comum tanto para atividades de monitoramento
trabalho mostra um exemplo de metodologia para quanto para procedimentos de diagnóstico.
satisfazer esta necessidade. Entretanto, é importante salientar que o principal
objetivo da AC é a realização de diagnósticos.
Introdução Avaliação da Condição é definida neste trabalho
De acordo com a metodologia de MCC - como o desempenho de um conjunto de testes
Manutenção Centrada na Confiabilidade (RCM - de diagnósticos (conforme a necessidade de cada
Reliability-Centered Maintenance), as instalações caso) para diagnosticar o estado operacional do
são conjuntos de sistemas, concretos ou abstratos, transformador e a estimativa da atual posição deste
onde se procura um método ou procedimento para transformador em seu ciclo de vida. Esta definição
definir uma relação de finalidade. Esta relação deve é parecida com a definição dada pelo grupo de
ser estabelecida de acordo com a característica trabalho Cigré WG A2.18, Guia para Técnicas de
do sistema, da instalação ou equipamento, Gestão de Vida para Transformadores de Potência.
estabelecendo um objetivo a ser atingido. Assim, Como mostrado neste trabalho do Cigré, a AC deve
53

ser tão objetivamente e consistentemente aplicada quanto


possível e “idealmente um sistema de graduação deve ser usado
para quantificar e combinar os resultados de vários testes de
avaliações de condição”.
Na busca de um sistema de graduação para quantificar e
combinar os resultados, a literatura apresenta alguns trabalhos
de pesquisa com avaliação da condição na forma de um sistema
de pontuação (geralmente chamado de Índice de Condição, IC).
Entretanto, o tratamento dos dados apresentado nesses
trabalhos não considera a integração de todos os pontos
importantes (monitoramento online, métodos tradicionais e
métodos avançados de diagnósticos) em um procedimento
único.
A utilização de agentes múltiplos é proposta neste trabalho
para a implementação de estratégias de AC de transformadores
considerando todos os itens importantes para análise.
Define-se os agentes que interagem dentro de uma ferramenta
computacional e fazem parte dos sistemas. Sistemas com vários
agentes são compostos por múltiplos elementos (6).
Dentro das ferramentas computacional, os agentes
possuem basicamente duas competências importantes para
o desenvolvimento da análise da condição. Essas definições
devem ser levadas em consideração ao longo desse trabalho, a
saber:

• Os agentes são, pelo menos para algumas extensões, capazes


de ações autônomas, e;
• Os agentes podem ser capazes de interagir com outros
agentes.

Portanto, pode-se também afirmar que cada técnica de


monitoramento e diagnóstico é visto como um agente capaz de
prover um julgamento da condição do transformador.
Cada um desses agentes é desenvolvido utilizando
técnicas de Data Mining, ou seja, a exploração de grandes
quantidades de dados à procura de padrões consistentes, como
regras de associação ou sequências temporais, para detectar
relacionamentos sistemáticos entre variáveis, ou métodos de
Inteligência Artificial, assumindo como referência o histórico
do equipamento, ou seja, o conhecimento coletado ao longo
de anos pelo pessoal técnico. Esses dados são armazenados
em bando de dados próprio e assumidos como conhecimento
prioritário para as análises. A seguir o trabalho tratará da
metodologia usada para AC e apresentará exemplos de análises
em transformadores.
Apoio
54

Definição de descargas parciais Uma análise detalhada de modelos de falha e suas


Sendo a condição de degradação de um transformador um causas, sintomas e consequências é realizada utilizando
Manutenção de transformadores

processo continuo no tempo, um valor numérico pode ser obtido FMEA (Análise do Modo e Efeito da Falha). Os resultados
em cada estágio representado por um Índice de Condição (IC) são usados para a definição de uma matriz de detecção
do transformador em cada intervalo de tempo. Essa condição e diagnóstico de falhas (DDF) mostrado na Tabela 2. A
ao longo do tempo pode ser dividida em cinco estágios, descrição das abreviações usadas na matriz para os métodos
conforme sugerido por Cigré WG A2.18, sendo a condição em de diagnósticos é apresentada na Tabela 1.
cada estágio também dividida em diferentes estados. A Figura 1 Tabela 1 – Métodos de Detecção e Diagnóstico
mostra a hierarquia do IC. Abreviação Descrição
DGA Análise dos Gases Dissolvidos no óleo
PCA Análise físico-química do óleo
COND Condutividade do Óleo

Testes Químicos
Estado 1
COSU Análise do Enxofre Corrosivo
MORS Saturação relativa da umidade no óleo
Estágio 1 Estado 2 MPED Umidade no papel com diagramas de equilíbrio
MPIS Umidade no papel (sorption isotherms)
Índice de Estágio 2
MPKF Umidade no papel via titulação KF
Condição Estado n
FUR Análise de Furan
DPO Grau de Polimerização
Estágio n
RATI Relação
EXCU Corrente de excitação
Figura 1 – Hierarquia do IC com estágios e estados. MABA Teste do balanço magnético
SWR Resistência estática do enrolamento
Na Figura 2 é associado um IC a cada avaliação de cada
Testes Elétricos

DF Fator de Dissipação em frequência nominal


estado. De acordo com esses valores, um transformador com IC Fator de Dissipação Tip-up test
DFTU
igual a 10 é considerado novo e um transformador com IC igual INRE Resistência de isolamento
a 1 ou zero é considerado falhado. POI Índice de polarização

A determinação de um IC definido segundo o descrito é uma CGRO Aterramento do núcleo


LRE Reatância de dispersão
atividade complexa e desafiadora devido à diversidade de tipos
IRI Inspeção com infravermelho
de defeitos e falhas que podem ocorrer em um transformador
FRSL Frequency response of stray losses (15 Hz-400 Hz)
e devido às dificuldades em combinar a interpretação de
FRA Análise de resposta em frequência
resultados obtidos de diferentes métodos de detecção de falhas Resistência dinâmica do enrolamento (ripple, slope)
Testes Avançados

DWR
e diagnóstico. Neste trabalho, um método sistemático de FRDF Resp. frequência do fator de dissipação (15-400 Hz)
obtenção de índices de condição é proposto. Um diagrama de FRC Resp. frequência de capacitância (15-400 Hz)

blocos ilustrando o processo é mostrado na Figura 3. FRCL Resp. frequência de perdas núcleo (15-400 Hz)
FRLR Resp. frequência da reatância dispersão (15-400Hz)

Novo Normal Anormal Defeituoso Falhado FDS Espectroscopia no domínio da frequência


PD Descargas Parciais

Estado 1 Estado 1 Estado 3 Estado 1 Estado 3 Estado 1 Estado 2 Estado 1 Estado 2


IC=10 IC=9 IC=7 IC=6 IC=4 IC=3 IC=2 IC=1 IC=2
Estado 2 Estado 2 Para cada modo de falha, o método de diagnóstico que está
IC=8 IC=5
disponível para diagnosticar este modo de falha é indicado.
Figura 2 – Processo da condição de degradação do transformador com estágios A eficácia desse método de diagnóstico é quantificada e
discretos de degradação.
representada por um Fator Segurança (FS). O fator de segurança
Matriz de detecção e Vetor de Matriz de Escolha igual a 0,9, ou seja FS = 0,9, indica métodos altamente eficazes;
diagnóstico de falhas (DDF) Estágio (S) de Estágio (SGVM)
FS=0,6 indica métodos com eficácia mediana; e FS=0,4 indica
métodos de baixa eficácia.
Consenso de Matriz de Escolha Consenso de
IC
Baseado no conhecimento sobre o impacto de cada modo
Estágio (SGC) de Estado (STVM) Estado (STC)
de falha na condição do transformador, um estágio específico
Figura 3 – Diagrama de Bloco da metodologia para obtenção do IC. desta determinada condição é associado pelo do vetor de estágio
Apoio
56
Manutenção de transformadores
Tabela 2 – Matriz de Detecção e Diagnóstico

Testes Químicos Testes Elétricos Testes Avançados Estágio de acordo


do modelo de

COND
MPED
MPKF

FRDF
DGA

INRE
Modos de Falha

DPO
SWR

FRSL
RATI
FUR

POL
PCA

FRA

FRC
FDS
condição

PD
DF
Curto circuito entre enrolamentos
Curto circuito entre espiras
Curto circuito para terra
Elétrica

Flutuação de potencial
Curto circuito das laminações do núcleo
Múltiplos aterramentos do núcleo
Núcleo desaterrado
Térmica

Falha de circuito aberto


Falha de resistência de contato
Inclinação do condutor
Flexão do condutor
Instabilidade axial
Mecânica

Buckling
Movimento de massa
Estrutura de fixação solta
Deformação do condutor
Degradação por umidade no óleo
Degradação

Degradação por umidade no papel


Degradação por temperatura
Degradação devido ao envelhecimento do óleo
Degradação devido ao envelhecimento do papel

Alta Eficácia (FS=0,9) Média Eficácia (FS=0,6) Baixa Eficácia (FS=0,4)

(S). Isto é realizado para cada modo de falha. Por exemplo, A seguir são apresentados os critérios de interpretação de
para o modo de falha “degradação devido a água no papel”, alguns métodos de teste. As tabelas 4 e 5 a seguir mostram o
o vetor de estágio (S) pode apresentar como resultado cada um critério de interpretação.
dos estágios: novo, normal, anormal, defeituoso ou falhado, Tabela 3 – Critérios de Interpretação – critérios gerais
dependendo da concentração de água do transformador. Método de Critério
Outros tipos de falha que não estão relacionadas ao processo Diagnóstico
Relação Desvio dos dados de placa ≤±0.5% (7)
de degradação por umidade, como deformações mecânicas,
Para injeção na fase central (B) a tensão induzida nas outras
falhas elétricas e térmicas, também receberam um estado do
Teste de balanço fases deve estar entre 40-60% da tensão aplicada
estágio. magnético Para injeção nas outras fases (A ou C), a tensão na fase B
Para a determinação do vetor de estágio são utilizados os deve estar entre 85-90% da tensão aplicada.
métodos apontados na Tabela 1, sendo que cada um deles Corrente de excitação Desvios entre outras fases ≤±10% para enrolamentos YN (7)

possui suas características próprias para análise da condição do Fator de dissipação Novo <0.5% (20°C), 0.5%≤Normal≤1%, >1% Defeituoso (7)
Reatância de dispersão Desvios devem ser ≤±3% (7)
transformador.
Resistência de Desvios devem ser ≤±5% (7)
Além das recomendações dadas pelas normas ou estabelecidas
enrolamento
pelos bancos de dados de diagnósticos de transformadores, FRSL ΔR: menor que 15% entre as fases (8)
o critério de interpretação pode ser considerado como um FRA Avaliação de Especialista Humano/AIAFRA*
agente com inteligência própria para gerar uma interpretação de
*AIAFRA é uma ferramenta de software baseada em técnicas de Inteligência Artificial para FRA
resultados, isto é, ao invés de uma avaliação determinística, com
valores e intervalos de tolerância pré-determinados, a avaliação A Tabela 4 e 5 a seguir mostra o critério de interpretação
é realizada pelo usuário que chamaremos de Avaliação do para os resultados do teste de fator de dissipação e
Especialista Humano (AEH), ou realizada através do uso de um capacitância em transformadores a óleo. Para Tabela
Algoritmo com Inteligência Artificial (AIA). 4 (medidas de fator de dissipação ou fator de potência)
Apoio
57

pode-se observar três critérios bem definidos de análise, Tabela 4 – Critérios de Interpretação – Fator de
Dissipação / Fator de Potência
sendo:
Fator de Dissipação / Fator de Potência
Estágio / Estado
• Medida em 60 Hz: análise referenciada de acordo com Medida em Medidas entre Variação
60 Hz 15 e 400 Hz FPref
a norma IEEE 62:1995, observando a diferença do valor
Estágio 1: Novo FPmed < 0,5 % AEH/AIA FPmed < 1,1 x FPref
medida com relação ao valor do fator de potência medido
Estado 1 FPmed < 0,5 % AEH/AIA FPmed < 1,1 x FPref
na frequência de 60 Hz.
Estágio 2: Normal 0,5 % < FPmed < 1 % AEH/AIA FPmed < 2 x FPref
• Medida com variação de frequência entre 15 Hz e 400
Estado 1 0,5 % < FPmed < 1 % AEH/AIA FPmed < 2 x FPref
Hz: análise realizada de acordo com a assinatura obtida
Estágio 3: Anormal 1 % < FPmed < 1,2 % AEH/AIA FPmed < 2,3 x FPref
com os valores de fator de potência medidos em várias Estado 1 1 % < FPmed < 1,2 % AEH/AIA FPmed < 2,3 x FPref
frequências, dentro da escala de 15 Hz a 400 Hz. Estágio 4: Defeituoso 1% < FPmed < 1,5 % AEH/AIA FPmed < 2,6 x FPref
• Variação FPref: análise realizada com a comparação Estado 1 1% < FPmed < 1,5 % AEH/AIA FPmed < 2,6 x FPref
do fator de potência/fator de dissipação medido em 60 Estágio 5: Falhado FPmed > 1,5 % AEH/AIA FPmed > 3 x FPref
Hz com o valor de referência ou valor de histórico do Estado 1 FPmed > 1,5 % AEH/AIA FPmed > 3 x FPref

transformador em teste. Onde: FPmed é o resultado do ensaio e FPref é o valor de placa ou de comissionamento.

Da mesma forma, a Tabela 5 trata das medidas de obtida com os valores de capacitância medidos em várias
capacitância, onde se pode observar dois critérios bem frequências, dentro da escala de 15 Hz a 400 Hz.
definidos de análise, sendo: • Variação CAPref: análise realizada com a comparação
da capacitância medida em 60 Hz com capacitância de
• Medida com variação de frequência entre 15 Hz e referência do transformador em teste.
400 Hz: análise realizará de acordo com a assinatura Neste trabalho, o critério de interpretação individual
Apoio
58

da concentração de TDCG presente na norma IEEE mostra uma representação do descrito.


Manutenção de transformadores

C57.104 (9) foi adaptado ao modelo de degradação para Considerando que diferentes testes de
o estabelecimento do critério de interpretação do agente diagnósticos oferecem resultados contraditórios, um
DGA. A Tabela 6 mostra o critério de interpretação dos consenso originado por uma votação é introduzido para
resultados do agente DGA (análise cromatográfica) por resolver os conflitos entre agentes e determinar o estágio
meio do método do triângulo de Duval (10). do estado do transformador, utilizando um modelo de
Segundo a metodologia apresentada, pode-se resumir condição da degradação.
que a designação dos agentes é realizada com a utilização
de métodos de detecção e diagnóstico que avaliarão, cada Considerações finais
qual dentre de sua competência, o transformador. Desta Este trabalho apresenta uma proposta que preenche
forma é determinado o estágio por meio do modo de falha de maneira ideal os requisitos do Cigré WG A2.18 para a
e assim determinado o índice de condição. A Figura 4 implementação de sistemas de avaliação de condição. Pela
Tabela 5 – Critérios de Interpretação – Capacitância aplicação desta metodologia, uma avaliação sistemática e
objetiva é possível através de um sistema de pontuação
Capacitância
Estágio / Estado
Medida entre 15 - 400 Hz Variação CAPref

Estágio 1: Novo ΔC(f) < 0,5 % ΔC < 5%


Estado 1 ΔC(f) < 0,5 % ΔC < 5%
Estágio 2: Normal 0,5 % < ΔC(f) < 1 % 5% < ΔC < 10%
Estado 1 0,5 % < ΔC(f) < 1 % 5% < ΔC < 10%
Estágio 3: Anormal 1 % < ΔC(f) < 1,2 % 10% < ΔC < 15%
Estado 1 1 % < ΔC(f) < 1,2 % 10% < ΔC < 15%
Estágio 4: Defeituoso 1,2 % < ΔC(f) < 1,5 % 15% < ΔC < 20%
Estado 1 1,2 % < ΔC(f) < 1,5 % 15% < ΔC < 20%
Estágio 5: Falhado ΔC(f) > 1,5 % ΔC > 20%
Estado 1 ΔC(f) > 1,5 % ΔC > 20%
Onde: ΔC(f) é a variação entre as capacitâncias medidas no intervalo de 15 a 400 Hz;
ΔC é a variação entre CAPref (valor de referência) e CAPmed (valor medido)
Figura 4 – Arquitetura para determinação dos modos de falha com vários agentes.

Tabela 6 – Critério de interpretação usado para agente DGA

Estágio / Estado Concentrações Individuais (ppm)


H2 CH4 C2H2 C2H4 C2H6 CO TDCG

Estágio 1: Novo ≤30 ≤30 ≤30 ≤30 ≤30 ≤30 ≤30


Estado 1 31-100 31-100 31-100 31-100 31-100 31-100 31-100
Estágio 2: Normal 31-50 31-50 31-50 31-50 31-50 31-50 31-50
Estado 1 51-70 51-70 51-70 51-70 51-70 51-70 51-70
Estado 2 71-100 71-100 71-100 71-100 71-100 71-100 71-100
Estado 3 101-700 101-700 101-700 101-700 101-700 101-700 101-700
Estágio 3: Anormal 101-300 101-300 101-300 101-300 101-300 101-300 101-300
Estado 1 301-500 301-500 301-500 301-500 301-500 301-500 301-500
Estado 2 501-700 501-700 501-700 501-700 501-700 501-700 501-700
Estado 3 701-1800 701-1800 701-1800 701-1800 701-1800 701-1800 701-1800
Estágio 4: Defeituoso 701-1250 701-1250 701-1250 701-1250 701-1250 701-1250 701-1250
Estado 1 1251- 1251- 1251- 1251- 1251- 1251- 1251-
Estado 2 1800 1800 1800 1800 1800 1800 1800
Estágio 5: Falhado >1800 >1800 >1800 >1800 >1800 >1800 >1800
59

no qual cada estratégia de manutenção, como Manutenção


Baseada na Condição (MBC) e Manutenção Centrada na
Confiabilidade (MCC) podem ser implementadas.
O uso do conhecimento disponível de diagnósticos
em campo de transformadores (como a interpretação
criteriosa publicada por normas institucionais), junto com
a experiência obtida ao longo dos anos pelos fabricantes
(como um banco de dados de testes de diagnósticos), é a
base para o estabelecimento de conhecimento confiável
para o desenvolvimento de um agente de diagnostico
robusto baseado em técnicas de Inteligência Artificial e
Data Mining. Desta maneira, as atividades desafiadoras
e complexas de interpretação e avaliação dos testes de
diagnósticos podem alcançar um nível considerável de
automação.

Referências
M. E. C. Paulino, J. L. Velasquez, H. DoCarmo, Avaliação da
Condição como Ferramenta de Gestão do Ciclo de Vida de
Transformador de Potência, XXI SNPTEE, Seminário Nacional de
Produção e Transmissão de Energia Elétrica, Florianópolis, Brasil,
2011.
CIGRÉ Working Group A2.18, Guide for Life Management
Techniques for Power Transformers (2003).
D. Morais, J. Rolim, and Z. Vale, DITRANS – A Multi-agent System
for Integrated Diagnosis of Power Transformers,.IEEE Powertech
(POWERTECH 2008) Vol. 5. Lausanne, Switzerland, pp. 1-6, 2008.
Hydro Plant Risk Assessment Guide, Appendix E5: Transformer
Condition Assessment, 2006, http://www.docstoc.com/
docs/7274124/Hydro-Plant-Risk-Assessment-Guide-Appendix-E6-
Turbine-Condition.
N. Dominelli, A. Rao, P. Kundur, Life Extension and Condition
Assessment, IEEE Power Energy M 25, pp. 25-35, 2006.
An introduction to multiagent systems, ISBN 978-0-470-51946-2 ©
2009, M .Wooldridge.
IEEE Guide for Diagnostic Field Testing of Electric Power Apparatus-
Part 1: Oil Filled Power Transformers, Regulators, and Reactors,
IEEE Std 62-1995
P. Pichler, C. Rajotte, Comparison of FRA and FRSL measurements
for the detection of transformer winding displacement, CIGRE
SCA2 Colloquium, June 2003, Merida.
IEEE Guide for the Interpretation of Gases in Oil Immersed
Transformers, IEEE Std C57.104-1991.
IEC Publication 60599, Mineral oil-impregnated electrical
equipment in service—Guide to the interpretation of dissolved and
free gases analysis, March 1999.
Apoio
38
Manutenção de transformadores

Capítulo XII

Uso de monitoramento on-line de


transformadores para avaliação da
condição do ativo

Diante das necessidades do sistema elétrico, checagem regular das condições de operação desses
as atividades de manutenção tendem a migrar da equipamentos torna-se cada vez mais importante.
manutenção preventiva para a manutenção preditiva, e Torna-se imperativa a busca de procedimentos e
da manutenção baseada no tempo para a manutenção ferramentas que possibilitem a obtenção de dados das
baseada no estado atual do equipamento. Neste contexto, instalações de forma rápida e precisa.
as técnicas de monitoramento on-line têm sido adotadas O trabalho realizado pelo GT A2.05, Guia de
como a principal ferramenta para obter informações do Manutenção para Transformadores de Potência, Cigré
sistema ou equipamento a ser mantido, sem colocar Brasil, descreve:
em risco a operação segura e a confiabilidade dos
transformadores, permitindo o conhecimento de “Este contexto tem levado a uma mudança nas
sua condição durante sua operação, além de poder filosofias de manutenção, acelerando a migração
diagnosticar eventuais não conformidades. da manutenção preventiva para a preditiva, da
manutenção baseada no tempo para a baseada no
Introdução real estado do equipamento. Alguns dos primeiros
Os prejuízos decorrentes de qualquer tipo de equipamentos em que se opera essa mudança
interrupção de energia implicam na necessidade são os transformadores de potência, visto que,
de implantação de processos capazes de avaliar de além de essenciais para as redes de transmissão
forma eficaz a instalação e seus equipamentos. Esses e distribuição, são em geral os maiores ativos de
programas devem utilizar novas técnicas e ferramentas uma subestação.
capazes de detectar uma possível falha o quanto antes. Com isso, os sistemas de monitoração on-line têm
Os equipamentos elétricos instalados em subestações sido adotados como uma das principais ferramentas
podem ser solicitados a operar sob condições adversas para possibilitar essa mudança sem colocar em
e não se pode descartar a possibilidade de ocorrerem risco a segurança e confiabilidade da operação dos
falhas que deixem indisponíveis a função de geração transformadores, permitindo conhecer sua condição e
de energia elétrica aos quais pertencem. Assim, a diagnosticando ou prognosticando eventuais problemas.”
Apoio
39

Este texto descreve as principais características de um • Transmissão de dados – de acordo com a recepção dos dados
sistema de monitoramento on-line de transformadores. enviados pelos medidores é realizado o envio desses dados para
unidades de armazenamento. Esses dados ficarão à disposição
Estrutura básica de um sistema de dos usuários para a tomada de decisão. Várias tecnologias
monitoramento podem ser utilizadas na transmissão de dados, inclusive os
Diversas estruturas e projetos têm sido projetados para protocolos de comunicação. A transmissão dos dados pode ser
o monitoramento on-line contínuo de transformadores. realizada por sistema dedicado, pelo sistema de supervisão da
O trabalho do GT A2.05, Guia de Manutenção para subestação ou por um sistema híbrido incluindo os dois.
Transformadores de Potência, Cigré Brasil, descreve uma • Armazenamento e processamento de dados – uma vez
topologia básica do sistema de monitoramento em que se transmitidos os dados aquisitados no transformador, uma
podem observar as principais partes constituinte deste sistema. unidade será responsável por armazenar esses dados. Essa
A Figura 1 mostra o descrito. unidade poderá conter rotinas lógicas para processar esses
A seguir descrevemos as principais partes: dados, transformando-os em informações úteis para a tomada
de decisão nas atividades de manutenção, envolvendo a
• Medida das variáveis – uma vez determinadas as gestão do ativo. Diagnósticos e prognósticos poderão estar
variáveis que responderam pela descrição da condição disponíveis indicando a condição geral do equipamento ou a
do transformador, o sistema de monitoramento medirá condição de subsistemas específicos.
essas variáveis a partir de sensores, medidores ou • Disponibilidade das informações – As informações
transdutores, aplicados em cada variável, de acordo com processadas estarão à disposição de diversos setores
sua especificidade. Esses elementos de medida, instalados simultaneamente. Deverá ser previsto um sistema de dados
no transformador, disponibilizam a informação medida para que mantenha a integridade das informações e a segurança
ser transmitida. de acesso.
Apoio
40
Manutenção de transformadores

Figura 1 – Representação de uma típica topologia de um sistema de


monitoramento on-line de transformadores. (Fonte: GT A2.05, Guia de Figura 2 – Estatística das causas para saída de serviço de
Manutenção para Transformadores de Potência, Cigré Brasil). transformadores de potência, transformadores de subestações (>100kV).

Subsistemas e partes componentes


monitorados
Os transformadores são submetidos às mais diversas
solicitações durante sua vida útil. O tempo de interrupção
do fornecimento de energia quando ocorrem problemas é
resultado direto de sua gravidade. Deste modo, o conhecimento
adequado de alguns sintomas, suas causas e efeitos são de
suma importância, pois permite evitar a evolução de problemas
indesejáveis com prejuízos financeiros elevados.
As principais avarias dizem respeito a deficiências dos
Figura 3 – Estatística das causas para saída de serviço de
enrolamentos, sejam por má compactação das bobinas, sejam por
transformadores de potência, transformadores elevadores (>100kV).
assimetrias existentes entre primário e secundário ou deformação
das bobinas causada por curto-circuito. São significativas,
Conforme já descrito no capítulo 3 deste fascículo,
também, as solicitações térmicas e dielétricas, provocando a
“Anormalidades em transformadores”, pode-se notar que a
alteração das características elétricas e físico-químicas dos seus
ocorrência de falhas dependerá de cada unidade, seu regime
materiais isolantes. Isto implica no “envelhecimento” de parte ou
de operação e as características do ativo. A Figura 4 mostra,
de toda a isolação. Os estágios avançados do processo produzem
como exemplo, a análise do item mais suscetível a falhas. Nela
sedimentos oriundos da oxidação, que, em última análise podem
pode-se notar, para este caso, que as bobinas são a maior fonte
comprometer a operação do transformador.
de problemas no transformador, com 70% das ocorrências,
A ocorrência de falhas no funcionamento de um transformador não
seguida de comutadores (16,3%) e buchas (10,9%).
pode ser eliminada, mas sim reduzida a um número e a uma intensidade
que não causem danos ao sistema elétrico, através de equipamentos e
métodos utilizados para seu controle. O bom funcionamento de um
transformador depende de uma série de fatores, os quais podem ser
resumidos na maneira pela qual é feita a manutenção e proteção do
mesmo, e também na qualidade dos seus componentes.
A determinação de onde atuar no transformador implica
na determinação dos pontos críticos e suscetíveis a falhas. A
elaboração da estatística de defeitos contribui para determinar
a causa da indisponibilidade do transformador e, portanto,
determinar os pontos de atuação, forçada ou programada, no
transformador. A seguir são mostradas estatísticas das causas
para saída de serviço de transformadores de potência publicado
na revista Electra 261, abril de 2012. Figura 4 – Componente afetado pelas falhas em transformadores.
Apoio
41

Essas estatísticas determinam o que deve ser monitorado Tabela 1 – Partes componentes (subsistemas) do transformador e
funções a serem monitoradas
no transformador. Uma vez com os dados do monitoramento, (Ref.: GT A2.05, Guia de Manutenção para Transformadores de
é realizado o diagnóstico para a definição da estratégia Potência, Cigré Brasil)

de manutenção a ser adotada e as ações futuras. Caberá Subsistemas Funções de monitoramento


Buchas Estado da isolação das buchas
à equipe técnica responsável a análise das informações
Envelhecimento da isolação
resultantes do monitoramento e definir a estratégia para a
Umidade na isolação sólida
gestão do ativo.
Parte Ativa Gás no óleo
Previsão de temperaturas
Determinação das grandezas a serem Previsibilidade Dinâmica
monitoradas de Carregamento
Assim que determinada a estatística de defeitos, a Simulções de carregamento
aquisição de dados para o diagnóstico é realizada através da Supervisão térmica
medida das grandezas associadas aos subsistemas apontados Desgaste do contato
como deficientes e responsáveis pela indisponibilidade Comutador Sob Assinatura do mecanismo
de parte ou o todo do ativo monitorado. Como exemplo Carga Umidade no óleo
da abordagem aos subsistemas do transformador e as Previsão de manutenção do comutador
grandezas a serem monitoradas, apresentamos os dados Tanque de Óleo Umidade no óleo
descritos no trabalho do GT A2.05 do CIGRE Brasil. Na Sistema de Integridade do sistema de
preservação do óleo preservação de óleo
tabela 1 são mostradas as partes componentes (subsistemas)
Sistema de Eficiência do sistema de resfriamento
do transformador e funções a serem monitoradas. Na tabela
resfriamento Previsão de manutenção do
2 são mostradas as grandezas a serem monitoradas.
sistema de resfriamento
Apoio
42

Tabela 2 – Exemplos de grandezas a serem monitoradas


Manutenção de transformadores
junto ao subsistema monitorado, na estrutura do transformador
(Ref.: GT A2.05, Guia de Manutenção para Transformadores de
Potência, Cigré Brasil) e possui capacidade de processamento das informações
Subsistemas Grandezas monitoradas e transmissão direta para a unidade de armazenamento e
Buchas Capacitância ou Desvio relativo processamento de dados.
de capacitância
Tangente Delta Utilização de dispositivos eletrônicos
Parte Ativa Temperatura do óleo inteligentes
Temperatura dos enrolametos As características dos Sistemas de Automação de Subestação
Corrente nos enrolametos (SAS), no qual os sistemas de monitoramento de equipamentos
Gás no óleo
primários estão inclusos, têm evoluído sensivelmente com
Teor de água no óleo (ppm)
a utilização de dispositivos de proteção microprocessados.
Tanque de Óleo Saturação relativa de água no óleo %
Esses dispositivos têm apresentado um caráter multifuncional
Saturação relativa à temp. ambiente
relacionando, além das funções de proteção, muitas funções
e de referência
adicionais, tais como medida, registro de eventos, controle,
Ruptura da bolsa/menbrana do
tanque de expansão monitoração de qualidade de energia. Caracteriza-se uma
Temperatura do comutador evolução do relé de proteção, agora denominado Dispositivo
Corrente de carga Eletrônico Inteligente (IED - Intelligent Electronic Devices).
Comutador Sob Tensão de linha Uma das características desses IEDs é permitir a execução
Carga Posição de tap de funções de proteção e controle distribuídas sobre redes de
Toque do acionamento comunicação.
Teor de água no óleo (ppm)
Saturação relativa de água no óleo % Tabela 3 – IEDs associados ao sistema de monitoramento on-line de
transformador
Saturação relativa à temp. ambiente (Ref.: M. Alves, “Experiência de Campo com a Monitoração On-Line
e de referência de Dois Transformadores 150 MVA 230 kV com Comutadores Sob
Carga” no Cigré SC A3, 2007)
Sistema de Corrente de ventiladores ou bombas
resfriamento Vibração de bombas IED`s Dados Aquisitados
Outros Temperatura ambiente - Temperatura do óleo
- Temperaturas do ponto mais
Arquiteturas do sistema de monitoramento Monitor de quente do enrolamentos
temperatura - Correntes de carga
Um projeto de implementação de um sistema de
- Alarmes e desligamentos
monitoramento de transformadores tem na arquitetura escolhida
por temperaturas altas
a base para determinar a aplicação em transformadores de
Monitor - Hidrogênio dissolvido no
qualquer tamanho ou potência. Com as mesmas características
de gás no óleo óleo do transformador
dos sistemas de automação, tem-se basicamente duas
- Alarmes por gás alto/muito alto
arquiteturas básicas: Monitor de - Saturação relativa (%) de água
umidade do no óleo do transformador
• Arquitetura centralizada – Neste caso é utilizado um transformador - Teor de água no óleo do
dispositivo que concentrará as informações monitoradas. comutador sob carga (ppm)
Esse dispositivo recebe as informações medidas no sensores Relé de menbrana - Ruptura de menbraba/bolsa
e transdutores instalados no transformador. É responsável por, do tanque conservador
além de receber esses dados, digitaliza-los e retransmitir para - Tensões do motor do comutador
a unidade de Armazenamento e Processamento de Dados. Ele Transdutor de - Correntes do motor do comutador
pode estar localizado próximo ao transformador ou alocado na tensão e corrente - Potências ativa/reativa/aparente
do motor do comutador
sala de relés de proteção ou na sala de controle da subestação.
Transdutor de - Temperaturas do óleo do
• Arquitetura descentralizada – Utiliza sensores eletrônicos
temperatura comutador sob carga
inteligentes, geralmente dedicado ao monitoramento de uma
- Temperatura ambiente
função ou um grupo de funções correlatas. Fica localizado
43

IED`s Dados Aquisitados


- Contatos de alarme (relé buchholz,
válvulas de alívio, níveis de óleo, etc.)
Módulos - Estado dos grupos de
de aquisição ventilação forçada
de dados - Comutador sob carga em operação
- Tempo de operação do
comutador sob carga
Monitor de - Capacitância das buchas
buchas - Tangente delta das buchas
- Tensões de fase
Relés regulador - Correntes de fase
de tensão - Potências ativa/reativa/aparente
Supervisor de - Posição de tap do comutador
paralelismo - Seleções local/remoto, mestre/comando/
individual e manual/automático

Esses IEDs têm sido utilizado na composição de sistemas de


monitoramento descentralizados, promovendo a modularidade do
sistema, permitindo que se escolham livremente quais as variáveis
a monitorar, além de facilitar futuras expansões simplesmente
agregando novos IEDs. A Tabela 3 mostra um exemplo de IEDs
associados ao sistema de monitoramento on-line de transformador,
publicado por Alves no trabalho “Experiência de Campo com a
Monitoração On-Line de Dois Transformadores 150MVA 230kV
com Comutadores Sob Carga” no Cigré SC A3, em 2007.

Sistemas dedicados a monitoramento on-line de transformadores


A utilização de sistema completo para avaliação de buchas e
transformadores pode fornecer soluções adequadas para a empresa
que planeja o monitoramento contínuo do estado do transformador.
Esse sistema permite a detecção de anormalidades, possibilitando o
planejamento de uma ação corretiva em tempo adequado.
O sistema também pode ser modificado e ampliado para
atender às suas necessidades específicas. Além disso, por se tratar
de um sistema único, existe uma melhor garantia de segurança e
confiabilidade no trabalho conjunto dos diversos dispositivos que
compõe o sistema. Como exemplo são expostos os dados de um
sistema de monitoramento on-line de transformadores, o Montrano,
da Omicron. Este sistema completo permite:

• Avaliação contínua do estado do isolamento do transformador;


• Determinação do valor de C, monitoramento DF / PF com precisão
de laboratório em campo;
• Avançada supressão de ruído para a detecção de fonte confiável
de descargas parciais;
• Gravação de transitórios de alta tensão em buchas;
Apoio
44

• Interface Web para acesso de dados e visão geral do estado do


Manutenção de transformadores
dispositivos que pode ser usado de diferentes formas no controle
sistema; distribuído e aplicações de proteção, controle e monitoramento.
• Os dados de tendência para gestão do ativo monitorado. Esses caminhos introduzem um novo conceito que requer uma
abordagem e tecnologia diferente para serem aplicados aos
Alguns componentes do sistema de monitoramento completo: componentes individuais do sistema de monitoramento.

• Adaptadores de tap para buchas de alta tensão - Sincroniza a Considerações finais


captura de sinal para medida de capacitância, fator de dissipação, Sobre o monitoramento on-line de transformadores:
transitórios de alta tensão e descargas parciais nas buchas do
transformador; • Existe a possibilidade de instalação de sistemas de monitoramento
• Sensor UHF - Sensor altamente sensível a medida de descargas completos, com diversas medidas e aquisições de dados, além
parciais em UHF dentro do transformador; de várias funcionalidades relacionadas a rotinas de cálculo e
• Unidade de aquisição de dados/transformador - Aquisição simulações da condição do ativo;
simultânea de dados dos adaptadores do tape da bucha e sensor • Pode-se customizar o sistema de monitoramento on-line para
de UHF no tanque do transformador com avançado processamento selecionar apenas as variáveis de interesse para cada caso;
de sinal; • A enorme capacidade de comunicação disponível e a grande
• Unidade de aquisição de dados/referência - Fornece sinal de número de dados aquisitados podem gerar sobrecarga de
referência para medida de capacitância e medida de fator de informações. As equipes técnicas devem avaliar de forma criteriosa a
dissipação com até três transformadores de tensão ou três buchas de necessidade da utilização dos dados disponíveis no monitoramento;
referência transformador; • É desejável que o sistema seja expansível, permitindo a integração
• Comunicação de fibra óptica - Conecta-se a cada unidade de de novos dispositivos e novas funcionalidades;
aquisição com o computador central, com a transmissão de dados • A tecnologia e os protocolos de comunicação devem promover a
sem interrupção através de longas distâncias; interoperabilidade entre dispositivos de diversos fabricantes;
• Computador central e software de monitoramento - Armazena • Cada empresa deve decidir qual a abrangência e a melhor
e executa rotinas de tendências inteligentes pós-processamento arquitetura a ser aplicado ao seu sistema de monitoramento de
e visualiza dados para fornecer informações úteis sobre bucha e transformadores.
estatuto condição de isolamento do transformador.
Referências
Protocolos de comunicação • ALMEIDA, A. T. L. e PAULINO M. E. C. Manutenção de Transformadores de Potência,
Curso de Especialização em Manutenção de Sistemas Elétricos – UNIFEI, 2012.
A transmissão de dados entre os sensores e os medidores
• GT A2.05, Guia de Manutenção para Transformadores de Potência, CIGRE Brasil –
desses dados no transformador monitorado até a unidade de Grupo de Trabalho A2.05, 2013.

armazenamento e processamento é realizada através de uma rede • Cigré WG A2.37, “Transformer Reliability Survey: Interim Report”, Electra, CIGRÉ,
Ref. No. 261, 2012.
de comunicação. A substituição da rede ponto a ponto, através de • Cigré WG A2.27: Technical Brochure 343, "Recommendations for condition
cabeamento rígido, por uma rede LAN implica no uso de protocolos monitoring and condition facilities for transformers"
• IEEE Draft Guide PC57.143/20, "Guide for the Application for Monitoring Liquid
de comunicação.
Immersed Transformers and Components"
Ultimamente muitos protocolos são usados em subestações, • Alves, M. E. G., Experiência de Campo com a Monitoração On-Line de Dois
sendo alguns concebidos para aplicações específicas. Outros são Transformadores 150MVA 230kV com Comutadores Sob Carga, CIGRE SC A3, Rio de
Janeiro, 2007.
estruturados utilizando-se normas internacionais, mas também são
• MONTRANO, OMICRON, em http://bit.ly/1ATTLyE ou http://www.omicron.at
ajustados às necessidades de instalações locais.
Recomenda-se a utilização de protocolos de comunicação não
* Marcelo Eduardo de Carvalho Paulino é engenheiro
proprietários, tais como Modbus, DNP3, para facilitar a integração eletricista e especialista em manutenção de sistemas
dos componentes do sistema de monitoramento, incluindo o elétricos pela Escola Federal de Engenharia de
Itajubá (EFEI). Atualmente, é gerente técnico da
supervisório da subestação.
Adimarco |mecpaulino@yahoo.com.br.
Os dispositivos mais recentes utilizados na comunicação nas
instalações da subestação empregam a norma IEC 61850. Esta
define caminhos para o intercâmbio de dados entre os diferentes
Apoio
30
Conjuntos de manobra e controle de potência

Novo!

Capítulo I

Introdução ao uso dos painéis


elétricos

Contextualização e relevância Todas estas ações podem ser efetuadas


A energia elétrica, seja em alta ou baixa pelo uso de conjuntos de manobra e controle
tensão, ao ser disponibilizada para uma (CMC), priorizando-se, sempre, a segurança
concessionária, uma indústria, um prédio das instalações, dos equipamentos e,
comercial, um hospital, uma área residencial ou principalmente, do ser humano.
para qualquer aplicação no mundo moderno, Quando em algum ponto de um sistema
como ilustrado na Figura 1, precisa ser: de potência existem uma ou mais entradas
de energia associadas a uma ou mais
• Operada (manobrada); saídas de ramais de alimentação, tem-se a
• Protegida; caracterização de uma barra de distribuição
• Controlada; de energia elétrica. Para acessar esta barra
• Regulada; do sistema de potência, com o objetivo de
• Medida. distribuir e controlar a energia elétrica,

Figura 1 – SEP – Principais segmentos.


Apoio
31

é preciso utilizar dispositivos e componentes mecânica quanto elétrica, de uma diversidade de


eletromecânicos e, algumas vezes, também, dispositivos e equipamentos, os quais podem estar
eletrônicos. Estas partes, quando integradas de modo interconectados ou não, e que permitem a manobra,
a constituir um único equipamento, compõem um controle, regulagem, proteção e medição de parte de
conjunto de manobra e controle. um sistema elétrico, sendo que as suas características
Estes conjuntos podem ser melhor compreendidos devem, obviamente, estar adequadas ao ponto da
se visualizados como sendo a interface física entre instalação. Importante lembrar que estes locais de
um sistema de potência e o ser humano. Em outras distribuição estão, sempre, associados às barras do
palavras, e de um modo simplificado, pode-se respectivo sistema elétrico e, por conseguinte, devem
considerar estes equipamentos como sendo uma atender às suas condições inerentes.
“grande IHM” (“Interface Homem-Máquina”), em Os conjuntos de manobra e controle, comumente
que o sistema elétrico toma, neste caso, o lugar da conhecidos como painéis elétricos, são, normalmente,
“máquina”. estruturas com invólucros metálicos para montagens
Esse conceito construtivo de equipamentos é a em paredes (sobrepostas ou embutidas) ou no
concretização de uma parte de uma instalação elétrica, piso (autossustentáveis). Sendo que, dentro destas
mostrada nos diagramas unifilares e trifilares, além estruturas, pode-se montar uma diversidade enorme
das demais representações associadas que se fazem de equipamentos. As estruturas para montagens em
necessárias, como: diagramas funcionais, diagramas paredes são, normalmente, denominadas quadros,
lógicos, diagramas de fiação e interligação, etc. Enfim, como exemplificado na Figura 2-a, enquanto
elas são estruturas integradas dentro de invólucros, as estruturas autossustentáveis são, usualmente,
que viabilizam a montagem e a interligação, tanto conhecidas como cubículos (mostrada na Figura 2-b).
Apoio
32

Existem, conforme a formação técnica, a aplicação, Conforme as normas IEC 61439-1 e IEC 61439-
Conjuntos de manobra e controle de potência

a região geográfica (local da instalação), a cultura da 2, a expressão “Conjunto de manobra e controle


empresa (país de origem da tecnologia) e, até, do tipo de potência” (CMCP) define a integração dos
de instalação (indústria de transformação, papel e equipamentos aplicados na distribuição e controle
celulose, petroquímica, siderurgia, geração de energia, de energia elétrica para alimentação de todos os
concessionária, instaladores, etc.), variações quanto à tipos de cargas de uso industrial, comercial ou
nomenclatura usada para os painéis elétricos: aplicações similares, em que não é prevista a
operação de pessoas comuns, ou seja, a de pessoas
• Centro de Controle de Motores (CCM); consideradas “inadvertidas” (código “BA1”, relativo
• Centro de Distribuição de Cargas (CDC); a “Competência das pessoas”, conforme a tabela
• Conjunto Montado em Fábrica (CMF); 12 da norma ABNT NBR 14039 e da tabela 18 da
• Conjunto de Manobra e Controle (CMC); norma ABNT NBR 5410). Em outras palavras, são
• Conjunto de Manobra (CJM); equipamentos para o uso e intervenção de pessoas
• Conjunto de Manobra e Controle em Invólucro advertidas (“BA4”) ou qualificadas (“BA5”) e para a
Metálico (chamado, às vezes, de, simplesmente, instalação em locais com acesso restrito, como o das
Conjunto de Manobra); salas elétricas.
• Conjunto de Manobra e Controle “Simplificado” A realidade atual é que, tanto a especificação
(Painel tipo “Metal-Enclosed”); quanto a operação dos conjuntos de manobra e
• Conjunto de Manobra “Blindado” (Painel “Metal- controle de potência em média e baixa tensões, no
Clad” ou “Blindada”); que se refere às suas características, tanto intrínsecas
• Conjunto de Manobra resistente a arco elétrico; quanto extrínsecas, ainda representam uma zona
• Cubículo; nebulosa para a grande maioria dos usuários, sendo
• Quadro de distribuição; que, na maioria dos casos, muitos profissionais ainda
• Quadro Geral de Baixa Tensão (QGBT), e etc. empregam, como critérios únicos de projeto, os níveis

Figura 2 – Exemplos de CMCP (Painéis – quadro e cubículo).


Apoio
34

de tensões e correntes elétricas de operação relativas A partir deste cenário, é possível notar a importância
Conjuntos de manobra e controle de potência

à aplicação. de se identificar as condições operacionais (níveis de


Na verdade, um CMCP exige que seu desenvolvimento, corrente e tensão, tanto de regime como transitórios)
projeto, instalação, comissionamento, operação e e os níveis reais de energia que estão presentes no
manutenção apresentem cuidados especiais relativos à ponto de aplicação de um CMCP para, então, se
segurança humana e patrimonial. Afinal, um acidente definir os métodos de prevenção e mitigação de
em tais equipamentos resulta em muitos transtornos e efeitos resultantes de falhas no SEP associado. Além do
em custos consideráveis, sendo que, muitas vezes, as tradicional uso de relés de proteção, dos dispositivos
piores consequências recaem sobre o trabalhador. Por de atenuação de surtos de tensão e dos equipamentos
isso, o conhecimento do estado da arte do projeto e uso de manobra adequados, existem filosofias disponíveis
de conjuntos de manobra e controle permite diminuir atualmente que complementam a segurança como:
as chances de ocorrência de falhas internas e aumentar
a probabilidade de salvaguardar a vida humana e • CMCP resistentes aos efeitos de um arco interno;
dos equipamentos e instalações. Dessa forma, é • CMCP com limitação de causas de um arco interno;
fundamental fornecer diretrizes aos engenheiros • CMCP com segurança aumentada e técnicas de
responsáveis pela especificação e pelo uso de novos redução de riscos de acidentes;
painéis elétricos ou modernização de unidades • Uso de monitoramento contínuo e ferramentas de
existentes que, por acaso, tenham sofrido danos diagnóstico preditivo;
oriundos de falhas, disponibilizando-se as diversas • Dispositivos redutores de níveis de energia
opções e recomendações vigentes, atualmente, nos relacionada a um arco.
meios técnicos.
A crescente conscientização, vista em diversos Objetivos e contribuições
segmentos industriais, dos riscos associados aos A literatura disponível sobre conjuntos de manobra
trabalhos em eletricidade, vem se estendendo, e controle pode ser considerada escassa se buscarmos
também, ao uso de conjuntos de manobra e controle uma única fonte de informações para todo o universo
de potência. E, dentro deste novo contexto, os de aplicações e equipamentos usados. Dentro deste
profissionais da área vêm se deparando com novos contexto, são consideradas referências: o livro “ABB
desafios, provenientes da compreensão de que, além Switchgear Manual”, que se encontra atualmente na
da ocorrência de falhas por curto-circuito franco sua 11ª edição, e o livro “Switchgear and Control
(sólido) ou de surtos de sobretensão, podem existir Handbook”, que está na sua 3ª edição. O primeiro
eventos com altos valores de energia incidente, foi gerado dentro do contexto normativo da IEC com
liberada em descargas por arcos elétricos, associadas uma forte influência da escola europeia, enquanto
a atividades que eram, antes, consideradas como o segundo espelha a cultura norte-americana, com
de rotina. Daí a necessidade de se aprofundar na fortes referências às normas ANSI, NEMA e UL.
aplicação e especificação destes equipamentos, além Existem outros livros que merecem destaque. Entre
da determinação dos níveis disponíveis de energia eles, podem ser citados os seguintes trabalhos:
incidente associados a eles, de modo a se definir as
medidas necessárias para se maximizar a segurança • “Distribution Switchgear: construction, performance,
humana e patrimonial. selection and installation”; de 1986. Apresenta muito
A descrição, de uma forma sucinta, dos da escola inglesa, com uma excelente abordagem de
procedimentos, métodos e abordagens disponíveis materiais de montagem, de condutores e de isolantes
atualmente para prevenção e mitigação dos riscos e utilizados na fabricação de CMCP;
efeitos associados à ocorrência de falhas em conjuntos • “Standard Handbook for Electrical Engineers”. Uma
de manobra e controle de potência deve ser adotada referência clássica da escola norte-americana;
como ponto de partida para a análise e definição das • “Impianti Eletrici”, livro da escola italiana, escrito
filosofias de proteção a serem utilizadas. pelos engenheiros Antonio Bossi e Ezio Sesto, cuja
Apoio
35

tradução da 6ª edição (1977) para o português clássico desde o seu lançamento em 1955;
(“Instalações Elétricas”) foi feita pela Editora Hemus, • “Protective Relaying: Principles and Applications”;
em 1978; do J. Lewis Blackburn, cuja 3ª edição, de 2007, foi
• “Instalaciones Eléctricas”, manual técnico da coordenada pelo Thomas J. Domin.
Siemens, cujo original em alemão é do ano de 1971,
e foi traduzido para o espanhol em 1981. Este material Portanto, os principais objetivos e contribuições
apresenta, em seus dois volumes, muito da escola deste trabalho é a apresentação e a disponibilização
alemã, oferecendo uma excelente referência; de informações básicas sobre a aplicação e o uso de
• “High Voltage Switchgear – Analysis and Design”, conjuntos de manobra e controle de potência, tanto
dos autores russos Chunikhin e Zhavoronkov, cuja de média quanto de baixa tensão, em instalações
tradução para a língua inglesa foi lançada em 1989. elétricas industriais.

Apesar de não serem dedicados exclusivamente Descritivo


aos tópicos relativos a um CMCP, outros livros têm A IEC 62271-200 e a NBR equivalente definem
servido de complementação ao projeto, montagem e “conjunto de manobra e controle” como um termo
aplicação de equipamentos de manobra e controle. geral que contempla os dispositivos de manobra e as
Entre as diversas referências disponíveis, convém suas combinações com os equipamentos associados
registrar os seguintes trabalhos: de controle, medição, proteção e regulação, incluindo
a respectiva montagem dos mesmos e as interligações
• “Industrial Power Systems Handbook”, material associadas, os acessórios, invólucros e estruturas-
gerado por diversos engenheiros da “General Electric” suporte. Já a definição para “conjunto de manobra
e editado pelo Donald Beeman. É considerado um e controle em invólucro metálico” seria aplicada
Apoio
36

naqueles casos em que os conjuntos possuem um Além destas definições normativas, existem
Conjuntos de manobra e controle de potência

invólucro metálico externo, previsto para ser aterrado, classificações associadas ao tipo de aplicação a que
e fornecido completamente montado, com exceção se destina um determinado CMCP. Basicamente,
das conexões externas, como mostrado na Figura 3. a classificação está diretamente ligada a função
primordial do equipamento. Sendo que, no Brasil,
como resultado de anos de influência do universo
ANSI / NEMA / UL, é comum se usar, tanto para
média quanto baixa tensão, as designações: Centro
de Distribuição de Cargas (CDC) e Centro de
Controle de Motores (CCM). Um bom exemplo da
absorção desta cultura se encontra no uso destes
termos nas especificações técnicas de grandes
empresas brasileiras.
Um CDC é associado a uma barra que tem a
função de servir de ponto de origem de distribuição
de energia elétrica de todo ou parte de um sistema
industrial, incluindo funções de manobra, de
proteção e, normalmente, de medição, também. Essa
Figura 3 – CMCP (CDC) de média tensão.
barra está, geralmente, conectada ao secundário de
um transformador de potência. Ela pode, ou não, ser
A ABNT NBR IEC 60439-1 define conjunto ligada a outra barra contígua, instalada no mesmo
de manobra e controle de baixa tensão como conjunto construtivo, por meio de um disjuntor de
sendo a combinação de um ou mais dispositivos interligação. É muito comum um CDC apresentar
e equipamentos de manobra, controle, medição, níveis de correntes nominais de regime e de curto-
sinalização, proteção, regulação, etc., em baixa circuito altos. Tanto em MT quanto em BT são
tensão, completamente montados, como todas utilizados disjuntores como elementos de manobra.
as interconexões internas elétricas e mecânicas Um CCM, por sua vez, está associado a uma barra
e partes estruturais sob a responsabilidade do que concentra as funções relacionadas a operação,
fabricante. Temos na Figura 4 um exemplo de um proteção e o controle dos circuitos alimentadores de
CCM de baixa tensão. motores, tanto em MT quanto BT. Essa barra pode
estar conectada ao secundário de um transformador
ou ser alimentada a partir de um CDC a montante.
Apesar de ser pouco usual, esta barra pode, também,
ter recursos para ser ligada a outra contígua,
instalada no mesmo conjunto construtivo, por meio
de um disjuntor de interligação. O CCM apresenta,
em geral, uma corrente nominal de regime baixa, se
comparada com um CDC. Os níveis das correntes
nominais de curto-circuito são menores do que
em um CDC. Para fins de proteção contra curto-
circuito, podem ser utilizados disjuntores ou fusíveis
limitadores de corrente. O elemento de manobra
mais usual é o contator. Para algumas aplicações
em MT, são encontrados casos que se utilizam os
disjuntores, associados a relés secundários, para as
Figura 4 – CMCP (CCM) de baixa tensão.
funções de manobra e proteção.
Apoio
38

Uma excelente fonte para auxiliar na compreensão Este equipamento integra as funções de distribuição
Conjuntos de manobra e controle de potência

dos conceitos sobre CDC e CCM, apresentados nos de energia (ramais de saída) e alimentação de
parágrafos acima, é o livro “Switchgear and Control circuitos de motores. Neste tipo de abordagem, tanto
Handbook”. No capítulo 14 (“AC Switchgear”) desta a corrente nominal de regime quanto a de curto-
referência, os autores descrevem os conceitos sobre circuito podem atingir valores altos, principalmente
CDC, tanto de BT (ver a norma IEEE C37.20.1) quanto se compararmos com os existentes na maioria das
de MT (ver normas IEEE C37.20.2 e IEEE C37.20.3). instalações atuais no Brasil.
Já o capítulo 26 (“Motor-Control Centers”) apresenta Em resumo, os Conjuntos de Manobra e Controle
as definições e recomendações relativas ao CCM, de Potência (CMCP), tendo ou não configurações
tanto de BT (ver NEMA ICS-18) quanto de MT (ver específicas, tais como CCM (Centro de Controle de
NEMA ICS-3). Motores) e CDC (Centro de Distribuição de Cargas),
Porém, diferentemente dos Estados Unidos, tal tanto em média tensão (MT) quanto em baixa tensão
divisão não existe formalmente na cultura europeia. (BT), visam suprir as necessidades dos pontos de
Por conta disso, é muito comum encontrar, dentro distribuição e controle de energia elétrica. Sendo que
deste contexto, tanto em MT quanto em BT, um CMCP estes equipamentos estão, muitas vezes, associados
desempenhando ambas as funções: CDC e CMC. às barras de um Sistema Elétrico com níveis altos

Figura 5 – Parte de um diagrama unifilar com aplicações de CDC e CCM em MT.


Apoio
39

de demanda de potência, de correntes de curto- anteriormente; porém, sem nenhuma ratificação


circuito, de energia associada às descargas de arco ainda por parte da IEC. Já, no Brasil, a Agência
elétrico ou características especiais, tais como a Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estabelece,
existência de relações atípicas entre os valores de no módulo 1 dos Procedimentos de Distribuição
reatância indutiva e resistência do equivalente de de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional
Thévenin (X/R), vista pela fonte até o referido ponto (Prodist), que a “média tensão de distribuição” (MT)
do sistema elétrico. é aquela cujo valor eficaz entre fases é superior a 1
A Figura 5 mostra parte de um diagrama unifilar, kV (CA) e inferior a 69 kV (CA).
em que se pode ver dois CDCs (13,8 kV – 2.000 A – Dentro deste contexto, são apresentadas, a
40 kA, cada) alimentando, cada um, transformadores seguir, as listas formais de separação conforme a
de 3.150 kVA. Por sua vez, cada transformador tensão nominal do equipamento e a “escola” técnica
alimenta uma barra de um CDC em 4,16 kV (800 A adotada:
e 20 kA), a qual alimenta um CCM distinto de MT
(4,16 kV / 800 A / 20 kA). • Conforme a ABNT e a IEC, para corrente alternada
(CA):
Níveis de tensões nominais e – Até 1 kV: baixa tensão
operacionais associados ao CMCP – Acima de 1 kV: alta tensão
Existe, às vezes, por parte do usuário, a dúvida de • Conforme a ANSI / NEMA / UL, para corrente
como se deve classificar um conjunto de manobra alternada (CA):
e controle quanto à tensão nominal. A verdade – Até 0,6 kV: baixa tensão
é que há uma certa confusão no que diz respeito – De 0,6 kV até 38 kV: média tensão
ao significado das expressões “baixa tensão (BT)”, – De 69 kV até 138 kV: alta tensão
“média tensão (MT)” ou “alta tensão (AT)”. Isto é – De 230 kV até 525 kV: extra alta tensão
normal se levarmos em conta o fato de que tanto – Acima de 525 kV: ultra alta tensão
a IEC quanto a ABNT classificam, basicamente, os
equipamentos de manobra e controle, de acordo Em termos práticos, o enquadramento em faixas,
com a sua tensão nominal, em, somente, duas adotado no dia a dia pelos profissionais das áreas de
grandes famílias: “alta tensão (AT)”, para valores projeto, operação e manutenção na cultura elétrica
acima de 1.000 V em corrente alternada ou 1.500 V nacional, é uma mescla entre a ABNT/IEC e a ANSI/
em corrente contínua, e “baixa tensão (BT)” para os NEMA/UL. Desta forma, a classificação “informal”
valores até 1.000 V, em CA, ou 1.500 V, em CC. mais usada é:
Porém, a verdade é que, tanto no Brasil como
em outros países (Estados Unidos, Canadá, várias • Até 1 kV – CA (inclusive): baixa tensão
nações da União Europeia, etc.), a expressão “média • De 1 kV até 69 kV (exclusive): média tensão
tensão”, em CA, é muito utilizada para enquadrar os • De 69 kV até 138 kV (inclusive): Alta tensão
valores que se encontram acima do patamar de 0,6 • De 230 kV até 525 kV (inclusive): extra alta tensão
kV, na cultura ANSI / NEMA, ou 1 kV, no caso IEC, e • Acima de 525 kV: ultra alta tensão
vão até o nível de
52 kV, inclusive. Isso pode ser exemplificado pelo
fato de o CIRED (que pode ser traduzido como
sendo: “Conferência Internacional sobre Redes
de Distribuição”) vir tentando introduzir na IEC
uma nova classificação para os valores das tensões
normalmente usadas. Assim, existe uma previsão
de se vir a adotar também o uso da expressão
“média tensão” para cobrir os níveis mencionados
Apoio
28
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo II

Seleção e normalização para


conjuntos de manobra e controle

Seleção inicial Cargas (CDC), para suprir as suas necessidades de


Um dos pontos mais importantes em uma distribuição e controle de eletricidade, temos um
instalação industrial, porém ainda nebuloso para a contexto, no mínimo, preocupante.
maioria dos usuários, é a seleção do tipo de painel É importante atentar para o fato de que os
elétrico a ser adotado e as suas características Conjuntos de Manobra e Controle de Potência se
elétricas e construtivas, que atendam às encontram, normalmente, instalados em pontos
necessidades e as condições operacionais e de que estão associados a barras do sistema elétrico
manutenção. A grande maioria dos projetistas e com altos níveis de demanda e de correntes de
usuários finais desconhece não somente as ditas curto-circuito. Em face disso, as etapas relativas ao
“boas práticas de engenharia”, mas, também, projeto, montagem, instalação, comissionamento,
as normas técnicas aplicáveis para este tipo de operação e manutenção dos mesmos requerem
equipamento. A metodologia mais vigente, tanto cuidados especiais relativos à segurança humana
no passado quanto no presente, é a escolha de e patrimonial. Por exemplo, muitos setores da
um painel que atenda, basicamente, tensões e indústria já reconhecem a real importância
correntes elétricas de regime, presentes no ponto da identificação e da prevenção dos riscos
de aplicação. Porém, se levarmos em conta todas associados à ocorrência de arcos elétricos, e, por
as interfaces existentes entre um painel elétrico e conta disso, veem, não somente, a necessidade
seu local, tanto físico quanto elétrico, de instalação de se quantificar os níveis existentes de energia
e entre ele e as pessoas que estarão envolvidas na incidente no ponto da instalação, como a de
sua operação e manutenção, vemos que o assunto se estabelecer os programas de segurança que,
é muito mais complexo. entre outros pontos, envolvem o uso de etiquetas
Logo, se estabelecermos uma interface entre informativas dos valores de energia presente,
o que foi exposto e o fato de que a maioria dos distâncias de segurança e as categorias de risco,
segmentos no mundo moderno utiliza em suas conforme listado na NFPA 70E, com os respectivos
instalações elétricas em corrente alternada, para requisitos específicos para os equipamentos de
as barras de baixa tensão (valores inferiores a 1 proteção, tanto individuais (EPI) quanto coletivos
kV) e média tensão (acima de 1 kV e inferiores (EPC), para a realização de trabalho de intervenção.
a 69 kV), conjuntos de manobra e controle de Porém, muitas vezes, os valores encontrados se
potência (CMCP), tais como Centros de Controle mostram incompatíveis com condições seguras
de Motores (CCM) e Centros de Distribuição de de trabalho. Em outras palavras, a abordagem do
Apoio
29

problema não se encerra simplesmente com o fim do cálculo motores (para identificar requisitos de rearranjo do sistema
da energia incidente e a consequente categoria de risco em elétrico ou alteração de especificação de equipamentos ou
que se enquadram os requisitos de um EPI ou EPC. dos níveis de tensão usados na instalação).
É fundamental se identificar os níveis reais de energia A segunda etapa está associada à determinação das
disponível no ponto de aplicação do equipamento e as suas correntes de falta e os respectivos tempos de eliminação,
possíveis causas. E, para tal, se faz necessário estabelecer seguindo, por exemplo, as orientações contidas no IEEE Std
duas etapas de estudos de engenharia. 242:
A primeira etapa, conforme as recomendações do • Cálculo dos valores máximos e mínimos das correntes
compêndio de práticas recomendadas para instalações de curto-circuito, tanto os trifásicos quanto os monofásicos,
elétricas industriais, o IEEE Std 141, está associada à definição conforme as possíveis configurações de operação;
do arranjo do sistema elétrico e níveis de tensões elétricas, • Estudos de coordenação e seletividade do sistema de
em função das necessidades do mesmo e da sua interação, proteção.
ou não, com a concessionária de energia:
Somente, então, pode-se, por exemplo, iniciar a análise
• Definição da filosofia de operação a ser usada no sistema da energia incidente e dos métodos que podem ser adotados
(acoplamento com a concessionária local, geração própria, para a sua prevenção e a mitigação de seus efeitos.
cogeração, o uso de disjuntores de interligação fechados Todos sabem que um acidente em um equipamento resulta
de modo permanente ou não, a aplicação permanente ou em muitos transtornos e em custos consideráveis; sendo
temporária de reatores limitadores de corrente, etc.); que, muitas das vezes, o trabalhador, que estava incumbido
• Estudos de fluxo de carga (para se validar as possíveis da intervenção direta, sofre as maiores consequências,
configurações a serem usadas no sistema elétrico, etc.); podendo perder a sua saúde ou a própria vida. Por conta
• Cálculo das quedas de tensão devidas à partida de grandes disso, o conhecimento do estado da arte do projeto e do uso
Apoio
30

de conjuntos de manobras e controle de potência permite é o conjunto de normas regulamentadoras emitidas pelo
Conjuntos de manobra e controle de potência

diminuir as chances de ocorrência de arcos internos e mitigar Ministério do Trabalho e Emprego, ligado ao Governo Federal
os seus possíveis efeitos, aumentando as probabilidades de Brasileiro.
salvaguardar a vida humana. As normas técnicas, como todos os documentos gerados
A mesma falha mencionada acima, quando não coloca pelo seres humanos, evoluem ao longo do tempo de sua
em risco a vida humana de forma direta, pode representar existência, de forma a se adaptarem aos constantes avanços
danos a diversos equipamentos, resultando na perda de parte associados às áreas técnicas, éticas e políticas. Assim é de
ou na sua totalidade ou dos serviços prestados. Logo, um se esperar que o mesmo aconteça no que se diz respeito
conhecimento sólido dos projetos e do uso de conjuntos de aos Conjuntos de Manobra e Controle (CMC), os quais são
manobras e controle de potência permite, também, melhorar utilizados em diferentes níveis e aplicações dos diversos
o desempenho dos equipamentos e instalações. segmentos das atividades humanas.
Deste modo, é preciso, cada vez mais, disponibilizar O avanço contínuo de conhecimentos tem como objetivo
diretrizes e ferramentas que permitam aos responsáveis pela final a garantia da segurança dos usuários e de bens materiais,
especificação e a instalação de novos conjuntos de manobra além da confiabilidade dos próprios sistemas elétricos. As
e controle, ou a modernização de unidades já existentes, revisões das normas técnicas estão comumente associadas a
terem todas as condições para analisar e discutir as possíveis alterações em requisitos de operação e respostas a condições
opções e recomendações e, assim, identificar aquelas que normais ou imprevistas, como também aos métodos usados
mais se adequam. para sua verificação. Neste processo, às vezes ocorrerem
Além disso, é importante, também, incorporar as mudanças na nomenclatura ou na identificação de normas
boas práticas de engenharia e as lições aprendidas pelo e documentos técnicos. Porém, a essência dos fenômenos
uso consolidado de conjuntos de manobra e controle físicos e químicos associados a qualquer equipamento
em instalações com históricos positivos de continuidade, elétrico se mantém. Tanto que os diversos órgãos normativos
disponibilidade e segurança. ao redor do mundo, como a IEC, ANSI e ABNT, reconhecem
a validade de ensaios realizados num equipamento com
Compêndio básico de normalização de base em uma versão anterior de uma norma, quando não
conjuntos de manobra e controle ocorrem alterações no método e nos critérios de aprovação
Associados às diversas fases de aquisição e fornecimento no respectivo ensaio.
de um conjunto de manobra e controle de potência existem Toda esta preocupação se deve ao fato de que um Conjunto
diversos documentos normativos. de Manobra e Controle de Potência, dentro das redes elétricas
As normas técnicas são baseadas no conhecimento de distribuição de energia, seja em baixa ou média tensão, deve
e no consenso de especialistas, com o apoio e referendo estar, normalmente, associado a “barras” do respectivo sistema,
da sociedade. Elas estabelecem os requisitos mínimos onde os níveis de energias disponíveis podem ser bem altos.
e os procedimentos de ensaios necessários para se ter Isto está diretamente associado aos níveis de correntes de curto-
uma instalação segura e confiável, permitindo uma alta circuito e, conforme as necessidades estabelecidas pelo Estudo
disponibilidade da energia elétrica para qualquer sistema de Coordenação e Seletividade das Proteções Elétricas, ao
de potência. Elas são diferentes dos regulamentos. Esses se tempo de resposta dos dispositivos de proteção. As ocorrências
originam no âmbito governamental e são implementados de falta em circuitos de distribuição em CA implicam em
por força de lei. Um caso típico desse tipo de documento correntes de defeito com altos valores eficazes e de crista, os

Tabela 1 – Comparativo simplificado das características das normas e dos regulamentos

Norma Regulamento
A origem e implementação ocorrem no âmbito da sociedade. A origem e implementação surgem no âmbito governamental.
Esclarece “como fazer”. Estabelece “o que fazer”.
Documento estabelecido por consenso e emitido por órgão Documento que contém regras e/ou requisitos obrigatórios, estabelecidos por
reconhecido, que visa fornecer regras, diretrizes e/ou características uma autoridade (municipal, estadual ou federal). Ele possui “força de lei”.
para a obtenção de um resultado ótimo.

Exemplo: ABNT NBR IEC 62271-200 (Conjuntos de Manobra e Exemplo: NR 10 (Norma Regulamentadora 10, do M.T.E.).
Controle entre 1 e 52 kV).
Apoio
32

quais estão diretamente relacionados com as características segurança altos. Por exemplo: uso de terminais grandes
Conjuntos de manobra e controle de potência

de suportabilidade às solicitações térmicas e dinâmicas da em componentes, acessíveis quando energizados, porém


instalação, principalmente nos primeiros ciclos; além da facilmente inspecionáveis.
capacidade de interrupção do disjuntor associado. Outro Já as normas IEC não se prendem ao “COMO”. Elas
ponto implícito está relacionado a solicitação termodinâmica determinam somente “O QUE” deve ser obtido pelos projetos
impingida pelo improvável, mas não descartável, evento de e aplicações dos produtos. Desta forma, se tem:
um arco elétrico em algum ponto do sistema, especialmente no
interior de um Conjunto de Manobra e Controle (CMC). • Produtos com aplicações específicas;
Desta forma, os fabricantes e pesquisadores procuram • Produtos mais compactos.
evoluir nos seus conceitos e projetos, de modo a serem
obtidos produtos seguros e confiáveis que possam ter suas Como consequência, podemos afirmar que temos:
características comprovadas. Neste processo, existem muitos • Custos de engenharia mais altos;
parâmetros que são ainda de difícil emulação puramente • Custos de componentes mais baixos;
matemática ou acadêmica, daí a real necessidade de se • Necessidade de inventários maiores para cobrir as faixas
buscar a comprovação, baseando-se num dos conceitos de aplicação.
fundamentais da engenharia: a excelência da argumentação
pela sistematização experimental. A linha atual de Conjuntos A IEC garante a segurança por meio de testes extensivos
de Manobras e Controles de Potência fabricados no Brasil dos produtos sob as piores condições possíveis de uso. Por
está fundamentada nos modelos desenvolvidos e ensaiados exemplo: terminais menores nos componentes, protegidos
nas escolas: norte-americana (projetos ANSI/NEMA/UL) e fisicamente e, inerentemente, a “prova de dedos”, porém de
europeia (projetos IEC). Todas estas culturas técnicas prezam, difícil inspeção.
essencialmente, pela segurança de usuários e instalações,
e, também, pela operação confiável dos equipamentos Tipos usuais de documentos
conforme os padrões mais altos de tecnologia e economia. Tipos de documentos do IEEE
Neste processo contínuo, existem vários ensaios cujos O IEEE publica, basicamente, os seguintes tipos de
resultados podem não serem satisfatórios e implicarem em documentos:
novos testes, repetidos após a inclusão das modificações
determinadas pelo aprendizado da experimentação e pelo • Normas (“Standards”): documentos com requerimentos
amadurecimento das bases científicas. mandatórios;
No final das contas, as duas culturas precisam se adequar • Guias de aplicação (“Application guides”): documentos
às leis e limitações definidas na física e na química para os nos quais são sugeridas boas práticas, mas sem limitações
fenômenos que irão determinar a operação de um sistema ou definidas para seu uso;
de um equipamento elétrico. • Práticas recomendadas (“Recommended practices”):
A filosofia ANSI/NEMA/UL visa determinar o “COMO” e documentos nos quais filosofias e procedimentos preferidos
“O QUE” devem ser obtidos pelos projetos e aplicações dos pelo IEEE são apresentados;
produtos. Isto objetiva: • Documentação experimental (“Trial-on documents”):
documentos com validade limitada a dois anos. Podem
• Padronização com redução de custos e tempos de entrega; pertencer a qualquer uma das categorias acima, sendo
• Produtos que cubram uma faixa maior de uso. normalmente usadas quando da introdução de normas
relativas a tecnologias recentes.
Como consequência desta abordagem, podemos afirmar
que: Tipos de documentos da IEC
A IEC publica, basicamente, os seguintes tipos de
• A seleção dos produtos torna-se mais fácil; documentos:
• Porém, os produtos tendem a ser “sobredimensionados”.
• Normas internacionais (“International standards”);
Os produtos ANSI/NEMA/UL garantem a segurança • Especificações técnicas (“Technical specifications”);
através do desenvolvimento de produtos com fatores de • Relatórios técnicos (“Technical reports”).
Apoio
34

Sendo que, dentro da cultura europeia, o encadeamento • C37.20.3: Standard for Metal-Enclosed Interrupter
Conjuntos de manobra e controle de potência

básico entre normas e associações técnicas se dá em torno da Switchgear


seguinte estrutura: • C37.20.4: Standard for Indoor AC Switches (1 kV – 38 kV)
for Use in Metal-Enclosed Switchgear
• ISO – International Organization for Standardization; • C37.20.7: IEEE Guide Testing Metal-enclosed Switchgear
• IEC – International Electrotechnical Commission; rated up to 38kV for Internal Arcing Faults
• CENELEC – European Committee for Electrotechnical • C37.21: Standard for Control Switchboards
Standardization; • C37.23: IEEE Standard for Metal-Enclosed Bus and
• EN – European Standard; Calculating Losses in Isolated-Phase Bus
• CE – “Conformite Europeen”: Selo obrigatório dentro da • IEEE C37.100.1-2007: Standard of Common Requirements
União Europeia. for High Voltage Power Switchgear Rated Above 1000V

Compêndio IEC:
A seguir são apresentadas, sem a intenção de esgotar o • IEC 62271-200: High-voltage switchgear and controlgear
assunto, listas, conforme os respectivos órgãos normativos, – Part 200: A.C. metal-enclosed switchgear and controlgear
com algumas das normas técnicas mais usuais no projeto, for rated voltages above 1 kV and up to and including 52 kV
fabricação, ensaios e uso de conjuntos de manobra e controle (supersedes a IEC 60298)
de potência (CMCP) de BT e MT. • IEC 62271-1: High-voltage switchgear and controlgear –
Part 1: Common specifications (supersedes a IEC 60694)
ABNT: • IEC 60529: Degrees of protection provided by enclosures
• NBR 5410: Instalações elétricas de baixa tensão (IP Code)
• NBR IEC 60529: Graus de proteção para invólucros de • IEC 60664-1: Insulation coordination for equipment within
equipamentos elétricos (código IP); que substituiu a NBR low-voltage systems – Part 1: Principles, requirements and test
6146 (Invólucros de Equipamentos Elétricos – Proteção) • IEC 60865 (all parts): Short-circuit currents – Calculation
• NBR IEC60439-1: Conjuntos de manobra e controle of effects
de baixa tensão – Parte 1: Conjuntos com ensaio de tipo • IEC 60439-1: Low-voltage switchgear and controlgear
totalmente testados (TTA) e conjuntos com ensaio de tipo assemblies – Part 1: Type-tested and partially type-tested
parcialmente testados (PTTA); que substituiu a NBR 6808 assemblies (Replaced by IEC 61439-1 and IEC 61439-2)
(Conjunto de manobra e controle de baixa tensão montados • IEC 61439-1: Low-voltage switchgear and controlgear
em fábrica – CMF) assemblies – Part 1: General rules (Edition 1.0 / 2009-01)
• NBR IEC62271-200: Conjunto de manobra e controle em • IEC 61439-2: Low-voltage switchgear and controlgear
invólucro metálico para tensões acima de 1 kV até 52 kV; assemblies – Part 2: Power switchgear and controlgear
que substituiu a NBR 6979 (Conjunto de manobra e controle assemblies (Edition 1.0 / 2009-01 – PSC Assemblies)
em invólucro metálico para tensões acima de 1 kV até 36,2 • IEC 61439-3: Low-voltage switchgear and controlgear
kV – Especificação) assemblies – Part 3: Distribution boards intended to be operated
• NBR IEC60694 (2006): Especificações comuns para normas by ordinary persons (DBO) (supersedes IEC 60439-3)
de equipamentos de manobra de alta-tensão e mecanismos • IEC 61439-4: Low-voltage switchgear and controlgear
de comando; que substituiu a NBR 10478 (Cláusulas comuns assemblies – Part 4: Assemblies for construction sites
a equipamentos elétricos de manobra de tensão nominal (supersedes IEC 60439-4)
acima de 1kV – Especificação) • IEC 61439-5: Low-voltage switchgear and controlgear
• NBR 14039: Instalações elétricas de média tensão de 1,0 assemblies – Part 5: Assemblies for power distribution in
kV a 36,2 kV public networks (supersedes IEC 60439-5)
• IEC 61439-6: Low-voltage switchgear and controlgear
ANSI / IEEE: assemblies – Part 6: Busbar trunking systems (busways)
• C37.20.1: Standard for Metal-Enclosed Low-Voltage Power (supersedes IEC 60439-2)
Circuit Breaker Switchgear • IEC 60947-1 - Low-voltage switchgear and controlgear –
• C37.20.2: Standard for Metal-Clad Switchgear Part 1: General rules
Apoio
36

• IEC 60947-2 - Low-voltage switchgear and controlgear – • IEEE Std 1584 - 2002: IEEE Guide for Performing Arc Flash
Conjuntos de manobra e controle de potência

Part 2: Circuit-breakers Hazard Calculations


• IEC 60947-3 - Low-voltage switchgear and controlgear – • NFPA 70E – 2009: Electrical Safety Requirements for
Part 3: Switches, disconnectors, switch-disconnectors and Employee Workplace
fuse-combination units • ANSI Z535.4 – 1998: Product Safety Signs and Labels
• IEC 60947-4-1 - Low-voltage switchgear and controlgear • NEMA ICS 2.4 – 2003: NEMA and IEC devices for motor
– Part 4: Contactors and motor-starters – Section 1: service – A guide for understanding the differences
Electromechanical contactors and motor-starters • ANSI/IEEE C37.04: Standard Rating Structure for AC High-
• IEC 62271-100: High-voltage switchgear and controlgear Voltage Circuit Breakers
– Part 100: High-voltage alternating current circuit-breakers • ANSI/IEEE C37.06: AC High-Voltage Circuit Breakers Rated
(old IEC 60056) on a Symmetrical Current Basis – Preferred Ratings and
• IEC 62271-102: High-voltage switchgear and controlgear Related Required Capabilities
– Part 102: Alternating current disconnectors and earthing • ANSI/IEEE C37.09: Standard Test Structure for AC High-
switches Voltage Circuit Breakers
• IEC 62271-105: High-voltage switchgear and controlgear – • ANSI/IEEE C37.50: Low-voltage AC Power Circuit Breakers
Part 105: Alternating current switch-fuse combinations used in enclosure – Test Procedures
• IEC 62271-106: AC contactors, contactor-based controllers • ANSI/IEEE C37.51: Metal-enclosed Low-voltage AC Power-
and motor-starters Circuit-Breaker Switchgear Assemblies – Conformance Test
• IEC 60282-1: High-voltage fuses – Part 1: Current-limiting Procedure
fuses • ANSI/IEEE C37.54: Conformance Test Procedures for indoor
• IEC 60044-1: Instrument transformers – Part 1; Current AC MV Circuit breakers applied as removable element in
transformers Metal-enclosed Switchgear
• IEC 60044-2: Instrument transformers – Part 2; Inductive • ANSI/IEEE C37.55: Medium Voltage Metal-clad Assemblies
voltage transformers – Conformance Test Procedures
• ANSI/IEEE C37.57: Assemblies Conformance Testing
NEMA: • ANSI/IEEE C37.59: Standard Requirements for Conversion
• 250 - 2003: Enclosures for Electrical Equipment (1000 volts of Power Switchgear Equipment
maximum)
• BU1 - 1999: Busways Como já mencionado anteriormente, o universo
• ICS1 - 2000: Industrial Control and Systems: General normativo é muito dinâmico, por conta disso, é recomendável
Requirements consultas periódicas a documentos ou páginas eletrônicas
• ICS2 - 2000: Industrial Control and Systems: Controllers, dos principais órgãos normativos. A seguir, é apresentada
Contactors and Overload Relays uma lista básica de referência:
• ICS3 - 1993 (R2000): Industrial Control and Systems: • www.abnt.org.br;
Medium Voltage Controllers rated 2001 to 7200 volts AC (Até • www.iec.ch;
1993 a ICS3 era sobre “Factory Built Assemblies” e a ICS247 • www.ieee.org;
sobre “MV Contactors and Starters”) • www.cigre.org;
• ICS6 - 1993 (R2001): Industrial Control and Systems: • www.ansi.org;
Enclosures • www.nema.org.
• ICS18 - 2001: Motor Control Centers
• PB1: Panelboards
• PB2 / PB2.1: Dead Front Switchboards

Outras normas nacionais / internacionais


associadas ao uso de painéis elétricos:
• NR-10: Norma Regulamentadora número 10
• NFPA-70: National Electrical Code (NEC)
Apoio
32
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo III

Conjuntos de manobra e controle


de média tensão em invólucros
metálicos

O primeiro passo na aplicação de um Unidos, Canadá e várias nações da União


conjunto de manobra e controle é identificar o Europeia, é comum o uso dessa expressão para
tipo de corrente elétrica presente no ponto da uma faixa de tensão, em corrente alterna, cujo
instalação: valor eficaz entre fases, está acima de 1 kV e
abaixo de 69 kV.
• Alternada ou contínua; A Conferência Internacional sobre Redes
• Se alternada, qual a frequência; de Distribuição (Cired) vem tentando, junto
• Os níveis de tensão e de isolamento. a IEC, introduzir uma nova classificação para
os valores das tensões usadas e, assim, adotar,
No caso de uso de corrente alternada ou de também, o uso da expressão “média tensão”
corrente contínua, tanto a Associação Brasileira para cobrir a faixa mencionada no parágrafo
de Normas Técnicas (ABNT) quanto a IEC anterior. No entanto, ainda não existe nenhuma
(International Electrotechnical Commission), ratificação por parte da IEC. Aqui no Brasil, a
além de outros órgãos, como o Cenelec Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),
(European Committee for Electrotechnical no conjunto de módulos dos Procedimentos
Standardization), costumam a classificar a de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema
tensão, com base nos níveis operacionais, Elétrico Nacional (Prodist), usa o termo “Média
como alta ou baixa. Estas faixas, em corrente tensão de distribuição (MT)” para designar a
alternada, se enquadram em: tensão entre fases cujo valor eficaz é superior
a 1 kV e inferior a 69 kV.
• Baixa Tensão (BT): para valores eficazes de Com relação à expressão “conjunto de
tensões entre fases até 1.000 V, inclusive. manobra e controle”, a ABNT NBR IEC 62271-
• Alta Tensão (BT): para valores eficazes de 200, de 2007, a define como sendo um termo
tensões entre fases acima de 1.000 V. geral que contempla os dispositivos de manobra
e suas combinações com os equipamentos
Deste modo, é normal que a expressão associados de controle, medição, proteção
“média tensão (MT)” possa gerar alguma e regulação, incluindo as suas respectivas
confusão ou estranheza. Porém, tanto no montagens e as interligações associadas, os
Brasil quanto em outros países, como Estados acessórios, invólucros e estruturas-suporte.
Apoio
33

Já a definição para conjunto de manobra e controle em • Nível nominal para compartimentos preenchidos por
invólucro metálico seria aplicada naqueles casos em que fluidos.
os conjuntos possuem um invólucro metálico externo,
previsto para ser aterrado, e fornecido completamente Claro que os tópicos anteriores não se bastam por si
montado, com exceção das conexões externas. só para a aplicação dos equipamentos. Um passo inicial
A aplicação de um conjunto de manobra e controle de é consultar o capítulo “8” da norma “IEC 62271-200”
média tensão em invólucro metálico é feita, inicialmente, ou de sua NBR equivalente. Este capítulo possui três
com base nas características nominais necessárias ao seções que ajudam na seleção dos valores nominais, do
equipamento: projeto construtivo a ser adotado e a classificação de
arco interno, caso seja aplicável.
• Tensão nominal (Ur). O material mencionado e as informações contidas
• Nível de isolamento nominal (valores das tensões na literatura técnica disponível, como na norma “Ansi /
suportáveis nominais a frequência industrial – Ud, e ao IEEE C37.20.2”, têm como objetivo servir de guia para a
impulso atmosférico – Up). seleção de conjuntos de manobra e controle de média
• Frequência nominal (fr). tensão em invólucros metálicos.
• Corrente nominal de regime contínuo (Ir). É preciso atentar para as situações que apresentem
• Corrente suportável nominal de curta-duração (Ik). desvios dos valores considerados como padrões nas
• Valor de pico da corrente suportável nominal (Ip). normas para aplicação dos equipamentos, tais como:
• Duração da corrente suportável (tk). temperatura, altitude, influência de radiação solar, nível
• Valores nominais dos componentes incluídos no de umidade ou condições especiais de serviço (presença
conjunto de manobra e controle. de fumaça, pó, gases, etc.).
Apoio
34

Descritivo O uso da expressão: “metal-enclosed” está associado


Conjuntos de manobra e controle de potência

As duas maiores escolas mundiais relacionadas a formas construtivas autossustentáveis que apresentem
com o desenvolvimento, projeto, construção e uso dos invólucro metálico externo. E elas podem ser aplicadas
conjuntos de manobra e controle de média tensão são: tanto em baixa tensão (BT) quanto em média tensão
a norte-americana (que está baseada nas normas Ansi / (MT). Sendo que, nos casos de aplicações em MT, está
Nema / UL) e a europeia (que segue as normas IEC). subentendido que é obrigatório, também, o uso de
As duas escolas não são exclusivas. Ambas se focam no barreiras metálicas na separação entre o compartimento
desempenho seguro e confiável do conjunto de manobra de BT (controle) e as partes em alta tensão.
e controle, com base nos fenômenos físicos intrínsecos O termo “metal-clad” é aplicável a estruturas de média
à operação elétrica dos equipamentos em condições tensão que, além de serem “metal-enclosed” (possuírem
normais e anormais. Cada uma apresenta as suas próprias um invólucro metálico externo), apresentam outras
características, mas ambas caminham, atualmente, para divisórias internas de material metálico, que separam os
um processo de harmonização de requisitos. compartimentos que compõem a coluna: controle (BT),
Porém, antes de continuar qualquer análise, é preciso disjuntor, cabos e barramento principal. Destas premissas,
esclarecer alguns conceitos e termos disseminados na surgem, também, conforme a Ansi e a Nema, outras
aplicação e uso de conjuntos de manobra e controle. exigências construtivas: barramento e (colunas) adjacentes
no compartimento do barramento principal, uso obrigatório
de disjuntores do tipo extraível, os transformadores de
potencial (TPs) e os auxiliares de controle (TACs), devem ser
montados em compartimento próprio.

Figura 1 – Exemplos de formas construtivas usuais conforme cultura


técnica das escolas norte-americana (Ansi / Nema) e europeia (IEC).

Legenda:
1 - Compartimento de BT;
2 - Dispositivos de alívio de sobrepressão (alívio de gases);
3 - Compartimento do barramento principal;
4 - Compartimento do elemento de manobra;
5 - Elemento de manobra;
6 - Transformadores de corrente (TCs);
7 - Terminação dos cabos de potência;
8 - Chave de aterramento.
Figura 2 – Visualização esquemática de uma coluna de CMC de MT.
Figura 3 – Visualização dos conceitos “metal-clad” e “metal-
enclosed” para coluna de CMC de MT.
Existem conceitos oriundos da escola “Ansi / Nema” para
a definição estrutural dos conjuntos de manobra de potência, A IEC e a ABNT adotam também o uso do termo
que permeiam a cultura brasileira. Os mais comuns e que “metal-enclosed” para indicar os casos em que os
geram, ainda, muitas dúvidas e são os que estão associados conjuntos de manobra e controle são montados em
às expressões: “metal-enclosed” e “metal-clad”. invólucros metálicos. Já a expressão “metal-clad” foi
35

abandonada pela IEC na emissão da norma IEC 62271-


200, que substitui a IEC 60298 (antiga norma para os
conjuntos de manobra e controle de alta tensão em
invólucros metálicos).
Para se ter uma noção básica da comparação entre as
concepções e definições da IEC (ABNT) e da Ansi/IEEE
para um conjunto de manobra blindado (“metal-clad”), é
mostrado, a seguir, na Tabela 1, um resumo baseado na tabela
“C.1” da norma IEC 62271-200 (de novembro de 2003).

Legenda:
1 - Compartimento de BT;
2 - Duto de gases;
3 - Compartimento do barramento principal;
4 - Compartimento do elemento de manobra;
5 - Elemento de manobra (no caso, disjuntor);
6 - Transformadores de corrente (TCs);
7 - Terminação dos cabos de potência;
8 - Chave de aterramento;
9 - Guilhotinas automáticas;
10 - Transformadores de potencial (TPs);
11 - Barra de terra.
Figura 4 – Partes construtivas de uma coluna de conjunto de
manobra e controle de MT em invólucro metálico.
Tabela 1 – Comparativo simplificado entre os requisitos construtivos
de um “metal-clad”, conforme IEC e Ansi

IEC 60298 (1990) IEEE C37.20.2


>= 3 compartimentos >= 3 compartimentos
Permite disjuntor fixo Somente disjuntor extraível
Permite condutores nus Condutores e conexões primárias
cobertas por material isolante
Permitida a montagem fixa Transformador com dispositivo-
de TPs e dos transformadores fusível e partes extraíveis.
de controle TPs e TAC em compartimento próprio
Não exige o uso de barreiras Barreiras entre colunas do
entre colunas no compartimento barramento principal
do barramento principal
Legenda:
• TPs: Transformadores de potencial.
• TAC: Transformador auxiliar de controle.
Apoio
36

Nas Figuras 5 e 6, pode-se visualizar a diferença Uma unidade funcional, conforme as normas ABNT
Conjuntos de manobra e controle de potência

conceitual que existe entre as duas normas no que diz e IEC aplicáveis estabelecem, é a parte da estrutura
respeito à exigência de barras isoladas e de buchas de que contém os componentes dos circuitos principais
passagem (barreiras entre colunas adjacentes) no arranjo e auxiliares relativos a uma única função, como por
e montagem do barramento principal de um conjunto exemplo: unidade de entrada, unidade de saída, etc.
de manobra e controle de MT em invólucro metálico. Na Esta definição está em conformidade com o vocabulário
Figura 5, tem-se uma vista traseira de um típico conjunto internacional (ver a cláusula “IEC 441-13-04” – definição
de manobra, conforme IEC, em que se nota as barras nuas modificada).
e o compartimento do barramento principal sem barreiras Uma das formas construtivas mais usada atualmente
(buchas isolantes de passagem) entre colunas adjacentes. Na na montagem de um conjunto de manobra e controle de
Figura 6, pode-se ver a aplicação de dois tipos de buchas média tensão é o arranjo com um disjuntor (elemento
de passagem (barreiras entre colunas adjacentes), além de de manobra) por coluna (unidade funcional), montado
barras e conexões isoladas no compartimento do barramento a meia altura (aproximadamente no meio da seção). Esta
principal, típico da cultura Ansi/IEEE/Nema/UL. forma pode ser denominada “um elemento por coluna”.
Dentro deste contexto, uma unidade funcional, na
maioria das vezes, confunde-se com a própria seção e/
ou coluna em que está montada.

Figura 5 – Vista traseira de um típico conjunto de manobra, conforme IEC.

Figura 7 – Exemplo de uma unidade funcional.

Uma unidade funcional (UF) irá apresentar, além do


compartimento de controle, também chamado de BT
(baixa tensão), outros compartimentos em que possa existir
a presença de alta tensão (valores acima de 1 kV em CA), os
quais podem ser chamados de principais ou de potência.

Figura 6 – Vista de buchas de passagem (barreiras entre colunas


adjacentes) e barras isoladas no compartimento do barramento principal.

Filosofias construtivas
Um conjunto de manobra e controle de média tensão
possui, na grande maioria dos casos, várias unidades
funcionais montadas em um invólucro, formando uma
estrutura única. Estes invólucros devem prover, pelo Legenda:
I - Compartimento de BT.
menos, um grau de proteção IP2X. Esse grau serve tanto II - Compartimento do barramento
para a proteção do equipamento contra as influências principal.
III - Compartimento do elemento de
externas, quanto para a proteção humana, no que diz manobra (disjuntor ou contator).
respeito à aproximação ou contato com partes vivas e IV - Compartimento de cabos.

contra contato com as partes móveis. Figura 8 – Compartimentos de uma unidade funcional.
Apoio
37

O compartimento principal, também chamado • Acessível.


de compartimento de alta tensão, é a parte de uma • Não acessível.
unidade funcional de um conjunto de manobra
e controle de MT onde se encontram partes com Um compartimento, dito acessível, pode ter o acesso
tensão superior a 1 kV, em CA, enclausuradas pelo controlado com base em:
invólucro, com exceção das aberturas necessárias • Intertravamento.
para interconexões, ventilação ou acionamento. • Procedimento.
Aos compartimentos principais, ou seja, • Ferramenta.
aqueles que possuem circuitos de potência, está
associado o conceito de acessibilidade. Em outras Neste processo de se buscar a compreensão quanto
palavras, a classificação de um compartimento a forma como são dispostos os compartimentos dentro
principal de uma unidade funcional quanto ao de uma unidade funcional, o próximo passo é absorver
tipo de acesso ao mesmo estabelece como está o conceito de divisão: parte construtiva do conjunto que
definida a possibilidade ou não de sua abertura. A separa um compartimento dos demais.
classificação e a explicação das propriedades de Com relação à classe de divisão, a “IEC 62271-
um compartimento quanto a sua acessibilidade está 200” apresenta uma classificação, conforme a Tabela 3,
definida na Tabela 2. mostrada a seguir, de acordo com o material (metálico ou
Os compartimentos principais são quatro: três não metálico) utilizado para o tipo de partição ou barreira
que podem ser abertos e um que não pode. Assim, existente entre as partes vivas. Isto se aplica, também, aos
eles são, basicamente, divididos em dois tipos: casos de compartimento acessível aberto.
Apoio
38

Tabela 2 – Classificação dos tipos de compartimentos em relação à acessibilidade


Conjuntos de manobra e controle de potência

Tipos Características
Compartimento Acessível com base A ser aberto em condições normais Não são necessárias ferramentas para abertura.
acessível ao operador em intertravamento. de operação e manutenção. Intertravamentos previnem o acesso à alta tensão.
Acessível com base A ser aberto em condições normais Não são necessárias ferramentas para abertura.
em procedimento. de operação e manutenção. Procedimentos e travas previnem o acesso à alta tensão.
Compartimento com Acessível com base Passível de ser aberto, mas não São necessárias ferramentas para abertura. Podem ser
acesso especial em ferramenta. durante condições normais. necessários procedimentos especiais de manutenção.
Compartimento não Não é possível ao Não é previsto para ser aberto. Abertura pode afetar o compartimento. Deve
acessível usuário abrir. haver a indicação clara ao usuário para não abrir.
Acessibilidade não é relevante.

Tabela 3 – Categorias das partições entre partes vivas e da segurança humana e patrimonial. A atual
compartimento acessível aberto
classificação quanto à perda de continuidade de
Classe de Divisão Características
Obturadores metálicos e divisão serviço das unidades funcionais de um conjunto de
PM metálica entre as partes vivas e o manobra e controle, conforme a norma “IEC 62271-
(Partição Metálica) compartimento aberto (mantida a 200”, encontra-se na Tabela 4. As Figuras 9 a 14
condição de invólucro metálico). mostra exemplos das diferentes categorias, com o
Descontinuidade nas divisões metálicas uso de visualizações esquemáticas.
PI ou nos obturadores metálicos, existentes
(Partição Isolante) entre as partes vivas e o compartimento
aberto, devido ao uso de partes isolantes.

Existe também uma classificação dos conjuntos


de manobra e controle baseada na sua capacidade de
manterem algum nível de “continuidade de serviço”
enquanto um dos seus compartimentos principais é
aberto. A perda de continuidade de serviço, “LSC”
(“Loss of Service Continuity”), está baseada na
condição de abertura de um compartimento principal
acessível. Sendo assim, este tópico é de fundamental
importância para a definição de procedimentos
operacionais e de manutenção, dentro do contexto Figura 9 – Categoria LSC1.

Tabela 4 – C lassificação dos tipos de categoria quanto à perda de continuidade de serviço quando da abertura
de um compartimento acessível

Tipos de Categorias Características Ver Figura(s)


Características
LSC1 Não é prevista a continuidade de serviço quando da abertura de um compartimento 9
acessível de uma UF. No mínimo, outra UF terá que ser desenergizada. Pode ser necessário o
desligamento e o aterramento de todo o conjunto.
Permite uma maior continuidade de serviço durante o acesso ao compartimento de conexão
LSC2 (cabos de potência). No mínimo, o barramento principal deve poder ser mantido energizado. 10 e 11
As demais UFs podem operar normalmente.
UF da categoria LSC2 em que qualquer compartimento acessível, com exceção do
LSC2 _A barramento principal em conjuntos de barra simples, ao ser aberto permite que o barramento 12
principal possa estar energizado e as demais UFs possam operar normalmente.
UF similar a LSC2A em que o respectivo compartimento de conexão (cabos de força) pode,
_B também, permanecer sob tensão. O barramento principal, demais unidades funcionais e 13 e 14
todos os compartimentos de cabos podem estar energizados e operar normalmente.
Apoio
39

Figura 10 – Categoria LSC2 (seccionamento e aterramento no Figura 12 – Categoria LSC2A.


compartimento do disjuntor).

Figura 11 – Categoria LSC2 (seccionamento e aterramento no Figura 13 – Categoria LSC2B (disjuntor fixo).
compartimento do barramento principal).
Apoio
40

Apesar da probabilidade muito baixa da ocorrência de


Conjuntos de manobra e
controle de potência

uma falta por arco interno em um conjunto de manobra e


controle aplicado, projetado, montado e operado conforme
as diretrizes das normas e instruções do fabricante; não se
pode ignorar este tipo de evento. Por conta disso, na norma
“IEC 62271-200” e a NBR equivalente, foi introduzida a
classificação relacionada à segurança pessoal em caso de um
arco interno. Ela é construída partindo-se da denominação
dada pela sigla “IAC” (“Internal Arc Classification”). A esta
sigla estão associados os tipos de acessibilidade a cada face
de um conjunto de manobra e controle, além do valor eficaz
da corrente e do tempo de ensaio nas condições de arco
interno. As categorias são definidas levando-se em conta
os riscos mecânicos, elétricos e de incêndios no caso de um
arco interno durante a operação normal de um conjunto de
manobra e controle.
Tabela 5 – Classificação quanto a um arco interno
Categoria Características
IAC (“Internal Arc Não pode ocorrer nenhuma ejeção de
Classification”) partes, nenhuma ignição de roupas,
tecidos e o aterramento do invólucro
deve permanecer efetivo.
Figura 14 – Categoria LSC2B (disjuntor extraível).
Apoio
42

Os complementos necessários para se configurar esta É importante ressaltar que um conjunto de manobra pode
Conjuntos de manobra e
controle de potência

classificação quanto ao evento de um arco interno são os ter diferentes tipos de acessibilidade para os seus vários lados.
seguintes:
Exemplos de classificação IAC:
• Tipos de acessibilidade:
– Tipo A: restrito somente a pessoal autorizado. • IAC – AFLR – 40 kA – 1 s: acessibilidade, somente
– Tipo B: não restrito (público, em geral). de pessoal autorizado, na frente, laterais e traseira do
– Tipo C: restrito pela instalação fora de alcance e conjunto para uma falta por arco interno limitada a 40
acima da área de acesso. kA e 1 s.
• IAC – BF-AR – 20 kA – 0,1 s: acessibilidade para o
• Lados aos quais se aplicam a acessibilidade: público em geral na parte frontal e somente para pessoal
– F: para a parte frontal do conjunto. autorizado na traseira do conjunto, para uma falta por
– L: para as partes laterais do conjunto. arco interno limitada a 20 kA e 0,1 s.
– R: para a parte traseira (posterior / retaguarda) do
conjunto.

• Valores da corrente e do tempo usados no ensaio:


– Corrente de falta, em kA eficazes simétricos.
– Duração da falta, em segundos.
Apoio
30
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo IV

Conjuntos de manobra e controle


de média tensão em invólucros
metálicos
Características construtivas

Conforme o capítulo 4 da IEC 62271-200 e a operação (Ue) em média tensão no segmento


NBR correspondente, as características elétricas industrial são: 4,16 kV e 13,8 kV. Além deles,
nominais de um conjunto de manobra e controle é possível, também, encontrar sistemas em
em invólucro metálico para as tensões acima de 2,4 kV e 34,5 kV. Porém, a escolha de 2,4 kV
1 kV e até 52 kV, inclusive, são: tem sido, praticamente, evitada no caso das
novas aplicações industriais. Já os sistemas
1 – Tensão nominal (Ur); com tensão operacional de 34,5 kV vêm, nos
2 – Nível de isolamento nominal (valores das últimos anos, aumentando a sua presença. É
tensões suportáveis nominais à frequência possível também encontrar instalações com
industrial – Ud, e ao impulso atmosférico – tensões de operação em 3,3 kV e 6,6 kV,
Up); porém, não são comuns.
3 – Frequência nominal (fr);
Tabela 1 – Tensões e níveis de isolamento nominais
4 – Corrente nominal de regime
contínuo (Ir); Brasil Tabela 1b Tabela 1a
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
5 – Corrente suportável nominal de
Ue Ur Ud Up Ur Ud Up
curta duração (Ik);
(kV) (kV) (kV) (kV) (kV) (kV) (kV)
6 – Valor de pico da corrente
[2,4] 4,76 19 60 3.6 10 40
suportável (Ip); [3,3/3,45] 4,76 19 60 3.6 10 40
7 – Duração nominal de curto- 4,16 4,76 19 60 7.2 20 60
circuito (tk). [6,6/6,9] 8,25 36 95 7.2 20 60
[11,0] 15 36 95 12.0 28 75
1) Tensão nominal (U r): Os valores 13,8 15 36 95 17.5 38 95

mais comuns para a tensão de [23,0] 27 60 125 24.0 50 125


34,5 38 80 150 36.0 70 170
Apoio
31

Notas: não reflete a realidade, já que a tensão nominal representa


• Coluna 1: valores comuns da tensão de operação no Brasil. o máximo valor ao qual a instalação pode ficar sujeita: no
Os valores entre colchetes, apesar de serem utilizados, não caso, por exemplo, de 13,8 kV os sistemas nacionais não
são muito comuns no setor industrial brasileiro; ultrapassam o limite de 15 kV. Porém, o impacto não é
• Colunas 2 / 3 / 4: relativas a tabela 1b (faixa I / série II significativo no contexto relativo aos valores dos níveis de
de tensões nominais – Ur) da IEC 62271-1, cujos valores se isolamento nominais.
alinham com as práticas brasileiras;
• Colunas 5 / 6 / 7: relativas a tabela 1a (faixa I / série I de 2) Nível de Isolamento Nominal (Ud / Up): se for
tensões nominais – Ur) da IEC 62271-1; mantida a análise prévia para os sistemas com tensões
• Ue : tensão de operação (kV – valor eficaz); de operação em 4,16 kV e 13,8 kV, pode-se notar que
• Ur : tensão nominal (kV – valor eficaz); os valores de 20 kV e 38 kV adotados para tensão
• Ud : tensão nominal suportável a frequência industrial suportável à frequência industrial (respectivamente para
(kV – valor eficaz); as tensões nominais de 7,2 kV e 17,5 kV) não implicam
• Up : tensão nominal suportável ao impulso atmosférico – nenhum grande impacto. Esses valores são muito
NBI (kV – valor de crista). próximos dos aplicáveis no caso de se usar a tabela 1b
(faixa I/série II de tensões da IEC 62271-1), ou seja: 19
A prática, muitas vezes, adotada no Brasil é associar os kV e 36 kV, respectivamente, para as tensões nominais
valores de 4,16 kV e 13,8 kV às tensões nominais (Ur) de 7,2 de 4,76 kV e 15 kV. A tensão suportável nominal ao
kV e 17,5 kV da tabela 1a da IEC 62271-1: 2007: Níveis de impulso atmosférico – NBI (U p) apresenta os mesmos
isolação nominais para tensões nominais da faixa I, série I valores para ambas as tabelas da faixa I: 60 kV e 95 kV,
(valor eficaz da tensão nominal – Ur). Isso, de certa forma, respectivamente.
Apoio
32

3) Frequência nominal (fr): A prática atual em todo o conforme a norma internacional ISO 3. Estes valores
Conjuntos de manobra e controle de potência

território brasileiro é o uso do valor de 60 Hz. foram propostos, originalmente, em 1870 por Charles
Renard (1847–1905), um engenheiro militar francês. E,
4) Valor da corrente nominal de regime contínuo (Ir) e em sua homenagem, adotou-se a letra R para designar
máxima elevação de temperatura: Neste caso, a ABNT cada uma das séries (R5, R10, R20, R40 e R80). Estes
segue a recomendação internacional de adotar, para os valores estão divididos em cinco conjuntos de números
valores da corrente nominal, os múltiplos da série R10, arredondados a partir das séries geométricas propostas:
conforme descrito na IEC 60059 (IEC standard current 10N/5, 10N/10, 10N/20, 10N/40 e 10N/80.
ratings). Um ponto interessante, ao compararmos os limites
de temperatura propostos pela IEC em relação à Ansi,
Tabela 2 – Valores típicos para corrente nominal de regime contínuo (Ir)
é o fato de a primeira permitir uma sobre-elevação de
Marcas Valores típicos da IEC
temperatura maior: 75 ºC (IEC) em comparação a 65 ºC
(1) (2)
(ANSI). Tal situação promove uma percepção confortável
A
para os usuários finais que aplicam equipamentos
(*) 630
800 de origem Ansi num contexto IEC. Este fato pode ser
1.000 explicado a partir da seguinte equação, a qual relaciona
(*) 1.250 as elevações de temperatura aos níveis de corrente.
1.600
(*) 2.000
2.500
(*) 3.150
4.000
Os termos mostrados significam:

Notas:
• Ir: Valor da corrente nominal.
• Coluna 1: a marca (*) indica os valores mais usados nos
• Ie: Valor da corrente de operação.
conjuntos de manobra e controle de MT.
• Δυr: Elevação de temperatura nominal.
• Coluna 2: valores da corrente nominal de regime contínuo
• Δυe: Elevação de temperatura em operação.
(Ir) conforme a subseção 4.4.1 da IEC 62271-200.

Tabela 3 – Limites de elevação de temperatura, conforme a tabela 3 da Como um exemplo para o ponto mencionado
norma IEC 62271-1 anteriormente, vamos verificar o que ocorre ao se aplicar
Conexão de barras ou Elev. Temp. Temp. Total 3.150 A em um equipamento Ansi de 3.000 A com conexões
terminação de cabos o
C o
C
prateadas aparafusadas nos barramentos. Com base na
Barras de cobre nu 50 90
relação (1), a seguinte relação se aplica:
Barras estanhadas 65 105
Barras prateadas 75 115
Barras niqueladas 75 115
Cabo a barra de cobre nu 50 90
Cabo a barra estanhada 65 105
Cabo a barra prateada 65 105 O resultado da relação anterior é, aproximadamente,
72 ºC. Isso representa a elevação de temperatura para
A série R10 (constituída pelos valores: 1 / 1.25 / 1.6 / uma corrente de 3150 A em um equipamento Ansi para
2 / 2.5 / 3.15 / 4 / 5 / 6.3 / 8 e seus múltiplos) é parte de 3.000 A. Em outras palavras, o equipamento é capaz
um sistema de números preferenciais, que foi proposto de atender ao requisito da IEC para uma elevação
com a finalidade de se padronizar os valores utilizados máxima de temperatura de 75 ºC (ver Tabela 3) para
em qualquer aplicação técnica, em conjunto com o uma conexão aparafusada de barras prateadas.
sistema métrico. Este sistema foi adotado em 1952 pela No caso de comparação de equipamentos de 1.200 A,
ISO (International Organization for Standardization), segundo a Ansi, no nível de 1.250 A, a elevação de
Apoio
34

temperatura é de, aproximadamente, 71 ºC, se levarmos da aplicação de um multiplicador ao valor eficaz da


Conjuntos de manobra e controle de potência

em conta as mesmas condições descritas no parágrafo componente simétrica da corrente de curto-circuito.


anterior para uma estrutura de 3.000 A. Este multiplicador é definido a partir do valor da relação
Outro comentário interessante quanto à elevação X/R (razão entre a reatância indutiva e a resistência)
de temperatura e sua relação com o acabamento dado para o equivalente de Thevenin do sistema elétrico,
às superfícies de contato nos pontos de conexão é o visto a partir do ponto da falta. O multiplicador é igual
fato de que, apesar de bem conhecido, o impacto da ao produto da √2 por uma constante, a qual é calculada
combinação de condições de calor e umidade com a partir do valor de X/R. Neste trabalho, esta constante
ambientes ricos em enxofre sobre certas atmosferas está representada pela letra k.
industriais.
Apesar de serem conhecidos os impactos negativos Tabela 4 – Valores típicos para corrente suportável
nominal de curta duração (Ik)
no tratamento de prata aplicada sobre superfícies
Marcas Valores típicos da IEC
de cobre (uso de prateação sobre base metálica) em
(1) (2)
ambientes industriais com atmosfera rica em enxofre kA
associados à combinação de calor com umidade, não 16
tem existido tal preocupação por parte dos profissionais 20
responsáveis pela especificação e aplicação dos (*) 25
equipamentos na maioria das vezes. O conhecido (*) 31,5

processo de corrosão do cobre (Cu) e da prata (Ag), (*) 40


50
nas condições descritas anteriormente, comum em
muitas áreas de refinarias, unidades petroquímicas,
siderúrgicas, processamento de papel e celulose e de Notas:
tratamento de água e esgoto, não tem sido considerado • Coluna 1: a marca (*) indica os valores mais
ou, mesmo, relatado como um crítico. Isso se deve, encontrados nos equipamentos de manobra de MT
talvez, ao fato da enorme tendência de se usar unidades usados em conjuntos para subestações primárias.
de ar-condicionado, sistemas de pressurização e filtros • Coluna 2: valores típicos da corrente suportável
nas salas elétricas principais, associado ao fato de ser nominal de curta-duração (I r) conforme a subseção 4.5
comum o critério de instalação dos equipamentos de da IEC 62271-200.
manobra e controle o mais distante possível das áreas
com maior concentração de gases de enxofre (sulfatos A IEC 60909 define as seguintes relações entre o
hidrogenados). Porém, cabe ressaltar que já houve valor de X/R, o valor eficaz da componente simétrica da
solicitações no mercado brasileiro para o uso de níquel corrente subtransitória de curto-circuito (Ik’’) e o valor
(Ni) como material de acabamento sobre superfícies de instantâneo de pico da crista do 1º semiciclo (ip).
cobre (Cu) nas regiões de contato das conexões elétricas
em áreas específicas de siderúrgicas e de unidades de
processamento de papel e celulose.

A relação de X/R é igual ao produto da constante de


5) Valor da corrente suportável nominal de curta- tempo (t), em milisegundos, pela velocidade angular (v) do
duração (I k): Os valores adotados são, também, sistema, em rad/s (obtida pela frequência – f):
baseados em múltiplos da série R10. Eles expressam,
em kA, o valor eficaz da componente simétrica da
corrente suportável nominal de curta duração.
6) Valor de crista da corrente suportável nominal (I p):
O valor instantâneo de crista do primeiro semiciclo A partir da relação entre a reatância indutiva (X) e a
da corrente suportável nominal de um conjunto de indutância (L), como se vê na fórmula a seguir; em que o
manobra e controle de média tensão é obtido a partir valor de f representa a frequência do sistema, em hertz,
Apoio
35

e L é a indutância, em henries, pode-se extrair o valor da


constante de tempo, em milisegundos.

Por exemplo, o valor de 2,5 representa o resultado


do produto da √2 por um valor da constante k associada Na cultura Ansi (ver documento IEEE Std C37.010/1999:
a relação X/R = 14. O valor 14 é aproximadamente igual IEEE Application Guide for AC High-Voltage Circuit Breakers
ao produto da constante de tempo (t), igual a 45 ms (valor on a Symmetrical Current Basis), são definidas as seguintes
definido na seção 4.6 da norma IEC 62271-1) e a velocidade relações entre o valor de X/R, o valor eficaz da componente
angular (v) de um sistema para a frequência de 50 Hz, como simétrica da corrente subtransitória de curto-circuito (Isym)
se pode ver a seguir: e o valor instantâneo de pico da crista do 1º semiciclo (iCL)
do curto-circuito:

No caso de 60 Hz, teríamos uma velocidade angular


(ω) com o valor de aproximadamente 377. Isso nos dá uma
relação X/R = 17, para uma constante de tempo (τ), igual a Neste contexto, é interessante notar que a norma
45 ms. Este valor nos proporciona uma constante de 2,6, para disjuntores de alta-tensão IEC 62271-100 / 2008-
como se pode ver a seguir: 04 (High-voltage switchgear and controlgear – Part 100:
Apoio
36

Alternating-current circuit-breakers) define os seguintes associada à aplicação correta dos elementos de proteção
Conjuntos de manobra e controle de potência

valores a serem usados para obter o pico do primeiro (transformadores de corrente e relés) e de manobra
semiciclo de corrente de curto-circuito: (disjuntores, contatores e fusíveis limitadores).

• 2,5 para sistemas com fr = 50 Hz e constante de tempo 1) Esforços dinâmicos oriundos das correntes de curto-
(L/R) igual a 45 ms; circuito:
• 2,6 para sistemas com fr = 60 Hz e constante de tempo Em termos mecânicos, para um curto-circuito trifásico
(L/R) igual a 45 ms; e franco (impedância zero no ponto de falha) basta uma
• 2,7 para ambas as frequências e constante de tempo simples análise da fórmula (2) da norma IEC 60865-1 /
igual a 120 ms (caso especial). 1993 (Short-circuit currents – Calculation of effects. Part
1: Definitions and calculation methods), reproduzida a
7) Duração de curto-circuito nominal (tk): A ABNT, seguir, para se notar que o aumento do valor instantâneo
a IEC e a Ansi adotam, para a duração nominal da de pico da corrente de semiciclo implica uma variação
corrente suportável, um dos seguintes valores: 1, 2 ou 3 quadrática na força resultante: 10% a mais de corrente
segundos. Apesar de ser usual o valor de 1 segundo para significam 21% a mais de força sobre as barras.
as aplicações mais comuns, tem-se visto, neste quesito,
indústrias que, por questões de segurança operacional e
confiabilidade, vem mostrando preferência pelo valor de
3 segundos.
• Fm3: força no condutor principal (fase) central devido a um
curto-circuito trifásico;
Características especiais de aplicação
• μ0: constante magnética, permeabilidade do vácuo;
Como já comentado anteriormente, a aplicação de
• ip3: valor instantâneo de crista do primeiro semiciclo da
um conjunto de manobra e controle de média tensão vai
fase com maior assimetria em um curto-circuito trifásico;
além da simples acomodação dos valores nominais do
• l: distância entre centro de linha dos suportes;
equipamento aos que são requeridos pelo sistema. Existe
• am: distância efetiva entre condutores principais adjacentes.
a necessidade concreta de identificar as várias variáveis
presentes na instalação, sejam elas de origem elétrica ou
ambiental.
A operação adequada e segura de qualquer sistema
ou equipamento elétrico depende de um compromisso
entre fornecedor e cliente. O fabricante deve garantir que
o produto irá atender o estabelecido nas normas técnicas
aplicáveis, mas é fundamental que o usuário mantenha o
local da instalação conforme os requisitos da aplicação e
operação.
Um exemplo importante e que é muito recorrente
na aplicação de cubículos é o descuido com o valor de Figura 1 – Simulação gráfica da corrente de um curto-circuito monofásico.

crista do primeiro semiciclo da corrente de curto-circuito Em que:


nominal. Este valor, determinado pela relação X/R vista • Valor eficaz, em kA, da corrente = 40;
entre a barra do painel e a(s) fonte(s) do sistema elétrico, • Valor, em Hz, da frequência = 60;
implica não somente no comportamento dinâmico nas • Relação X sobre R visto do ponto de defeito = 17;
barras do conjunto de manobra e controle de média • Ciclos de falta = 7;
tensão, proveniente dos esforços mecânicos produzidos • O valor do ângulo da impedância é de 86,63 graus;
pela corrente de curto-circuito no 1º semiciclo da fase • O fator de potência do curto-circuito é 0,06;
mais assimétrica (ip – valor instantâneo de crista), que • A constante de tempo do circuito é 45,09 ms;
irá interagir com as outras duas fases, como também está • Fase com a máxima assimetria;
37

• O fator de assimetria do 1º semiciclo da fase, conforme


a Ansi, é 1,8313;
• O valor do multiplicador para crista do 1o semiciclo
da fase (= SQRT(2)*k), conforme a Ansi, é de 2,5898;
• O valor de crista do 1º semiciclo da fase, conforme a
Ansi, é de 103,59 kA;
• O valor do angulo de fechamento da fase é de 176,63
graus.

2) Uso de disjuntores em circuito com geradores:


Um problema crítico é a aplicação correta de
disjuntores de distribuição em circuitos com geração,
já que este tipo de equipamento é definido e ensaiado
com a constante de tempo padronizada em 45 ms.
Na aplicação de disjuntores em circuitos e barras
com geradores, deve-se atentar para possíveis condições
especiais, que podem estar presentes:

• Valores altos para a relação X/R (constantes de tempo


maiores do que 45 ms);
• Valores altos (acima do padronizado) da TRT (Tensão
de Restabelecimento Transitória, denominada, em
inglês, como TRV) e da TCTRT (Taxa de Crescimento da
Tensão de Restabelecimento Transitória, denominada,
em inglês, como RRRV);
• Valores altos da corrente de regime contínuo;
• Valores altos para a corrente de curto-circuito
alimentada pelo sistema;
• Manobra em oposição de fase (sistemas fora de
sincronismo); e
• Possibilidade de atraso no zero de corrente (ausência
de zeros nos primeiros ciclos da forma de onda da
corrente a ser interrompida).

Estas condições têm sido observadas em unidades


dedicadas a autogeração ou a cogeração. Por exemplo,
nas unidades de extração e produção marítimas
de petróleo, em que as distâncias envolvidas e a
necessidade de deslocamento das mesmas obrigam
a independência de suprimento de energia elétrica,
tem-se observado uma tendência de se usar de 3 a 4
turbo-geradores, em 13,8 kV, com potência variando de
25 MVA a 35 MVA. Estes fatos têm levado à necessidade
de se adotar disjuntores específicos para aplicação em
geradores, conforme diretrizes da ementa 1 da norma
Ansi/IEEE Std C37.013a, de 2007 (IEEE Standard for AC
Apoio
38

High Voltage Generator Circuit Breakers Rated on a


Conjuntos de manobra e controle de potência

Symmetrical Current Basis – Amendment 1: Supplement


for Use with Generators rated 10-100 MVA).
Uma alternativa usada em alguns casos especiais
para adequar a capacidade nominal de interrupção de
um disjuntor a uma constante de tempo maior é retardar
sua abertura, permitindo que a onda de corrente reduza
a sua assimetria e, então, se enquadre na capacidade
do elemento interruptor. Se forem tomados os cuidados
devidos para a solicitação dinâmica e térmica, além
da estabilidade dinâmica do sistema, aparentemente,
não se vê muito problema. Mas se for levado em conta
a possibilidade de acidentes internos por arco no
conjunto de manobra, onde está instalado o disjuntor,
este mesmo retardo irá implicar níveis mais altos de
energia e, caso o evento ocorra com porta ou tampa
aberta, implicará uma maior exposição humana aos
riscos inerentes dessa situação.

Figura 2 – Comparação das formas de onda e dos valores eficazes das


3) Aplicação de Transformadores de Corrente (TCs) e
correntes secundárias de um TC.
relés de proteção:
Tanto a ABNT quanto a IEC, em suas normas secundário de conexão e um relé de proteção do tipo
para conjuntos de manobra e controle de MT, não microprocessado). Para este caso, foi suposto 75% de
determinam nenhuma característica mínima para o remanência presente no núcleo do transformador de
uso de transformadores de corrente ou de relés de corrente.
proteção. Porém, a análise de engenharia de proteção e A forma de onda não distorcida e com maior
do grupo de estudos de curto-circuito e de seletividade assimetria no primeiro semiciclo, vista na imagem
da proteção precisam ser levadas em consideração. inferior da figura, demonstra a condição teórica para
A saturação de um TC não se deve somente ao alto um TC ideal (livre de qualquer saturação). Já a outra
valor eficaz da componente simétrica da corrente de onda, distorcida e com assimetria menor no primeiro
curto-circuito. Existem outros fatores, como nível de semiciclo mostra a real condição com a saturação do
remanência no núcleo do transformador, a carga imposta TC.
no circuito secundário do mesmo e, principalmente, a Um TC saturado pode levar a proteção a não atuar no
uma grande assimetria (componente contínua – relação tempo correto e implicar não somente em transtorno na
X/R do circuito primário do TC). coordenação e continuidade/confiabilidade do sistema
Na Figura 2, é possível estabelecer uma comparação elétrico, como pode também aumentar a exposição de
visual das formas de onda e dos valores eficazes das um trabalhador a energia liberada por um arco elétrico.
correntes secundárias de transformador de corrente (TC) Pode-se observar na segunda imagem da Figura 2
de relação 2.000-5 A, classe de exatidão de proteção que a forma de onda no secundário do TC em 6 ms já
10B400 (ABNT) ou C400 (Ansi), quando submetido mostra sinais do início de saturação, que se estende
a uma corrente simétrica (primeira visualização) e por mais de 100 ms. Pode ser que o tempo até o início
de assimetria total (segunda visualização), para os da saturação não seja suficiente para atuar o elemento
valores primários relativos a um curto-circuito de 35 instantâneo da unidade de proteção de sobrecorrente;
kA eficazes e X/R= 48 (constante de tempo de 126 ms). principalmente no caso de relés microprocessados, em
Este TC está conectado a uma carga secundária, ZSEC que os filtros das entradas de corrente retiram todas as
= (0,04 + j0,001) ohms (cerca de 5 metros de cabo harmônicas do sinal, deixando apenas a fundamental,
Apoio
40

com um valor insuficiente para a partida da respectiva 4) Alteração espacial do arranjo interno de partes do
Conjuntos de manobra e controle de potência

unidade do elemento de proteção. Conjunto de Manobra:


Uma forma de se contornar este problema é o uso de Um CMC de MT é ensaiado para suportar uma
relés microprocessados, já disponibilizados no mercado série de impulsos atmosféricos com uma determinada
por alguns fabricantes, que possuem algoritmos que configuração. A inclusão de outros componentes
permitem lidar com as condições transitórias de sinais deve ser cuidadosamente avaliada quanto às novas
de corrente distorcidos pela forte saturação no núcleo distâncias dielétricas, de forma a se garantir que os
do TC. Outra abordagem é calcular o que o IEEE define gradientes elétricos presentes no interior do painel
como tempo até saturação e verificar se este valor é estejam de acordo com a classe de isolação do
suficiente para permitir a atuação da proteção. equipamento. Apesar de muitas vezes o simples uso
Em outros casos, pode ser necessária a aplicação de das distâncias e práticas de engenharia do fabricante
transformadores de corrente de proteção com relações bastar para demonstrar a correta adequação do novo
de transformação e classes de exatidão (burdens) arranjo, existem situações que se fazem necessárias
maiores. Mesmo que esta solução seja adequada para à realização de novos ensaios de verificação do NBI
o uso e ajustes dos relés de proteção acoplados, o
do conjunto. O crítico é que a maioria dos usuários
agravante nesta solução é o volume a ser ocupado por
desconhece, por exemplo, a prática comum nos
este componente. É importante lembrar que um conjunto
Estados Unidos de se aceitar a validação da UL para
de manobra e controle de MT é ensaiado para suportar
as práticas de engenharia usadas pelo fabricante.
uma série de aplicações de impulsos atmosféricos em
Associado a este último fato, existe o detalhe de
uma determinada configuração física. A inclusão de
nem sempre os arranjos serem de fácil avaliação,
outros componentes deve ser cuidadosamente avaliada
mesmo com o uso de programas computacionais para
quanto às novas distâncias dielétricas, de forma a se
representação gráfica das linhas de campo elétricas e
garantir que os gradientes presentes no interior do
gradientes presentes.
painel estejam de acordo com a classe de isolação do
Na Figura 5, são mostrados os oscilogramas de 15
equipamento.
aplicações positivas e 15 negativas de tensão de NBI
Neste contexto, o uso de relés microprocessados
leva, na maioria dos casos, a situações que permitem (Nível Básico de Isolamento ao Impulso Atmosférico),

aplicar o tipo de TC testado originalmente pelo com forma de onda de 1,2/50 microsegundos para uma
fabricante do painel, sem precisar provocar impactos valor de ensaio de 95 kV de pico. O NBI é equivalente
dimensionais ou que possam invalidar ensaios efetuados ao BIL (Basic Impulse Level das normas Ansi). O arranjo
nos protótipos. Isso se torna mais provável nos casos de físico referente à verificação da suportabilidade ao
uso de relés numéricos que possuam filtros capazes de impulso atmosférico da fase B de um CMCP de MT,
se adaptar à condição de saturação pesada da corrente adaptado para ser acoplado a um duto de barras
medida. com transformadores de corrente para proteção
diferencial da unidade geradora (grupo gerador mais
transformador), é mostrado na Figura 6.
Apesar de ter sido demonstrado a adequação do
novo arranjo com base nas práticas de engenharia do
fabricante para um equipamento de classe de tensão
de 17,5 kV (NBI igual a 95 kV de crista), o usuário
final solicitou a realização de ensaio em laboratório
independente. Mas, o equipamento suportou as
aplicações sem a ocorrência de nenhuma descarga
disruptiva (flashover) na parte autorregenerativa
do isolamento, apesar das normas IEC aceitarem a
Figura 3 – Diagrama unifilar simplificado, mostrando parte dos
turbogeradores de uma unidade petroquímica. ocorrência de até duas.
Apoio
41

Figura 4 – Vista parcial do CMCP-MT correspondente ao um diagrama Figura 6 – Arranjo físico interno do CMCP de MT ensaiado quanto ao seu
unifilar (mostrado na figura anterior). NBI de 95 kV de crista (conforme oscilogramas da Figura 19).

Estes são apenas alguns exemplos dos diversos cuidados


que se fazem necessários quando da aplicação de um
conjunto de manobra e controle, principalmente quando
temos a segurança humana e patrimonial como foco.

Figura 5 – Oscilogramas de tensão para verificação de suportabilidade ao


impulso atmosférico.
Apoio
46
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo V

Ensaios de tipo e de rotina

Além de todos os cuidados mencionados em 1.5. Verificação da operação satisfatória dos


capítulos anteriores quanto a interação de um dispositivos de manobra e partes removíveis;
equipamento com o sistema elétrico, em que ele 1.6. Verificação do grau de proteção (testes
vai ser instalado, toda e qualquer aplicação de um para o primeiro numeral e uma possível letra
Conjunto de Manobra e Controle (CMC) de média adicional para segurança humana).
tensão (MT) demanda que este produto tenha
todos os ensaios de tipo, conforme as normas 2 - Obrigatórios, onde aplicáveis:
aplicáveis; devendo estar em consonância com as 2.1. Verificação da proteção de pessoas contra
condições existentes na aplicação. efeitos elétricos perigosos;
Para a norma IEC 62271-200 e sua NBR 2.2. Verificação dos compartimentos preenchidos
equivalente, a lista de ensaios de tipo requeridos a gás quanto a sua resistência mecânica;
é a seguinte: 2.3. Verificação dos compartimentos preenchidos
a gás quanto a sua estanqueidade;
1 - Obrigatórios: 2.4. Avaliação dos efeitos de um arco devido a
1.1. Verificação do nível de isolamento; uma falha interna (classificação IAC);
1.2. Verificação da elevação de temperatura das 2.5. Ensaios de compatibilidade eletromagnética
diversas partes e medição da resistência dos (EMC).
circuitos;
1.3. Verificação da suportabilidade dos circuitos 3 - Opcionais (sujeitos a acordo entre o
principal e de aterramento à corrente de curta fabricante e o usuário):
duração nominal e seu respectivo valor de pico; 3.1. Verificação da proteção contra os efeitos
1.4. Verificação da capacidade de externos devido a intempéries;
estabelecimento e interrupção dos dispositivos 3.2. Verificação da proteção contra impacto
de manobra; mecânico;
Apoio
47

3.3. Verificação do nível de descargas parciais; h. Ensaios de pressão de compartimentos preenchidos a gás
3.4. Ensaios de poluição artificial; (quando aplicável);
3.5. Ensaios dielétricos para permitir teste com os cabos de i. Verificação dos dispositivos auxiliares (bomba de
força conectados. óleo, solenoide de mecanismo de operação de chave de
aterramento, etc.) elétricos, pneumáticos e hidráulicos;
Para estas normas, a lista de ensaios de rotina é a j. Ensaios depois de montagem no local de uso: deve-se
seguinte: verificar a operação correta do CMC e efetuar ensaio de
a. Ensaio dielétrico no circuito principal; tensão aplicada no circuito principal (com valor limitado a
b. Ensaios em circuitos auxiliares e de controle (a inspeção 80% do aplicado em fábrica). Nos casos aplicáveis, deve-se
e a verificação de conformidade com os diagramas de verificar a estanqueidade e medir a condição do fluido após
circuitos e de fiação, testes funcionais, a verificação da o preenchimento.
continuidade elétrica das partes metálicas aterradas e Pela norma ANSI / IEEE C.37.20.2, a lista de ensaios
ensaios de tensão aplicada à frequência industrial – 1 kV / requeridos é a seguinte:
60 Hz / 1 s);
c. Medição da resistência ôhmica do circuito principal (este 1 - Ensaios de tipo:
ensaio está sujeito a acordo entre fabricante e usuário); 1.1. Testes dielétricos;
d. Ensaio de estanqueidade (quando aplicável); 1.2. Corrente nominal permanente (elevação de
e. Verificações visuais e de projeto; temperatura);
f. Medição de descargas parciais (este ensaio está sujeito a 1.3. Suportabilidade à corrente momentânea;
acordo entre fabricante e usuário); 1.4. Suportabilidade à corrente de curta duração;
g. Ensaios de operação mecânica (pelo menos cinco 1.5. Suportabilidade à corrente momentânea do sistema
operações ou tentativas em cada direção); de desconexão das partes auxiliares removíveis (gavetas de
Apoio
48

transformadores de potencial e transformadores auxiliares para aplicações em salas elétricas com pouco espaço no
Conjuntos de manobra e controle de potência

de controle); sentido da profundidade das seções dos conjuntos de


1.6. Operação mecânica; manobra e controle, ela apresenta problemas relativos ao
1.7. Materiais isolantes do barramento principal; comprimento do arranjo (por exemplo, um painel para 40
1.8. Resistência à chama do isolamento aplicado a kA e 2.500 A em 13,8 kV, com 10 colunas, precisaria de um
barramentos; local com pelo menos 11 metros de comprimento). Além
1.9. Teste de qualificação da pintura; disso, dependendo do arranjo físico de um possível duto
1.10. Teste de chuva para equipamentos para uso externo.

Para esta norma ANSI, a relação dos testes que são feitos
na produção (ensaios de rotina) é a seguinte:
a. Teste dielétrico (valor de tensão suportável, aplicada à
frequência industrial) no circuito principal;
b. Testes de operação mecânica;
c. Medição da resistência ôhmica do circuito principal (este
ensaio está sujeito a acordo entre fabricante e usuário);
d. Teste de verificação do aterramento das carcaças
metálicas dos transformadores de instrumento;
e. Testes de fiação de controle e operação elétrica
(verificação da continuidade da fiação de controle,
verificação da isolação da fiação, verificação de polaridade
e teste de operação sequencial).

A ANSI C37.20.2 apresenta algumas recomendações


para o caso de se realizar testes dielétricos em campo nos
circuitos principais (limitar o valor de ensaio a 75% do que
é solicitado para o teste em fábrica).

Arranjos construtivos típicos


Comum na cultura IEC, pode-se observar na Figura 1 uma
exemplificação do arranjo típico dos compartimentos e dos
componentes usados numa coluna com padrão construtivo
utilizando um só disjuntor, montado no compartimento
intermediário da parte frontal (também conhecido como
arranjo “single-tier” ou “mid-high” ou “one-high”: um
elemento de manobra por coluna vertical).
Na Figura 2, podemos ver uma exemplificação da
“escola” ANSI com o arranjo típico dos compartimentos e dos
componentes usados em uma coluna com padrão construtivo
Legenda:
utilizando dois disjuntores, montado nos compartimentos da 1. Compartimento de controle (BT).
2. Dispositivos de alívio de pressão.
parte frontal (também conhecido como arranjo “two-high”: 3. Compartimento de barras.
4. Compartimento de elemento principal de manobra.
dois elementos de manobra por coluna vertical). 5. Disjuntor extraível.
6. Transformadores de corrente (TCs).
O arranjo da Figura 1 permite o uso de montagens 7. Compartimento de cabos.

com a parte traseira das colunas próxima à parede, pois 8. Chave de aterramento.
9. Guilhotinas (“shutters”) metálicas (ver os detalhes, mostrando-as nas posições: “fechada” e “aberta”).
disponibiliza acesso frontal aos pontos de conexão dos
Figura 1 – Conjunto de manobra de MT com um disjuntor por coluna
cabos de potência. Apesar de ser uma forma interessante (arranjo “One-high” ou “Mid-high”).
Apoio
50

de barras para a conexão ao disjuntor de entrada, podem o elemento mais próximo (uma parede, por exemplo) para
Conjuntos de manobra e controle de potência

existir problemas com a acessibilidade para a instalação e que se possa permitir o acesso aos cabos de potência. A
manutenção do sistema. Outro ponto de preocupação é a vantagem deste arranjo surge quando existem limitações
seção reta dos cabos e sua quantidade por fase, tanto nas no comprimento da sala e com a necessidade de grandes
saídas quanto na entrada (caso não se use duto de barras). quantidades de cabos de conexão ou a instalação de dutos
Deve-se ter cuidado com o raio de curvatura dos cabos e de barras. Possui também um maior espaço para a instalação
com a dimensão mínima para a terminação dos cabos e de outros dispositivos como: capacitores e supressores de
sua passagem por dentro da janela de um possível TC para surto, muflas terminais em corpo cerâmico, TC toroidal
proteção contra correntes de sequência zero. para proteção contra falhas de sequência zero (“Ground
A opção pelo arranjo da Figura 2 (cultura “ANSI”) exige Sensor”), capacitores para correção de fator de potência
a presença de espaço entre a parte traseira das colunas e nas saídas para motores, chaves de aterramento, etc.
Além do contexto dos diferentes tipos construtivos já
mencionados, existe também uma discussão atual quanto
à filosofia de montagem a ser adotada para os elementos
de manobra: fixo ou extraível. Ambos os conceitos são
seguros e possuem vantagens e desvantagens quanto à sua
adoção. De fato, a escolha final recai sobre as filosofias
adotadas pelo usuário para a operação e manutenção da
sua instalação.
A filosofia de elementos de manobra fixos demanda o
uso de chave seccionadora ou equivalente para garantir o
seccionamento entre o elemento e rede elétrica. Já, no caso
de uso de elementos extraíveis, é eliminada a necessidade
de presença de chave seccionadora, desde que o sistema de
movimentação do carro extraível e as guilhotinas associadas
garantam a distância requerida para o seccionamento.
O uso de guilhotinas metálicas para os tipos extraíveis
permite a segregação dos condutores (uso de barreira
metálica aterrada entre partes energizadas, de forma que
qualquer ocorrência de uma descarga elétrica só possa
ocorrer para a terra) no ponto de seccionamento. Já nos
sistemas com elementos fixos, a adoção da segregação
de condutores só é possível com a instalação de uma
chapa metálica temporária entre os contatos abertos da
chave seccionadora. Outra vantagem no uso de elementos
extraíveis com guilhotinas metálicas é a possibilidade de
se conseguir, também, a segregação dos circuitos de saída.
No caso de elementos fixos, existe a necessidade de uso

Legenda:
de mais uma chave seccionadora e outra chapa metálica
1. Compartimento de controle (BT).
(para uso temporário entre os contatos da chave), a fim de
2. Dispositivos de alívio de pressão.
3. Compartimento de barras. se poder garantir a segregação. Porém, esta condição não se
4. Compartimento de elemento principal de manobra.
5. Disjuntor extraível. faz sempre necessária.
6. Transformadores de corrente (TCs), montados sobre as tulipas (campânulas) dos contatos fixos do disjuntor.
7. Compartimento de cabos. Tanto o sistema fixo para montagem de elementos de
8. Chave de aterramento.
9. Guilhotinas (“shutters”) metálicas. (ver os detalhes, mostrando-as nas posições: “fechada” e “aberta”). manobra quanto o extraível demandam intertravamentos
de segurança. Estes dispositivos exigem inspeções e testes
Figura 2 – Conjunto de manobra e controle de média tensão com dois
disjuntores por coluna (arranjo “Two-high”).
periódicos.
Apoio
51

Figura 3 – Possibilidades de montagem do elemento principal de


manobra (neste caso, disjuntor).

Outra discussão relativa ao tópico do uso de elemento


“extraível” versus “fixo” é a preocupação quanto ao uso
de contatos móveis. Esta condição existe tanto no caso de
elementos extraíveis (contatos das garras principais, fixa
e móvel) quanto no caso de fixos (contatos principais do
seccionador e os pontos de transferência de corrente na
ligação entre a parte móvel e fixa da lâmina).
Em aplicações que usavam tecnologias de interrupção
com base no uso do “sopro magnético” ou de “câmaras com
Figura 4 – Representações das condições de estado de um elemento de
jato controlado de óleo mineral” (PVO – Pequeno Volume de manobra fixo (neste caso, interruptor).
Apoio
52

Óleo) era necessário um rápido e fácil acesso para inspeção


Conjuntos de manobra e controle de potência

e manutenção dos polos e das câmaras de extinção, visto


que estes tipos de equipamento apresentavam um número
limitado de ciclos de operação entre inspeções sucessivas.
Logo era imperativo o uso de sistemas de extração para
as unidades de manobra, de modo a reduzir o tempo de
serviço nas intervenções. Hoje em dia, tal condição se
modificou diante das novas tecnologias de interrupção de
arco elétrico. Isto é bem relevante no caso de interruptores
a vácuo, cujo atual estado de desenvolvimento, associado
à baixa energia mecânica necessária para se manobrar
os contatos entre as pequenas distâncias de isolamento
presentes na condição “aberta”.
Disjuntores com interruptores a vácuo com contatos
de liga Cu – Cr (Cobre – Cromo), usando sistema AMF
(“Axial Magnetic Field”), têm apresentado uma capacidade
de manobra superior a 10.000 ciclos de operação em
regime normal. Tais condições têm levado a classificar,
normalmente, dos disjuntores a vácuo como sendo de
categoria E2 e M2, segundo as definições e testes da norma
internacional IEC 62271-100.
Porém, nos casos em que ainda se faz necessária uma
rápida troca do elemento principal de manobra, seja por
motivos de falha ou de uma manutenção programada, a Figura 5 – Representações das posições de operação de um elemento de
manobra fixo (neste caso, interruptor).
solução com elemento extraível é a mais eficiente. Estas
são condições típicas nos casos de grandes instalações c. Guilhotinas (“shutters”): parte da cela que pode ser
industriais ou das subestações de distribuição de movida de uma posição, dita “aberta”, onde os contatos
concessionárias de energia. Já nas situações em que a fixos estão expostos e podem, então, serem conectados
corrente de regime associada ao elemento de manobra às respectivas partes móveis; para uma outra posição
é relativamente baixa e se tem uma baixa periodicidade (“fechada”), onde elas, então, segregam os contatos fixos;
(quantidade de operações de seccionamento), a solução se tornando, assim, uma partição interna ou parte do
“fixa” é muito confiável tecnicamente e bem viável em invólucro externo.
termos econômicos, fato comum em centros comerciais ou d Pinças: contatos do tipo “fêmea”, normalmente da parte
grandes prédios de escritórios. móvel de um sistema extraível, cujas garras são montadas
Em um arranjo do tipo extraível, existem elementos numa configuração de “dedos paralelos” (conforme
básicos que compõem as partes fixa e móvel da unidade mostrado na Figura 27 – a).
funcional (UF), conforme exemplificado na Figura 6. e. Tulipas: contatos do tipo “fêmea”, normalmente da parte
móvel de um sistema extraível, cujas garras são montadas
a. Cela (“module”): também chamado de berço, é o numa configuração de “coroa” (conforme mostrado na
subconjunto de montagem do sistema extraível, a ser fixado Figura 27 – b).
na UF. f. Barra: contato do tipo “macho”, normalmente da parte
b. Campânula (“spout”): bucha isolante, montada na cela, fixa de um sistema extraível, com a forma de barra chata,
com o contato fixo que permite a interligação elétrica entre que trabalha com os contatos do tipo “pinça”.
o elemento extraível e as barras condutoras da UF. No g. Pino: contato do tipo “macho”, normalmente da parte
caso trifásico, existem seis peças: uma para cada ponto de fixa de um sistema extraível, com a forma cilíndrica, que
acoplamento (entrada / saída) de cada polo (fase). trabalha com os contatos do tipo “tulipa”.
Apoio
54

móvel: o arranjo de tulipa está, usualmente, associado ao


Conjuntos de manobra e controle de potência

uso de tubos ou cilindros como elementos condutores,


os quais têm, em geral, um desempenho melhor quanto
às solicitações dielétricas e à facilidade na aplicação de
possíveis coberturas isolantes.

Conclusões
A indústria, de um modo geral, vem ampliando os
requisitos do uso de conjuntos de manobra e controle de
média tensão de forma a estes equipamentos propiciarem
cada vez mais um serviço confiável e uma operação
segura, tanto do ponto de vista do sistema elétrico
quanto, principalmente, pelo lado do ser humano. Estes
requisitos têm sido cada vez mais rigorosos e precisam ser
considerados e incluídos nos novos projetos.
Neste contexto, tem-se observado, nas indústrias com
instalações e equipamentos elétricos baseados nas normas
ABNT e IEC, uma tendência à solicitação de conjuntos
Figura 6 – Exemplos de um sistema extraível. de manobra e controle de média tensão com as seguintes
características:
A escolha, pelo fabricante, tipo de configuração de
contatos, pinça ou tulipa, depende de fatores como:
• UF com interruptor montado a meia altura da coluna
níveis esperados para a corrente de regime permanente
(seção): um elemento por coluna;
ou de curto-circuito. Alguns fabricantes preferem usar,
• Classe de perda de continuidade de serviço e a categoria
basicamente, o tipo tulipa para todas as faixas, enquanto
de partição: LSC2B – PM para CDC e LSC2A – PI para
outros usam o tipo pinça até o nível de 2.000 A. Outro
CCM;
fator considerado nesta seleção está relacionado à forma
• Compartimento de disjuntor ou demarrador (contator
da interligação entre o elemento interruptor e o contato
mais fusíveis limitadores) com acessibilidade por
intertravamento;
• Compartimento de cabos com acessibilidade por
intertravamento ou por procedimento;
• Compartimento de barras principais: não acessível ou
com acesso especial (uso de ferramentas).

É importante, também, incorporar as boas práticas e


lições aprendidas pelo uso consolidado de conjuntos
de manobra e controle em instalações com históricos
positivos de segurança, confiabilidade, disponibilidade e
continuidade.
A aplicação e o uso de conjuntos de manobra e
controle de média tensão demandam análise criteriosa
que deve levar em conta os requisitos de sistemas cada vez
mais complexos. Neste contexto, devem ser estabelecidas
algumas diretrizes básicas:

Figura 7 – Tipo de contatos móveis. • Definir as características nominais necessárias para uma
Apoio
55

operação confiável e segura; • IEC 62271-1. High-voltage switchgear and controlgear –


• Identificar as condições requeridas para o local da Part 1: Common specifications. IEC, 2007.
instalação: ambientais (temperatura, altitude, umidade, • IEC 62271-100. High-voltage switchgear and controlgear
poluentes, etc.) e espaciais (área e altura disponíveis, – Part 100: Alternating-current circuit-breakers. IEC, 2008.
acessibilidade, etc.); • IEEE Std C37.20.2 – 1999, IEEE Standard for Metal-Clad
• Efetuar os estudos de engenharia necessários e de Switchgear.
forma completa e consistente (fluxo de carga, queda • NR 10: Norma regulamentadora Número 10: Segurança
de tensão, curto-circuito, coordenação e seletividade, em instalações e serviços em eletricidade. Ministério do
energia incidente, aterramento do sistema e transitórios Trabalho e Emprego – Governo Federal do Brasil, 2004.
eletromagnéticos); • Electrical Safety Requirements for Employee Workplaces,
• Definir as filosofias de operação e manutenção; NFPA 70E-2009.
• Estabelecer os requisitos construtivos adicionais que • IEEE Guide for Perfoming Arc-Flahs Harzard Calculations,
permitam o aumento da confiabilidade e da disponibilidade IEEE Std 1584 – 2002.
da instalação e, principalmente, a segurança humana e a
operacional.

Referências
• IEC 62271-200. High-voltage switchgear and controlgear
– Part 200: AC metal-enclosed switchgear and controlgear
for voltages above 1 kV and up to and including 52 kV.
IEC, 2003.
Apoio
38
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo VI

Conjuntos de manobra e
controle de baixa tensão
em invólucros metálicos

Nas instalações elétricas em corrente alternada, circuitos principais associados.


com até 1.000 V eficazes entre fases, ou em A norma brasileira aplicável, atualmente,
corrente contínua, com até 1.500 V entre polos, a este tipo de equipamento é a ABNT NBR IEC
existe a possibilidade de se utilizar conjuntos de 60439-1, a qual, apesar de seu documento IEC
manobra e controle de baixa tensão, como o tipo de origem já ter sido substituído por uma revisão
mostrado na Figura 1, atendendo as definições e técnica em janeiro de 2009, ainda é válida no
recomendações das respectivas famílias normativas território nacional.
da ABNT e da IEC. Esta versão da norma brasileira se baseia,
Estes conjuntos são a concretização das barras principalmente, no enquadramento dos tipos
de recebimento e distribuição de energia elétrica, construtivos dos conjuntos de manobra e controle
responsáveis por integrar as funções de manobra, de baixa tensão, que podem ser ofertados, a partir
proteção, controle, medição e seccionamento dos do atendimento às especificações, em dois tipos:
TTA e PTTA.
A classificação TTA (Type-Tested low-
voltage switchgear and controlgear Assembly)
se aplica aos conjuntos que possuam as
características idênticas ou sem desvios que
possam influenciar seu desempenho quando
comparados a um protótipo aprovado em todos
os ensaios de tipo requeridos.
A classificação PTTA (Partially Type-Tested
low-voltage switchgear and controlgear Assembly)
se aplica aos conjuntos que apresentam tanto
Figura 1 – Vista frontal de um CMCP de baixa tensão. configurações ensaiadas quanto outras não
Apoio
39

ensaiadas, mas cujos desvios foram derivados, por exemplo, por • IEC 60439-1: Cláusulas gerais (ou Requisitos comuns); e
cálculo, a partir de protótipos ensaiados e aprovados segundo • IEC 60439-2: Conjuntos de manobra e controle de potência
os requisitos da norma. de baixa tensão.
Dentro desta abordagem, todos os conjuntos não ensaiados,
nem que parcialmente, estão excluídos do universo coberto Além disso, esta nova revisão acaba com a distinção
pela ABNT NBR IEC 60439-1. Porém, a IEC, de modo similar que havia entre os conceitos de TTA e PTTA, adotando uma
ao que já existia para a média tensão, decidiu criar, também, abordagem mais flexível de verificação das características
uma nova família normativa para os conjuntos de manobra e construtivas e de desempenho. Passam a existir três tipos
controle de baixa tensão, a IEC 60439, seguindo a estruturação diferentes, porém equivalentes, de verificação dos requisitos:
e a divisão já estabelecidas para outros equipamentos. O
ponto que se destaca nesta revisão é a divisão da antiga IEC • Por ensaios / testes;
60439-1 (já cancelada) em duas novas normas: • Por cálculo / medições;
• Por atendimento a regras de projeto.

É interessante notar a preocupação da IEC 61439-2 em


deixar claro o conceito de CMC de potência de baixa tensão:
todo conjunto em baixa tensão utilizado para a distribuição
e controle de energia elétrica para todos os tipos de cargas
em aplicações industriais, comerciais e similares em que
somente é permitida a operação por pessoas advertidas (BA4)
e/ou qualificadas (BA5). A descrição da classificação (BA) para
Figura 2 – Evolução da normalização para CMCP de baixa tensão. influências externas, relativa à utilização (B) e à competência
Apoio
40

das pessoas (A) associadas a uma instalação elétrica, pode ser 4 - Corrente nominal de regime contínuo (Ir);
Conjuntos de manobra e controle de potência

encontrada na tabela 18 da ABNT NBR 5410 ou na tabela 12 5 - Corrente suportável nominal de curta duração (Ik);
da ABNT NBR 14039. 6 - Valor de pico da corrente suportável (Ip);
Assim, como a Figura 2 sugere, estamos experimentando 7 - Duração da corrente suportável (tk);
um amadurecimento e uma evolução na abordagem normativa 8 - Valores nominais pertinentes aos componentes incluídos no
dos conjuntos de manobra e controle de baixa tensão. conjunto de manobra e controle (a NBR define este tópico como
tensão nominal de alimentação dos dispositivos de fechamento
Anexo 1: Comparativo entre as normas técnicas para CMC e abertura e de circuitos auxiliares);
de média tensão 9 - Nível de enchimento nominal para todos os compartimentos
Conforme o capítulo 4 da IEC 62271-200, as características preenchidos por fluidos (a NBR define este tópico como pressão
nominais de um conjunto de manobra e controle em invólucro nominal de gás comprimido para isolamento e/ou operação).
metálico para tensões acima de 1 kV e até 52 kV são:
Comparativo
1 - Tensão nominal (Ur); Partindo-se dos requisitos normativos contidos nas famílias
2 - Nível de isolamento nominal (valores das tensões suportáveis ANSI / IEEE e IEC, é apresentada, a seguir, uma tabela comparativa
nominais a frequência industrial – Ud, e ao impulso atmosférico entre ambas, básica, com um resumo dos principais requisitos
– Up); para conjuntos de manobra e controle em invólucro metálico
3 - Frequência nominal (fr); de média tensão:

Tabela 1 – Comparativo entre as culturas ANSI e IEC para conjuntos de manobra e controle de média tensão

ITEM ANSI / IEEE IEC

Regiões geográficas de origem e principal influência América do Norte Europa

Norma(s) de referência C37.20.2 IEC 60298: substituída pela IEC 62271-200

Norma(s) para disjuntores C37.04;C37.06 e C37.09 IEC 60056; substituída pela IEC 62271-100

Norma(s) sobre Cláusulas Comuns Não aplicável. São utilizadas normas dedicadas. IEC 60694; substituída pela IEC 62271-1
Existe a norma IEEE C37.100.1

Escopo Geralmente inclui um número limitado de valores Geralmente inclui uma grande gama de valores
para cada característica especificada. e permite que os fabricantes e usuários decidam
quais combinações são adequadas.

Definições / Características básicas

Cobre os conjuntos de manobra em invólucros Cobre os conjuntos de manobra em invólucros


metálicos compartimentados. metálicos, compartimentados ou não.

Equipamento principal de manobra deve ser extraível. Equipamentos principais de manobra podem ser
fixos.

Os condutores principais devem ser totalmente Barramentos nus são aceitáveis.


isolados.

Compartimentação mínima exigida maior do que a


IEC

Tensões nominais – Ur, kV 4.76; 8.25; 15; 27; 38 [1] 3.6; 7.2; 12; 17.5; 24; 36 [2]

Nível nominal de isolamento

Tensão suportável – 1 min. – Ud, kV – valor eficaz 19; 36; 36; 60; 80 [1] 10; 20; 28; 38; 50; 70 [2]

Impulso atmosférico (NBI) – Up, kV – valor de pico 60; 95; 95; 125; 150 [1] 40; 60; 75; 95; 125; 150 [2]
Apoio
41

ITEM ANSI / IEEE IEC

Corrente nominal - Ir, A 1.200; 2.000; 3.000 (4.000 – FC) 400; 500; 630; 800; 1.000; 1.250; 1.600;
2.000; 2.500; 3.150; 4.000 [3]

Corrente suportável nominal de curta duração – Ik, 16; 22; 23; 25; 31.5; 36; 40; 41; 48; 49; 50; 16; 20; 25; 31.5; 40; 50; 63 [3]
kA (= K x Isc, na ANSI) 63 (conforme a tensão especificada de uso e a
capacidade de interrupção - ver C37.06).

Duração nominal da corrente de curta-duração – tk 2 (dois) segundos 1 (um) segundo como padrão,
3 (três) segundos opcional

Valor nominal de crista da corrente de curta = 2.7 (versões atuais adotam 2.6) x a corrente = 2.5 x a corrente de curta-duração do CMC
duração – Ip, kA – valor de crista (corrente de curta-duração (KI – o fator K foi retirado (p/ 50 Hz – X/R= 14).
momentânea) – L/R= 45 ms na última revisão da norma de disjuntores) = 2.6 x a corrente de curta-duração do CMC
do disjuntor usado no painel. (p/ 60 Hz – X/R= 17).

Frequência nominal – fr Os valores nominais são baseados As frequências padronizadas são:


na frequência de 60 Hz. 16-2/3; 25; 50; 60 Hz.

Elevações de temperatura permitidas e


limites da temperatura total

Material isolante As classes são similares aos limites e elevações da IEC. Classe E da IEC: 80 ºC de elevação e 120 ºC total.

Conexões aparafusadas de barras 65 ºC de elevação; 105 ºC total. 75 ºC de elevação; 115 ºC total.


prateadas ou niqueladas

Terminais prateados para conexão de cabo 45 ºC de elevação; 85 ºC total. 65 ºC de elevação; 105 ºC total.

Partes externas normalmente manuseadas 10 ºC de elevação; 50 ºC total 30 ºC de elevação, 70 ºC total aplicam-se


pelo operador. para invólucro e tampas; outras
partes não têm definições.

Superfícies externas acessíveis ao operador que não 30 ºC de elevação; 70 ºC total. 40 ºC de elevação; 80 ºC total.
precisam ser tocadas durante a operação normal.

Transformadores de corrente Especifica a exatidão mínima e as características A IEC não aborda os transformadores
mecânicas e térmicas. de corrente na norma de painéis.

Ensaios de dielétricos Exige o uso de fatores de correção para as IEC exige que os testes sejam feitos nas condições
condições atmosféricas não padronizadas. padronizadas. O uso de fatores de correção é
permitido quando acordado entre
usuário e fabricante.

Ensaio de impulso 3x1x3: nenhuma descarga nas três primeiras 15 aplicações iniciais para cada posição e em
aplicações ou uma num total de seis. Outro método, ambas as polaridades. Se houver até duas falhas
já usado, é o 3x1x9: nenhuma descarga nas 3 nas 15 aplicações iniciais, devem ser dadas mais
primeiras aplicações ou 1 num total de 12. 5 aplicações para cada descarga (chegando ao
As aplicações são para cada posição máximo de 25 disparos): 15x2x10.
e em ambas as polaridades.

Ensaio do isolamento das barras Exige o ensaio da cobertura, por 1 minuto, na Nada
máxima tensão nominal.

Ensaio de Descargas Parciais Não exige e nem aborda o Recomenda testes de descargas parciais sob certas
fenômeno de descargas parciais. circunstâncias, mas não são exigidos. Seguem as
recomendações do Anexo B da IEC 62271-200.

Ensaios de corrente de curta duração A barra de terra deve suportar por um tempo Condutores de aterramento e dispositivos
de 2 segundos a corrente informada. devem suportar 1 segundo.
Apoio
42
Conjuntos de manobra e controle de potência

ITEM ANSI / IEEE IEC

Isolação primária Os ensaios de resistência a chama e Nada


ao rastreio são exigidos.

Isolamento utilizado O teste de verificação da resistência Nada


ao rastreio é exigido.

Ensaio de qualificação de pintura O teste de névoa salina é exigido. Nada

Verificação da capacidade de É exigido para os disjuntores. Exige ensaio com os dispositivos principais
estabelecimento e interrupção de manobra instalados no painel.

Grau de proteção dos invólucros Nenhum ensaio. São seguidas as exigências São exigidos os ensaios para verificação
da NEMA 250 e as recomendações do grau de proteção.
do Anexo A da C37.20.2.

Correntes de fuga Nenhuma medição é necessária. Exige a medição caso sejam utilizadas
partições ou guilhotinas isolantes.

Arco devido a falhas internas Sujeito a acordo entre usuário e fabricante. Sujeito a acordo entre usuário e fabricante.
Segue a ANSI/IEEE C37.20.7. Segue o Anexo A da IEC 62271-200.

Isolação da fiação de controle 60 HZ 1.500 V por 1 minuto ou 1.800 V por 1 2.000 V por 1 minuto, 1 segundo opcional
segundo entre todos terminais e a terra. (acordo entre usuário e fabricante).

Ensaios de campo Testes de alto potencial com 75% Testes de alto potencial com 80%
do valor usado na fábrica. do valor usado na fábrica.

Barramento principal Deve ser isolado e segregado entre colunas. Nenhuma exigência.

Aterramento Não existe requisito específico como na IEC. Para atender aos requisitos da IEC, chaves de
aterramento são frequentemente usadas.

Transformadores de potencial Solicita o uso de proteção de sobrecorrente nos Não existe tal exigência.
lados primário e secundário.

Fiação de controle nos compartimentos de AT Exige o uso de barreiras metálicas aterradas. Permite o uso de tubos isolantes.

Barreiras internas e guilhotinas Exige mais partições do que a IEC. É exigido o uso As barreiras entre colunas adjacentes para o
no compartimento do barramento principal de barramento principal são opcionais na IEC.
barreiras entre colunas.

Invólucros Especifica certas espessuras mínimas para algumas Nenhuma espessura é especificada.
partes do invólucro e das barreiras internas.

Notas:

1. Ver tabela 1b (Níveis de Isolamento Nominais para tensões da Faixa I / Série II,
em 60 Hz) da IEC 62271-1.
2. Ver tabela 1a (Níveis de Isolamento Nominais para tensões da Faixa I / Série I, em
50 Hz) da IEC 62271-1.
3. Os valores são selecionados a partir da série R10 (uma das cinco séries,
desenvolvidas no século passado, pelo engenheiro francês, Charles Renard): 1 – 1,25
– 1,6 – 2 – 2,5 – 3,15 – 4 – 5 – 6,3 – 8 e os respectivos múltiplos para 10n. Sendo
que os valores sublinhados na célula da tabela são os mais usuais.
Apoio
36
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo VII

Filosofias construtivas
A ABNT NBR IEC 60439-1 define conjunto V. Pode ser conectado diretamente ao transformador
de manobra e controle de baixa tensão como por um trecho muito curto de condutores, normalmente
sendo a “combinação de um ou mais dispositivos barras com links flexíveis, constituindo uma estrutura
e equipamentos de manobra, controle, medição, única, que a cultura norte-americana chama de
sinalização, proteção, regulação etc., em baixa tensão, subestação unitária secundária (aquela cuja tensão
completamente montados, com todas as interconexões inferior do transformador é menor que 1.000 V
internas elétricas e mecânicas, e partes estruturais, sob eficazes entre fases). No caso de os transformadores se
a responsabilidade do fabricante”. A IEC 61439-2, encontrarem fora da sala onde o conjunto está instalado,
como já mencionada anteriormente, esclarece que podem ser feitas conexões por trechos de duto de barras
os conjuntos servem para a distribuição e controle ou lances de cabos de força. Estes equipamentos são
de todos os tipos de cargas em aplicações industriais, dimensionados para lidar com concentrações altas
comerciais e similares em baixa tensão (BT). de carga, geralmente associadas a correntes nominais
Dentro deste contexto, em que se permite a elevadas de regime e de curto-circuito. É muito comum
combinação de elementos de manobra com os de nas estruturas baseadas em projetos norte-americanos
controle, torna-se possível compreender por que a se observar o uso de colunas ditas de “alta densidade
cultura europeia, a princípio, não faz distinção entre de correntes”, ou seja, aquelas que possuem de 3 a 4
os “tipos construtivos” CDC (Centro de Distribuição disjuntores de potência extraíveis de BT (respeitando-se,
de Cargas) e CCM (Centro de Controle de Motores), logicamente, a condução permanente de corrente e a
diferentemente do que é apresentado pela IEEE Std elevação de temperatura aplicáveis aos componentes
C37.20.1 (IEEE Standard for Metal-Enclosed Low- e a coluna). No Brasil, as tensões nominais trifásicas
Voltage Power Circuit Breaker Switchgear) e pela mais observadas para esta aplicação são 480 V, como
NEMA Standard Publication No. ICS 18 (Motor mencionado anteriormente, e 380 V, que se enquadra
Control Centers). Ou seja, a IEC aceita a integração de na faixa de aplicação do novo padrão IEC de 400 V.
unidades de distribuição de potência e de controle de Um Centro de Controle de Motores em Baixa
motores em uma única estrutura. Tensão (CCM de BT), exemplificados na Figura 2, é uma
Um Centro de Distribuição de Cargas em Baixa estrutura em invólucro metálico com compartimentos
Tensão (CDC de BT), exemplificados na Figura 1, dedicados à manobra, proteção e acionamento de
conforme as definições encontradas no contexto ANSI motores de BT. Este equipamento pode ser ligado ao
/ IEEE / NEMA / UL, é um equipamento em invólucro secundário de um transformador de distribuição ou
metálico com disjuntores de potência de BT, usados a um circuito de alimentação dedicado, o qual, na
na distribuição de energia elétrica, normalmente, maioria das vezes, se origina em um CDC. Ele pode ter,
alimentada pelo secundário de um transformador de no Brasil, uma tensão nominal de operação de 380 V (ou
potência com tensão nominal de 240 V, 480 V ou 600 400 V), 480 V e 600 V (ou 660 V). Estes equipamentos
Apoio
37

são dimensionados para lidar com concentrações de cargas rotóricas curta duração (Icw): 1 s, salvo indicação em contrário, conforme
trifásicas, geralmente, associadas a correntes nominais de regime e o item 4.3 da ABNT NBR IEC 60439-1. Esta é uma condição mais
de curto-circuito menores, se comparados a um CDC. Apesar de rigorosa se comparado com o que é apresentado pela Nema ICS 18,
não ser uma orientação normativa, é comum se ter neste tipo de a qual fala em um tempo de 3 ciclos (o que, para uma frequência
estrutura partidas para motores trifásicos “limitados” a uma faixa de de 60 Hz, corresponde a 50 ms) e a IEEE C37.20.1, que solicita um
110 kW a 150 kW. Este valor está relacionado com as dimensões e desempenho satisfatório para o valor de 0,5 s aplicado por duas
pesos associados a unidade funcional responsável pela alimentação vezes consecutivas, com um intervalo de 15 s entre cada aplicação.
do circuito, principalmente no caso de uso de unidades extraíveis. E da mesma forma, pode-se ver, a nível mundial, que a cultura
Graças à forte influência norte-americana na cultura IEC vem buscando novas abordagens a partir da filosofia ANSI.
eletrotécnica nacional, ao longo de boa parte do século XX, Um exemplo típico para este caso é que além da tradicional
principalmente nos segmentos industriais associados aos setores abordagem de se usar um único disjuntor de potência (também
petroquímicos, siderúrgicos e de mineração, o conceito associado a denominado disjuntor do “tipo aberto” ou “a ar”), por coluna em
estruturas distintas para as funções de CDC e CCM tem prevalecido, conjuntos de distribuição (configurando uma Unidade Funcional
ainda hoje, no mercado brasileiro. A principal vantagem desta por seção), já se pode encontrar arranjos com mais de um disjuntor
abordagem é ter estruturas com níveis mais compatíveis de corrente de potência em uma mesma coluna: a chamada configuração
nominais de regime e de curto-circuito, associadas ao tipo de carga “com alta densidade de carga” (com duas ou mais unidades
e de função esperada para a aplicação. funcionais com disjuntor de potência em uma mesma seção). Esta
Cabe, entretanto, ressaltar o fato de que certas características exemplificação pode ser vista na Figura 3.
das normas IEC vem sendo agregadas no Brasil ao uso dos Centros Uma representação esquemática dos principais componentes e
de Distribuição de Cargas (CDC) e Centros de Controle de Motores partes de um conjunto de manobra e controle de baixa tensão é mostrada
(CCM), como definidos no IEEE e na Nema. Um exemplo claro é na Figura 4. Estes componentes e partes são integrados em diferentes
o valor adotado para o tempo associado à corrente suportável de arranjos construtivos, conforme são definidos na ABNT e na IEC.
Apoio
38
Conjuntos de manobra e controle de potência

ANSI / UL IEC

Figura 1 – Exemplos de formas construtivas de CDC de BT, conforme


“escolas” norte-americana e europeia. Figura 4 – Visualização esquemática dos componentes e partes de um
CMCP de BT.

NEMA / UL IEC

Figura 2 – Exemplos de formas construtivas de CCM de BT, conforme


“escolas” norte-americana e europeia.

Os arranjos construtivos típicos aplicáveis a um conjunto


de manobra e controle de baixa tensão, conforme a ABNT,
são descritos na seção 2 da ABNT NBR IEC 60439-1 e são
classificados como: aberto, aberto com proteção frontal,
fechado (armário e multicolunas), mesas de comando e
multimodular. Na Figura 5 são apresentadas ilustrações dos
tipos enumerados por este documento.

Figura 5 – Tipos construtivos básicos de CMCP de BT, conforme a ABNT


e IEC.

Dentro da ABNT NBR IEC 60439-1 se encontra, também,


o conceito de unidade funcional, como mostrado na Figura
6. Este termo é definido como sendo “parte de um conjunto
Densidade padrão de Alta densidade de cargas compreendendo todos os elementos elétricos e mecânicos
cargas (1 UF por coluna) (mais que 1 UF por coluna)
que contribuem para a execução de uma mesma função”.
Figura 3 – Exemplos de CDC de BT com UFs equipadas com disjuntores
de potência. Existem, basicamente, em relação à função de conexão
Apoio
40

dos alimentadores de energia, dois tipos de unidades são divididos em barramento principal e barramento de
Conjuntos de manobra e controle de potência

funcionais: de entrada, que é aquela “pela qual a energia derivação, exemplificados, respectivamente, nas Figuras 7
elétrica é, normalmente, fornecida ao conjunto” (ver item e 8.
2.1.6 da norma) e de saída, que é a “unidade funcional pela Uma unidade funcional (UF), também conhecida
qual a energia elétrica é normalmente fornecida para um ou nas aplicações de baixa tensão como “gaveta”, pode ser
mais circuitos de saída” (ver item 2.1.7 da norma). ainda classificada como fixa, removível ou extraível, como
Os circuitos principais dentro de um CMCP de BT, ilustrado na Figura 9. A definição básica de cada tipo é
como os barramentos de potência, podem ser constituídos mostrada a seguir, junto com a referência do item original
por condutores nus ou isolados, montados de forma da norma ABNT NBR IEC 60439-1:
a prevenir um curto-circuito interno, sob condições
normais de operação. Porém, mesmo assim, eles devem • Fixa: UF montada sobre um suporte comum e que é
ser dimensionados de forma a suportar, além da corrente instalado de forma fixa (item 2.2.5);
nominal de regime, as possíveis correntes de curto-circuito • Removível: UF que pode ser totalmente removida do
(corrente suportável de curta-duração ou, se for aplicável, CMCP e ser substituída, mesmo com o circuito principal
a corrente de curto-circuito limitada por um dispositivo de energizado (item 2.2.6); e
proteção no lado de alimentação dos barramentos). • Extraível: UF removível capaz de estabelecer
Os barramentos dentro do CMCP de BT, normalmente, uma distância de isolamento quando na posição
desconectada e/ou de teste, caso a tenha, enquanto
ainda permanece, mecanicamente, fixada ao CMCP
(item 2.2.7).

Em termos de custos, a versão extraível é mais cara


do que a removível e, esta, mais do que a fixa. Porém,
indiscutivelmente, existem ganhos em segurança, nos
requisitos de manutenção e quanto ao nível necessário de
Figura 6 – Exemplos de unidade funcional (“gaveta”) extraível para
CMCP de BT. qualificação de pessoal, como ilustrado na Figura 10.
Com relação às posições que uma unidade funcional
removível ou extraível pode assumir em relação ao seu
acoplamento ao CMCP, conforme a Figura 11, a ABNT NBR
IEC 60439-1 apresenta as seguintes possibilidades:

• Conectada (Figura 11 a): posição de uma parte


removível ou extraível quando está completamente
conectada (item 2.2.8);
• De ensaio ou de teste (Figura 11 b): posição de uma
parte extraível na qual os circuitos principais estão
Figura 7 – Barramento principal com montagem horizontal / superior.
desligados da entrada, mas não obrigatoriamente
isolados e os circuitos auxiliares estão ainda conectados
(item 2.2.9);
• Extraída (Figura 11 c): posição de uma parte
extraível onde existe uma distância de isolamento nos
circuitos principais e auxiliares, mas permanecendo
mecanicamente fixada ao CMCP (item 2.2.10); e
• Removida: posição de uma parte removível ou
extraível, na qual a unidade está fora do CMCP, separada
mecânica e eletricamente (item 2.2.11).
Figura 8 – Barramento de derivação.
Apoio
42
Conjuntos de manobra e controle de potência

Figura 9 – Exemplos de unidades funcionais fixa, removível (“plug-in”) e extraível.

Figura 10 – Comparativo dos requisitos e características de operação e manutenção entre unidades funcionais fixas, removíveis e extraíveis para CMCP
de BT.

Figura 11 – Posições de uma UF extraível: inserida, de ensaio e extraída.

As conexões elétricas para qualquer unidade funcional (UF) • A 1ª letra identifica o tipo de conexão elétrica do circuito de
de um CMCP de BT, conforme o item 2.2.12 da ABNT NBR IEC entrada principal (“força”);
60439-1, são classificadas como: • A 2ª letra identifica o tipo de conexão elétrica do circuito de
saída principal (“força”); e
• Fixa: aquela que é conectada ou desconectada por meio de • A 3ª letra identifica o tipo de conexão elétrica dos circuitos
ferramenta; auxiliares (“controle”).
• Desconectável: aquela que é conectada ou desconectada por
manobra manual do meio de conexão, sem usar ferramenta; e Neste sistema de identificação, são utilizadas as seguintes
• Extraível: aquela que quando está conectada ou desconectada letras:
faz com que a UF fique na condição conectada ou desconectada.
• F: conexões fixas;
O modo como são feitas as conexões elétricas de uma • D: conexões desconectáveis; e
unidade funcional é descrito no item 7.11 da norma. Os tipos • W: conexões extraíveis.
de conexões são identificados por um código de três letras:
Apoio
44

A Figura 12 apresenta, de forma esquemática, uma vista extraível numa instalação marítima. Este setor, principalmente
Conjuntos de manobra e controle de potência

em corte de uma coluna de CCM com uma unidade funcional dentro do segmento de óleo e gás, foi o que mais motivou a
(UF) extraível na posição conectada. Nesta imagem, é possível adoção de colunas com o que o mercado costuma a chamar
identificar os compartimentos de cabos e o da UF propriamente de “gavetas (UFs) totalmente extraíveis”. Este termo é, às vezes,
dita, em que se veem as conexões elétricas principais (circuitos utilizado, para se referir a uma UF do tipo “W-W-W”, ou seja:
de força) de entrada e saída, além da conexão de controle uma unidade com duplo seccionamento nos circuitos de força
(“tomada para os circuitos auxiliares”). (entrada e saída) e dupla extração (tanto os circuitos de força
Na Figura 13, pode-se ver, na parte traseira de uma UF quanto os de controle).
extraível, seguindo da esquerda para a direita, as conexões Apesar de as unidades funcionais poderem ser do tipo fixa
de controle (circuitos auxiliares), saída de potência (circuito ou removível, o apelo do uso de UF do tipo extraível (“gavetas”)
principal) e entrada de potência (circuito principal). Como em CMC de BT nos setores petroquímico, siderúrgico, de
todos elas são extraíveis, a classificação, neste caso, seria: mineração e de papel e celulose é forte devido à possibilidade
“W-W-W”. de se ter uma rápida inspeção e, se necessário, a troca da gaveta
A Figura 14 traz um exemplo de aplicação de uma UF – seja ela uma partida (“demarradora”) ou um alimentador.

Figura 12 – Vista esquemática de uma unidade funcional extraível. Figura 13 – Vista de unidade funcional extraível, mostrando as suas
conexões.

Figura 14 – Unidade Funcional (UF) tipo “W-W-W” (chamada, às vezes, de “gaveta totalmente extraível”).
Apoio
28
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo VIII

Conjuntos de manobra e controle


de baixa tensão – Aplicações

A aplicação de conjuntos de manobra e de serviço) e no capítulo “7” (Projeto e Construção)


controle de baixa tensão, conforme a ABNT NBR da norma ABNT NBR IEC 60439-1 devem servir de
IEC 60439-1, é feita, inicialmente, com base nas base para se estabelecer os critérios de uso.
características nominais necessárias à mesma: O relatório técnico IEC/TR 61439-0 (“Low-
voltage switchgear and controlgear assemblies –
[1] Tensão nominal (Un); Part 0: Guidance to specifying assemblies”), que
[2] Tensão nominal de operação (Ue); já se encontra na sua 2ª edição (lançada, pela IEC,
[3] Tensão nominal de isolamento (Ui); em abril de 2013), é uma excelente ferramenta
[4] Tensão suportável nominal de impulso (Uimp); na compreensão dos requisitos de aplicação e
[5] Corrente nominal (In); desempenho associados a este tipo de equipamento.
[6] Corrente suportável nominal de curta-duração Seguindo a atual abordagem da ABNT NBR IEC
(Icw); 60439-1, a tabela 7 desta norma lista os ensaios
[7] Corrente suportável nominal de crista (Ipk); de tipo e de rotina aplicáveis a cada tipo de CMC
[8] Corrente nominal condicional de curto- (TTA / PTTA) e, também, especifica como cada um
circuito (Icc), se aplicável; destes testes deve ser aplicado para atendimento aos
[9] Corrente nominal de curto-circuito limitada requisitos relativos à classificação TTA e PTTA.
por fusível (Icf), se aplicável; Pela atual definição da norma, um painel “TTA”
[10] Fator nominal de diversidade (FDR); (CMC com os ensaios de tipo totalmente efetuados)
[11] Frequência nominal (fn). é um painel de BT que está em conformidade com
um tipo ou sistema estabelecido, sem apresentar
Dentro do novo contexto da IEC 61439, estas desvios que possam influenciar o seu desempenho
características ainda se mantêm válidas. Porém, o quando comparado com o protótipo típico ensaiado
mais importante a ser ressaltado neste momento é o e aprovado, conforme a ABNT NBR IEC 60439-1 e
fato de que os requisitos nominais para um conjunto a antiga IEC 60439-1. Dessa forma, um conjunto
de manobra e controle de potência de baixa tensão, de manobra e controle “TTA” deve atender aos
como os listados anteriormente, não são suficientes requisitos dos seguintes ensaios de tipo:
para definir a sua aplicação. É necessário levar em
conta as condições de serviço e as características • Limites de elevação de temperatura;
construtivas requeridas. As informações e as • Propriedades dielétricas;
recomendações contidas no capítulo “6” (Condições • Corrente suportável de curto-circuito;
Apoio
29

• Eficácia do circuito de proteção;


• Distâncias de escoamento e isolação; • Verificação dos limites de elevação de temperatura por teste ou
• Funcionamento mecânico; e extrapolação a partir de resultados de um conjunto ensaiado;
• Grau de proteção (IP, conforme NABNT BR IEC 60529). • Verificação da isolação pela medição da resistência de isolamento
com um megômetro de, no mínimo, 500 V;
Para a ABNT NBR IEC 60439-1, a lista de verificações de • Verificação da suportabilidade aos esforços da corrente de
rotina é a seguinte: curto-circuito pelo ensaio ou extrapolação (cálculos), a partir de
arranjos com configurações similares ensaiadas e aprovadas;
• Inspeção do conjunto de manobra e controle, incluindo a • Verificação da eficácia da conexão entre as partes condutoras
inspeção da instalação elétrica e, se necessário, ensaio de expostas do CMC e o circuito de proteção pela inspeção ou
funcionamento elétrico; medição de resistência.
• Ensaio dielétrico; Exemplos de antigos documentos técnicos que podem ser
• Verificação das medidas de proteção e da continuidade utilizados na avaliação de estruturas do tipo PTTA, a partir de
elétrica do circuito de proteção. sistemas com valores ensaiados e aprovados, são listados a seguir:
Já um PTTA (CMC com ensaios de tipo parcialmente efetuados)
é um painel de BT que apresenta tanto configurações ensaiadas • Technical Report IEC 60890: A method of temperature-rise
quanto outras não ensaiadas, mas cujos “desvios” foram derivados, assessment by extrapolation for partially type-tested assemblies
por exemplo, por cálculo, a partir de protótipos ensaiados e que (PTTA) of low voltage switchgear and controlgear;
satisfizeram os requisitos de norma (ABNT NBR IEC 60439-1 e a • Technical Report IEC 61117: A method for assessing the short-
antiga IEC 60439-1). Um conjunto de manobra e controle “PTTA” circuit strength of partially type-tested assemblies (PTTA). Este
pode diferir de um “TTA” no atendimento dos seguintes requisitos: documento foi incorporado à IEC 61429-1, na forma do anexo P.
Apoio
30

A título ilustrativo, a Figura 1 apresenta duas montagens


Conjuntos de manobra e controle de potência

• Corrente nominal das barras de derivação: 800 A;


usadas para a verificação das propriedades dielétricas de
• Fator nominal de diversidade: 0,8;
conjuntos de manobra e controle. A primeira foi para um CDC e
• Formas de separação: 4b;
a segunda para um CCM. O ensaio em questão era de verificação
• Graus de proteção: IP20 (interno) / IP31 (externo).
da suportabilidade ao impulso atmosférico.

É importante atentar para o fato de que, no universo dos


equipamentos de BT, diferente da média tensão, o contexto das
solicitações dielétricas, apesar de toda a sua relevância, não é
fator determinante. Entretanto, os problemas surgidos com altas
correntes nominais de regime e os níveis altos de curto-circuito
em espaços físicos, muito menores do que aqueles encontrados
na MT, levam a preocupações quanto à solução de arranjos de
barramentos, de equipamentos de manobras, transformadores
de instrumentos e elementos de proteção contra sobrecorrentes.
Conforme comentado anteriormente, os conjuntos de manobra
e controle em BT e MT são a concretização dos arranjos de barras
elétricas de um sistema de potência. Eles integram os dispositivos
CDC – Centro de Distribuição de Cargas e as interligações que permitem as atividades relacionadas à
operação de um ponto específico da instalação, valendo-se de
suportes, pilares, travessas, placas de montagem, etc. Este arranjo,
com todos os seus equipamentos, pode apresentar um invólucro,
o qual visa, basicamente, dois objetivos:

• Segurança humana, primordialmente; e


• Proteção dos equipamentos.

Dentro desse contexto, os invólucros e as divisórias de


qualquer tipo de equipamento elétrico, inclusive os painéis
elétricos, tanto de baixa quanto de média tensão, devem ser
CCM – Centro de Controle de Motores associados a um determinado índice classificativo conhecido
como código IP (Índice de Proteção), o qual visa estabelecer ou
Figura 1 – Ensaios de verificação das propriedades dielétricas (impulso
atmosférico de 8 kV de crista). identificar os limites de ingresso de sólidos e líquidos, além de
dar uma orientação quanto ao nível de proteção física contra
Exemplos de valores das características construtivas contatos com circuitos que possam vir a estar energizados. Esta
básicas de um conjunto de manobra e controle de baixa classificação, definida na ABNT NBR IEC 60529, associa os
tensão são listadas a seguir: códigos IP ao desempenho de um determinado invólucro ou
anteparo de um equipamento elétrico. Os graus de proteção
• Tensão nominal: 690 V; (código IP) são construídos, basicamente, da seguinte forma:
• Tensão nominal de operação: 480 V (quando esta é diferente
da tensão nominal); • 1º numeral (0 a 6, ou letra X): define o ingresso de objetos
• Tensão nominal de isolamento: 1.000 V; sólidos e a proteção de pessoas contra partes perigosas;
• Tensão nominal de impulso: 8 kV; • 2º numeral (0 a 8, ou letra X): define o ingresso de água, com
• Capacidade de interrupção máxima: 50 kA; efeitos danosos ao equipamento;
• Corrente suportável de curta duração: 50 kA simétricos por 1 s; • Letra adicional (A, B, C, D): proteção de pessoas contra partes
• Valor de pico do 1º semiciclo da corrente suportável: 105 kA); perigosas;
• Corrente nominal das barras principais: 2.500 A; • Letra suplementar (H, M, S, W): informação específica.
Apoio
32

O primeiro dígito (numeral) da classificação do grau de A primeira letra adicional após a indicação do grau de proteção
Conjuntos de manobra e controle de potência

proteção (IP) indica que o equipamento deve prevenir acesso (IPXX) é opcional e indica que o equipamento fornece proteção
a partes perigosas e o ingresso de corpos sólidos, conforme a adicional, conforme a Tabela 3. A segunda letra “suplementar”
Tabela 1. O segundo dígito (numeral) da classificação do grau após a indicação do grau de proteção (IPXX) é, também, opcional
de proteção (IP) indica que o equipamento deve prevenir o e indica que o equipamento atende a requisitos específicos para
ingresso de água, conforme a Tabela 2. uma das aplicações mostradas na Tabela 4. 
Tabela 1 – Grau de proteção – IP: 1º numeral

IP_X Proteção contra (proteção de pessoas / preservação do equipamento):

0 Nenhuma
1 Uma esfera de diâmetro de 50 mm (costa da mão) não deve comprometer a segurança (50 N).
Uma esfera de diâmetro de 50 mm não deve entrar completamente.
2 Um dedo articulado de teste com diâmetro de 12 mm e L = 80 mm não deve tocar partes perigosas ou diminuir distâncias de isolamento (10 N).
Uma esfera com diâmetro de 12,5 mm não deve entrar completamente.
3 Um arame de aço, com diâmetro de 2,5 mm e L = 100 mm, não deve comprometer a segurança (3 N).
Um arame de aço de diâmetro de 2,5 mm não deve entrar.
4 Um arame de aço, com diâmetro de 1,0 mm e L = 100 mm, não deve comprometer a segurança (1 N).
Um arame de aço de diâmetro de 1,0 mm não deve entrar.
5 Um arame de aço, com diâmetro de 1,0 mm e L = 100 mm, não deve comprometer a segurança (1 N).
Quantidades limitadas de pó podem penetrar, mas não devem poder interferir com a operação normal do equipamento (“dust-protected”).
6 Um arame de aço, com diâmetro de 1,0 mm e L = 100 mm, não deve comprometer a segurança (1 N).
A prova de pó (“dust-tight”).

Tabela 2 – Grau de proteção – IP: 2º numeral

IPX_ Proteção contra (ingresso de água):

0 Nenhuma
1 Gotas de água caindo verticalmente ( condensação ).

2 Gotas de água caindo com um ângulo de 15o com a vertical ( por exemplo , sistemas de combate a incêndio com pé direito alto e com uso de sprinkler ).

3 Aspersão de água caindo com um ângulo de 60o com a vertical ( por exemplo , sistemas de combate a incêndio com pé direito baixo e com uso de sprinkler ).

4 Respingos de qualquer direção .

5 Uso de mangueiras d ’ água – jato d ’ água de baixa pressão proveniente de qualquer direção

6 Condições de convés de navios – jato d ’ água com alta pressão proveniente de qualquer direção .

7 Imersão temporária .

8 Imersão contínua .

Tabela 3 – Grau de Proteção – IPXX: 1ª letra adicional

IPXX_ Usar com Proteção contra

A 0 A esfera com 50 mm de diâmetro pode entrar, mas não deve tocar em partes perigosas ou reduzir a isolação elétrica (rigidez dielétrica, tensão de impulso etc.).
Proteção contra as costas da mão.
B 0&1 O dedo de teste de diâmetro de 12 mm pode entrar até 80 mm, mas não deve tocar em partes perigosas ou reduzir a isolação elétrica. Proteção contra dedos.
C 0, 1 & 2 O dispositivo de teste, com diâmetro de 2,5 mm e comprimento de 100 mm, pode entrar, mas não deve tocar em partes perigosas ou reduzir a isolação elétrica.
Proteção contra ferramentas.
D 0, 1, 2 & 3 O dispositivo de teste, com diâmetro de 1,0 mm e comprimento de 100 mm, pode entrar, mas não deve tocar em partes perigosas ou reduzir a isolação elétrica.
Proteção contra fios.

Tabela 4 – Grau de Proteção – IPXX: 2ª letra adicional

IPXX _ Requisito específico

H Equipamentos de alta-tensão.
M Verificação do ingresso de água com o equipamento em movimento (por exemplo, máquina rotativa em operação).
S Verificação do ingresso de água com o equipamento em repouso (por exemplo, máquina rotativa parada).
W Adequado para uso em condições climáticas especiais e com características adicionais de proteção (a ser acordado entre fabricante e usuário).
Apoio
34
Conjuntos de manobra e controle de potência

Figura 3 – Exemplo da forma “2a".

Figura 2 – Coluna de CCM de BT mostrando os diferentes graus de


proteção (IP), conforme a barreira ou parte analisada.

É importante atentar para o fato de que um mesmo


equipamento pode apresentar diferentes graus de proteção,
conforme o que está sendo avaliado: o conjunto (invólucro Figura 4 – Exemplo das formas “4b” e “3b".

externo), uma parte (unidade funcional, por exemplo) ou uma • Proteção contra contato com partes perigosas: no mínimo
barreira, conforme exemplificado na Figura 2. IP XXB; e
Um fator que está, também, correlacionado ao grau • Proteção contra penetração de corpos sólidos: no mínimo
de proteção de um conjunto de manobra e controle são as IP 2X.
correntes nominais a serem adotadas nas unidades funcionais e
nos barramentos principal e de derivação. É importante ressaltar que o grau de proteção IP 2X cobre
Pode até não ser uma relação clara e direta, mas o fato o grau de proteção IP XXB. A separação interna pode ser
de se tomar a decisão de adotar uma classificação IP mais obtida por meio de partições ou barreiras (metálicas ou não),
restringente quanto à entrada de corpos sólidos pode implicar isolamento das partes vivas ou uso de componentes com o
restrições na ventilação natural necessária à troca de calor para grau de proteção desejado (por exemplo, disjuntores em caixa
operação das partes ou da totalidade dos painéis. Afinal, cada moldada com grau de proteção IP 2X – “à prova de dedos”).
elemento instalado dentro de um painel, apesar de ter um valor Os tipos de forma de separação permitem que o usuário
de sobretemperatura associado à sua corrente permanente e à escolha o arranjo que melhor atende aos seus requisitos de
temperatura ambiente externa, ele encontra-se sob influência segurança e continuidade de serviço, conforme a instalação
direta das condições do seu microambiente. existente. A Figura 3 mostra um exemplo de um CMCP de
Outro ponto muito relevante na especificação e na aplicação BT com forma de separação 2a (vista posterior, mostrando
de um CMCP de BT é a definição da forma de separação interna. barramentos principal e de derivações, além dos terminais de
Conforme descrito na seção “7.7” da ABNT NBR IEC 60439-1, as saída das unidades funcionais). Já a Figura 4 apresenta uma
formas de separação interna estabelecem as condições construtivas, vista posterior de um CMCP de BT com forma 3b nas duas
por meio de divisões e barreiras, para se atingir graus de proteção colunas da direita e forma 4b nas três colunas da esquerda.
internos iguais ou superiores a IPXXB e IP2X entre compartimentos. Os detalhes sobre os requisitos construtivos das formas de
Em outras palavras, aplica-se a seguinte filosofia: separação interna são apresentados na tabela 5 e na Figura 5.
Apoio
36
Conjuntos de manobra e controle de potência

Figura 5 – Representação esquemática das formas de separação definidas pela ABNT e IEC.

Tabela 5 – Formas de separação interna para CMCP de BT, segundo a IEC.

Critério principal Critério secundário Forma

Sem separação interna. Forma 1


Separação entre os barramentos e as unidades funcionais. Terminais para os condutores externos não separados dos barramentos. Forma 2a
Terminais para os condutores externos separados dos barramentos. Forma 2b

Separação entre os barramentos e as unidades funcionais e separação entre Terminais para os condutores externos não separados dos barramentos. Forma 3a
todas as unidades funcionais. Separação entre os terminais para condutores
externos e as unidades funcionais, mas não entre os terminais das diferentes
unidades funcionais.
Terminais para os condutores externos separados dos barramentos. Forma 3b

Separação entre os barramentos e todas as unidades funcionais e separação Terminais para os condutores externos no mesmo compartimento da unidade Forma 4a
entre todas as unidades funcionais. Separação entre os terminais para condutores funcional associada.
externos das diferentes unidades funcionais e entre os terminais das unidades
funcionais e os barramentos.
Terminais para os condutores externos não se encontram no mesmo Forma 4b
compartimento da respectiva unidade funcional, mas em um compartimento
ou espaço individual, separado, fechado e protegido.
Apoio
30
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo IX

Conjuntos de manobra e controle de


baixa tensão em invólucros metálicos
Desafios relacionados à especificação e ao uso

É sempre preciso estar alerta para as situações consideração é importante para o dimensionamento
que apresentem desvios dos valores considerados térmico e a configuração física que será adotada
como padrões nas normas para aplicação dos para o CMC. A norma ABNT NBR IEC 60439-1
equipamentos, tais como: temperatura ambiente, sugere, na falta de mais informações do usuário e,
condições atmosféricas (abrigado ou ao tempo), até mesmo, do fabricante do conjunto, a adoção
grau de poluição, altitude ou condições especiais dos valores típicos da tabela “1” da seção “4.7”
de serviço. (reproduzida na Tabela 1). Estes valores para o fator
As quantidades de unidades funcionais e de nominal de diversidade de um conjunto ou de sua
circuitos principais em um conjunto de manobra e parte representam a relação entre a máxima soma
controle podem ser altas, logo, um ponto relevante das correntes de operação dos circuitos principais,
na definição de um Conjuntos de Manobra e em qualquer instante do período de operação do
Controle de Potência (CMCP) de baixa tensão é conjunto, e a soma de todas as correntes nominais
máxima corrente que irá circular no barramento dos circuitos principais envolvidos, seja no CMC
principal e nos barramentos de derivação. Esta ou na parte selecionada do conjunto.
informação, junto com a quantidade e tipo de
Tabela 1 – Valores de fator nominal de diversidade,
cargas (UFs) associadas é fundamental para segundo a ABNT NBR IEC 60439-1

garantirmos um desempenho térmico adequado Número de circuitos Fator nominal de


na condição de máximo regime de corrente a principais diversidade

circular no equipamento. 2e3 0,9


4e5 0,8
A fim de otimizar o dimensionamento dos
6 a 9 (inclusive) 0,7
barramentos principais e derivação, a IEC sugere,
10 (e acima) 0,6
caso o fabricante não defina, valores usuais para
se estabelecer a quantidade de elementos que
estarão energizados em um mesmo momento No caso de equipamentos de baixa tensão, a
(fator de diversidade). Este valor representa, relação entre o valor de pico da maior alternância no
numericamente, a relação entre a quantidade primeiro semiciclo e o valor eficaz de uma corrente
de circuitos energizados e o total instalado. Esta de curto-circuito presumida é conhecida como fator
31

“n”. A IEC estabeleceu valores baseados nos níveis de corrente


e nos fatores de potência dos curtos-circuitos observados nos
tipos mais comuns de sistemas de BT, como os exemplificados
nas vistas parciais dos diagramas unifilares das Figuras 1 e 2. Na
Tabela 2 estão listados os valores constantes da “Tabela 7” da
ABNT NBR IEC 60439-1 (“Valores normalizados para o fator n”).

Tabela 2 – Valores do fator de potência, relação X/R associada e


do fator “n” para as faixas de correntes de curto-circuito em BT,
segundo a IEC

Corrente de curto-circuito cos ϕ X/R n


kA (valor eficaz) p.u. p.u.
I[5 0,7 1,02 1,5
5 < I [ 10 0,5 1,73 1,7
10 < I [ 20 0,3 3,18 2,0
20 < I [ 50 0,25 3,87 2,1
50 < I 0,2 4,90 2,2

Figura 1 – Parte de DU com a possibilidade de paralelismo com geração


própria.

Figura 2 – Parte de um DU com a possibilidade de paralelismo de


transformadores.
Apoio
32

Deve-se atentar para o fato de que o uso de TCs e relés


Conjuntos de manobra e controle de potência

secundários, em vez de disparadores incorporados aos


disjuntores de potência, pode dificultar o atendimento ao tipo
de forma de separação interna requerida para o conjunto. Os
tipos de forma de separação permitem que o usuário escolha
o arranjo que melhor atende aos seus requisitos de segurança
e continuidade de serviço, conforme a instalação existente.
No caso de aplicação dos disjuntores de potência de BT,
é interessante salientar que os sistemas de proteção, quando
incorporados a eles, têm evoluído muito ao longo dos anos.
Nos últimos anos, todos os fabricantes tradicionais deste tipo
de equipamento têm incorporado aos seus produtos o uso de
bobinas de “Rogowski” em substituição aos já tradicionais Figura 3 – Exemplo de bobina de Rogowski.

e consagrados sensores de corrente (transformadores de


corrente com valores secundários na ordem de miliampères).
Isso permitiu uma melhoria do desempenho das unidades
microprocessadas utilizadas como elementos de proteção
de sobrecorrente. A antiga solução já tinha demonstrado alta
confiabilidade com o casamento entre os sensores de corrente
e as unidades de disparos, graças ao correto encaminhamento
dos cabos entre sensor e disparador, e o casamento da carga
à capacidade dos sensores (TCs) utilizados. Mas a indústria
buscava um novo patamar, em que um único sensor pudesse
cobrir, com confiabilidade, uma faixa maior de atuação,
permitindo que um único dispositivo atendesse, sem
saturação, às necessidades de unidades microprocessadas
para disjuntores de 630 A a 6.300 A. Figura 4 – Redução da energia incidente pela alteração dos ajustes da
proteção durante uma intervenção.
As bobinas de “Rogowski”, exemplificada na Figura 3,
para uso em conjunto com disparadores microprocessados Apesar destas abordagens inovadoras, tem sido observada,
já são uma realidade nos novos disjuntores de potência em alguns casos, em fornecimentos mais recentes, a solicitação,
de BT. Associadas a elas, existe também a adição de novas por parte dos clientes finais, de se adotar proteção secundária
características aos disparadores microprocessados. Além para os disjuntores de potência de BT, ou seja, o uso de TCs
das já clássicas funções de medição de grandezas elétricas externos associados a um relé de proteção. Este arranjo tem sido
(corrente, demanda, energias ativas e reativas, fator de empregado em conjuntos de manobra de BT, do tipo Centro de
potência, etc.) e de informações de qualidade de energia Distribuição de Cargas (CDC), com base em duas premissas:
(quantificação das harmônicas, níveis de distorção, etc.), têm
sido acrescidas funções que permitem a redução de níveis • Em caso de necessidade de troca de um disjuntor, não existe
de energia incidente no ponto de instalação do disjuntor a obrigatoriedade de se verificar a adequação dos ajustes da
graças à possibilidade de alteração temporária dos ajustes das unidade de disparo ou, caso seja preciso, reprogramá-la;
proteções. Esta nova abordagem é baseada no uso de grupos de • Os relés secundários de corrente, diferentes das unidades de
ajustes memorizados na unidade microprocessada, conforme disparos incorporados (as quais trabalham com protocolos do
mostrado na Figura 4, na qual se pode ver, além do frontal da tipo proprietário ou outros disseminados mundialmente, como
unidade de disparo com o seletor de ajustes preestabelecidos, o Modbus ou o Profibus), permitem a adoção de sistemas de
um comparativo de resposta (níveis de energia incidente) do comunicação com base na norma IEC 61850. E este tem sido a
sistema de proteção em relação aos níveis das correntes de nova referência para os sistemas supervisórios e de controle dos
curto-circuito. sistemas de potência.
Apoio
34

Este tipo de enfoque, exemplificado na Figura 5, mesmo que pela tabela de escolha da capacidade de serviço em relação
Conjuntos de manobra e controle de potência

tenha os seus méritos, implica em outros pontos que podem ao percentual da capacidade máxima segundo o tipo de
se tornar críticos. A necessidade de adequar os TCs a níveis seletividade, conforme mostrado na Tabela 3.
de corrente nominal e de curto-circuito pode levar ao uso de Os disjuntores podem ser classificados em duas categorias
transformadores com maior relação ou exatidão (capacidade de seletividade:
de lidar com maior carga secundária – maior “Burden”). Isso
é similar ao que já foi descrito para os CMCP de MT, porém, • A: são os disjuntores para os quais não se prever seletividade,
neste caso, o problema não é relativo aos riscos de alteração em condições de curto-circuito, com os dispositivos (SCPD) a
no arranjo espacial dos campos elétricos e o surgimento de jusante. Eles não possuem valores para ajustes de
novos gradientes. Aqui muitas vezes se encontram problemas curto-retardamento e nem a capacidade de corrente suportável
puramente de espaço físico disponível, quando não ocorrem de curta-duração (Icw);
implicações piores, como a limitação de troca de calor para • B: são os disjuntores que conseguem ter seletividade, em
dissipação térmica da parte interna do CMC de BT devido a condições de curto-circuito, com os dispositivos (SCPD) a jusante.
dificuldades de circulação de ar (convecção) ou da radiação de Eles possuem ajustes para o curto-retardamento e, também, a
pontos de partes condutoras. capacidade de corrente suportável de curta-duração (Icw).

Tabela 3 – Valores da relação entre Ics e Icu

Categoria de seletividade: A Categoria de seletividade: B


% de Icu % de Icu
25 --
50 50
75 75
100 100

Além disso, os disjuntores apresentam duas capacidades de


interrupção:

• Ics: Capacidade de Interrupção de Serviço – corresponde ao


Figura 5 – CMCP-BT com forma de separação “4b" e proteção valor da corrente de curto-circuito, expresso em porcentagem
secundária.
do valor de Icu, que um disjuntor pode interromper na sua tensão
Deve-se atentar, também, para o fato de que o uso de TCs nominal de operação; sendo que, após este evento, o mesmo
e relés secundários, em vez de disparadores incorporados ainda deve poder conduzir a sua corrente nominal de regime.
aos disjuntores de potência de BT, podem vir a dificultar o • Icu: Capacidade de Interrupção Máxima – corresponde ao
atendimento do tipo de forma de separação interna requerida valor eficaz da corrente de curto-circuito que um disjuntor
para o conjunto. pode interromper na sua tensão nominal de operação; sendo
Além dos pontos mencionados nos parágrafos anteriores, que, após este evento, não precisa ser capaz de conduzir a sua
existem três outros fatores interessantes dentro do contexto dos corrente nominal de regime.
desafios encontrados na aplicação de CMCP de BT. Os dois
primeiros estão relacionados diretamente ao uso de disjuntores, Apesar da condição de um disjuntor apresentar o valor
conforme descrito na IEC 60947-2 (“Low-voltage switchgear de Ics igual ao de Icu representar uma situação ótima, ela não
and controlgear – Part 2: Circuit-brearkes”). Um se refere à é obrigatória e pode, dependendo da aplicação e do sistema
capacidade de suportar um valor de corrente de curta-duração em questão, até ser uma solução mais onerosa: o projeto do
(Icw) por um tempo definido, fato este que está, diretamente, dispositivo precisaria ser “sobredimensionado”.
associado à forma como o equipamento irá se comportar num O terceiro ponto está relacionado com o uso de partidas
esquema seletivo de proteção. E o outro estabelece os níveis de com contatores do tipo eletromecânico, conforme a IEC
capacidade de interrupção, tanto em serviço quanto máximo, 60947-4-1 (“Low-voltage switchgear and controlgear – Part 4-1:
para o disjuntor. Esta última relação é associada à primeira Contactors and motor-starters – Electromechanical contactors
Apoio
35

and motor-starters”). Uma “partida” (combinação de todos os partidas).


dispositivos e conexões necessárias para manobrar um motor, É óbvio que uma partida protegida com coordenação
com proteção contra sobrecargas inclusa) protegida (partida tipo 2 permite uma maior continuidade de serviço e um nível
que possui um dispositivo de proteção contra curto-circuito – menor de manutenção, especialmente quando associada ao
SCPD) pode apresentar dois tipos de coordenação entre os seus uso de disjuntores como SCPD, em vez de fusíveis (o disparo
elementos. por curto-circuito não obriga a troca dos elementos fusíveis).
Os tipos de coordenação para partidas protegidas são: Porém, dependendo do projeto dos componentes e as suas
capacidades de suportabilidade térmica e dinâmica, pode
• Tipo 1: a partida, sob condições de curto-circuito, não haver a necessidade de aumento de seu tamanho (estrutura),
deve causar perigo às pessoas ou instalações e pode, após do volume ocupado pela UF ou o incremento nos custos da
a interrupção da falta, não estar apta a serviços futuros sem solução. Este tipo de característica tem sido constantemente
reparos ou substituição de peças; solicitado nas aplicações de CCM de BT para plataformas
• Tipo 2: a partida, sob condições de curto-circuito, não deve marítimas, como exemplificada na Figura 5.
causar perigo às pessoas ou instalações e tem de, após a Vale chamar a atenção para o fato de o CCM mostrado na
interrupção da falta, estar apta a serviços futuros. É aceitável Figura 6 possuir um reator limitador de corrente na entrada,
o risco de soldagem dos contatos principais do contator (neste garantindo que o nível de curto-circuito disponível no ponto
caso, o fabricante deve informar os procedimentos adequados ficasse limitado a 18 kA eficazes, conforme definições de projeto
de manutenção). do cliente final. Esta solução foi adotada como forma de reduzir
os níveis de energia incidente no ponto da instalação, visando um
Estes tipos de coordenação estão associados à categoria aumento da segurança operacional. Claro que, como em todas as
de uso AC-3 (manobra de motores de indução com rotor em soluções adotadas em engenharia, houve alguns compromissos:
curto-circuito) para os contatores (e, respectivamente, para as • Estudo de fluxo de carga e avaliação da queda de tensão no
Apoio
36
Conjuntos de manobra e controle de potência

Figura 6 – CCM de BT típico do setor marítimo. Na coluna de entrada do conjunto (a primeira à direita), tem-se um reator limitador de corrente
trifásico (atentar para as venezianas de ventilação).

caso de partidas rotóricas diretas; Conclusões


• Com base nos dados do item anterior, foram definidos
limites menores de potência das gavetas com partida direta Como discutido nos tópicos anteriores, o uso de
(inclusive, na terceira coluna, contando-se da direita para a Conjuntos de Manobra e Controle de Potência (CMCP) de
esquerda, houve a aplicação de uma unidade eletrônica para baixa tensão em sistemas elétricos industriais, comerciais e
partida suave – “Soft-starter”, para adequação da máquina a de infraestrutura requer sempre um conhecimento detalhado
capacidade do sistema em garantir uma partida sem queda de da aplicação final dos equipamentos e das condições, físicas
tensão excessiva). e elétricas, do local da instalação. Não existe uma regra
única e nem um modelo mestre para se definir a forma e
Para auxiliar no levantamento das necessidades para a a filosofia construtiva a ser adotada. Os pontos cruciais e
definição dos principais requisitos construtivos de um projeto inegociáveis foram e sempre serão a segurança humana e
específico, pode-se usar a Tabela 4. patrimonial.
O que se pode sugerir é, sempre que possível e

Tabela 4 – Requisitos específicos de projeto

Tensão e frequência de alimentação V Hz


Capacidade de corrente (barramentos) A
Nível de curto-circuito do sistema kA s
Temperatura ambiente, se acima de 35 °C C
Umidade se acima de 50% @ 40C % C
Outras condições especiais da Instalação
Classificação IP Externo IP Interno IP
Forma construtiva Fixa Extraível
Acessibilidade da instalação Frontal Traseira
Entrada / Saída para instalação dos cabos Superior Inferior
Acessibilidade para manutenção Frontal Traseira
Forma de separação Forma
Apoio
38

economicamente viável, seguir algumas premissas que


Conjuntos de manobra e controle de potência
• Definição das características nominais;
devem ser validadas conforme cada caso. Estas podem ser • Conhecimento das condições ambientais e espaciais do
listadas como: local da instalação;
• Consolidação dos estudos de engenharia elétricas
• Adotar soluções que possuam os relatórios de ensaios necessários;
aplicáveis que comprovem sua adequação à aplicação; • Conhecer as filosofias de operação e manutenção que
• Adotar estruturas construtivas que minimizem os riscos de serão adotadas.
choques elétricos e exposições a arcos elétricos:
 Em aplicações de potência, dar preferência por tipos Listar características adicionais que possam vir a
construtivos do tipo “armário”, “multicolunas” ou aumentar a confiabilidade, a disponibilidade e a segurança,
“multimodular”; tanto humana quanto patrimonial, conforme a experiência,
 Formas construtivas 3b e 4b, quando for necessário tanto da equipe responsável pelo projeto quanto do usuário
acesso com sistema energizado; final.
 Unidades funcionais extraíveis ou removíveis; Para finalizar, é importante salientar o trabalho que está
 Partidas rotóricas com elementos com coordenação tipo 2; sendo desenvolvido, no Brasil, pela Comissão de Estudos
 Escolha de componentes adequados para a real C 17.02, da ABNT, e que se encontra bem adiantado, no
condição de uso (por exemplo, não aplicar, diretamente, sentido de termos, se possível ainda neste ano, a publicação
um disjuntor de 2.500 A, que foi ensaiado conforme das duas primeiras normas baseadas na série IEC 61439
a IEC 60947-2, em um circuito de mesma corrente de (partes 1 e 2).
regime, sem saber se ele está adequado para condições
de temperatura e poluição do ambiente interno do painel Referências
– às vezes, se faz necessário o uso de fatores de redução • ABNT NBR IEC 60439-1. Conjuntos de manobra e controle
de capacidade de condução de corrente permanente ao de baixa tensão – Parte 1: Conjuntos com ensaio de tipo
elemento de manobra, obrigando o projetista a adotar, por totalmente testados (TTA) e conjuntos com ensaio de tipo
exemplo, um disjuntor de 3.200 A); parcialmente testados (PTTA). ABNT, maio 2003.
 Escolher a categoria de sobretensão correta, conforme • IEC 61439-1. Low-voltage switchgear and controlgear
a tensão nominal do circuito e o local da instalação (nível assemblies – Part 1: General rules. IEC; 2nd. Edition, 2011.
de exposição a sobretensão. Consultar a tabela G.1 da • IEC 61439-2. Low-voltage switchgear and controlgear
ABNT NBR IEC 60439-1; assemblies – Part 2: Power switchgear and controlgear
 Sistemas inteligentes que permitam a supervisão, assemblies. IEC; 2nd. Edition, 2011.
operação, medição, monitoramento e intervenções remotas; • IEEE Std C37.20.1 – 2002: IEEE Standard for Metal-Enclosed
 Adotar soluções de engenharia que minimizem, Low-Voltage Power Circuit Breaker Switchgear.
conforme cada caso, os riscos associados aos níveis de • NR 10: Norma regulamentadora Número 10: Segurança em
energia incidente (escolha do aterramento do neutro, uso instalações e serviços em eletricidade. Ministério do Trabalho
de seletividade lógica, sistemas de redução de níveis de e Emprego – Governo Federal do Brasil, 2004.
energia para serviços de intervenção, etc.); • Electrical Safety Requirements for Employee Workplaces,
 Escolher o grau de proteção adequado ao local da NFPA 70E, 2009.
instalação; • IEEE Guide for Perfoming Arc-Flahs Harzard Calculations,
 Para situações de exposição contínua de operadores IEEE Std 1584, 2002.
ao local da instalação, buscar soluções quanto a riscos
oriundos de um arco interno, sejam do tipo ditas “ativas”
ou “reativas”.

Da mesma forma como comentado sobre a aplicação


de conjuntos em média tensão, aqui se aplicam as mesmas
diretrizes básicas:
Apoio
30
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo X

Conjuntos de manobra e controle


resistentes aos efeitos de um arco
elétrico interno – Parte 1

A probabilidade de ocorrer uma falha dentro do tendem a ser mais perigosos e destrutivos. Caso
invólucro de um conjunto de manobra e controle a avaliação de risco da instalação defina a
de potência (CMCP) é muito baixa, principalmente, necessidade de se ter um conjunto que suporte
quando ele é especificado, projetado, montado e os esforços provenientes de um arco interno, o
operado segundo as diretrizes das normas técnicas desempenho deles pode ser balizado por um dos
aplicáveis, práticas de engenharia consagradas e seguintes documentos: o guia IEEE C37.20.7, tanto
em conformidade com as instruções do respectivo para MT quanto BT, ou pelo anexo “AA” da IEC
fabricante. Porém, não se pode, simplesmente, 62271-200 para a média tensão ou pelo relatório
ignorar a probabilidade da ocorrência deste tipo técnico IEC/TR 61641 para BT.
de evento. Portanto, é importante entender os Uma forma de se verificar se é necessário
requisitos e pontos que estão relacionados ao ou não se optar pelo emprego de um CMCP que
desempenho destes equipamentos frente aos possua características que o permitam lidar com
efeitos de um arco elétrico devido a uma falha os efeitos resultantes de um arco elétrico resultante
interna. de uma falha interna é avaliar o nível de risco
A suportabilidade dos conjuntos de manobra para o elemento humano. Caso este risco seja
e controle (CMCs) de média e baixa tensão pequeno, pode-se, então, optar por um CMC com
frente a falhas trifásicas com curto-circuito pleno características construtivas comuns. Caso contrário,
(impedância da falta igual a zero), tanto internas ou seja: nível do mesmo pode ser considerado
quanto externas (correntes passantes devidas relevante (nível de curto-circuito, tempo de resposta
a defeitos fora do conjunto), é verificada pelos das proteções, a presença de pessoas e o seu
ensaios de corrente suportável de curta-duração, posicionamento e atuação em relação ao painel),
conforme, por exemplo, as seções aplicáveis das o usuário pode especificar um conjunto que tenha
normas IEC 62271-200 para MT e IEC 61439-1 / -2 classificação para arco interno, ou seja: condições
para BT. de lidar como os efeitos provenientes deste tipo de
Os defeitos associados a falhas internas nos evento.
CMCs, que envolvam descargas de arco elétrico Neste ponto é preciso que fique claro que
no ar nos compartimentos destes equipamentos, a proteção de pessoas em relação à ocorrência
Apoio
31

de um arco interno em um painel elétrico não depende • Aplicação de cargas maiores do que aquelas para as quais o
exclusivamente do emprego de um conjunto resistente a painel foi projetado;
arco. Esta é, também, função do local da instalação, já que • Conexões elétricas frouxas;
os subprodutos e os gases gerados pela decomposição dos • Condições anormais (alta umidade, temperaturas além dos
componentes internos do painel poderão vir a ser liberados valores definidos em projeto, etc.);
para fora dos mesmos a altas temperaturas e com um alto • Substituição incorreta de componentes, etc.
nível de toxidade. Assim, é preciso que sejam previstos
modos que permitam a rápida evacuação de pessoas e a A ocorrência de um arco interno em conjuntos de manobra e
remoção dos gases tóxicos presentes na sala da instalação. É controle está associada a vários fenômenos físicos, tais como:
fundamental que, antes que qualquer pessoa retorne ao local • Sobrepressão interna nos compartimentos;
da instalação, sejam tomadas providências para garantir a • Sobreaquecimento localizado.
eliminação de tais vapores, com ações como o aumento da
ventilação na sala elétrica. Tais condições criam grandes solicitações térmicas e
As causas que, normalmente, levam a ocorrência de um mecânicas no conjunto. E, além disso, devido à decomposição
arco interno são: de componentes e materiais utilizados dentro do painel, ocorre
a geração de gases e vapores, os quais são, na maioria das
• Presença de corpos estranhos, como ferramentas ou os vezes, de natureza tóxica. Estes materiais, junto com partículas
materiais utilizados durante manutenções ou modificações, incandescentes, podem vir a serem expelidos da estrutura.
mas esquecidos dentro do painel após o término das atividades; Para tanto, os universos normativos da IEC e da ANSI,
• Entrada de pequenos animais; como já mencionado anteriormente, possuem documentos
• Seleção incorreta dos dispositivos de proteção contra curto- que orientam e guiam os usuários e fabricantes na
circuito; identificação de suas necessidades e nos requisitos para a
Apoio
32
Conjuntos de manobra e controle de potência

comprovação de desempenho do equipamento frente ao Existem outras medidas de proteção que podem vir a
evento de um arco interno em condições normais de serviço. complementar a segurança humana e o desempenho de um
É importante atentar que, em nenhum dos casos, é avaliado conjunto de manobra e controle frente aos riscos associados a
o comportamento do painel quando ele se encontra sob ocorrência de um arco interno. Algumas dessas possibilidades
manutenção ou inspeção interna, ou seja, quando partes seriam:
(tampas e portas) do invólucro, incluindo o compartimento
de controle, se encontram abertas ou removidas (as únicas • Tempos rápidos de eliminação do defeito;
ressalvas para esta última afirmação se encontram no • Uso de dispositivos capazes de limitar a energia associada
documento, relacionadas aos equipamentos classificados de (limitação da corrente passante e redução da duração da falha);
2A ou 2B, como mostrado mais adiante). • Eliminação rápida do arco;
Ambas as escolas técnico-normativas propõem, quando • Operação e manobra remotas;
necessário, as formas de validação e os tipos de classificação • Dispositivos de alívio de sobrepressão;
para um conjunto de manobra e controle quanto ao seu • Movimentação das partes extraíveis com a respectiva porta
desempenho em garantir, essencialmente, a segurança humana frontal fechada;
para o caso de ocorrer um arco interno. • Movimentação remota do elemento extraível, etc.
Estas abordagens existem para os conjuntos de manobra
e controle de potência (CMCP), tanto de média tensão (MT) Cabe alertar aqui que a escolha pelo uso de CMC que seja
quanto de baixa tensão (BT). E, assim, um CMCP, para ser resistente aos efeitos de um arco interno é de responsabilidade
considerado capaz de lidar com os efeitos resultantes de um arco do usuário. Ele deve levar em conta as características do sistema
interno, precisa demostrar, por ensaios ou por características elétrico no qual o equipamento será instalado, as condições
construtivas, o atendimento aos critérios estabelecidos nas de serviço, os procedimentos de operação e as diretrizes
respectivas normas. de segurança. Para se proteger o ser humano durante a sua
Equipamentos construídos segundo, basicamente, as interação com um equipamento, deve-se atentar para:
recomendações da ANSI (“American National Standards
Institute”) seguem o documento IEEE Std C37.20.7 (ver • Nem todos os CMC possuem classificação quanto aos efeitos
referências), estabelecido pelo IEEE. Este guia estabelece de um arco interno;
métodos para avaliação de CMC, tanto de BT quanto de MT, até • Nem todos os CMC usam dispositivos extraíveis;
38 kV, em suportar os efeitos provenientes de um arco devido a • Nem todos os CMC possuem uma porta que possa ser
falha interna ao conjunto. mantida fechada para as diferentes posições de serviço em
Dentro do universo IEC, a análise de desempenho de um que um elemento de manobra possa se colocado (conectado
CMC frente aos efeitos de um arco interno segue as diretrizes / aterrado / teste).
definidas em documentos segundo a faixa de tensão nominal
do equipamento. No caso de média tensão (CMC com valores Contexto na média tensão
da tensão nominal acima de 1 kV e até 52 kV, inclusive), devem Um conjunto de manobra e controle de média tensão para
ser seguidas as orientações contidas no anexo “AA” (“Internal ser considerado como resistente aos efeitos de um arco interno,
arc fault – Method to verify the internal arc classification ou seja, ter uma classificação IAC (“Internal Arc Classified”),
(IAC)) da norma IEC 62271-200. Já para a baixa tensão (CMCP como é definido na seção 5.101 da norma IEC 62271-200, ou
com tensão nominal até 1000 V em CA ou 1500 V em CC), o AR (“Arc Resistant”), como no guia da IEEE, precisa demonstrar,
documento orientativo a ser aplicado é o relatório técnico IEC/ por ensaios, atendimento aos critérios estabelecidos nos
TR 61641 (ver referências). documentos mencionados.
Claro que todo o processo descrito acima precisa ser Na tabela 1 é apresentado um resumo dos critérios de
respaldado pelo elemento humano na redução dos riscos a aceitação, os quais se encontram na seção “6.106.5” da
níveis toleráveis, ou seja, é imprescindível que a pessoa que IEC 62271-200 e no capítulo “6” (“Assessment”) da IEEE Std
irá atuar sobre um CMC tenha conhecimento dos perigos C37.20.7, para a classificação quanto ao desempenho frente
presentes e siga as orientações estabelecidas pelo fabricante do a um arco interno em um conjunto de manobra e controle de
equipamento e as diretrizes definidas em norma. média tensão:
Apoio
34

Tabela 1 – Critérios de aceitação para a classificação “IAC” / “AR” contemplados para ser acordada entre o fabricante e o
Conjuntos de manobra e controle de potência

Critérios Descritivo usuário.


#1 Portas, tampas, etc., corretamente fechadas,
Na tabela 2 é apresentado um resumo dos tipos de
não podem terem aberto.
acessibilidade para pessoas nas proximidades do conjunto
Não podem ter sido arremessados componentes
ou fragmentos do conjunto de manobra que
de manobra e controle em invólucro metálico de média
#2 possam causar riscos (A IEC define que a massa tensão, num evento de arco interno, conforme descrito nos
destas partes seria igual ou maior que 60 g e que documentos mencionados.
precisaria ter sido arremessadas a uma distância Na IEC, um conjunto de manobra e controle pode ter
superior ao afastamento dos indicadores verticais).
diferentes tipos de acessibilidade para as diversas faces.
#3 O arco não pode ter perfurado as partes livremente
Para fins de identificação, usa-se o seguinte:
acessíveis do invólucro (até uma altura de 2m).
Os indicadores dispostos não podem ter se
#4 inflamado por causa de emissão de gases • F – para a parte (face) frontal;
quentes ou líquidos em chamas. • L – para as partes (faces) laterais;
#5 Todas as conexões à terra devem continuar eficazes. • R – para a parte (face) traseira.

A partir do atendimento total dos critérios listados na Basicamente, temos:


tabela 1, o conjunto de manobra e controle em invólucro
metálico de média tensão pode ser classificado como - Pela norma “IEC 62271-200”, a classificação é composta
resistente aos efeitos de um arco interno. Esta classificação, pelo seguinte arranjo de termos: “IAC” (“Internal Arc
estabelecida pelo fabricante, define qual é o tipo de Classified”: Classificado para Arco Interno), mais o tipo de
acessibilidade (como será explicado mais adiante) a cada acessibilidade (A, B ou C) para cada face do CMC (F: frente
face de um conjunto e para qual valor e duração da corrente / L: laterais / R: traseira) e os valores testados para corrente
de falha. de defeito e respectiva duração. Exemplos:
Antigamente, a IEC e a ABNT, em versões anteriores de
suas respectivas normas para CMC de MT em invólucro • IAC – BFLR – 16 kA – 0,1 s: classificado para arco
metálicos, apesar de serem a favor de uma abordagem interno com acessibilidade tipo B (público em geral) para
que adotasse o atendimento aos cinco critérios descritos as partes frontal, laterais e traseira; para uma corrente de
na tabela 1, elas deixavam a definição de quais deveriam 16 kA eficazes com duração de 100 milissegundos.
• IAC – BF-AR – 20 kA – 0,5 s: Classificado para arco
Tabela 2 – Tipos de acessibilidade de um CMC resistente aos interno com acessibilidade tipo B (público em geral)
efeitos de um arco interno
para a parte frontal e tipo A (pessoal autorizado) para a
IEEE C37.20.7 IEC 62271-200 (*)
TIPO ACESSIBILIDADE TIPO ACESSIBILIDADE traseira (o acesso as laterais é restrito, pois não possui
Projeto ou características Acessibilidade restrita classificação); para uma corrente de 20 kA eficazes com
para resistir ao arco somente a pessoal duração de 500 milissegundos
1 elétrico, com livre A autorizado.
acessibilidade somente na
- Pela norma “IEEE C37.20.7”, a classificação é composta
parte frontal.
pelo tipo de acessibilidade (1 ou 2, basicamente) e os
Projeto ou características Acessibilidade irrestrita,
para resistir ao arco incluindo o público em
valores testados para corrente de defeito e respectiva
2 elétrico, com livre B geral. duração. A composição é feita da seguinte maneira:
acessibilidade externa
(frente, traseira e nas • Tipo1: Classificação para um projeto ou estrutura
laterais).
com características para resistir ao arco elétrico, com
Acessibilidade restrita por
livre acessibilidade somente na parte frontal. É similar
instalação fora de alcance
a classificação “IAC–A/B–F”. Exemplo: Tipo 1, 25 kA
C e acima de área com
acesso ao público (tipo eficazes, 500 milisegundos.
“Pole-mounted”). • Tipo2: Classificação para um projeto ou estrutura
Apoio
35

com características para resistir ao arco elétrico, com a uma parede (face sem acesso a pessoas), o documento
livre acessibilidade externa (frente, laterais e traseira). É do IEEE define a classificação específica “1D”. Seria a
similar a classificação “IAC–A/B–FLR”. Exemplo: Tipo 2, estrutura com livre acesso a sua parte frontal e às outras
40 kA eficazes, 500 milisegundos. faces avaliadas no ensaio de arco (esta classificação precisa
vir acompanhada da identificação de que outras faces,
Notas: além da frontal, foram ensaiadas: SR – face direita, SL – face
1) A livre acessibilidade externa da ANSI / IEEE, a menos esquerda ou R – face traseira).
que haja alguma ressalva, sempre se refere a todo o No guia do IEEE, tanto a acessibilidade tipo “1”
perímetro em torno do painel (frente, lateral direita, lateral quanto tipo “2”, pedem uma distância mínima para
esquerda e traseira). posicionamento dos indicadores, horizontais e verticais, de
2) Os valores de tempo de falha recomendados pela IEC verificação dos efeitos térmicos dos gases, em relação ao
são 1 s, 0,5 s e 0,1 s. conjunto de manobra de 100 mm +/- 15 mm; porém, com
3) O valor preferencial para o tempo de falha adotado uso de indicadores de queima empregando tecido com uma
pela ANSI / IEEE é 0,5 s. Outros valores podem ser usados, densidade de 150 g/m2. Na norma IEC, a acessibilidade
sendo que o valor de 0,1 s é considerado como o mínimo “A” estabelece a distância de 300 mm +/- 15 mm para os
recomendado e o valor de 1 s considerado como limite indicadores, com tecido de 150 g/m2; enquanto que a “B”
máximo. pede o valor de 100 mm +/- 5 mm para material com uma
densidade de 40 g/m2.
Enquanto a IEC deixa claro que a sua classificação não Os indicadores de queima, tanto verticais (iv) quanto
se aplica para os casos em que os compartimentos estão horizontais (ih), mencionados no parágrafo anterior e
com as suas portas e/ou tampas abertas; o IEEE C37.20.7 mostrados na Figura 1, são montados na forma de um
inclui, para as acessibilidades “tipos 1 e 2”, os sufixos “B” quadrado, com dimensões de 150 mm x 150 mm, com
e “C”. O sufixo “B” se refere ao caso em que o painel foi tolerância de +15/-0 mm. Eles são feitos de pedaço de
ensaiado com o respectivo compartimento de controle pano de algodão, conforme a densidade requerida para o
(baixa tensão) aberto. Já o sufixo “C” se aplicada para um ensaio. A ideia é que cada uma das densidades informadas
painel com proteção de arco entre compartimentos (em uma anteriormente, simulem as roupas usadas no local de
mesma unidade funcional ou entre unidades funcionais trabalho com presença de eletricidade (as de maior
adjacentes). densidade) e as roupas mais leves (as de menor densidade,
Para os casos em que, por exemplo, um CMC possa ser típicas de verão). Eles devem ser montados de modo que os
montado com a face traseira ou uma das laterais próxima cortes de suas bordas não apontem para o objeto sob ensaio.
Apoio
36

É interessante notar que os indicadores horizontais não a ser ensaiado. A parede lateral (pelo menos uma) deve
Conjuntos de manobra e controle de potência

possuem armação para evitar que partículas incandescentes ficar a 100 mm (+/- 30 mm) do painel. O posicionamento
e não os possíveis gases quentes provenientes do teste da parede na parte de trás do painel irá depender se esta
possam vir a se acumular. Já os indicadores verticais parte é ou não acessível (os conjuntos com diferentes
lembram uma “caixa” pois possuem uma armação de aço profundidades, terão a distância tomada a partir de sua
(2 x 30 mm) em todo seu entorno de modo a evitar que um unidade mais profunda), sendo que se deve considerar o
indicador vertical possa inflamar outros próximos. valor padrão de afastamento da parede como igual a 800
Para o arranjo de ensaio dos conjuntos de manobra mm (+100/-0 mm) para situações onde houver o acesso de
e controle de uso interno é importante a simulação da pessoas.
sala onde ele será instalado. Para o espaço livre acima Para os casos de estruturas sem acesso traseiro, a IEC
do conjunto a ser ensaiado, tanto a IEC quanto o IEEE define uma distância de 100 mm (+/- 30 mm) entre o painel
estabelecem que o fabricante informe a altura necessária e a parede, a menos que o fabricante declare um valor
(este valor é medido sempre a partir do piso sobre o qual superior. Se for informada uma distância menor do que 100
o equipamento está realmente montado, seja ele o chão mm, deverá ser comprovado que quaisquer deformações
ou uma plataforma). A IEC define, também, para painéis permanentes não interfiram com a parede ou sejam
com altura igual ou superior a 1800 mm, que o teto deve limitadas por ela.
ficar a pelo menos de 200 mm (+/- 50 mm) acima da parte Na Figura 2 vê-se um exemplo de arranjo com a
mais alta deles, incluindo, quando aplicável, a posição de simulação do local de instalação de um CMC de MT para
abertura máxima dos flaps (ou “portinholas”: dispositivos a realização de um ensaio de verificação do desempenho
de alívio de sobrepressão), ou seja, estes não devem atingir frente aos efeitos resultantes de um arco interno, conforme
o teto quando de sua atuação. Para o caso de painéis com o IEEE. Pode-se notar que, além da simulação da sala para o
menos de 1800 mm de altura, o teto deve ficar a dois metros ensaio, existe a necessidade de se posicionar os indicadores
(+/- 50 mm). verticais e horizontais para verificação dos efeitos térmicos
dos gases, a partir das distâncias já informadas e segundo a
altura para os painéis. Conforme a norma adotada, existem
pontos a serem seguidos: o IEEE considera que o material
usado nos indicadores (tecido de algodão) tenha sempre
uma densidade de 150 g/m2, tanto para acessibilidade tipo
“1” quanto tipo “2”, enquanto que a “IEC” pede este mesmo
valor para a acessibilidade “A”, enquanto muda o valor de
densidade para 40 g/ m2 nas acessibilidades “B” e “C”.

Figura 1- Indicadores vertical e horizontal de (150 mm x 150 mm) para


verificação dos efeitos térmicos dos gases.

Além do que foi descrito no parágrafo anterior, existem


também as considerações relativas às paredes (traseira e
lateral), conforme características do local e do equipamento Figura 2- Arranjo para a os ensaios de arco interno.
Apoio
38

A IEC, como mostrado na Figura 3, pede que os indicadores


Conjuntos de manobra e controle de potência

horizontais (ih) e verticais (iv) de queima, conforme a


acessibilidade e a altura do CMC, sigam os seguintes arranjos
básicos dos indicadores:

• Acessibilidade tipo “A”: restrito somente a pessoal autorizado


(indicadores de tecido com 150 g/m2, montados a 300 mm +/-
15 mm);
• Acessibilidade tipo “B”: acessibilidade irrestrita, incluindo
público em geral (indicadores de tecido com 40 g/m2 montados Figura 3 - Posicionamento dos indicadores de queima, segundo a IEC
62271-200.
a 100 mm +/- 5 mm);
• Acessibilidade tipo “C”: acessibilidade restringida por A Figura 4, gerada a partir da “AA.4” da IEC 62271-200,
instalação dos equipamentos fora de alcance: montados em apresenta, conforme as diretrizes apresentadas anteriormente,
postes ou plataformas, acima do nível do solo (indicadores o arranjo (simulação da sala – piso, parede e teto, além do
de tecido com 40 g/m2 montados entre 40 e 50% de uma posicionamento dos indicadores de queima horizontais
superfície de (3 x 3) m2, a uma altura de 2 metros). e verticais) para verificação de acessibilidade tipo A com
possibilidade de acesso traseiro.
Os indicadores devem ser dispostos em uma configuração O documento do IEEE informa que os ensaios sejam feitos
similar à de um tabuleiro de xadrez, de modo a cobrir de somente nos compartimentos com os pontos mais prováveis
40% a 50% da área associada à superfície sob ensaio. Essa para ocorrência de um arco interno. Fato este que gera, às
montagem deve ser em estruturas com uma extensão maior do vezes, um pouco de dúvida quando se deve ou não realizar
que a dimensão correspondente à face ensaiada, de modo a se o ensaio em um determinado compartimento. A fim de evitar
considerar a possibilidade de escape de gases quentes a 45º a dúvidas e, também, deixar o usuário final mais tranquilo, é
partir do conjunto. Esta angulação implica um prolongamento comum que fabricantes da escola ANSI sigam a mesma linha
de pelo menos 300 mm ou 100 mm, conforme, respectivamente, de abordagem da IEC para CMC de MT, ou seja, devendo ser
as acessibilidades tipo A ou B, da IEC, deste que a posição de realizados ensaios em todos os compartimentos de “alta tensão”
alguma parede usada na simulação da sala não impeça. (denominados, também, de compartimentos de potência).

Figura 4 - Arranjo simulado da sala de montagem de um CMC de MT para a realização dos ensaios de verificação de desempenho frente aos efeitos de
um arco interno para acessibilidade A, segundo a IEC 62271-200.
Apoio
39

Seguindo a diretriz da IEC, para uma seção típica de um exemplo), o arco deve ser iniciado com a aplicação de um valor
conjunto de manobra e controle de MT em invólucro metálico, igual a 87% da corrente nominal do ensaio e entre duas fases
os três compartimentos básicos a serem ensaiados para um arco adjacentes, atentando para o fato de que isolamento sólido só
interno com, por exemplo, 40 kA eficazes e duração de 500 ms pode ser perfurado quando não houver nenhuma região de
seriam: descontinuidade da isolação ou ponto de conexão coberta com
sistema pré-fabricado. Exceção para estruturas com condutores
• Compartimento do barramento principal; de fase separados, o ensaio deve ser feito com uma fonte
• Compartimento de saída (conexões); trifásica.
• Compartimento de disjuntor. Na norma IEC, é permitida a perfuração da isolação sólida,
caso não se tenham pontos sem cobertura no compartimento
Em cada posição, conforme mostrado nas Figuras 5 e 6, o sob ensaio ou conexões com isolação a ser aplicada no local
arco será iniciado por um fio metálico conectado entre todas as final da instalação (tipo “cobertura pré-fabricada”). Também
fases. Tanto a IEC 62271-200 quanto a IEEE C37.20.7 (no que fala no valor de 87% da corrente trifásica para os casos em que,
se refere aos tipos cobertos pelas normas “ANSI C37.20.2” e no compartimento a ser ensaiado, só existam condutores com
“ANSI C37.20.3”) definem um diâmetro de 0,5 mm para este isolação sólida aplicada em fábrica.
fio (a ANSI fala também na opção de uso da bitola 24 AWG – Em termos práticos, a maioria dos projetos de MT sempre
0,5105 mm). O fio para início do arco deve ser colocado dentro apresenta algum ponto de descontinuidade da isolação sólida
do compartimento a ser ensaiado em um ponto acessível e o ou pontos de conexões cobertos por isolação pré-fabricada.
mais distante possível da fonte de alimentação. Assim, nestes casos, é comum se ter ensaios trifásicos, com a
O documento do IEEE estabelece que, nas estruturas com corrente IA (valor eficaz para a corrente de arco em uma falha
condutores cobertos por material isolante sólido (epóxi, por interna trifásica).
Apoio
40

Cabe ressaltar que, por questões econômicas e,


Conjuntos de manobra e controle de potência

principalmente, de seguranças ambiental e humana, os


compartimentos isolados em SF6 devem ter o seu fluido
isolante substituído por ar, aplicado na mesma pressão de
uso do gás original (os resultados obtidos nesta condição
são considerados representativos). O manuseio do gás SF6
deverá seguir as recomendações da norma IEC 62271-4.

Figura 5 – Compartimento típico (todos os de potência) a ser ensaiado.

Figura 7- Fases relativas a um arco interno.


A IEC permite a declaração de um valor para situações
Durante o evento de um arco interno, ele pode ser dividido,
de falhas monofásicas (IAe). Porém, só se adota este valor
para efeitos de análise, basicamente, em quatro fases: de
nos casos em que realmente não existe a possibilidade
compressão, de expansão, de emissão e térmica. Como
de um curto-circuito monofásico evoluir para uma falha
mostrado na Figura 7,elas ocorrem em rápida sequência,
trifásica (estruturas que empreguem arranjos com fases
sendo que cada uma delas pode ser descrita, didaticamente, da
segregadas). Caberá ao fabricante informar quais os
seguinte forma:
compartimentos em que se aplicaria ensaios monofásicos
(sendo que o ensaio irá verificar se realmente este tipo de
1 – Fase de compressão:
falha em tais estruturas não irá evoluir para uma condição
a - No instante do início do arco, a pressão se mantém
trifásica – caso em que o ensaio deve ser refeito; porém,
constante.
em condições trifásicas).
b - O calor gerado pelo arco começa a aquecer o ar.
c - Os eletrodos começam a evaporar.
d - Com os dispositivos de alívio de pressão ainda fechados,
é atingida a máxima pressão interna.
e - O tempo desta fase é menor do que ½ ciclo.

2 – Fase de expansão:
a - O pico de pressão é alcançado e os dispositivos de
alívio de pressão (ver figura 8) se abrem.
b - A pressão interna do compartimento sob falha é
reduzida, enquanto o ar aquecido e o cobre vaporizado
são descarregados.

3 – Fase de emissão:
Figura 6 - Colocação do fio metálico, entre fases, usado para o início
do arco. a - O ar no compartimento sob falha continua a ser
Apoio
42

aquecido pelo arco e se desloca devido a uma pequena oriundos dos efeitos de um arco interno, como mostrado
Conjuntos de manobra e controle de potência

diferença de pressão. na Figura 9. Sendo que, nestes casos, a altura do teto do


b - Quase todo o ar é eliminado do compartimento, sendo local da instalação do painel não é relevante, a menos com
que a área externa ao painel recebe este volume. a condição de se ter, pelo menos, uma distância mínima
c - A temperatura do ar neste instante é maior que 900 C. o
de 100 mm entre a parte superior do duto e o teto, para se
d - A temperatura do arco está entre 15000 °C e 20000 C. o
poder documentar eventuais deformações permanentes do
e - Nestas condições ocorre sublimação do cobre. Assim arranjo.
para cada 1 centímetro cúbico de cobre, são gerados
67000 centímetros cúbicos de gás.

4 – Fase térmica:
a - Tempo transcorrido desde a fase de emissão até o fim
do arco.
b - A energia do arco atua nos materiais remanescentes no
interior do compartimento.
c - Ocorre derretimento de barramentos, cabos de saída,
componentes (TCs, para-raios, etc.), peças de conexões e
de contatos, materiais isolantes, divisórias e barreiras.

Figura 8 – Visualização de exemplo de dispositivos de alívio de


Figura 9 - Exemplo de montagem de duto coletor / exaustor de gases.
sobrepressão (“flaps”).

Os possíveis efeitos provocados pelos gases quentes


Como já mencionado na fase de expansão, a Figura 8 descarregados na área, além do final do duto de exaustão,
permite visualizar os dispositivos de alívio de sobrepressão que se encontram fora da região coberta pelos indicadores
(“flaps”). Os valores máximos associados aos picos de de queima, não são avaliados em nenhum dos dois
pressão interna aos compartimentos de um CMC vão além documentos mencionados no parágrafo anterior. Assim, se
da capacidade de suportabilidade mecânica de qualquer recomenda seguir as instruções do fabricante do CMC para
estrutura. Assim, a forma de lidar com esta condição é a montagem destes dutos.
permitir que a pressão excessiva que surge com a ocorrência No caso de conjuntos com classificação IAC, devem
de um arco possa ser descarregada por estes dispositivos, ser seguidas as recomendações de instalação do fabricante
permitindo que toda a estrutura mantenha a sua integridade. do equipamento a fim de se alcançar o nível de segurança
O documento da IEC e o do IEEE consideram, para a MT, necessário. Porém, deve-se sempre se levar em conta as
a necessidade de validar os casos em que o CMC emprega condições reais do local de instalação, efetuando-se uma
um coletor de expansão e duto de exaustão dos gases avaliação dos possíveis perigos.
Apoio
43

A seção “B.2” do documento do IEEE apresenta Switchgear Rated Up to 38 kV for Internal Arcing Faults.
considerações sobre o uso de conjuntos de manobra e Institute of Electrical and Electronic Engineers; 2007.
controle resistentes aos efeitos de um arco interno. Ela • IEC TR 61641: Enclosed low-voltage switchgear and
apresenta várias orientações e recomendações úteis controlgear assemblies – Guide for testing under conditions
para avaliação, aplicação e instalação de um painel em of arcing due to internal fault; Edition 3.0. International
condições que existam riscos de um arco interno. Electrotechnical Commission, 2014.
• IEC 62271-4: High-voltage switchgear and controlgear –
Referências Part 4: Handling procedures for sulphur hexafluoride (SF¨)
and its mixtures; Edition 1.0. International Electrotechnical
• IEC 62271-200: High-voltage switchgear and controlgear Commission, 2013.
– Part 200: AC metal-enclosed switchgear and controlgear • IEC 60529: Degrees of protection provided by enclosures
for rated voltages above 1 kV and up to and including 52 (IP Code); Edition 2.2. International Electrotechnical
kV; Edition 2.0. International Electrotechnical Commission, Commission, 2013.
2011.
• IEC 61439-1: Low-voltage switchgear and controlgear
assemblies – Part 1: General rules; Edition 2.0. International
Electrotechnical Commission, 2011.
• IEC 61439-2: Low-voltage switchgear and controlgear
assemblies – Part 2: Power switchgear and controlgear
assemblies; Edition 2.0. International Electrotechnical
Commission, 2011.
• IEEE Std C37.20.7: IEEE Guide for Testing Metal-Enclosed
Apoio
38
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo XI

Conjuntos de manobra e controle


resistentes aos efeitos de um arco
elétrico interno – Parte 2
Comparativo dos requisitos de
ensaio de arco interno em MT

Em continuidade ao capítulo anterior, um aos ensaios de verificação de desempenho diante de


comparativo básico entre os documentos da IEC e do efeitos de um arco interno em conjuntos de manobra
IEEE sobre as principais características relacionadas e controle de MT é apresentado na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Comparativo básico entre ANSI e IEC para ensaio de arco interno

Característica ANSI C37.20.7 IEC 62271-200


1.0 Indicadores para verificação os efeitos térmicos de gases
1.1 Montagem no plano vertical e plano horizontal Montagem no plano vertical e plano horizontal
1.2 150 mm x 150 mm 150 mm x 150 mm
1.3 Algodão – 150 g/m2 Algodão – 150 g/m2 (tipo A)
1.4 N.A. Algodão – 40 g/m2 (tipos B e C)
2.0 Avaliação do ensaio
2.1 Critério # 1 (para proteção pessoal) Tampas e coberturas não devem abrir, se fechadas de Tampas e coberturas não devem abrir se fechadas de
forma correta forma correta
2.2 Critério # 2 (para proteção pessoal) Não pode ocorrer a fragmentação do invólucro (ejeção Não pode haver ejeção de partes perigosas
de partes)
2.3 Critério # 3 (para proteção pessoal) Não pode haver perfuração das partes acessíveis Não pode haver perfuração das partes acessíveis
2.4 Critério # 4 (para proteção pessoal) Tanto os indicadores verticais quanto horizontais não Tanto os indicadores verticais quanto horizontais não
2.5 podem ter se inflamado podem ter se inflamado
3.0 Acessibilidade
3.1 Tipo 1(A) – Acesso somente frontal a 100 mm (ver nota Nota: Esta classificação IEEE equivale a IAC A/B - F
ao lado)
3.2 Tipo 2(A) – Acessos frontal, lateral e traseiro a 100 mm Nota: Esta classificação IEEE equivale a IAC A/B - FLR
(ver nota ao lado)
Apoio
39

Característica ANSI C37.20.7 IEC 62271-200


3.3 Tipo 2B – Similar ao 2(A), com a porta do compartimento IAC A: Pessoal Autorizado. Distância dos indicadores
de controle (BT) aberta igual a 300 mm +/- 15 mm
3.4 Tipo 2C – Similar ao 2(A), com a verificação da IAC B: Público em geral.
suportabilidade aos efeitos do arco entre compartimentos Distância dos indicadores igual a 100 mm +/- 5 mm
3.5 IAC C: Equipamentos montados em postes.
3.6 Condição de acesso especial (caminhar sobre a estrutura,
por exemplo): indicador de algodão com 40 g/m2
4.0 Início do arco Fio de diâmetro de 0,5 mm / 24 AWG Fio de diâmetro de 0,5 mm
5.0 Valor de crista do primeiro semiciclo Calibrado para 2,6 vezes o valor eficaz de I’’k Calibrado para 2,5 ou 2,6 vezes o valor eficaz de I’’k,
6.0 Duração do teste segundo a frequência
6.1 “Burn-through” Valor preferido de 500 ms, sendo o mínimo de 100 ms Pelo menos 100 ms

Nota: Tanto a norma IEC quanto o guia do IEEE demandam que todos os cinco critérios de avaliação sejam atendidos.

Locais onde falhas internas ocorrem a probabilidade de ocorrência de falhas internas em


mais frequentemente e as possíveis conjuntos de manobra e controle de média tensão.
medidas preventivas A fim de complementar as medidas preventivas sugeridas
Com base nas experiências adquiridas ao longo do uso na Tabela 2, é fortemente recomendável que o projetista ou
dos conjuntos de manobra e controle, é apresentada, na usuário de um conjunto de manobra e controle consulte,
Tabela 2, uma combinação das tabelas “102” da norma também, a seção B2 do guia IEEE Std C37.20.7. Além de
técnica IEC 62271-200 e da “B.1” da IEEE Std C37.20.7- orientações relativas à instalação, operação e manutenção
2007, com alguns dados e avaliações relativas aos locais, deste tipo de equipamento, o leitor encontra várias análises
causas e exemplos de medidas identificadas para diminuir rápidas sobre estratégias de engenharia para mitigar os níveis de
Apoio
40

energia presente e, assim, diminuir os riscos associados a estes 62271-200, que, conforme já comentado, visa indicar formas
Conjuntos de manobra e controle de potência

equipamentos. Pode-se dizer que esta literatura complementa complementares de proteção para aumentar a segurança das
as sugestões presentes na seção “8.104.3” da norma IEC pessoas no caso de ocorrência de um arco interno.

Tabela 2 – Locais e causas de falhas internas

Locais onde falhas internas ocorrem Possíveis causas Exemplos de medidas preventivas

com mais frequência

Projeto Inadequado Seleção de dimensões adequadas


Evitar que as conexões em cabos se cruzem
Instalação defeituosa No local deve ser feito comissionamento por
pessoal especializado
Compartimento de conexões (por cabos e/ou barramentos) Uso dos valores corretos de torque
Fazer inspeções regulares e ensaios dielétricos periódicos
Falha em isolamento sólido ou fluido (defeito ou ausência) ou contínuos no local
Verificar regularmente, onde aplicável, o nível / pressão
dos fluidos
Intertravamentos
Seccionadoras, chaves com abertura sob carga Reabertura retardada
(interruptores) e chaves de aterramento Operação indevida Manobra manual independente
Capacidade de estabelecimento em curto-circuito
Instruções a pessoal qualificado
Uso de acabamentos superficiais (prata, estanho, etc.),
Corrosão anticorrosivos e/ou graxas
Conexões aparafusadas e contatos Revestimento protetor onde for possível
Montagem defeituosa Inspeção por meios adequados
Uso dos valores corretos de torque
Transformadores de instrumentos Ferrorressonância Evitar estas influências elétricas por meio de projeto
adequado do circuito
Disjuntores Manutenção inadequada Manutenção regular programada
Instrução a pessoal qualificado
Limitação de acesso pelo uso de compartimentação
Erro humano Isolamento das partes vivas
Instruções a pessoal qualificado
Envelhecimento do dielétrico Ensaios periódicos ou contínuos de verificação do dielétrico
Todos os locais Poluição, umidade, penetração de animais, poeiras, etc. Prevenir tais condições de serviço ou adotar medidas que
permitam o conjunto lidar com as elas
Proteções contra surtos de tensão
Sobretensões Coordenação adequada de isolamento
Ensaios dielétricos no local

Contexto na baixa tensão a uma falha interna em conjuntos de manobra e controle


Por conta dos riscos associados a um arco interno de baixa tensão, a IEC adota como guia para ensaios o
dentro de um conjunto de manobra e controle de potência relatório técnico (“Technical Report”) IEC/TR 61641 [5]. E
em baixa tensão, existe, também, em casos específicos, a este documento, que não é uma norma técnica, apresenta a
solicitação, por parte do usuário, de se adotar uma solução seguinte história de emissões:
que apresente baixa probabilidade de ocorrência de uma
falha interna ou, então, que seja resistente aos efeitos de • 1996: publicação da 1ª edição.
um arco elétrico. • 2008: publicação da 2ª edição.
Quando se aborta o tópico referente a um arco devido • 2014 (setembro): publicação da 3ª edição (atual).
Apoio
42
Conjuntos de manobra e controle de potência

A cultura ANSI/NEMA adota as diretrizes do guia 3. Duração permissível do arco (tarc: “Permissible arc
elaborado pelo IEEE, que atende tanto a conjuntos de duration”): é o máximo valor do tempo de duração de
manobra e controle de média quanto baixa tensão, um arco que não se autoextingue ou é limitado por um
conforme já mencionado, anteriormente. Entretanto, dispositivo limitador de corrente. Este valor pode diferir
é fundamental atentar para o fato de que qualquer teste para partes distintas de um mesmo conjunto. O valor
efetuado tem um caráter orientativo de como o conjunto mínimo, solicitado no documento da IEC para a verificação
deverá se comportar, sem, necessariamente, cobrir todas as de arco nas condições descritas anteriormente, é 100 ms;
possíveis eventualidades.
Grandes usuários em importantes segmentos no mercado 4. Corrente de curto-circuito condicional permissível sob
brasileiro começam a pedir características de desempenho condições de arco (Ipc_arc: “Permissible conditional short-
de Conjuntos de Manobra e Controle de Potência em Baixa circuit current under arcing conditions”): é o máximo valor
Tensão frente a um arco interno. Para esta condição, a eficaz permitido da corrente de curto-circuito presumida
referência adotada tem sido a IEC, aplicando-se o relatório nos terminais de entrada de um conjunto, declarado pelo
técnico IEC TR 61641. fabricante, para uma dada tensão operacional (Ue), na qual
Como a nova edição deste documento da IEC é muito um circuito do conjunto é capaz de atender aos requisitos
recente e com uma abordagem e roupagem diferentes do da IEC, quando o circuito é protegido por dispositivo
que foi visto para os painéis de MT, o primeiro passo nesta limitador de corrente ou por dispositivo de mitigação de
fase deste trabalho é familiarizar-se com termos e conceitos falha por arco com função de limitação de corrente;
novos apresentados no documento.
5. Zona protegida contra ignição de arco (“Arc Ignition
Novas definições e nomenclaturas Protected Zone”, antiga “Arc Free Zone”): parte de um
A nova revisão (3ª Edição, de setembro de 2014) do circuito dentro de um conjunto de manobra e controle onde
relatório técnico IEC/TR 61641 traz um nova nomenclatura, medidas específicas são adotadas para garantir que o início
além de algumas novas definições. Por conta disso, elas são de uma falha com arco seja uma possibilidade remota;
apresentadas, a seguir, de forma sucinta e numa tradução
livre, visando auxiliar o leitor na compreensão desta 6. Zona ensaiada para condições de arco (“Arc Tested
terminologia: Zone”, antiga “Arc Proof Zone”): parte de um circuito ou
compartimento onde é iniciado um arco e todos os critérios
1. Corrente de curto-circuito permissível sob condições de avaliação solicitados para o(s) ensaio(s), segundo a IEC
de arco autoextinguível (Ips_arc: “Permissible short-circuit TR 61641, são atendidos;
current under self-extinguishing arcing conditions”): é
o máximo valor eficaz permitido da corrente de curto- 7. Conjunto de manobra e controle avaliado para condições
circuito presumida nos terminais de entrada de um de arco interno (“Arc Verified Assembly”, antiga “Arc Proof
conjunto, declarado pelo fabricante, para uma dada tensão Assembly”): conjunto de manobra e controle que apresenta
operacional (Ue), na qual o equipamento é capaz de atender zonas protegidas contra a ignição de um arco e/ou ensaiadas
aos requisitos da IEC TR 61641 pela autoextinção do arco, para as condições de arco;
sem a operação de nenhum dispositivo de proteção;
8. Dispositivo de mitigação de falha por arco interno (“Arc
2. Corrente de curto-circuito permissível sob condições de Fault Mitigation Device”): dispositivo que opera somente
arco (Ip_arc: “Permissible short-circuit current under arcing no caso de um arco elétrico devido a uma falha interna e
conditions”): é o máximo valor eficaz permitido da corrente que reduz o tempo de duração do mesmo;
de curto-circuito presumida nos terminais de entrada de
um conjunto, declarado pelo fabricante, para uma dada 9. Classes (de condições) de arco (“Arcing classes”):
tensão operacional (Ue), na qual o equipamento é capaz de classificação dada um conjunto ou parte dele conforme
atender aos requisitos definidos pela IEC TR 61641; as diferentes formas de proteção fornecida contra falhas
Apoio
43

com arco: proteção humana, limitação dos danos a IEC TR 61641: Enclosed low-voltage switchgear and
parte do conjunto e capacidade de operação limitada do controlgear assemblies – Guide for testing under conditions
equipamento. of arcing due to internal fault; Edition 3.0. International
Electrotechnical Commission, 2014.
Referências
IEC 62271-200: High-voltage switchgear and controlgear IEC 62271-4: High-voltage switchgear and controlgear –
– Part 200: AC metal-enclosed switchgear and controlgear Part 4: Handling procedures for sulphur hexafluoride (SF)
for rated voltages above 1 kV and up to and including 52 and its mixtures; Edition 1.0. International Electrotechnical
kV; Edition 2.0. International Electrotechnical Commission, Commission, 2013.
2011.
IEC 60529: Degrees of protection provided by enclosures
IEC 61439-1: Low-voltage switchgear and controlgear (IP Code); Edition 2.2. International Electrotechnical
assemblies – Part 1: General rules; Edition 2.0. International Commission, 2013.
Electrotechnical Commission, 2011.

IEC 61439-2: Low-voltage switchgear and controlgear


assemblies – Part 2: Power switchgear and controlgear
assemblies; Edition 2.0. International Electrotechnical
Commission, 2011.

IEEE Std C37.20.7: IEEE Guide for Testing Metal-Enclosed


Switchgear Rated Up to 38 kV for Internal Arcing Faults.
Institute of Electrical and Electronic Engineers, 2007.
Apoio
26
Conjuntos de manobra e controle de potência

Capítulo XII

Conjuntos de manobra e controle


resistentes aos efeitos de um
arco interno - Descritivo

Em continuidade ao tema abordado nos dois Na segunda edição do documento da IEC


capítulos anteriores, este trabalho tratará, a não existia nenhuma diferenciação quanto ao
seguir, do descritivo técnico e, posteriormente, tipo de acessibilidade de pessoas, visto que,
apresentará uma conclusão sobre o assunto. por definição, os conjuntos de manobra e
O relatório técnico IEEE Std C37.20.7 traz os controle de potência (CMCP) de baixa tensão
seguintes objetivos e características: (BT) não preveem a operação ou, a princípio,
a aproximação de pessoal que não seja
• Orientar a forma de ensaiar um conjunto de autorizado. Porém, na terceira edição, apesar de
manobra e controle de baixa tensão (BT) nas ter sido mantido que este ensaio se aplica para
condições de arco elétrico, que ocorra no ar, CMCP definido pela IEC 61439-2 (equipamentos
dentro dele mesmo, devido a uma falha interna; previstos para operação por pessoas advertidas
• Avaliar a capacidade deste equipamento em e/ou qualificadas), foi incluída, além da
limitar os riscos de ferimentos a seres humanos, acessibilidade restrita, a possibilidade de o local
danos ao próprio conjunto e continuidade de de instalação do conjunto ter, também, acesso
operação após a ocorrência de arco elétrico não restrito, ou seja, acessível a pessoas comuns
devido a uma falha interna; – inadvertidas (classificação BA1 da tabela 18 da
• Aplicável, a princípio, aos conjuntos de norma ABNT NBR 5410).
potência fabricados e montados conforme a IEC Assim, além dos indicadores de queima feitos
61439-2; de pedaço de pano de algodão preto, com uma
• O desempenho do conjunto diante dos efeitos densidade de aproximadamente 150 g/m2 para
de um arco interno só é garantido para condições condição de pessoal autorizado, foi incluída,
em que portas e tampas estejam devidamente também, a densidade de 40 g/m2. Eles devem
fechadas e travadas. Ou seja, não se aplica para ser montados de modo que os cortes de suas
as situações de intervenções e/ou manobras bordas não apontem para o objeto sob ensaio.
que demandem abertura de qualquer cobertura Os indicadores verticais lembram uma “caixa”,
(tampa ou porta). pois possuem uma armação de aço em todo seu
Apoio
27

entorno, de modo a evitar que um indicador vertical possa do indicador vertical de queima para verificação dos efeitos
inflamar os outros próximos. A Figura 1 mostra o modelo térmicos dos gases quentes liberados durante o ensaio.
No entanto, em qualquer tipo de acessibilidade (restrita
ou não), a distância a ser adotada para o posicionamento
dos indicadores verticais (não existe a exigência de uso
de indicadores horizontais) para a verificação dos efeitos
térmicos dos gases, em relação ao conjunto de manobra, foi
mantida em 300 mm (+/- 30 mm) até uma altura máxima de
dois metros (+/- 50 mm).

Figura 1 – Dispositivo de aterramento rápido para redução dos efeitos


Os indicadores devem ser, preferencialmente, dispostos
devido a um arco interno em um CMCP de BT. em uma configuração similar à de um tabuleiro de xadrez, de

Figura 2 – Sequência de operação do dispositivo de aterramento rápido para redução dos efeitos de um arco interno.
Apoio
28

Em cada posição o arco será iniciado por um fio


Conjuntos de manobra e controle de potência

30 30
metálico conectado entre todas as fases. O relatório
técnico, descrito na IEC TR 61641, define o diâmetro do fio
conforme o arranjo de ensaio. Na sua tabela 1, reproduzida
na Tabela 1 a seguir, fornece o diâmetro do fio em função
da corrente eficaz presumida de curto-circuito para
150 condições sem dispositivo limitador de corrente. Quando
existir dispositivo limitador (teste com corrente condicional
de curto-circuito), a IEC pede para escolher o fio em função
da corrente de corte (valor de crista da corrente passante),
conforme a tabela 2 da mesma IEC, reproduzida também na
150 Tabela 2 deste trabalho. O fio para início do arco deve ser
colocado dentro do compartimento a ser ensaiado em um
Dimensões em mm ponto acessível e de modo que os efeitos do arco resultante
sejam capazes de produzir a máxima solicitação.
Figura 3 – Indicador para verificação dos efeitos térmicos dos gases,
conforme a IEC/TR 61641.
Tabela 1 – Seção do fio de cobre usado no ensaio de verificação de
modo a cobrir de 40% a 50% da área associada à superfície arco interno em CMCP de BT sem dispositivo limitador de corrente

sob ensaio. Porém, nos casos em que, com certeza, não há Corrente presumida de ensaio Seção do fio
kA (valor Eficaz) mm2
possibilidade de escape de gases quentes de uma parte da
superfície de um conjunto, os indicadores não precisam ser
I ≤ 25 0,75
montados nesta região. Essa montagem deve ser feita em
25 < I ≤ 40 1,0
estruturas com uma extensão prolongada em pelo menos
I > 40 1,5
300 mm, de modo a se considerar a possibilidade de escape
de gases quentes a 45º a partir do conjunto. A Figura 4
mostra o arranjo dos indicadores para a realização de um Tabela 2 – Seção do fio de cobre usado no ensaio de verificação de
arco interno em CMCP de BT com dispositivo limitador de corrente
ensaio.
Corrente passante Seção do fio
kA (valor de crista) mm2

I ≤ 10 0,2
10 < I ≤ 30 0,5
30 < I ≤ 50 0,8
50 < I ≤ 70 0,9
70 < I ≤ 90 1,1

Para um conjunto de manobra e controle de BT, as seis


posições básicas a serem ensaiadas para a condição de um
arco interno, se aplicável, seriam conforme a IEC TR 61641 e
indicados na Figura 5:

1. Lado de alimentação de uma unidade funcional de entrada;


2. Lado de carga de uma unidade funcional de entrada;
3. Barramento principal;
4. Barramento de distribuição;
5. Lado de alimentação de uma unidade funcional de saída;
Figura 4 – Arranjo dos indicadores verticais para verificação dos efeitos
térmicos dos gases. 6. Lado de carga de uma unidade funcional de saída.
Apoio
30
Conjuntos de manobra e controle de potência

I - Abertura dos dispositivos de alívio de pressão (“flaps”).

Figura 5 – Posições a serem verificadas quanto à possibilidade de um


arco interno.

Para o arranjo de ensaio de conjuntos de manobra e


controle de BT, não existe, dentro da IEC, a obrigação de II - Continuação do processo de redução da pressão
simulação da sala onde ele será instalado. interna pela emissão de gases.
Os ensaios de verificação de desempenho em condições
de arco devido à falha interna devem ser feitas na tensão de
operação nominal (Ue). O fabricante pode escolher entre
três valores de corrente de curto-circuito para o ensaio de
verificação do CMCP sob condições de arco: a de arco
autoextinguível (Ips_arc), a permitida para condições
de arco (Ip_arc ) e a condicional (Ipc_arc). O valor a ser
declarado pelo fabricante para qualquer uma das correntes
anteriores pode ser menor do que o valor nominal da
corrente suportável de curta duração (Icw).
O fio de ignição do arco deve ser conectado entre as
partes vivas acessíveis, conforme a distância mais curta
III - Fase térmica (duração total do ensaio igual a 300
possível. Sendo que a isolação sólida aplicada sobre os milissegundos).
condutores não pode ser destruída, removida ou perfurada,
Figura 6 – Ensaio de arco interno em um CMCP de BT.
ou seja: não se pode iniciar uma falha em uma zona
protegida contra ignição de arco. A IEC, segundo a IEC TR 61641, entende que um
A Figura 6 mostra alguns momentos de um ensaio de conjunto de manobra e controle de BT pode apresentar
verificação de suportabilidade a um arco interno no lado de zonas ensaiadas para os efeitos de uma falha interna ou
alimentação de uma unidade funcional de entrada de um zonas livres de ignição de um arco. Uma zona ensaiada
CMCP de BT. para condições de arco (“Arc Tested Zone”, antiga “Arc
Apoio
31

Proof Zone”) é caracterizada como a parte de um circuito


de um conjunto em que se pode aplicar um fio de ignição
e se atender aos critérios de avaliação de desempenho no
caso de falha. A zona protegida contra ignição de arco
(“Arc Ignition Protected Zone”, antiga “Arc Free Zone”) é
a região do CMC em que não é possível aplicar um fio de
ignição de arco nos circuitos de potência sem a destruição
do material isolante sobre os condutores. Esta condição
se aplica, por exemplo, para barramentos cujas barras são
separadas por barreiras isolantes ou isoladas em material
epóxi ou com outro tipo de cobertura isolante sólida (por
exemplo: material termocontrátil).
Na Figura 7 são apresentadas duas possibilidades
construtivas para o lado dos barramentos de uma unidade
funcional quanto a abordagem relativa à ocorrência de um
arco interno. Como a primeira imagem mostra barras nuas,
seria necessário ensaio para verificação se são atendidos os
requisitos para considerar esta zona como ensaiada para
a) Ensaiada b) Protegida
falha interna. Na segunda imagem se tem, para a mesma
zona, barras com cobertura isolante sólida; o que nos
Figura 7 – Possibilidades de zonas relativas à ocorrência de um arco
permite considerar como zona livre de ignição de arco. interno no lado dos barramentos de uma unidade funcional.
Apoio
32

As barreiras isolantes devem garantir um grau de


Conjuntos de manobra e controle de potência

proteção IP3XD, enquanto a isolação sólida deve ter um [1] No caso de proteção só de pessoas (Classe A):
grau IP4X. 1. Não ocorrer abertura de portas, tampas ou coberturas
Uma cobertura isolante para ser considerada sólida, (deve ser mantido, pelo menos, o grau de proteção
segundo a IEC TR 61641, precisa ter características de IP1X);
só poder ser removida com o uso de ferramentas ou pela 2. Não ocorrer arremesso para além dos indicadores de
sua destruição. Ela deve, também, atender aos requisitos partes que possam causar perigo (as de massa maior que
elétricos, térmicos e mecânicos definidos na norma IEC 60 g);
61439-2. Além disso, é necessário que estes isolantes 3. Não ocorrer perfurações nas paredes de livre acesso;
possam suportar uma tensão de 1,5 vezes o valor de ensaio 4. Não ocorrer queima dos indicadores verticais;
dielétrico associado à tensão nominal de isolamento (Ui) do 5. Manutenção da eficiência do circuito de proteção
conjunto, quando aplicada diretamente sobre a superfície (aterramento) das partes acessíveis.
do isolante em relação ao condutor associado coberto. [2] Proteção de pessoas e do CMCP (Classe B). Além
No caso de uso de coberturas isolantes sobre os dos cinco critérios para proteção de pessoas, deve ser
barramentos condutores, é crítico lembrar que a adição atendido, também:
de materiais isolantes sobre as barras pode, dependendo 1. Existir o confinamento do arco na “área definida” pelo
do tipo de material e da sua aplicação, vir a afetar a sua fabricante, associada ao compartimento a ser ensaiado.
capacidade de condução de corrente. Logo, é importante [2] Proteção de pessoas e do CMCP, com possibilidade
que o usuário defina exatamente quais os requisitos de de operação limitada posterior (Classe C). Além dos
desempenho esperados quando da especificação de barras seis critérios listados anteriormente, deve ser atendida,
isoladas para uso em conjuntos de manobra e controle. também, a seguinte condição:
Cabe ao fabricante demonstrar que o uso destes materiais 7. Permitir a operação de emergência do CMCP onde
isolantes está em conformidade com as normas IEC 61439-1 não ocorreu o arco. Após a interrupção da falta e
e IEC 61439-2. isolamento ou desmontagem das unidades funcionais da
A classificação, segundo a IEC TR 61641, de um CMCP área atingida, conforme definição do fabricante, deve
de BT, quanto ao evento de um arco interno, é: ser possível o uso do restante do conjunto, desde que
o menor grau de proteção seja IPXXB e que o CMCP
1. Classe de arco A: o conjunto provê proteção só de pessoas suporte um ensaio de tensão aplicada igual a 1,5x a sua
por meio de zonas ensaiadas que atendam aos critérios 1 a tensão operacional (Ue) por 1 minuto.
5 e/ou uso de zonas protegidas de ignição;
2. Classe de arco B: o conjunto provê proteção de pessoas Assim, um CMCP de BT, analisado a partir da perspectiva
e do CMCP por meio de zonas ensaiadas que atendam aos da ocorrência de um arco interno, segundo a IEC TR 61641,
critérios 1 a 6 e/ou uso de zonas protegidas de ignição; pode ser enquadrado em quatro classes; aplicando-se
3. Classe de arco C: o conjunto provê proteção de pessoas zonas consideradas como, segundo as suas características,
e do CMCP, além de permitir a operação limitada dele, ensaiadas para a condição de arco ou livres de ignição.
após a falha, por meio de zonas ensaiadas que atendam às
condições 1 a 7 e/ou uso de zonas protegidas de ignição; Conclusões
4. Classe de arco I: o conjunto provê o risco reduzido de Não é obrigatório o uso de conjuntos de manobra e
ocorrência de falhas por meio, somente, do uso de zonas controle de potência em média ou baixa tensão que possuam
protegidas contra a ignição de arco. características de desempenho diante do fenômeno de
arco interno. Porém, apesar de muito remota, a chance de
Os critérios para atender aos requisitos para cada uma ocorrer tal falha pode existir. Assim, deve existir, por parte
das três primeiras situações mencionadas acima são: do usuário, uma avaliação dos riscos presentes para decidir,
Apoio
33

então, se precisa ou não requerer este tipo de equipamento. • IEC 61439-1: Low-voltage switchgear and controlgear
A análise deve seguir as orientações presentes na literatura assemblies – Part 1: General rules; Edition 2.0. International
técnica disponível, como os mencionados nas referências Electrotechnical Commission, 2011.
bibliográficas. • IEC 61439-2: Low-voltage switchgear and controlgear
Como a maioria dos conjuntos preparados para condição assemblies – Part 2: Power switchgear and controlgear
de arco interno, com poucas exceções, não levam em conta assemblies; Edition 2.0. International Electrotechnical
atividades de intervenção e manutenção por parte dos Commission, 2011.
usuários, é preciso, sempre, complementar os requisitos de • IEEE Std C37.20.7: IEEE Guide for Testing Metal-Enclosed
segurança, a fim de garantir a integridade do ser humano. Switchgear Rated Up to 38 kV for Internal Arcing Faults.
Uma forma simples, mas que aumenta muito a segurança Institute of Electrical and Electronic Engineers; 2007.
nestes casos, é a instalação, sempre que possível, do • IEC TR 61641: Enclosed low-voltage switchgear and
CMCP em lugares com acesso restrito a pessoal habilitado controlgear assemblies – Guide for testing under conditions
ou qualificado. Esta abordagem simples, evitando a of arcing due to internal fault; Edition 3.0. International
possibilidade de manuseio de equipamentos por pessoas Electrotechnical Commission, 2014.
comuns, minimiza os riscos de operações incorretas ou • IEC 62271-4: High-voltage switchgear and controlgear –
indevidas. Part 4: Handling procedures for sulphur hexafluoride (SF¨)
E, finalmente, ter em mente a importância de seguir as and its mixtures; Edition 1.0. International Electrotechnical
diretrizes de projeto, instalação, operação e manutenção Commission, 2013.
definidas para estes equipamentos pelas normas técnicas • IEC 60529: Degrees of protection provided by enclosures
aplicáveis, instruções dos fabricantes, programas de (IP Code); Edition 2.2. International Electrotechnical
segurança e literatura técnica aplicável. Commission, 2013.

Referências
*Luiz Felipe Costa é especialista sênior da Eaton.
• IEC 62271-200: High-voltage switchgear and controlgear É formado em engenharia elétrica pela Escola de
Engenharia da UFRJ e pós-graduado em Proteção de
– Part 200: AC metal-enclosed switchgear and controlgear
Sistemas Elétricos pela Universidade Federal de
for rated voltages above 1 kV and up to and including 52 Itajubá.

kV; Edition 2.0. International Electrotechnical Commission,


2011.
Apoio
62
Aterramento do neutro

Novo!
Capítulo I

Escolha do tipo de resistor


de aterramento do neutro em
sistemas elétricos industriais

A aplicação de resistores de aterramento do As dificuldades de identificação do local do


neutro em sistemas industriais, tanto de média curto – associadas à probabilidade de ocorrerem
quanto de baixa tensão, é uma prática bastante sobretensões transitórias nos sistemas com neutro
disseminada no Brasil, nos Estados Unidos, no isolado flutuante – e a incidência de arco elétrico
Canadá, assim como em muitos outros países e altas correntes de curto-circuito fase-terra nos
do mundo. sistemas com neutro solidamente aterrado justificam
A larga aplicação dos resistores encontra a grande aplicação, nos dias atuais, dos sistemas
justificativas no fato de que mais de 85% dos elétricos industriais com neutro aterrado por meio
curtos-circuitos nos sistemas industriais ocorrem de resistores, tanto em baixa tensão quanto em
de fase para terra, e grandes partes dos curtos entre média tensão.
fases resultam da evolução de um primeiro curto Neste artigo trataremos dos aspectos conceituais
à terra, onde existe a formação de arco elétrico. A mais importantes relativos à escolha do tipo de
evolução decorre da ionização do ar no entorno resistor para aterramento do neutro nos sistemas
do arco, o que propicia as condições de sua elétricos industriais. Servirá de alicerce para outros
evolução para curto entre fases. O fenômeno é cinco artigos que se seguirão, abordando este
especialmente notório em sistemas com o neutro importante tema.
solidamente aterrado.
Outra razão importante para aplicação dos Tipos de resistores para
resistores no aterramento do neutro consiste na sua aterramento do neutro
habilidade de controlar sobretensões transitórias Existem basicamente dois tipos de resistores
factíveis de ocorrerem em sistemas com neutro para aterramento do neutro, a saber: resistores de
isolado flutuante, isto é, neutro sem conexão alto valor ôhmico e resistor de baixo valor ôhmico.
à terra. Nestes sistemas, a corrente de falta à Os resistores de alto valor ôhmico são aqueles que
terra é em geral de pequeno valor e de natureza limitam a corrente de falta à terra a valores baixos,
essencialmente capacitiva. menores que 10 A, e para cuja aplicação não é
Apoio
63

necessário o desligamento do sistema durante a primeira falta à terra, comportamento do sistema se aproxima de sistema
devido ao baixo valor de corrente e à inexistência de probabilidade com neutro isolado e, portanto, pode ser submetido a
de evolução da falta à terra para faltas entre fases (ausência de arco sobretensões transitórias, características destes sistemas, que
elétrico). Somente é possível aplicar esta tecnologia em sistemas de ocasionam em geral o rompimento da isolação de motores,
baixa tensão (tensões menores ou iguais a 1.000 V). transformadores, cabos e outros componentes.
Em princípio, os resistores de baixo valor ôhmico são b) Quanto menor o valor do resistor de aterramento
resistores que limitam a corrente a valores maiores que 10 e, consequentemente, maior a corrente limitada, o
A, sendo que, para sua aplicação, é necessário desligar o comportamento do sistema se aproxima do sistema
sistema durante a falta à terra, devido aos danos que a corrente solidamente aterrado e, portanto, pode ser submetido a
ocasiona e à probabilidade do curto evoluir para curto entre arcos elétricos e destruição de componentes associados aos
fases (presença de arco elétrico). A aplicação típica destes sistemas com neutro solidamente aterrado.
resistores é nos sistemas de média tensão (tensões maiores que c) O primeiro critério de dimensionamento de qualquer
1 kV e menores ou iguais a 69 kV). resistor para aterramento do neutro é, portanto, o de eliminar
sobretensões transitórias, que é, na realidade, a condição de
Princípios que orientam a especificação dos sobrevivência do sistema elétrico durante faltas à terra.
resistores de aterramento do neutro d) O critério de eliminar sobretensões transitórias, já provado
A especificação dos resistores apropriados para aterramento em milhares de aplicações, consiste em dimensionar o resistor
do neutro passa pela compreensão dos seguintes aspectos: no neutro de forma que, durante a falta à terra, seja criada neste
resistor uma corrente maior ou igual à corrente capacitiva
a) Quanto maior o valor ôhmico do resistor e, do sistema. A corrente capacitiva pode ser entendida como
consequentemente, menor a corrente limitada, o a corrente que circula nas capacitâncias do sistema durante
Apoio
64

uma falta à terra com o neutro isolado flutuante. A Figura A tarefa de substituir ou embaralhar o pacote magnético é
Aterramento do neutro

1 a seguir mostra as duas correntes referidas. Na figura, RN trabalhosa, demorada e de alto custo, devendo ser evitada.
é a resistência do neutro, XCO é a reatância capacitiva de Ao mesmo tempo, a corrente de falta à terra não deve manter
sequência zero de cada fase do sistema para terra, 3ICO é a arco elétrico no seu ponto de ocorrência, o que levaria à
corrente capacitiva, IR é a corrente no resistor, IF é a corrente destruição de componentes ou de equipamentos e à possível
total de falta à terra, sendo a soma vetorial de IR e 3ICO. ELN é evolução do curto fase-terra para curto entre fases. A presença
a tensão fase-neutro do sistema, devendo ser observado que do arco elétrico, mesmo de pequena intensidade, nas
a corrente no resistor está em fase com a mesma e a corrente ranhuras é o que provoca a destruição da chapa magnética,
capacitiva está noventa graus adiantada. e a sua presença em conjuntos de manobra oferece riscos
Se o valor de RN foi dimensionado de tal forma que os severos para pessoas e equipamentos.
módulos de IR e de 3ICO sejam iguais, então a corrente total Com os conhecimentos atuais, podemos afirmar que,
no ponto de falta será igual a IF = . em baixa tensão (tensões menores ou iguais a 1.000 V), o
e) Outro conceito importante para aplicação de resistores valor 10 A é o valor que atende aos quesitos anteriormente
no neutro está associado ao entendimento do valor máximo estabelecidos, isto é, evita todos os inconvenientes apontados.
de corrente que pode circular durante uma falta à terra sem Em média tensão (tensões maiores que 1 kV e menores ou
que seja necessário desligar o sistema. Esta corrente não iguais a 69 kV), os limites de corrente para não se manter o
deve ocasionar danos nas chapas magnéticas dos motores, arco são menores que 10 A. Por exemplo, para as tensões de
geradores e transformadores, que são partes essenciais 2.400 V, 4.160 V e 13.800 V, os valores de corrente para não
destes equipamentos. Danos em chapas magnéticas obrigam se manter o arco são os indicados na Tabela 1. Observa-se
em geral à substituição de parte do pacote magnético ou ao que quando se aplica resistor no neutro, estes valores
seu baralhamento para que seja reduzida a possibilidade de correspondem ao valor da corrente final no ponto de falta
existência de pontos quentes no funcionamento pós-reparo. (valor de IF na Figura 1).
Reduzindo-se a tensão entre fases do sistema de média
tensão, as distâncias de isolamento, principalmente em
quadros de manobra, são também reduzidas, e o arco se
mantém para correntes também menores. Até 13.800 V, a
corrente fase-terra com arco é mantida para valores inferiores
a 10 A, o que significa que este valor não pode ser utilizado
como referência para não se desligar o sistema durante uma
fase-terra em sistemas de média tensão. A “regra dos 10 A”
não se aplica a sistemas de média tensão com tensão entre
fases até 13.800 V. Para sistemas industriais com tensões
entre fases maiores que 13.800 V, onde ainda são construídos
conjuntos de manobra (24.000 V, 36.000 V, por exemplo), não
existem ainda estudos práticos que permitam definir quais são
os limites de corrente para o arco ser mantido.

Tabela 1 – Valores da tensão e da corrente para não manter o arco

Valor da tensão entre Valor máximo da corrente fase-


fases (média tensão) terra para não se manter o arco

2.400 V 1,8 A
4160 V 4,6 A
13.800 V 7,4 A

f) Outro fator importante para dimensionamento do resistor


é o conhecimento das correntes capacitivas do sistema que
Figura 1 – Corrente capacitiva e no resistor. definem o menor valor de corrente que pode circular no
Apoio
66

resistor para controle das sobretensões transitórias. A Tabela corrente em 3 A seria suficiente. Não é necessário especificar
Aterramento do neutro

2 mostra a ordem de grandeza destas correntes. derivações (tapes) para tal resistor; isto encareceria a sua
construção desnecessariamente. Para uma planta industrial
Como comentário dos valores da Tabela 2, observa-se que, alimentada em 440 V, podemos padronizar todos os
em baixa tensão, os cabos isolados não possuem blindagem resistores de aterramento do neutro limitando a corrente
e as suas capacitâncias são baixas, levando a altas reatâncias em 3 A, sem utilizar derivações nos mesmos, reduzindo
capacitivas e baixas correntes capacitivas do sistema. Já na média significativamente os custos do fornecimento.
tensão, os cabos são blindados, possuem alta capacitância, baixa • No entanto, para os sistemas de média tensão, a corrente
reatância capacitiva e alta corrente capacitiva. A partir de 6.900 V, capacitiva é maior e o arco se mantém para correntes baixas,
as correntes capacitivas variam muito com os comprimentos e com alta probabilidade de evolução para curtos entre fases.
montantes dos cabos isolados, que, por sua vez, variam com a Neste caso, é necessária a aplicação de resistores de baixo
potência do sistema. Dessa forma, não é possível estabelecer valor ôhmico, limitando a corrente em valores superiores a
valores típicos da corrente capacitiva para sistemas de média 10 A, e não é possível manter a operação do sistema durante
tensão a partir de 6.900 V, devendo ser avaliada caso a caso. uma falta à terra, sendo obrigatório o desligamento.
Na maioria dos sistemas industriais de média tensão de porte • A aplicação de resistores de alto valor ôhmico somente é
elevado, as correntes capacitivas superam o valor de 10 A. possível para sistemas de média tensão, em que a corrente
Quanto à corrente capacitiva adicional devida a conjuntos capacitiva é muito pequena, permitindo aplicar um resistor,
de proteção de surto, observa-se que se trata dos conjuntos no qual circule uma corrente que, somada vetorialmente
que são utilizados para proteção de transitórios rápidos em com a corrente capacitiva, seja menor que os valores
máquinas rotativas (grandes motores de indução ou síncronos e indicados na Tabela 1.
geradores), sendo que existe uma aplicação mais recente para • Em sistemas de média tensão, uma vez definida a aplicação
proteção de transformadores secos. de resistores de baixo valor ôhmico e, consequentemente,
desligar o sistema durante uma falta à terra, a corrente
g) Se combinarmos os critérios de eliminação da sobretensão escolhida para limitação, além de atender ao critério de ser
transitória com o de destruição das chapas magnéticas/ superior à corrente capacitiva, deve atender ainda a outro
manutenção do arco, podemos afirmar, diante dos dados critério que é o de fornecer corrente suficiente para operação
anteriores, que: segura da proteção de falta à terra.
• Nos sistemas de baixa tensão, a corrente capacitiva é de • Até a entrada em operação dos relés digitais modernos, há mais
baixo valor inferior a 10 A, exigindo um resistor que limite a de uma década, utilizavam-se relés de proteção eletromecânicos
corrente também a valores baixos para eliminar sobretensões para proteção de falta à terra. Estes relés possuíam alto consumo,
transitórias. Além disso, nestes sistemas, o arco não se não sendo possível utilizar transformadores de corrente toroidais
mantém para correntes inferiores a 10 A. Podemos, portanto, de baixa relação de transformação para sua alimentação. A
aplicar resistores de alto valor ôhmico, não sendo necessário solução era aumentar a corrente de falta à terra, o que possibilitava
desligar o sistema na ocorrência da primeira falta à terra. também aumentar a relação dos TCs toroidais, aumentando sua
Por exemplo, para um transformador trifásico de 440 V, com relação e, por conseguinte, sua potência.
5 MVA de potência nominal (já no extremo de potência para • Até esta época, os valores de limitação eram bastante
aplicação de 440 V), a corrente capacitiva possui valor em elevados, sendo padrão os valores de 400 A, 600 A, 800 A,
torno de 2,5 A. Um resistor de alto valor ôhmico que limite a 1.000 A e maiores.

Tabela 2 – Ordem de grandeza das correntes


Tensão entre fases do sistema Corrente capacitiva por 1.000 kVA Corrente capacitiva adicional por conjunto
de potência instalada de capacitor de surto típico utilizado

600 V 0,5 A 0,40 A (1 μF/ fase)


2.400 V 0,7 A 0,78 A (0.5μF/ fase)
4.160 V 1,0 A 1,35 A (0.5μF/ fase)
6.900 V Não é possível fixar 2,25 A (0.5μF/ fase)
13.800 V Não é possível fixar 2,25 A (0.25 μF/ fase)
Apoio
67

• Atualmente, a situação se modificou, os relés digitais sistemas com resistor de baixo valor ôhmico. Como a rapidez
possuem baixíssimo consumo, permitindo utilizar TCs da evolução depende do valor da corrente de arco, limitar
toroidais de baixa relação, com baixa potência. Com o curto em valores mais baixos auxilia significativamente
esta solução, pode-se utilizar atualmente níveis de no processo de evitar a referida evolução. Se o valor da
limitação reduzidos, desde que atendam aos quesitos de corrente de limitação for elevado e a evolução ocorrer, por
dimensionamento estipulados anteriormente. Os valores exemplo, dentro de um quadro de manobras, mesmo com o
mais utilizados na atualidade são: 25 A, geralmente, aplicado desligamento rápido podem ocorrer paralisações necessárias
em sistemas de mineração e para sistemas industriais os para limpeza dos isoladores e alguns reparos.
valores de 50 A, 100 A, 150 A, 200 A e 300 A.
• Ao substituir um resistor de 400 A por outro de 50 A, com Avaliação da corrente capacitiva
atendimento dos critérios de dimensionamento, a corrente A aplicação de resistores no neutro dos sistemas industriais
de falta à terra é reduzida oito vezes e os efeitos térmicos depende fundamentalmente da avaliação da corrente capacitiva
e dinâmicos que variam com o quadrado da corrente são do sistema, como foi tratado anteriormente. Dependendo se o
reduzidos 64 vezes. sistema é existente ou está em fase projeto, pode-se avaliar a
• Com a utilização de recursos modernos, como o emprego corrente capacitiva das seguintes formas:
de relés digitais que permitem utilizar a seletividade 1) Dispondo-se do projeto detalhado do sistema
lógica, e ainda com a aplicação de relés de sobrecorrente elétrico, com as seções e comprimentos dos cabos de todos
associados a relés/sistemas de detecção de arco, recursos alimentadores, potências dos motores, transformadores,
estes que permitem reduzir significativamente o tempo de geradores e capacitores de surto (se existentes), pode-se
desligamento do sistema durante faltas à terra, é possível proceder ao cálculo da corrente capacitiva.
evitar a evolução da falta à terra para faltas entres fases, em 2) Em sistemas elétricos existentes, em que não se dispõe
Apoio
68
Aterramento do neutro

Figura 2 – Teste direto para medição da corrente capacitiva.

do projeto detalhado, pode-se proceder ao teste direto para baixo valor ôhmico. Uma vez definido o tipo de resistor é necessário
medição da corrente capacitiva (ver referência [4]). Para especificá-lo para aquisição. Os critérios de especificação de ambos
segurança, o sistema elétrico deve ser desligado para montagem os tipos serão fornecidos nos próximos artigos.
de uma fonte auxiliar que permite artificialmente deslocar o
neutro e, dessa forma, provocar a circulação de uma corrente Referências
de sequência zero por meio das capacitâncias do sistema. A [1] BEEMAN, D. “Industrial Power System Handbook-First
Figura 2, diretamente extraída da referência anterior, mostra Edition”, McGraw-Hill, 1955.
o esquema proposto que, se for utilizado na prática, deve ser [2] COSTA, P. F. “Redução dos riscos proporcionados pelos arcos

atualizado em termos de proteção e tecnologia. elétricos”, Eletricidade Moderna, dez. 2009.


[3] BAKER, D. S. “Charging Current Data for Guesswork-Free
A partir do teste, a corrente capacitiva do sistema pode ser
Design of High-Resistance Grounded Systems”. IEEE Transactions
avaliada através da expressão seguinte (equação 1), em que IC
onIndustry Applications, v. IA-I 5, n. 2, mar./abr. 1979.
é a corrente capacitiva do sistema a ser avaliada em Ampères,
[4] JR, B. B. “High-Resistance Grounding”, IEEE Transactions on
VFF é a tensão entre fases do sistema em Volts, Ia é a corrente
Industry Applications, v. IA-19, n. 1, jan./fev. 1983.
que foi medida em Ampères, e V é a tensão aplicada no teste
[5] Catálogos Técnicos: Limitador de Corrente de Falta à Terra
em Volts para fazer Ia circular. com Alta Tecnologia via Resistores de Alto Valor Ôhmico em
BT – Sistema Limiter Geração MC3 e Limitador de Corrente de
(Equação 1) Falta à Terra Tradicional via Resistores de Alto Valor Ôhmico
em BT. Sistema Limiter Geração MC4. Disponível em: <www.
3) Os equipamentos atuais de aterramento do neutro, seniorequipamentos.com.br>.
principalmente os resistores de alto valor ôhmico modernos,
devem possuir este recurso de avaliação da corrente capacitiva
disponível no mesmo, que pode ser utilizado a qualquer
momento, até pelo sistema supervisório e com o sistema em
operação normal.

Conclusão
O artigo tratou dos aspectos conceituais mais importantes que
dizem respeito à escolha do tipo de resistor a ser aplicado no neutro
dos sistemas elétricos industriais. Foi mostrado que em sistemas de
baixa tensão aplica-se resistor de alto valor ôhmico, enquanto, na
maioria dos sistemas de média tensão, deve ser aplicado resistor de
Apoio
60
Aterramento do neutro

Capítulo II

Avanços na especificação e
aplicação dos resistores de
aterramento do neutro dos
sistemas elétricos industriais
em média tensão

O capítulo anterior tratou dos aspectos • Em sistemas de média tensão, uma vez definida
conceituais mais importantes que dizem respeito a aplicação de resistores de baixo valor ôhmico e,
à escolha do tipo de resistor para a aplicação em consequentemente, desligado o sistema durante
questão. Foi mostrado que em sistemas elétricos uma falta à terra, a corrente escolhida para limitação,
industriais de baixa tensão aplica-se resistor de além de atender ao critério de ser igual ou superior
alto valor ôhmico, que não exige o desligamento à corrente capacitiva, deve atender ainda a outro
imediato do sistema na ocorrência de uma falta à critério: o de fornecer corrente suficiente para
terra, enquanto na maioria dos sistemas de média operação segura da proteção de falta à terra.
tensão deve ser aplicado resistor de baixo valor • Até a entrada em operação dos relés digitais
ôhmico, que, ao contrário, exige o desligamento modernos, uma década atrás, utilizavam-se relés
imediato do sistema na ocorrência da falta à terra. de proteção eletromecânicos para proteção
Neste segundo artigo, serão discutidos os critérios de de falta à terra. Estes relés possuíam alto
especificação dos resistores para sistemas elétricos consumo, notadamente quando ajustados em
industriais de média tensão, isto é, os resistores de baixas correntes, não sendo possível utilizar
baixo valor ôhmico. transformadores de corrente toroidais de baixa
relação de transformação para sua alimentação. A
Avanços na aplicação de resistores de solução era aumentar a corrente de falta à terra, o
baixo valor ôhmico que possibilitava também aumentar a relação dos
Por muitas décadas os resistores de baixo TCs toroidais e, por conseguinte, sua potência.
valor ôhmico têm sido aplicados em sistemas de • Até esta época, os valores de limitação eram
média tensão e algumas modificações importantes bastante elevados, sendo padrão os valores de 400
na sua aplicação ocorreram bem recentemente, A, 600 A, 800 A, 1.000 A e maiores.
um pouco mais de uma década. As modificações • Atualmente, a situação se modificou, os relés
mais importantes referentes à aplicação podem ser digitais possuem baixíssimo consumo, permitindo
descritas da seguinte forma: utilizar TCs toroidais de baixa relação, com baixa
Apoio
61

potência. Com esta solução pode-se utilizar atualmente níveis por exemplo, dentro de um quadro de manobra, mesmo com
de limitação reduzidos, desde que atendam aos quesitos de o desligamento rápido, podem ocorrer paralizações necessárias
dimensionamento estipulados anteriormente. Os valores mais para limpeza dos isoladores e alguns reparos.
utilizados na atualidade são: 25 A, geralmente aplicado em • Outro aspecto importante da aplicação dos resistores de baixo
sistemas de mineração e, para sistemas industriais, os valores valor ôhmico na atualidade diz respeito ao reconhecimento da
de 50 A, 100 A, 150 A, 200 A e 300 A. absoluta necessidade de supervisionar continuamente a integridade
• Ao substituir um resistor de 400 A por outro de 50 A, com do circuito neutro-resistor-terra, uma vez que, se este circuito for
atendimento aos critérios de dimensionamento, a corrente de falta interrompido e ocorrer uma falta à terra, muitos equipamentos
à terra é reduzida oito vezes e os efeitos térmicos e dinâmicos, que podem ser danificados por sobretensões transitórias. Existem vários
variam com o quadrado da corrente, são reduzidos em 64 vezes. casos reais e recentes destas ocorrências, envolvendo queima de
• Com a utilização de recursos modernos, como o emprego de transformadores e motores em sistemas de média tensão.
relés digitais que permitem utilizar a seletividade lógica, e ainda
com a aplicação de relés de sobrecorrente associados a relés A Figura 1 ilustra as possibilidades de ruptura do circuito
e sistemas de detecção de arco, recursos estes que permitem neutro-resistor-terra. A ênfase em supervisionar continuamente
reduzir significativamente o tempo de desligamento do sistema o circuito deve ser explicada, uma vez que existem circuitos
durante faltas à terra, é possível evitar a evolução da falta à terra utilizando relés de sobrecorrente e sobretensão associados a
para faltas entre fases em sistemas com resistor de baixo valor TCs e TPs, que realizam a supervisão somente no momento da
ôhmico. Como a rapidez da evolução depende do valor da ocorrência da falta à terra, o que não é aceitável. De fato, se
corrente de arco, limitar o curto em valores mais baixos auxilia houver uma ruptura do circuito neutro-resistor-terra antes da
significativamente no processo de evitar a referida evolução. Se ocorrência da falta à terra, situação esta que não é detectada
o valor da corrente de limitação for elevado e a evolução ocorrer, pelo sistema de proteção/supervisão descrito, o sistema elétrico
Apoio
62

poderá ser submetido a sobretensões transitórias no momento orientações do artigo anterior.


Aterramento do neutro

da falta à terra, antes do desligamento pelas proteções. • Acrescentar ao valor estimado cerca de 20% a 30% para
atender a eventual crescimento futuro do sistema.
• Utilizar o valor padronizado mais próximo do valor
estimado (valores como 25 A, 50 A, 100 A, 150 A, 200 A,
300 A, 400 A). Observar que, ao optar pela padronização, o
valor padronizado pode atender ao percentual de crescimento
desejado para o sistema, não sendo necessário acrescentar os
percentuais sugeridos no item anterior.
• Evitar especificar derivações nos resistores, o que os encarece
desnecessariamente. É preferível substituir o resistor no futuro,
se houver acréscimo muito grande da corrente capacitiva do
Figura 1 – Algumas possibilidades de interrupção do circuito neutro- sistema, o que raramente acontece.
resistor-terra.
• Definir o tipo de resistor, o material de sua fabricação e a
A supervisão contínua deve ser executada utilizando sua temperatura de trabalho de acordo com o tempo ou
circuito digital apropriado que faça a circulação permanente regime de carga a que será submetido. A IEEE Std 32, que é
de uma corrente por meio do circuito neutro-resistor-terra e praticamente a única norma estruturada que contém capítulo
não somente pelo resistor. O circuito de supervisão pode ser que rege o fornecimento de resistores para aterramento do
adaptado em resistores existentes como forma de “retrofit”. A neutro, estabelece as informações contidas na Tabela 1. Deve
Figura 2 traz ilustrações de resistores danificados. ser observado que o material para confecção de resistores, cujo
As causas da ruptura do circuito neutro-resistor-terra são regime de operação não é contínuo, é definido na norma como
diversas, como sobretensões transitórias (descargas atmosféricas, sendo o aço inox. Para resistores de uso contínuo, a referida
chaveamentos), sobrecargas além do tempo suportável, vibrações norma não estabelece o tipo de material que deve ser aplicado.
no transporte e na operação normal, vida útil vencida, corrosão, Para resistores de alto valor ôhmico, pode-se, em tese, aplicar a
defeitos de fabricação, defeitos de montagem e outros. classificação de tempo estendido (extendend-time rating), que
significa que o resistor pode ser submetido a tempo de carga
Especificação dos resistores de baixo superior a 10 minutos, com a restrição de que o número de
valor ôhmico vezes que isto acontece não seja superior a 90 dias no ano.
Na especificação dos resistores de baixo valor ôhmico para No entanto, devido a questões de segurança (temperatura do
aterramento do neutro de sistemas de média tensão, devem ser invólucro, que pode ser tocado inadvertidamente com o resistor
observados no mínimo os seguintes aspectos: em carga), é preferível utilizar regime contínuo que fornece
• Estimar o valor da corrente capacitiva do sistema em que temperaturas bem menores para os elementos resistivos e,
será aplicado o resistor, por medição ou por cálculo, conforme consequentemente, para os invólucros.

Figura 2 – Exemplos reais de resistores interrompidos.


Apoio
64

Tabela 1 – Informações sobre resistores para aterramento do neutro nível de tensão de aplicação do resistor. Em geral, esta capacidade é
Aterramento do neutro

Temperatura final de, no mínimo, 10% da capacidade de curta duração do resistor para
permitida nos
Regime de elementos resistivos, resistores construídos com apenas uma camada de elementos, sendo
Observação
funcionamento considerando 8% para construções com mais de uma camada.
temperatura ambiente
inicial de 30 0C
Curto tempo 1 minuto 760 0C Material: aço inox
Conclusão
Curto tempo 10 segundos 760 0C Material: aço inox Este artigo abordou as principais modificações que devem
Regime estendido (extended time rating) 610 0C Material: aço inox ser introduzidas na especificação dos resistores de aterramento
Contínuo 385 0C Material: não definido do neutro em sistemas de média tensão, principalmente devido
à introdução nestes sistemas de relés digitais, inversores de
• A chapa estrutural do invólucro metálico dos resistores não
frequência, e também do aumento de conhecimento dos fenômenos
deve ser inferior a 12 USG (2,78 mm), enquanto a chapa de
transitórios que podem ocorrer durante uma falta à terra. A
fechamento não deve ser inferior a 14 USG (1,98 mm). Observa-se
redução do valor de limitação e a constatação da obrigatoriedade
que a fragilidade dos invólucros dos resistores constitui uma das
da supervisão correta e permanente da integridade do circuito
principais causas de rompimento dos elementos resistivos, bem
neutro-resistor-terra são dignos de destaque. Deve ser destacado
como de alguns outros danos sofridos por eles.
também que os resistores devem ser inerentemente robustos, não
• Para os resistores de média tensão de baixo valor ôhmico, deve
sendo aceitável uma especificação que permita um fornecimento
ser solicitado o teste de tensão aplicada, bem como devem ser
de conjuntos mecanicamente e eletricamente frágeis. O custo dos
mantidas as distâncias entre qualquer parte energizada do resistor
resistores quando comparado ao dos equipamentos principais do
e o invólucro metálico de acordo com o estabelecido na tabela
sistema elétrico é irrisório e sua falha pode resultar em falhas destes
21 da norma ABNT NBR 14039, cujos valores são reproduzidos
equipamentos principais, tendo como consequência a paralisação
na Tabela 2. Observe que para resistores não se aplica o teste
da produção e perdas associadas.
de impulso atmosférico (Tensão Suportável de Impulso, TSI). Os
valores de TSI que os equipamentos de média tensão devem
Referências
suportar estão também presentes na mesma tabela da norma em
• COSTA, P. F. “Redução dos riscos proporcionados pelos arcos
questão, mas se aplicam a outros equipamentos não resistores para elétricos”. Eletricidade Moderna, dez. 2009.
aterramento do neutro, e por isso foram suprimidos da Tabela 2. • SELKIRK, D.; SAVOSTIANIK, M.; CRAWFORD, K. “Why neutral:
grounding resistor need continuous monitoring”. IEEE Petroleum
Tabela 2 – Distâncias mínimas x tensão nominal da instalação
and Chemical industry Conference, 2008.
Tensão nominal da Tensão de ensaio à Distância mínima • Catálogo Técnico: Resistor de aterramento em média tensão
instalação (kV) frequência industrial (kV) fase terra (mm) com supervisão de continuidade “on-line” modelo RAM-SC2.
3 10 60 Disponível em: <www.seniorequipamentos.com.br>.
4,16 19 60 • Catálogo Técnico: “Upgrade” para monitorar a continuidade do
6 20 90 circuito neutro-terra em resistores de aterramento em média tensão
13,8 34 160
existentes. Disponível em: <www.seniorequipamentos.com.br>.
• SELKIRK, D.; SAVOSTIANIK, M.; CRAWFORD, K. “The dangers
23,1 50 160
of grounding resistor failures”. IEEE Industry Application Magazine,
34,5 70 270
Sep./Oct. 2010.
• ANSI/IEEE Std 32-1972 (Reaffirmed 1990), Neutral Grounding
• Deve ser informado na especificação o tipo de invólucro a ser
Devices “IEEE Std Requirements, Terminology, and Test procedures
fornecido, que deve ser apropriado para as condições do ambiente for Neutral Grounding Devices”.
de instalação (grau IP). Observe que o grau de proteção IP 54
atende à exigência de impedimento de entrada de pós e de água
(projeção), sendo adequado para uso ao tempo. Para ambientes
abrigados sem presença de pós, é suficiente utilizar o grau IP 23.
• Para resistores especificados para regime de curto tempo, deve
ser solicitado que o fabricante forneça a capacidade de corrente
em regime contínuo, para eventualmente acomodar correntes
harmônicas presentes principalmente em aplicações nas quais existem
acionamentos com velocidade variável (inversores de frequência) no
Apoio
56
Aterramento do neutro

Capítulo III

Avanços na especificação e
aplicação dos resistores de
aterramento do neutro dos sistemas
elétricos industriais em baixa tensão

Este é o terceiro artigo, de uma série de seis, que 10 A, e o sistema não é desligado imediatamente,
sobre aterramento do neutro em sistemas elétricos permanecendo com o curto fase terra durante
industriais. O primeiro artigo tratou dos aspectos um período suficiente (recomendado máximo
conceituais mais importantes que dizem respeito de 12 horas) para sua identificação e tomada de
à escolha do tipo de resistor para a aplicação em medidas auxiliares que reduzem o tempo de parada
questão. Foi mostrado que em sistemas elétricos para substituição do equipamento defeituoso. A
industriais de baixa tensão aplica-se resistor de aplicação é recomendada para sistemas de baixa
alto valor ôhmico, que não exige o desligamento tensão, com aplicação bem restrita em média
imediato do sistema na ocorrência de uma falta à tensão.
terra, enquanto, na maioria dos sistemas de média As vantagens da aplicação deste sistema de
tensão, deve ser aplicado resistor de baixo valor aterramento do neutro podem se resumidas da
ôhmico, que, ao contrário, exige o desligamento seguinte forma.
imediato do sistema na ocorrência da falta à terra.
No segundo artigo foram discutidos os critérios de • As correntes devidas aos curtos fase terra são
especificação dos resistores para sistemas elétricos baixas e não existem danos e estresses no sistema
industriais de média tensão, isto é, os resistores de elétrico.
baixo valor ôhmico. Neste artigo serão discutidos os • As baixas correntes fase terra reduzem
critérios de especificação dos resistores de alto valor significativamente a possibilidade de choque
ôhmico, aplicados em sistemas elétricos de baixa elétrico, principalmente devido às tensões de passo
tensão. e toque.
• Durante curtos fase terra, tanto o arco elétrico
Principais vantagens da aplicação dos como a sua evolução são eliminados, evitando desta
resistores de alto valor ôhmico forma as consequências severas deste fenômeno,
Na aplicação de resistores de alto valor ôhmico, para pessoas e equipamentos.
a corrente fase terra é limitada em valores menores • De forma semelhante, as sobretensões transitórias
Apoio
57

causadas por faltas à terra são eliminadas, preservando a Esta dificuldade foi superada pela introdução do sistema de
isolação dos equipamentos e, consequentemente, aumentando pulso que consiste em, após a ocorrência da falta fase terra e a
sua vida útil. constatação de sua existência pelo sistema de detecção, aumentar
• A continuidade operacional do sistema durante faltas à terra controladamente seu nível por curto espaço de tempo, emitindo
é mantida, evitando-se paralisações onerosas. pulsos que podem ser facilmente detectados por amperímetro
• Como os afundamentos de tensão durante as faltas à terra portátil de pinça de grande diâmetro. A Figura 1 ilustra tal método.
são evitados, devido ao reduzido valor da corrente, limitada
pelo resistor de alto valor ôhmico, existe uma significativa
contribuição para a qualidade de energia do sistema elétrico.

Principais avanços na tecnologia e


especificação dos resistores de alto valor
ôhmico
Para executar as funções descritas anteriormente, a
tecnologia dos resistores de alto valor ôhmico desenvolveu-se
superando várias etapas importantes até atingir o nível atual,
que a situa como uma das mais relevantes dentre todas aquelas
aplicadas nos sistemas elétricos de baixa tensão. As principais
etapas vencidas foram as seguintes:

• Dificuldades de identificar o local da falta à terra (ou Figura 1 – Processo atual de identificação do curto fase-terra utilizando
sistema de pulso e amperímetro alicate (questionado atualmente por
equipamento no qual ocorreu a falta). questões de segurança NR 10).
Apoio
58

• Atualmente são disponíveis sistemas de detecção fixos de • Deve-se informar também aos fornecedores dos inversores
Aterramento do neutro

baixo custo, instalados nos alimentadores, os quais evitam o quanto à aplicação dos resistores de alto valor ôhmico para
risco do contato com os cabos isolados energizados, o que é que adaptem os seus filtros de ruído com conexão à terra para
necessário quando se utiliza o amperímetro de pinça. Evitar o sistemas com neutro isolado.
risco está dentro do propósito da norma brasileira NR 10, que • Ainda com relação à aplicação dos resistores de alto valor
tem sido evocada na situação descrita, e, portanto, favorece a ôhmico em sistemas com inversores de frequência, existe a
aplicação dos sistemas de detecção inteligentes, fixos. A Figura necessidade de identificar se a falta à terra ocorre antes do
2 ilustra tal sistema. inversor (sistema de 60 Hz), na barra Vc.c. do mesmo ou no
lado da carga alimentada por ele (lado de tensão/frequência
variável). Este recurso é altamente significativo para as
equipes de manutenção e deve estar presente nos modernos
equipamentos que abrigam os resistores de alto valor ôhmico.
A Figura 4 ilustra os pontos anteriormente descritos.

Figura 2 – Sistema inteligente de pesquisa on-line do local em que


ocorre uma falta fase-terra limitada por meio de resistores de alto
Figura 4 – Sistema elétrico com inversores – Pontos com probabilidade
valor ôhmico (atende completamente a NR 10).
de ocorrer curto fase-terra.

• Um aspecto importante, moderno, diz respeito à convivência • A verificação da continuidade do circuito neutro – resistor –
entre os resistores de alto valor ôhmico e os acionamentos terra, e não somente do resistor, recomendada para os resistores
de velocidade variável (inversores) que atualmente possuem de baixo valor ôhmico aplicáveis aos sistemas de média tensão,
larga aplicação. Para esta situação, os resistores devem ser possui a mesma importância para os resistores de alto valor
sobredimensionados tendo em vista a circulação de corrente ôhmico, e deve ser incorporada igualmente nestes últimos,
permanente nos mesmos, originada pelo chaveamento dos como mostrado na Figura 5.
dispositivos de controle dos inversores e deve-se efetuar a
previsão de filtros com a finalidade de evitar alarmes falsos e
impedir a necessidade de dessensibilizar o sistema de detecção
com prejuízos para a operação do mesmo. A Figura 3 mostra a
circulação destas correntes.

Figura 5 – Supervisão do circuito neutro-resistor-terra e não somente


do resistor.

• É necessário que os resistores de alto valor ôhmico


Figura 3 – Circulação de corrente permanente pelo resistor de alto valor incorporem o recurso de medição da corrente capacitiva do
ôhmico devido ao chaveamento dos dispositivos eletrônicos do inversor
sistema elétrico, a qualquer momento que se queira, sem que
(a corrente passa pelas capacitâncias dos cabos do motor para a terra e
capacitâncias do próprio motor para a terra). seja necessário desligá-lo. O recurso é desejável tanto para
Apoio
60

aferir se o resistor está bem dimensionado após sua instalação,


Aterramento do neutro

bem como para verificar se continua adequado no caso de se


realizar expansões no sistema elétrico.

Figura 7 – Operação dos relés térmicos em sistemas de baixa tensão que


empregam resistores de alto valor ôhmico.

A Figura 8 mostra o “sistema de confinamento do curto


Figura 6 – Forma de medição em campo da corrente capacitiva não mais fase terra” idealizado pelo autor, em que pode ser notado que,
aplicável a sistemas que empregam resistor de alto valor ôhmico, pois
exige desligamento do sistema. Nos novos equipamentos, a medição ao ocorrer um curto de uma fase terra em um equipamento
está incorporada no próprio resistor, com medição on-line. no campo, por exemplo, em um motor, é provocado
instantaneamente um novo curto fase terra, na mesma fase,
• Um aspecto muito importante, e algumas vezes esquecido
dentro do sistema de limitação. Como este circuito apresenta,
na aplicação de resistores de alto valor ôhmico é relativo à
por construção, impedância bem menor que o circuito
operação dos relés térmicos de pequenos motores trifásicos
de fase terra do curto externo, a corrente fase terra circula
durante curtos fase terra. Esta operação ocorre devido ao
prioritariamente por ele.
acréscimo da corrente criada pelo resistor, corrente esta que
se superpõe à corrente de carga do motor, e que passa pelo
relé térmico da fase sob falta. De fato, na tensão de 460 V se a
corrente é limitada em 3 A motores até 10 HP são desligados,
e se a corrente é limitada em 5 A motores até 15 HP são
desligados.
• Dessa forma, para estes motores, não é possível manter a
continuidade operacional com o emprego da tecnologia em
questão. Se estes motores, geralmente motores auxiliares de
equipamentos importantes (ventiladores de transformadores e
inversores, por exemplo) são desligados, todo o processo pode
ser comprometido. Esta discussão mostra o quão importante é
Figura 8 – Forma operacional do sistema de confinamento.
limitar a corrente em valores mais baixos possíveis. No entanto,
esta situação pode ser contornada por uma técnica denominada • Outra questão que deve ser levada em conta no planejamento
“confinamento do curto fase terra”, desenvolvida pelo autor, de sistemas que empregam resistor de alto valor ôhmico é a
técnica esta que desvia a corrente de falta à terra para dentro do definição das proteções de falta à terra no caso de, existindo
painel do resistor, na ocorrência do curto fase terra. A técnica é uma primeira falta à terra limitada convenientemente, ocorrer
mostrada na Figura 8. uma segunda falta à terra em fase diferente daquela em que
ocorreu a primeira, em outro alimentador. Embora esta situação
A Figura 7 mostra como, se não for utilizada a técnica seja rara de ocorrer ela deve ser considerada, uma vez que a
descrita, o relé térmico de um motor trifásico de 1 hp, 460 V, existência de duplo curto à terra em fases e pontos diferentes do
opera para um curto fase terra em uma das fases, quando o curto sistema caracteriza falta fase-fase pelo sistema de aterramento.
se localiza após o relé térmico. As correntes do motor e do curto Esta situação é mostrada na Figura 9, onde pode ser verificado
fase terra foram adicionadas algebricamente, sem se levar em que, na ocorrência de curtos fase terra simultâneos, em fases
conta o ângulo de defasagem. diferentes, a corrente não é limitada pelo resistor.
Apoio
61

Figura 9 – Duplo curto à terra em fases diferentes.

• A solução para o inconveniente do duplo curto à terra nos disjuntores de baixa tensão dos ramais ou nos
simultâneo, em fases diferentes, consiste na instalação de “disjuntores motores” empregados atualmente em larga
conjuntos de proteção de falta à terra do tipo “ground-sensor”, escala nos ramais de alimentação dos motores de baixa
formados por transformadores de corrente toroidais associados tensão dos sistemas elétricos industriais.
a relés de terra instantâneos, conjuntos estes que devem ser • Deve ser notado que não existe necessidade de prover
posicionados nos diversos alimentadores do sistema elétrico seletividade neste tipo de proteção, pois o duplo curto
onde se aplica o Resistor de Alto Valor Ôhmico. à terra sempre envolverá dois circuitos que devem ser
• As proteções referidas podem também ser incorporadas desligados instantaneamente.
Apoio
62

Resumo dos principais aspectos para


Aterramento do neutro
falta fase terra convenientemente limitada, ocorrer uma
especificação dos resistores de alto valor eventual segunda falta à terra, em fase e alimentador
ôhmico diferentes do primeiro curto, os dois alimentadores sejam
Tendo em vista o item anterior podemos resumir da desligados instantaneamente pelo sistema de proteção fase
seguinte forma os principais aspectos de especificação dos terra especialmente projetado para esta situação.
resistores de alto valor ôhmico avançados:
Conclusão
• O valor do resistor deve ser padronizado no menor valor Neste artigo, que é o terceiro de uma série de seis, foram
que atende aos critérios de dimensionamento estabelecidos apresentadas as mais recentes inovações introduzidas na
para eliminar as sobretensões transitórias e garanta tecnologia dos resistores de alto valor ôhmico, tecnologia
expansão do sistema elétrico. Em geral, o valor de 3 A é esta empregada largamente nos sistemas de baixa tensão.
suficiente para a maioria dos sistemas de baixa tensão (ver Observa-se que as inovações apresentadas já estão ou
capítulo 1 deste fascículo). deverão estar presentes nos melhores fornecedores do
• Devem-se evitar tapes (derivações) nos resistores, a fim de mercado. O autor se sente feliz por divulgar e contribuir
torná-los mais simples e baratos. para o desenvolvimento desta importante tecnologia de
• Deve-se efetuar a pesquisa do local da falta fase terra aterramento do neutro aqui discutida.
através de sistema de pesquisa inteligente “on-line”, em
atendimento à NR 10. O sistema de pesquisa por meio Referências
de pulsos e amperímetro alicate pode ficar como reserva [1] COSTA, P. F. “Capitulo I – Aspectos importantes da
eventual. escolha do tipo de resistor de aterramento do neutro nos
• Os filtros de ruído dos inversores de frequência da planta sistemas elétricos industriais” Revista O Setor Elétrico, jul.
devem ser próprios para aplicação em sistemas com neutro 2014.
isolado. [2] Catálogos Técnicos Limitador de Corrente de Falta à Terra
• O sistema de monitoramento do Resistor de Alto Valor com Alta Tecnologia via Resistores de Alto Valor Ôhmico em
Ôhmico deve apresentar meios de identificação do local BT – Sistema Limiter Geração MC3 e Limitador de Corrente
da falta fase terra nos inversores de frequência (antes do de Falta à Terra Tradicional via Resistores de Alto Valor
inversor, barra V.c.c. ou no lado de carga). Ôhmico em BT Sistema Limiter Geração MC4. Disponível
• O sistema de monitoramento do Resistor de Alto Valor em: <http://www.seniorequipamentos.com.br>.
Ôhmico deve apresentar meios para supervisionar a [3] COSTA, P. F.; BOREL, J. E. V.; NASCIMENTO, M. T. A.
continuidade do circuito neutro – resistor – terra, e não “Inovações tecnológicas no aterramento do neutro através
somente do resistor. de resistores em sistemas elétricos industriais BT e MT”, V
• O sistema de monitoramento do Resistor de Alto Valor IEEE PCIC BR-2014 (26/27-08-2014, RJ).
Ôhmico deve apresentar meios para medição da corrente
capacitiva a qualquer momento que seja desejado sem
necessidade de desligar o sistema elétrico.
• O sistema de monitoramento do Resistor de Alto Valor
Ôhmico deve apresentar meios para evitar o desligamento
dos motores de pequena potencia pela corrente do resistor.
• O resistor de alto valor ôhmico deve ser sobredimensionado
quando existem inversores de frequência nos sistemas de
baixa tensão.
• O sistema elétrico de baixa tensão deve ser planejado de
tal forma que, se durante a permanência de uma primeira
Apoio
60
Aterramento do neutro

Capítulo IV

Aterramento de sistemas elétricos


industriais de média tensão com a
presença de cogeração

Nos três capítulos anteriores, foram discutidos os estabilidade, seja para suprir energia de partida
aspectos da escolha e da especificação dos tipos de (black-start) ou para exportar energia excedente.
resistores para aterramento do neutro nos sistemas Esta peculiaridade das plantas de cogeração
elétricos industriais de baixa e média tensão. provoca interessantes questões no planejamento dos
Foram fornecidas as justificativas técnicas que seus sistemas elétricos, dentre as quais se destaca
levaram à conclusão de que em sistemas de baixa o aterramento do neutro, objeto de tratamento no
tensão aplicam-se resistores de alto valor ôhmico, presente artigo. Observa-se que este artigo é o quarto
conservando-se o sistema operacional durante uma de uma série de seis, abordando o aterramento do
falta à terra, enquanto que na maioria dos sistemas neutro em sistemas elétricos industriais de baixa e
de média tensão é necessário aplicar resistores de média tensão.
baixo valor ôhmico com o desligamento obrigatório
durante a falta à terra. Breve síntese quanto à escolha dos
Em plantas industriais que utilizam vapor no resistores para aterramento do
processo (plantas de produção de papel e celulose, neutro em média tensão
por exemplo) são utilizados geradores de média Os princípios de dimensionamento dos
potência (isto é, menores ou pouco maiores que 100 resistores para aterramento do neutro estabelecidos
MVA), que são diretamente ligados ao sistema de para sistemas de média tensão nos dois primeiros
distribuição em média tensão da planta, geralmente artigos são completamente válidos para sistemas
na tensão de 13,8 kV (mais comum), 6,6 kV ou 4,16 elétricos de cogeração e podem ser resumidos da
kV (geradores de menor porte). seguinte forma:
Embora estes geradores possam em alguns casos
operar em sistema ilhado, ou seja, desconectado • Sistemas elétricos com neutro isolado flutuante,
do sistema elétrico da concessionária local, o isto é, neutro sem conexão à terra, são susceptíveis
mais comum é o trabalho em paralelo, seja para de sofrerem sobretensões transitórias de valor
importar energia complementar, seja para manter elevado durante faltas à terra. A melhor maneira
Apoio
61

de eliminar as referidas sobretensões nos sistemas elétricos toroidais nos alimentadores, forma ideal para proteção quando
industriais consiste em aterrar o neutro através de resistores. se utiliza limitação através de resistores de baixo valor ôhmico.
• Para eliminar sobretensões transitórias durante faltas fase- • Os valores de limitação mais utilizados atualmente são: 50
terra, deve circular pelo resistor uma corrente maior ou igual à A, 100 A, 150 A, 200 A, 300 A, 400 A. Estes valores são bem
corrente capacitiva do sistema elétrico. menores do que os utilizados no passado, sendo possível sua
• A corrente capacitiva dos sistemas de média tensão é aplicação devido ao surgimento dos relés digitais sensíveis e de
significativa, sendo, em geral, maior que 10 A. Portanto, deve baixo consumo.
ser projetado um resistor para drenar uma corrente resistiva
maior que 10 A, o que obriga o desligamento rápido do sistema Características dos sistemas industriais
elétrico para que sejam evitados danos, principalmente devido com presença de cogeração e que afetam o
à formação de arco elétrico e sua evolução para arco entre aterramento do neutro
fases. O resistor neste caso é denominado resistor de baixo
valor ôhmico. Tendo em vista que um sistema elétrico industrial não deve
• Observa-se ainda que em sistemas elétricos de média tensão em nenhum momento ficar sem um ponto de aterramento do
de até 13,8 kV, o arco se mantém para correntes menores que neutro, os sistemas industriais com a presença de cogeração,
10 A, o que reforça a necessidade de desligamento imediato no nos quais os geradores trabalham em paralelo com a
caso de ocorrência de falta fase terra. concessionária, possuem em geral no mínimo dois pontos de
•Havendo necessidade de desligar o sistema durante curtos aterramento. Como eventualmente o sistema elétrico pode
fase-terra, deve-se dimensionar o resistor com valor de limitação trabalhar ilhado, ou somente alimentado pela concessionária,
tal que, além de eliminar sobretensões transitórias, seja criada cada um dos aterramentos deve ser dimensionado para atender
corrente suficiente para facilitar a operação do sistema de a toda a planta. A Figura 1 mostra esta condição, onde foram
proteção de falta à terra utilizando-se relés associados a TCs utilizados resistores de baixo valor ôhmico limitando a corrente
Apoio
62

em 400 A no neutro de cada fonte. Como será comentando garantir segurança de pessoas e do sistema elétrico.
Aterramento do neutro

oportunamente neste artigo, esta forma de aterramento propicia O mero esquecimento de uma chave aberta pode
uma corrente fase-terra de 800 A no ponto de falta, que não é provocar sérios inconvenientes durante faltas à terra, uma
aceitável à luz dos conhecimentos atuais. vez que o curto não será identificado e podem ocorrer
sobretensões transitórias com queima de equipamentos
como grandes motores, geradores e transformadores. Na
Figura 3 são identificadas duas situações que devem ser
evitadas no planejamento do sistema elétrico.

Figura 1 - Duplo aterramento em plantas de cogeração.

Quando existe mais de um gerador na planta de cogeração é


preferível utilizar transformador de aterramento na barra de
distribuição o que permite manter o critério de dois pontos
de aterramento citado anteriormente. A Figura 2 indica esta
solução.

Figura 2 - Aplicação de transformador de aterramento quando existe


mais de um gerador na planta.

Formas de aterramento não recomendadas


Em plantas de cogeração que utilizam mais de um gerador, Figura 3 - Utilização de dispositivo de chaveamento no neutro
(aplicação não recomendada).
alguns projetistas adotam esquemas de aterramento do neutro
que utilizam chaveamento, visando economia e redução Avaliação da energia liberada por um curto
do nível de curto fase-terra. Esta conduta é considerada má fase-terra interno no gerador
engenharia, uma vez que uma das práticas mais saudáveis de A falta mais comum no interior do gerador em sistemas
planejamento de sistemas elétricos industriais consiste em se de média tensão é, sem dúvida, a falta fase-terra que
manter o neutro integro todo o tempo. ocorre nas ranhuras do estator ou cabeças de bobinas. A
O chaveamento do neutro, além de exigir as chaves ocorrência geralmente é acompanhada de arco elétrico que,
de média tensão para secionamento, (chaves a vácuo ou dependendo do valor da corrente e do tempo de duração,
disjuntores) requer sistemas de controle e intertravamentos para destrói as chapas magnéticas, fundindo-as. Ver Figura 4.
Apoio
64
Aterramento do neutro

Figura 4 - Danos em chapas magnéticas de geradores.

Nesta situação, a recuperação do gerador torna-se resistor do sistema elétrico considerando a operação do relé
extremamente trabalhosa, demorada e onerosa, uma vez que, diferencial de terra em um ciclo e tempo de abertura e eliminação
além da recuperação do enrolamento, exige-se o baralhamento de arco do disjuntor de cinco ciclos, total de seis ciclos (igual a
do pacote magnético para reduzir a possibilidade de existência 100 ms, ou seja 0,1 segundo) será:
de pontos quentes localizados, quando da operação após reparo.
A configuração de aterramento do neutro do sistema elétrico
(valor de limitação por resistor e número de resistores existentes)
exerce grande influência nos danos do gerador, pois no ponto de Por outro lado, para calcular a energia liberada pela corrente
falta, a corrente total é a soma das contribuições das correntes do próprio gerador devemos considerar que a sua característica
do próprio gerador com a corrente de limitação do sistema é exponencial decrescente, dependendo de uma constante de
externo ao mesmo. Por exemplo, na Figura 1, um curto interno decaimento que representaremos pela letra grega τ (tau).
no gerador poderá atingir 800 A, sendo 400 A próprio gerador e
400 A devido à limitação através do resistor do transformador.
Vários estudos mostram que os danos causados pelo curto Considerando que a constante de decaimento se situa entre
fase-terra no interior do gerador são causados principalmente 0,8 s e 1,1 s (média de 0,9 s) e para que para um tempo de 5τ de
pela contribuição do próprio gerador. Isto pode ser explicado decaimento (praticamente toda a energia já foi liberada), segue:
pelo fato de que para o curto em questão, a proteção diferencial
do gerador atua rapidamente, desligando o disjuntor de saída do
gerador que acopla o mesmo ao sistema elétrico de distribuição,
desligando também o disjuntor de campo. No entanto, o gerador A energia total liberada no ponto de falta alcança (4800 + 800)
continua gerando e alimentando o curto interno devido à sua = 5600 W.s, da qual a contribuição do sistema (800 W.s) representa
grande inércia e ao fluxo remanescente (residual). A corrente 14% e a contribuição do próprio gerador 76% (4800 W.S).
interna de falta sofre um processo de decaimento exponencial. Esta conclusão, relativamente recente, mostra a necessidade
Pode-se avaliar a ordem de grandeza da energia liberada por de se modificar a forma de aterramento do neutro dos geradores
unidade de resistência de arco através dos seguintes cálculos, em diretamente ligados ao sistema de distribuição das plantas
que o expoente 1.5 leva em conta que a corrente se desenvolve industriais, cujo neutro é aterrado por meio resistor de abaixo
na resistência de arco e não em um resistor linear onde o valor ôhmico.
coeficiente seria igual a dois.
Suportabilidade dos geradores a curtos fase-
terra
Experimentos com curtos fase-terra no interior de ranhuras
A energia desenvolvida pela parcela devido à corrente no de geradores indicam que o curto ocorre através de arcos
65

intermitentes, isto é, que acendem e se extinguem de forma


repetida. A energia desenvolvida por estes arcos ao longo do
tempo é que produz a fusão das chapas magnéticas, que são de
difícil e oneroso reparo, conforme discutido anteriormente.
Para proteção dos geradores, os fabricantes desenvolveram
uma curva inversa que recomenda que seja aplicada para proteção
fase terra dos geradores, sendo esta curva vista a seguir (Figura 5).

Figura 5 – Suportabilidade dos geradores e curto fase-terra internos.

Se adotarmos “danos leves” como aceitáveis, verifica-se que


a corrente de falta à terra, que pode circular permanentemente
sem desligar o gerador, será inferior a 10 A. Este limite está de
acordo com o que foi estabelecido no primeiro capítulo deste
fascículo, onde foi mostrado (tabela1) que para tensões utilizadas
em média tensão até 13.8 kV, a corrente de arco se mantém para
correntes menores que 10 A.
Alguns fabricantes adotam uma característica de
suportabilidade maior e consideram uma energia suportável
constante baseada na capacidade adiabática das chapas
magnéticas de suportar a corrente de curto fase-terra (I2T=
constante).
O limite estabelecido é o de I2T = 3000 A2.s, que se aplicado
para uma corrente de 10 A, fornece um tempo de suportabilidade
de 30 segundos.
Utilização de sistema híbrido para aterramento do neutro de
geradores em plantas de cogeração
Para solucionar a questão da fragilidade dos geradores ao
curto fase-terra interno (nos casos em que existe necessidade de
aterrar o neutro dos mesmos com resistor de baixo valor ôhmico),
foi desenvolvido o sistema híbrido considerado a seguir.
Apoio
66

O sistema consiste em instalar no neutro um sistema


Aterramento do neutro

híbrido composto de dois resistores, um de baixo valor ôhmico,


dimensionado conforme critérios anteriormente definidos e um A energia total, devido à corrente total de falta, utilizando
resistor de alto valor ôhmico, limitando a corrente em valores o sistema hibrido (400 A do resistor de baixo valor ôhmico do
menores ou iguais a 10 A. sistema externo mais 400 A do resistor de baixo valor ôhmico do
Quando da ocorrência do curto fase-terra interno ao gerador, retiradas de circulação pela proteção diferencial, mais
gerador, a proteção diferencial de terra retira o disjuntor de 10 A do resistor de alto valor ôhmico do gerador que permanece
saída do estator, o campo e o resistor de baixo valor ôhmico, até decaimento em cinco constantes de tempo) será:
permanecendo apenas o resistor de alto valor ôhmico.
Nestas condições, as energias envolvidas passam a
ser 2x800 W.s (energia desenvolvida devido à corrente de
circulação nos dois resistores de 400 A, conforme equação Quando comparada com a energia desenvolvida no primeiro
2), mais a energia desenvolvida após a retirada do disjuntor caso no qual não foi utilizado sistema híbrido (5600 W.s),
de saída do estator e do campo, no resistor de 10 A, que ficará verificamos uma queda de 71% no valor da energia desenvolvida.
em funcionamento (Figura 5). Se o arranjo do sistema de aterramento do neutro é realizado
A energia desenvolvida no resistor de 10 A devido à inércia conforme mostra a Figura 6, no qual são utilizados resistores
do gerador após desligamento do disjuntor de saída e do disjuntor de alto valor ôhmico ligados no neutro dos geradores e um
de campo será: resistor de baixo valor ôhmico associado a um transformador de

Figura 6 - Sistema híbrido.

Figura 7 – Utilização de resistores de alto valor ôhmico no neutro dos geradores e de baixo valor ôhmico no sistema.
Apoio
60
Aterramento do neutro

Capítulo V

Transformadores de aterramento
Parte I

Os transformadores de aterramento são baixo valor ôhmico em média tensão e resistores de


aplicados em muitas situações onde o arranjo do alto valor ôhmico em baixa tensão.
sistema elétrico exige que seja criado um ponto de Para sistemas de potência de alta tensão (SEP),
aterramento do neutro adicional, ou simplesmente a prática mais comum é a de aterrar o neutro
criar este ponto quando de sua inexistência. solidamente, o que é vantajoso para a isolação
Em função do que foi estudado nos quatro bem como para a aplicação de para-raios nestes
artigos anteriores, não se recomenda que um sistemas. A isolação dos SEP é um dos itens de
sistema elétrico trifásico industrial seja mantido maior peso no seu custo e geralmente é definida
sem aterramento do neutro, pois, durante períodos pelas sobretensões que podem ocorrer nos
de faltas fase-terra existe a possibilidade real de mesmos, entre as quais são importantes aquelas
ocorrência de sobretensões transitórias que podem que ocorrem durante períodos de falta à terra, que
danificar a isolação de motores, transformadores, são classificadas como “sobretensões transitórias”
cabos, bem como de outros componentes e “sobretensões temporárias”. Ambos os tipos são
importantes. controlados pelo aterramento do neutro.
Outra razão para se implementar o aterramento Outro motivo para se adotar sistema solidamente
do neutro se relaciona com as dificuldades de se aterrado nos SEP, se prende à facilidade de detecção
identificar o local da falta fase-terra em sistemas da falta fase-terra, uma vez que, com o sistema
com neutro isolado flutuante, isto é, neutro sem solidamente aterrado, obtemos baixo valor da
conexão à terra. impedância de sequência zero, que é importante
De fato, quando ocorre uma falta fase-terra fator de controle do valor do curto fase-terra. A
nestes sistemas a corrente é somente de natureza presença de impedância proposital no neutro
capacitiva, de baixo valor e, portanto, de difícil dos SEP, somada com as impedâncias naturais de
detecção e de identificação do local de sua retorno do curto fase-terra, principalmente das
ocorrência. resistências de pé de torre das linhas de transmissão,
Para sistemas elétricos industriais foi mostrado pode reduzir significativamente o valor do curto em
que a melhor opção é a de utilizar resistores de questão, e comprometer a operação de proteções
Apoio
61

importantes, como a dos relés de distância de falta fase-terra. vamos considerar duas situações reais de sua aplicação. A
Observa-se que nos sistemas elétricos industriais este primeira delas, já considerada no artigo anterior, é vista na
raciocínio não se aplica, pois o retorno do curto fase terra é Figura 1, a seguir.
garantido pelo sistema de aterramento (malha de terra industrial)
que se estende por toda a planta e garante reduzida impedância
de retorno. Estes sistemas podem, portanto, ser aterrados por
meio de resistores.
Do exposto, justifica-se plenamente a necessidade de
conhecermos a aplicação dos transformadores de aterramento,
cujo propósito é o de criar o ponto neutro em um sistema
trifásico quando é importante e se deseja fazê-lo.
Este artigo e o próximo estão dedicados ao estudo dos
transformadores de aterramento e juntamente com os quatro
capítulos anteriores deste fascículo, completam a série de seis
artigos que buscam fornecer informações importantes sobre o Figura 1 – Aplicação de transformador de aterramento na indústria.

aterramento do neutro, principalmente nos aspectos voltados Pode ser verificado que a aplicação de um resistor
para aplicação industrial. de aterramento na barra principal evita a instalação de
resistores de baixo valor ôhmico nos neutros dos geradores
Casos típicos de necessidade dos G1 e G2, mantendo o sistema elétrico industrial com, no
transformadores de aterramento máximo, dois pontos de aterramento, o que é ideal, uma
Para iniciar o estudo sobre transformadores de aterramento, vez que simplifica o esquema de proteção de falta à terra e
Apoio
62

reduz o valor da corrente total da falta de 1/3, no caso, da TR1, no lado da conexão triângulo.
Aterramento do neutro

presença de dois geradores. A solução correta neste caso consiste em criar um ponto
Por exemplo, se não fosse utilizado transformador de aterramento no lado da conexão triângulo, utilizando
de aterramento e o valor necessário para controlar a um transformador de aterramento com o neutro solidamente
sobretensão transitória com o sistema industrial operando aterrado, conforme indicado na Figura 2. Este procedimento
com, no mínimo, um gerador, for de 200 A e o sistema evita a ocorrência de sobretensões transitórias na linha/
elétrico da concessionária puder também alimentar o sistema que executa a conexão entre os disjuntores DJ1 e
sistema na ausência de qualquer gerador, seria necessário DJ2 após abertura do disjuntor DJ2 para curto no ponto F.
utilizar resistor de 200 A em todos os neutros (G1, G2, e A solução para o caso do transformador de acoplamento
transformador de acoplamento com a concessionária), ser de conexão contrária à examinada, isto é, triângulo no
totalizando 600 A de falta fase-terra. lado da indústria e estrela aterrada no lado da concessionária,
Com a aplicação do resistor de aterramento na barra, seria instalar o transformador de aterramento no lado da
conforme mostra a Figura 2, serão necessários apenas dois conexão triângulo, isto é, lado da indústria, como visto
resistores, totalizando 400 A de falta à terra. Naturalmente na Figura 3. Neste caso o neutro do transformador de
que, quanto maior o número de geradores presentes na planta aterramento será aterrado por meio de resistor, devido às
industrial, maior o ganho na aplicação do transformador necessidades do sistema elétrico industrial.
de aterramento na barra, em termos e redução da corrente
total de falta à terra.
Outra situação, bastante comum, está delineada na figura
2B a seguir, onde temos a interface de um sistema industrial
com cogeração, e no qual o transformador de acoplamento
com a concessionária possui a conexão estrela do lado da
indústria e conexão triangulo do lado da concessionária.
Verifica-se que, estando os sistemas de cogeração e da
concessionária em paralelo, um curto circuito fase-terra
no ponto F indicado provoca a abertura do disjuntor
DJ2 na subestação da concessionária (que possui neutro
solidamente aterrado), enquanto que o disjuntor DJ1 na
planta industrial se mantém fechado devido ao fato de não Figura 3 – Aplicação de aterramento no lado da indústria.
existir ponto de aterramento do neutro no transformador
Observa-se que algumas concessionárias padronizam
este tipo de conexão na interface com os sistemas elétricos
industriais, a fim de eliminar as sobretensões transitórias
e garantir a operação da proteção fase-terra nos dois lados
da conexão, isto é abertura dos dois disjuntores DJ1 e DJ2
mostrados na Figura 2.

Tipos de transformadores de aterramento


Embora existam outros tipos, atualmente, são utilizadas
três conexões básicas de transformadores de aterramento para
criação do neutro em um sistema elétrico trifásico, a saber:
• Conexão estrela com neutro acessível no lado primário
e triângulo no lado secundário. O enrolamento em triângulo
é utilizado apenas para compensação das correntes de
sequência zero, não sendo utilizado para cargas. O neutro
acessível do lado em estrela é utilizado para aterramento
Figura 2 – Aplicação de aterramento no lado da concessionária.
solido ou através de resistor. Ver Figura 4.
Apoio
64
Aterramento do neutro

Figura 6 – Transformador de aterramento conexão “ziguezague”.

Figura 4 – Transformador de aterramento conexão estrela-triângulo.


Qualquer dos tipos de conexão, quando projetado
corretamente funciona bem, sendo apenas uma questão de custo.
Por exemplo, pode-se dispor na instalação de um transformador
• Conexão estrela com neutro acessível no lado primário
na conexão estrela- triangulo que se aproveitado, reduz os custos.
e delta aberto no lado secundário. O lado em estrela
A conexão estrela aterrada com o resistor conectado nos
deve neste caso deve ser sempre solidamente aterrado,
terminais do delta aberto permite utilizar um resistor de baixa
enquanto que o lado em delta aberto só pode ser utilizado
tensão, o que pode reduzir os custos. Em termos de custo
para o caso de aterramento através de resistor, pois se
de aquisição de um transformador de aterramento novo, em
for fechado, voltamos ao caso anterior. Observa-se que
geral, o de conexão ziguezague é o de menor custo.
o resistor fica instalado entre os terminais do delta aberto
(Figura 5).
Operação dos transformadores e
aterramento
Qualquer transformador de aterramento deve em
princípio oferecer um caminho de baixa impedância para
as correntes de sequência zero que circulam durante a
falta à terra. Admitindo-se a existência de um curto fase-
terra na fase A do sistema, com o mesmo sem carga, temos
as seguintes condições de contorno para as correntes
envolvidas:

IFT = IA, IB = o, IC=o

I FT é a corrente de fase-terra, e IA, IB,IC, são as correntes de


nas fases A, B, C, respectivamente.

A definição de corrente ou componente de sequência


Figura 5 – Transformador de aterramento conexão estrela-delta aberto.
zero significa que a mesma é a média aritmética das três
correntes de fase, ou seja:
• Conexão denominada “ziguezague”. Esta é uma conexão
especial que utiliza um transformador trifásico, na realidade I0= 1/3 (IA +IB +IC)
um reator trifásico, com duas bobinas por fase, conectadas
de uma forma especial, cruzada, que caracteriza o nome Considerando as condições de contorno:
do transformador. Esta conexão será alvo de considerações I 0 = 1/3 (IA) = 1/3 (IFT)
adicionais, devido a sua importância. I FT = 3I0
Apoio
65

Concluímos que, durante um curto fase-terra, a corrente zero, entra pelo ponto de aterramento criado pelo transformador
3I0 circula do ponto de falta pelo neutro do transformador de aterramento (com ou sem resistor) e se divide pelas três fases
de aterramento, distribuindo-se no circuito de acordo com do mesmo, isto é, por cada fase ou perna do transformador
sua topologia, conforme mostra a Figura 7: de aterramento circula somente um terço da corrente total de
falta, que é igual ao valor da corrente de sequência zero (I0).
Isto acontece em qualquer tipo de transformador de aterramento,
independentemente da sua forma construtiva.

b) Em termos de tensão, podemos, utilizando a Figura 7, extrair


as seguintes conclusões que são importantes para se calcular a
potência do transformador de aterramento para qualquer tipo de
transformador que seja utilizado.

Considerando o neutro do transformador de aterramento


aterrado por meio de resistor, podem ser obtidas as seguintes
equações, em que VAT,VBT,VCT são as tensões de fase para terra;
Figura 7 – Circulação da corrente de sequência zero 3I0.
VAN,VBN,VCN são as tensões de fase para neutro e VNT é a
Observam-se, no sistema da Figura 7, no qual foi adotado tensão de neutro para terra.
um transformador de aterramento na conexão “ziguezague”, os
seguintes aspectos importantes: VAN – VAT + VNT = 0
VBN – VBT + VNT = 0
a) A corrente de falta, igual a três vezes a corrente de sequência VCN – VCT +VNT =0
Apoio
66

Considerando que VAN + VBN+ VCN = 0, segue que:


Aterramento do neutro
carga.
A “potência instantânea” pode ser calculada considerando
3 VNT = VAT+ VBT+ VCT que, conforme mostra a Figura 7, circula a corrente de sequência
VNT = 1/3 (VAT + VBT + VCT) = V0 zero em cada fase.
Portanto, considerando o circuito de sequência zero,
Conclui-se, pois, que a tensão de neutro para terra, ou o podemos escrever que a potência instantânea (PINST) vale:
“deslocamento do neutro” como algumas vezes é denominada
a tensão VNT, é igual à tensão de sequência zero das tensões de PINST =3V0 I0 = (3I0)V0
fase para terra.
Para calcular V0 vamos considerar as equações de contorno Porém, 3I0 é igual à corrente de falta à terra IFT e V0 é igual
de tensão correspondentes a um curto fase-terra na fase A, com à tensão de fase terra VFN.
o neutro aterrado por meio de resistor.
PINST = IFTVFN
VAT = 0, VBT = VBA, VCT = VCA
Para encontrar a potência instantânea em kVA, devemos
Considerando a sequência de fases VAB,VBC,VCA, na qual VAB considerar a corrente em Ampères e a tensão fase neutro em
é a referência, com ângulo zero, obtemos: kV. Teremos então:

V0 = 1/3(0 +VBA+ VCA) =1/3(0 -VAB + VCA) PINST(kVA)= IFT kVFF / √3

Considerando VFF como o módulo da tensão fase-fase e Em geral, o valor da corrente de falta à terra IFT, é prefixado
VFN como módulo da tensão fase neutro, segue: pelo projetista em função do sistema elétrico (industrial ou
de potência). Para os sistemas elétricos industriais valem as
V0 =1/3(VFF < 180º + VFF < 120º) =1/3( VFF< 150º recomendações fornecidas nos dois primeiros capítulos deste
V0 = 1/3(3 VFN<150º) = VFN<150º fascículo.
A potência de curto tempo PCT também em kVA será:
Este resultado mostra que o módulo da tensão de sequência
zero das tensões de fase para terra é igual em módulo da tensão PCT (kVA) = (IFTkVFF/ √3 )/K= PINST(kVA)/K
fase neutro.
O fator K, que depende do tempo de carga, pode ser
Cálculo da potência dos transformadores avaliado conforme tabela a seguir.
de aterramento
A potência do transformador de aterramento é definida em Tabela 1 – Fator K e tempo de carga

primeiro lugar pela potência desenvolvida por ele no momento Tempo de carga Fator K

do curto fase-terra denominada “potência instantânea” e em 10 segundos 10

segundo lugar em função do tempo de operação desejado para 1 minuto 4,7

o mesmo (10 segundos, 1 minuto, 5 minutos, 10 minutos, 30 5 minutos 2,8

minutos, 1 hora, 2 horas) que conduz a potência denominada 10 minutos 2,5

“potência de curto tempo”, “potência de curta duração” ou 30 minutos 1,8

“potência de carga”. 1 hora 1,6

Se o aterramento é realizado por meio de resistor na 2 horas 1,4

indústria, em geral, o tempo de carga utilizado para o resistor é


de 10 segundos, sendo adotado o mesmo para o transformador Potência contínua do transformador de
de aterramento. Em primeiro lugar, calcula-se a “potência aterramento
instantânea” e, então, calcula-se a “potência de curto tempo”, Além da potência de curta duração do transformador
utilizando-se um fator de redução em função do tempo de de aterramento convém fazer previsão para uma potência
67

permanente para acomodar correntes que circulam


continuamente no neutro como aquelas geradas por
chaveamentos de inversores de frequência.
Esta potência, em geral, varia de um mínimo de 3% da
potência de curta duração até cerca de 10% dela.

Reatância do transformador de
aterramento
Além das potências permanentes e de curta duração
do transformador de aterramento deve ser fornecida
também a sua reatância em Ohms para que seja possível
fabricá-lo.
Esta questão será tratada no próximo artigo, juntamente
com outros aspectos também importantes para aplicação
de transformadores de aterramento.

Referências
[1] Costa, P.F; “Capitulo I – Aspectos importantes da
escolha do tipo de resistor de aterramento do neutro nos
sistemas elétricos industriais” Revista O Setor Elétrico,
Julho 2014.
[2] Costa, P.F; “Capitulo II - Avanços na especificação e
aplicação dos resistores de aterramento do neutro dos
sistemas elétricos industriais em média tensão” Revista O
Setor Elétrico, Agosto 2014.
[3] Costa, P.F; “Capitulo III - Avanços na especificação
e aplicação dos resistores de aterramento do neutro dos
sistemas elétricos industriais em baixa tensão”, Revista O
Setor Elétrico, Setembro 2014.
[4] Costa, P.F; “Capitulo IV - Aterramento de sistemas
elétricos industriais de média tensão com a presença de
cogeração” Revista O Setor Elétrico, Outubro de 2014.
Apoio
46
Aterramento do neutro

Capítulo VI

Transformadores de aterramento
Parte II

Nos capítulos anteriores, foram tratados os pouco mais sugerimos a leitura das indicações
aspectos relativos ao aterramento do neutro nas referências bibliográficas.
em sistemas elétricos industriais, sendo que,
especialmente no último, foram abordadas Funcionamento do
as situações em que os transformadores de transformador de aterramento
aterramento aplicam seus tipos principais e a “zigue-zague”
forma de se calcular suas potências instantâneas O transformador de aterramento “zigue-
e de curto tempo. No presente artigo serão zague” é constituído por um núcleo magnético
fornecidas informações adicionais sobre o de três colunas, sendo que em cada coluna
transformador de aterramento na conexão existem dois enrolamentos iguais, indicados
“zigue-zague”, o mais utilizado na atualidade, na Figura 1A. O diagrama vetorial da Figura
bem como será vista a metodologia de cálculo 1B mostra os vetores das bobinas individuais
de sua reatância, parâmetro este que, senão for das três colunas, considerando tratar-se de um
fornecido ao fabricante, inviabiliza o seu projeto sistema trifásico. Observa-se neste diagrama
e fabricação. que os vetores acompanham as respectivas
Com este artigo encerramos uma sequência polaridades estabelecidas para as bobinas,
prevista de seis capítulos, nos quais foram conforme marcado na Figura 1A.
discutidos aspectos do aterramento do neutro, Na conexão da Figura 1A, a primeira bobina
principalmente de sistemas elétricos industriais. do primeiro núcleo é ligada com a segunda bobina
Devido à vastidão e à importância deste tema, do segundo núcleo, sendo esta com a polaridade
não consideramos, de forma alguma, que ele trocada. A primeira bobina do segundo núcleo é
foi esgotado. Pelo contrário, muitos aspectos ligada com a segunda bobina do terceiro núcleo,
importantes ainda necessitam ser tratados, sendo esta de polaridade trocada. Finalmente, a
mormente se saltarmos para aplicações em outros primeira bobina do terceiro núcleo é ligada com
sistemas elétricos, como os de distribuição e de a segunda bobina do primeiro núcleo, sendo
potência. Àqueles que desejarem aprofundar um esta de polaridade trocada.
Apoio
47

Quando o transformador é ligado ao sistema trifásico de fase para neutro. Pode ser verificado que o transformador
sem falta à terra, forma-se então o diagrama vetorial da funciona na realidade como um reator de alta impedância,
Figura 1C, em que as tensões AA1, BB1, CC1, são as tensões pois não existe enrolamento secundário, sendo absorvida
somente uma pequena corrente de excitação. As formas
de conexão das bobinas e do diagrama vetorial sugerem o
nome escolhido de “conexão zigue-zague”.

Figura 1A – Diagrama de conexão das bobinas do transformador zigue-


zague. Figura 1B – Diagrama vetorial com as bobinas desconectadas.
Apoio
48

geral. Esta reatância é a reatância de sequência zero do


Aterramento do neutro

transformador (XOT).
Existem técnicas construtivas que permitem alterar a
reatância do transformador de aterramento, de forma que
se pode aplicá-lo com baixa ou alta reatância.
Por exemplo, quando se utiliza o neutro do
transformador de aterramento aterrado por meio de resistor,
deseja-se baixa reatância de sequência zero, para que
ela não interfira no nível de curto limitado pelo resistor.
Quando o referido neutro é solidamente aterrado, deseja-se
obter uma reatância compatível com o nível de curto fase-
terra preestabelecido pelo projetista, o qual deve seguir os
princípios discutidos no próximo item.

Figura 1C – Diagrama vetorial da conexão da Figura 1A.


Determinação da reatância de sequência
zero do transformador de aterramento
Quando ocorre um curto fase-terra no sistema, a
situação modifica-se, pois a corrente de falta fase-terra é Considerações
constituída de três vezes a corrente de sequência zero, isto Os sistemas trifásicos são suscetíveis de sofrer
é, IFT = 3I0. Considerando que as correntes de sequência sobretensões durante períodos de falta à terra, que podem
zero se distribuem como na Figura 2, pode ser visto que em ser classificadas em sobretensões transitórias e sobretensões
cada coluna do núcleo magnético, o fluxo total, e também temporárias.
o de dispersão, é praticamente nulo, pois as bobinas de Quando ocorre um curto fase-terra em uma das fases de
uma mesma coluna, que possuem polaridade contrária, são um sistema trifásico com neutro isolado, conforme a Figura
percorridas por correntes iguais em módulo e ângulo. 3, as correntes resultantes são de natureza capacitiva, que
Esta configuração conduz a um baixo valor de reatância circulam também pelos enrolamentos do transformador,
de dispersão, que essencialmente forma a impedância do formando um circuito LC. Devido ao baixo valor da corrente
transformador de aterramento e dos transformadores em capacitiva, esta em geral é intermitente, gerando pequenos

Figura 2 – Circulação das correntes de sequência zero na conexão “zigue-zague”.


Apoio
50

arcos elétricos que são de natureza não linear. A corrente controle ainda mais efetivo das sobretensões transitórias,
Aterramento do neutro

gerada possui harmônicas de alto espectro de frequência, que e dependendo dos parâmetros do circuito, as tensões das
podem então excitar o circuito LC, levando-o à ressonância. fases sãs para terra não ultrapassam de 80% da tensão fase-
As tensões são então amplificadas nas capacitâncias de fase fase, no momento do curto fase-terra.
para terra das fases sãs e nas bobinas do transformador. As sobretensões das fases sãs para a terra, que ocorrem no
Devido à intermitência do curto, as tensões amplificadas momento de um curto fase-terra em sistemas que possuem
sofrem um processo de aumento sucessivo, denominado o neutro aterrado, de forma a controlar as sobretensões
“escalonamento”. As tensões amplificadas são as de fase- transitórias, são denominadas “sobretensões temporárias”.
terra nas fases sãs (fases a, b, na Figura 3, em que o curto
fase-terra foi estabelecido na fase c). Quando no processo Bases para dimensionamento da reatância dos
de escalonamento as tensões fase-terra nas fases sãs atingem transformadores de aterramento
valores da ordem de 5-6 P.U, ocorre a ruptura da isolação Tendo em vista o que foi exposto, para que um sistema
de uma ou das duas para terra (em pontos e equipamentos, elétrico trifásico sobreviva durante um curto fase-terra, é
tais como motores, cabos isolados, transformadores e outros necessário no mínimo controlar as sobretensões transitórias.
componentes), que resultam em duplo ou triplo curto à Com resistor no neutro dimensionado adequadamente,
terra, cuja consequência é o desligamento do sistema pela as sobretensões transitórias são eliminadas e as tensões
proteção. As tensões geradas no processo de escalonamento de fase-terra nas fases sãs são controladas e atingem no
são denominadas sobretensões transitórias. máximo o valor fase-fase. Nestes sistemas os para-raios
O controle das sobretensões transitórias, devido à ocorrência utilizados das fases para terra devem ser de tensão nominal
de faltas à terra, é realizado por meio do aterramento do fase-fase (tensão plena), denominados “para-raios 100%”.
neutro. Com aplicação de resistores no neutro dimensionados Quando o neutro é solidamente aterrado, pode-se
conforme teoria exposta nos artigos anteriores, as sobretensões conseguir que as tensões das fases sãs para terra atinjam no
de fase-terra nas fases sãs são controladas de forma que atingem máximo 80% da tensão fase–fase. O sistema é denominado
no máximo o valor da tensão de fase-fase, isto é se elevam de então “efetivamente aterrado” e os para-raios são
√3, pois, em regime normal, sem curto fase-terra, estas tensões denominados “para-raios 80%”.
são iguais em módulo, à tensão fase-neutro. As condições para controlar as sobretensões transitórias,
Os resistores no neutro amortecem o circuito LC considerado mas utilizando para-raios 100% podem ser resumidas na
anteriormente, de forma que a ressonância é evitada. Tabela 1 a seguir. A demonstração das condições indicadas na
Se o neutro é solidamente aterrado, existe um tabela pode ser encontrada, por exemplo, na referência [6].

Figura 3 – Circuito de circulação da corrente fase-terra em sistema com neutro isolado.


Apoio
51

Tabela 1 – Condições para eliminação das sobretensões transitórias (Z0) que, juntamente com a impedância de sequência negativa
utilizando para-raios 100%
(Z2), são utilizadas para cálculos da corrente de falta à terra e
Critério para limitação da
sobrecorrente transitória das tensões fase-terra. Z1, Z2, Z0 são impedâncias equivalentes de
Método de aterramento
X0 / X1 R0 / X0 Thévenin, vistas do ponto de falta, que podem ser escritas como:
Sólido ≤ 10 Qualquer

Por Qualquer ≥2 Z1 = R1 + jX2 ; Z2 = R2 + j X2 ; Z0 = R0 +j XO


Resistor ≤ 10 Qualquer
Nos sistemas de potência (SEP), pode-se considerar Z 1 = Z2
As condições para controlar as sobretensões transitórias e e R1 = R2 =0
ainda utilizar para-raios 80% somente são atingidas em sistemas
solidamente aterrados e efetivamente aterrados. Os parâmetros Exemplo de dimensionamento de
do sistema possuem as relações indicadas na Tabela 2. transformador de aterramento
Tabela 2 – Condições para eliminação das sobretensões Para ilustrar o calculo da reatância e da potência de um
transitórias utilizando para-raios 80%
transformador de aterramento, vamos utilizar um sistema de
Critério para limitação da
sobrecorrente transitória potência, com potência de curto-circuito de 1.000 MVA, na
Método de aterramento
X0 / X1 R0 / X1 tensão de 138 kV, alimentando um transformador de 20 MVA,

Sólido ≤3 ≤1 138/69 KV, Z% = 8,5%, conexão delta-delta, que alimenta uma


linha de transmissão de 69 kV com as seguintes características:

Nas Tabelas 1 e 2 anteriores, os parâmetros X1, XO, RO, são as


reatâncias de sequência positiva, reatância de sequencia zero e X1 = X2 = 10 Ohms

resistência de sequência zero, respectivamente, as quais são parte R0L = 2 Ohms

integrante das impedâncias de sequência positiva (Z1), e zero X0L = 35 Ohms


Apoio
52

Deverá ser instalado um transformador de aterramento ROL = 2 x 100 / 692 = 0,042


Aterramento do neutro

na barra de 69 kV do secundário do transformador, barra


esta que alimenta a linha de transmissão. O transformador X0L = 35 x 100 / 692 = 0,74
de aterramento será solidamente aterrado e deverá ser
dimensionado de forma que possam ser instalados para- As impedâncias equivalentes de Thévenin vistas do final da
raios 100% no final da LT, como primeira solução e para- linha são:
raios 80%, como segunda solução.
X1= X1F + X1T+ X1L = 0,1 + 0,425 + 0,21 = 0,735
Soluções
Utilizaremos o método P.U., considerando a potencia base XO = XOL+ XOT = 0,74 + XOT
de 100.000 kVA (100 MVA), e as tensões nominais em kV dos
lados primários e secundário como tensões bases. Porém, na primeira hipótese, de utilizarmos para-raios
Nestas condições as relações básicas para trabalho são 100% ,a condição é:
as seguintes:
XO = 10 X1 = 10 x 0,735 =7,35
kVAB = √3 kV IB ; IB = kVAB/ √3 kVB ; ZB =1.000kVB/ √3;
IB= KVB2 / MVAB XOT = 7,35 – 0,74 = 6,61

ZP.U = ZOhm MVAB/ kVB2; ZOhm= ZP.U KVB2 / MVAB XOT(Ohms) = 6,61 x 692 / 100= 315 Ohms

As impedâncias percentuais dos transformadores são O curto fase–terra, em P.U., no final da linha, valerá:
transformadas em P.U (ZT P.U) pela relação:
IFT = 3 / (RO +jXo+ j 2X1) = 3 / (RO + j10X1 +j2X1 ) = 3 / (RO+ j 12X1)
ZT P.U = Z% /MVAT, em que MVAT é a potência do transformador
em MVA e Z% é sua impedância percentual. IFT = 3 / ( 0,042 + j 12 x 0,735) = 0,34 P.U

A impedância da fonte em P.U (ZF P.U), é diretamente obtida IB =100.000 / √3 69 = 837 A


da relação:
IFT = 0,34 x 837 = 285 A
ZF P.U = MVAB / PCCF, em que PCCF é a potência de curto-circuito
da fonte em MVA. Para calcular a potência do transformador de aterramento,
devemos considerar o curto fase terra que ocorre na barra de 69
Caso 1 – Uso de para-raios 100% no kV, que apresenta valor superior ao que ocorre no final da linha.
final da LT Denominando este curto de IN, seu valor em P.U será:
Aplicando as relações acima e considerando ainda que
Z1 = Z 2 e R 1 = R 2 = 0 para a fonte e para o transformador, IN = 3 / [XOT +2 (X1S +X1T)] = 3 / [ 6,61 + 2 x ( 0,1 + 0,425)]
teremos os seguintes valores em P.U.:
IN = 0,39 P.U
Fonte: X1F = X2F = 100 / 1.000 = 0.1
IN = 0,39 x 837 = 326 A
Transformador: X1T = X2T = 8.5 / 20 = 0.425
A potência instantânea do transformador de aterramento
Para a LT de 69 kV: PTAT(INST) de acordo com o artigo anterior, vale:

X1L = X2L = 10 x 100 / 692 = 0,21 PTAT(INST)= 326 x 69/ √3 = 12987 ≅ 13.000 kVA
Apoio
53

A potência de curto tempo, 10 segundos, PTAT(10S) será: solidamente aterrado, de forma a controlar as sobretensões
transitórias e utilizar para-raios 100% ou para-raios 80%. Foi
PTAT(10S) = 13.000/10 = 1.300 kVA fornecida a metodologia para cálculo dos transformadores
de aterramento necessários. Quando é desejado incluir
Caso 2 – Uso de para-raios 80% no final da LT um resistor no neutro do transformador de aterramento a
Neste caso, deve ser utilizada a relação da Tabela 2, isto metodologia de calculo deve ser alterada, utilizando as
é, X0 = 3X1. Refazendo os cálculos, segue que: informações da Tabela 1.
O autor agradece aos leitores que leram algum ou todos
XO = 3 X1 = 3x 0,735 = 2,21 os artigos da série publicada e se sente feliz em receber
comentários.
XOT = 2,21 – 0,74 = 1,47
Referências bibliográficas
XOT(Ohms) = 1,47x 692 / 100= 67 Ohms [1] Costa, P.F; “Capitulo I – Aspectos importantes da escolha
do tipo de resistor de aterramento do neutro nos sistemas
O curto fase-terra no final da linha será recalculado da elétricos industriais” Revista Setor Elétrico, Julho 2014.
seguinte forma: [2] Costa, P.F; “Capitulo II - Avanços na especificação e
aplicação dos resistores de aterramento do neutro dos
IFT = 3 / (RO + jXo+ j 2X1) = 3 / (RO + j3X1 +j2X1 ) = 3 / (RO + j 5X1) sistemas elétricos industriais em média tensão” Revista Setor
Elétrico, Agosto 2014.
IFT= 3 / ( 0,042 + j 5x0,735) =0,776 P.U [3] Costa, P.F; “Capitulo III - Avanços na especificação e
aplicação dos resistores de aterramento do neutro dos sistemas
IB = 100.000 / √3 x 69 = 837 A elétricos industriais em baixa tensão”, Setembro 2014.
[4] Costa, P.F; “Capitulo IV- Aterramento de sistemas elétricos
IFT = 0,776 x 837 = 650A industriais de média tensão com a presença de cogeração”,
Revista Setor Elétrico, outubro de 2014.
O curto fase-terra na barra de 69 kV para cálculo da [5] Costa, P.F; “Capitulo V- Transformadores de aterramento
potência do transformador de aterramento vale: parte I”, Revista Setor Elétrico, novembro de 2014.
[6] Costa, P.F; Dissertação de Mestrado “Aterramento do
IN = 3 / [XOT +2 (X1S +X1T )] = 3 / [ 1,47 + 2 x ( 0,1 + 0,425)] Neutro dos Sistemas de Distribuição Brasileiros: Uma
Proposta de Mudança”, UFMG 1995.
IN = 1,19P.U

IN = 1,19x 837 = 996A


*Paulo Fernandes Costa é Engenheiro Eletricista
e Msc pela Universidade Federal de Minas Gerais,
A potência instantânea do transformador de aterramento
professor aposentado dos cursos de engenharia
PTAT(INST), de acordo com o capítulo anterior, vale: elétrica da UFMG e CEFET-MG e diretor da Senior
Engenharia e Serviços LTDA, Belo Horizonte-MG.
P TAT(INST)= 996x 69/ √3 ≅ 39.678 kVA ≅ 40.000 kVA É palestrante e autor de vários artigos na área
de aterramento, proteção, segurança, qualidade
de energia e sistemas elétricos industriais
A potencia de curto tempo, 10 segundos, PTAT(10S) será: em geral. Atua como consultor, bem como na
área de desenvolvimento tecnológico, com
PTAT(10S) = 40.000/10 = 4.000 kVA experiência de mais de 40 anos. E-mail: pcosta@
seniorengenharia.com.br.

Conclusão
Neste artigo foram fornecidas informações para
transformar um sistema com neutro isolado em neutro
ATERRAMENTO

Sistema de
aterramento e O grande número de ferros das
fundações e das estruturas pré-
moldadas provê aterramento

proteção contra raios eficiente e gaiola de Faraday,


que protege e atenua campos
eletromagnéticos internos,
utilizando ferragens diminui forças eletromotrizes
induzidas nos circuitos da
instalação e minimiza
do concreto armado interferências prejudiciais a
pessoas e equipamentos. Este
artigo descreve a técnica, seus
conceitos e os cuidados
necessários, com exemplos

A
primeira utilização conhecida Centrais Elétricas possui desde 1965 di- (ANSI-C2)-NEC incluiu pela pri-
das armaduras (ferragens) do retrizes para a utilização das armaduras meira vez especificações para eletrodos
concreto armado no aterramen- das fundações como eletrodos de aterra- de aterramento embutidos nas fun-
to data da Segunda Guerra Mundial, mento. Em 1979 foi publicada a norma dações. Também o “Green Book”
mais precisamente de 1941, em um sis- alemã (caderno 35 da VDE) sobre a in- (ANSI/IEEE Standard 142-1982), que
tema idealizado pelo engenheiro Herb clusão do sistema de aterramento nas trata especificamente de aterramento,
Ufer para os depósitos de bombas da fundações dos edifícios residenciais. ressalta em várias seções as vantagens
base aérea Davis Monthan, em Tucson, Em fins da década de 70, as recomen- de se utilizarem as armaduras do con-
no Arizona, EUA. Os objetivos desse dações americanas incluíram sistemas creto das fundações como eletrodos de
sistema eram proteger contra descargas de aterramento com condutores embu- aterramento.
atmosféricas e eletricidade estática, esta tidos em concreto, sendo que em 1978 Podemos então dizer que os aterra-
última causada por vento e tempestades o “National Electrical Safety Code” mentos utilizando as armaduras das fun-
de areia. Anos mais
tarde, Ufer reinspecio-
nou as instalações e con-
cluiu que eletrodos de
aterramento utilizando
armaduras do concreto
promoviam uma menor e
mais consistente re-
sistência de aterramento
que as próprias hastes,
especialmente em re-
giões com valores altos
de resistividade. Devido
a esta antiga utilização,
o uso das armaduras
e/ou cabos e hastes
inseridos nas fundações
e baldrames de concreto
é freqüentemente cha-
mado de “aterramento
Ufer.” Fig. 1 – Microohmímetro microprocessado em ligação Kelvin, utilizado para efetuar medições da
A União Alemã das resistência elétrica de contato (o exemplo da foto é o modelo MPK 254, da Megabrás)
54 EM ABRIL, 2007
Fig. 2 – Conexão de cabo de aterramento de 50 mm2 com Fig. 3 – Barra de equalização local (BEL) interligada ao
armadura de baldrame, utilizando solda exotérmica baldrame

dações como eletrodos de aterramento, Vantagens da utilização das tema de aterramento e facilitar muito o
e a proteção contra descargas atmosféri- armaduras do concreto cumprimento dos preceitos de eqüipo-
cas pelo método gaiola de Faraday uti- tencialização das instalações elétricas
lizando as estruturas metálicas (telhas Fundações (freqüência industrial), em concordân-
e/ou seus suportes metálicos) e as ar- Uma vez que o concreto sob o nível cia com a NBR 5410/04.
maduras do concreto, são prática do solo mantém sempre um certo grau
mundialmente consagradas há aproxi- de umidade, seu valor de resistividade é Pilares, vigas e lajes
madamente 65 anos. Isso foi inclusive baixo, geralmente muito menor do que Com o uso das armações do concre-
reconhecido por importantes normas e o valor da resistividade do próprio solo to destes elementos, diminuem-se os
recomendações publicadas ao longo onde está sendo construída a edificação campos eletromagnéticos internos à edi-
desse período, como as normas bra- ou estrutura. Os valores típicos do con- ficação, reduzindo as forças eletro-
sileiras NBR 5419 e NBR 5410, a nor- creto nessas condições variam de 30 a motrizes induzidas nos circuitos ali
ma internacional IEC 61024-1-2 e os 500 Ωm. existentes, e, em conseqüência, as inter-
documentos estrangeiros ASE 4022, O uso das ferragens da fundação ferências prejudiciais a pessoas e
ANSI/IEEE std.142, BS 6651, entre também diminui as variações de tensão equipamentos eletrônicos sensíveis, co-
outros. As vantagens, descritas não só durante a dissipação das correntes asso- mo os de tecnologia da informação
nas publicações mencionadas mas tam- ciadas às descargas atmosféricas para o (ETIs). Além disso, conceitos ultrapas-
bém resumidas a seguir, encorajam cada solo, com conseqüente diminuição das sados, como sistemas de aterramento in-
vez mais essa prática, tanto em edifi- diferenças de potencial de passo e de dependentes e seccionamento para
cações novas quanto nas já existentes. toque, além reduzir a impedância do sis- medição da resistência de aterramento,

Fig. 4 – Placas metálicas interligadas às ferragens dos Fig. 5 – Interligações feitas com solda exotérmica entre as
pré-moldados para interligar estruturas, com pontos de diversas estruturas pré-moldadas, para garantir a
acesso para futuras medições de continuidade elétrica continuidade elétrica e formar a gaiola de Faraday.

ABRIL, 2007 EM 55
ATERRAMENTO

convencionais. De-
ve-se, portanto, uti-
lizar um miliohmí-
metro ou microoh-
mímetro de quatro
terminais (configu-
ração Kelvin), como
o da figura 1. As es-
calas do instrumen-
to devem ter valor
de corrente injetada
que atenda à exigên-
cia expressa no item
E2 do Anexo E da
NBR 5419/05, qual
seja, o de se fazer
circular uma cor- Fig. 7 – A gaiola de Faraday é formada pela enorme
quantidade de ferragens das estruturas pré-moldadas
rente, com valor de
no mínimo 1 A ou
Fig. 6 – Armaduras das fundações superior, entre os pontos extremos da tos por cabos de cobre deve ser execu-
preparadas para a interligação das armadura sob ensaio. O processo de tada com o uso de solda exotérmica
ferragens dos pilares medição está descrito na íntegra nesse (figura 2) ou solda elétrica com eletro-
anexo E2 da NBR 5419/05. dos específicos. Na figura 3 são vistas
passam a não existir quando aplicado o Caso seja necessária a execução de barras de equalização locais (BEL) es-
método da gaiola de Faraday utilizando solda entre as armaduras para garantir trategicamente localizadas, cujo aterra-
as armaduras dos pilares, vigas e fun- a continuidade, deve-ser utilizar solda mento é feito diretamente dos eletrodos
dações para a composição do sistema de elétrica com cordão duplo de no míni- horizontais inseridos nos baldrames.
proteção contra descargas atmosféricas mo 3 mm de diâmetro e 50 mm com- Cabe alertar que não deve ser utilizada
diretas. primento. solda exotérmica dos ferros para a
O recobrimento (proteção) das ar- construção estrutural das armaduras.
Cuidados e restrições maduras eventualmente expostas du- Quando utilizadas para fins de
Como premissa básica inicial para rante a instalação deve ser feito com equalização e/ou aterramento em insta-
se utilizarem as armaduras do concreto concreto de, no mínimo, 25 mm de es- lações de baixa tensão, as armaduras
para os fins citados, deve-se garantir pessura. As armaduras não deverão do concreto não podem substituir os
continuidade elétrica entre os pontos ficar sob hipótese nenhuma em contato condutores de proteção (PE) sob
extremos da armadura, de modo que com o solo, para evitar corrosão. hipótese nenhuma.
possa ser comprovado, por meio de Imersas no concreto, elas estarão pro- Também não se deve permitir a cir-
medições com instrumento adequado, tegidas por ausên-
um valor de resistência de contato cia de eletrólito e
elétrico menor ou no máximo igual a 1 de aeração.
Ω. Cabe observar que essa medição A interligação
deve ser realizada com instrumento das armaduras aos
adequado, sendo vedada, pelas normas sistemas de ater-
vigentes, a utilização multímetros ramento compos-

Fig. 8 – Ligação do microohomímetro ao ponto 8 indicado


na figura 9, para medição da continuidade elétrica do Fig. 9 – Esquema de medição nos pilares da usina a gás
conjunto (neste caso, ponto 8 em série com 7–6–5–4–3–2–1)

58 EM ABRIL, 2007
ATERRAMENTO

permitida a utili-
zação das arma-
duras componentes
de estruturas pré-
moldadas proten-
didas como com-
ponentes de sis-
temas de proteção
contra descargas
atmosféricas.

Execução do
sistema
Como foi dito
acima, devem-se
prever, durante o
projeto das estru-
turas pré-molda-
das, pontos acessí-
veis, interligados
com as demais ar-
maduras constitu-
intes dessas estru-
turas. Esses pon-
tos devem ser dis-
Fig. 10 – Geradores de 925 kW a gás da usina citada, com ponibilizados ex-
aterramento interligado às armaduras da suas bases ternamente aos di-
versos componen-
culação de correntes de defeito (curto- tes pré-moldados, possibilitando que
circuito) com duração elevada pelas ar- estes sejam interligados (normalmente
maduras, pois isso pode causar danos por solda exotérmica) após sua mon-
às próprias ferragens e ao concreto. tagem final, de modo a formar uma
Em estruturas pré-moldadas, as ar- gaiola de Faraday. Normalmente esses
maduras podem ser também utilizadas pontos acessíveis são constituídos por
como descidas naturais e aterramento, placas metálicas específicas ou condu-
desde que tomados os seguintes cuida- tores de cobre, para que as interli-
dos: gações entre pilares, vigas e armaduras
• prever essa utilização já no projeto das fundações possam ser feitas du-
das estruturas, possibilitando, assim, rante a construção (figuras 4, 5 e 6).
que sejam deixadas placas específicas Nota: devem ser deixados também
ou condutores de cobre acessíveis para pontos de acesso, estrategicamente es-
as devidas interligações entre os pi- colhidos, destinados à execução de fu-
lares e vigas, após a montagem. Essas turas medições de continuidade elétri-
interligações devem preferencialmente ca (ver figura 4), como determinado no
ser feitas com solda exotérmica (ver Anexo E da NBR 5419/05.
figuras 4 e 5); e Após a montagem das estruturas,
• durante a montagem das estruturas devem ser executadas as mencionadas
pré-moldadas, providenciar as neces- medições de continuidade elétrica des-
sárias interligações das armaduras das critas na NBR 5419/05. Devem ser
fundações (cálices) com as armaduras feitas várias medições, basicamente
dos pré-moldados (placas ou cabos de conforme o esquema ilustrado nas fi-
cobre citados), de modo a garantir a guras 8 e 9. Como dito acima, o valor
continuidade elétrica entre captores e medido tem de ser menor ou, no máxi-
descidas naturais e os cálices. Este é mo, igual a 1 Ω.
um ponto de extrema importância,
que no entanto costuma ser posto em Exemplo
segundo plano ou mesmo esquecido. Em uma usina de geração elétrica a
Por fim, cabe ressaltar que não é biogás (figura 8), após a montagem,

60 EM ABRIL, 2007
ATERRAMENTO

mΩ. [Nota: os mento, conforme pode ser basicamente


valores de conti- visto na figura 11, que mostra uma
nuidade elétrica haste de captação do caso-exemplo.
obtidos na práti- No caso aqui referido, uma malha
ca, por meio de de referência de sinal (MRS) foi devi-
medições, normal- damente projetada e instalada, com o
mente são bem objetivo de obter um plano de referên-
menores do que cia de terra o mais constante possível
o valor máximo para os equipamentos sensíveis. A
de 1 Ω permitido MRS foi embutida no piso, para evitar
pela NBR 5419/ roubo e vandalismo. Cabe observar
Fig. 11 – Abrigo ferroviário (house) com sistema de captação 05, mesmo em que, quando se utilizam ferros específi-
via armaduras e malha de referência de sinal (MRS) edificações com cos (dedicados) para captação das cor-
interligada com as ferragens do piso, para gerar diversos pavi- rentes dos raios, esses ferros devem ser
um plano de referência de terra o mais equalizado possível, mentos.] instalados na periferia das colunas e in-
para os ETIs
Para o aterra- terligados com os demais ferros estru-
mento dos ge- turais constituintes desta.
foram medidos os valores de resistên- radores da usina a gás citada foram uti-
cia de contato listados abaixo — o pon- lizadas as armaduras das bases como Centro de processamento de dados
to de referência fixo é o número 8 eletrodos de aterramento comple- Em CPDs é ainda mais justificado
(N.8) da figura 9: mentares à malha de dissipação (figura obter-se uma referência de sinal cons-
• N.8 em série com os pontos de in- 10), pois o concreto enterrado possuía tante, o que normalmente é realizado
terligação 1–2–3–4–5–6–7: 2,89 mΩ; um valor de resistividade bem menor com uma MRS convenientemente di-
• N.8 em série com os pontos do que a resistividade do local da ins- mensionada para equalizar freqüências
9–10–11: 2,46 mΩ; talação. em uma larga faixa. A malha deve ser
• N.8 em série com 1–2–3–4–5–6–7– interligada à barra de equalização local
20–19–18: 2,91 mΩ; Estudos de casos (BEL), e esta ser interligada às ar-
• N.8 com barra de aterramento exter- maduras das fundações dos pilares (de
na: 2,34 mΩ; e Abrigo (house) ferroviário preferência nos pilares centrais), que
• N.8 com um ponto do SPDA externo Nos abrigos ferroviários, onde no caso aqui relatado são utilizadas co-
no telhado: 2,95 mΩ. geralmente se necessita de um plano de mo eletrodos de aterramento comple-
Outras configurações e posiciona- referência para os ETIs e de uma dissi- mentares.
mentos do microohmímetro foram em- pação eficiente das correntes associa- A figura 13 mostra não só a interli-
pregados, com o objetivo de obter das às descargas atmosféricas, também gação da BEL às armaduras do pilar
certeza absoluta quanto à perfeita con- é possível aplicar a técnica de utiliza- como também ao aterramento de dissi-
tinuidade elétrica dos diversos setores ção das ferragens das colunas e lajes pação formado por fita de cobre nu de
interligados. Em todos os casos, foram para formar uma gaiola de Faraday e as 50 x 1 mm2. Os neutros dos transfor-
medidos valores menores do que 2,95 armaduras das fundações como aterra- madores separadores instalados no am-
ATERRAMENTO

to dos condutores
utilizados são de
suma importância
para a obtenção
de uma baixa im-
pedância, sobretu-
do quando se al-
meja um sistema
eficiente para dis-
sipação de sinais
impulsivos.
Em se tratando
de aterramentos,
cabe observar que,
para ondas impul-
sivas de corrente
Fig. 12 – Abrigo (house) ferroviário semipronto — na parte (descarga de re-
superior, instalam-se fitas de cobre para captação torno de um raio),
e sob o ponto de
biente onde se encontram os ETIs são vista da dissipação, na primeira fase da
também vistos interligados à BEL, por onda irá predominar a impedância de
meio de cabos isolados de 25 mm2. impulso, na segunda fase a indutância
A MRS, vista nas figuras 13 e 14, e, na terceira fase (cauda da onda), a
deve ser projetada de maneira que as resistência.
diferenças de potencial entre vários de Com base na figura 15, podemos
seus pontos sejam minimizadas para dizer que, na prática, para tais tipos de
uma larga faixa de freqüência de opera- aterramento, devemos procurar obter
ção e possíveis interferências, que vão baixos valores de indutância e resistên-
desde corrente contínua até freqüências cia, e valores elevados de condutância
de 30 MHz. Isso pode ser obtido pela e capacitância. Isso é basicamente con-
aplicação da teoria de comunicação de seguido modificando-se o formato, o
ondas conduzidas, segundo a qual não comprimento e a configuração dos
existirão diferenças de potencial signi- condutores de aterramento — por
ficativas ao logo de um condutor cujo exemplo com a utilização de fita de co-
comprimento for menor do que 1/20 do bre nu de comprimento conveniente-
comprimento de onda da freqüência que mente dimensionado.
se deseja equalizar. O uso de condutores em forma de fi-
ta (figura 16) nos sistemas de aterra-
Uso de condutores em forma de fita mento aumenta a capacitância, re-
A configuração dos sistemas de ater- duzindo concomitantemente a indutân-
ramento, seu comprimento e o forma- cia e, conseqüentemente, a impedância

Fig. 13 – CPD com BEL, MRS e armaduras da fundação do pilar interligados


(componentes do sistema de aterramento utilizado)

64 EM ABRIL, 2007
ATERRAMENTO

Fig. 14 – Malha de referência de sinal em um CPD Fig. 15 – Circuito equivalente aproximado de um condutor
horizontal de aterramento

final do condutor. Quando as fitas es- de contato deste como o solo, dimi- sultará em maior eficiência técnica co-
tiverem enterradas, como é o caso dos nuindo-lhe a impedância. mo também econômica, tendo como
aterramentos de um SPDA, a con- “subproduto” a atenuação dos campos
dutância pode ser aumentada efetuan- Edificações com eletromagnéticos internamente, atuan-
do-se o tratamento do solo com pro- estrutura metálica do como blindagem (a qual pode, em
dutos não-lixiviáveis, normalmente à Vimos aqui anteriormente que se certos casos, ser aumentada com a uti-
base de bentonita. Esses materiais de- deve preparar a estrutura, isto é, execu- lização de outros materiais, tais como
vem obrigatoriamente ter um valor tar o projeto prevendo a utilização das telas e/ou chapas metálicas convenien-
bastante baixo de resistividade, para armaduras do concreto da edificação temente especificadas e instaladas nas
que possam atuar no volume de in- como descidas naturais e as das fun- paredes, pisos e tetos).
fluência do eletrodo de aterramento, dações como parte do sistema de ater- Existem, porém, edificações cuja
principalmente próximo à superfície ramento. Esse procedimento não só re- infra-estrutura básica é toda constituí-
de acabamento la-
teral da edificação.
Uma observa-
ção importantíssi-
ma deve ser feita,
mesmo neste caso
em que pratica-
mente toda a estru-
Fig. 16 – Uso de fitas de cobre nu em tura da edificação
sistemas de aterramento é metálica: em hi-
pótese nenhuma
da de perfis metálicos, como por exem- pode ser eliminado
plo a mostrada na figura 17. Nesses ca- o condutor de pro-
sos, com muito mais razão, todos os teção (PE), o qual Fig. 17 – Exemplo utilização de estrutura totalmente
conceitos aqui descritos podem e de- deve ser passado metálica como descidas naturais e para atenuação dos
vem ser aplicados, desse modo tirando junto com as fases campos eletromagnéticos externos
proveito das vantagens técnicas ofere- dos diversos cir-
cidas por esse tipo de gaiola de Fara- cuitos. Jamais a estrutura metálica fonte de alimentação da instalação.
day natural. deve ser usada como condutor PE. Conforme determina a norma de insta-
É preciso tomar cuidados especiais Também é terminantemente vedado lações de baixa tensão, deve-se passar
para que eventuais descargas atmos- o aproveitamento da estrutura me- um condutor de cobre específico para a
féricas laterais possam ser captadas e tálica da edificação como neutro de função de neutro, com isolação na cor
conduzidas à terra pelas estruturas tomadas ou função similar. O neutro azul.
metálicas. Para isso, devem ser instala- do sistema de distribuição de baixa ten-
dos captores específicos conveniente- são deve ser ligado ao aterramento so-
mente localizados e interligados às es- Trabalho apresentado no Enie 2006 – XI
mente na origem da instalação, junto Encontro Nacional de Instalações Elétricas (6 a
truturas, evitando a quebra da alvenaria com o aterramento do transformador 8 de junho de 2006, São Paulo, SP).

Esta obra é uma adaptação livre de publicações de artigos técnicos gratuitos das
entidades abaixo mencionadas e a seus colaboradores, a quem expressamos os
nossos mais sinceros agradecimentos.

Equipes

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